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CAPÍTULO V
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Comunicação «Adolescência e Condutas de Risco», apresentada em Coimbra, 27 e 28 de Maio de
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pessoas presentes que, sem «pensar muito», «disparassem» algumas palavras que
lhes ocorressem por associação com a palavra-indutora projetada num écran e que
era, precisamente, adolescência. Desse público, essencialmente formado por
professores e profissionais de instituições de apoio médico-psicossocial
vocacionadas para intervir junto de camadas populacionais mais jovens, como
médicos de família, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, surgiu a seguinte
lista de palavras pela ordem em que são aqui reproduzidas: crise, aventura, viragem,
marginalidade, afirmação, inquietação, conflito, identidade e irreverência. Um
conjunto de palavras que à partida nada diz, mas que enquadrado no contexto das
imagens sobre a adolescência presentes na cultura ocidental, pode adquirir um
significado importante, ainda mais sendo proveniente de um grupo de pessoas
informadas e interessadas na temática, com uma prática profissional que as conduz
ao contacto e relação direta com adolescentes.
1992. nas Jornadas sobre a Adolescência. promovidas pelo CEPD, Programa Stop-Sida e Projecto
Vida.
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dialogar com eles, não sabem o que querem, não têm uma noção adequada das
realidades»; «são os homens de amanhã, o futuro do país», mas «não podem exigir
condições para as quais não contribuem, há que aceitar o que a sociedade lhes pode
oferecer». Prisioneiros destas injunções os adolescentes procuram encontrar as
terceiras vias de resposta, que nalgumas vezes assumem carácter marginal ou
patológico - «se sou e não sou, o que fazer?» - e tentam ser não sendo, estar na
comunidade não estando, através, por exemplo, da violência. Desse mundo de «não-
adolescentes» fazem parte os outros elementos da família no seio da qual o agora
adolescente foi crescendo e com a qual, na melhor das hipóteses, convive ou, na
pior, coabita. E assim, os familiares e particularmente os pais são os primeiros a
sentir e quantas vezes a expressar nas relações com os filhos (mesmo que de tal não
se apercebam) a dupla conotação desta etapa desenvolvimental: «Se não fosses tu,
teríamos uma vida calma e descansada» e «és a nossa razão de viver, é por ti que
tanto trabalhamos!».
Em termos de sentimentos negativos, junta-se ao medo suscitado pelas
recordações da sua própria adolescência, o temor do consumo excessivo de álcool,
da toxicodependência, da violência, de algum modo justificado e reforçado pela
sensação de impotência face à determinação do filho (ou à falta dela, diriam alguns
pais...). Em termos de sentimentos positivos, à recordação das lutas por ideais então
vividos junta-se a admiração pela coragem e energia, sentido de justiça e capacidade
de luta com que enfrentam os desafios e dificuldades que se lhes deparam. Paredes-
meias vivem então, nos pais, a necessidade e o desejo de controlo do adolescente,
expresso por vezes na repressão, e o projeto da sua «libertação» a curto prazo, que
pode revelar-se num «virar das costas» ou numa responsabilização excessiva e
precoce. Atitudes extremas fundamentalmente evidenciadas em caso de
dificuldades.
Neste jogo de motivações contraditórias não há vítimas nem culpados, até
porque os «já» adultos e em particular as famílias e os pais, estão eles próprios
sujeitos a injunções do mesmo tipo. A imagem de que os pais de hoje não dialogam
o suficiente com os filhos, criando entre ambos uma barreira de silêncio, porque
vivem concentrados no stress quotidiano e na necessidade de «fazer dinheiro», é
confrontada com outra que requer cada vez mais o seu empenhamento em termos
de competitividade, parcialmente justificada, precisamente, pela necessidade de
criar as condições económicas necessárias à educação e proteção dos filhos (hoje
em dia também cada vez mais exigente e prolongada no tempo).
A sociedade aponta-os como responsáveis, e até certo ponto bem, pelo evoluir
dos seus descendentes, ao que contrapõe a imagem de pais impotentes ou
permissivos e demitidos das suas funções educativas, afirmando-se, mesmo, que
«os pais têm os adolescentes que merecem». E o direito à busca do amor ao longo
da vida é-lhes negado muitas vezes em nome do amor aos filhos: o divórcio e o
recasamento é uma das razões apontadas como causa das dificuldades «desta
juventude». Mas não sem que se apontem, também, os jovens como causadores de
todo o mal-estar familiar atual: «Se não fossem os filhos...», «se não tivessem um
filho toxicodependente seriam uma família feliz, um exemplo da família ideal…».
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corresponde, de facto, a um aspeto sempre presente nesta etapa e que é afinal
maturante e indispensável à sua boa evolução. A pedra-de-toque para que funcione
como tal, apesar das dificuldades e sofrimento que inevitavelmente o acompanham,
reside na forma como é gerido por todos os seus protagonistas e na sua consequente
elaboração e integração.
