Você está na página 1de 3

No capítulo 03 A Singularidade da Interpretação Jurídica, o autor utiliza a

contribuição de Emílio Betti, segundo o qual o processo interpretativo no Direito pode


ser entendido como uma tríade, no qual destacam-se o espírito do intérprete, a
espiritualidade objetivada em uma forma representativa e a própria forma
representativa. A interpretação aqui é considerada como o inverso do processo criativo,
na qual um espírito, através da forma da representação, comunica-se com o espírito do
intérprete. A hermenêutica, então, busca construir uma teoria da ciência do espírito, uma
ciência da interpretação.

O autor também apresenta dois tipos de interpretação: histórica e jurídica. A primeira


integra a forma representativa com o pensamento e na segunda dá-se um passo a frente
pois a norma não se reduz à sua primeira formulação. O jurista deve considerar o
sistema jurídico como algo em movimento e imerso no mundo, por isso a interpretação
não pode estar limitada a uma contemplação do significado da norma, mas sim em
integrá-la à realidade social.

De acordo com Betti, podemos encontrar três funções no processo interpretativo:


histórica, com função cognoscitiva; a normativa, que extrai máximas orientadoras para e
chegar a uma decisão; reprodutiva ou representativa, que busca substituir uma forma
representativa tal como ocorre em uma tradução. Desse modo, a interpretação jurídica
está em relação tanto com a interpretação teórica, histórica ou comparativa do jurista e
com a interpretação com finalidade prática em função normativa frente à norma m vigor
e sua aplicação. Não descriminando o fato de que não exista lacunas na disciplina
codificada. O direito está em movimento, sendo impossível retirar seu dinamismo e
isolá-lo dentro de formas representativas fixas. A interpretação que se procura é a de
reconhecer e reconstruir o significado atribuído à forma representativa tendo como base
uma estrutura de valorações.

No capítulo 04 Interpretação do Direito: uma atividade de compreensão o autor


afirma que o mundo pode ser entendido como uma grande rede de interpretações. A
interpretação no direito opera uma compreensão, o que faz com que a disciplina
desenvolva uma dimensão axiológica.

A evolução da hermenêutica vem trazendo à tona uma diversidade de formas de


conhecimento dos objetos culturais e naturais, os modos cognitivos desses objetos,
respectivamente, são a compreensão e a explicação. Compreende-se os primeiros pois
se tem vivência com eles, o que torna possível conectá-los com outros sentidos.
Explica-se os segundos pois busca-se descobrir na realidade o que nela já existe.
Enquanto nesta última descrevemos ontologicamente um objeto de análise; na
compreensão a figura do sujeito é imprescindível e sua atividade apresenta uma
estrutura de valoração.

Desse modo, os fatos sociais e jurídicos são objetos da cultura e por isso devem ser
compreendidos E para se compreender a ordem jurídica deve-se utilizar um método
empírico-dialético constituído pelo que o autor denominou de ato gnosiológico da
compreensão. Empírico por que são fatos, realidades espaço-temporais e nossa relação
com eles é sensível. Dialético por que a compreensão se dá a partir de um diálogo em
que o espírito se desloca entre o substrato e o sentido.

Esse caráter dialético revela-se, no ordenamento jurídico, através do encontro entre o


texto normativo e a realidade em questão, processo sempre aberto a novos significados.
Sendo assim, o interprete do direito acaba atuando como um porta voz da compreensão
societária

No capítulo 05 A Interpretação no Direito e a Polissemia da Linguagem Humana o


autor defende que não tem como pensar a hermenêutica sem passar pelo estudo das
relações comunicativas e pela investigação do papel da linguagem, pois todo objeto da
hermenêutica é uma mensagem entre um emissor e um grupo de receptores.

Na transição do século XIX ao XX uma plêiade de pensadores começaram a se dedicar


ao estudo da linguagem, tanto cotidiana quanto científica, o que proporcionou o
surgimento de uma nova ciência - a semiótica, que passou a se referir a uma teoria geral
dos signos linguísticos .

O autor afirma que a realidade do direito é linguagem e o referencial linguístico é


imprescindível para o processo decisório, principalmente no sistema romano-germânico
que valoriza tanto o jus scriptum. Contudo, a plurivocidade é uma característica da
comunicação, o que faz com que as palavras possam vir a ter inúmeros significados e
dentre esses sentidos possíveis, o intérprete deverá escolher a significação mais
adequada para dada situação social em questão. Importante também observar que aqui a
linguagem não é um objeto um instrumento, ou uma outra coisa entre o sujeito e o
objeto. Quando o jurista interpreta ele não toca a linguagem por fora, ele na realidade
está desde o princípio dentro do jogo da linguagem, do qual fazem parte também o
sujeito e o objeto.

Para a semiótica jurídica a dialética é percebida entre a linguagem corrente


( onomasiologia) e a linguagem técnico-científica (semasiologia).A primeira diz respeito
à linguagem natural e espontânea e a segunda a linguagem artificial ou técnico-
científica quando formalizada por uma determinada sistematização dos saberes. No
campo semiótico também pressupõe-se a tridimensionalidade dos signos linguísticos o
que nos leva a realizar análises sintática, semântica e a pragmática do discurso.

A sintática estuda as relações estruturais dos signos entre si, destrinchando os elementos
que formam uma fase. A semântica estuda a significação das palavras. E a pragmática
significa a relação entre os signos, os emissores e os destinatários. Assim, interpretar é,
numa perspectiva semiótica, vislumbrar o sentido e a abrangência dos signos
normativos, procurando, desse modo, a significação dos signos jurídicos. O jurista
quando aplica a norma produz uma interpretação da mesma, pesquisando o seu
significante. Nesse ponto, a letra a norma permanece, mas seu sentido se adapta às
mudanças da vida social.

Em suma, as normas jurídicas veiculam mensagens polissêmicas e essa polissemia da


fonte do direito deve ser resolvida por meio do reconhecimento das diferenças entre
linguagem comum, a técnico-científica e o emprego das análises sintática, semântica e
pragmática sobre o discurso do ordenamento jurídico

No capítulo 06 Tecnologia Hermenêutica: da letra ao espírito do direito

Você também pode gostar