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XXXIV Semana da Matemática

Um Modelo Matemático da Primeira Fase do Cálculo da Pena de


Reclusão no Brasil
Caio Cesar Moreira Pinto1, Lourdes Maria Werle de Almeida2
1 Departamento Matemática, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Paraná, Brasil
2 Departamento Matemática, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Paraná, Brasil

Resumo
No presente trabalho, a partir de premissas gerais do sistema jurídico-penal brasileiro acerca da
dosimetria da pena de reclusão, propôs-se um modelo matemático para a análise do cálculo da
pena. Em seguida, o modelo construído é usado para avaliar as decisões em uma ação penal
relativa a um crime de roubo. Considerando os parâmetros da racionalidade matemática, verifica-
se disparidade entre a conclusão a qual se chegou na ação penal e os resultados obtidos a partir
do modelo matemático, de onde surge a questão sobre o papel da Matemática no Direito.
Palavras-chave: Modelagem Matemática. Direito Penal. Dosimetria da Pena.

Introdução
O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise de limites para a discricionariedade de um
juiz no cálculo da pena de reclusão no Brasil com referência à Teoria do Garantismo Penal de
Ferrajoli (2010), especificamente na primeira fase prevista no Decreto-lei nº 2848/40 (Código
Penal – “CP”). Importa observar que esse cálculo deve seguir princípios fundamentais de
Direito. Tem-se em um primeiro grupo, os princípios sobre liberdade, legalidade e presunção de
inocência, conforme delimitado pela Constituição Federal Brasileira (“CF”). O segundo grupo
concerne à igualdade e à proporcionalidade, de modo que duas pessoas terão penas iguais na
medida em que as suas condutas forem equivalentes, sendo diferenciadas de acordo com a
lesividade da conduta.

A decisão judicial deve ser fundamentada e explicitar suas motivações, com base tanto no
ordenamento jurídico, em leis e precedentes judiciais (a jurisprudência), quanto nos fatos
apurados durante o processo judicial (CF, art. 93, IX). Essa é uma exigência de alta importância
em um Estado Democrático de Direito na medida em que reduz a margem de discricionariedade
do poder público, permitindo que o cidadão possa exercer seu direito de defesa, não somente
contra a acusação que lhe é feita, mas também contra arbitrariedades em decisões judiciais. O
magistrado se torna obrigado a explicitar os fundamentos de fato e de direito que o levam a
concluir sobre a materialidade e a autoria do crime bem, como explicitar os fundamentos da
quantidade de pena aplicada.

No sistema jurídico-penal brasileiro há a possibilidade de questionar decisões de um magistrado


por meio da interposição de recurso contra uma decisão judicial. Quando o cálculo ou a
quantidade de pena, conteúdo da sentença definitiva penal condenatória, é questionado, o
recurso a ser analisado é de apelação (CPP, art. 593, I) e é dirigido a desembargadores. Assim,
efetiva-se o duplo grau de jurisdição, na medida em que a decisão judicial de “primeira
instância” (a sentença) pode ser alterada por decisão posterior proferida em “segunda instância”
(o acórdão). Aqui é relevante o princípio do non reformatio in pejus contido no Decreto-lei
3689/19, art. 617 (Código de Processo Penal), segundo o qual o tribunal não pode agravar a pena
quando houver recurso somente do réu.

Observa-se, então, que a decisão judicial deve seguir algum parâmetro de racionalidade para que
possa ser objeto de controle por parte da sociedade. No presente trabalho, olha-se para estes
parâmetros a partir da possibilidade de matematizar o cálculo de pena mediante uma modelagem
matemática. A modelagem matemática como abordagem de uma situação da realidade mediante
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métodos e técnicas da matemática, possibilita apresentar um método de análise da racionalidade
do cálculo da pena, explicitando os limites entre o necessário e o discricionário. O modelo
matemático construído será utilizado para avaliar um caso de uma ação penal sobre crime de
roubo, possibilitando uma análise da decisão judicial para esta situação.

