Você está na página 1de 14

ANÁLISE URBANA E GEOMORFOLÓGICA: OCUPAÇÃO NA

COMUNIDADE PARQUE SÃO PEDRO, BAIRRO TARUMÃ (MANAUS-AM)

Fredson Bernardino Araújo da Silva


Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
fbernardino1997@gmail.com
Gabriele Figueira Santana
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
gabrielefigueira.santana@gmail.com
Marcos Castro de Lima
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
castrolmar1@gmail.com

INTRODUÇÃO
A geomorfologia urbana, conforme Guerra (2011), bem como Albuquerque e Cruz
(2018), subsidia a facilitação do planejamento na organização espacial urbana. A
geomorfologia antrópica, neste sentido, é colocada à serviço dos estudos dos estágios de
urbanização (JORGE, 2011). Assim, utiliza-se esse ramo da geomorfologia para
propiciar uma resolução sobre o sítio na diferenciação espacial intra-urbana.
Na espacialização da ocupação, sobretudo no meio urbano, leva-se em conta o
preço/valor da terra, podendo funcionar como fator de separação, resultando numa
segregação socioespacial (SOUZA, 2013). Esse processo pode se dar não somente sobre
a dinâmica topográfica (geométrica, sítio e etc.), mas também sob a ótica topológica
(acessibilidade, base técnica) e do espaço vivido.
Sob essa concepção, o recorte espacial desta abordagem é a comunidade Parque São
Pedro, localizada no distrito de Tarumã II, bairro Tarumã, Zona Oeste, Manaus - AM.
Apesar de se constituir como uma área periférica da metrópole, a comunidade vem
sendo valorizada pelo comércio e serviços, como farmácias, lojas e linhas de ônibus, os
quais apresentam rotas entre a comunidade e o centro (especialmente o bairro Centro, na
Zona Centro-Sul, principal centralidade da metrópole e centro histórico), além de ter
recebido um colégio militar de período integral. O que pode sinalizar, conforme
argumentação, uma mudança na instância social por meio dos aparelhos ideológicos do
Estado.
Estudos que relacionam os padrões de urbanização e a geomorfologia na comunidade
Parque São Pedro ainda são escassos, pois não se encontrou nenhum estudo que
vinculasse essas duas questões diretamente. Nesse sentido, a proposta deste trabalho é
compreender, a partir dos setores topográficos (fundo de vale, vertente e platô), as
formas de ocupação. Não obstante, relaciona-se com a dinâmica dos agentes
modeladores do espaço (CORRÊA, 1987; BERNARDINO e LIMA, 2021).

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Para isso, a análise geomorfológica é instrumentalizada para identificação e
mapeamento dos compartimentos de relevo determinados por fatores naturais,
originados por processos climáticos passados e atuais (FUJIMOTO, 2005). Em suma,
trata-se dos processos ligados ao relevo correlacionados à ocupação humana, isto é, é
referente à relação sociedade/espaço.
Ao contextualizar, na metrópole Manaus, ocorre um processo de metropolização do
espaço por indução estatal, como colocado por Lima (2014) e Sousa (2013). É nesse
contexto que a metrópole da Amazônia Ocidental e, consequentemente, a comunidade
Parque São Pedro estão inseridos. Nesta lógica, dentro da reflexão sobre a globalização,
destaca-se que o processo de metropolização do espaço não pode ser compreendido de
forma homogênea (LENCIONI, 2012). Isso significa que a premissa de uma metrópole
que não dispõe em sua integralidade de uma infraestrutura qualificada (entre outras
questões topológicas) demanda a ênfase em estudos, como nesta oportunidade, voltados
para o planejamento urbano e o sanitarismo.
Desse modo, pretende-se em um aprofundamento sobre os processos de ocupação
urbana e sua relação com o modo de vida, além das condições geomorfológicas, como
na disposição topográfica: platô, vertente e vale.

