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Colonialismo, Racismo e Dependência: um estudo de caso sobre Porto Rico

Ellysa Raquelyne Magalhães (11811RIT054)


Gleyson Pessoni Monteiro (11821RIT037)

Introdução

Os países latino-americanos são frutos diretos do colonialismo europeu. A grande


maioria destes países foram colonizados pela Espanha, e isto explica o motivo da grande
maioria deles terem o espanhol como sua língua oficial. Apesar de serem resultados de um
mesmo processo histórico - isto é, o colonialismo -, é fundamental destacar a existência de
grande heterogeneidade social, histórica e políticas entre os países latino-americano hispano
falantes, de maneira que compreender a realidade de cada um se constitui enquanto uma tarefa
complexa.
Entender os efeitos do colonialismo sobre as estruturas econômicas, políticas e sociais
dos países latino-americanos é de extrema importância para pensarmos as dinâmicas políticas
e socioeconômicas presentes na contemporaneidade. E por este motivo, o presente artigo busca
discorrer sobre as características do colonialismo e a maneira pela qual ele estruturou as
sociedades e economias latino-americanas.

Dominação, Colonialismo e Dependência

Assim como ocorre com todos os fenômenos estudados pelas ciências humanas e
sociais, existem diversas maneiras de compreendermos o colonialismo e suas implicações para
as sociedades que sofreram com este processo.
Tal como demonstrado por Galeano (2010) e Quijano (2005), o colonialismo é fruto de
um processo histórico de dominação, exploração e transformação das sociedades latino-
americanas em benefício dos países centrais. Como se sabe, a colonização da América Latina
pode ser entendida como constituindo a primeira etapa do processo de expansão ultramarina
das potências Europeias, iniciadas no século XV pelas maiores economias da época: Portugal e
Espanha (GALEANO, 2010; QUIJANO, 2005).
Espanha e Portugal, ao descobrirem a existência das terras latino-americanas e suas
riquezas traçam estratégias a fim de obter ganhos econômicos na exploração desses territórios.
O Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de julho de 1494, foi responsável por demarcar os
espaços latino-americanos a controle da coroa espanhola e os espaços latino-americanos a
controle da coroa portuguesa. Apesar de ambas as coroas instalarem formas de explorar
economicamente o território, foram diversas as formas pela qual a exploração se processou nos
diferentes espaços coloniais, visto a existência de enormes heterogeneidades sociais, climáticas,
naturais, etc.
As formas pelas quais a exploração das sociedades nativas e de pretos advindos de
África como escravos desumanizados foram diversas, indo desde trabalhos forçados em minas
auríferas e minas de prata na América Central e no Brasil, ao trabalho nos grandes latifúndios
produtores de matérias-primas em toda América Latina. A dominação europeia sobre a América
Latina não apenas foi responsável por assegurar às potências europeias produtos e poder
econômico, obtidos através do sangue e suor de pretos e povos indígenas desumanizados e
explorados violentamente, mas também foram responsáveis por gestar problemas econômicos,
políticos e sociais na região que permanecem até a atualidade. É por este motivo que Eduardo
Galeano escreve:

A divisão internacional do trabalho significa que alguns países se especializam em


ganhar e outros em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos América
Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os
europeus do Renascimento se aventuraram pelos mares e lhe cravaram os dentes na
garganta. Passaram-se os séculos e a América Latina aprimorou suas funções. Ela já
não é o reino das maravilhas em que a realidade superava a fábula e a imaginação era
humilhada pelos troféus da conquista, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas
a região continua trabalhando como serviçal, continua existindo para satisfazer as
necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, de cobre e carne, frutas
e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que, consumindo-os,
ganham muito mais do que ganha a América Latina ao produzi-los. (GALEANO,
2010, p. 7)