A «fórmula mágica», se é que existe, é indicada por Minuchin através desta
metáfora: há que caminhar no meio da estrada apesar dos riscos que isso implica!
Tentando avançar na equidistância dos sentimentos, motivações e pedidos extremos
surge o respeito pelas diferenças e pela individualidade de cada um. Por outro lado,
há que não esquecer que paralelamente ao conflito do adolescente com os outros
(pais, professores, outros familiares, habitualmente designado por conflito de
gerações), existe o que ele desperta entre os outros e, não menos importante, o seu
próprio conflito.
«EU, Adolescente...
Em meu entender a adolescência é uma altura da vida muito bonita mas também das mais
difíceis.
Tenho muitos mais problemas agora na escola do que quando era mais novo. Esta é a
iniciação ao tempo de adulto: começamos a guardar as nossas economias, a contá-las. É uma das
grandes complicações que eu, adolescente, tenho.
De manhã, quando acordo, só penso «para que é que a escola nos tira da cama?...»; mas
não há nada a fazer, tenho que me levantar e ir para lá! Depois é escolher a roupa que é sempre
outra complicação; se a camisa não liga com as calças, se o blusão não liga com a camisa, enfim,
uma confusão... e tudo para ficar o mais bonito possível. É uma fase completamente maluca. Com
o penteado é a mesma coisa: fica-se imenso tempo a ver se a «pala» está bem-feita, se se está
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muito bem penteadinho, enfim, é uma onda de grande vaidade.
Uma das coisas que me atrai mais é a música, principalmente a música rock (quase tanto
como o futebol). Esta é uma época da vida em que se vive a música!
Mas será que, na roupa, no penteado, na escolha da música, estamos realmente a ser nós
próprios ou é-se uma pessoa completamente diferente querendo, apenas, que os outros gostem de
nós? Não devia ser assim, mas há casos em que uma pessoa gosta de outra, não pela maneira como
ela é, mas só pela maneira como se veste, como se penteia, como se apresenta. Eu, normalmente,
tento ser Eu e nada mais, mas, por vezes, sinto que faço coisas para agradar aos outros, coisas que
por mim só nunca faria.
A adolescência é uma idade de conflitos mas penso que para mim, e até agora, foi a melhor
altura de toda a minha vida».
Esta fase marca, portanto, o «fim» de um outro ciclo incluído no próprio ciclo
de vida da família, iniciado com o nascimento do primeiro filho, e ao longo do qual
se foi invertendo o sentido de fecho funcional do sistema em relação ao meio, para
uma abertura progressiva que se aprofunda com a entrada dos filhos na escola e que
culmina com a sua adolescência. Pode então falar-se mesmo de dois ciclos de vida
da família: o que decorre na presença física dos filhos e o que se processa na sua
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Como indicámos no Capítulo II, o casal ao longo da sua relação passa também por diferentes fases,
em que está em permanente reavaliação. Nessa evolução, a saída dos filhos de casa reveste-se de um
valor particular, uma vez que a parentalidade deixa de funcionar como «espaço de tréguas» na
conjugalidade, enquanto a possibilidade de desvio (triangulação) diminui drasticamente.
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O conceito de transformação, explicitado no Capítulo I a propósito da mudança nos sistemas,
refere-se à emergência de um novo padrão funcional e relacional na auto-organização familiar.
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ausência física. De forma global, a adolescência dos filhos marca também na família
outra passagem ou transição de ciclo.
No sentido de reforçar a opção de caracterizar esta etapa como passagem, está
não só o facto de que esta atribuição está muito mais próxima do que se passa com
o adolescente e a família em termos psicossociais, como a existência em termos
semânticos da conotação negativa da associação «crise-da-adolescência», a todos
os títulos redutora do essencial deste processo.
Transformação
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Congruentemente há uma «desvalorização» (insistimos funcional) destes dois
subsistemas na vida familiar e a já citada recentralização no subsistema conjugal,
que assim fica mais livre para o renovar da relação, mas também mais sujeito a ter
que se confrontar diretamente com as suas dificuldades particulares. Por outro lado,
cada um dos elementos que constituem estes subsistemas ficarão ainda mais livres
para investimentos individuais, profissionais e outros.
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opiniões, juízos e decisões do adolescente, sendo este inclusivamente estimulado a
participar nas tomadas de decisão familiares; classes dos níveis mais elevados.
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estudo/mundo laboral e profissional; etc.). Ao permitir a lenta progressão para a
identidade adulta e madura, retarda, afinal, o «pagamento da dívida» face à geração
precedente.
