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DOCENTES: GRUPO 5
ANA EMÍLIA MAGRINELLI LISBOA ATAÍDE
ANA VALÉRIA MENDES
GLÁUBER RODRIGUES SOUSA
IANY MAGALHÃES FERNANDES
JAYNE MIRELE TAVARES DA SILVA
LAVINIA BEATRIZ SANTOS HIGINO
RAIANE ARNIZAUT SANTOS
ULIANE SANTOS DA SILVA
TOMBAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL
1.RELATÓRIO
O Ministério Público representou o Terreiro Ilê Axé Icimimó Didê, que fica na cidade de
Cachoeira, por meio de um acordo com o Grupo Penha Papéis e Embalagens, em março de
2019, para o que o Terreiro adquirisse o direito de usufrir sobre uma área delimitada dentro
de sua propriedade. O Terreiro declara possuir a escritura pública de compra e venda do seu
imóvel tombado.
O agravante foi notificado pelo Terreiro Ilê Axé Icimimó Didê, por meio de uma denúncia de
turbação e destruição de patrimônio cultural material praticada pelos funcionários do Grupo
Penha, em junho de 2020. Segundo relato, os trabalhadores da empresa adentraram na área de
usufruto e na propriedade do Terreiro, cortando os arames que delimitam o local, além de
quebrarem assentamentos centenários.
Em razão dessa denúncia, o agravado respondeu sustentando, que a agravante teria esbulhado
a sua propriedade colocando cercas além da área delimitada no acordo com o Ministério
Público. Em face do descumprimento do acordo, o fato de esbulho foi ―peticionado junto ao
Ministério Público e lavrada em Boletim de Ocorrência a situação‖.
Os elementos fáticos serão narrados tanto pelo representante do Terreiro, como do Grupo
Penha
O relato do Terreiro foi narrado pelo Sr. Antônio Santos, o Pai Duda de Candola, que
denunciou a invasão de homens armados ao local. No relato, ele afirma que os invasores
dispararam tiros para o alto, cortaram as cercas que delimitam o terreno do terreiro de
candomblé e destruíram objetos sagrados. Ele afirma que os responsáveis pela invasão eram
funcionários da empresa Penha Papéis e Embalagens, que tem sede na cidade de Santo
Amaro da Purificação, vizinha à Cachoeira. Segundo o Sr. Antônio Santos,
[...] Essa invasão já é a quarta vez que esses agressores chegam ao terreiro.
Na terça-feira, por volta das 9h foi que aconteceu esse grande absurdo.
Chegaram com grande violência. Eu não pude me aproximar muito, eram
vários homens armados, deflagrando tiros para cima. De longe consegui tirar
foto de um dos carros.
Pai Duda de Candola, porém, afirma que esta foi a invasão mais grave cometida por este
grupo no terreiro. Ele afirma que idosos que estão vivendo no local durante a pandemia do
coronavírus passaram mal. S o Sr. Antônio Santos,
[...] Dentro desses últimos 15 dias eles foram no nosso terreiro por três
vezes. Essa de terça-feira foi a mais grave, vários homens armados atirando
para cima, derrubando tudo. Uma violência muito grave. Temos pessoas
idosas no terreiro. Temos uma casa na cidade, mas nesse momento de
pandemia a gente preferiu levar os idosos para ficar no terreiro. Eles
passaram mal, todo mundo teve que sair da roça. A gente não está na cabeça
ou no coração de ninguém, não sabemos o que pode acontecer.
[...] O terreiro é tombado pelo Iphan, registrado no Ipac, tem a associação de
Seguidores de São Gerônimo, que administra o terreiro, e temos uma
escritura pública de compra e venda, com mais de cem anos. Tudo
legalizado. A fundadora do terreiro comprou na mão da União Fabril da
Bahia, comprou, pagou e lavrou escritura. Eles invadiram a área antes da
minha sucessão no terreiro e plantaram bambu em 80% da área. A gente
quer reflorestar o terreiro, quer cultuar nossos orixás na mata. O bambu está
matando as nascentes, invadindo a roça.
