Você está na página 1de 15

Técnicas e Práticas de Oratória nas Aulas de Língua Portuguesa

Adilson Machado
Graduado em Letras, Especialista em Oratória pela FAFIUV, professor PDE 2008, lotado no Colégio
Estadual São Cristóvão de União da Vitória – PR.

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo propiciar reflexões sobre a necessidade do ensino de técnicas
de comunicação oral, bem como a importância de oportunizar a prática da oralidade em sala de aula
na disciplina de Língua Portuguesa no Ensino Médio do Estado do Paraná. Os professores de Língua
portuguesa que conhecem e dominam as principais regras de oratória trabalham melhor esse tema
em suas aulas, e abrem perspectivas no que tange o desenvolvimento da oralidade dos alunos. Estes
se espelham em seus professores. Por isso quanto melhor se comunicarem os mestres, melhor será
o aprendizado de seus discípulos. A escola é um importante espaço para o conhecimento e o
desenvolvimento de técnicas de apresentação em público.

Palavras-chaves: Ensino Médio – Professores – Alunos – Oradores

Abstract

This study aims to provide thoughts on the necessity of teaching techniques of oral communication
and the importance of the practice of oportunizar spoken in the classroom in the discipline of
Portuguese Language Teaching in the Middle of the State of Paraná. The Portuguese-speaking
teachers who know and dominate the main rules of oratory work better in their classes this issue and
open perspectives in terms of the development of orality students. They reflect on their teachers. So
how better to communicate the master, the better the learning of his disciples. The school is an
important area for the knowledge and the development of techniques for presentation in public.