Na atualidade, o alargamento deste tempo de espera, através por exemplo do
prolongamento dos estudos e consequente diferimento da independência financeira
e laboral, associado a uma falta de perspetiva e confiança em termos de futuro, faz
com que a tarefa da família se complexifique num recrudescimento de dificuldades,
uma vez que há uma inversão do que seria esperável neste processo. A
independência física e económica, que deveria funcionar como uma base para o
definitivo estabelecimento de uma autonomia sócio-afetiva, ou pelo menos ser-lhe
contemporânea, é cada vez mais tardia, não sendo raro que a segunda se processe
mais rapidamente do que a primeira: o indivíduo já definiu a sua independência
psicológica, embora ainda seja dependente economicamente da família. E o bom
senso e inteligência levantam-lhe a questão: «Como posso viver de acordo com os
meus próprios modelos se ainda são os meus pais que me sustentam, me alimentam,
dão a roupa e a casa?». Mesmo antes desta realidade, a sua expectativa («o mais
provável é acabar o curso e não conseguir um emprego!») interfere nas vivências
individuais e familiares. Como afirmava um adolescente, por acaso até bom aluno,
«talvez não fosse má ideia perder um ou dois anos! Afinal acaba-se o curso e o que
é que uma pessoa vai fazer? Pedir dinheiro aos pais para viver " numa" de não fazer
nada? Pelo menos assim os pais têm obrigação de continuar a pagar os estudos e
nós de estudar! De outro modo, arriscamo-nos a ser colecionadores de cursos». A
nova definição de um outro papel, não só na comunidade mas também na família,
fica assim entravada.
Este aspeto assume novo valor quando se sabe que não é só o adolescente que
caminha em busca de uma identidade e autonomia, mas que também os pais se
defrontam com um processo semelhante de redescoberta ou redefinição da
identidade e autonomia individual e de casal. Durante os longos anos em que
ocuparam o seu tempo, centrando-se quase em exclusividade no «tomar conta» dos
filhos, não tiveram consciência, muitas vezes, de que essa dedicação tinha como
objetivo último prepará-los para a saída de casa, e de repente, face à sua autonomia
crescente, dão-se conta que, como diz Daniel Sampaio (1994), o fizeram para que
«os filhos deixem de pertencer aos pais», já que, em termos da relação mútua, esse
é o valor da sua autonomia.
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Os pais dos adolescentes enfrentam conflitos e dificuldades num processo de
(re)afirmação da identidade semelhante ao dos filhos, embora de modo diverso. Não
raramente sentem-se pressionados por uma carreira profissional frustrante ou
demasiadamente absorvente. Vivem desiludidos com um casamento estéril, ou no
qual já se apagou a chama, quando se olha aquele homem ou mulher com quem se
vive e não se reconhece o indivíduo por quem há muito tempo atrás se estava
apaixonado. Sentem-se confusos, indecisos e culpabilizados face à geração
precedente (dos próprios pais) que agora faz um movimento de reaproximação
baseado na necessidade de apoio e proteção. Esta pressão que lhes exige tempo e
dispêndio de energias suplementares, pode contribuir para as dificuldades de
negociação junto do adolescente, apontadas como falta de diálogo, de paciência, de
atenção, em suma, como uma certa negligência parental com entrega dos filhos a
terceiros: escola, grupo de amigos, etc.
Neste contexto de obstáculos surgem os «desvios», o tornear das situações
pela impossibilidade de as enfrentar ou a centração numa área específica dessas
dificuldades: arranja-se um cão em que se investe como se fosse um filho, ou tem-
se mesmo mais uma criança, que nasceu por descuido não se sabe bem como.
Investe-se a «200%» na profissão, porque é necessário chegar ao topo da carreira e
não há tempo para mais nada. Surgem as relações extraconjugais mais duradouras
e significativas que espantam os amigos porque são estabelecidas com alguém tão
parecido com o que era o cônjuge. Crescem a quantidade de doenças e as idas aos
médicos, centra-se o quotidiano na preservação da saúde como único bem que
individualmente restou. Outras vezes, de modo mais consistente e como resolução
eventualmente mais saudável dos conflitos, surgem os divórcios ou a possibilidade
de renovar a relação de casal (para o qual agora há mais disponibilidade).
Descobrem-se novas potencialidades e interesses na vida em que é possível investir
de forma mais madura.
O problema da mulher que não trabalhava fora de casa, e que na sequência da
saída dos filhos ficava sem qualquer objetivo de vida ou ocupação, não foi, como
se vê, anulado com a inversão da situação e estatuto das mulheres. Em qualquer dos
casos, se o emprego pode ajudar a resolver uma das dificuldades, não deve ser
encarado como o meio de evitamento de outros conflitos, nem pode ser impeditivo
da busca de renovados objetivos de independência, autonomia e identidade.
Como aponta V. Satir, a adolescência dos filhos pode ser o motor para a
entrada de uma lufada de ar fresco na vida dos pais e mesmo de toda a família,
através de um processo equivalente de autonomização entre pais e filhos que
implica perdas e ganhos de ambos os lados.
