Você está na página 1de 2

23/12/2022 11:34 Cinco vias que provam a existência de Deus em Santo Tomás de Aquino

Cinco vias que provam a existência de Deus


em Santo Tomás de Aquino
Comumente se diz que Santo Agostinho cristianizou Platão, assim como Aquino cristianizou Aristóteles. Como este, Aquino
parte do sensível para chegar ao inteligível como processo de conhecimento.

Assim, o filósofo cristão distingue cinco vias para caracterizar o conhecimento e provar a existência de Deus. Vejamos quais
são:

1. Primeiro motor imóvel: esta primeira via supõe a existência do movimento no universo. Porém, um ser não move a si
mesmo, só podendo, então, mover outro ou por outro ser movido. Assim, se retroagirmos ao infinito, não explicamos o
movimento se não encontrarmos um primeiro motor que move todos os outros;

2. Primeira causa eficiente: a segunda via diz respeito ao efeito que este motor imóvel acarreta: a percepção da
ordenação das coisas em causas e efeitos permite averiguar que não há efeito sem causa. Dessa forma, igualmente
retrocedendo ao infinito, não poderíamos senão chegar a uma causa eficiente que dá início ao movimento das coisas;

3. Ser Necessário e os seres possíveis: a terceira via compara os seres que podem ser e não ser. A possibilidade destes
seres implica que alguma vez este ser não foi e passou a ser e ainda vem a não ser novamente. Mas do nada, nada vem e,
por isso, estes seres possíveis dependem de um ser necessário para fundamentar suas existências;

4. Graus de Perfeição: a quarta via trata dos graus de perfeição, em que comparações são constatadas a partir de um
máximo (ótimo) que na verdade contém o verdadeiro ser (o mais ou menos só se diz em referência a um máximo);

5. Governo Supremo: a quinta via fala da questão da ordem e finalidade que a suprema inteligência governa todas as
coisas (já que no mundo há ordem!), dispondo-as de forma organizada racionalmente, o que evidencia a intenção da
existência de cada ser.

Todas essas vias têm em comum o princípio de causalidade, herdado de Aristóteles, além de partirem do empírico, ou seja,
de realidades concretas e de um mundo hierarquicamente ordenados. Vale também notar como Tomás de Aquino concebe
o homem. Para ele, o homem é um ser intermediário. É composto de corpo (matéria) e alma (forma) sem as quais nada
significa, isto é, nada é isoladamente. Assim, o homem é um ser intermediário entre os seres de forma mais elementar,
como os minerais, as plantas e os animais, e os seres mais perfeitos como os anjos e Deus. O homem possui as
características dos anteriores a ele e também dos procedentes na hierarquia do universo.

Entretanto, o conhecimento de Deus se faz por analogia, seguindo uma vida de negação que afasta dele todo elemento
criatural. Mas somente isto redundaria num agnosticismo. E não se conhece Deus imediatamente como numa
contemplação direta com a essência divina, mas somente através de um saber analógico em que todos os nomes não
predicados, explicita ou implicitamente de modo negativo, Lhe aplicam tal sentido analógico, o que evidencia a distância
infinita entre o Criador e as criaturas e também justifica os enunciados que de Deus fazemos (Deus é Bom, Infinitamente
Sábio, etc.).

Essa doutrina da analogia que inclui semelhança e comparação se opõe à da iluminação; esta propõe um contato
imediato com Deus. O abandono da Iluminação divina – experiência interna – pela analogia – experiência externa –
acarretou suas consequências e dificuldades, a saber: em primeiro lugar, as criaturas semelhantes a Deus por serem
causadas por Ele (causa equívoca) devem conter seus efeitos. Desse modo, a causa contém em si os seus efeitos; em
segundo lugar, nada é univocamente predicável de Deus e das criaturas, o que de acordo com o dito acima (causa
equívoca) seus efeitos também o são. A univocidade se enquadra em categorias e é a relação para a equivocidade,
enquanto Deus não se encaixa em nenhuma categoria. Ele é simplesmente; e em terceiro lugar, alguns predicados não são
enunciados do modo puramente equívoco de Deus, já que para Aquino, uma equivocação pura é um termo que, por simples
causalidade, é empregado para designar coisas diversas. O tautológico não se relaciona com as coisas e se assim fosse,
não teríamos dele conhecimento algum; e por último, que os predicados positivos são anunciados analogicamente de Deus
e das criaturas. Em nossas predicações, o ser compete primeiro às criaturas e depois a Deus. E não o contrário, porque
não há relações entre estes. Designamos Deus a partir do que deparamos nas criaturas de modo infinito (nas relações,
ocorre o inverso, já que o predicado é anterior à natureza de qualquer substância).

Portanto, Santo Tomás de Aquino atribui a predicação de Deus e da criatura, somente por analogia, evidenciando entre eles
uma distância infinita da qual nenhum conceito transpõe, já que Deus transcende infinitamente a criatura.
https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/119633 1/2
23/12/2022 11:34 Cinco vias que provam a existência de Deus em Santo Tomás de Aquino

Por João Francisco P. Cabral


Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/cinco-vias-que-provam-existencia-deus-santo-tomas-.htm

https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/119633 2/2

Você também pode gostar