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MACROECONOMIA

ISCAL – IPL

Licenciatura em Gestão

2022/2023
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.1 O ESTUDO DA MACROECONOMIA
 Economia: ponderação de custos e benefícios necessária à
tomada de decisão.

 Decisões / escolhas visam satisfazer necessidades e contribuir para


o bem-estar / utilidade.

 Tomada de decisão racional exige recolha e processamento de


informação.

 Onde recolher informação? Interação com terceiros, a nível local e


descentralizado, mas também acesso a informação agregada,
sobre o desempenho da economia no seu todo.

 Contabilização de medidas económicas agregadas é feita a nível


nacional ou supranacional, pelas autoridades estatísticas
competentes.
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.1 O ESTUDO DA MACROECONOMIA
 Conhecer o desempenho da economia é importante:

 Influencia a recolha de impostos, as políticas de provisão de bens públicos e as


políticas de redistribuição do rendimento por parte do Estado;

 Permite ter uma indicação sobre a maior ou menor possibilidade de encontrar


emprego;

 Condiciona as decisões de investimento por parte das empresas e as decisões


de consumo por parte das famílias; …

 Estes exemplos ilustram a relevância de conhecer os valores dos


principais indicadores da atividade económica e como estes
indicadores podem estar ligados entre si ou envolvidos numa qualquer
relação causa-efeito.
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.1 O ESTUDO DA MACROECONOMIA
 Distinção microeconomia / macroeconomia:

 Microeconomia: estudo do comportamento dos agentes


económicos e das relações que entre eles se estabelecem;

 Macroeconomia: análise do funcionamento do sistema económico


no seu conjunto.

 Algum cuidado é necessário quando se procura extrapolar as relações


microeconómicas para uma escala macroeconómica.
 É necessário evitar a falácia da composição, de acordo com a qual o
comportamento coletivo teria correspondência na simples soma ou na
simples média dos comportamentos individuais.
 Há fenómenos agregados que só se concretizam precisamente por o serem: é
esta constatação que serve de ponto de partida para justificar a necessidade
de estudar a macroeconomia de modo autónomo, como corpo de

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conhecimento com especificidades próprias e com ferramentas e técnicas de
análise que também lhe são próprias.
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.2 AGENTES ECONÓMICOS

 Agente económico:
 série de indivíduos, entidades e/ou instituições para os quais é possível
reconhecer uma certa homogeneidade de comportamentos.

1. Famílias:
 entidade normalmente de menor dimensão a partilhar um mesmo orçamento. Duplo
papel no sistema económico: fornecem força de trabalho que permite produzir bens
e serviços; consomem bens e serviços para satisfazer necessidades.
 Consumo das famílias é consumo final (opõe-se ao consumo intermédio, que
consiste na utilização de bens e serviços para produzir outros bens e serviços).

2. Empresas (sociedades não financeiras):


 unidades institucionais cuja principal função económica é a produção de bens
e serviços comercializáveis, isto é, bens ou serviços transacionáveis nos
mercados.
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.2 AGENTES ECONÓMICOS

3. Estado:
 Tem por missão a provisão de bens e serviços não
comercializáveis (bens públicos: bens não rivais e não
exclusivos);
 Cabe também ao Estado contribuir para a justiça social por via
de políticas de redistribuição de rendimento.

4. Instituições financeiras:
 Bancos, seguradoras, outras instituições de crédito;
 Funcionam como intermediários entre quem poupa (as
famílias) e quem necessita de recursos financeiros para
financiar a atividade produtiva (as empresas).

5. Exterior / resto do mundo:


 conjunto de agentes residentes noutras localizações, com os
quais a economia doméstica mantém relações.
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.2 AGENTES ECONÓMICOS
 Os agentes económicos encontram-se em permanente interação. É a
esta interação que corresponde o funcionamento do sistema
económico.
 Representação simplificada das relações entre agentes – circuito
económico.
 Circuito económico entre famílias e empresas:
Salário

Trabalho
Famílias Empresas
Bens e serviços

 Linhas a cheio: representam fluxos reais;


 Linhas a tracejado: representam fluxos monetários.

 O fluxo monetário é sempre uma contrapartida ao fluxo real – realça importância da


moeda como meio de troca.
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.3 O PRODUTO INTERNO BRUTO

 Produto:

 Valor de todos os bens e serviços produzidos num determinado


espaço geográfico ao longo de um dado período de tempo.

 Traduz o produto de uma economia o respetivo bem-estar social?


É um indicador importante do nível de vida material, mas deve ser
analisado em conjunto com outras dimensões: liberdade de
participação política, acesso à educação e à cultura, esperança de
vida, igualdade na distribuição do rendimento e no acesso a bens
e serviços básicos, …

 Noção de produto a adotar:

 Produto interno bruto (PIB): valor monetário de toda a atividade produtiva


desenvolvida numa determinada área geográfica (geralmente, um país)
durante um determinado período de tempo (regra geral, um ano ou um
trimestre). 8
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.3 O PRODUTO INTERNO BRUTO

 PIB é interno porque é contabilizada a produção realizada por unidades


residentes (tenham elas ou não origem nacional, ou seja, sejam ou não
empresas cujo capital social é maioritariamente pertencente a cidadãos do país).
 PIB é bruto porque se ignora a possibilidade de deduzir a depreciação ou o
consumo do capital fixo (de máquinas, equipamentos e outros instrumentos
disponíveis para produzir).

