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Termodinâmica

Ano Letivo de 2022-2023

Guia Auditoria Energética a uma Habitação

1. Objetivo e Competências
Pretende-se a auditoria e balanço energético de uma habitação real, integrando emissões CO2 e
análise simplificada de medidas de melhoria.

As competências a desenvolver neste trabalho são:

1) Sensibilização sobre os vários vetores de utilização e eficiência energéticas numa habitação.


2) Aplicação prática de conversões de unidades de energia e potência e cálculo de emissões.
3) Sensibilidade ao balanço de energia no sistema Habitação.
4) Aplicação prática dos conceitos de potência e energia.
5) Leitura de dados a partir de energia ou potência em documentos comerciais (faturas de
energia, catálogos de equipamentos, etiquetas energéticas).
6) Dinâmica de Grupo.

2. Enquadramento e descrição do trabalho.


Em geral, os consumos energéticos de uma habitação assentam em duas fontes energéticas,
eletricidade e combustíveis. As utilizações típicas da energia na habitação são a iluminação,
aquecimento e arrefecimento ambientes, aquecimento da águas quentes sanitárias, cozinha e
eletrodomésticos variados.
O combustível mais utilizado é o gás. O gás utilizado é, em geral, gás natural (canalizado) ou butano
(engarrafado), existindo também habitações que consumem gás propano (canalizado ou
engarrafado). O gás é utilizado essencialmente para cozinhar (em fogões e fornos) e para a
preparação das águas quentes sanitárias (AQS) em caldeiras ou esquentadores. O gás pode também
ser utilizado no aquecimento ambiente, através de um sistema centralizado, constituído por uma
caldeira, uma rede de tubagens de distribuição da água aquecida e um conjunto de radiadores ou
simplesmente em aquecedores portáteis (com garrafa) que libertam calor diretamente para o
ambiente devido ao processo de combustão. Eventualmente, o aquecimento pode ser baseado ou
apoiado por equipamentos a lenha, tipo lareiras ou salamandras.
Os aquecedores eléctricos são igualmente muito populares (termo-ventiladores, radiadores,
convetores).
Os restantes consumos, essencialmente associados à iluminação e à utilização de eletrodomésticos,
são elétricos. A eletricidade pode também ser a fonte de energia para a satisfação das necessidades
de aquecimento/arrefecimento ambiente. No caso do aquecimento recorre-se a aquecedores
eléctricos (termo-ventiladores, radiadores, convetores) ou bombas de calor. No caso do
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arrefecimento, recorre-se a aparelhos de ar condicionado (tipicamente bombas de calor reversíveis,
designados por splits, multi-splits, VRV). Por vezes, também a produção de águas quentes é
efetuada ou apoiada pela utilização de equipamentos elétricos, como por exemplo
termoacumuladores, ou até esquentadores eléctricos.

Neste trabalho, será necessário:


1. Selecionar a habitação de um dos elementos do grupo. Para tal, ter em conta a
disponibilidade de planta da habitação e de faturas de energia (gás, eletricidade).
2. Caracterizar o consumo de energia final da habitação, na estação de aquecimento, através
da análise das faturas energéticas (6 meses consecutivos – outubro a março) e dos vários
sistemas consumidores. Ter em conta que quando o consumo de gás é baseado em garrafas,
será necessário fazer o levantamento do número e tipo de garrafas consumidas.
3. Perceber que os consumos dos equipamentos têm bases de estimativa diferentes. Por
exemplo, máquinas de lavar roupa e louça têm consumos dependentes do número de ciclos
de utilização e o consumo da iluminação está dependente da potência das lâmpadas e do
tempo de utilização.
4. Realizar um levantamento bibliográfico que suporte a estimativa de consumos pelas várias
utilizações e permita a formulação de indicadores de consumo, ambientais e económicos,
bem como estratégias típicas de eficiência energética em habitações. [ver anexo e
bibliografia].
5. Para a estação de aquecimento, calcular, pelo menos, os seguintes indicadores energéticos
e ambientais:
a. Consumo total por cada fonte de energia.
b. Consumo total.
c. Desagregar o consumo em cada fonte de energia pelas utilizações típicas.
d. Desagregar o consumo total pelas utilizações típicas.
e. Emissões por fonte de energia e no total.
f. Consumo e emissões totais por habitante.
g. Consumo e emissões totais por m2 de área útil da habitação.
6. Propor e a analisar sucintamente medidas de eficiência energética para a habitação.
7. Produzir um relatório de no máximo 10 páginas (a submeter no moodle) e realizar uma
apresentação perante a turma (máximo 5 minutos), com a descrição da habitação em causa,
descrição das formas e utilização de energia, levantamento bibliográfico, indicadores e
perspetivas de medidas de melhoria.
Metodologia
Cada grupo tem um coordenador que orienta a execução do trabalho, representa o grupo junto do
docente e submete os relatórios no Moodle.
Cada relatório final é avaliado por outro grupo (avaliação pelos pares). Após avaliar o relatório de
outro grupo e receber a sua avaliação, o grupo realiza uma auto-avaliação. A classificação final do

