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Relatos de Pesquisa

2018. v. 6, n. 1, p. 05-19
http://www.fafich.ufmg.br/mosaico

Errância e enunciação desejante na adolescência

Aline Guimarães Bemfica¹

Resumo

Neste artigo, propõe-se uma abordagem da errância na adolescência enfatizando-se a


dimensão do desejo anônimo. A partir da investigação freudiana sobre as transformações
da puberdade e da tese lacaniana sobre o despertar do sonho infantil, aborda-se o tema do
desejo anônimo e do não-pertencimento dos jovens no campo do Outro parental e social,
especificamente, entre os adolescentes infratores marcados pelas insígnias do erro e do
pior. Haveria, nesses casos, um espaço para a enunciação desejante?

Palavras-chave: adolescência, errância, ato infracional, desejo, anonimato.

Anonymity, wandering and desire enunciation in adolescence

Abstract

In this article, it is proposed an approach of the wandering in the adolescence emphasizing the dimension of
the anonymous desire. From the Freudian research on the transformations of puberty and the Lacanian thesis
on the awakening of the child's dream, the theme of the anonymous desire and non-belonging of the young in
the field of the parental and social Other, specifically, among the juvenile offenders marked by the insignia of
error and the worst. Would there be, in such cases, a space for desiring enunciation?

Keywords: adolescence, wandering, delinquence, desire, anonymity.

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Bemfica, A.G. (2018)

Introdução que os reduzem ao lugar de objeto-dejeto


no campo do Outro familiar e social?
Neste artigo, aborda-se o tema da
errância na adolescência a partir de uma Assim, parto das leituras
reflexão sobre o desejo anônimo e o lugar psicanalíticas - freudianas e lacanianas - da
de objeto-dejeto que particulariza o puberdade e da adolescência para propor, a
adolescente no campo familiar e social e partir daquilo que a experiência de trabalho
suas consequências subjetivas. Indica-se me apresentou, pensar sobre a errância na
que a errância é uma resposta subjetiva que adolescência em duas perspectivas: o lugar
tem relações com o desejo anônimo e com de objeto-dejeto do adolescente
o não-pertencimento dos jovens no campo confrontado com o anonimato do desejo do
do Outro parental e social. Especialmente Outro parental e social; e como
quando eles são reconhecidos e positividade, abertura para o novo. Ou seja,
particularizados pelos outros que o a errância na adolescência como
circundam a partir de predicações que lhe potencialidade de enunciação de uma
outorgam o lugar do “pior” no campo do posição desejante.
Outro social e familiar. Este lugar do pior é
Adolescência e não-pertencimento no
uma faceta do objeto-dejeto com o qual o
campo do Outro familiar e social
adolescente está identificado,
especialmente, em contextos de graves Em sua análise sobre “as
rupturas do campo relacional familiar e transformações da puberdade” Freud
institucional. (1905/1996) esclarece que o adolescente é
confrontado com o deslocamento de seu
Como se deslocar do espelho do
lugar no seio familiar na medida em que se
Outro? Em meio às condições tão adversas
vê impelido a realizar três trabalhos.
e a um processo de subjetivação que
Primeiramente, ele precisa se reposicionar,
permita ao adolescente se deslocar dessa
diferentemente da vida infantil, em relação
referência de objeto-dejeto, vale a pena
à apropriação de seu corpo e de sua
apostar nos efeitos de uma psicanálise?
história; em segundo lugar, ele é
Como trabalhar na perspectiva do advento
convocado à dimensão da estrangeiridade
do sujeito, tal como orienta a psicanálise?
que caracteriza o pulsional; e, finalmente, é
Seria a errância desses adolescentes uma
necessária a realização do trabalho de
tentativa de se deslocarem das predicações
superação dos ideais que o veiculavam à
autoridade parental, que, diferentemente do

