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Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial

Ergonomia e Fatores Humanos

Paula Carneiro

INTRODUÇÃO À BIOMECÂNICA
OCUPACIONAL

2021/22
Introdução à Biomecânica Ocupacional

BIOMECÂNICA

Consiste na aplicação dos


princípios da mecânica ao corpo
humano.

Corpo interdisciplinar de conhecimentos que estuda


os fatores que influenciam e controlam o
movimento humano.
Introdução à Biomecânica Ocupacional

Aplicações práticas da BIOMECÂNICA?

• Análise e otimização do desempenho humano no trabalho,


• Muito importante no que diz respeito às tarefas de
manipulação de cargas,
• Minimizar riscos associados a determinadas posturas.

Otimizar o compromisso existente entre a


adoção de posturas adequadas e a
concretização simultânea de posturas de
trabalho que ofereçam maior vantagem
mecânica.
Introdução à Biomecânica Ocupacional

Estrutura

1. Conceitos básicos da mecânica física


• Sistemas de alavancas,
• Momento de forças,

2. Biomecânica da coluna,

3. Legislação sobre manipulação manual de cargas (MMC),

4. Equação NIOSH’91

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Sistemas de Alavancas
• Nas alavancas podemos identificar três
elementos:

• a Força que a pessoa exerce,

• a Resistência do objeto que se quer deslocar,

• o Fulcro ou ponto de apoio.

• O tipo da alavanca depende da posição relativa desses três elementos.

• Os três tipos de alavancas existentes são:


1ª classe, 2ª classe e 3ª classe.
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Sistemas de Alavancas
Na alavanca de 1ª classe o Fulcro fica entre a Força e a Resistência.

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Sistemas de Alavancas
Na alavanca de 2ª classe a Resistência fica entre a Força e o Fulcro.

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Sistemas de Alavancas
Na alavanca de 3ª classe a Força fica entre o Fulcro e a Resistência.

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SISTEMAS DE ALAVANCAS • Os músculos e ossos actuam como uma série de sistemas
NO CORPO HUMANO de alavancas,
• FA – braço da força
• RA – braço da resistência
Alavancas de 3ª Classe

Há sempre desvantagem
mecânica – já que RA > FA

Alavancas de 2ª Classe

Há sempre vantagem
Fulcro
mecânica – já que FA > RA Fulcro

Alavancas de 1ª Classe

Há vantagem mecânica
quando FA > RA
Fulcro
Introdução à Biomecânica Ocupacional
MOMENTO DE UMA FORÇA

• A aplicação de uma força perpendicular ao braço de uma alavanca


origina uma tendência rotacional que se designa por momento dessa
força, (M = F x d) Intensidade dessa força x Distância entre o seu ponto
de aplicação e o eixo de rotação na perpendicular à direção da força
(momento simples)

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MOMENTO DE UMA FORÇA

Porque é importante a análise dos momentos de forças no


desempenho de tarefas humanas?

1. Para identificação das tensões aplicadas no sistema


musculosquelético dos trabalhadores,

2. Para a conceção de novas tarefas e postos de trabalho mais


adequados – comparar exigência das tarefas com indicações das
capacidades para geração de forças – evitar ou minimizar
problemas biomecânicos.
Introdução à Biomecânica Ocupacional
BIOMECÂNICA DA COLUNA
• Atividades de manipulação de cargas,
• Tarefas mais ou menos estáticas para comparar os efeitos em termos
biomecânicos de diferentes posturas corporais – curvado, sentado, de pé.

Stress na coluna para atividades de elevação de cargas

• Atividades muito frequentes na industria, comércio e serviços,


Introdução à Biomecânica Ocupacional
BIOMECÂNICA DA COLUNA
• Esforço exigido à coluna depende de uma série de fatores:

 Posição da carga relativamente à charneira da coluna


(L5/S1),

 Ângulo de flexão e rotação da coluna,

 Caraterísticas do objeto – dimensões, forma, peso, tipo de


pegas,

 Geometria do espaço de trabalho,

 Frequência das elevações,

 Fatores ambientais – nomeadamente o ambiente térmico,

 Fatores pessoais – físicos e psicofísicos.


Introdução à Biomecânica Ocupacional
Análise do Stress imposto na coluna.
Efeito das dimensões do objeto a manipular.