Pai Duda afirma que, após primeiro episódio de invasão ao local, chegou a ser feita uma
audiência pública. Contudo, a situação persiste. Segundo o Sr. Antônio Santos,
[...] Tem um morador da comunidade que trabalha para a Penha. Ele passa
todos os dias duas ou três vezes montado a cavalo por dentro do terreiro. Isso
nos causa um medo. Os idosos já não suportam mais. Todo dia ele passa a
cavalo, com a farda da Penha. Eu pergunto a mando de quem ele está lá. Ele
diz que a mando da fábrica, que ele é funcionário. Diz que está indo vigiar o
terreiro a mando da Penha. Vigiar o que eu não sei. O terreiro é cercado de
assentamentos ancestrais.
No relato do grupo Penha, por nota, informou as terras mencionadas pelo Terreiro Icimimó
pertencem à empresa e que através de um acordo realizado com o Ministério Público, em
março de 2019, ficou autorizado que a "instituição religiosa usufruísse de um lote
devidamente demarcado". O Grupo Penha afirma que Pai Duda esteve presente no dia da
audiência. A empresa conta que o terreiro quebrou o acordo inicialmente firmado e instalou
cercas no perímetro que não é sua propriedade. O Grupo Penha acrescenta que foi
peticionado junto ao Ministério Público e lavrada em Boletim de Ocorrência a situação.
O Grupo Penha afirma também que as denúncias de abuso de violência, intolerância religiosa
são falsas. A empresa relata que age de forma responsável, que valoriza o respeito e repudia
qualquer atitude que fere a diversidade cultural. Por fim, o grupo relata que o departamento
jurídico está tomando todas as medidas legais para resguardar seus direitos.
O Grupo Penha detém terras na região de Cachoeira (BA) desde o ano de 2005, data em que
adquiriu a antiga IPB – Indústria de Papéis da Bahia, a qual mantinha florestas de bambu na
região desde a década de 70. Na oportunidade, o processo de aquisição da fábrica e seus
respectivos bens acessórios ocorreram com o amparo da lei e reconhecidos com escritura
registrada em cartório. Segundo o Grupo Penha,
Segundo consta, diante desta situação, foi peticionado junto ao Ministério Público o fato, bem
como lavrado Boletim de Ocorrência para preservação das propriedades do Grupo Penha.
Segundo o Grupo Penha,
2.2.1. Do Tombamento
O Tombamento é uma das formas mais conhecidas de proteção dos bens culturais, sendo
efetivado por meio de atos administrativos, norteados pelo Decreto nº 25, de 30 de novembro
de 1937. Em nível federal, é feito pelo IPHAN, uma autarquia vinculada ao Ministério da
Cidadania, que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Há mais de 30
anos, o IPHAN vem reconhecendo os terreiros como Patrimônio Cultural Brasileiro, com a
finalidade de garantir que o espaço não seja ocupado ou invadido, salvaguardando a
integridade do imóvel e preservando o contexto histórico de todas as manifestações que
contribuíram para a formação da identidade nacional.
Nesse contexto, cabe ao IPHAN coibir danos e ameaças a esse patrimônio, dentre outras
irregularidades, e aplicar as sanções previstas em lei para casos de advertência, notificação,
multa e reparação para garantir a preservação desses bens. Fica caracterizado assim, pela
intervenção do Estado na propriedade e regulamentado por normas de Direito Público. Assim
sendo, possui um manual regulamentador, previsto na Portaria Iphan nº 187, de 11 de junho
de 2010. Como base legal, o IPHAN possui o poder de polícia, com relação aos bens
tombados, além de sua atribuição legal de fiscalização, permanente e a qualquer tempo,
assegurados aos princípios contraditório e de ampla defesa e, conforme o caso, seguira o
regramento para a instituição e guarda de bens culturais e a forma de proteção do
tombamento. Enquanto o IPAC, é uma autarquia vinculada à Secretaria de Cultura do Estado
da Bahia, e atua de forma integrada e em articulação com a sociedade e os poderes públicos
municipais e federais, na proteção de bens culturais (à salvaguarda do patrimônio material e
imaterial) e para o fortalecimento das identidades culturais. Possuindo como regimento a lei
ordinária n° 8.550/2014 e a lei n° 8.895/2003, que dispõe sobre a proteção do patrimônio
cultural dos municípios do Estado da Bahia.
