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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

CAMPUS POETA TORQUATO NETO


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
CURSO DE PSICOLOGIA
DESENVOLVIMENTO ADULTO E GERONTOLOGIA
PROF. VALQUÍRIA PEREIRA DA CUNHA

SEMESTRE LETIVO 2022.1

ISABELA MENDES DE MORAES MELLO


LAURA GABRYELLE SILVA REIS
SARAH BEATRIZ DA SILVA CRUZ

RESUMO DA APRESENTAÇÃO: A TERCEIRA IDADE EM


OUTRAS CULTURAS

TERESINA
2022
O significado do envelhecimento é subjetivo em cada história de vida,
independentemente da idade ou estado de saúde do idoso. Isso se amplifica quando se é levado
em conta diferentes contextos culturais em que essas pessoas estão inseridas. A cultura reflete a
forma como essas pessoas agem, pensam, se expressam e como reproduzem suas vidas.
Para pensar sobre a relação entre envelhecimento e cultura, faz-se necessário compreender
essa realidade no contexto brasileiro. É fato que a população brasileira passa atualmente por um
processo de envelhecimento, mas percebe-se uma noção culturalmente difundida do idoso como
alguém inativo e que não consegue tomar decisões, sendo até mesmo infantilizado, o que muitas
vezes acontece de forma equivocada. Para traçar um paralelo com esse cenário, serão levantadas
representações da terceira idade nas culturas japonesa, africana e indígena.
Nos países asiáticos, a 3° idade é vista e vivida de forma bem diferente da cultura
brasileira. Em especial, o Japão figura entre os países que têm a maior expectativa de vida do
mundo, chegando a média de 84 anos, e 28% da população total é composta por idosos (OECD,
2018). Nesse sentido, a alta expectativa de vida e a longevidade presente no país podem ser
atribuídas a alguns fatores como qualidade e estilo de vida. Um desses fatores é a manutenção de
bons hábitos alimentares, baseado na ingestão de vegetais - os quais são cultivados em casa -
peixes e soja. Além disso, essa população busca praticar exercícios físicos, praticar a leitura,
fazer atividades artesanais e cuidar do meio ambiente.
Ademais, cabe ressaltar a representação social do idoso no Japão. Os idosos são tratados
pela família e pela sociedade com respeito e atenção pela experiência adquirida em seus anos de
vida. A cultura dessa sociedade tem como tradição cuidar bem de seus idosos, os consultando
antes de qualquer grande decisão. Entretanto, existe também a preocupação governamental
quanto ao envelhecimento populacional, pois este reverbera em questões relacionados a escassez
de mão de obra e o alto custo com programas de saúde voltados à população idosa, dessa forma,
percebe-se a necessidade de adaptação da sociedade japonesa a esse processo. Apesar disso,
como resultado da boa qualidade e estilo de vida, dos aspectos psicossociais e de uma
representação social positiva, esse cenário propicia realidades exemplares como a encontrada na
ilha japonesa de Okinawa que concentra o maior número de centenários do mundo e menores
taxas de doenças crônicas. Logo, percebe-se as diferenças do envelhecer entre o contexto japonês
e o brasileiro.
Em países africanos, percebe-se que várias culturas atribuem papéis de extrema
importância a indivíduos de idades mais avançadas, entretanto, o avanço da globalização tem
deslocado esses costumes. Na cultura Iorubá - presente em países da África Ocidental -, a
senioridade é base de muitas relações, de modo que a idade é diretamente ligada a autoridade e
categoria social. Assim, a terceira idade assume funções de liderança religiosa, política e
educacional, como o encargo de Griot, que são responsáveis por registrar mentalmente e
transmitir oralmente conhecimentos de ordem existencial, espiritual, cultural e acerca da
população. Além disso, nota-se representações positivas de idosos em religiões de matriz
africana, como figuras de sabedoria, saúde, humildade e resiliência. (ALMEIDA, 2006)
Em contradição com essa valorização cultural da terceira idade, grande parte dos países
africanos apresenta baixas expectativas de vida. Isso acontece porque essa população não é
valorizada pelos governos, o que faz com que os países experimentem um processo lento de
envelhecimento, de modo que as políticas públicas voltadas para esse segmento populacional não
representam uma prioridade. Para demonstrar esse fato, traz-se uma comparação entre países com
expectativas de vida destoantes, Nigéria e Argélia. (FERNANDES, 2023)
Apesar de ser o país com o maior PIB da África ocidental, a Nigéria apresenta expectativa
de 55 anos de idade. Segundo relatório da ONU, essa taxa é explicada, principalmente, por
problemas relacionados à saúde, a maioria dos quais poderia ser evitada ou tratada de forma
eficaz com políticas e conhecimentos adequados. É evidente o baixo investimento em saúde no
país, de modo que o acesso a diagnósticos, tratamentos e ações de prevenção por parte da
população idosa é muito precário. Somado a isso, o país enfrenta há mais de dez anos uma
conflitos de ordem religiosa e política, o que contribui para a grande insegurança alimentar e
dificuldades econômicas, terrorismo, entre outros, que também dificultam o aumento da
exectativa de vida no país.
Já na Argélia, a expectativa de vida aumentou de 47 anos nos primeiros anos da
independência para mais de 76 anos em 2022. Isso resulta de melhorias no sistema de saúde e
condições de vida, como o investimento no acesso à habitação e à água potável de forma
adaptada ao desenvolvimento demográfico. No entanto, as políticas com foco na população idosa
são precárias, de modo que há falta de cuidados de saúde especializados e direcionados às reais
necessidades dos idosos. Com isso, entende-se que mesmo em países africanos com maior
representação dessa população, a valorização da terceira idade limita-se ao campo cultural.
Quanto às aldeias indígenas no Brasil, uma forma de explicar os aspectos psicossociais
relacionados à terceira idade, seria através da dinâmica presente nesses lugares. É possível
perceber quatro características principais: alimentação, meio ambiente, atividade física e relações
sociais (vida comunitária).
No que se refere a alimentação, a grande maioria dessa população que vive aldeiada tem
sua base alimentar voltada para alimentos orgânicos, além de não consumirem alimentos
industrializados, com conservantes, agrotóxicos, produtos químicos, sal, açúcar, óleo, etc. Apesar
de praticarem agricultura, por influência dos costumes “brancos”, os povos indígenas preservam
até hoje seus costumes, mantendo vivas suas tradições. Observa-se também que o acesso a
serviços de saúde fora das aldeias ainda é precário e muitos idosos não confiam na medicina dos
não indígenas, só aceitando a medicina tradicional e a intervenção dos pajés ou agentes de saúde
indígena.
O ambiente presente nas aldeias é saudável, sem a presença de lixo, venenos ou poluição.
Existe a ideia de o planeta ser como uma rede ampla de inter-relações, . Essa relação do homem
como parte e não como dono já traz em si uma forma saudável de interagir e manter a vitalidade
que, além dos vivos, é animada por espíritos diversos que os protegem. Assim, mesmo não sendo
ambientalistas ou ecologistas, os povos indígenas desenvolveram métodos de manejo dos
recursos naturais, utilizando-os sem alterar drasticamente seus princípios de funcionamento e seu
equilíbrio, além de garantir seus modos de reprodução. Assim, se protegem das doenças e obtêm
seus alimentos de acordo com seus modos particulares de entender o meio ambiente
A atividade física está presente ao longo de toda vida, o dia a dia na comunidades começa
muito cedo e se prolonga até escurecer, numa sequência intensa de atividades relacionadas à
obtenção de alimentos com cuidados na roça, ao lazer, à manutenção das casas e ferramentas, aos
mutirões, aos rituais, à caça e à pesca.
Na vida comunitária indígena não existem classes sociais, os idosos possuem o importante
papel de transmissão de saberes, da oralidade, da manutenção dos rituais e das formas de
reprodução cultural, eles são os guardiões e os transmissores desses valores, dessa identidade
cultural, dessas tradições, ou seja, o velho indígena é fundamental para a sobrevivência e a
continuidade desses povos.
Além dos aspectos já citados, questões como a morte, que é levada com naturalidade, e o
coletivo sempre sendo posto como principal, são de extrema importância para a dinâmica da
terceira idade nas aldeias.
Referências bibliográficas

