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ÓPTICA E

TERMODINÂMICA

Daniel Ferreira Cesar


Calores e mudanças
de fase
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Conceituar capacidade térmica e calor específico.


>> Relacionar o calor latente à mudança de fase.
>> Efetuar os cálculos relacionados ao calor latente e à mudança de fase.

Introdução
Entre os possíveis efeitos causados pelo calor a um sistema térmico (um corpo ou
uma substância) há dois principais: a variação de temperatura e a mudança de fase.
Para compreender melhor como o calor atua nos diferentes sistemas, é preciso
conhecer os conceitos associados a duas grandezas de fundamental importância
para qualquer sistema térmico: a capacidade térmica e o calor específico. Embora
sejam grandezas correlatas, o conhecimento de ambas favorece uma compreensão
mais aprofundada de como um sistema térmico, ao absorver ou ceder calor, sofre
os efeitos mencionados.
De forma simplória, fazendo uma analogia com a Lei da Inércia, podemos
definir capacidade térmica como a inércia térmica de que um corpo é dotado
para absorção ou ceder calor. Já o calor específico, ou capacidade térmica espe-
cífica, está vinculado à inércia térmica com que uma substância específica pode
absorver ou ceder calor. Essa duas grandezas são as responsáveis, portanto, pela
modulação da quantidade de calor necessária para que um sistema térmico possa
tanto aumentar quanto reduzir sua temperatura. Ainda, quando ocorre mudança
de fase, outro parâmetro entra em cena, o calor de transformação, responsável
por modular a energia consumida na mudança de estado físico das variadas
substâncias que transitam entre os estados sólido, líquido e gasoso.
2 Calores e mudanças de fase

Para que você tenha uma compreensão detalhada da capacidade térmica, do


calor específico e do calor de transformação, bem como dos efeitos do calor nos
sistemas térmicos, isto é, a variação de temperatura e a mudança de fase, este
capítulo está estruturado da seguinte forma. Na primeira seção, são conceituados,
matemática e fisicamente, a capacidade térmica e o calor específico, detalhando
suas características e seus efeitos nos sistemas térmicos em estudo. Na seção
seguinte, vamos analisar os dois principais efeitos da absorção ou cedência do
calor nos sistemas térmicos: o aumento da temperatura e a mudança de fase
ou estado. Por fim, na última seção, serão feitas algumas aplicações da teoria
exposta nas duas seções precedentes, resolvendo alguns problemas-chave para
o completo entendimento do tema.

Conceitos fundamentais
Capacidade térmica e calor específico são duas grandezas física escalares
associadas à forma como os diferentes materiais respondem à troca de calor
com o meio onde estão imersos. Para uma melhor compreensão, vejamos
um exemplo simples.
Tomemos dois pequenos cubos de mesma massa, um de alumínio e o
outro de madeira, ambos à temperatura ambiente. Coloquemos, agora, esses
dois cubos, ao mesmo tempo, sobre a mesma fonte de calor, a chama de uma
lamparina, por exemplo, de forma que recebam a mesma quantidade de calor.
Passado um tempo, não muito longo, caso você encoste na parte superior do
cubo de madeira, poderá fazê-lo sem problemas, mas não conseguirá fazer o
mesmo com o cubo de alumínio sem correr o risco de se queimar.
Esse exemplo simples nos mostra que, de alguma forma, corpos que
possuem características macroscópicas idênticas, como a massa e a forma
geométrica, por exemplo, mas possuem características microscópicas dife-
rentes, como a constituição química, interagem de forma diferente com o
calor, ou, melhor dizendo, respondem de maneira diferente quando expostos
à mesma fonte de calor durante o mesmo intervalo de tempo.
Esse mesmo exemplo pode ser pensado de forma contrária. Ao desligar-
mos a chama dos dois cubos ao mesmo tempo, deixando que esfriem por um
período não muito longo, certamente o cubo de metal esfriará muito mais
rápido do que o cubo de madeira.
Outro exemplo bem intuitivo, mas que mostra o mesmo resultado, é o
de uma panela de alumínio, com certa quantidade de água em seu interior,
exposta à chama de um fogão. Após alguns minutos de exposição à chama
Calores e mudanças de fase 3

