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SOBRE EVOLA E A QUARTA

TEORIA POLÍTICA
Por Raphael Machado

O professor Dugin deu excelentes explicações para justificar a tese de que o marxismo é
menos pior que o liberalismo. Há outras teses do tipo também e várias maneiras de
abordar o tema, inclusive pela análise histórica empírica.
Mas olhemos para o Julius Evola. Este pensador possui toda uma horda de seguidores
que, são, na verdade, um bando de histéricos inúteis e empolados, vários dos quais são
paranoicos em relação ao marxismo e "passam pano" para o liberalismo. Há, inclusive, um
famoso gnomo argentino que é defensor do ISIS, do Azov e de que os EUA atuais são
menos piores que a Rússia atual.
Isso faz sentido desde o sistema teórico evoliano ou trata-se de um desvio?
Para Evola, existem duas possíveis maneiras de se lidar politicamente com a tragédia do
Kali Yuga. Ou o homem busca restaurar o mando da Tradição politicamente, por meio de
um projeto que nade contra a maré e tente resgatar as ideias e valores Tradicionais
fundamentais, ou, então, ele aceita a inevitabilidade do Kali Yuga e aguarda (ou mesmo
ajuda) "de pé entre as ruínas", "cavalgando o tigre" até que a era se finalize e se encontre
após ela uma nova Idade de Ouro.
Supondo que se escolha a primeira opção (já que Evola só escolheu a segunda pelas
circunstâncias de sua época), parece haver duas maneiras de proceder. A primeira é
defender e tentar resgatar de início, de pronto, o antigo mando imperial da figura do Rei-
Sacerdote. E aí, realmente, tudo o mais é degeneração. Marxismo, liberalismo, fascismo,
absolutismo, feudalismo, etc. A segunda opção é ir retornando, passo por passo, do
estado atual de decadência, subindo, pelo caminho inverso ao da "regressão das castas"
até que se possa retornar ao estado desejado.
O que parece mais razoável? O primeiro ou o segundo caminho? Apesar das dificuldades
diversas, eu diria que é o segundo caminho.
E o que significa este segundo caminho? Significa passar, retornar, como primeiro passo,
do governo dos sem-casta, do Quinto Estado, ao governo do trabalhador, ao Quarto
Estado. Depois ao Terceiro Estado, o governo dos pequenos proprietários agrícolas e
pastorais. Depois ao Segundo Estado, o governo dos guerreiros. E então ao Primeiro
Estado, o governo dos reis-filósofos/reis-sacerdotes.
O erro dos "evolianos de direita" está em se confundir em relação à conexão entre
liberalismo e a casta dos vaishyas. O mundo atual não é o mundo do Terceiro Estado, mas
do Quinto Estado. A era pós-liberal é a era dos sem-casta, do Quinto Estado. Atores,
prostitutas, comediantes e esportistas são os mais altos heróis, Os líderes políticos não
mandam, são porta-vozes de forças obscuras, sombrias. A massa tem seus impulsos lidos
e retroalimentados.
As castas não correspondem perfeitamente às ideologias modernas. O século XX, no qual
imperou o Quarto Estado, ainda que ele já viesse se estabelecendo desde as revoluções
de 1849 (e até antes) foi, de fato, a era do trabalhador, do coletivo, do homem coletivizado,
independentemente de estarmos falando dos EUA, da URSS, do Terceiro Reich, do
Império Austro-Húngaro ou o que seja.
A era do Terceiro Estado não tem qualquer relação necessária com os EUA, a não ser no
que concerne os primórdios dos EUA, como uma nação de pequenos e médios
proprietários agrícolas, uma nação "pequeno-burguesa", de "artesãos". Mas isso se aplica
à era como um todo, tem seu início já antes.
O que aconteceu, porém, foi que no meio desse processo de emergência do Terceiro
Estado, a "casta" se degenerou em uma casta de comerciantes, agiotas, e tudo mais.
Assim, quando se fala em nacional-bolchevismo, não se está em contradição com o
Tradicionalismo, mas tão somente defendendo que se dê o primeiro passo, sempre
ascendente, sempre recusando todos os elementos decadentes, na direção de uma lenta
restauração da Luz.

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