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Errância e enunciação desejante na adolescência

tempo de Freud, em nossa época, não estão delinquentes ou infratores - os


em declínio, mas, contrariamente, já “desaventurados”, também por ele
declinaram, seja na família, na sociedade, denominados como “casos mistos e
na política ou na justiça. fronteiriços” (p. 25). Este trabalho de
Aichhorn (2006) se deu no contexto após a
Este trabalho de travessia do
Primeira Guerra e se desenvolveu em dois
adolescente de seu mundo infantil ao
campos de saber e de ação: a psicanálise
mundo adulto aponta para a potencialidade
aplicada na interface com o campo da
da errância na medida em que acentua a
educação e da justiça, no tribunal de
dimensão do estrangeiro que é o
menores. A sua pesquisa é resultado da
adolescente a ele mesmo. A sua
formalização de sua prática como diretor
estrangereidade se refere ao luto necessário
de um reformatório juvenil e produziu uma
de seu corpo infantil e que ele deverá, com
fecunda reflexão sobre a função da família
novos custos, reinscrever no campo do
e das instituições educacionais e judiciárias
Outro. Essa reinscrição de seu corpo e de
na vida dos adolescentes cujos laços no
sua imagem no campo do Outro torna-se
campo do Outro se tornaram frágeis devido
mais complexa para os jovens cujas
às consequências da guerra.
trajetórias são marcadas por grandes
rupturas do campo relacional familiar e Aichhorn, ao relatar e analisar a sua
institucional, configurando uma errância experiência de trabalho, situa as
subjetiva referente à falta de um lugar consequências subjetivas da guerra para os
desejante tutelado pelo Outro familiar que adolescentes acompanhados por ele,
o circunda. assinalando, especialmente, as condições
familiares destes jovens, a perda de
A situação de jovens que tiveram a
referências simbólicas de pertencimento no
sua trajetória marcada por rupturas foi
campo social e a ausência de projetos de
abordada por Freud, em relação as
vida. Como contrapartida, ele localiza a
aplicações da psicanálise e sua implicação
importância da construção de novos laços
com a sociedade, na escrita do prefácio do
do adolescente com a cultura como um
livro de August Aichhorn, intitulado
bordejamento ao trauma da guerra e ao
“Verwahrloster Jugend”. Freud
desamparo, considerado por Freud
(1925/1996) traz uma reflexão sobre a
(1985/1996) como “a fonte dos motivos
incidência da psicanálise no campo da
morais” (p. 431).
educação e no trabalho com adolescentes

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Bemfica, A.G. (2018)

Ao retomar o título desse livro, Nesse contexto, especialmente para


traduzido por Dr. R. Del Portilho como os jovens que se encontram “desarrimados
“Juventud descarriada”, Hebe Tizio (2007) do Outro”, para utilizar uma expressão de
propôs a substituição do termo Lesourd (2004), a errância pode ser uma
“descarriada” pelo significante primeira resposta subjetiva, assim como, a
“desamparado”. O seu argumento para a criminalidade pode produzir um efeito de
realização dessa alteração foi a retirada da filiação, dando aos adolescentes um
ênfase da delinquência juvenil e o acento sentimento de pertencimento, ainda que em
nos efeitos do desamparo radical do Outro uma conjunção sustentada por uma lei de
familiar e social sobre o adolescente, já ferro.
que o que se apresenta sobremaneira nos
Somada a essa referência sobre o
casos acompanhados por Aichhorn são os
não-pertencimento do adolescente no
efeitos de desregulação pulsional
campo social e familiar, Debieux e
ocasionados pela perda dos laços que a
Vincentin (2010) sustentam que “nessa
guerra produziu na vida desses
posição de expulso, o sujeito perde a sua
adolescentes.
visibilidade na vida pública, não tem voz,
Essa perspectiva adotada pelo autor entra no universo da indiferença” (p. 114).
acima, em muito nos interessa. Isso O que me interessa sublinhar nesta
porque, no contexto de vida dos jovens na reflexão apresentada pelos autores acima é
favela das grandes cidades brasileiras, a que, quando fracassam os dispositivos
cultura do tráfico de drogas e a guerra educacionais, entre eles, a família, a
diária, que mata um grande número de comunidade e a escola; o sentimento de
jovens, coloca em pauta, entre outras, essa pertencimento do adolescente no campo do
mesma questão já assinalada por Freud Outro que sustenta a presença de um
(1925) e August Aichhorn (2006), ou seja, desejo de saber e de viver é colocado em
o efeito da desregulação pulsional causado risco, tal como esclarece Lacadée (2011).
pelo desamparo radical do Outro familiar e Pois, um adolescente marcado pela
social, que produz tanto uma captura fácil invisibilidade é aquele que pode estar em
dos adolescentes pelas malhas do tráfico de todo lugar e, ao mesmo tempo, se
drogas, quanto seu Outro tirânico, com encontrar em lugar algum. Nesse sentido, a
suas leis e hierarquias particulares. invisibilidade se conjuga ao sentimento de
não-pertencimento do adolescente
desabrigado do Outro, marca fundante da