e a consequente absorção de calor pelo sistema panela + água, dificilmente


conseguiríamos encostar na panela. Entretanto, podemos colocar a mão na
água sem medo de nos queimarmos ou, ainda, pegar a panela pelo cabo, caso
fosse feito de madeira, pois também não nos queimaríamos.
Um último exemplo ocorre nas praias, em um dia quente de verão. A areia
permanece muito mais quente do que a água do mar, embora ambos estejam
expostos ao Sol durante o mesmo tempo.
Todos esses exemplos nos mostram um mesmo efeito:

Materiais diferentes apresentam comportamentos térmicos diferentes,


seja durante a absorção ou durante a perda de calor.

Vejamos os motivos pelos quais esse efeito ocorre.


Esse comportamento pode ser modelado, matematicamente, por meio
da seguinte relação de proporcionalidade:

(1)

A relação (1) nos diz que o calor absorvido ou perdido (Q) por um corpo
é diretamente proporcional à variação de temperatura (ΔT) sofrida pelo
corpo. Entretanto, como você foi levado a perceber pelos exemplos dados,
corpos constituídos de materiais diferentes variam suas temperaturas de
formas diferentes, sendo que uns possuem mais facilidade do que outros
para aumentar ou diminuir a temperatura. Portanto, para incorporar essa
característica à relação de proporcionalidade (1) e transformá-la em uma
equação, é preciso acrescer uma constante de proporcionalidade, à qual
designaremos pela letra C (maiúscula), tal que:

(2)

A essa constante de proporcionalidade C, dá-se o nome capacidade térmica.

Ainda que a constante C na equação (2) receba o nome de capacidade


térmica, ela não deve ser entendida como a capacidade que um
corpo tem de reter ou armazenar certa quantidade de calor quando variar sua
temperatura de certa quantidade ΔT, visto que o calor Q é definido como uma
energia em trânsito entre dois corpos, sempre fluindo do de maior temperatura
para o de menor temperatura (KNIGHT, 2009, p. 514).
4 Calores e mudanças de fase

Ao reescrever a equação (2) para C, temos que:

(3)

Por essa equação, podemos retirar a unidade de medida da capacidade


térmica. Acompanhe:

(4)

Embora, no sistema internacional de unidades (SI), a capacidade térmica


seja medida em Joule por Kelvin (J · K–1), é usual sua medida ser dada, por
exemplo, em cal · °C–1.
Pensando em termos físicos, a capacidade térmica vai muito além de
uma simples constante de proporcionalidade. A equação (4) nos permite
compreendê-la como a quantidade de energia absorvida ou cedida pelo corpo
para que varie sua temperatura de uma certa temperatura. Comumente, e
para efeitos comparativos, adota-se ΔT = 1 K (uma variação de 1 K corresponde
a uma variação de 1°C. De forma mais objetiva, pela equação (2), podemos
concluir que:

Mediante a absorção (ou perda) da mesma quantidade de calor Q, corpos


que possuem menor capacidade térmica C sofrem maior variação de
temperatura ΔT.

Podemos, de certa forma, usar a Lei da Inércia para compreender melhor


o que vem a ser a capacidade térmica de um corpo. A Lei da Inércia diz que,
quanto maior for a massa de um corpo, tanto é mais difícil colocá-lo em mo-
vimento ou pará-lo. De igual maneira, quanto maior for a capacidade térmica
de um corpo, tanto será mais difícil aumentar ou diminuir sua temperatura.
Por conseguinte:

A capacidade térmica de um corpo pode ser compreendida como sua


inércia térmica.