Key words: High School - Teachers - Students - Speakers

As Diretrizes Curriculares do Ensino Básico do Estado do Paraná apresentam


como pressuposto em seu Conteúdo Estruturante o discurso como prática social.
Sendo assim, falamos de uma posição, na qual acreditamos que a oralidade merece
um estudo mais aprofundado, pois a oratória faz parte do nosso dia a dia. Vivemos
em um universo sócio-interacionista, no qual as relações sociais são exercidas pela
linguagem e com primazia pela oralidade. Não podemos viver isolados do universo
simbólico. Precisamos falar em público, convencer nosso interlocutor de nossa
“verdade”, quer seja este conhecido ou não.
No que tange a função social do trabalho comunicativo, acreditamos que O
ensino de oratória nas aulas de Língua Portuguesa deve merecer a atenção e o
empenho necessário de todos, pois dele resulta o sucesso ou o fracasso dos alunos
(comunicadores) nos diversos setores onde estão atuando ou irão atuar.
Reinaldo Polito, professor de oratória afirma em uma entrevista à revista
Época (2002), que nos cursos de oratória que ministra um grande número de
pessoas que já passaram ou estão passando pelos bancos escolares estão carentes
de melhores esclarecimentos e, principalmente de técnicas para melhor se
comunicarem.
Na mesma reportagem, Polito sugere que a escola deveria possibilitar à seus
estudantes, desde cedo, as técnicas de bem falar em público e proporcionar-lhes
condições para que praticassem com o acompanhamento de um orador bem
sucedido e experiente; nesse caso “deveria” ser o professor, porém nem sempre o
mesmo está apto para realizar esse trabalho.
Quanto mais cedo ensinarmos nossos alunos, maiores suas chances de
compreensão e desenvolvimento oratórios e, consequentemente, comunicativos. Se
fizermos o trabalho de oratória com nossos alunos, poderemos oferecer-lhes a
grande oportunidade de obterem sucesso em suas futuras atividades dentro e fora
da escola.
Este trabalho de incentivo à oralidade, a “priori”, deve partir do ambiente
escolar, para só então estender e tornar-se uma prática efetiva na vida social do
aluno.
O papel dos professores de língua materna neste interstício é o de procurar
aperfeiçoar seus conhecimentos retóricos, lingüísticos e discursivos e transmiti-los
aos alunos e à comunidade; para isso precisam dominar algumas das técnicas de
oratória, que acreditamos importantes no trabalho com a oralidade, tais como:
postura, gestos, tom de voz, improviso, leitura em público, partes fundamentais de
um discurso (abertura, desenvolvimento e conclusão), vocabulário adequado ao
público, exposição clara e objetiva.
Através das práticas de oratória, o professor pode ajudar seus alunos a
melhor identificarem e a interpretarem os discursos que ouvem por meio da
publicidade, da religião, da política, da escola e de todos os setores da sociedade,
não permitindo que os mesmos sejam facilmente persuadidos nem enganados,
desenvolvendo assim seu senso-crítico.Quanto mais os estudantes aprenderem a
observar os argumentos usados nos diversos discursos orais, mais eles perceberão
se tais argumentos são fortes ou fracos. Em outras palavras, os alunos
desenvolverão a capacidade de observação dos argumentos usados pelos diversos
comunicadores e por eles próprios. Com base nesses pressupostos, os professores
de português devem incluir em suas aulas diversos exercícios de oratória (telefone
sem fio = para ouvir aos outros e a si, trava – língua e repetições de textos para
desenvolver a voz e memória, leitura em público, declamação, expressão facial e
corporal através de dramatização de textos teatrais, narração de estórias diante dos
colegas, repasse de mensagens aos colegas e falas de improviso), visando
desenvolver as capacidades auditivas de seus alunos, fazendo com que eles ouçam
aos seus colegas e a si próprios, falem com mais desenvoltura e pratiquem a
comunicação.
Se os professores buscarem formas de melhor se comunicarem, ajudarão
seus alunos a desenvolverem sua oralidade. A prática da oralidade pode ajudar os
alunos a se apresentarem melhor quando fizerem leituras, comentários e exposições
orais perante a classe.
A sociedade está cada vez mais exigente no que tange a expressão oral. A
grande competição e a forte concorrência impostas pelo mundo moderno levam os
indivíduos a buscarem uma melhor e mais rápida preparação, visando à conquista
de um lugar de destaque em seus meios sociais e profissionais.
Carneiro (1981) ressalta que nenhum elemento contribui tanto para o êxito