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errância entre os jovens que, em alguns Melchior sobre o fim da inocência, que
casos, convocam, a partir de seus atos marca a sua entrada na puberdade, e o
infracionais, o Outro da lei e da proteção despertar do sonho infantil. Nesta peça de
(Douville, 2002; Lesourd, 2004). Trata-se, Wedekind (2004) é demonstrado o valor
para estes adolescentes, da radicalidade do real que tem, para cada jovem personagem,
encontro com a inexistência desse Outro, o encontro com o corpo, com o gozo e com
seja no campo familiar ou no campo social. a morte (Lacan, 1973/1974). Em face ao
Por sua vez, os laços construídos por estes real em jogo para o ser falante duas
jovens têm a marca da instabilidade. respostas são apresentadas pelos
adolescentes, a saber, o laço com o Outro e
A questão do laço com o Outro foi
o exílio do Outro, ou seja, a entrada no
apontada por Jacques Lacan quando ele
território dos não-tolos, estes que erram
trabalhou o tema da adolescência. Ele
(Lacan, 1973/1974). Passemos,
dedicou uma atenção especial a este tema
rapidamente, pela peça de Wedekind
na década de setenta, a partir da ideia de
(2014) e por algumas falas dos
despertar e da tese freudiana, extraída de
personagens que compõem essa peça e que
seus três ensaios sobre a teoria da
apresentam a problemática da
sexualidade (Freud, 1905/1996), de que a
adolescência:
sexualidade faz furo no real (Lacan,
1974/2003). Ao situar o real em jogo, no (a) O declínio da autoridade paterna:
encontro com a puberdade, a leitura
Moritz: “Para que serve uma
lacaniana sobre o despertar da sexualidade enciclopédia que responde tudo,
na adolescência, coloca em relevo a tese da menos a pergunta mais importante
sobre a vida?” (p. 4)
inexistência da relação sexual e o
malsucedido, que é o encontro com a Wendla: “Sabe o que eu acho? Que
todo mundo que consegue escapar da
sexualidade para cada ser falante (Lacan, religião cai de cabeça na idiotice da
1974/2003). superstição”. (p.3)

Wendla: “Não acredita em Deus.


A sua grande contribuição é o Não acredita em outra vida. Não
pequeno texto escrito a partir do aporte da acredita em nada”. (p. 3)

literatura e intitulado “Prefácio a O (b) O encontro com o sexual, com o real


despertar da primavera, de Franz
Melchior: “uma noite, um dos
Wedekind” (1974/2003). Esse escrito se
meninos começa a sonhar e acorda
inicia com o testemunho do jovem com o instinto fervendo. Eu aposto,
Moritz”. (p. 6)

