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HUMANA I
AULA 4
Nutrientes
Calóricos e
Balanço
Energético -
Lipídeos
ABERTURA
Olá!
Nesta aula, iremos discorrer sobre os nutrientes calóricos e balanço energético - lipídeos.
Os lipídeos são importantes na alimentação, uma vez que fornecem energia, ácidos graxos
essenciais e carreiam as vitaminas lipossolúveis e antioxidantes. A sua escolha e inclusão são
imprescindíveis na composição de uma dieta saudável.
Bons estudos.
REFERENCIAL TEÓRICO
Boa leitura
Nutrição
Contemporânea 8ª Edição
Gordon M. Wardlaw
Anne M. Smith
W266n Wardlaw, Gordon M.
Nutrição contemporânea [recurso eletrônico] / Gordon
M. Wardlaw, Anne M. Smith ; tradução: Laís Andrade,
Maria Inês Corrêa Nascimento ; revisão técnica: Ana Maria
Pandolfo Feoli. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre
: AMGH, 2013.
CDU 612.39
Para relembrar
Antes de começar a estudar os lipídeos no Capítulo 5, talvez seja interes-
sante revisar os seguintes tópicos:
• As definições legais de vários termos de rotulagem, como “baixo teor de
gorduras” e “sem gordura”, que podem ser encontradas no Capítulo 2
• O conceito de densidade calórica, também no Capítulo 2
• Os processos de digestão e absorção, no Capítulo 3
• A síndrome metabólica, no Capítulo 4
DO DO
NA MUN
OFICINA
DONUT O NÍVEL DE TRIGLICERÍDEOS
DELE ESTÁ ALTO DEMAIS...
© 2001 Batiuk, Inc. Distribuído por North American Syndicates, Inc. Todos os direitos reservados.
Muita gordura, pouca gordura, nenhuma gordura – qual é o melhor? E por que tanta discussão
a esse respeito? Não seria melhor simplesmente não comer gordura? Uma dieta rica em
gorduras não leva à obesidade? Não causa doença cardiovascular? Em geral, quais seriam as
“melhores” gorduras e por que batatas fritas, sonhos, manteiga e biscoitos amanteigados são
considerados vilões? O Capítulo 5 traz algumas dessas respostas.
Nutrição Contemporânea 189
H H H H H H H H H H H H H H H H H O
(a) H C C C C C C C C C C C C C C C C C C O H
H H H H H H H H H H H H H H H H H
(b) H C C C C C C C C C C C C C C C C C C O H
H H H H H H H H H H H H H H H H H
(c) H C C C C C C C C C C C C C C C C C C O H
H H H H H H H H H H H
(d) H C C C C C C C C C C C C C C C C C C O H
H H H H H H H H H H H H H H H H H
FIGURA 5.1 Estrutura química dos ácidos graxos saturados, monoinsaturados e poli-insaturados. Cada um dos ácidos graxos mostrados na figura
contém 18 átomos de carbono, mas diferem entre si quanto ao número e à localização das ligações duplas. As ligações duplas estão sombreadas. A
estrutura linear dos ácidos graxos saturados (a) permite que as moléculas fiquem alinhadas bem próximas umas das outras, o que explica sua forma
sólida em temperatura ambiente. Os ácidos graxos insaturados, ao contrário, têm “dobras” nos pontos onde as ligações duplas interrompem a ca-
deia de carbonos (Fig. 5.2). Por isso, eles se agrupam de modo frouxo, ficando líquidos em temperatura ambiente.
peratura ambiente. Quase todos os ácidos graxos do corpo e dos alimentos são de
cadeia longa.
Uma importante característica dos ácidos graxos insaturados é a localização
das ligações duplas. Se a ligação dupla começa a uma distância de três carbonos do
terminal metila (ômega) do ácido graxo, o composto se chama ácido graxo ôme-
ga-3 (-3) (Fig. 5.1 c). Se a ligação dupla começa a uma distância de seis carbonos
do terminal ômega, o composto se chama ácido graxo ômega-6 (-6) (Fig. 5.1 d).
Seguindo essa regra, um ácido graxo ômega-9 é aquele cuja primeira ligação dupla
começa no nono carbono contado a partir do terminal metila (Fig. 5.1 b). Nos
alimentos, o ácido alfa-linolênico é o principal ácido graxo ômega-3, e o ácido
linoleico é o principal ácido graxo ômega-6. Esses são também os ácidos graxos
essenciais que precisamos consumir (veremos mais sobre esse tópico no item a res-
peito das funções dos lipídeos no organismo). O ácido oleico é o principal ácido
graxo ômega-9.
