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Teoria da
Literatura: Formalistas Russos. Porto Alegre: Globo, 1976.
B . '1'01\fACHEVSKI
TEMATICA
A ESCOLHA DO TEMA
. • .
Neste sentido, o tema atual, isto é, aquele que trata dos proble
mas culturaiS do momentO, satlSlaz o leitor.
Assim, uma imensa literatura jornali::;tica acumulou-se em tor
no de cada. romance de Turguemev, interessada menos pela o bra
de arte e mais pelos problemas de cultura ger·al, e sobretudo, pelos
problemas sociaiS. Esta literatura. jornalística era inteuamente le
gitlma enquanto resposta ao tema . escolhido pelo romancista.
Os temas da Revolução, <lli vida revolucionária são atuais, con
temporâneos, e penetram em toda a obra de Pilniak, Ehrenburg e
de outros prosadores e poetas como .Maiakovsk.1, Tikhonov, Asseev.
A forma elementar da atualidade nos é dada pela conjuntura
quotidiana. Mas as obras de atualidade (o e� bilhete'', as estrofes
do cancioneiro) não sobrevivem a este interesse temporário quc as
suscitaram. A importância destes temas é reduzida porque não são
adaptáveis à variedade dos interesses quotidianos do público. In
versamente, quanto mais o tema for importante e de um interesse
durável, mais a vitalidade da obra será assegurada. Repelindo as
sim os limites de atualidade, podemos chegar aos inter�es univer
sais (os problemas de amor, da morte) que, no fundo, permanecem
os mesruos ao longo de toda a história humana. Entretanto, estes
temas universais devem ser nutridos por uma matéria concreta e
se esta matéria não está ligada à atualidade, colocar estes proble
mas é um trabalho destituído de interesse.
Não é necessário compreender a atualidade como uma repre
sentação da· vida contemporânea. Se, por exemplo, o interesse pela
revolução é de atualidade hoje, isto significa que o romance histórico
retratando uma época de movimentos revolucionários, ou o romance
utópico que descreve a revolução numa situação fantástica, podem
ser atuais. Relembremos aqui, por exemplo, a série de peças de teatro
da época das revoluções apresentadas nos palcos russos ( Ostrovski,
Alexis Tolstoi, Tchaev, etc. , ao mesmo tempo que obras de Kosto-
. marov ), · que mostram que os temas históricos referentes a uma épo
ca, mesmo que distantes, podem ser atuais e suscitar talvez maior
interesse do que poderia fazê-lo a representação da vida contempo
rânea. Enfim, é preciso saber que os aspectos desta vida são repre
sentáveis. Nem tudo que é contemporâneo é atual ou provoca o
mesmo interesse.
Assim, as particnlaridaoP.s da época que assiste à criação da
obra literária são determinantes no que concerne ao interesse pelo
tema. Acrescentemos que a tradição literária e as tarefas propostas
por ela têm um papel preponderante entre estas condições histó-
r1cas.
•
172 B. Tomaçhevski
a atenção retém. .
emocional contida na obra (mesmo que esta não seja a opinião pes
soal do autor ) . Este colorido emocional, que . fica evidente nos gê
neros literários primitivos (por exemplo, no rqmance de aventuras1
onde a é recompensada e o vício pun ido ) , pode ser muito
virtude
fino e complexo nas obras mais elaboradas e por vezes tão distorcida
que não a possamos exprimir por uma simples fórmul a. I�ntre
tanto, em geral, é o momento de simpatia que guia o interesse e
m antém a atenção, obrigando o leitor a participar do desenvolviA
mento do tema.
FÃBULA E 'rR.AMA
a fábula
leitor toma conhecimento dele.
174 B. Tomachevski
i
3 Do ponto de vista da disposi<}� o do material narrativo, o começo
da narraç.ão chama-se exórdio, e se>u fim, final. O exórdio pode não con
ter nem a expo5idio. nem o nó. Da mesma maneira, o final pode nãq; · .
coincidir com o dcRft:'cho;
179
. I"
� 1c o mot',1vo ' ' sma -
arou1 et
o, ,
traços de beleza, etc. - que a cri.a.nça. criada funde�se com o outro
· ,
·- --
lifa. Cegonlw. :
'Um belo dia, o r.alifa Ka�c::idf-' e �r.u viúr eomprl.lr.n r1t:· t.n.tt mer-
.
182 B. Tomachevski ·
•
e tJUtttca.
, . ,
mesmo.
Anoto aqui a transposiçãomotjvos : o motivo do mercador
dos
ambulante e o motivo de Ka.chnur, pai de Mizra, são o mesmo
110 momento em que o califa cegonh a surpreende o mágico. O fato
ela é dupla:
r(
)��] lT
_, !.. . J.\ {�
v 11.v..:Z!. (..
�.
\
por cima da. qual estão suspensas algumas armas71• No início, e�ta.
anota�ão é apenas um detalhe da decoração a título de indicação ,
�falsos? . Quo
_ . ·) •
Cada. motivo real deve ser introduzido por uma certa forma
da construção do relato e deve beneficiar-se de um esclarec mentoi
- ' 'Perfeitamente.
- " Por Deus Piotr Andreitch ! Em que canoa vai embarcar!
,
Brigar com Alexis Ivanovitch ! ' Palavtas leva as o vento ' ! Ele
-
O HERói
tias do leitor para alguns deles e sua repulsão para outros provoca ,
dizer a respeito do que não sabem ? ". O sermão não aconteceu. Es
ta anedota tem um prolongamento que acen tua o caráter amhí�o
da palavra < ' saber". Na vez seguinte, os fiéis responderam à mes
ma pergunta : "Nós sabemos. " - " Se o sabem sem mim, não vale
a pena que eu lhes fa1e7. t '
À ane dot e sobre a dupla interpre
a está. contruída c
tmi a.ment
taGão de uma pal avra e ela subsiste qualquer que seja o enquadra
mento que se lhe der. Mas em sua realiza.cão concreta este diálo�o
,
do irlandês. " O que há 1 " "En agora entendo porque você riu
-
não estar em casa . ' ' Ainda aqui os dois motivos se entrecruza.in :
o verdade i ro cômieq da tabuleta. e a sin�ular interpretacão do ir
landês Que admite com o autor da. inscr ição que os iletrados sa-
berao 1""
- �e-la.
Mas o desenvolvimento desta anedota diz respeito ao proce
dimento q·ue consiste em u nir estes motivos a. um her6i escolhido
devido a seu caráter nacional (assim na França há a.� anedotas so
bre os Gascões entre n6s temos também um grande número de he
,
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OS GÊXBROS LITER.:iRIOS
204 B. Tomachevski
. J 99·
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