social ou profissional quanto à capacidade de bem expressar idéias, dando razão a
William Gladstone, renomado estadista, para quem “saber falar e saber vencer na
vida” eram uma e a mesma coisa”.
De acordo com Furini (1992), as pessoas que sabem falar bem em público
têm mais chances de conquistar sucesso social e profissional. Para ela a oratória é
uma arte sempre atual, cujo conhecimento é imprescindível. Sendo assim, torna-se
importante que os estudantes tomem consciência da importância de conhecerem as
técnicas da arte de bem falar, não somente através do estudo de teorias, mas
principalmente pela prática de oratória. Os aspectos teóricos aliados às práticas
constituem a melhor forma de desenvolver a oralidade em sala de aula.
As aulas de Língua Portuguesa podem e devem oferecer oportunidade para
que os alunos conheçam, ampliem e desenvolvam as técnicas de oratória para
melhor se comunicarem oralmente.
Para que os alunos compreendam a oratória, é fundamental que os
professores ampliem seus conhecimentos sobre esse assunto e, principalmente
através do domínio sobre o tema possam ajudar seus alunos a melhor se
comunicarem.
Quanto mais cedo forem oferecidas aos alunos a oportunidade para bem se
comunicarem, maiores serão os progressos obtidos; a escola tem condições de
preparar bons cidadãos e ótimos comunicadores. No mundo, há enorme carência de
bons comunicadores; Carnegie (1993) registra que em 1935 duas mil e quinhentas
pessoas atenderam o seguinte anúncio do New York Sun: Aprenda a Falar
Eficazmente. Segundo ele não restava dúvida que o fato dessas pessoas estarem à
procura de tal treinamento, era uma prova das chocantes deficiências do sistema
educacional. A Universidade de Chicago realizou uma pesquisa no ano de 1960
para descobrir o que os adultos desejam estudar realmente? Em primeiro lugar
figurou o desejo de receberem sugestões que possam usar imediatamente nos
contatos comerciais, sociais e no lar.
A escola pode e deve oferecer oportunidade para a prática da comunicação
oral. Nela é possível produzirmos e desenvolvermos diversas formas de oralidade,
tais como a leitura em voz alta, o texto decorado, as homenagens e os
agradecimentos, o aviso, a propaganda, o convite, as mensagens e o improviso.
Polito (1995) afirma que “para apresentar um discurso, temos várias formas
disponíveis, que vão desde a leitura até o improviso total...” Todas essas formas de
discurso deveriam ser trabalhadas pelas escolas, permitindo que nossos estudantes,
nelas já as praticassem e levassem pela vida afora.
Quanto mais cedo ensinarmos nossos alunos, maiores suas chances de
compreensão e desenvolvimentos oratórios. Bloch (1997) comprova essa
proposição, dizendo que duvidava que o adulto respondesse às perguntas que ele
fazia às crianças. Para Bloch “é como se criança ainda soubesse ‘pensar’ e o adulto
tivesse esquecido como”. Se fizermos o trabalho de oratória com nossos alunos,
poderemos dar-lhes a grande oportunidade de obterem sucesso em suas futuras
apresentações dentro e fora da escola.
Os professores de Português devem aperfeiçoar seus conhecimentos
retóricos e transmiti-los aos alunos e à comunidade; para isso precisam dominar as
técnicas de discurso, principalmente o persuasivo. Para Citelli (1998), persuadir não
é sinônimo de coerção ou mentira. Para ele “a maior parte dos discursos que
fazemos nas relações com nossos semelhantes são de persuasão. O discurso
persuasivo em si mesmo, não é um mal; só o é quando se torna o único trâmite de
cultura, quando se torna o único discurso possível, quando não é integrado por
discursos abertos e criativos”.
Com base nessas idéias, os professores de Língua Portuguesa podem incluir
em suas aulas diversos exercícios visando desenvolver a capacidade auditiva de
seus alunos, fazendo com que eles ouçam aos seus colegas e a si próprios. “Além
de saber ouvir e entender é preciso perceber a reação dos ouvintes e procurar saber
para quem falaremos: nível intelectual e emocional dos ouvintes, sua idade, grau de
instrução e cultura (Machado, 2004).
Os professores de Língua Portuguesa que conhecem as técnicas de oratória
e, repassam seus conhecimentos aos alunos, oferecem a eles possibilidade de se
comunicarem melhor. Este trabalho com as técnicas de oratória são trabalhos
técnicos desenvolvidos no interior de uma práxis, pois segundo Machado (2007)
“nada substitui a importância do treinamento... um orador aprende na prática como
se comunicar bem...”. E o local mais adequado para treinamento e desenvolvimento
da oratória é a escola... é a sala de aula.