Essa passagem escrita por Galeano (2010) revela algo cuja teoria econômica aborda
com grande clareza: a existência de relações de dependência no sistema internacional, com a
América Latina sendo considerada uma economia dependente. O principal autor a versar sobre
a temática foi, sem sombra de dúvidas, Ruy Mauro Marini. Marini (2017), grande nome da
chamada Teoria Marxista da Dependência, defende a concepção de que a América Latina foi
gestada e colocada para ter uma função secundária no capitalismo, sendo responsável por suprir
os grandes centros mundiais com alimentos e matérias-primas demandadas por ele. Essa função
seria basilar para entendermos as dificuldades econômicas, as fragilidades sociais e políticas
presentes nos diferentes países latino-americano - tal como ocorre com a persistência da fome
em uma das principais regiões produtoras de alimentos.
Se a condição de dependência da região latino-americana é um dos fatores fundamentais
para a compreensão dos problemas socioeconômicos e políticos da América Latina, Quijano
(2005) argumenta que o racismo e a criação da “raça” também são frutos deste processo.

[...] a codificação das diferenças entre conquistadores e conquistados na idéia de raça,


ou seja, uma supostamente distinta estrutura biológica que situava a uns em situação
natural de inferioridade em relação a outros. Essa ideia foi assumida pelos
conquistadores como o principal elemento constitutivo, fundacional, das relações de
dominação que a conquista exigia. Nessas bases, consequentemente, foi classificada
a população da América, e mais tarde do mundo, nesse novo padrão de poder.
(QUIJANO, 2005, p. 117)

Esses dois aspectos são fundamentais para se compreender os efeitos da colonização


sobre os países e sociedades latino-americanas. Entende-se que a dominação da América Latina
pelas potências europeias, responsáveis pelo colonialismo, gestaram economias e sociedades
especializadas e dependentes, fator este responsável pela pobreza e marginalização, e geraram
problemas sociais estruturais como é o caso do racismo.
Realizar esta abordagem teórica é de extrema importância pois, apesar dos países latino-
americanos serem, na contemporaneidade, independentes (pelo menos no papel), as estruturas
gestadas pela colonização permanecem atuantes. Questionamos a independência pois, se
analisarmos mais profundamente, as bases pela qual está repousa são extremamente frágeis e,
no mínimo, questionáveis. Perez (2011) em seu texto, tenta nos mostrar isto sobre Porto Rico.

Porto Rico, Colonialismo e Dependência na Contemporaneidade.

Porto Rico é uma nação e um território caribenho e latino-americano localizado no


Caribe, América Central. Diferentemente do que ocorre com outros territórios latino-
americanos, que são “Independentes” a alguns séculos, Porto Rico ainda se encontra submetido
ao colonialismo (PEREZ, 2011).
Porto Rico foi, no século XV, conquistado e colonizado pelos espanhóis, mas foi tomado
pelos Estados Unidos durante a Guerra Hispano-Americana. A dominação norte-americana
permanece até a atualidade, o que leva a Pérez a discorrer acerca da existência do colonialismo
até a atualidade (PEREZ, 2011). Em um primeiro momento, Pérez discorre acerca do que se
entende por colonialismo. Em suas palavras:
[...] el colonialismo clásico como forma de dominación política, económica, social y
cultural virtualmente ha desaparecido del planeta. Podemos decir que está superado
históricamente. Pero prevalece —en tiempos del capitalismo industrial y del
imperialismo moderno— como problema político que afecta directamente a millones
de seres humanos en varios continentes y que amenaza a otros pueblos formalmente
independientes y realmente dominados por grandes potencias, o pueblos que intentan
zafarse de esa condición de dependencia y sometimiento. (PÉREZ, 2011, p. 43)