Outro aspecto importante a ser considerado sobre a capacidade térmica


é que ela é uma propriedade extensiva, isto é, depende das dimensões do
sistema considerado. Nesse caso, a capacidade térmica depende, ainda que
Calores e mudanças de fase 5

implicitamente, da massa do corpo, visto que, no exemplo dado no início


deste capítulo, estipulamos que os dois cubos tinham a mesma massa.
Para contornar essa dificuldade, podemos definir uma grandeza física
similar à capacidade térmica, mas que independa da massa do corpo, à qual
denomina-se capacidade térmica específica por unidade de massa, ou calor
específico c (minúsculo), tal que:

(5)

onde C é a capacidade térmica de um objeto macroscópico e m é sua massa.


Essa nova grandeza física diz respeito, agora, não mais ao objeto (ou corpo)
macroscópico, mas à substância química de que é feito esse corpo. Da equação
(5), podemos obter a unidade de medida do calor específico:

(6)

Embora, no SI, o calor específico seja medido em Joule por quilograma


Kelvin (J · kg–1 · K–1), é usual sua medida ser dada, por exemplo, em cal/(g · °C).
A mesma analogia com a Lei da Inércia pode ser estabelecida aqui.

O calor específico de uma substância pode ser compreendido como uma


medida da inércia térmica dessa substância.

O calor é uma forma de energia e, como toda energia no SI, a unidade


padrão de medida é o joule (J). No entanto, por questões históricas,
uma unidade de medida muito utilizada é a caloria (cal), definida como a ener-
gia necessária para elevar 1 g de água de 14,5°C para 15,5°C, isto é, variar sua
temperatura em 1°C (NUSSENZVEIG, 2002).
Por volta de 1845, o físico britânico James Prescott Joule estabeleceu uma
relação que ficou conhecida como o equivalente mecânico do calor. Atualmente,
concebe-se a seguinte igualdade entre a caloria e o Joule (NUSSENZVEIG, 2002):
1 cal = 4,186 J.

Outra forma de se definir o calor específico é por meio do calor específico


molar, sendo que 1 mol de uma substância qualquer é tal que:

1 mol = 6,02 · 1023 unidades elementares (7)


6 Calores e mudanças de fase

Por conseguinte, 1 mol de moléculas de água (H2O), por exemplo, representa


6,02 · 1023 moléculas de água. Assim, a unidade de medida do calor específico
molar é: J/(mol · K) ou, ainda, cal/(mol · °C), e representa a quantidade de calor
necessária para aumentar em 1 K uma quantidade de 1 mol da substância. O
Quadro 1, a seguir, apresenta alguns valores para o calor específico e o calor
específico molar de algumas substâncias.

Quadro 1. Calor específico de algumas substâncias à temperatura ambiente

Calor específico
Substância Calor específico molar

cal/(g K) J/(kg K) J/(mol K)

Sólidos
elementares

Chumbo 0,0305 128 26,5

Tungstênio 0,0321 134 24,8

Prata 0,0564 236 25,5

Cobre 0,0923 386 24,5

Alumínio 0,215 900 24,4

Outros sólidos

Latão 0,092 380

Granito 0,19 790

Vidro 0,20 840

Gelo (–10°C) 0,530 2.220

Líquidos

Mercúrio 0,033 140

Álcool etílico 0,58 2.430

Água do mar 0,93 3.900

Água doce 1,00 4.190

Fonte: Adaptado de Halliday, Resnick e Walker (1996).


Calores e mudanças de fase 7

De acordo com Halliday, Resnick e Walker (1996), o fato de os calores


específicos molares apresentarem valores muito próximo indica que há uma
dependência dessa grandeza física com a temperatura, mas, para todos os
sólidos, há uma convergência para o mesmo valor: 25 J/(mol · K). Isso evidencia
que, em temperaturas suficientemente altas, todos os átomos de elementos
sólidos absorvem calor da mesma forma.
Um último ponto a ser considerado na compreensão do calor específico,
como parâmetro físico que determina a quantidade de calor absorvido por
um corpo por unidade de massa por unidade de temperatura, é a forma como
o calor é absorvido. Em geral, para sólidos e líquidos, vamos supor, desde já,
que, durante os processos de absorção de calor por um corpo, tanto a pressão
quanto o volume permaneçam constantes. Sob essa consideração, o calor
específico à pressão constante e a volume constante difere muito pouco para
líquidos e sólidos (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 1996).