Não há que negar as grandes diferenças entre gerações existentes no seio da
família, fundamentais, aliás, para o desenvolvimento e progressão contínua do
sistema familiar através da sua aceitação e da negociação que provocam. Mas nem
os adolescentes são «monstros» incontroláveis ou, ao contrário, «uns coitadinhos»,
nem os pais são as suas vítimas ou carrascos, nem sequer os seus «construtores».
Também não há que negar que entre ambos existem grandes semelhanças:
para além do facto de que quando se belisca um adolescente ele sente dor tal como
o adulto, grande parte das manifestações de violência no adolescente correspondem
à necessidade de esconder temores e inseguranças, tal como no adulto. A grande
dificuldade dos pais em reconhecerem, aceitarem e enfrentarem os sinais de
possível alcoolismo ou toxicodependência nos filhos corresponde a uma das
características relacionais destas patologias, isto é, a mecanismos de fuga e
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evitamento do conflito. Se o adolescente faz uma caminhada no sentido da
independência e autonomia, existe o recíproco por parte dos pais que têm que
reconstruir a sua independência em relação ao exercício da parentalidade.
Mesmo em termos de valores e objetivos, essas diferenças não são tão
rigorosamente marcadas quanto se imagina, sendo certo que, até para melhor
responder às tarefas deste período, pais e filhos sobrevalorizam as diferenças e
subestimam as semelhanças.
………………………
My son turned up just the other day
said: «Thanks for the ball! Dad come on, let's play!
Can you teach me throw?»
I said: «Not today! I've got a lot to do»
He said: «That's o.k.!» He walked away and
smiled as he said: «You know, I'm going to be
like him! You know I'm going to be like him!»
AS RELAÇÕES PAIS-FILHOS
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Cats in the cradle conta a história de um pai que fala da evolução da sua relação com o filho:
primeiro este pede-lhe para jogarem à bola mas o pai tem muito que fazer... não pode ser nesse dia.
O filho pensa, então, que quando crescer irá ser tal e qual como o pai! No refrão, o pai afirma como
vai ser bom estarem juntos, quando o filho vier para casa. Mas o filho cresceu e chega a casa vindo
da Universidade; tem pressa em sair e pede as chaves do carro emprestadas ao pai, que orgulhoso
do filho que tem, gostaria que ele se sentasse um pouco ao pé de si... Não há tempo! Novamente o
refrão. Depois, o tempo avança, o pai está reformado e quando telefona ao filho repara em algo que
ainda não tinha pensado: «Ele cresceu e ficou tal e qual como eu»!
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de separação faseado e progressivo. Pepitone (citado em Alarcão, 1986) aponta três
fases: na primeira existe ainda grande dependência face aos pais como fonte direta
de satisfação de necessidades; na segunda os pais (e os adultos e amigos em geral)
começam a ser investidos e avaliados também em função das suas características e,
na terceira, são desinvestidos como elementos nutrientes e autoritários para serem
investidos numa relação de igual para igual.
Na mesma linha, outros estudos sobre a perceção/compreensão que os filhos
têm sobre a natureza das suas relações com os pais apontam para resultados que
confirmam e clarificam os anteriores. No seu processo de crescimento, os
adolescentes passam por diversos níveis de compreensão da natureza da sua relação
com os pais até atingir o último e mais avançado: depois de os pais serem vistos
como fontes de satisfação de necessidades, a que os filhos correspondem com
gratificação da parentalidade (guidance, counselor and need-satisfier), passa-se ao
nível em que pais e filhos mostram tolerância e respeito mútuo e em que os
adolescentes começam a reconhecer que, tal como eles, também os pais tem
necessidades, para finalmente (na fase terminal da adolescência, início da fase
adulta), se considerar que as relações mudam em função das circunstâncias,
capacidades, e necessidades de cada mudança (Selman, 1980).
Este evoluir progressivo é encontrado, de novo, num estudo de Eurico de
Figueiredo (1985) sobre o conflito de gerações, feito no nosso país com um grupo
de indivíduos dos dez aos dezanove anos, em que se analisam três movimentos
conflituais: autonomia/dependência, obediência/desobediência e
idealização/desidealização. Mostra que há uma tendência, constante e progressiva
com a idade, no sentido da valorização da autonomia, desobediência e
desidealização dos pais. Isto pode ser traduzido (e sentido) pelos pais como perda
de amor, autoridade e admiração por parte dos filhos. Quando tal acontece, numa
idade em que, como vimos, ao nível de outros investimentos sociais e afetivos se
exercem sobre os pais pressões de toda a ordem, pode concorrer para que sintam
um decréscimo da autoestima.