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Melchior: “Na verdade eu já tinha Com esta referência, Ramirez (2014)


tido essa coisa faz um tempo. Um
especifica que se trata, no tempo do
ano”. (p. 8)
despertar do sonho infantil, do advento de
Moritz: “Na hora eu pensei que um
raio tinha me acertado”. (p. 8). um excesso pulsional que se impõe ao
adolescente, exigindo novas conexões e
(c) O enigma, o não-saber e o sem sentido
novas formas de enlace. Entretanto, estas
Wendla: “Não tenho a menor ideia conexões e formas de enlace se tornam
de como as coisas acontecem. Não mais complexas quando o Outro, que
fique brava, mãe. Para quem eu
posso perguntar se não for para circunda o adolescente, encontra-se
você?”. (p. 20). desertificado no que diz respeito ao desejo.
Melchior: “O tempo inteiro eu me Passemos, assim, a situar os efeitos
sinto tão distante. Quase um
subjetivos do desejo anônimo para o
estrangeiro”. (p. 19).
adolescente, a partir de algumas situações
Moritz: “Pensei que eu tinha uma
doença sem cura, que eu ia apodrecer clínicas.
por dentro. Aí eu comecei a anotar
tudo num diário e isso foi me Angústia e desejo anônimo: algumas
acalmando”. (p. 6)
situações clínicas
O que é universal nessa peça é o
Quando, no campo do Outro
impasse que o encontro com o gozo, o
familiar, o adolescente encontra o desejo
corpo e a morte, esses três nomes do real
anônimo, como pode ele se particularizar?
(Lacan, 1973/1974), apresenta para cada
Levando em consideração a potência do
adolescente. O que é singular, em
pequeno outro - o semelhante, rival - que
contrapartida, é a resposta que cada
ganha a cena subjetiva quando o
adolescente pode dar a isso que sobrevem a
adolescente não se encontra
ele como estrangeiro, desconhecido, ou
particularizado, me pergunto: como o
seja, a irrupção de um gozo, apresentado
adolescente pode se separar do lugar de
por Ramirez (2014) como “um despertar
objeto-dejeto ao ser apartado do desejo do
que inclui o corpo, já não unicamente
Outro? Não seria fundamental dar lugar,
como imagem, mas também como sede de
para além dessa destinação ao pior, a uma
gozo. Ali acontece uma passagem entre o
certa estrangeiridade do adolescente - a de
menos de gozo na infância para um mais
seu corpo, a de seu gozo e a de seu lugar
de gozo na puberdade” (p. 11).
no campo do Outro?

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Errância e enunciação desejante na adolescência

Essas estrangeiridades contrariam a função inglória de revelar a verdade do


imagem construída pelo adolescente sobre objeto a na fantasia materna.
si mesmo e, portanto, contrariam o
Neste sentido, a mãe, um dos nomes
reconhecimento - ainda que pelo viés do
do gozo, deverá sofrer o interdito do
pior - que se tinha no campo do Outro
Nome-do-Pai que permite metaforizar o
parental e social. É nesse sentido que a
seu desejo mediando, assim, a relação do
psicanálise, ao operar com a linguagem,
sujeito com a realidade. Quando esse
com a errância do pensamento e das
processo se passa razoavelmente, “o
palavras, pode contribuir para a construção
sintoma da criança acha-se em condição de
sutil de um nome que não aparte o sujeito
responder ao que existe de sintomático na
de sua marca, de seu traço e de seu desejo.
estrutura familiar” (p. 369). Ou seja, o
O enigma do desejo do Outro - Que sintoma representa a verdade do casal
queres? “ - foi trabalhado por Jacques familiar este seria, segundo Lacan, o caso
Lacan em “Nota sobre a criança” mais acessível às intervenções do
(1969/1998), a partir da localização na psicanalista. Essa acessibilidade se refere
constituição subjetiva da criança, da ao fato de que o sintoma da criança traz a
irredutibilidade da transmissão de um marca da metáfora paterna, ou seja, o
“desejo que não seja anônimo” (p. 329) e desejo da mãe, enquanto articulado ao
em relação ao qual as funções do pai e da nome do pai, se sustenta, esclarece Santoro
mãe são recolocadas sobre o jugo da (2011), sobre a barra colocada na relação
psicanálise a partir de duas referências: o mãe-criança-falo, posto que há algo além
desejo da mãe e o pai como vetor de uma da criança ao qual o desejo da mulher se
encarnação da Lei no desejo. dirige.