Triglicerídeos
As gorduras e óleos estão presentes nos alimentos, sobretudo na forma de triglice-
rídeos. O mesmo ocorre com as gorduras que fazem parte das estruturas do corpo.
Embora alguns ácidos graxos sejam transportados pela corrente sanguínea ligados
a proteínas, a maioria deles se encontra na forma de triglicerídeos no interior das
nossas células. Os óleos vegetais diferem por seu teor de
Conforme já foi visto, os triglicerídeos contêm glicerol – um álcool simples ácidos graxos específicos. Óleos de aparência
com três átomos de carbono – ao qual se ligam três ácidos graxos (Fig. 5.4 a). Quan- semelhante podem ter composição significativa-
do 1 ácido graxo é removido do triglicerídeo, forma-se um diglicerídeo. Quando mente diferente em termos de ácidos graxos. O
dois ácidos graxos são removidos do triglicerídeo, forma-se um monoglicerídeo. óleo de canola e o azeite de oliva são ricos em
Veremos adiante que, para ser absorvida no intestino delgado, a maioria das gordu- gorduras monoinsaturadas; nos últimos anos,
ras tem os dois ácidos graxos mais externos removidos da molécula de triglicerídeo. vem crescendo muito o interesse no azeite de
oliva. No entanto, o óleo de canola é uma op-
Dessa forma, as células da parede intestinal absorvem uma mistura de ácidos graxos
ção de gordura monoinsaturada de custo bem
e monoglicerídeos. Uma vez absorvidos, os ácidos graxos e monoglicerídeos, em
menor. O óleo de açafrão é rico em gorduras
sua maioria, voltam a formar triglicerídeos.
poli-insaturadas.
192 Gordon M. Wardlaw & Anne M. Smith
Fontes de: Ácidos graxos Ácidos graxos Ácidos graxos Ácidos graxos
saturados monoinsaturados poli-insaturados primariamente trans
Ácidos graxos
saturados
Gordura de coco
Manteiga **
Óleo de palma
Toucinho ou
gordura de carne
Ácidos graxos
monoinsaturados
Azeite de oliva
Óleo de canola*
Óleo de amendoim
Ácidos graxos
poli-insaturados
Óleo de açafrão
Óleo de girassol
Óleo de milho
Óleo de soja*
Margarina em tablete
Gordura vegetal
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
*Fonte importante de ácido graxo ômega-3 alfa-linolênico (7 e 12% do teor total de ácidos graxos no óleo de soja e no óleo de canola, respectivamente).
**Os ácidos graxos naturalmente trans presentes na manteiga não são prejudiciais e até podem ter propriedades saudáveis, como evitar certos tipos de câncer.
FIGURA 5.3 Composição das gorduras e óleos mais comuns em termos de ácidos graxos saturados, monoinsaturados, poli-insaturados e trans
(expressos como % de todos os ácidos graxos contidos no produto).
Fosfolipídeos
Os fosfolipídeos são outra classe de lipídeos. Assim como os triglicerídeos, eles con-
têm uma estrutura básica representada pelo glicerol. No entanto, nesse caso, pelo
menos um ácido graxo foi substituído por um composto que contém fósforo (além
lecitina Grupo de fosfolipídeos que são impor- de outros elementos, p. ex., nitrogênio) (Fig. 5.4 b). Existem muitos tipos de fos-
tantes componentes das membranas celulares. folipídeos no corpo, especialmente no cérebro. Eles são componentes importantes
das membranas celulares. A lecitina é um exemplo de fosfolipídeo. Nossas células
contêm várias formas desses compostos, que participam da digestão, da absorção e
do transporte das gorduras. Nosso corpo é capaz de produzir todos os fosfolipídeos
de que necessita. Embora a lecitina seja comercializada como suplemento alimen-
tar e esteja presente como aditivo em vários alimentos, esse tipo de fosfolipídeo não
é um componente essencial da dieta.
Esteróis
Esteróis são a última classe de lipídeos que veremos no Capítulo 5. Sua estrutura
característica, formada por vários anéis, torna esses compostos diferentes dos de-
mais lipídeos que vimos até aqui (Fig. 5.4 c). O exemplo mais comum de esterol
é o colesterol – é uma substância que tem aspecto de cera e não se parece com um
triglicerídeo, ou seja, não tem a estrutura básica de glicerol ligado a ácidos graxos.