Aristóteles (384-322 a.C.) escreveu um importante livro intitulado Arte
Retórica que permanece até os nossos dias como base para os amantes da oratória.
Para o autor, a retórica tem algo de ciência, pois é um corpus com determinado
objeto e um método verificativo dos passos seguidos para se produzir persuasão.
Para se ter eficácia comunicativa é preciso investir na persuasão. Persuadir é,
sobretudo, a busca de adesão a uma tese, perspectiva, entendimento, conceito, etc.
evidenciando a partir de um ponto de vista que deseja convencer alguém ou um
auditório sobre a validade do que se anuncia. É possível que o persuasor não esteja
trabalhando com uma verdade – entendido o termo no sentido de construção social
e não de pretensa referência positiva, muitas vezes carregada de maniqueísmo e
moralismo, mas apenas com verossimilhança. Isto é, algo que “brinca de verdade”;
que se assemelha ao verdadeiro, processo garantido através de uma lógica que faz
o símile (similar, parecido) confundir-se com o vero (verdadeiro, original). Verossímil
é, pois, aquilo que se constitui em verdade a partir de sua própria lógica. Daí a
necessidade, para se construir o “efeito de verdade”, da existência de argumentos e
provas para que o destinatário “sinta como verdadeiro” aquilo que está sendo
anunciado. Na obra Arte Retórica, Aristóteles determina a estrutura em quatro partes
seqüenciais e integradas:
1 – Exórdio
É o começo do discurso. Pode ser uma indicação do assunto, um conselho,
um elogio, uma censura. Para Machado (2007), que segue, juntamente com todos
os estudiosos e ou professores de oratória, os passos de Aristóteles, o exórdio,
também chamado de abertura, prólogo, começo é uma idéia principal e corresponde
a 50% do sucesso ou do fracasso de uma apresentação. É o cumprimento ao
público, a promessa de brevidade, a demonstração de respeito ao público, o anúncio
de algo importante, o registro da satisfação em estar diante da platéia, uma menção
à cidade, à data, ao local ou a alguém dos presentes, uma frase célebre, um
provérbio, uma história real ou fictícia. Dependendo do tempo disponível, pode fazer
uso de um ou mais itens; o importante é fazer um início diferente, chamativo,
empolgante. É necessário captar a atenção de todos ou quase todos.
2 – Narração
Para Aristóteles é propriamente o assunto, ou seja, os fatos que são
arrolados, os eventos que são indicados. Para o autor “o que fica aqui não é nem a
rapidez, nem a concisão, mas a justa medida. Ora a justa medida consiste em dizer
tudo quanto ilustra o assunto, ou prove que o fato se deu, que constitui um dano ou
uma injustiça, numa palavra, que ele teve a importância que lhe atribuímos”.
3 – Provas
É parte do discurso persuasivo a prova do que se diz. A credibilidade do
argumento fica dependente da capacidade de comprovar as afirmativas. Para
Machado (2007), a narração e as provas podem ser denominadas pela palavra
“meio”, também chamada de desenvolvimento, logos, exposição ou corpo do
discurso. É quando o orador apresenta, além das provas e dos argumentos, os
testemunhos, os exemplos, as comparações, as estatísticas, os vídeos, as fotos,
dramatizações, canções, poesias ou outras formas que confirmem a idéia inicial
apresentada. O público gosta de ser convencido, conquistado, contentado. O orador
deve justificar em seu desenvolvimento a importância do tema trazido.
4 – Peroração
É o epílogo, a conclusão. Pelo caráter finalístico e, em se tratando de um
texto persuasivo, está aqui a última oportunidade para se assegurar a fidelidade do
destinatário. A ela se referia Aristóteles: “A peroração compõem-se de quatro partes:
a primeira consiste em dispô-lo (o ouvinte) mal para com o adversário; a segunda
tem por fim amplificar ou atenuar o que se disse; a terceira excitar as paixões no
ouvinte; a quarta, proceder a uma recapitulação”. Para Machado (2007), é o fecho
da apresentação em público; deve ser de uma forma rápida e empolgante.
Relembrar a idéia inicial, porém com mais convicção e força. Pode ser uma frase,
um desejo de sucesso ao público, um desafio, uma solução, uma pergunta para
reflexão ou uma resposta para uma pergunta feita no início da fala, um
agradecimento ou qualquer outra forma de deixar uma boa impressão, uma marca
registrada. O final deve levar o público ao aplauso, ao pensamento de “que pena
que terminou – poderia ter continuado – que legal” e não a idéia de “ufa, até que
enfim terminou – que chato – que cansativo – não entendi nada”.
Atribuir a Aristóteles o papel de um dos primeiros sistematizadores da teoria