O que, no entanto, parece estar em jogo é a transição feita neste período pelos
adolescentes, e na qual os pais são cada vez menos encarados como autoridades em
todas as matérias sabendo virtualmente tudo (processo de desidealização), à medida
que aqueles se vão considerando competentes em certos domínios e logo com
capacidade para tomarem decisões. A crença crescente do adolescente de que tem
mais conhecimento sobre determinada situação do que os pais, traduz-se na
resistência em aceitar os seus avisos e instruções, ou mesmo na rejeição ativa que
faz desses conselhos e pode sobregeneralizar-se, de tal modo, que este não acredita
na competência efetiva dos pais em nenhum domínio, mesmo quando de facto a
possuem.
A convicção «os pais são os maiores, sabem tudo» evolui para uma outra, «sei
tudo»; só posteriormente a relativização dos diferentes saberes pode ser aceite. Este
é um fator que ajuda a explicar o aumento progressivo da desobediência encontrado
por Eurico de Figueiredo. Caricaturalmente pode dizer-se que a desidealização dos
pais é acompanhada por uma idealização de si próprio. No evoluir adolescente
passa-se de uma fase de idealização dos pais, a outra de idealização do adolescente
para finalmente se atingir o equilíbrio da relativização.
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A idealização do adolescente por si próprio é tão necessária quanto o foi a
que fez em relação aos pais, para que adquira confiança nas próprias capacidades
que assim serão testadas e sujeitas à prova da experimentação. Por isso o correr
riscos desnecessários (na perspetiva dos pais, em função da sua própria
experiência), a revolta e a desobediência não são dramas nem tragédias quando
encarados pelos pais como sinais de crescimento e pelo próprio como afirmação
das suas capacidades; a paciência e calma de ambos os lados é importante porque
se trata de um processo de experimentação longo no tempo e não substituível pela
racionalização. Também é de notar que paciência não significa, por parte dos pais,
«deixar correr» ou estar menos atento, uma vez que a outra vertente da construção
da confiança é o estabelecimento de limites e normas, nunca rígidos mas bastante
firmes, como veremos um pouco à frente quando se referir o jogo do equilíbrio do
poder/autoridade.
Conflito
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permissividade absoluta quer na repressão extrema.
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Os estilos educativos autoritário, democrático e laissez faire ou permissivo são definidos a partir
do estudo clássico, conduzido em 1939 por Lewin, Lippitt e White, sobre os efeitos dos
diferentes estilos de liderança no comportamento dos grupos: no primeiro não há possibilidade
de discussão das normas, o líder tem uma atitude ditatorial; no segundo o líder orienta o
grupo mas delega e facilita a discussão das normas; no terceiro o grupo fica entregue a si próprio
sem qualquer tipo de orientação por parte do líder.
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estabilidade; mudança e comunicação aberta, incluindo a crítica desassombrada vs.
sossego e quietude; dedicação a ideais vs. desencanto e vidas descomprometidas.
Se é verdade que essas manifestações se mantêm localizadas na relação pais-
adolescentes, o seu eco faz-se sentir em cada um dos progenitores, conduzindo-os,
eventualmente, ao confronto com outros conflitos que já pouco têm que ver com os
filhos, mas que marcam fortemente a dinâmica relacional da família. É o reativar
dos próprios conflitos pessoais, ou a tomada de consciência dos que envolvem
outros indivíduos significativos, que podem vir a refletir-se, ou não, no conflito
pais-filhos.
É nesse sentido que, na obra atrás citada, Daniel Sampaio afirma que se põem,
então, em causa «falsos equilíbrios familiares», obtidos até aí à custa de cedências,
mentiras e ao pouco poder da geração mais nova. Embora se incluam aqui, as
eventuais dificuldades do casal não são as únicas a ter em conta neste contexto:
valores transformados em mito familiar, como a unidade a qualquer preço ou a
impossibilidade de desacordo entre membros da família podem ser postos em causa,
não só pelo posicionamento do adolescente como também pelo tal «eco» que o
conflito desperta nos outros em termos de autoafirmação e autonomia. O conflito
facilita, então, «a revisão» total da vida familiar, necessária neste período de fim de
ciclo.
Poder/autoridade
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adolescente, com a sua necessidade de afirmação, autoestima e confiança pessoal
crescentes, e um limiar mínimo de controlo que possibilite o suporte e segurança de
que ele também necessita.
Para que os pais atuem dentro dos limites desta zona de manobra é então
importante que o exercício de autoridade e a firmeza de convicções não sejam
confundidos com excesso de controlo ou repressão. Poderão pedir
responsabilidades aos filhos pelos seus atos, sem que isso signifique menos respeito
por eles ou o não reconhecimento de uma vontade e capacidade de decisão próprias
em construção.