Ainda assim, ele é classificado como lipídeo porque não se dissolve facilmente em
água. Entre outras funções, o colesterol contribui para a formação de certos hormô-
nios e sais biliares e se encontra incorporado a várias estruturas celulares. Nosso
corpo é capaz de sintetizar todo o colesterol de que necessita.
Nutrição Contemporânea 193
H H O H H CH3
Glicerol Glicerol
Fosfato
(a) (b)
Colesterol – um esterol
H H
H
H3C C H
H C C CH3
H H CH3 H
H H
H C C HC C
H H HC C C
H CH3 H CH3
H H
H C C C C
C C C H H
H
H H
C C C
HO C C H
H H
H H
(c)
REVISÃO CONCEITUAL
Lipídeos são um grupo de compostos que não se dissolvem rapidamente na água. Nesse
grupo se incluem ácidos graxos, triglicerídeos, fosfolipídeo e esteróis. Os ácidos graxos se
diferenciam pelo comprimento da cadeia de carbonos e pela quantidade e posição dos laços
duplos ao longo dessa cadeia. Os ácidos graxos saturados não contêm ligações duplas em
sua cadeia de carbonos, ou seja, são totalmente saturados por átomos de hidrogênio. Os
ácidos graxos monoinsaturados contêm uma ligação dupla entre os átomos de carbono, e os
ácidos graxos poli-insaturados contêm duas ou mais dessas ligações. Alguns ácidos graxos
do tipo ômega-3 e ômega-6 são componentes essenciais da dieta humana.
Os triglicerídeos são a principal forma de gordura encontrada no corpo e nos alimentos.
São compostos por três ácidos graxos ligados a 1 molécula de glicerol. Os fosfolipídeos são
estruturalmente semelhantes aos triglicerídeos, mas pelo menos 1 ácido graxo é substituído
por um composto que contém fósforo. Os fosfolipídeos desempenham um importante papel
estrutural nas membranas celulares. Os esteróis, outra classe de lipídeos, não se assemelham
nem aos triglicerídeos nem aos fosfolipídeos, pois sua estrutura é formada por múltiplos
anéis. Um exemplo dessa classe é o colesterol, que entra na composição de parte de células,
hormônios e ácidos biliares. Embora certos ácidos graxos essenciais (componentes dos
triglicerídeos) sejam necessários na alimentação, nosso corpo produz todos os triglicerídeos,
fosfolipídeos e colesterol de que necessita. A seguir, falaremos sobre os alimentos que são
fontes de gordura (Fig. 5.5).
194 Gordon M. Wardlaw & Anne M. Smith
Carne e
Grupo alimentar Cereais Legumes Frutas Óleos Leite leguminosas
• Biscoitos • Batatas fritas • Tortas de frutas • Todos • Leite integral • Carnes gordas
salgados • Abacate • Alguns iogurtes • Bacon
• Pratos de massa • Muitos queijos • Aves (pele)
Fontes de gordura com adição de • Sorvete • Carnes fritas
gordura extracremoso no óleo
• Nozes e
amêndoas
FIGURA 5.5 Fontes de gordura segundo o MyPyramid. O nível até onde vai a cor de fundo de cada grupo (0, 1/3, 2/3 ou totalmente preenchido)
da pirâmide indica a densidade nutricional média do grupo, referente a gorduras. O grupo das frutas e vegetais geralmente tem pouca gordura.
Nos demais grupos, existem opções com alto e baixo teor de gordura. A leitura atenta dos rótulos de alimentos é útil para poder escolher as ver-
sões dos alimentos que têm menor teor de gordura. Em geral, qualquer processo de fritura agrega uma quantidade significativa de gordura ao
produto, por exemplo, no caso de batatas fritas ou frango frito. No que diz respeito à atividade física, as gorduras são um combustível fundamental
para exercícios prolongados, como ciclismo ou corrida de longa distância ou caminhada, seja lenta ou rápida.
tos como flocos de milho, açúcar e leite desnatado são praticamente isentos de
gordura. A leitura atenta do rótulo é importante para determinar o teor real de
gordura de cada alimento – os percentuais citados aqui dão apenas uma orientação
geral (Fig. 5.6).