Materiais e Métodos
O cálculo da pena é estruturado em três fases, nos termos do CP, art. 68. A modelagem
matemática aqui realizada compreende a pena de reclusão dentro da primeira fase da dosimetria,
prevista no CP, art. 59:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime:
(...) II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (...)

A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos do


crime, as circunstâncias do crime, as consequências do crime e o comportamento da vítima são
os parâmetros para aferição da quantidade de pena na primeira fase, chamadas de “circunstâncias
judiciais”. A cada uma delas o juiz deverá atribuir um valor jurídico como favorável ou
desfavorável ao réu, ou neutra. Ainda, o CP, art. 59, I afirma que a quantidade de pena deve estar
dentro dos limites previstos. É o que ocorre em todos os tipos penais no Brasil, como é o caso
do crime de roubo: “Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.”.

Adotadas as premissas, inicia-se pela representação formal das variáveis. Seja 𝑖 ∈ ℕ∗ tal que
1 ≤ 𝑖 ≤ 8, definem-se as 𝑐𝑖 circunstâncias judiciais como: 𝑐1 para a culpabilidade, 𝑐2 para os
antecedentes, 𝑐3 para a conduta social, 𝑐4 para a personalidade do agente, 𝑐5 para os motivos do
crime, 𝑐6 para as circunstâncias do crime, 𝑐7 para as consequências do crime e 𝑐8 para o
comportamento da vítima. As proposições são: 𝑑𝑖 como “𝑐𝑖 é desfavorável ao réu”, 𝑓𝑖 como
“𝑐𝑖 é favorável ao réu” e 𝜂𝑖 como “𝑐𝑖 é neutra”. Também: 𝛾𝑖 é a quantidade de pena
correspondente a 𝑐𝑖 ; λ𝑚í𝑛 é o limite mínimo da quantidade de pena; λ𝑚á𝑥 é o limite máximo da
quantidade de pena; 𝐹1 é a quantidade total de pena de reclusão na primeira fase do cálculo da
pena.

Como construir a função 𝐹1 ? Procede-se com essa construção considerando: a) para cada
circunstância judicial corresponde uma quantidade de pena; b) parece intuitivo que as oito
quantidades de pena das circunstâncias judiciais sejam adicionadas ao limite mínimo para a
reclusão; c) consideramos a operação de adição como a realizada pelo magistrado para operar
cada quantidade de pena entre si e o resultado desta operação com o limite mínimo.

Obtemos, então, a quantidade total de pena de reclusão na primeira fase:


8

𝐹1 = 𝜆𝑚í𝑛 + ∑ 𝛾𝑖 (1)
𝑖=1

Assim definidos, os valores jurídicos da pena de acordo com a operação de adição implicam
que, ∀𝑖,

𝑑𝑖 → 𝛾𝑖 > 0 ; 𝑓𝑖 → 𝛾𝑖 < 0; 𝜂𝑖 → 𝛾𝑖 = 0 (2)

O ponto mais problemático do cálculo da pena, entretanto, é a quantificação das muitas


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propriedades do estado de coisas sob julgamento. É possível fazer tal quantificação? De algum
modo ela deve ser realizada, pois o juiz não pode se abster de julgar (CF, art. 5º, XXXV). Essa
questão está no âmago da discussão acerca da discricionariedade do juiz, pertencendo mais ao
campo do Direito e escapando do escopo deste trabalho, o qual investiga não exatamente como
o juiz quantifica, mas sim como ele opera as quantidades discricionariamente determinadas.
Portanto, o modelo não terá predominantemente valor de predição, visto que a quantificação
daquelas propriedades está dentro do espaço de discricionariedade do juiz. A estratégia a ser
adotada, então, é a de elaborar um modelo que evidencie os limites desse espaço e forneça
ferramentas para verificar violações de critérios de racionalidade. Assim, o modelo matemático
terá preponderantemente aquele papel de desenvolver habilidades críticas e reflexivas
(MARTINS; ALMEIDA, 2021). Nesse ponto, faz-se o caminho inverso: da matemática para a
realidade social; da Matemática para o Direito. Investiga-se, por meio da modelagem
matemática, a atividade do magistrado diante das exigências de racionalidade para decisões
verificáveis, refutáveis e controláveis em um Estado Democrático de Direito em oposição ao
irracionalismo inerente a modelos de Estado autoritários e suas arbitrariedades.