A irredutibilidade de uma Entretanto, nos casos em que o


transmissão que afirme o desejo não- sintoma da criança prevalece como
anônimo, apresentado como a função de decorrente da subjetividade da mãe,
resíduo da família, indica que é o desejo quando a criança está implicada, sem
que particulariza o sujeito, que faz vacilar balizas, como objeto da fantasia materna, o
esse lugar que a criança é convocada a trabalho do analista, segundo Lacan
ocupar, o de objeto da fantasia materna, (1969/1998), é conhecer outras
que compõe o jogo da tapeação no qual a dificuldades que se referem à exposição da
criança se confunde, visto que dotada da criança às capturas fantasísticas de várias

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ordens, na medida em que “ela satura, merda como seu pai” e assumir um nome
substituindo-se a esse objeto, a modalidade que o particularizava “eu sou um
de falta em que se especifica o desejo (da trabalhador”. Esta era também uma outra
mãe), seja qual for a sua estrutura especial: referência paterna, apagada, escondida por
neurótica, perversa ou psicótica” ( p. 369). trás da sentença materna, e permitiu a este
jovem se alojar de outra forma em seu
Uma situação clínica de um
discurso.
adolescente acompanhado por dois anos no
cumprimento da medida socioeducativa de Esta reflexão sobre o desejo anônimo
liberdade assistida ensina algo sobre o que que particulariza pelo pior, ao nosso ver,
a teoria psicanalítica apresenta. Este aponta para o que Lesourd (2004) afirmou
jovem, Riobaldo, considerado por sua mãe predominar na juventude hoje em dia, a
“um merda, como seu pai”, responde saber, menos as questões da rivalidade
prontamente a esta identificação. Ele não edipiana com o pai, e mais a “questão
para de se meter em confusão. Ele rouba arcaica da existência do eu diferenciado do
uma boca de fumo e quase morre: “melhor outro” (p. 158). Nesta direção, em relação
tivesse morrido, assim não dava trabalho”, aos comportamentos e atos infracionais na
ressoa o discurso materno. adolescência, Lesourd enfatizou o lugar de
“uma delinquência do gozo arcaico com a
Este jovem estava identificado com o
mãe” (p. 158), ou seja, vinculado a uma
nome do pior, ele era guiado em seus
confusão mortífera entre o eu e o outro, a
passos na vida por esse sintagma “ser
uma indissociação do sujeito em relação ao
homem era ser um merda”. Entretanto, em
gozo materno.
face a iminência de se tornar pai, este
jovem começa a redimensionar os lugares Essa indiferenciação entre o sujeito e
subjetivos de pai e filho, que ele era. Os seus outros parece ser uma característica
laços construídos com um orientador privilegiada nos casos dos adolescentes
social, com quem conversava enquanto confrontados com o desejo anônimo no
ocupava os espaços diversos da cidade, campo do Outro parental. Um adolescente
foram fundamentais em sua releitura de si não particularizado no campo do Outro
mesmo. pelo viés do desejo é este que se encontra
assolado pelo sentimento de não-
Aos poucos, ao tomar a palavra e
pertencimento que o conduz a ser
falar das “coisas de homem”, ele pode se
estrangeiro em relação à sua própria vida, a
deslocar desta identificação mortífera “um