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trabalho resulta da média das classificações Avaliação pelos Pares, Auto-avaliação e Avaliação do
Docente.
Atividades 1ª aula:
- Esclarecer objetivos e metodologia do trabalho, escolher coordenador do grupo. Identificar na
aula seguinte de laboratório qual a habitação escolhida.
Atividades aula final:
- Apresentação e discussão do relatório final (o relatório é submetido previamente à aula no
moodle). Auto-avaliação e avaliação pelos pares.

Será mantido no Moodle um fórum específico para esclarecimento de dúvidas.

3. Trabalho de campo.
1. Levantamento das características da habitação (moradia ou apartamento, concelho de
localização, divisões – nº quartos, casas de banho, cozinha, salas, determinar área útil) e
descrever as fontes de energia consumida (ex: eletricidade, gás natural, Gás
propano/butano, lenha).
2. Obter as faturas de gás e eletricidade que cubram um período de análise, lançando a
respetiva informação em tabelas (tipo tabela 1 e tabela 2). Ter em atenção os eventuais
acertos de entre consumos de estimativa e as leituras efetivas.
3. Identificar os equipamentos consumidores de energia elétrica e gás natural, propano ou
butano existente na habitação. Para cada um desses equipamentos procure identificar as
respetivas etiquetas energéticas. Deverá construir uma tabela (tipo tabelas 3 e 4).
Relativamente à iluminação deverá verificar qual a potência instalada em cada divisão da
habitação. Deverá constituir uma tabela (tipo tabela 5) com a potência das lâmpadas e com
a identificação (ver anexo 2) do tipo de lâmpadas (incandescentes, fluorescentes tubulares,
fluorescente compactas, halogéneo e LED). Para certos equipamentos, como os frigoríficos,
arcas congeladoras, máquinas de lavar louça ou roupa, máquinas de secar roupa, deverá
procurar consumos por ciclo ou consumos anuais típicos (em função da sua classificação
energética).

Tabela 1: Consumo de eletricidade apresentado nas facturas


Energia consumida facturada Valor total da factura (€)
Período de leitura
(kWh)

Tabela 2: Consumo de gás apresentado nas facturas


Energia consumida facturada Valor total da factura (€)
Período de leitura
(kWh)

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Tabela 3: Levantamento do consumo dos equipamentos a gás
Equipamento Potência (W) Dados da etiqueta

Tabela 4: Levantamento consumos elétricos.


Equipamento Potência (W) Dados da etiqueta

Tabela 5: Levantamentos equipamentos de Iluminação


Divisão Tipo Potência total (W) Dados da Etiqueta

4. Tratamento de dados

De forma a estimar o consumo no período de análise por cada vertente energética, deverá
consultar as etiquetas energéticas dos respetivos equipamentos (no caso de não ter as etiquetas
exatas utilizar a informação das etiquetas de equipamentos com desempenhos energéticos
semelhantes). Alguns equipamentos têm um consumo aproximadamente constante quando estão
em funcionamento. Nestes equipamentos o consumo de energia está diretamente relacionado com
a potência e o número de horas de utilização. Nestes casos o consumo de energia num
determinado período é estimado com base na estimativa do número de horas de funcionamento e
a potência do equipamento.

Energia consumida no período (kWh) = potência (kW) x nº horas de funcionamento no período.