Resultado e Discussão
Para ilustrar como o modelo matemático pode ser usado, aborda-se uma situação em que duas
decisões judiciais sucessivas são comparadas, sendo uma sentença e um acórdão de apelação da
mesma sentença. Introduz-se o índice 𝑘 ∈ ℕ∗ nas notações já definidas para distinguir a qual
decisão cada elemento pertence, seguindo-se a ordem temporal das decisões a ordem sucessiva
dos números naturais. Por exemplo, a quantidade de pena 𝛾𝑖𝑘 será determinada como 𝛾𝑖1 se
pertencer à primeira decisão (sentença) e como 𝛾𝑖2 se pertencer à segunda decisão (acórdão).
Para fins de simplificação, será adotado o modelo (1) no seguinte modo:
8

𝐹1𝑘 = 𝜆𝑚í𝑛 + ∑ 𝛾𝑖𝑘 (3)


𝑖=1

Traz-se como exemplo a ação penal de processo nº 0000859-19.2012.8.14.0070, na qual é


julgado um crime de roubo, cuja sentença sobre a dosimetria da pena foi a seguinte:
Analisadas as diretrizes do art. 59, constato que o réu agiu com culpabilidade
normal à espécie nada tendo a valorar; não possui bons antecedentes,
conforme certidão (fls.38 vº em apenso); Não há elementos para aferir a
conduta social e a personalidade do acusado; motivos do crime é a busca do
lucro fácil; circunstâncias do crime não o recomendam, porquanto se
encontrava com emprego de arma e em concurso de agente dificultando a
defesa da vítima, o que não passo a valorar por serem causas de aumento de
pena, para, assim, não proceder em bis in idem; conseqüências extra-penais
foram graves, pois a vítima não teve o bem recuperado; não há provas de
que a vítima tenha contribuído para a prática do delito, motivos pelos
quais entendo que o acusado deva ter a sua pena base estabelecida acima no
mínimo legal, ou seja, 8 anos e 9 meses de reclusão e 15 dias-multa.
(BRASIL. TJPA. Processo nº 0000859-19.2012.8.14.0070. Sentença. Juiz de
Direito: Deomar Alexandre de Pinho Barroso. Vara Criminal de Abaetetuba.
Julgado em: 05/09/2012 – Ênfase adicionada)

Nota-se que não foi valorado juridicamente de modo explícito o comportamento da vítima, no
entanto, como será visto adiante no acórdão, será considerado como desfavorável ao réu,
totalizando quatro circunstâncias desfavoráveis, nenhuma favorável e quatro neutras. Assim, do
CP, art. 157 supracitado, tem-se 𝜆𝑚í𝑛 = 4 𝑎𝑛𝑜𝑠, e da sentença, tem-se que:
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𝜂11 𝑒 𝑑21 𝑒 𝜂31 𝑒 𝜂41 𝑒 𝑑51 𝑒 𝜂61 𝑒 𝑑71 e 𝑑81 (4)

Além disso, 𝐹11 = 8,75 𝑎𝑛𝑜𝑠 (5)

Pode-se determinar, então, a quantidade de pena acima do limite mínimo:


8 8

8,75 = 4 + ∑ 𝛾𝑖1 ⇒ ∑ 𝛾𝑖1 = 4,75 ⇒ 𝛾21 + 𝛾51 + 𝛾71 + 𝛾81 = 4,75 (6)
𝑖=1 𝑖=1

No caso, somente o réu recorreu da sentença para o Tribunal de Justiça, requerendo redução da
quantidade da pena de reclusão. O tribunal decidiu conforme trecho da decisão a seguir:
(...) 1. Das circunstâncias consideradas desfavoráveis ao réu, apenas uma é
passível de correção, qual seja, os antecedentes criminais, estando
equivocada a valoração negativa procedida pelo Magistrado sentenciante (...).
2. O Magistrado sentenciante, porém, só está autorizado a estabelecer a pena
no mínimo legal, caso todas as circunstâncias judiciais sejam favoráveis ao
réu, não sendo esta a hipótese dos autos, onde persistem como desfavoráveis
os motivos, as consequências do crime e o fato de a vítima não ter contribuído
para o crime, devendo permanecer intocado o quantum da pena (...).
(BRASIL. TJPA. Processo nº 0000859-19.2012.8.14.0070. Apelação.
Relatora: Dese. Vânia Lúcia Silveira. Órgão Julgador: 1ª Turma de Direito
Penal. Julgado em: 21/03/2014)

Da fundamentação contida no acórdão, tem-se que ocorrem:

𝜂1 2 𝑒 𝜂2 2 𝑒 𝜂3 2 𝑒 𝜂4 2 𝑒 𝑑52 𝑒 𝜂6 2 𝑒 𝑑72 e 𝑑82 (7.1)

𝐹12 = 8,75 𝑎𝑛𝑜𝑠 (7.2)

Logo:
8 8

8,75 = 4 + ∑ 𝛾𝑖2 ⇒ ∑ 𝛾𝑖2 = 4,75 ⇒ 𝛾52 + 𝛾72 + 𝛾82 = 4,75 (8)


𝑖=1 𝑖=1

Dado que somente a defesa recorreu da sentença, então a pena não pode ser aumentada em razão
do non reformatio in pejus. Logo, as quantidades de pena das duas situações devem ser
comparadas. À primeira vista, conforme o acórdão, verifica-se a igualdade:

𝐹11 = 𝐹12 (9)

E, por (5) e (7.2), 4,75 = 4,75 (10)

Verifica-se que (10) é uma proposição verdadeira, então o CP, art. 617 não estaria violado. No
entanto, se o tribunal alterou 𝑑2 para 𝜂2 de modo que 𝛾22 = 0, a quantidade de pena em 𝐹1 não
deveria ter sido reduzida? A isso pode-se responder com outra questão: o CP, art. 617 faz
referência a que pena? A 𝐹1 ou a cada 𝛾𝑖 ? Se se referir a 𝐹1 , então não houve ilegalidade por
parte do tribunal. Se se referir a 𝛾𝑖 , deve-se verificar a partir do modelo o que ocorre com as
quantidades de pena fracionárias. Nesse sentido, por (6), (8) e (9), tem-se:

𝛾21 + 𝛾51 + 𝛾71 + 𝛾81 = 𝛾52 + 𝛾72 + 𝛾82 (11)

Segundo o acórdão, não houve quaisquer alterações em 𝛾51 , em 𝛾71 nem em 𝛾81 . Portanto:
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𝛾51 = 𝛾52 ; 𝛾71 = 𝛾72 ; 𝛾81 = 𝛾82 (12)

De (11) e (12) decorre que:

𝛾21 = 0 (13)

No entanto, a partir de (2) e (4) pode-se afirmar que:

𝛾21 > 0 (14)

Entra-se em uma contradição entre (13) e (14). O que significa esse impasse? A comparação
feita pelo art. 617 pressupõe a primeira decisão para avaliar a legalidade da segunda decisão,
então significa que o problema está no acórdão, não na sentença. Dada a ordem das decisões, o
tribunal não poderia ter afirmado (13), isto é, que a sentença recorrida teria valorado os
antecedentes como neutro (𝜂21 ), visto que não pode alterar o fato de o juiz sentenciante ter
valorado desfavoravelmente os antecedentes. Então significa que algo no acórdão é falso.

Presumindo-se verdadeiro que 𝐹12 = 8,75, qual ou quais seriam as situações em que se pode
chegar à conclusão de (9), ou seja, na manutenção da pena no mesmo patamar apesar de alterar
o valor jurídico dos antecedentes de desfavorável para neutro?