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Errância e enunciação desejante na adolescência

estar em errância ou a se agarrar à era a “outra”, a outra mulher, que ocupava


identificações que o mantém alienado à a sua cena subjetiva. Assim, quando esta
condição de objeto-dejeto. jovem pode se dispor à errância da
linguagem, alguns elementos novos
Localizada esta referência trago,
passaram a ter lugar em seu discurso
agora, sucintamente, uma outra situação
possibilitando, minimamente, situar o seu
clínica. Vitória, nome ficitício dado a uma
sofrimento e falar dele para além das
adolescente acompanhada durante um ano
identificações predicativas nas quais ela se
pelo setor de psicologia, comete o ato
alienava.
infracional de roubar um saco de macarrão
e um creme para o cabelo em um Sobre a errância na adolescência e a
supermecado. Este ato diz muitas coisas de enunciação desejante
sua vida: a pobreza, o grande número de
O contexto de vida de muitos jovens
irmãos de quem tinha que cuidar, suas
envolvidos com a criminalidade e, em
feminices e relações amorosas.
errância, é marcado pela exclusão social,
Para ela havia apenas duas saídas: pela ausência da crença nas figuras de
“ou a puta ou a ladra”. Quando ela é autoridade, pela violência, pela ineficácia
confrontada com a questão “mas...tem das instituições reguladoras, entre elas, a
apenas essas duas formas de se colocar no família, a educação e a justiça. Nos
mundo?”, ela passa a falar um pouco de contextos de vida dos adolescentes,
suas relações amorosas, do ciúme, do que a marcados pela exclusão e pelo risco social,
deixava “doida e agressiva”, especialmente conforme propõe Olivier Douville (2002),
com seu namorado e com as mulheres que a errância deve ser pensada a partir da
imaginava que ele olhava ou se ideia de falta de inscrição no campo do
interessava. Outro social e familiar. Esse autor propõe
que tenhamos em relação à errância uma
A abertura discursiva que essa
atenção particular:
questão produziu para essa adolescente
contribuiu para que ela pudesse se Ela demanda uma atenção particular,
aproximar do seu sofrimento e das coisas pois, ao invés de constituir um
que a particularizavam. Ela sofria de sintoma a decifrar, a errância deve,
ciúmes: sempre achava que o namorado antes, ser situada como uma falta de
estava com o pensamento em outra inscrição e, mais especificamente
menina. Nem a santa, nem a puta. Agora ainda, como a impossibilidade do

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sujeito para superar uma falta de primeira tentativa do adolescente em se


inscrição no que concerne a seu ser e deslocar do lugar do erro e do pior que ele
também à sua filiação. (p. 77) encontra no Outro, sendo, portanto,
positividade, abertura para o novo, pois,
Para os adolescentes marcados pela
conforme ensina Célio Garcia (2011), “não
falta de inscrição no campo do Outro e
é porque há uma pré-constituição do
pela impossibilidade de se apoiar nos
sujeito ao nível do Outro que ele esteja
semblantes, partindo da premissa de que,
condenado a nada fazer, ou a agir sempre
em muitos casos, o desejo do Outro se
da mesma maneira no seu embate com o
apresenta ao adolescente, seja no campo
Outro” (p. 30).
parental ou no campo social, como um
desejo anônimo, é a tirania do gozo que faz Essa perspectiva da errância é
valer toda a sua potência sobre os jovens anunciada por Sauvagnat (2004) ao nos
reduzidos à condição de objeto-dejeto. convocar a pensar na adolescência a
realizar-se um trabalho muito particular
Essa perspectiva de leitura sobre a
que alguns jovens precisarão fazer para
errância nos parece ir ao encontro das
que eles possam se manter enlaçados em
seguintes abordagens traçadas sobre esse
sua vida: o de ultrapassar o “deserto do
tema: a errância como resposta ao rechaço
Outro” e construir, para si mesmos, novas
da vinculação do sujeito à lei do desejo
referências nas quais possam se apoiar e
(Sauvagnat, 2004); como sentimento de
outras rotas às quais possam seguir.
não-pertencimento e desfiliação que assola
o adolescente (Douville, 2002); articulada Assim, na travessia da adolescência,
à falta de significação sobre seu ser no especialmente nos casos em que a errância
campo do Outro (Lacadée, 2011) e a destrutiva é uma resposta privilegiada, a
errância como resposta ao desarrimo do construção de um lugar que propicie uma
adolescente no laço social (Lesourd, 2004). enunciação de sujeito e a construção de
uma referência de pertencimento subjetivo
E, particularmente, em relação ao
é fundamental. Avançando nessa
lugar de objeto-dejeto, com o qual o jovem
abordagem, Cristina Poli (2005), em seu
pode se identificar no campo do Outro
livro “Clínica da exclusão”, situa o lugar
parental e social, especialmente nos casos
da economia do sujeito na cultura e o laço
em que o desejo anônimo dificulta a sua
social, levando-se em consideração,
particularização pela via do desejo, a
fundamentalmente, a função nominante ou
escolha pela errância aponta para uma uma

