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1. Introdução
Tecnicamente, faz-se a distinção entre: a) acidentes que são aqueles que causam danos
materiais, lesões aos seres humanos, incluindo a morte, ou também a contaminação ambiental em
diversos graus; b) incidentes nos quais as conseqüências adversas não são graves; c) ameaças,
que são os casos nos quais um acidente não chega a ocorrer, mas que faltou pouco para ocorrer.
Os incidentes e as ameaças são muito importantes, já que na prática podem ser advertências
oportunas da existência das condições para um acidente acontecer. Portanto, a sua pesquisa e
análise é muito importante, visto que permitem adotar as medidas adequadas para evitar ou
reduzir os acidentes ou a gravidade.
Quando as ações posteriores ao acidente são feitas de maneira correta, permitem determinar as
suas causas e sugerir a tempo as medidas adequadas para reduzí-las ou eliminá-las; e portanto,
contribuir para evitar acidentes futuros. Uma pesquisa profunda pode identificar as áreas-
problema em uma organização ou setores vulneráveis em uma comunidade e contribuir para a
redução dos respectivos riscos. Quando isto ocorre, o resultado é uma comunidade muito mais
protegida ou um ambiente de trabalho mais seguro.
Este tipo de pesquisa, ainda que menos espetacular que aquela posterior a um acidente
importante, talvez seja muito mais valiosa, já que permite identificar oportunamente as causas
menores que, geralmente, passarão desapercebidas mas que, em conjunto, podem causar um
acidente grave.
2. Objetivos
O objetivo da pesquisa do acidente é identificar os fatos e as condições nas quais este aconteceu,
bem como cada um dos danos provocados, além de registrar estes dados e avaliá-los.
O registro dos danos é um indicador sobre as áreas, condições e circunstâncias onde devem estar
dirigidos os esforços de prevenção.
Os sete grupos de dados que reúnem o mínimo que se deve conhecer sobre um acidente são:
Neste grupo também devem anotar as ações que deveriam ter sido adotadas e que não foram,
bem como as recomendações sobre o equipamento individual de proteção, treinamento, revisões e
modificações dos procedimentos operacionais e qualquer outra ação corretiva que possa contribuir
para evitar que acidentes semelhantes ocorram.
4. Pesquisa do acidente
Portanto, a pesquisa dos acidentes deve ser objetiva e estar dedicada à obtenção de dados, não à
procura de culpados, verdadeiros ou falsos. Se isto não for entendido claramente desde o
princípio, corre-se o risco que a pesquisa cause mais danos do que benefícios. Ao mesmo tempo, a
credibilidade do pesquisador fica muito reduzida entre as pessoas que devem lhe ajudar, bem
como o apoio e a informação destas pessoas e que pode ser muito importante.
Isto não significa que o pesquisador deve passar por alto os atos errôneos ou irresponsáveis que
ele conheça, nem encobrir os causantes de qualquer ação perigosa que tinha contribuído ao
acidente, se os identificar. Porém, o seu principal objetivo é recolher dados sobre os fatos e
analisá-los de maneira objetiva, para que a pesquisa e o relatótio que surja dela possam contribuir
realmente a evitar acidentes futuros.
É muito importante que a pesquisa seja realizada por uma pessoa com experiência que possa
identificar todos os pontos críticos antes e durante o acidente. Além disso, esta pessoa deve estar
capacitada para dar-lhes o devido ênfase, de modo que as conclusões reflitam a realidade, tanto
aparente como oculta e que as recomendações sejam verdadeiramente úteis e as causas do
acidentes sejam corregidas.
5.1 Tempos
A pesquisa deve ser realizada com a maior brevidade, uma vez que o acidente tenha sido
controlado. Qualquer atraso, só de poucas horas, pode provocar a perda de informação essencial
porque foi esquecida, destruída ou eliminada de qualquer outra forma, intencional ou não.