O tipo de gordura contido nos alimentos também é importante, não apenas a
quantidade de gordura. As gorduras de origem animal são as mais ricas em ácidos
graxos saturados. Cerca de 40 a 60% de toda a gordura contida nos derivados de
leite e carne encontram-se sob a forma de ácidos graxos saturados. No entanto, os
óleos vegetais contêm sobretudo ácidos graxos insaturados, que representam 73 a
94% do conteúdo total de gordura. Nos óleos de canola, oliva e amendoim, uma
proporção moderada a elevada da gordura (49 a 77%) é representada por ácidos
graxos monoinsaturados. Algumas gorduras de origem animal também são boas
fontes de ácidos graxos monoinsaturados (30 a 47%) (ver novamente a Fig. 5.3).
Os óleos de milho, algodão, girassol, soja e açafrão são ricos em ácidos graxos poli-
-insaturados (54 a 77%). Esses óleos vegetais suprem a maior parte dos ácidos lino- O amendoim é uma fonte de lecitina, assim
leico e alfa-linolênico da dieta norte-americana. como o gérmen de trigo e a gema de ovo.
Gérmen de trigo, amendoim, gema de ovo, soja e vísceras são importantes fon-
tes de fosfolipídeos. Os fosfolipídeos como a lecitina, presente na gema do ovo, são
frequentemente adicionados aos molhos de salada. A lecitina serve como emulsi-
ficante nesses e em outros produtos, graças à sua capacidade de manter estável a emulsificante Composto capaz de manter a
mistura de lipídeos e água (Fig. 5.7). Os emulsificantes são adicionados aos molhos gordura suspensa em água, pois transforma a
gordura em pequenas gotículas cercadas por
de salada para evitar que o óleo e a água se separem. Ovos adicionados à mistura
moléculas de água ou de outra substância que
para bolo emulsificam a gordura com o leite.
evita a coalescência da gordura.
Hambúrguer no pão,
unidade 12 39% 17%
Gotícula de óleo
atraída pelo núcleo
de ácido graxo Fosfolipídeo
atuando como
Água atraída
emulsificante
pelo envoltório
TABELA 5.1 Teor de colesterol nos O colesterol só é encontrado em alimentos de origem animal (Tab. 5.1).
alimentos Uma gema de ovo contém cerca de 210 mg de colesterol. Os ovos são nossa prin-
85 g miolos de boi 2.635 mg cipal fonte de colesterol, juntamente com carnes e leite integral. Fabricantes que
promovem suas marcas de manteiga de amendoim, margarina culinária, marga-
85 g de fígado de boi 337 mg rina cremosa e óleos vegetais afirmando que são “isentos de colesterol” estão en-
1 gema de ovo grande* 209 mg ganando o consumidor mal-informado – todos esses produtos são naturalmente
isentos de colesterol. Algumas plantas contêm outros esteróis semelhantes ao
85 g de camarão 166 mg
colesterol, porém esses não acarretam os riscos à saúde do coração típicos do
85 g de carne de vaca* 75 mg colesterol. De fato, alguns esteróis de origem vegetal têm propriedades redutoras
do colesterol sanguíneo (ver adiante as intervenções médicas para redução dos
85 g de carne de porco 75 mg
lipídeos no sangue).
85 g de frango ou peru (peito)* 75 mg
tos intensificam o sabor de alimentos, como por exemplo, um molho curry indiano
ou um prato da culinária mexicana. Nossas células sensoriais percebem o odor e o
paladar desses condimentos na boca.
DECISÕES ALIMENTARES
Dieta com menos gordura
Qualquer pessoa habituada à alimentação típica da América do Norte provavelmente preci-
sará de algum tempo para se adaptar a uma dieta com menor teor de gordura. O consumo
preferencial de frutas e legumes saborosos, além de grãos integrais, ajuda nesse processo
de adaptação. É interessante observar que, após o período de ajuste, a pessoa começa a não
gostar tanto ou a se sentir mal quando consome alimentos gordurosos. Por exemplo, depois
de algumas semanas consumindo somente leite semidesnatado (1%), a pessoa que antes só
usava leite integral vai achar que, agora, esse leite tem gosto de nata. Certamente é possível
mudar de uma dieta rica em gorduras para uma dieta com baixo teor de gordura. Os bene-
fícios dessa mudança – controle do peso e menor risco de doenças crônicas – vale o esforço
de adaptação.