do discurso é mais do que justo. Cabe, porém, lembrar que o autor de Arte Retórica
não foi, como muitos insistem em dizer, o inventor da retórica. Ele apenas analisou
os discursos de seu tempo, verificou a existência de certos elementos estruturais,
comuns a todos eles e a partir de então indicou como os estudos retóricos poderiam
contribuir no entendimento dos mecanismos de persuasão.
O estudo das partes de um discurso, começo, meio e fim, deve ser
amplamente feito por todos aqueles que desejam aplicar as técnicas de oratória em
suas apresentações em público e, em particular na sala de aula. Quanto mais os
professores dominarem o uso da palavra, mais contribuirão com o desenvolvimento
de seus alunos. Dessa forma poderão orientar seus discípulos a também usarem em
suas falas as partes corretas de um discurso. Professores e alunos precisam saber
que numa abertura não se deve desculpar-se pela apresentação, pela falta de
tempo, por estar despreparado para o tema ou qualquer outra coisa, nem muito
menos dizer que está nervoso ou que é a primeira vez que vai falar em público. Não
devemos insistir em algo negativo ou pessimista. O público não precisa saber que
algum equipamento seria usado e não será mais possível. É necessário preparar-se
antecipadamente com alternativas para quando algo planejado não dê certo. Todo
professor pode dedicar parte de seu tempo à pesquisa do riquíssimo tema Oratória
e, sempre que possível praticar a oralidade em diversos setores de sua vida pessoal,
social e profissional. Só podemos ensinar aquilo que conhecemos e vivenciamos.
Quero nesse texto comentar parte de minha experiência nessa área para,
quem sabe, ajudar meus colegas a refletirem sobre a importância e a necessidade
do tema. Após 18 anos, ministrando cursos e palestras de Oratória, com teoria e
treinamento prático (1990 a 2008), em diversas cidades do Paraná e de Santa
Catarina, pude conviver com mais de 50 mil cursistas, entre eles: militares,
bancários, comerciantes, industriais, religiosos, políticos, profissionais liberais, donas
de casa, professores e estudantes do ensino básico e superior.
Acrescento, além dessa fabulosa experiência adquirida nos cursos e nas
palestras de oratória, o fato de que, sendo trabalhador, palestrante e professor, tive
oportunidade de atuar em rádio, jornal, teatro e apresentação de eventos.
Felizmente, pude conviver, sempre, com pessoas das mais diversas posições
sociais e faixas etárias.
Através das diversas convivências, entre outros, dediquei-me ao estudo da
oratória, isto é, a arte de falar em público, usando dos dons naturais, aperfeiçoados
pela retórica, conjunto de regras para bem comunicar-se. Entre tantas questões por
mim estudadas, destacam-se as que provocam profundas reflexões sobre a
comunicação:
Quais os obstáculos para uma boa comunicação?
Quais as possíveis soluções?
Como motivar as pessoas para falar em público, sem medo e, sem causar
constrangimento?
Até que ponto a inclusão de técnicas de oratória, nas aulas de Língua
Portuguesa, acarreta diminuição das inibições e das dificuldades dos alunos para
falar em público?
Essas perguntas serviram de base para a elaboração de meu Projeto de
Intervenção Pedagógica no Colégio Estadual São Cristóvão, de União da Vitória –
Estado do Paraná, como parte integrante do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE 2008. Sei que as respostas para tais questões são buscadas
ansiosamente. Todos nós temos o grande desejo de vencer a timidez, o nervosismo,
a falta de autoconfiança e as demais barreiras da comunicação.
É indispensável o estudo das técnicas de Oratória, pois “vivemos no século
da comunicação...Temos o telefone, as chamadas internacional e interurbana, o
telégrafo, o satélite INTELSAT, o rádio, o cinema e a televisão, sem esquecer a
imprensa, o livro, a revista. O jornal... O mundo tornou-se pequeno... Todos sabem
de tudo...” (Roque Schneider). Mais recentemente surgiu o fax, o computador, o
celular, as parabólicas e, muitos outros que surgiram e certamente surgirão.
Fomos criados para comunicar; nossos olhos, lábios, ouvidos, sorriso, braços,
pés... tudo em nós é comunicação. Quem não estiver preparado para atuar neste
mundo, dominado pelos meios de comunicação, encontrará enormes dificuldades e
não conseguirá vencer à concorrência. Necessário se faz que preparemos nossos
jovens, desde cedo, para a “batalha da comunicação”, na qual vencem os que
melhor se comunicam. Necessário também é saber relacionar-se com o outro,
independentemente do cargo ou posição que ocupe. O relacionamento humano