Quanto maior for a


profundidade dos objetos a
manipular, maior será o
esforço imposto à coluna.

M = (0,2+0,1)*200 = 60 Nm M = (0,2+0,2)*200 = 80 Nm

Aumento de cerca de 33%.


Introdução à Biomecânica Ocupacional
Análise do Stress imposto na coluna.
Restrições à postura mais favorável – maior braço da resistência.

(a) (b)

Exemplos de situações nas quais é considerável o aumento do stress imposto


na coluna:
(a) devido às restrições ao movimento impostas pela barreira existente;
(b) devido às restrições impostas pelas dimensões do objeto.
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Análise do Stress imposto na coluna.
Efeito da postura do tronco – considerar massa do tronco.

M = 0,4*200+0,25*450 = 80+112,5 = 192,5 Nm

O simples facto de fletir o tronco


corresponde a um aumento de cerca
de 179% no valor do momento total
aplicado em L5/S1.

Exemplo realça a
(a) (b) importância da postura em
atividades de transporte e
M = 0,3 * 200 + 0,02 * 450 = 60+9 = 69 Nm de manipulação de cargas.
Introdução à Biomecânica Ocupacional
Análise do Stress imposto na coluna.
Comparação de técnicas elevação cargas – considerar peso tronco

Qual a
situação mais
desfavorável?
(a) (b) (c) Dimensões do objeto
podem determinar a
adequabilidade da
postura.
(a) vs (c)
Ma = 0,35 * 200 + 0,18 * 450 = 151 Nm

Mb = 0,40 * 200 + 0,25 * 450 = 192,5 Nm

Mc= 0,50 * 200 + 0,25 * 450 = 212,5 Nm


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Legislação aplicável

Legislação disponível acerca deste problema:

1. Diretiva Europeia sobre manipulação manual de cargas, 1990.


2. Decreto-Lei nº330/93 - transpõe para o direito português a Diretiva
Europeia.

Ambos os textos se situam na área da definição dos fatores de risco


relacionados com o trabalho, com o ambiente e com o pessoal, formulando
exigências qualitativas mínimas e algumas recomendações.
Introdução à Biomecânica Ocupacional
Legislação aplicável

Exemplos retirados da legislação, relativos às caraterísticas da carga

A manipulação manual de uma carga pode constituir risco de lesão lombar se:
• for demasiado volumosa ou pesada (limites da legislação portuguesa: 30 kg
para elevações ocasionais e 20 kg para elevações frequentes; nada diz quanto
à frequência das elevações nem estabelece diferenças em função da idade ou
do sexo);
• tiver uma forma inadequada, volumosa ou difícil de pegar;
• estiver em equilíbrio instável ou cujo conteúdo seja suscetível de se deslocar;
• estiver posicionado de tal modo que obrigue à manipulação afastada do
tronco, ou com flexão ou torção do tronco;
• for suscetível de causar lesão aos trabalhadores, devido à sua constituição
exterior e/ou consistência, em especial no caso de colisão.
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Métodos para Análise de Risco e Dimensionamento de Atividades
De Elevação e Manipulação de Cargas

Não é fácil traduzir o conteúdo qualitativo dos conceitos e recomendações


expressos na legislação para valores quantitativos indispensáveis para quem
tem que conceber ou avaliar as situações concretas de cada posto de
trabalho.

Têm sido desenvolvidos métodos quantitativos para definir limites


seguros para tarefas de manipulação de objectos:

1. Método NIOSH para elevação /abaixamento manual de cargas,


2. Método de Grieco et al para avaliação de risco de atividades de
transporte, puxar e empurrar cargas,
3. Método de Ayoub, Mital e Nicholson – de aplicabilidade mais ampla.
Introdução à Biomecânica Ocupacional
A Equação NIOSH 91

1. Define critérios para determinação dos pesos máximos e aceitáveis para


tarefas de elevação ocasionais,
2. National Institute of Occupational Safety and Health (USA),
3. Método empírico para determinação dos limites para elevação manual
de pesos.
RESTRIÇÕES À APLICAÇÃO DO MÉTODO

• Elevações efetuadas sem movimentos bruscos,


• Elevações efetuadas sem restrições à postura mais favorável,
• Boas condições mecânicas – boa aderência, piso plano, sem obstáculos,
• Condições térmicas e visuais favoráveis (Ta entre 19º e 26º C, e HR entre
35 e 50%),
• Assume que não há outras atividades de manipulação/movimentação de
cargas
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A Equação NIOSH 91
CRITÉRIOS DE BASE PARA DEFINIÇÃO DO MÉTODO

Critérios biomecânicos força máxima de compressão no disco L5/S1 = 3,4 kN,


Critérios fisiológicos dispêndio máximo de energia entre 2,2 e 4,7 kcal/min
Critérios psico-físicos limite aceitável para 75% da população feminina e 99% da
população masculina.