REVISÃO CONCEITUAL
Alimentos com alto teor de gordura – que contêm mais de 60% de suas calorias totais sob a for-
ma de gordura – incluem óleos vegetais, manteiga, margarina, maionese, bacon, abacate, man-
teiga de amendoim, queijo cheddar, filé e hambúrguer. Dentre os alimentos que consumimos
com maior frequência, só os de origem animal, principalmente ovos, contêm colesterol. Emulsifi-
cantes, por exemplo, fosfolipídeos e lecitinas, são adicionados aos molhos de salada e outros pro-
dutos ricos em gorduras a fim de manter os óleos vegetais e outras gorduras em suspensão na
base aquosa. Os alimentos que “escondem” a gordura são leite integral, bolos e doces, biscoitos,
queijo, salsichas, bolachas salgadas, batatas fritas e sorvetes cremosos. A gordura desempenha
vários papéis nos alimentos, inclusive contribuindo para seu sabor e sua textura. Também torna
mais agradável o paladar de vários alimentos, intensifica o sabor dos condimentos e torna mais
macios vários tipos de carnes. Quando um produto é isento de gorduras, isso não significa que
ele seja isento de calorias – eles também devem ser consumidos com moderação.
Nutrição Contemporânea 199
Por enquanto, esses produtos com gorduras substituídas não ocupam uma po-
sição significativa na nossa alimentação, em parte porque as versões aprovadas não
são muito versáteis e em parte porque seu uso pelos fabricantes ainda é limitado.
Além disso, os substitutos de gorduras não têm uso prático nos alimentos que, jus-
tamente, constituem as principais fontes de gordura da nossa alimentação: carnes, PARA REFLETIR
queijos, leite e massas para assar. Allison decidiu começar uma dieta com pouca
gordura. Ela afirmou que só precisa adicionar
menos manteiga, óleo ou margarina aos ali-
A deterioração da gordura limita o prazo de validade
mentos e, assim, poderá diminuir drasticamente
dos alimentos seu consumo de gorduras. Como é possível
explicar a Allison que ela também precisa ficar
Quando os óleos se decompõem, passam a ter um odor desagradável e adquirem
atenta às gorduras ocultas da dieta?
um gosto rançoso. É o que acontece, por exemplo, com batatas chips envelhecidas.
O “ranço” resulta da quebra das ligações duplas da gordura insaturada, levando à
formação de subprodutos. A luz ultravioleta, o oxigênio e certos procedimentos
podem quebrar essas ligações duplas e, assim, destruir a estrutura dos ácidos graxos
poli-insaturados. As gorduras saturadas e trans resistem mais a esses efeitos, porque
contêm menos ligações duplas entre seus átomos de carbono.
O ranço não costuma ser um problema para o consumidor, na prática, porque
o mau odor e o gosto desagradável evitam o consumo desses alimentos em quanti-
dades que poderiam fazer mal à saúde. Entretanto, é um problema para os fabrican-
tes, já que diminui o prazo de validade dos produtos. Visando estender a validade,
os fabricantes costumam adicionar aos produtos óleos vegetais parcialmente hidro-
genados. Os alimentos que correm maior risco de se tornarem rançosos são frituras
e produtos muito expostos ao ar. A gordura dos peixes também é sujeita a se tornar
rançosa, por ser altamente poli-insaturada.
Antioxidantes como a vitamina E ajudam a proteger os alimentos da deterio-
ração das gorduras, evitando que fiquem rançosos. A vitamina E, um componente
natural dos óleos vegetais, evita a quebra das ligações duplas dos ácidos graxos.
Quando os fabricantes de alimentos querem evitar que as gorduras poli-insaturadas
fiquem rançosas, costumam adicionar antioxidantes sintéticos, como BHA, BHT ou
vitamina C, à fórmula dos produtos que contêm gordura, como molhos para salada
e misturas para bolos. Outra medida é fechar hermeticamente ou aplicar outros
métodos de redução do oxigênio no interior das embalagens.
Substitutos de gordura, por exemplo, fibras
de goma, em geral são encontrados em sorve-
A hidrogenação dos ácidos graxos durante a produção de tes cremosos.
alimentos aumenta seu teor de gordura trans
Conforme já mencionado, a maioria das gorduras que contêm ácidos graxos satu-
rados de cadeia longa é sólida em temperatura ambiente; e as que contêm ácidos
graxos insaturados são líquidas. Em alguns processos de produção de alimentos, O Canadá não aprovou o uso de olestra
as gorduras sólidas funcionam melhor do que as líquidas. Quando se prepara na fabricação de alimentos; somente
massa de torta, por exemplo, a gordura sólida resulta em uma massa mais folha- os Estados Unidos permitem o uso de
substitutos de gordura.
da, ao passo que o uso de óleos líquidos tendem a dar um resultado mais gordu-
roso e quebradiço. Se forem usados óleos com ácidos graxos insaturados em lugar
das gorduras sólidas, é preciso, em geral, torná-los mais saturados (com hidrogê-
nio), porque dessa forma eles serão solidificados, transformando-se em marga-
BHA, BHT Butil-hidroxianisol e butil-hidro-
rina culinária. O hidrogênio é adicionado injetando-se hidrogênio borbulhante, xitolueno, antioxidantes sintéticos geralmente
sob pressão, no óleo vegetal líquido, processo que se chama hidrogenação (Fig. adicionados aos alimentos.