depende em grande parte do uso da Oratória.
Por essas razões citadas, percebi que na escola há uma ótima oportunidade
para as pessoas vencerem suas dificuldades ou, aumentarem-nas, em relação ao
modo de comunicarem-se, dependendo da maneira com que cada professor
desenvolva seu trabalho, especialmente na área de ensino da língua materna.
Os alunos ficam motivados e libertam-se de muitas “amarras comunicativas”,
timidez, nervosismo, falta de assunto e complexos, a partir do momento em que o
professor não caracteriza as atividades em sala de aula como imposições, mas
como propostas. Cada vez que um aluno é obrigado a desempenhar uma tarefa de
leitura em público, a fazer um comentário ou, mesmo a dar uma resposta, o
resultado é desanimador; quando os faz livremente, isto é, pelo estímulo e incentivo
do professor, as atividades apresentadas pelo estudante são bem mais participativas
e descontraídas, produzindo resultados animadores para quem as coordenou, para
ele próprio e para os demais colegas que presenciaram sua apresentação.
É importante a melhoria da comunicação oral dos alunos e há necessidade de
que os professores, principalmente da área de português, estejam preparados para
aplicarem técnicas de oratória em suas aulas, visto que poderão encontrar
resistência, tanto por parte de seus alunos, como de seus próprios colegas de
profissão. Na verdade, todo o professor inclui em seu programa aulas visando a
oralidade, porém poucos usam as técnicas preconizadas pela oratória, com objetivos
bem nítidos. Para Carneiro (1981) é necessário que todo o orador, em nosso caso,
todo o professor com seus respectivos alunos conheçam as seguintes idéias de
oratória:
Como Montar e desenvolver um assunto para apresentação em público:
1 – Pesquisar (através de livros, palestras, cursos, filmes, aulas e falando com
pessoas);
2 – Selecionar todo o material que se relaciona com o assunto a ser exposto;
3 – Eliminar o supérfluo.
4 – Organizar através dos três itens amplamente comentados nesse texto
(começo, meio e fim);
5 – Ensaiar oralmente e mentalmente, se preocupando em reter as idéias;
6 – Preparar o tema (reduz a ansiedade e o nervosismo);
7 – Transmiti-lo de maneira clara, não exagerando em detalhes, nem omitindo
nada importante;
8 – Falar com eficiência;
9 – Convencer;
10 – Demonstrar domínio do tema;
11 – Apresentar de maneira agradável.
Sugestões para uma boa oratória:
1 – As técnicas são dadas para dar mais segurança ao orador, para que ele
sinta-se bem, jamais para aprisioná-lo. Os gestos devem fluir naturalmente, não
automáticos nem bitoladores;
2 – Não podemos conversar com o público sem usar os braços e a expressão
facial;
3 – Os gestos são apoio à palavra, transmitem segurança e desenvolvimento
do orador e servem para descarregar as tensões e insegurança;
4 – Uma imagem vale mais que mil palavras;
5 – O corpo todo do orador transmite mensagem o tempo todo;
6 – O orador não pode ter apenas um volume de voz;
7 – Pronunciar corretamente as palavras, sem omitir sons;
8 – Distribuir bem as pausas;
9 – Pernas semi-abertas e firmes transmitem segurança;
10 – Não movimentá-las ficando ora sobre uma ou outra;
11 – Ser natural, não duro (engessado), mas à vontade;
12 – Manter postura natural, espontânea, mas digna de um orador.
Como fazer uma despedida em público:
1 – Demonstrar o sentimento pela partida;
2 – Renovar os elogios e dizer os motivos da partida;
3 – Demonstrar vontade de retornar para rever os amigos.
Passos para uma homenagem:
1 – Fazer suspense quanto ao nome da pessoa homenageada;
2 – Falar das qualidades desta pessoa;
3 – Não exagerar nem omitir detalhes;
4 – Citar os motivos pelos quais a pessoa está sendo homenageada;
5 – Mencionar no final, o nome da pessoa.
Agradecimento:
1 – Agradecer pela presença de todos;
2 – Agradecer a quem o saudou;
3 – Estender o agradecimento a todos que ajudaram a ser merecedor da
homenagem;
4 – Agradecimento finais.
Para dar uma mensagem ao público:
1 – Sentir o momento – ter sensibilidade;
2 – Falar com entusiasmo;
3 – Ser sincero.
4 – Ser breve.
Improviso (quando somos convidados a falar inesperadamente);
1 – O primeiro passo é ficar calmo;
2 – Evitar dizer que foi pego de surpresa ou que não esperava ser convidado
a falar;
3 – Evitar desculpar-se por não estar preparado nem cobrar o porquê de não
ter sido avisado antes;
4 – Não fica bem dizer: não tenho palavras, não sei o que dizer, estou
nervoso;
5 – Pode começar agradecendo pela oportunidade de falar a um público tão
especial:
6 – Referir-se ao que falou alguém anteriormente ou parabenizar aos
oradores que falaram antes, acrescentando uma idéia sua, um complemento ligado
ao momento em que estão vivendo;
7 – Falar algo apropriado sobre o local em que se encontra;
8 – Mencionar a data especial ou outra da qual haja proximidade (natal, ano
novo, 7 de setembro);
9 – Fazer um elogio ao público;
10 – Convidar os presentes à confraternização;
11 – Mostrar a importância da paz, do amor, da fé, do estudo.
Todo o improviso deve ser breve, para não correr o risco de falar algo
indevido. Quando formos a algum evento, pensar “se eu for convidado a falar o que
direi...”. Tendo um plano antecipado, não seremos tomados de surpresa ao sermos
convidados a falar. Mesmo que não sejamos convidados a falar, o fato de estarmos
preparados nos acalma e dá segurança. Qualquer fala de improviso será o efeito de
uma boa preparação anterior. Tudo que lemos, anotamos, ouvimos, vemos,
refletimos ou conversamos sobre um determinado assunto ajudará a falarmos
melhor no improviso. Ninguém inventa na hora, pois se fizer isso o aluno falante
estará condenado ao fracasso antecipado.
As sugestões acima e muitas outras são necessárias para que nós,
professores de Língua Portuguesa, além de conhecermos e praticarmos, possamos
repassá-las aos nossos alunos em sala de aula. Durante muito tempo esqueceu-se
da atividade prática da língua e muitos teimavam em trabalhar metas e conteúdos
mais ligados à escola do que ao uso efetivo da língua. Com o tempo, através de
estudos realizados, nessa área, verificou-se que a escola precisa acompanhar a
velocidade das mudanças sociais e tecnológicas, ocupando-se assim das
necessidades prioritárias de sua clientela: o estudante. Com essa reflexão sobre o
ensino da língua materna, o professor deve dirigir-se de maneira consciente àqueles
conteúdos e atitudes que são considerados relevantes para os interesses dos
alunos, dando ênfase, desta maneira, à participação ativa do educando no processo,
visando o domínio da língua oral e da escuta de textos orais.
Em sala de aula é importante que o professor facilite ao seu aluno empregar a
língua oral nas mais diversas situações de uso, sabendo adaptá-las ao contexto e ao
interlocutor, bem como descobrindo as intenções que estão “por trás” dos discursos
do cotidiano e posicionando-se diante dos mesmos. De acordo com as Diretrizes
Curriculares do Ensino Básico do Estado do Paraná, a escola tem deixado em
segundo plano o trabalho com a oralidade, dando ênfase ao ensino da modalidade
escrita padrão. O trabalho com a oralidade precisa pautar-se em situações reais de
uso da fala, valorizando-se a produção de discursos nos quais o aluno realmente se
construa como sujeito interativo do processo de comunicação. O espaço escolar
deve propiciar e promover atividades que possibilitem ao aluno tornar-se um falante
cada vez mais ativo e competente, capaz de compreender os discursos dos outros e
de organizar os seus de forma clara, coesa e coerente. A massificação da linguagem
pela mídia faz com que as variedades lingüísticas se percam tornando os discursos
mais ou menos uniformes. A escola precisa mostrar aos alunos as variedades
lingüísticas existentes geradas pela localização geográfica, faixa etária,
escolarização, condição sócio-econômica, etc. Precisa ficar claro que nenhuma
variedade é melhor ou pior, pois todas constituem sistemas lingüísticos
perfeitamente adequados, falares que atendem a diferentes propósitos
comunicativos, dadas as práticas sociais e os hábitos culturais das comunidades. A
sala de aula deve ser espaço de apropriação deste conhecimento, não significando
o detrimento da norma padrão, pois para a maioria dos alunos a escola é o único
lugar que lhes possibilita o contato com essa norma culta. Portanto desenvolver a
expressão oral no sentido de adequação da linguagem ao assunto, ao objetivo e aos
interlocutores, eis um grande desafio. A oralidade do aluno deverá ser aperfeiçoada,
ele deverá aprimorar seus métodos e adquirir destreza para expressar-se oralmente
de maneira clara e satisfatória, com naturalidade e com desembaraço, tanto no seu
cotidiano quanto na escola. Esse processo acontecerá através de:
1 – Relatos – experiências pessoais, histórias familiares, brincadeiras,
acontecimentos, eventos, textos lidos (literários ou informativos), programas de Tv,
rádio, filmes, entrevistas, etc;
2 – Debates – assuntos lidos, acontecimentos, situações polêmicas
contemporâneas, filmes, programas, etc;
3 – Criação – histórias, quadrinhas, charadas, adivinhações, piadas, etc.