Na medida em que 𝛾21 > 0, para que (11) seja verdadeira, tem-se que:

𝛾51 + 𝛾71 + 𝛾81 < 𝛾52 + 𝛾72 + 𝛾82 (15)

Portanto, pelo menos uma das igualdades da premissa de (12) é falsa, ou seja, pelo menos uma
𝑐𝑖 deve ter seu valor alterado. Supondo 𝛾51 = 𝛾52 falsa e as demais verdadeiras, então:

𝛾51 < 𝛾52 (16)

Analogamente, se 𝛾71 = 𝛾72 é falsa e as demais verdadeiras, então 𝛾71 < 𝛾72 ; e, se 𝛾81 = 𝛾82 é
falsa e as demais verdadeiras, então 𝛾81 < 𝛾82 . Supondo 𝛾51 = 𝛾52 verdadeira e as demais falsas:

𝛾71 + 𝛾81 < 𝛾72 + 𝛾82 (17)

Analogamente, se 𝛾71 = 𝛾72 é verdadeira e as demais falsas, ou e 𝛾81 = 𝛾82 falsa e as demais
verdadeiras, tem-se (𝛾5 + 𝛾81 ) < (𝛾52 + 𝛾82 ) ou (𝛾51 + 𝛾71 ) < (𝛾52 + 𝛾72 ), respectivamente.
Não é possível saber qual destas possibilidades é a verdadeira. Porém, para que 𝐹11 = 𝐹12 seja
satisfeita, pelo menos uma delas deve ser verdadeira. Isso significa que a retirada da quantidade
de pena referente aos antecedentes na sentença precisa ser “compensada” com o aumento em
pelo menos uma das quantidades de pena das outras circunstâncias judiciais no acórdão.
Presumindo verdadeiras as premissas expressas em (12), do acórdão, de (6) decorre que:

𝛾21 + 𝛾52 + 𝛾72 + 𝛾82 = 4,75 (18.1)


8

𝛾21 + ∑ 𝛾𝑖2 = 4,75 (18.2)


𝑖=1

(𝜆𝑚í𝑛 ) + ∑ 𝛾𝑖2 = (𝜆𝑚í𝑛 ) + 4,75 − 𝛾21 (18.3)


𝑖=1
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8

𝜆𝑚í𝑛 + ∑ 𝛾𝑖2 = 4 + 4,75 − 𝛾21 (18.4)


𝑖=1

𝐹12 = 8,75 − 𝛾21 (18.5)

Como, por (14), 𝛾21 > 0, tem-se que:

𝐹12 < 8,75 (19)

Nesse caso, confirma-se a primeira suspeita de que a pena deveria ter sido reduzida no acórdão,
caso contrário, alguma das circunstâncias judiciais desfavoráveis do acórdão teria quantidade
maior do que à correspondente da sentença. Com efeito, se se entende que o CPP, art. 617 se
refere também às quantidades de pena fracionárias, aquelas correspondentes a cada circunstância
judicial, então o acórdão analisado violou o non reformatio in pejus, sendo uma decisão ilegal.

Conclusão
A partir de premissas gerais do sistema jurídico-penal brasileiro acerca da dosimetria da pena de
reclusão, propôs-se um modelo matemático para a análise do cálculo da pena, analisando-se
posteriormente uma situação particular de uma ação penal sobre crime de roubo. O modelo
matemático construído leva em consideração as circunstâncias indicadoras de quantidades de
pena (premissas) e simplificações, bem como propriedades e regras matemáticas. Assim, pode-se
questionar: se fosse um modelo em que são multiplicadas as quantidades de pena em vez de somá-
las, chegar-se-ia à mesma conclusão? Além disso, aceitando-se o modelo proposto, a Matemática
pode e deve ser parâmetro de verificação de racionalidade para a atividade judicial do magistrado?
Tais questões suscitam discussões críticas no que concerne o papel dos modelos matemáticos e
da Matemática em problemas sociais e, particularmente, no Direito.

Referências
[1] FERRAJOLI, L. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. tradução de: Ana Paula
Zomer, Sica Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavarez e Luiz Flávio Gomes. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010.
[2] MARTINS, B. O.; ALMEIDA, L. M. W. Modelagem matemática: dos entendimentos às
finalidades. Vidya (Online), v. 41, p. 113-128, 2021.

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