5.9). Os ácidos graxos não são completamente hidrogenados, ou seja, totalmente hidrogenação Adição de hidrogênio a uma
saturados, pois isso tornaria o produto muito rígido e friável. A hidrogenação par- dupla ligação carbono-carbono, o que produz
cial, ou seja, a que deixa alguns ácidos graxos monoinsaturados, cria uma gordura uma ligação simples com dois átomos de
semissólida. hidrogênio ligados a cada carbono. A hidroge-
O processo de hidrogenação produz ácidos graxos trans, como já foi menciona- nação dos ácidos graxos insaturados contidos
do neste capítulo. A maioria dos ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados no óleo vegetal endurece o produto, por isso
existem na forma cis, que possui uma cadeia de carbonos encurvada, ao passo que esse processo é usado para converter óleos lí-
as cadeias mais retas da forma trans se assemelham mais aos ácidos graxos satu- quidos em gorduras mais sólidas, usadas como
margarinas culinárias. Ácidos graxos trans são
rados. Talvez seja esse o mecanismo pelo qual a gordura trans aumenta o risco de
um subproduto da hidrogenação dos óleos
doença cardíaca. Estudos indicam também que a gordura trans aumenta o potencial
vegetais.
de inflamação do corpo, o que não é saudável. Por isso, devemos limitar o con-
200 Gordon M. Wardlaw & Anne M. Smith
Fonte de
hidrogênio
FIGURA 5.9 Como se transformam óleos líquidos em gorduras sólidas. (a) Ácidos graxos
insaturados se apresentam na forma líquida. (b) Hidrogênios são adicionados (hidrogenação)
e transformam algumas ligações duplas em ligações simples carbono-carbono, produzindo
ácidos graxos trans. (c) O produto parcialmente hidrogenado poderá ser usado como margarina
alimentar, margarina culinária ou gordura para fritar alimentos.
tal parcialmente hidrogenada, é preciso considerar que esse alimento contém uma
quantidade significativa de gordura trans.
Limitar o consumo de gorduras trans em casa é bem mais fácil. Uma das me-
didas mais importantes é não usar ou usar pouca margarina culinária. Em vez dis-
so, prefira os óleos vegetais e as margarinas cremosas (cujos rótulos mencionem
óleo vegetal ou água como primeiro ingrediente). Evite fritar qualquer alimento em
margarina culinária. Em vez disso, use óleos vegetais não hidrogenados para assar,
refogar, cozinhar, grelhar ou preparar no vapor. Substitua os cremes não lácteos por
leite desnatado ou semidesnatado. A maioria desses cremes não lácteos contém
REVISÃO CONCEITUAL
A hidrogenação dos ácidos graxos insaturados é o processo de adição de hidrogênio às liga-
ções duplas carbono-carbono, formando ligações simples. Esse processo resulta na formação
de ácidos graxos trans. A hidrogenação transforma os óleos vegetais em gorduras sólidas. Faz
sentido monitorar o consumo de gorduras trans, já que esse tipo de gordura aumenta o risco
de doença cardiovascular.
As ligações duplas carbono-carbono dos ácidos graxos poli-insaturados são facilmente
quebradas, levando à formação de subprodutos que tornam o alimento rançoso. Nos óleos, a
presença de antioxidantes como a vitamina E protege, naturalmente, os ácidos graxos insatu-
Alimentos fritos têm alto teor de gordura
rados da degradação oxidativa. As indústrias de alimentos podem usar gorduras hidrogenadas
e adicionar antioxidantes sintéticos ou naturais para diminuir o risco de transformação em e de gordura trans. A redução do consumo
gordura rançosa. de frituras pode ajudar a baixar os lipídeos no
sangue.
202 Gordon M. Wardlaw & Anne M. Smith
muita gordura vegetal parcialmente hidrogenada. Por fim, leia os rótulos dos ali-
mentos e use essas sugestões para estimar seu teor de gordura trans.
PORTFÓLIO
conhecimentos.