Fica a importante sugestão para que os professores em geral e,


principalmente de Língua Portuguesa trabalhem em sala de aula diversas atividades
que compreendam a oratória, permitindo a apresentação em público individual ou
coletiva de seus alunos.
É necessário promover o debate entre professores que, certamente desejam
trabalhar as técnicas de oratória, porém têm dúvidas sobre o tema. Uma forma
interessante de troca de experiências tem sido o Grupo de Trabalho em Rede –
GTR, promovido pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2008
juntamente com a Secretaria de Educação do Estado do Paraná – SEED. Através do
GTR estou sendo tutor de um grupo de 40 (quarenta) professores estaduais, cujo
tema é “Práticas de Oratória nas Aulas de língua Portuguesa”. Tem sido uma
experiência enriquecedora que permite, além da aprendizagem, uma ampla
discussão sobre o tema. São atividades iguais a estas que nos mostram que
estamos no caminho correto. Também através do PDE e do GTR é possível divulgar
nossos projetos de intervenção pedagógica nas escolas do Paraná e obter
comentários, sugestões e críticas de nossos colegas. Há muito ainda a ser
percorrido, mas o importante é que os primeiros passos já foram dados. A oratória
na escola e nas aulas de Língua Portuguesa é fundamental, por isso precisamos nos
preparar cada vez mais, através de muita leitura, palestras, cursos e, principalmente
da troca de experiências e da prática, acompanhada de sugestões para melhoria.
Assim, nós professores poderemos cada vez mais oferecer aos nossos alunos a
qualidade em nossas aulas, pois eles merecem e, nós queremos.
REFERÊNCIAS

BLOCH, Pedro. A conquista da fala. Rio de Janeiro: Bloch 1997.

CARNEGIE, Dale. Como fazer amigos e influenciar pessoas. São Paulo: Cia.
Editora Nacional, 1993.

CARNEIRO, Marcelo Motta. Oratória Básica. Curitiba: Vicentina, 1981.

CHAUI, M. O que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CITELLI, Adilson, Linguagem e Persuasão. São Paulo: Ática, 1999.

WEBBER, Orly Marion. Curso de Oralidade em Língua Portuguesa ministrado


aos professores PDE 2008 na UTFPR.

DCE. Diretrizes Curriculares do Ensino Básico de Língua Portuguesa e


Literatura do Estado do Paraná, 2008.

FIORIN, J. L. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 1995.

FURINI, Isabel Florinda. Práticas de Oratória. São Paulo, Ibrasa, 1992.

MACHADO, Adilson. Salve Sua Comunicação. União da Vitória: BS, 2004.

________, É Preciso Comunicar. Porto União: Uniporto, 2007.

MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. Introdução à Lingüística. São Paulo: Cortez, 2004.

POLITO, Reinaldo. Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação.


São Paulo, Editora Saraiva, 1995.

TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 2002.

VANOYE, Francis. Usos da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1986.

Você também pode gostar