 PIB é valor monetário: o valor de todos os bens e serviços é medido na mesma


unidade monetária (u.m.). P.ex., em 2016 o PIB português foi de 184.931
milhões de euros (dados da Pordata).
 PIB é medido a preços de mercado (i.e., tendo em conta os preços a que
efetivamente os bens foram transacionados no mercado).
 PIB mede toda a atividade produtiva, mas só aquela que corresponde ao valor
gerado pelas empresas e por estas declarado (exclui-se produção doméstica,
economia paralela, prestação de serviços não declarada, …)
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
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1.3 O PRODUTO INTERNO BRUTO
 Óticas de contabilização do produto:

1. Ótica da produção:
PIB = VAB + impostos indiretos líquidos sobre produtos
 VAB = valor da produção – consumos intermédios
 Os consumos intermédios correspondem àquilo que se extingue com o processo
de produção (são alvo de consumo) e, portanto, não devem ser confundidos com
os bens de capital que correspondem aos utensílios necessários para produzir e
que perduram para além da geração de uma unidade do bem.
 A subtração dos consumos intermédios no cálculo do VAB permite evitar dupla
contagem dos mesmos bens ou serviços.
 PIB pela ótica da produção encontra-se contabilizado a preços de base e não a
preços de mercado, porque não contempla impostos indiretos líquidos de
subsídios.

2. Ótica do rendimento:
 Qualquer atividade económica dá origem a rendimentos que remuneram os
intervenientes.
 PIB = remunerações do trabalho (salários) + excedente bruto de exploração
(rendas, lucros, juros, …) + impostos indiretos líquidos de subsídios à
produção e à importação. 10
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
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1.3 O PRODUTO INTERNO BRUTO

3. Ótica da despesa:
PIB = C + G + I + X − Z
 C: consumo privado (consumo final das famílias);

 G: consumo público / gastos do Estado (despesas em que o Estado incorre


para fornecer bens e serviços à população);

 I: investimento
 O investimento é uma variável de fluxo (tal como o consumo), a qual é
normalmente acumulável ao longo de vários períodos de tempo (ao contrário do
consumo). Ao investimento acumulado atribui-se a designação de capital, o qual
será portanto uma variável de stock ou variável acumulada.
 I = FBCF + variação de existências / inventários + aquisição líquida de cessões de
objetos de valor.
 FBCF: formação bruta de capital fixo (investimento em ativos fixos, tangíveis e
intangíveis).

 X: exportações;

 Z: importações. 11
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.3 O PRODUTO INTERNO BRUTO

 Porque surgem as importações com sinal negativo na equação da


despesa?
 Equação da despesa mede PIB. Parte das variáveis C, G, I corresponde a
consumo e investimento efetuados no país, a partir de bens e serviços
importados; logo estes são despesa efetuada na economia, mas de bens e
serviços não produzidos cá. Deste modo, eles têm de ser retirados do cálculo,
ou seja, é necessário subtrair as importações.
 As exportações correspondem a produto do país, mas que é alvo de despesa no
exterior.

 Procura interna: PI=C+G+I

 PIB pela ótica da despesa encontra-se medido a preços de mercado.


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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.3 O PRODUTO INTERNO BRUTO

 Rendimento nacional bruto (RNB) = PIB + rendimentos primários


líquidos recebidos do resto do mundo.

 Produto, rendimento e despesa terão à partida idêntico valor, salvo


discrepâncias estatísticas.

 Produto e rendimento podem ser utilizados indistintamente para referir o


valor que uma economia gera;
 Numa situação de equilíbrio, o rendimento / produto terá coincidência
com a despesa,
 à partida aquilo que é produzido concretiza-se numa despesa.

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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.4 PIB NOMINAL E PIB REAL. O NÍVEL DE PREÇOS.
 Enquanto medida macroeconómica, o PIB serve para
comparar valores:
 Entre economias: calcula-se o PIB per capita (PIB / população);
 Entre períodos: necessidade de distinguir PIB nominal (PIB a preços
correntes ou PIB em valor) de PIB real (PIB a preços constantes ou
PIB em volume).

 Aquilo que é observável e diretamente mensurável é o PIB nominal;


este corresponde à medida da produção com o valor dos bens e
serviços contabilizado a preços do respetivo ano.
 Quando comparamos o valor do PIB a preços correntes em anos
consecutivos vamos obter a variação nominal, ou seja, a variação
conjunta de quantidades e preços. Como os preços no seu conjunto
têm tendência a crescer de ano para ano, a evolução do PIB
nominal é pouco informativa – não é possível discernir qual a
parcela da variação no valor do PIB que é atribuível a um aumento
nas quantidades produzidas e qual a componente da variação que é
resultado da alteração no nível de preços.
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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.4 PIB NOMINAL E PIB REAL. O NÍVEL DE PREÇOS.