Na concepção de Pérez, Porto Rico, colônia estadunidense na atualidade, se constitui


enquanto umas das colônias mais importantes da atualidade. A descrição do colonialismo
realizado por Pérez (2011) vai de encontro ao entendimento de autores como Galeano (2010) e
Quijano (2005), visto que o primeiro compreende que o processo de colonização Porto
Riquenho, que acabou por formar Porto Rico, fora um processo extremamente violento e
opressivo contra povos nativos e pretos trazidos de África como escravos. Porto Rico, tomado
da Espanha pelos Estados Unidos, passaria a ser utilizado e explorado pela potência norte-
americana no início do século XX (PÉREZ, 2011).
O colonialismo imposto por uma "república" tal como os Estados Unidos possui suas
particularidades, mas os conteúdos da dependência e da exploração continuam, assim como é o
caso do racismo. Com auxílio dos Estados Unidos, Porto Rico foi transformado em uma grande
plantação açucareira, tal como fora feita com partes do território brasileiro no início da
colonização; além disso, foram-se aplicadas outras formas de exploração do território Porto
Riquenho pelos Estados Unidos, obtém grandes ganhos produtivos e ganhos financeiros do
território (PÉREZ, 2011). Esse fator pode ser considerado uma relação de dependência, visto
que a Porto Rico cumpre um papel definido pelos Estados Unidos e é explorado por este último,
enquanto seu povo sofre com enormes problemas econômicos e sociais, tal como definido por
Marini (2017).
Além da exploração econômica e da dependência de Porto Rico em relação aos Estados
Unidos, a relação colonial é marcada pelo racismo, tal como expresso por Quijano (2005). De
acordo com Pérez (2011), os Estados Unidos utilizam-se de diversos instrumentos de
dominação cultural e educacional a fim de impor sua cultura sobre o povo porto-riquenho; este
é, sem sombra de dúvidas, um dos aspectos do racismo - visto que se supõe e pressupõe que
uma identidade cultural é melhor que a outra, buscando eliminar a identidade “inferior”.
Apesar de serem vítimas do colonialismo, do racismo e da dependência, os porto-riquenhos
lutam por sua independência, e resistem a todas as formas de opressão e violência impostas
pelos Estados Unidos (PÉREZ, 2011).
Antes que todo, no cabe duda que ciento trece años después de la invasión militar
estadounidense, la nación puertorriqueña, caribeña y latinoamericana prevalece contra
viento y marea. No es poco decir. Siendo el colonialismo una forma de dominación
por principio de cuentas de carácter existencial —en la que para el dominador, el
dominado es una cosa y no un sujeto— podemos afirmar que los puertorriqueños se
han ganado el derecho a existir, en una lucha abnegada y permanente contra las formas
de dominación más insensibles, en condiciones extraordinariamente desiguales, a
favor de nuestra idiosincrasia, nuestra lengua, nuestra cultura, nuestra tierra y nuestras
riquezas. Lo mismo contra el colonialismo que contra el anexionismo y el
asimilacionismo. (PÉREZ, 2011, p. 56)

Lutar e resistir contra o colonialismo é uma constante para o povo latino-americano, e


expor, isto é, de extrema importância para as sociedades de nossa região. Se as lutas realizadas
por Porto Rico permanecerem até a atualidade, é importante ressaltar que os todos os povos
latino-americanos lutam contra os efeitos negativos deixados pelo colonialismo, tal como é o
caso da situação da dependência e do racismo estrutural.

Referências Bibliográficas

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. São Paulo: Editora LPM, 2010.

MARINI, Ruy Mauro. Dialética da Dependência. Germinal: Marxismo e educação em debate,


v. 9, n. 3, p. 325–356, 2017. Disponível para download:
<https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/24648>. Acesso em: 12 de
dez de 2022.

PÉREZ, Julio A. Muriente. Puerto Rico y el colonialismo en el siglo XXI. Cuadernos


Americanos: Nueva Época, vol. 4, nº3, 2011, p. 41-62. Disponível em:
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3810793>. Acesso em: 15 de dez. de 2021.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocetrismo e América Latina. In: LANDER,


Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas
latinoamericanas. CLACSO, Buenos Aires, Argentina. 2005

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