Você está na página 1de 25

1

Atos de comércio

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


2 O que são atos de comércio?

“Artº 2º
Serão considerados actos de comércio todos aqueles que
se acharem especialmente regulados neste Código e,
além deles, todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente
civil, se o contrário do próprio acto não resultar.”

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


 Os atos de comércio são essencialmente contratos, portanto, negócios
jurídicos bilaterais.
3

 Mas, também podem ser atos de comércio negócios jurídicos unilaterais.


Ex: negócios cambiários e constituição de sociedades unipessoais.

Em síntese:
 São atos de comércio
 A) os factos jurídicos voluntários especialmente regulados em lei comercial
 B) os atos jurídicos realizados praticados por comerciantes, que respeitem as
condições do artº 2º do Ccom.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


4 Atos de comercio objetivos e
subjetivos (artº 2º)
 Atos de comércio objetivos: “todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código” (artº 2º, 1ª parte)

 Atos de comércio subjetivos: todos os contratos e obrigações dos


comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o
contrário do próprio ato não resultar” (artº 2º. 2ª parte)

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


5 O que são atos de comércio objetivos?

 São os atos jurídicos previstos e regulados em lei comercial ou análoga.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


6 Atos de comércio objetivos

 Exemplos:
 Fiança – artº 101º
 Empresas – artº 230º
 Mandato – artº 231º ss
 Conta-corrente – artº 34ºº ss
 Operações de banco – 362º ss
 Transporte – artº 366º
 Empréstimo – artº 394º
 Penhor – artº 397º
 Depósito – artº 403º

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


7 Atos de comércio objetivos

 Exemplos:
 Compra e venda – artº 463º
 Reporte – artº 477º
 Escambo ou troca – artº 480º
 Aluguer – artº 481º e n482º
 Etc

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


 1. Relativamente à maioria destes atos, o Ccom estabelece disciplina
especifica.
8
 2. Mas outros, como as operações de banco ou o aluguer, não tem
disciplina própria prevista, na medida em que o Ccom, nestes casos,
remete para legislação especifica ou para o CC

 Todos esses contratos são atos de comércio, como refere o artº 2º, 1ª
parte, “ por se acharem especialmente regulados neste Código”

 E nesse conceito enquadram-se não só aqueles que tem normas


caracterizadoras no Ccom (1), como os demais que estão referidos no
Ccom mas sem normas especiais sobre os mesmos (2).

Daí que mesmo os atos comerciais para os quais o Ccom não estabelece
disciplina especifica ficam sujeitos às regras (especiais) comuns aos atos de
comércio em geral.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


9

 São atos de comércio objetivos apenas os que estão previstos no Ccom,


sendo este de 1888? E a legislação posterior não contém atos de
comércio objetivos?

 Considera-se pacificamente que a expressão “especialmente regulados


neste Código” deve ser interpretada extensivamente de modo a abranger
outras leis comerciais para além do Ccom.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


10 Quando é que uma lei é considerada comercial ?

 1- quando a lei substitui normas do Ccom

 2- a lei auto qualifica-se comercial ou qualifica atos como comerciais

 3 – nova lei nada refere

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


11 1. Lei que substitui normas do Ccom

A natureza comercial dessas leis decorre do artº 4º da Carta de Lei de 28


de junho de 1888 que aprovou o Ccom que consagra o seguinte:

“toda a modificação que de futuro se fizer sobre matéria contida no


Código Comercial será considerada como fazendo parte dele e inserida em
lugar próprio, quer seja por meio de substituição de artigos alterados…”.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


12 Exemplos de atos de comercio com origem em legislação posterior ao
CCOm:

 Constituição de sociedades comerciais (em substituição do artº 104º)


 Negócios relativos às letras, livranças e cheques (anterior artº 278º)
 Operações de bolsa (anterior artº 351º)
 Contratos de transporte de mercadorias e de passageiros por mar (antes,
cap. V, VI e VII do titulo I do livro III do Ccom)
 Contratos de seguro (anteriores artºs 425º a 462º)

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


13 2º - a nova lei qualifica os atos como comerciais

 Ex Arrendamento comercial e trespasse de estabelecimento comercial


(referido em algumas normas da Lei 6/2006- Novo Regime do
Arrendamento Urbano (NRAU).

 Os Agrupamentos europeus de interesse económico (AEIE) são comerciais


quando o respetivo objeto seja comercial (Regulamento CEE 2137/85, de
25 de julho de 1985).

 A atividade de mediação de seguros (Lei 7/2019, de 16/1).

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


14 3º leis não se auto-qualificam como comerciais

 Como saber se estas leis é comercial por prever atos de comércio?

 Verificar se essas leis contém matéria análoga à regulada pelo Ccom, ou


noutras leis consideradas comerciai, o que se reconduz à qualificação de
atos comerciais por analogia.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


15 Qualificação de atos por analogia
 A enumeração implícita de atos de comércio objetivos, prevista no artº 2º,
1ª parte, é exemplificativa ou taxativa?
Ex: as empresas de reparação de automóveis são comerciais?

 A questão não está resolvida pelo artº 3º, na medida em que este já
pressupõe a qualificação como comercial, para admitir o recurso à
analogia

Artigo 3.º
Se as questões sobre direitos e obrigações comerciais não puderem ser
resolvidas, nem pelo texto da lei comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos
casos análogos nela prevenidos, serão decididas pelo direito civil.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


 A questão colocada diz respeito a lacunas de qualificação e não a
16 lacunas de regulamentação.