Neste tipo de equipamentos incluem-se as televisões, aquecedores portáteis, fontes de luz, etc. A energia
consumida pelos equipamentos por unidade de tempo (potência) pode ser estimada com base nas
respetivas etiquetas energéticas dos equipamentos. O Exemplos da etiqueta energética de uma fonte de luz
encontra-se na Figura 1.

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Figura 1 – Etiqueta energética de uma fonte de luz

Para o exemplo apresentado na Figura 1, a divisão do valor do consumo indicado na etiqueta por 1000 h dá a
estimativa da potência consumida em KW (para mais informação consulte os guia das etiquetas
energéticas apresentado na bibliografia).

Existem outros equipamentos em que a potência consumida varia ao longo do tempo em que estão
em operação. Equipamentos com esta característica são máquinas de lavar loiça, lavar roupa,
secadores de roupa, etc. Por exemplo, durante a operação de uma máquina de lavar roupa a
potência instantânea consumida varia consideravelmente ao longo do ciclo de lavagem. O consumo
é superior nos períodos de aquecimento da água e centrifugação. Nestes equipamentos o consumo
é tipificado por ciclo, a Figura 2 apresenta a etiquetas energética de uma máquina de lavar roupa.

Figura 2 – Etiqueta energética tipo de uma máquina de lavar roupa

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Nestes casos, o consumo de energia num determinado período é estimado com base na estimativa
do número de ciclos de funcionamento e o consumo de um ciclo típico de funcionamento.

Energia consumida no período (kWh) = consumo de um ciclo típico (kWh) x nº ciclo no período.

O consumo de um ciclo de operação típico (em kWh) é obtido através da divisão do consumo
apresentado na etiqueta energética do aparelho pelo número de ciclo de operação considerado. No
caso da etiqueta apresentada na Figura 2 o número de ciclos considerado é 100 (nas etiquetas
anteriores a 2020 o número de ciclo considerado para o cálculo do consumo anual dos
equipamentos era 160 - para mais informações consulte os guia das etiquetas energéticas
apresentado na bibliografia).

Por último, existem equipamentos que, embora estejam ligados todo o ano, o seu funcionamento
efetivo depende de diversos fatores. Exemplos deste tipo de equipamentos são arcas congeladoras,
frigoríficos, arrefecedores de vinhos. Nestes equipamentos o funcionamento efetivo depende das
cargas térmicas, temperatura de operação, condições ambientais, volume da zona climatizada, etc.
Nestes equipamentos o consumo de energia anual estimado é obtido diretamente do valor
indicado na etiqueta. A Figura 3 apresenta o exemplo da etiqueta energética de um frigorífico.

Figura 3 – Etiqueta energética tipo de um frigorífico

No caso dos equipamentos a gás numa casa de habitação identificam-se tipicamente quatro
equipamentos: fornos, fogões, aquecedores portáteis e esquentadores/caldeiras. Para as
habitações que não possuem gás canalizado a estimativa dos consumos de cada aparelho é
efetuado pela contabilização das garrafas utilizadas por cada aparelho (uma vez que geralmente as
garrafas não são partilhadas pelos diferentes aparelhos). A energia consumida no período é
calculada multiplicando a massa de gás consumida pelo poder calorifico inferior do gás (PCI). Para
efeito de cálculo deve ser utilizado o valor do PCI do respetivo gás publicado no despacho no.
17313/2008.

Energia consumida no período (MJ) = massa de gás consumido x PCI.

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No caso das habitações que consomem gás canalizado o consumo do forno e esquentador/caldeira
é estimado recorrendo à etiquetagem energética dos equipamentos, tal como no caso de
equipamentos elétricos homólogos.
A estimativa do consumo de outras formas de energia como por exemplo da queima de biomassa
em lareiras ou caldeiras é efetuado pela multiplicação da massa de biomassa utilizada no período
pelo valor do puder calorifico inferior (PCI). O valor do poder calorifico da biomassa deve ser
considerado um dos valores publicados no despacho no 17313/2008.

Energia consumida no período (MJ) = massa de biomassa x PCI.

A estimativa das emissões de CO2 equivalente associadas ao consumo de energia final é efetuada
multiplicado o consumo de energia final pelos fatores de emissão (FE) apresentado no anexo 4.

Emissões de CO2 = Energia consumida no período x FE.