Portanto, o IPHAN será responsável pela proteção do patrimônio cultural material e imaterial,
amparado pelo Decreto nº 25, de 1937, que define seu objeto no art. 1º, no qual :
Conforme o caso analisado, está previsto em seu art. 4º, que a área delimitada para
tombamento do terreiro ICIMIMÓ foi inscrito no Livro de Tombo, sendo pertencente à
categoria de arte etnográfica popular e histórica, bem como no art 6º, sendo esse tombamento
da coisa, pertencente à pessoa natural, e ocorrida de forma voluntária.
[...] Art. 17. as coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser
destruidas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas,
pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano
causado.
[...] Art. 21. Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º
desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.
Com base nos elementos fatídicos apresentados pelas partes, podemos eleger alguns
princípios para amparar a defesa de cada dos envolvidos no conflito. Dentre todos os
princípios, o que será mais preemente é o princípio da propriedade, como previsto no artigo
5º da CF/88, em seu inciso XXII - é garantido o direito de propriedade. Embora seja
garantido constitucionalmente o direito de exercer domínio pleno sobre a coisa, o direito real
da coisa, e seu poder de sequelar a coisa aonde quer que ela esteja, a Constituição também
abarca alguns limites inerentes à propriedade. Por exemplo, o princípio da função social da
propriedade, como está explícito no inciso XXIII - a propriedade atenderá a sua função
social - bem como no XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
O Código Civil Brasileiro, Lei 10.406 de 2002, enquanto fonte do Direito à propriedade, traz
em seu art. 1.228, nos §1º e §3º, alguns regramentos com relação ao direito real sobre a coisa,
que devem estar em consonância com a função social da propriedade. Sendo assim, segundo
Orlando Gomes (2012, p.149), ―o parágrafo I do art. 1.228 do CCB de 2002 se refere
expressamente ao patrimônio histórico e artístico como função limitante do exercício do
direito de propriedade‖.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,
e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com
as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,
bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social,
bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como
título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Para amparar a análise fática, em casos de pertubação no exercício do direito sobre a coisa, o
Código Civil traz em seu art. 1.210, que ―o possuidor tem direito a ser mantido na posse em
caso de turbação, restituído no caso de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado‖. Para tanto, a ação possesória de manutenção da posse cuidará
do direito destinado à conservação da posse, protegendo-a contra a turbação. Como foi
analisado no caso, a empresa Penha cometeu atos de turbação contra o terreiro, então caberá a
ação de manutenção da posse para sequelar seu direito real sob a propriedade que vem
sofrendo por turbação.
O Código de Processo Civil brasileiro prevê, no art. 560, que ―o possuidor tem direito a ser
mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho‖. Na narrativa
apresentada pelo Grupo Penha ocorre ato de esbulho praticado pelo Terreiro, e para a
doutrina Tiago Fachini (s.d.), ―o esbulho possessório é um dos tipos de lesão possessória e é
caracterizado pela perda da posse ou da propriedade de um determinado bem, através de
violência, clandestinidade ou precariedade‖. Quando o Terreiro resolveu ocupar parte da
propriedade do Grupo Penha, praticou ato ilícito por meio de posse clandestina, précaria e de
má-fé (art.1.208 e 1.201 do CC/02), obrigando assim que a empresa se utilizasse da
autotutela, por deforço imediato, agindo com força ao mandar funcionários quebrarem a cerca
da área considerada invadida, bem como da área de sua propriedade sob posse direta do
Terreiro e da área tombada, ameaçando a comunidade e destruindo parte do acervo do
patrimônio tombado.