OBJETIVOS
Geral:
Compreender a relação da ocupação urbana com a geomorfologia na comunidade São
Pedro, bairro Tarumã (Manaus-AM).
Específicos:
● Caracterizar os elementos geomorfológicos da tríade topográfica na área de
estudo;
● Espacializar o esgotamento sanitário e a densidade demográfica;
● Analisar a produção espacial urbana com relação ao sítio da área de estudo.

METODOLOGIA
A partir de observação preliminar e para o desenvolvimento da pesquisa foi observada a
hipótese de que em comparação com o(s) fundo(s) de vale, o(s) platô(o) apresenta(m)
uma infraestrutura mais qualificada e que pode ser apreendida, dentre outros
indicadores, pela distribuição e acesso ao esgotamento sanitário e pelo adensamento.
Para isso, a metodologia foi dividida em trabalho em campo e levantamento de dados. A
primeira visita em campo foi realizada na comunidade para a construção de

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
entendimentos preliminares e construção de uma hipótese norteadora. Foi verificado,
entre outros elementos: platô como a área mais valorizada, contando com a presença de
uma coesão comercial e uma estrutura religiosa.
A pesquisa também seguiu com o levantamento de dados primários e secundários, em
que o primeiro contou com duas visitas em campo para observação e registros no perfil
topográfico, já os dados secundários contam com dados do IBGE para a caracterização
socioeconômica, distribuição do acesso ao esgotamento sanitário e densidade
demográfica por setor censitário; no Topodata para download de imagem SRTM e
consequente extração de dados de hipsometria e; no Atlas Brasil para análise do IDH. O
material cartográfico foi elaborado nos softwares Qgis e Arcgis, além de criar
posteriormente questionários online para moradores por conta do período da pandemia
causada pelo vírus da Covid-19.
RESULTADOS
Pode-se dizer que o setor comercial cresceu junto com a comunidade prestando serviços
não tão recorrentes no centro da cidade, como por exemplo o estabelecimento do
“peixeiro”, um tratador e vendedor de peixe que comumente atua em calçadas de vias
de importância local. Esses objetos mais antigos, como também é exemplo da igreja
católica São Pedro, compõem atualmente, juntamente de outros estabelecimentos mais
recentes, a área de maior dinamismo do estudo, o que demonstraremos a seguir com
maior ênfase.
Sendo uma ocupação irregular, denominada “invasão” pelos moradores, tendo as
primeiras residências improvisadas e alguns pontos de comércio informal, a comunidade
carecia de saneamento básico, escolas, unidades de saúde, circulação de transporte
público e asfaltamento das vias. Com isso, a Prefeitura e o Governo do Estado
produziram esses objetos para atender à necessidade básica dos primeiros moradores.
Essa intervenção estatal, ainda que muito precária, denota uma instrumentalização dos
serviços sociais pelo estado para fins personalistas, onde é olvidada a questão da
ocupação irregular pelo estado em detrimento de ganhos políticos, em suma, há um
aparelhamento ideológico estatal que muitas vezes é utilizado para finalidade eleitoreira.
Como já abordado, a área de estudo está localizada no bairro Tarumã, Zona Oeste da
metrópole Manaus, a comunidade Parque São Pedro está nas coordenadas 3º00’14.69’’S,
60º02’03.33’’O (Mapa 1). O bairro Tarumã tem limite com outros bairros: Ponta Negra,
Lírio do Vale, Planalto, Redenção, Bairro da Paz, Colônia Terra Nova e Santa Etelvina,
compreendendo, do ponto de vista territorial, o maior bairro de Manaus. A comunidade,
além de outras comunidades do próprio bairro Tarumã, apenas é limitada pelo bairro
Colônia Santo Antônio. A maior parte dos moradores da comunidade são oriundos de
Manaus, todavia, encontram-se muitos moradores originários do interior do estado,
como o município de Maués (leste do Amazonas) e de outros estados como Maranhão,
Pará e Ceará.

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Mapa 1: Localização da área de estudo

Fonte: Trabalho em campo (2020), SEMSA (2010), Street View (2017). Elab.: Fredson
Bernardino, Gabriele Santana e Lucas Campelo (2020).