 PIB real: bens e serviços produzidos nos diferentes anos são


valorizados a preços de um mesmo ano de referência (ano base).
 Regra geral, os preços são medidos através do cálculo de um índice (p.ex.,
o índice de preços no consumidor harmonizado - IPCH). Dividindo o PIB
nominal pelo índice de preços, obtém-se o PIB real.

 A análise da evolução do PIB real permite conhecer a evolução das


quantidades produzidas independentemente da variação dos
preços – permite medir o crescimento da economia.

 Crescimento económico: crescimento do PIB real entre anos


consecutivos:  PIBt − PIBt −1 
g =    100

 PIBt −1  15
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.5 A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA. ABORDAGENS
NEOCLÁSSICA E KEYNESIANA
 Métodos de análise ao dispor do macroeconomista:

1. Tratamento de dados estatísticos


 Conhecer evolução do PIB, do emprego, da taxa de inflação, da
taxa de juro, …
 Estes dados permitem encontrar regularidades. Existem
disparidades no comportamento individual, mas o comportamento
médio ou agregado tende a ser previsível – permite a formulação
de leis económicas.

2. Exploração de modelos teóricos


 A modelização permite relacionar variáveis em termos lógicos,
partindo de um conjunto de hipóteses simplificadoras.
 P.ex., é comum analisar-se a relação entre duas variáveis, partindo
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do pressuposto que tudo o resto se mantém constante: análise
ceteris paribus.
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.5 A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA. ABORDAGENS
NEOCLÁSSICA E KEYNESIANA

 Origem da macroeconomia enquanto campo científico


autónomo:

John Maynard Keynes (1936).


A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda.

 Já antes, pensadores influentes (Adam Smith, David Ricardo, John


Stuart Mill, Jean Baptiste Say, Thomas Malthus, Arthur Pigou, …) se
tinham debruçado sobre aspetos fundamentais da economia
agregada: a criação de riqueza, o comércio internacional, a distribuição
do rendimento, as taxas juro, a variação do nível de preços, …
 Os economistas clássicos, colocavam a ênfase no lado da oferta;
aquilo que era produzido encontrava certamente uma procura, que se
ajustaria à oferta por via do funcionamento eficiente dos mercados (lei
de Say). 17
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.5 A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA. ABORDAGENS
NEOCLÁSSICA E KEYNESIANA

 Economistas clássicos / neoclássicos:

 Concorrência perfeita;
 Não há desemprego de recursos porque preços e salários se
ajustam para garantir equilíbrio de mercado;
 Corolário: liberalismo económico deve ser salvaguardado uma vez
que só os mercados, a funcionar eficientemente, podem garantir
que o produto se mantenha ao respetivo nível potencial.

 Produto potencial ou produto de pleno emprego: valor da


produção que se consegue atingir se os fatores produtivos
disponíveis estiverem a ser empregues na sua totalidade e de
modo completamente eficiente. 18
1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.5 A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA. ABORDAGENS
NEOCLÁSSICA E KEYNESIANA

 Economia Keynesiana:

 É a procura agregada que determina as flutuações observadas no produto;


 Ciclos económicos são resultado de falhas de coordenação nos mercados,
e outras eventuais ineficiências, que fazem com que estes tenham
tendência a permanecer numa situação de desequilíbrio;

 A análise Keynesiana preconiza a intervenção do Estado no sentido de


evitar crises severas: as políticas de estabilização podem atenuar o efeito
das crises, ao atuarem sobre as diferentes componentes da procura ou
despesa (consumo privado, gastos públicos investimento e exportações
líquidas).

 O trabalho de Keynes foi grandemente influenciado pela Grande


Depressão do início dos anos 30 e conseguiu oferecer uma justificação
lógica e coerente sobre a ocorrência de ciclos económicos.

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1. INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA E ÀS
CONTAS NACIONAIS
1.5 A MACROECONOMIA COMO CIÊNCIA. ABORDAGENS
NEOCLÁSSICA E KEYNESIANA

 O debate académico entre Neoclássicos e Keynesianos


estendeu-se até aos dias de hoje, com períodos de mais
acalorada discussão e com períodos de algum consenso.

 Quadro síntese:
Neoclássicos Keynesianos
Longo prazo Curto prazo
Crescimento económico Ciclos económicos
Economia comandada pelo lado da oferta Economia comandada pelo lado da procura

Concorrência perfeita, eficiência e equilíbrio de Concorrência imperfeita, falhas de coordenação


mercado e persistência de desequilíbrios

Racionalidade e comportamento otimizador Racionalidade limitada e comportamento


estratégico
Política económica põe em causa funcionamento Política económica fundamental para combater
eficiente dos mercados recessões

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