A liberdade de crença no Brasil possui status constitucional, conforme se vê do art. 5º, VI, da
Constituição Federal, in verbis: ―é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias‖. Trata-se de liberdade pública, que se estabelece num
aspecto positivo, assegurando que o indivíduo possa escolher a própria religião e noutro
negativo, consubstanciado no direito de não escolher religião nenhuma (v.g., agnósticos e
ateus).
Contudo, de acordo com o Art. 26., da CF, ―o poder público adotará as medidas necessárias
para o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de
seus seguidores, especialmente com o objetivo de: I - coibir a utilização dos meios de
comunicação social para a difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham
pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes
africanas; II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor
artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às
religiões de matrizes africanas; III - assegurar a participação proporcional de
representantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das demais
religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao
poder público. Desse modo, o Ministério Público, também enquanto Estado, deve se pautar
pelo respeito e garantia da laicidade, da liberdade de crença e especialmente da proteção
aos povos de terreiros. Nesse sentido, caberá aos entes da Federação, em seus conselhos de
cultura, proporcionar mecanismos que inibam a perceguição de religiões de matriz africana,
bem como a destruição de patrimônio cultural imaterial e material ligados à cultos de povos
afrodescendetes.
[...] Ressalte-se que a atuação do Poder Público nessa área deve se dar em
todos os âmbitos (englobando as funções desempenhadas pelo Executivo,
Legislativo, Judiciário, Ministério Público etc.).
Para tanto, o Ministério Público atuará por meio de instrumentos que servirão para a defesa
do patrimônio cultural brasileiro, com medidas judiciais e extrajudiciais, cumprindo seu papel
com maior eficiência e celeridade. No caso fático, o primeiro foi um instrumento
extrajudicial utilizado pelo MP, o TAC - Termo de Compromisso de Ajustamento de
Conduta, – Previsto no art. 5º, § 6°, da Lei nº 7.347/1985. Segundo Miranda (s.d., p. 5) ―o
TAC constitui uma forma especial de acordo, firmado diretamente entre o Ministério Público
e o Poder Público ou o particular, objetivando a defesa de direitos transindividuais, mediante
o estabelecimento de prazos para o cumprimento de obrigações que assegurem a adequação
de uma conduta às exigências legais. Sendo assim, o acordo entre o MP e o Grupo Penha
previa ao Terreiro o direito de usufruir da área de propriedade da empresa, com o objetivo de
garantir ao Terreiro a posse direta da área, para manifestação cultural dos seus ritos, cultos,
costume e tradições. No caso de rompimento do TAC por parte do Terreiro, como alega a
defesa do Grupo Penha, caberia medidas coercitivas ao descumprimento do TAC, e não a
autotutela por deforço imediato, como relatado nos elementos fáticos.
3. DISPOSIÇÃO FINAL
Levando em consideração os fatos descritos acima, a conduta adequada a ser tomada pelo
Terreiro Ilê Icimimó Didê (legítimo possuidor) deve ser a ação de manutenção de posse.
Embora não seja o proprietário das terras mencionadas, tendo em vista que uma escritura
pública de compra e venda não é suficiente para atestar a propriedade e sim o registro em
cartório civil, conforme o artigo 1.227 do Código Civil. Entretanto o Terreiro encontra-se no
domínio da posse, por isso é o legítimo possuidor de acordo com a definição de possuidor
encontrado no artigo 1.196 do Código Civil. Ainda, há a teoria objetiva da posse de Ihering
(apud Diniz,2010) na qual afirma que basta-se o corpus para caracterizar-se a posse, sendo de
grande importância o uso econômico ou destinação do bem, teoria essa que é a acolhida pelo
ordenamento jurídico pátrio (DINIZ, 2010, p.38).