Os consumos elétricos dos respetivos equipamentos deverão ser somados e comparados com os
consumos referidos nas faturas, sendo que em caso de desfasamento, os valores estimados
deverão ser ajustados, tentando estimar-se novos valores para o número de ciclos e as horas de
funcionamento ou utilização de cada equipamento, de uma forma mais realista. O mesmo se deve
fazer com o consumo de combustíveis.
Aconselha-se cada grupo a desenvolver uma folha de cálculo no Excel para simplificar a execução
dos cálculos.
Considera-se que em cada período de faturação os valores estimados são satisfatórios sempre que
comparados com os valores faturados não tenham um desvio superior a 5%.
Deverá ter em atenção que se não tiver aquecimento ambiente por caldeira a gás ou ar
condicionado, provavelmente o aquecimento será efetuado por aquecedores portáteis elétricos ou
a gás.

5. Relatório

1 página capa com identificação do grupo e dos diversos elementos e o título do trabalho.

Introdução: Descrever sumariamente os objetivos e a metodologia do trabalho. (dois parágrafos)

Caso de estudo: Breve descrição da habitação e do agregado família. A descrição da habitação deve
indicar a tipologia (apartamento/moradia, nº de quartos), ano de construção aproximado, área útil,
localização, orientação e descrição dos envidraçados. Incluir uma foto do exterior. Incluir
igualmente fotos de alguns dos principais elementos consumidores. Descrever igualmente quais as
fontes de energia.

Resultados:

I. Levantamento dos consumos faturados (apresentar uma tabela com os consumos faturados
de energia final na estação de aquecimento).
II. Desagregação da energia consumida no período de análise (em kWh e em %) pelas várias
utilizações: iluminação, aquecimento ambiente, cozinha (fogão, forno, frigorífico e arca,

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máquina de lavar louça), tratamento de roupa (máquinas lavar e secar roupa, ferro de
engomar), aquecimento de águas sanitárias, outros equipamentos elétricos.
III. Indicadores de impacto energético, ambiental e económico. Consumo de energia por área
útil de pavimento, por habitante, emissões por tipo de energia, emissões por área útil de
pavimento, emissões por habitante, etc.
IV. Análise dos indicadores (comparar com referências bibliográficas) e sugestões medidas de
melhoria da eficiência energética.

6. Bibliografia

A. Inquérito ao Consumo de Energia no Sector Doméstico, DGEG, 2010


B. Consumo de energia no setor doméstico 2020, INE, 2020.
C. Guia da Eficiência Energética, ADENE, 2010
D. Guia para a utilização eficiente dos eletrodomésticos, projeto ECOSAVE, ENA, 2012
E. Manual da Etiqueta Energética, ADENE, ISBN: 978-972-8646-36-3ISBN
F. https://www.belt-project.eu/
G. https://poupaenergia.pt/

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Anexo 1 - Conceitos

Conceito de área útil: somatório das áreas, medidas em planta pelo perímetro interior, de todos os
espaços interiores pertencentes à habitação.

Estação de aquecimento: Outubro-Março


Estação de arrefecimento: Abril-Setembro

Anexo 2 – Tipos de fontes de luz

a b c d e

a) Lâmpada incandescente; b) Lâmpada fluorescente compacta;


c) Lâmpada florescente tubular; d) Lâmpada de halogénio; e) Lâmpada LED

Anexo 3 – Consumos Típicos

Sugestão de consumo elétrico anual (kWh):

Frigorífico 260
Arca Congeladora 425
Máquina de lavar louça 330
Máquina de lavar roupa 210
Computador 148

Potências em stand-by (ou desligado) de alguns equipamentos (W)

Televisão 0,1 - 13
Sistema Hi-fi 0 - 12
Vídeo 5 - 19
Micro-ondas 2-6
Carregador de bateria 2-4
Máquina de café 0-4
Fogão eléctrico 0-4
Máquina de lavar roupa 0-5
Nota: os consumos em stand-by são da ordem dos 10% do consumo de electricidade.

Nota: garrafa de 13 kg GPL corresponde a 169 KWh


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Anexo 4 – Fatores de emissão de CO2:

Emissões anuais CO2 por habitação em que se têm os seguintes valores de base:
0.36 kgCO2/kWh em eletricidade
0.2020 kgCO2/kWh em gás natural
0.17 kgCO2/kWh em GPL

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