O que há que banir da relação são frases do tipo «é assim porque eu mando»
ou «que sabes tu da vida para não aceitares o que te digo». Em sua substituição
poderão afirmar: «É assim, porque cheguei à conclusão que era a melhor hipótese;
diz-me quais são os teus argumentos para achares que há melhor solução e podemos
analisar as alternativas» ou «fala-me das tuas experiências e diz-me por que motivo,
na tua opinião, não tenho razão». Essa negociação e o efetivo cumprimento dos
compromissos daí resultantes é importante para o estabelecimento de uma
confiança mútua entre pais e filhos. Se ficou acordado, sem outras condições, que
o pai empresta o carro às quartas-feiras não pode fazer depender a entrega das
chaves do comportamento do filho no fim-de-semana anterior. Antes de firmar os
compromissos é necessário que ambas as partes ponderem bem se têm hipóteses de
os cumprir; caso contrário não se devem comprometer, sendo preferível continuar
com a negociação.
Conceder mais ou menos autonomia com a partilha ou redistribuição de poder
que isso implica não é, realmente, linear ou constante em relação aos sujeitos e às
situações, e frequentemente é aqui, e não tanto no facto de dar mais ou menos
independência, que se situa o desacordo e a incompreensão entre pais e filhos.
J. Smetana (1987, citado em Sprinthall & Collins, 1988) conduziu uma
investigação na qual procurou determinar como é que pais e adolescentes definem
as respetivas áreas de poder e autoridade. Considerou três domínios de
comportamento, um dizendo respeito a «convenções» (comportamentos julgados
na base do acordo mútuo, como por exemplo informar os pais sobre onde se vai,
cumprimento de tarefas combinadas), outro referente a «atos morais» (julgados na
base do respeito por princípios universais, como não tirar dinheiro aos pais, não
dispor da propriedade familiar), e outro considerado «pessoal» (julgado na base da
discriminação individual, como dormir até tarde no fim-de-semana ou decidir sobre
a quantidade de alimentação). Considerou, ainda, uma área de comportamentos
mistos de escolha pessoal e convencionais (o tipo de roupas que se usa, a arrumação
do quarto).
Verificou que pais e filhos estão de acordo quanto à legitimidade do exercício
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da autoridade parental sobre temas convencionais e morais.
Em relação aos domínios pessoal e misto os pais apresentam mais tendência
para os considerar assuntos convencionais e, portanto, sob a sua jurisdição,
enquanto os filhos o consideram mais de âmbito pessoal e, portanto, dependentes
da sua própria vontade e capacidade de decisão. Há desacordo entre pais e filhos
sobre o que deve estar, ou não, dependente da autoridade parental, quando os
assuntos são percebidos por ambos como estando colocados em diferentes
categorias sociais. Quando não há coincidência na definição das áreas de poder
relativo, aparece a incompreensão e o conflito.
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convenção/decisão pessoal que pais e adolescentes têm tendência a classificar
diferentemente e em relação aos quais encaram de forma discordante o jogo da
autoridade.
A diferença entre pais e filhos é garante de coevolução se, nos momentos mais
difíceis e dolorosos que a luta provoca, não houver a escalada que se referiu ou,
pelo contrário, a tentativa da sua anulação quer pela transformação dos pais em
simples amigos e companheiros dos filhos, quer pela adultomorfização precoce
destes últimos que assim não têm tempo de beneficiar dessa diferença.
Principalmente, não têm tempo de correr os riscos inerentes às múltiplas
experimentações que têm que levar a cabo.
Quando se diz que os pais em vez de controladores rigorosos devem ser guias
úteis, firmes e coerentes não significa que o seu papel seja dar «conselhos» aos
filhos que muito provavelmente não os aceitam quando não os pediram. A
afirmação frequente de que «tudo o que faço e te digo é para o teu bem», o que até
é verdade, não impede que se reconheça que «de boas intenções está o inferno
cheio», e que o adolescente responda «no que me podes ajudar é a que eu, por mim,
descubra o que poderá ser o meu bem».
Neste jogo da aceitação da diferença é forçoso admitir que ela existe dentro
da própria fratria e que a criação de espaços individuais entre os irmãos é tão
importante como entre as gerações. Por isso a diferença não deverá ser entendida
só em termos etários, mas também em termos de interesses, valores e opções
individuais que não poderão ser nunca anulados em nome de uma justiça familiar
no mínimo cega, se não perversa. O irmão que, contrariamente à irmã, não gosta de
sair à noite, não poderá ser forçado a fazê-lo só porque na família se entende que os
filhos devem ter iguais oportunidades de saídas e vice-versa.
Parafraseando Daniel Sampaio, a presença dos pais junto dos filhos é tão ou
mais importante nesta etapa do que na infância, uma vez que «o seu papel agora é
o de estar atentos, de mobilizar sem dirigir, de apoiar nos fracassos e incentivar nos
êxitos, em suma, estar com eles e respeitar cada vez mais a sua individualização»
(1994, p. 42). Neste contexto faz, então, muito sentido a velha máxima dos
Alcoólicos Anónimos: «Que eu possa ter capacidade para aceitar o que não se pode
mudar, coragem para mudar o que é preciso e sabedoria para reconhecer a
diferença».