Pode-se dizer, no contexto da comunidade, que esse trecho que está situado em um platô
e se constitui como principal centralidade da área de estudo. Como é característica das
centralidades, o comércio é um forte atrativo para os moradores e visitantes do local,
neste caso, situado no platô com alto fluxo de entrada e saída de pessoas. As lojas de
maior porte, como a loja Bemol, Shopping da Maquiagem, Salmo 21, Supermercado
Nordeste e colégio IDAAM, escolhem estabelecer atendimento nessas áreas para
alcançar maior público. A lógica de atuação parte de uma seletividade espacial visando
um eixo periférico, isto é, um grupo de “socialmente excluídos” (CORRÊA, 1987 e
1992) que, especialmente do ponto de vista topológico, mora longe do centro comercial
metropolitano de Manaus, assim, constitui-se uma estratégia de vendas, de lucro e,
muitas vezes, de endividamento (SILVEIRA, 2009).
O CMPM III - E. E. Prof. Waldocke F. de Lyra está localizado no platô, Entrada da
Comunidade. O início das aulas do colégio militar integral na comunidade foi no ano de
2012 e teve como objetivos veiculados oferecer maior segurança para os moradores e
educação formal de qualidade.

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Quanto à infraestrutura da comunidade em comparação com o condomínio Residencial
Nascentes do Tarumã, localizado ao norte da comunidade, é de grande disparidade,
especialmente na questão do argumento racional e calçamento regular. Para construção
do condomínio, QUAL CONDOMINIO? APARECE ABRUPTAMENTE AQUI houve
desflorestamento, o que ocasionou um dano ecológico, pois animais silvestres foram
prejudicados tendo interferência no seu habitat. Os moradores mais antigos na
comunidade citaram a presença de pássaros e até macacos, alguns destes animais
morreram e outros chegaram a entrar em residências da comunidade na tentativa de fuga
das máquinas e migração para outros lugares.
Por imagem de satélite, é possível observar a evolução da paisagem próxima a
comunidade (Figura 1). O início do desmatamento começou antes, mas o corte-raso
ocorreu em 2011, a terraplanagem em 2012, a fundação em 2013, a construção da
estrutura em 2014, e a inauguração do condomínio ocorreu em 2015. Em menos de
cinco anos houve uma metamorfose da paisagem, em uma área estimada de 206.320 m².
Figura 1: Modificação da paisagem para construção do condomínio Residencial
Nascentes do Tarumã. A) Junho de 2007 B) Outubro de 2020.

Fonte: Google Earth (2020).

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Na comunidade, durante trabalho em campo, conforme figura (02), fez-se as seguintes
observações gerais: como ocorre na maior parte dos bairros de Manaus, há ausência de
calçadas regulares, sinalização e o esgotamento mínimo, sendo que os principais pontos
críticos em relação a estrutura urbana está no fundo de vale da comunidade, algumas
casas estão no limite entre o esgoto a céu aberto. Também é possível observar os muros
que separam o condomínio particular da comunidade, são realidades distintas, no
entanto, muito próximas. Quanto à segregação infraestrutural, destaca-se, na figura
(2-B), a ponte improvisada de madeira na qual os moradores utilizam para o tráfego
sobre o esgoto a céu aberto. De todo modo, esse quadro se trata de uma realidade
inadequada que vulnerabiliza os moradores, com especial atenção na questão sanitária e
condições de trânsito. O trânsito dos moradores das suas residências para as principais
vias é intermediado por potenciais focos de veiculação de doenças, visto que os
transeuntes ficam expostos à proliferação de patologias. A localização desse ponto em
específico se encontra no fundo de vale.

Figura 02: Segregação por infraestrutura e moradia - A) Muro que divide


comunidade e o condomínio Residencial Nascentes do Tarumã. B) Casas próximas
ao esgoto a céu aberto.

Autoria e Org.: Gabriele Santana (2020).

RELAÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA COM A GEOMORFOLOGIA NA


COMUNIDADE SÃO PEDRO
O mapa (02) demonstra que comunidade está compreendida em uma área que
varia sua altimetria de 20 a 120 metros. O platô (tonalidade vinho) é a área em que há a
maior parte dos comércios, boa parte informal, maior circulação de pessoas e tráfego de
automóveis, portanto, configura o platô a principal centralidade da comunidade. Pode-se
dizer que é a mais valorizada da comunidade, no sentido de vendas e serviços, pois é
onde se situam os principais pontos de comércios e escolas.

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Mapa 2: Hipsometria da Comunidade Parque São Pedro.

Fonte: SRTM (2019), Trabalho em campo (2020), Google Earth (2021). Elab.: Fredson
Bernardino, Gabriele Santana e Lucas Campelo (2020).

Na vertente superior (laranja) e vertente inferior (amarelo), próximo à avenida


principal estão a maioria de residências e ainda poucos estabelecimentos comerciais,
onde há circulação de linhas de ônibus. No fundo do vale (verde), não há objetos que se
relacionem à grandes centralidades e, pode-se dizer, é onde se encontram as parcelas de
terra menos valorizadas. Essa menor valorização também pode ser sinalizada pela falta
de concentração de fixos que indicam centralidades: escolas, igrejas e centros
comerciais mais dinâmicos e coesos.
De acordo com o mapa (3) de densidade demográfica da comunidade de 2010, a
taxa de habitantes por hectare nas cores verde claro e escuro está distribuída por setores.
No tom em verde escuro é caracterizado como o platô, ponto mais alto do relevo, onde
há uma concentração de moradores de 200,00 a 1767,70 por Km². O tom em verde
médio, na porção da vertente superior e inferior compreende um número de moradores
entre 12,010 por Km². Quanto ao fundo de vale e centro-norte da comunidade em tons
de verde claro, cerca de 00 a 0,55 de pessoas residem nessa porção de terra.

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Mapa 03: densidade demográfica do Parque São Pedro.

Fonte: Trabalho em campo (2020), SEMSA (2010), Street View (2020). Elab.: Fredson
Bernardino, Gabriele Santana e Lucas Campelo (2020).

Platô, a centralidade da comunidade


A Entrada da Comunidade dá-se no platô, onde se pode encontrar até hoje a religiosa da
igreja católica São Pedro, uma das primeiras estruturas da localidade. É importante
destacar que a produção desse tipo de objeto religioso é, no contexto brasileiro,
comumente símbolo do início de uma fixação em uma área em crescimento, pois, entre
outras questões, é possível mobilizar o público em reuniões constantes e um lugar fixo
de encontro. Isso, de certa forma, contribui para que os moradores desenvolvam
identidade entre si e de pertencimento. Após a inserção da igreja, a comunidade passou a
ser reconhecida com o nome do padroeiro, São Pedro.
Ainda no platô, a principal entrada da comunidade é onde a maior parte dos
estabelecimentos comerciais formais da comunidade estão. Encontra-se uma confluência
de formas de comércio, uma diversidade de giro de capital. No local é possível ter
acesso aos estabelecimentos mais formais como farmácias, salões de beleza, venda de
roupas, papelarias, materiais de construções conforme a figura (03). Outro ponto que
indica uma maior centralidade é são as trocas que, neste caso, ocorrem com grande

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
presença do comércio informal, destaca-se os brechós e bazares caracterizados por
vendas de roupas e utensílios usados.
Figura 03: A) Entrada da comunidade São Pedro, local de encontro de serviços e
comércios. B) Igreja católica na entrada da comunidade.

Autoria e Org.: Gabriele Santana (2020).