ALMEIDA, Maria Inez Couto de. Cultura Iorubá: costumes e tradições. 1 ed. Rio de Janeiro:
Dialogarts, v. 2, 2006.

COUTO DE ALMEIDA, M. CULTURA IORUBÁ Costumes e Tradições. Disponível em:


<http://www.santoandre.sp.gov.br/pesquisa/ebooks/368263.PDF>. Acesso em: 30 jan. 2023.

HERRERO, Marina Marcelo. Um olhar sobre o envelhecer numa aldeia indígena. Mais60 –
Estudos sobre Envelhecimento, pg 86 a 97. Volume 29, número 72. Dezembro de 2018.

FERNANDES, J.; CAMPOS, P. O processo de envelhecimento a partir da convivência, interação


social e fortalecimento de vínculos: uma perspectiva Junguiana. Revista longe viver Disponível
em: <https://revistalongeviver.com.br/index.php/revistaportal/article/viewFile/921/982>. Acesso
em: 29 jan. 2023.

ONU divulga relatório como “novos perfis da pobreza”. Disponível em:


<https://www.al.pi.leg.br/tv/noticias-tv-1/onu-divulga-relatorio-como-201cnovos-perfis-da-pobre
za201d>. Acesso em: 29 jan. 2023.

ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. OECD


Better Life Index. Dados demográficos do Japão. [S.l.]. OECD, 2018. Disponível em:
https://www.oecdbetterlifeindex.org/pt/paises/japan-pt/#:~:text=Com%20rela%C3%A7%C3%A3
o%20%C3%A0%20sa%C3%BAde%2C%20a,81%20anos%20para%20os%20homens.. Acesso
em: 27 jan. 2023.

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