CONTEXTOS
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Cultura é aqui entendida no sentido de código, tal como ficou definido no capítulo anterior.
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A escola
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adquire, neste contexto, um valor assinalável: há um desajuste entre o estilo
educativo de algumas famílias e o da própria escola em termos do que é definido
pelo seu código, e particularmente ao nível legislativo. Os filhos de famílias das
classes sociais onde predomina, dentro de casa, um estilo autoritário (vulgarmente
personalizado na figura do pai), por oposição a um estilo permissivo (laissez-faire)
em relação ao exterior terão mais dificuldades de integração na escola onde há o
predomínio de uma autoridade não coerciva, tendente para o estilo democrático, e
onde se verifica uma crescente feminilização do corpo docente. Ficam assim
colocados no paradoxo da simultaneidade de dois códigos, bastante diferenciados
no que diz respeito à intervenção direta do adulto em termos de aplicação da
autoridade, o que é complexificado pelo facto de a família se demitir da sua própria
autoridade em relação ao exterior: «Se és indisciplinado na aula o problema não é
nosso, é do professor!».
Na sequência disto surgem os postais sem resposta, as reuniões onde os pais,
sujeito/objeto particular das convocatórias, não aparecem e o posterior sentimento
de impotência por parte do professor que não consegue que «estes pais assumam as
suas responsabilidades», quando aqueles, afinal, não as entendem como suas. E o
insucesso escolar, em consonância com o crescendo dos abandonos, do desinteresse
e da desmotivação por parte de todos os elementos do triângulo, cresce também.
Conclui-se, assim, que se a continuidade temporal do treino da autonomia é
importante para o adolescente, a continuidade de valores e normas dos contextos
em que se vai desenvolvendo não o é menos.
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quê» é mais útil em termos da busca de solução do que a descoberta do «porquê»:
«Adultos que tanto dizem que sabem, para vos respeitarmos, façam-se respeitar e
respeitem-nos!».
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mesmas e pela anulação do prazer eventualmente sentido na relação com o
conhecimento.
Há ainda a hipótese de que tal centralização nas atividades académicas se
torne impeditiva de um olhar atento sobre o indivíduo na sua globalidade, o que faz
com que as suas outras necessidades sejam descuradas e surjam as «surpresas» que
ninguém consegue explicar («foi sempre tão bom aluno, quem poderia imaginar
que se drogava?»). A aprendizagem escolar não pode ser reduzida à performance
obtida e a escola não é, por certo, só um espaço de aprendizagem escolarizada mas
também um importante espaço relacional. Tendo uma função importantíssima na
preparação do indivíduo para a vida adulta não tem, contudo, o seu exclusivo, pelo
que tem que ser equacionada na dimensão relativa que ocupa na vida dos
adolescentes e suas famílias.
O grupo de iguais
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comportamentos grupais aceitáveis e normativos, até porque não se pode esquecer
que os iguais se defrontam com necessidades e dificuldades semelhantes8. Na
síntese apresentada por Birren e colab. (1981), a principal função do grupo de iguais
na adolescência centra-se em três aspetos: 1) facilitar a separação em relação à
família, permitindo aprender a pensar e experimentar com segurança valores não
necessariamente presentes ou aceitáveis na família; 2) favorecer a aquisição de um
certo grau de conformismo face às normas (o que é muito difícil de fazer perante o
adulto) e a distinção entre limites pessoais e sociais ou convencionais; 3) permitir
o desenvolvimento de um autoconceito positivo, reassegurando o indivíduo de que
a sua aceitação foi merecida e não oferecida (earned not granted). No grupo, o
adolescente tem ainda possibilidades de experimentar e desenvolver as suas
capacidades de liderança, testando até os papéis desempenhados e o
posicionamento ocupado na fratria (em princípio os filhos únicos e mais velhos têm
mais facilidade em desenvolver essa potencialidade) (Birren et al., 1981).
Quem são, então, os iguais que constituem estes grupos e como se organizam?
Na seleção dos amigos há também uma evolução concordante com o
desenvolvimento dos sujeitos: primeiramente a idade, o viver perto ou ser colega
na escola apresentam-se como fatores importantes de agregação. Mais tarde, tal
como acontece na avaliação dos adultos, as competências e características
individuais revelam-se mais pertinentes. De qualquer modo, o fator semelhança,
por exemplo em termos de interesses, idades, e mesmo classe social, parece manter-
se, embora com menos peso, em todo o período adolescencial (e até
posteriormente).