Para proceder com a mencionada ação de manutenção de posse, cabe ao autor provar (nos
termos do artigo 561 do Código de Processo Civil): a posse; a turbação ou esbulho praticado
pelo réu; a data da turbação ou esbulho; e a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. Para provar a posse (e não a
propriedade), a escritura pública de compra e venda deve ser o bastante, ou até o acordo
assinado pelas partes na presença do Ministério Público, em 2019, que previa o uso da terra
por parte do Terreiro Icimimó. É necessário provar a data exata da turbação para saber se
trata-se de ação de força velha ou força nova. No caso da data informada do último episódio
(uma terça-feira, dia 9 de julho de 2020), como decorreram-se mais de um ano e um dia do
evento, será uma ação de força velha e deverá seguir o procedimento comum, conforme o
parágrafo único do artigo 558 do Código de Processo Civil.
Para provar a turbação não bastarão documentos: será necessário arrolar testemunhas que
comprovem o fato, conforme o artigo 442 do Código de Processo Civil c.c. artigo 443 do
mesmo Código, além do mais, fatos dessa natureza só podem ser provados por testemunhas, e
é necessário que estas sejam arroladas na fase da petição inicial como ensina Humberto
Theodoro Júnior (2018) e conforme jurisprudência do TJSP (AGRAVO DE
INSTRUMENTO nº 2214540-74.2019.8.26.0000, 9 de março de 2020. Relator: Elói Estevão
Troly).
Em face do ocorrido, se provado que o Grupo Penha danificou o patrimônio nacional cultural
material e imaterial localizado no município de Cachoeira, sofrerá ―pena de multa de
cincoenta por cento do dano causado‖ (art. 17, Decreto nº25/1937). Embora o Grupo Penha
não tenha assumido a acusação de ter agido com autotutela por deforço imediato, como
exposto na narrativa dos fatos apresentados pelo Pai Duda, o departamento jurídico do Grupo
Penha peticionou o esbulho junto ao Ministério Público e lavrou em Boletim de Ocorrência.
Conforme o Art. 1.210, paragrafo 1º, ―o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se
ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse‖.
Para tanto, como medida judicial que poderá ser tomada a fim de reaver sua propriedade, o
Grupo Penha entrará com a ação de reintegração de posse, como está previsto no art. 560 do
CPC. Porém, caso fique provada o exercício da função social pelo Terreiro nas áreas
acusadas de esbulho, de acordo com o parágrafo 1º, do art. 1.228, do CC/02, o juiz deverá
desapropriar a área em questão ou conceder para uma reformulação do TAC entre o MP e o
Grupo Penha, de modo a redimensionar a área de usufruto da comunidade pertencente ao
Terreiro Ilê Axé Icimimó Didê.
Finalmente, com as medidas cabíveis adotadas pelo MPF, após apuração no inquérito civil
público, para reparação dos danos causados ao Patrimônio Cultural do Terreiro, o Juiz
responsável pelo caso analisará também a responsabilidade com relação aos atributos e
competência da fiscalização e segurança do patrimônio nacional, abrangendo a
proporcionalidade de responsabilidade para cada órgão, para resolução final dos pareceres
pela procuradoria do MP Estadual, a procuradoria da Secretaria de Cultura do Estado da
Bahia e a procuradoria do Município de Cachoeira.
REFERENCIAS
BRASIL. Código Civil LEI LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em 19 de maio
2022
DINIZ. Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro v. 4. ―Direito das coisas‖. 25ª ed.
editora Saraiva. São Paulo. 2010.
FACHINI, Tiago. Esbulho possessório: o que é, tipos e requisitos. In: Projuris: sem data.
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GOMES, Orlando, 1909-1988. Direitos Reais / Orlando Gomes. - 21a ed. rev. e atual. / por
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RIZZARDO. Arnaldo, Direito das Coisas. 1ª ed. Editora Forense. Rio de Janeiro. 2004.
THEODORO JÚNIOR. Humberto, Novo Código de Processo Civil Anotado 21ª ed.
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