É evidente que uma pesquisa rápida e cuidadosa no lugar do acidente é importante demais para
responder as perguntas clássicas: quem?, onde?, quando?, como? quê?, por quê? Por exemplo, as
testemunhas lembrarão mais detalhes, possivelmente os restos estarão ainda no lugar, existirão
resíduos das substâncias da perda ou derramamento e poderão ser analisadas, etc.
Em conseqüência, quanto mais rápido chegar o pesquisador ao lugar dos fatos, menor será o risco
de perder detalhes essenciais.
5.2 Evidências
As evidências podem ser conservadas em fotos, videos, desenhos, diagramas, gráficos, bem como
podem ser gravadas ou recolhidas de qualquer outra maneira prática. Cada foto, desenho,
diagrama, etc., deve estar acompanhado de anotações detalhadas.
Muitas causas e fatores contribuem para a ocorrência de acidentes, freqüentemente por uma
combinação ao acaso desses fatores, os quais não são necessariamente os mesmos embora
aparentemente o acidente seja semelhante.
No caso de acidentes que afetam a população em geral, existem muitos fatores que os agravam,
entre estes, a falta de organização e conhecimento nos níveis de decisão, o que leva as
autoridades a adotarem decisões errôneas ou não adotarem decisão nenhuma. Outro fator é que
não tenha sido definido previamente quem é o responsável de cada ação em particular, etc. Em
um caso extremo, este conjunto de deficiências pode levar a paralisar as ações ou a expôr a
comunidade a riscos que não tinham sido apresentados.
5.4 Testemunhas
Por isso, no princípio de qualquer pesquisa de um acidente químico é essencial dedicar o tempo
necessário para entrevistar a maior quantidade de testemunhas. Na medida do possível, as
entrevistas devem ser feitas no lugar do acidente; deste modo a memória das testemunhas é
reforçada e podem ser feitas perguntas concretas para que descrevam o que aconteceu.
Para que as entrevistas sejam mais produtivas, é essencial obter a cooperação das testemunhas,
saber escutar pacientemente e explicar-lhes com clareza que a pesquisa está dedicada à procura
de dados, NÃO À PROCURA DE CULPADOS. Desta maneira, elas saberão desde o início que as suas
declarações não lhes incriminarão nem a outras pessoas que podem ser os seus amigos, chefes,
sendo isto talvez um fator de preocupação e portanto, como resultado a colaboração poderia ser
menor do que era desejada.
É recomendável solicitar aos indivíduos que estiveram diretamente relacionados ao acidente, que
forneçam idéias sobre como evitar que aconteçam novamente acidentes similares, pois, suas
sugestões freqüentemente serão as melhores.
No final de cada entrevista, o responsável deve agradecer a cada testemunha que tenha dado seu
tempo e os dados que pode oferecer à pesquisa do acidente, bem o fato de ter compartilhado as
suas idéias sobre o assunto com o pesquisador.
6. Relatório do acidente
Deve-se preparar sempre um relatório formal com os resultados da pesquisa do acidente, este é
essencial para qualquer avaliação futura do caso, imediatamente depois do acidente ou muito
tempo depois dele. As partes básicas deste relatório são:
a. Título
b. Índice
c. Resumo executivo
d. Antecedentes
e. Resultados
f. Conclusões
g. Recomendações
h. Anexos
Uma vez terminado, o conteúdo deve ser analisado criticamente para garantir que todos os pontos
importantes foram incluídos e enfatizados, e que as conclusões e recomendações estão adequadas
para o caso.
Em alguns países, têm sido estabelecidos formatos específicos para prestar auxílio aos
responsáveis pelo recolhimento dos dados e a preparação dos relatórios.
Em qualquer caso, é essencial lembrar que alguns dos requisitos que favorecem a repetição de um
acidente é não fazer uma pesquisa adequada e não preparar um relatório completo, claro, objetivo
e com resultados; ao contrário, é necessário ter um documento que permita avaliar a eficiência
das medidas preventivas e corretivas que estabeleçam a raiz do acidente. Outra maneira que
favorece a repetição do acidente é fazer a pesquisa e preparar o relatório, mas arquivá-lo sem
executar as medidas que são recomendadas nele.