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casos, a distinção prevalece e particularmente os grupos informais, de rua, são
muitas vezes considerados pela família como os principais responsáveis pelas
dificuldades relacionais existentes. Transformados em «bodes expiatórios», numa
ótica redutora e linear, os problemas surgem porque «a culpa é dos amigos».
Contextualizando...
Os adolescentes de hoje não o são da mesma forma que o foram os seus pais.
Se a dinâmica interna e familiar segue os mesmos movimentos, os contextos
envolventes são diferentes e os desafios, exigências e fontes de suporte são outros.
Ser adolescente em 1996 não é o mesmo que ser adolescente em 1976 ou 56, até
porque a própria família globalmente e como contexto de interação também mudou.
A escola e o seu código evoluíram, a sociedade no seu conjunto alterou as suas
normas de conduta e principalmente a hierarquização dos seus valores. A regra
básica para que os adultos percebam o adolescente não pode ser recordar a própria
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Tal como a entendemos, influência é diferente de poder: refere-se à capacidade de conseguir obter,
por parte de um sujeito, determinados atos ou comportamentos (ou ainda o domínio da interação)
independentemente de uma definição estatutária ou hierárquica.
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Estas investigações ou a referência às suas conclusões encontram-se em autores de orientações
tão diversas como, por exemplo, e só para indicar os já citados, Birren (1981), Satir (1991), Sampaio
(1994), Skinner e Cleese (1990), apontando a aproximação entre valores familiares e do grupo de
iguais para níveis de 80%-90% de casos.
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adolescência.
A tentação é, no entanto, grande. Se não se pode banir da relação a sua
revivescência e o eco que provoca em cada adulto, ter presente esta ideia pode
ajudar a evitar a contaminação e o desperdício de energia na busca de falsas
soluções.
No final desta etapa os pais estão de certo modo preparados para a saída dos
filhos de casa. Ajudaram os filhos na sua própria preparação. Mas resta muitas
vezes uma sensação de frustração: depois de todos estes anos não os conhecem tão
bem quanto gostariam ou antes imaginavam e, finalmente, só veem neles os reflexos
dos cuidados que lhes dispensaram. Talvez se possa afirmar, ainda bem! É uma
dolorosa mas saudável sensação que exprime o respeito pela regra número um na
concessão de autonomia: não é possível desvendar completamente o que se passa
na «cabeça e no coração» de outro alguém, mesmo que seja nosso filho. O respeito
pelo direito à intimidade é inalienável em relação a qualquer ser humano e, em
particular, aos que nos são afetivamente mais próximos.
Feita esta «descoberta», é-se capaz de aceitar o filho «quase» adulto como
alguém maduro, capaz, independente e autónomo com quem se pode estabelecer
relações muito positivas mas de igual para igual, o que, se tal ainda fosse possível,
faria crescer o amor que se lhe dedica... É a alegria de ver nascer um «outro» filho!
O leitor que tem tido a paciência de ler este livro sequencialmente desde o
Capítulo I poderá neste momento sentir alguma estranheza: nem um caso clínico ...
Não foi distração, descuido ou falta de material! Propositadamente optámos por
ilustrar as nossas ideias com frases soltas e expressões facilmente ouvidas, quando
conversamos com um qualquer indivíduo «adjetivado» como adolescente ou com
elementos da sua família.
A adolescência é por definição um dos períodos da vida em que a distinção
entre o normal e o patológico se torna mais difícil. Sabe-se, por outro lado, que esta
fase se associa ao desencadear de um conjunto de quadros patológicos que levam
alguns manuais a referirem explicitamente as «patologias da adolescência»: a
esquizofrenia e a anorexia mental, são dois exemplos. Patologias de carácter mais
radicalmente psicossocial, como a toxicodependência ou certos tipos de
delinquência, surgem francamente associadas a este período. Não pretendemos
negar ou escamotear tal evidência. A nossa opção teve como objetivo salientar a
outra vertente do problema: as angústias e dificuldades desta etapa estão sempre
presentes em quem passa por ela, e na grande maioria dos casos o seu valor é,
simplesmente, de transição.
Terminamos onde começámos, falando de mitologias e expectativas.
Dramatizar o crescimento, patologizar o normal e «normalizar» o adolescente como
«anormal» face aos mais novos ou aos mais idosos, nada trará de benéfico para o
próprio nem para com quem ele lida. É necessário que os pais, outros familiares,
professores e adultos que diariamente convivem com o adolescente estejam atentos
e não neguem qualquer eventual desorganização psicológica que requeira
intervenção especializada. Mas se, como diria Satir, confiarem no jovem e,
seguindo a indicação de Skinner, viverem as suas vidas normalmente, verificarão
que não o encaram como «um problema» e não se confrontarão com um adolescente
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problemático. Por isso, preferimos falar simplesmente de adolescentes e famílias
com adolescentes.
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