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TI SAWRE MUYBU sem perpetuamente postergados.

A decisão, entretanto, não foi TI SAWRÉ MUYBU CERCADA POR


cumprida e, poucos dias depois de sua publicação, o Tribunal HIDRELÉTRICAS PLANEJADAS (ISA, 2016)

A Incômoda Existência Regional Federal da 1ª Região (TRF1) concedeu efeito suspensivo,


isto é, sua suspensão temporária até o julgamento do recurso.

Apesar das alegações oficiais da Funai para não dar prossegui-


mento ao processo, em setembro de 2014, a então presidente
interina do órgão, Maria Augusta Assirati, em reunião com
lideranças munduruku realizada na sede da Funai, em Brasília,
justificava que não havia cumprido o compromisso assumido com
Maurício Torres Cientista social, professor colaborador do PPGRNA/Ufopa
os índios em virtude das pressões do próprio Governo Federal,
que antevia que o reconhecimento da TI inviabilizaria a cons-
trução da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Afinal, a TI Sawre
Muybu, situada na região da foz do rio Jamanxim no Tapajós,
SÃO LUIZ DO TAPAJÓS FOI ANUNCIADA COMO Ou, talvez, fosse desconsiderada apenas sua humanidade. E, a seria diretamente afetada pelos projetos de barramento, e, sem a
A PRIMEIRA HIDRELÉTRICA AMAZÔNICA EM tomar pelos fatos, o que pautava o governo federal era a versão da publicação do RCID, a área sequer seria considerada de “ocupação
REGIÃO DE FLORESTA SEM OCUPAÇÃO HUMANA, inexistência humana. Mostra disso foi que, quatro meses após a tradicional indígena”, apesar da sabida existência de indígenas no
DESCONSIDERANDO A EXISTÊNCIA DE INDÍGENAS E promessa de diálogo feita pelos ministros, um importante local local. Afinal, conforme a regulamentação proposta na Portaria
RIBEIRINHOS EM SUA ÁREA DE IMPACTO DIRETO. A sagrado para o povo Munduruku, a Cachoeira de Sete Quedas, Interministerial n° 419/2011, apenas seriam consideradas Terras
META DE CONCLUIR O LEILÃO EM 2014 NÃO OCORREU foi dinamitada para viabilizar a construção da UHETeles Pires, Indígenas “as áreas ocupadas por povos indígenas, cujo RCID
SOBRETUDO POR CONTA DA RESISTÊNCIA DOS sem que houvesse qualquer vislumbre de consulta aos povos e tenha sido aprovado por portaria da Funai e publicado no
MUNDURUKU, QUE ATRASARAM O PROCESSO ATÉ QUE comunidades tradicionais. Contudo, o povo Munduruku não se Diário Oficial da União, ou áreas que tenham sido objeto de seus termos, deram início à autodemarcação física de suas ter-
O CENÁRIO POLÍTICO-ECONÔMICO DO PAÍS MUDASSE aquietou ante a privação de seus direitos e mobilizou uma árdua portaria de interdição expedida pela Funai em razão da locali- ras. Para eles, o maior desafio não era, propriamente, percorrer
DRASTICAMENTE. AINDA ASSIM, NADA ESTÁ SELADO campanha contra os projetos hidrelétricos, com diversas ações, zação de índios isolados” (grifo meu). em meio à floresta, os mais de 200 quilômetros de perímetro a
que envolveram desde a ocupação do canteiro de obras da UHE de serem demarcados, mas sim experienciar o brutal saqueio de
Belo Monte, no rio Xingu, à detenção de pesquisadores envolvidos Em 1° de outubro daquele ano, nove dias depois desta tensa reu-
Em 2011, logo após a aprovação dos estudos de inventário do madeira e palmito de que a área é vítima. E, note-se, desde 1998,
no licenciamento das barragens no Tapajós que invadiam o que nião com os Munduruku, a então presidente interina apresentou
aproveitamento hidrelétrico do Tapajós, o povo Munduruku deu a área já era uma Unidade de Conservação, a Floresta Nacional
os Munduruku reconhecem como seu território. seu pedido de exoneração. Em sua primeira entrevista fora da
início a uma série de manifestações em oposição ao projeto, de Itaituba II.
Funai, concedida à jornalista Ana Aranha e publicada no portal
exigindo, desde o início, seu direito de ser ouvido, conforme Em paralelo a isso, tramitava na Funai o processo de reconhe- da Agência Pública, em 27 de janeiro de 2015, Assirati revelou Porém, apesar de todas as dificuldades, a autodemarcação se-
especificado na Convenção 169 da Organização Internacional do cimento da Terra Indígena Sawre Muybu, em área que seria que as manobras para licenciar a hidrelétrica a obrigaram a guia e já pouco se esperava do governo quando, após a Câmara
Trabalho (OIT). Em novembro do mesmo ano, os então ministros parcialmente alagada caso a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós descumprir compromissos assumidos
da Secretaria Geral da Presidência da República e da Justiça,

© RUY SPOSATI/AG. RAÍZES, 2013


fosse levada adiante. Depois de esperar por vários anos pela e a não publicar o relatório que delimi-
receberam diversas lideranças indígenas Munduruku, Kayabi, publicação do Relatório Circunstanciado de Identificação e De- taria a TI Sawre Muybu: “Nós tivemos
Kayapó e Apiaká em Brasília, e, em nome do governo, garantiram limitação (RCID), em fevereiro de 2013, em reunião na Funai, que descumprir esse compromisso
que manteriam um canal aberto de diálogo e que procederiam em Brasília, lideranças munduruku ouviram da presidência do em razão da prioridade que o governo
a regulamentação da Convenção nº 169 da OIT. órgão, o compromisso de que o documento seria publicado. En- deu ao empreendimento. Isso é grave”.
Entretanto, por outro lado do mesmo governo, membros do pri- tretanto, a promessa acabou esbarrando no interesse barrageiro Neste contexto, e entre idas e vindas a
meiro escalão de órgãos ligados ao Ministério de Minas e Energia e nada aconteceu. Brasília, os Munduruku decidiram ir
(MME) – como Maurício Tolmasquin, então presidente da Em- Em outubro de 2014, ao deferir parcialmente um pedido de para a ação. Em outubro de 2014, os
presa de Pesquisa Energética (EPE) – mantinham-se insistentes liminar ajuizado pelo Ministério Público Federal (MPF), em “guerreiros munduruku”, conforme
nas afirmações, amplamente divulgadas na imprensa, de que a Santarém, a Justiça Federal em Itaituba determinou um prazo
planejada hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, seria a primeira a de 15 dias para que a Funai publicasse o RCID de Sawre Muybu,
ser construída em região não habitada ou em áreas da floresta visto que os argumentos do órgão para a demora careciam de
amazônica onde não havia ocupação humana. Com isso, descon- razoabilidade e fundamentação válida, além de invocar uma
siderava-se a existência de indígenas, ribeirinhos e camponeses genérica e vazia alegação de priorização das regiões Centro-Sul,
que viviam na área de impacto direto da pretendida hidrelétrica. Sudeste e Nordeste, de modo que os direitos dos indígenas fos- Cacique tupinambá Babau (ao centro) acompanha
guerreiros munduruku na ocupação de Belo Monte.

434 TAPAJÓS / MADEIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2011/2016 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2011/2016 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS / MADEIRA 435

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