Vertente, um intermédio do relevo e da precarização

Na figura (04), uma das vertentes principais da comunidade é traçada pela rua Jardim
Primavera, paralela à rua Goiânia. A altitude dessa vertente está entre 70 e 90 metros.
Ressalta-se que, nesse trecho, somente a rua Goiânia e rua do Comércio dão acesso às
duas linhas de ônibus (324, 059) que transitam entre o platô e o fundo de vale. As
ramificações das vias principais das vertentes já citadas — rua Goiânia e rua do
Comércio — apresentam um asfalto mais precário, em alguns casos, por consequência
da falta de sistema de drenagem pluvial ou esgoto mal estruturado. Nessas vias
ramificadas, é possível observar o escoamento na parte central das ruas sendo conduzido
apenas pelo declive (sentido platô-fundo de vale). Com isso, é perceptível que, em
comparação a valorização que ocorre no platô, os trechos de vertente variam em
qualificação urbanística, especialmente na questão do arruamento e na produção de
centralidades.

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
Figura 4: vertente, Rua Jardim Primavera.

Autoria e Org.: Gabriele Santana (2020).

Fundo de vale, precariedade e emergência sanitária

As casas do setor de fundo do vale da comunidade Parque São Pedro são, em grande
maioria, mais precárias. A figura (5) mostra a descida para casa de fundo de vale,
localizada na parte oeste da comunidade, é notório a carência de asfaltos na rua e muitas
casas estão postas à venda ou para aluguel por conta da insatisfação dos moradores com
o lugar, seja por falta de saneamento, dificuldade ao acesso de veículos de serviços
essenciais como as ambulâncias e viaturas ou pela insegurança.
Figura 5: vale, Rua Santo Antônio.

Autoria e Org.: Gabriele Santana (2020).

Ao adentrar no fundo de vale da comunidade a dificuldade de registrar imagens fica


maior, pois os moradores não se sentem à vontade com a presença de pessoas que não
sejam “conhecidas entre si”, alguns sentem-se acuados com a presença de câmeras,

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
porém outros com receio, desejam saber para que os registros servem. Nesse momento é
visível a dificuldade do pesquisador em áreas mais fechadas.
Para os demais registros foi necessário estar em ruas mais movimentadas. O que
pode-se notar em tal setor geomorfológico foram casas interrompendo o fluxo dos canais
fluviais e o intenso despejo de resíduos sólidos (lixo) nos mesmos. A figura (6) mostra
pontes feitas por moradores para acesso de suas casas para as ruas. Algumas casas são
mistas, parte alvenaria e parte de madeira, outras são por completo de alvenaria e com
altos batentes para impedir a entrada das enchentes, principalmente em ruas sem saída.

Figura 6: Elementos de precarização - A) fundo de vale, córrego dividindo as casas


das ruas. B) rua sem saída.

Autoria e Org.: Gabriele Santana (2020).

ESGOTAMENTO SANITÁRIO E A DENSIDADE DEMOGRÁFICA

O esgotamento sanitário da comunidade e das proximidades em 2010 ainda se apresenta


de forma precária, como observado no mapa (4). A rede de esgotamento é
predominantemente representada na cor vermelha, segundo o mapa, de 0-20% dos
domicílios da comunidade têm acesso à rede geral de esgotamento sanitário, isso
compreende majoritariamente a comunidade desde o platô até o fundo de vale com
algumas exceções, tal fato indica que a maioria das residências dispõem de esgoto mal
estruturado. Em mapa, faixa vermelha se estende do platô ao fundo de vale. Uma das

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
hipóteses levantadas em campo para explicar esse quadro é que moradores do fundo de
vale estavam altamente vulneráveis a enchentes em suas casas por conta da declividade
do relevo bem como a falta de infraestrutura pública nas vias e viram-se obrigados a
buscar alternativas para o escoamento das águas pluviais e de eventual transbordo do
lago. Foi justamente a emergência dessas enchentes que demandou a intervenção da
Prefeitura na localidade.
Logo, a parte em verde mais ao norte possui de 60 a 80% de acesso à rede geral de
esgoto. Quanto ao platô, por não haver consequências diretas com enchentes, não ocorre
o mesmo apelo por intervenção que houve em parte do fundo de vale, tendo visto, que
este setor geomorfológico não há grandes concentrações de água, ainda assim, os
moradores ainda continuam vulneráveis a outros tipos de problemas como a proliferação
de doenças por falta de manutenção e despejo desordenado nas vias.
O maior período de chuvas na Amazônia compreende-se entre os meses de novembro a
março, este mesmo período oferece riscos à moradores em áreas de risco ocasionando
um dos problemas mais comuns como quedas em bloco, deslizamentos e enchentes, não
apenas na comunidade São Pedro, mas em áreas de grandes declives como as zonas
norte e leste de Manaus.
Mapa 4: Distribuição da rede geral de esgoto.