PRINCIPIOS PARA APLICAÇÃO DO MÉTODO

• Peso limite recomendável: em condições ótimas de manipulação – constante de


carga (CC) = 23 Kg,
• Multiplicadores: que vão afetar o valor da CC consoante as condições de
realização da atividade

• Todos inferiores ou iguais à unidade,


• Quanto mais desfavorável – menor o valor,
• Conjunto de 6 multiplicadores
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A Equação NIOSH 91

VARIÁVEIS CONTEMPLADAS NO CÁLCULO DO PESO LIMITE RECOMENDÁVEL

H distância horizontal entre as mãos e a vertical passando pelos tornozelos no início


da elevação – esta variável depende do valor L, correspondente à profundidade do
objeto a manipular (em cm),
V altura de início da elevação (em cm),
D distância percorrida durante a movimentação (em cm)
A assimetria do movimento do tronco em relação ao plano sagital (º),
F frequência das movimentações (elevações/minuto),
P qualidade da pega do objeto (boa, aceitável ou má).

Há também a necessidade de identificar a duração


do período (T) com atividades de manipulação de
cargas. Esta variável é contemplada na
identificação do multiplicador de frequência.
Introdução à Biomecânica Ocupacional
A Equação NIOSH 91

VARIÁVEIS CONTEMPLADAS NO CÁLCULO DO PESO LIMITE RECOMENDÁVEL

H distância horizontal entre as mãos e a vertical passando pelos tornozelos no início


da elevação
V altura de início da elevação (em cm),
D distância percorrida durante a movimentação (em cm)
Introdução à Biomecânica Ocupacional
A Equação NIOSH 91

Habitualmente, H, é determinado pelas dimensões (profundidade) do objeto,


sendo 63 cm o limite máximo aceitável.

Regra geral, conhecendo-se a profundidade do objeto (L) pode calcular-se H


da seguinte forma:

• Se V ≥ 25 cm H= 20 cm + L/2
• Se V < 25 cm H= 25 cm + L/2

• Se o objeto estiver sujo ou contaminado será melhor adicionar 5 cm.


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A Equação NIOSH 91

MULTIPLICADORES PARA O CÁLCULO DO PESO LIMITE


RECOMENDÁVEL

MH multiplicador horizontal: MH = 25/H,


MV multiplicador vertical: MV = 1- 0,003 * |V-75|,
MD multiplicador de distância: MD = 0,82 + 4,5 / D
MA multiplicador de assimetria: MA = 1- 0,0032*A
MF valor obtido de tabela
MP valor obtido de tabela
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A Equação NIOSH 91

Determinação do
multiplicador de
frequência:

1. Qual a frequência?
2. Qual a duração do
período com atividades
de elevação de cargas?
3. Qual o valor da altura de
inicio da elevação?
4. Ler valor da tabela.
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A Equação NIOSH 91

Determinação do
multiplicador de pega:

1. Qual a qualidade da
pega?
2. Qual o valor da altura de
inicio da elevação?
3. Ler valor da tabela.
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A Equação NIOSH 91

DETERMINAÇÃO DO PESO LIMITE RECOMENDÁVEL

1. Identificação dos valores das diferentes variáveis,


2. Cálculo dos diferentes multiplicadores,
3. Determinação do peso limite recomendado – PLR

PLR = CC * MA * MF * MV * MH * MP * MD em kg

4. Determinação do Índice de Elevação IE = Carga Real / PLR


5. Interpretação dos valores de IE
IE < 1 - ok,
IE > 1 e IE < 3 - há risco para alguns trabalhadores! Corrigir situação,
IE > 3 - sério risco de lesão para número considerável
de indivíduos. Necessária alteração urgente!

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