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Errância e enunciação desejante na adolescência

“da autenticação de um nome ao sujeito” a palavra é que pode dar lugar à função da
(p. 251) na construção de narrativas que errância em sua vida.
operem como resistência aos discursos
Esse ato de tomar para si a sua
hegemônicos, alienantes e excludentes.
palavra e a sua história pode, talvez,
E, em relação a essa experiência, produzir algumas condições de balizar a
cabe ao analista, sustentar o seu desejo sua angústia, ou seja, de mediar a sua
levando-se em consideração, tal como relação com o desejo do Outro, a partir da
sublinha Lacan (1964/1996) que “o desejo inserção de índices de separação na
do analista não é um desejo puro. É um alienação que o constitui como sujeito,
desejo de obter a diferença absoluta, aquela contribuindo para a construção de
que intervém quando, confrontado com o referências outras que dêem lugar ao seu
significante primordial, o sujeito vem, pela despertar.
primeira vez, à posição de assujeitar a ele”
Essa referência lacaniana, que aponta
(p. 260). Pois, conforme aponta Jacques
na direção da pluralização dos nomes do
Lacan (1973) em seu seminário “Os não-
pai em seu ensino, ou seja, situa a
tolos erram”, erram aqueles que são
perspectiva da invenção possível a cada
estrangeiros em relação a si mesmos, no
um em face ao real que se antecipa como
sentido de que são descrentes de seu
impossível de dizer, indica que o itinerário
inconsciente e de sua história.
do desejo a ser mapeado por cada
É nesse sentido que pensamos a adolescente pode servir como uma baliza à
dimensão positivada da errância, ou seja, a sua errância, produzindo um saber em face
de abertura do espaço para que o ao insabido que é o inconsciente na medida
adolescente possa se enredar em sua em que o verdadeiro está à deriva quando
narrativa, construindo novos enredos que o se trata do real.
permitam situar a sua estrangeiridade
Nesta direção, ao deslocar-se da
íntima e potencial. Pois, para utilizar uma
errância ao erreur, ao erre, Jacques Lacan
expressão de Jacques Lacan (1962-
(1973) localiza que erram aqueles que não
1963/2005), quando o adolescente
se encontram enamorados de seu
envereda em sua “partida errante para o
inconsciente, aqueles que não são tolos do
mundo” (p. 130), nessa travessia em que
real, embora errem também os que o são.
tantas vezes prevalece o imperativo do ato,
Sobre o real e o “erre”, “esse negócio que
do agir, a possibilidade de dizer e de tomar
impele”, Lacan pronuncia:

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Mas é talvez esse erre (e, dois, r, e) errância na adolescência a partir da


vocês sabem, esse negócio que investigação freudiana sobre as
impele aí, quando o navio se deixa transformações da puberdade e da tese
balançar – é talvez aí que podemos lacaniana sobre o despertar na
apostar em achar o Real um pouco adolescência.
mais adiante [...]. (p. 57)
A partir das reflexões concernentes à
Seguindo os passos lacanianos neste pesquisa em psicanálise e ao trabalho, no
seminário, Táboas Gonzáles (2015), campo da psicanálise aplicada com os
enfatiza a referência ao iterare em adolescentes em situação de envolvimento
oposição ao viajante errante e situa a com as práticas infracionais, extraí como
repetição, o recomeço constante, a tema central de investigação, a relação
insistência disso que impele e que encontra entre a errância na adolescência e o
na linguagem, na errância, à qual o anonimato do desejo parental,
analisante se dispõe ao tomar a palavra e demonstrando os elementos subjetivos que
deslizar na língua, a chance de poder compõem esta relação.
encontrar uma outra coisa que possa
A análise desta relação indicou que,
responder pela sua condição de sujeito de
no trabalho com os jovens confrontados
desejo. Assim, ao se deslocar
com um radical desabrigo do Outro
metonimicamente da errância ao erreur e,
familiar, é preciso atentar paralelamente ao
finalmente, ao erre, à letra, a errância é
trabalho clínico realizado, para a
situada por Jacques Lacan, tal como
construção de ancoragens singulares que o
sustentado pela citada autora, nos domínios
jovem pode fazer no campo do Outro
da repetição, para afirmar, conforme
social pela via da nominação produzida
mencionamos anteriormente, que o erro do
pelo tensionamento das predicações, por
qual se trata na errância é este de se
exemplo, esta que reduz o adolescente a
acreditar que se é um estrangeiro em
um objeto-dejeto, a “merda”, tal como
relação à própria vida.
demonstrou a situação clínica relatada já
Conclusão quase no final deste ensaio.

Neste artigo, fruto da pesquisa de Foi nesta direção que indicamos as


doutorado intitulada “A errância entre o consequências do advento do sujeito: este
desejo e o gozo e sua relação com o ato que se apresenta entre o tempo da
infracional na adolescência”, abordei a alienação e o tempo da separação do

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Errância e enunciação desejante na adolescência

campo do Outro da linguagem que o de vacilação. Ou seja, o advento do


precede. sujeito, oposto ao campo da representação
e das identificações, contribui para um
Conclui-se que, o convite ao espaço
deslocamento do lugar que, tantas vezes, o
de fala dado ao adolescente, pode dar lugar
jovem se encontra identificado, o lugar de
a errância própria à linguagem e ao
um objeto-dejeto e dejetado do campo do
pensamento. E, com isso, no campo das
Outro social e familiar e suas incidências
significações, pode-se produzir
mortíferas sobre ele.
mobilidades subjetivas ali mesmo onde as
identidades fixas, que aprisionam o jovem
em determinado perfil, sofreram um estado

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Sobre a autora
¹ Aline Guimarães Bemfica | Atualmente realiza pesquisa de pós-doutorado pela Fundação de
Amparo à Pesquisa da cidade do Rio de Janeiro (FAPERJ/Pós-doc nota 10), na Universidade
Federal do Rio de Janeiro.Nesta pesquisa, desenvolve projeto de intervenção no campo da
psicanálise, na interface com a arte, com jovens em situação de migração, de refúgio e de
errância. Possui doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (2017). Em seu doutorado trabalhou o tema do jovem infrator, do desejo e da errância,
a partir de sua prática clínica, exercida durante dez anos, com adolescentes. Possui mestrado
em Teoria da Literatura, na Universidade Federal de Minas Gerais (2006) e graduação em
Psicologia pelo Centro Universitário Newton Paiva (2003). Possui experiência clínica em
Psicanálise com adolescentes, adultos e crianças (consultório particular e instituições).
Trabalha, principalmente, com os seguintes campos: psicanálise, adolescência, socioeducação,
direito, literatura.

Recebido em: 08/05/2017


Aceito em: 21/02/2018

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