 Argumentos das teses negativas


 Letra da lei (artº 2º “…especialmente regulados neste código.. e, além deles…”)
 Razão histórica – a 1ª parte do artº 2º, foi inspirada no artº 2º do Ccom espanhol
de 1885, que referia quaisquer outros de natureza análoga. Tal expressão não foi
adotada pelo artº 2º do Ccom português. No mesmo sentido da
inadmissibilidade de analogia, a proposta de lei submetida para aprovação do
Ccom. E, ainda, a discussão do projeto pelos deputados
 Certeza e segurança jurídicas – permitir a analogia seria pôr em causa a
segurança jurídica

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


17  Argumentos das teses que admitem a analogia

 A letra do artº 2º não é concludente, não refere que são apenas os atos
especialmente regulados no CCom.

 A interpretação subjetivista-histórica das leis, isoladamente, tem cada vez


menos seguidores

 O argumento da certeza jurídica tem hoje menos valor, uma vez que a
jurisdição comercial já foi extinta

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


 Considera-se, portanto, o recurso à analogia para qualificar atos como
comerciais
18

 Exemplos de atos comerciais por analogia:

 Artº 230º, nº 6 – empresas de construção de outros imóveis (que não casas), por
ex. de barragens, estradas, etc, são comerciais apesar de o nº 6 apenas se
referir a casas.
 Agrupamentos complementares de empresas (ACE) (Lei 4/73, de 4/6 e DL
430/73, de 25/8), se tiverem objeto comercial, consideramos o contrato
constituinte como ato de comércio, por analogia com o AEIE (DL 148/90, de
9/5).
 Locação financeira – globalmente considerado é um ato de comércio objetivo,
aplicando-se por analogia o artº 481º à locação de imóveis no leasing.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


19 Time to work

 Artº 463º nº 1 - compra de móveis para revender

 Artº 463º nº 3 - Venda desses mesmos móveis

 Artº 481º - Aluguer das mesmas

 Artº 463º, nº 4 – Compras de imóveis para revenda

 Compra de imóveis para arrendar? Quid júris?

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


20 Artº 230º

 Empresas hoteleiras, de publicidade, de informações comerciais, gestão


de bens, tratamentos de beleza, reparação de automóveis, lavandarias,
etc – quid júris ?

 Tem-se entendido que são comerciais por analogia, porque


 O que está subjacente ao nº 2 do artº 230º é a circunstância de o legislador ter
atendido a que existe um certo risco proveniente do período de tempo entre o
momento da fixação do preço e os sucessivos atos de fornecimento.
 Como tal, devem ser abrangidas nessa qualificação comercial todas as empresas que,
apesar de não fornecerem géneros, se traduzam no exercício de uma atividade
económica desenvolvida dentro do condicionalismo referido.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


21 Artº 230º

 Artigo 230.º Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem:
1.º Transformar, por meio de fábricas ou manufacturas, matérias-primas, empregando para isso, ou só
operários, ou operários e máquinas;
2.º Fornecer, em épocas diferentes, géneros, quer a particulares, quer ao Estado, mediante preço
convencionado;
3.º Agenciar negócios ou leilões por conta de outrém em escritório aberto ao público, e mediante salário
estipulado;
4.º Explorar quaisquer espectáculos públicos;
5.º Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;
6.º Edificar ou construir casas para outrém com materiais subministrados pelo empresário;
7.º Transportar, regular e permanentemente, por água ou por terra, quaisquer pessoas, animais, alfaias ou
mercadorias de outrém.
§ 1.º Não se haverá como compreendido no n.º 1.º o proprietário ou o explorador rural que apenas
fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua exploração agrícola,
nem o artista, industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria
ou ofício, embora empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.
§ 2.º Não se haverá como compreendido no n.º 2.º o proprietário ou explorador rural que fizer
fornecimentos de produtos da respectiva propriedade.
§ 3.º Não se haverá como compreendido no n.º 5.º o próprio autor que editar, publicar ou vender as
suas- obras.
ISCAL Antónia Pereira 18/03/2022
22 Artº 230º - qual o alcance?

 Para alguma doutrina, o conceito de empresa do artº 230º tem o


significado de empresário ou comerciante. Portanto, as empresas seriam
as pessoas singulares ou coletivas que se propusessem praticar os atos de
comércio indicados no artº 230º

 Para outra parte da doutrina, as empresas do artº 230º são apenas séries
ou complexos de atos comerciais objetivos. Enquanto outros atos
regulados no Ccom são considerados isoladamente (são comerciais
mesmo que praticados isoladamente),
 Os previstos no artº 230º são comerciais porque praticados em série,
em “repetição orgânica”.

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


23 Artº 230º

 Nº 2 – “empresas que fornecem em épocas diferentes, géneros, quer a


particulares, quer ao Estado, mediante preço convencionado”.

 Quid júris sobre:


 Empresas fornecedoras de água, gás e eletricidade?
 são empresas comerciais, por interpretação extensiva

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


24 ARTº 230º

 Uma das questões que se colocam: comerciais são só os atos praticados…


ou também são as empresas ???

 Não faria mais sentido o artº 230º indicar que são comerciantes as pessoas
singulares e as coletivas ? Mas não o refere…

 Ora, o artº 13º estabelece quem é comerciante, por isso, não faz sentido
ser isso que se pretende com o artº 230º

 Acresce que pode haver pessoas coletivas a explorar as atividades do artº


230º e nem por isso são comerciantes (artºs 14º e 17º).

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022


25 Artº 230º

 Deve entender-se que as empresas do artº 230º como sendo “conjuntos


ou séries de atos (atividades) objetivamente comerciais enquadrados
organizativamente (atos praticados no quadro de organizações de meios
pessoais ou reais).
 Que tipos de atos objetivos?
 Os de fornecimento (nº 2), de Agência (nº 3), de edição (nº 5º, de
empreitada (nº 6), de transporte (nº 7).

ISCAL - Antónia Pereira 18/03/2022

Você também pode gostar