Fonte: OSM (2011), Trab. em campo (2020), IBGE (2010). Elab.: Fredson Bernardino, Gabriele
Santana e Lucas Campelo (2020).

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das análises anteriores foi possível observar a espacialidade das residências pelos
setores do relevo, na comunidade São Pedro, apesar de ser uma pequena área, pode-se
observar muitas realidades que estão presentes na metrópole Manaus e no Brasil, a
forma que as pessoas são segregadas pelas casas e assentamentos onde vivem.
Quanto ao relevo é possível encontrar a maioria das residências e áreas mais precárias
na porção do fundo de vale, porção essa que se encontra próximo aos córregos e canais,
e que são menos valorizados na cidade por conta dos problemas que trazem para o meio
urbano, isso porque, na maioria dos casos esses canais fluviais são abandonados pelo
poder público e ficam a mercê das ocupações desprovidas de urbanismo, não havendo,
por consequência, o dever de cuidar desses canais, que se tornam lugar de despejo de
resíduos e efluentes, prejudicando a não só o meio ambiente como a saúde de quem
reside próximo a essas áreas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, Emanuel Lindemberg Silva; CRUZ, Maria Lúcia Brito da. A
Geomorfologia Urbana Como Subsídio Para o Planejamento Territorial do Município de
Horizonte – CE. Disponível: <http://lsie.unb.br/ugb/sinageo/7/0108.pdf>. Acesso em: 15 de
maio de 2019. Brasília: 09 de março de 2018.
BERNARDINO, Fredson A. S.; LIMA, M. C. Introdução à Geografia estruturalista e
análise urbana. In: Marcos Castro de Lima; Nelcioney Araújo; Manoel Masulo Cruz. (Org.).
Dimensões espaciais do político, do urbano e do agrário na amazônia. 1ed. Embu das
Artes-SP; Manaus-AM: Alexa Cultural; Edua, 2021, p. 1-15.
CORRÊA, Roberto L. O espaço urbano. Rio de Janeiro: Ática, 1987.
FUJIMOTO, N. S. V. M. Considerações sobre o ambiente urbano: um estudo com ênfase na
geomorfologia urbana. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo: FFLCH/USP, n.
16, p. 76-80, 2005.
GUERRA, Antônio José T. Encostas Urbanas. In: GUERRA, A. T. (org.). Geomorfologia
Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
JORGE, M. do C. O. Geomorfologia Urbana: Conceitos, Metodologias e Teorias In:
GUERRA, A. T. (org.). Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
LENCIONI, Sandra. Metropolização do Espaço: processos e dinâmicas. SP: São Paulo,
2012 (mimeo).

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758
LIMA, Marcos Castro de. Quando o amanhã vem ontem: a institucionalização da região
metropolitana de Manaus e a indução ao processo de metropolização do espaço na Amazônia
ocidental. Tese de doutorado em Geografia Humana defendida junto à Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo: setembro, 2014.
SILVEIRA, María Laura. Finanças, consumo e circuitos da economia urbana na cidade
de São Paulo. Cad. CRH [online]. 2009, vol.22, n.55, pp.65-76. ISSN 0103-4979
<http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792009000100004>.
SOUSA, Isaac. A ponte Rio Negro e a Região Metropolitana de Manaus: adequações no
espaço urbano-regional à reprodução do capital. Tese de doutorado em Geografia Humana
defendida junto à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo. São Paulo, 2013.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB – Diretoria Executiva Nacional (2020-2022) –


Av. Lineu Prestes, 338, Geografia/História – Cidade Universitária/USP, São Paulo – SP, CEP:
05508-900, telefone: (11) 3091-3758

Você também pode gostar