Calor sensível e o calor latente


De acordo com Knight (2009), quando um sistema é aquecido ou resfriado,
isto é, absorve ou perde uma quantidade de calor Q (ou energia térmica),
duas coisas podem ocorrer a esse sistema:

1. sofre uma variação em sua temperatura ΔT;


2. sofre uma mudança de estado, ou de fase, como fusão ou solidificação.

É sobre esses dois aspectos que passaremos a tratar a partir de agora,


começando pelo aumento da temperatura ΔT sobre um corpo.

O calor sensível (Qs)


Combinando as equações (3) e (5), podemos obter uma correlação direta entre
o calor absorvido ou cedido por um corpo ou substância e sua respectiva
variação de temperatura, tal que:

(8)
8 Calores e mudanças de fase

A equação (8) nos mostra que calor e temperatura são grandezas dire-
tamente proporcionais, isto é, caso um corpo, ou substância, absorva certa
porção de calor, sua temperatura aumentará; do contrário, se perder calor,
sua temperatura decairá.
Segundo Nussenzveig (2002), se a temperatura variar em um intervalo de
valores grande o suficiente para que o calor específico de um corpo sofra alguma
dependência com a temperatura, então os valores fornecidos pela tabela deverão
ser desconsiderados e a equação (8) deverá ser reescrita em sua forma integral:

(9)

onde cm é o calor específico médio entre as temperaturas Ti e Tf, tomadas,


respectivamente, como os limites inferior e superior da integral em (9).
O calor Q que aparece nas equações (8) e (9) recebe o nome de calor sen-
sível. Para diferenciá-lo do calor de transformação, o qual definiremos mais
adiante, vamos acrescer o subscrito s e reescrever as equações (8) e (9), tal que:

(10)
(11)

O calor sensível é responsável apenas pela elevação da temperatura de


um corpo ou substância.

Perceba que as equações (10) e (11) podem, sempre que necessário, ser
reescritas em termos não do calor específico c, mas da capacidade térmica
C, mediante o auxílio da equação (5), tal que:

(12)
(13)

Na última seção deste capítulo, trabalharemos alguns problemas envol-


vendo o calor sensível.

O calor de transformação (L)


Vejamos, agora, o segundo efeito do calor em um sistema (um corpo ou
uma substância). O primeiro efeito que consideramos foi, simplesmente, o
aumento da temperatura, que pode ser bem descrito, de forma geral, pelas
Calores e mudanças de fase 9

equações (12) e (13). No segundo caso, o efeito que ocorre no sistema é uma
mudança de estado ou fase; isto é, não há aumento de temperatura, mas a
reestruturação a nível molecular/atômico do corpo. Um exemplo disso é a
transformação de gelo em água (ou água em gelo) e de água em vapor (ou
vapor em água). Essas transformações ocorrem sem que haja alteração da
temperatura enquanto durar o processo de transformação.
Experimentalmente, observa-se que, no processo de transformação de
fase, o calor despendido, ou retirado, para que isso ocorra é proporcional à
massa da quantidade a ser transformada. Assim, matematicamente, podemos
expressar esse resultado como:

(14)

Um segundo fato observável experimentalmente é que a energia gasta na


transformação de certa massa de gelo em água não corresponde à energia
gasta na transformação da mesma massa de água em vapor, por exemplo.
Portanto, à relação de proporcionalidade (14), é preciso incorporar uma
constante que leve em conta esse fato. Essa constante é denominada calor
de transformação, simbolizado pela letra L (maiúscula). Assim, a relação
de proporcionalidade (14) se transforma na seguinte equação matemática:

(15)

A partir da equação (15), podemos obter a unidade de medida do calor


de transformação:

(16)

Embora, no SI, o calor de transformação seja medido em Joule por qui-


lograma (J · kg–1), é usual sua medida ser dada, por exemplo, em cal · kg–1 ou
cal · g–1.
Indo além da mera interpretação de L como uma constante de proporcio-
nalidade matemática, fisicamente essa constante nos informa a quantidade
de energia, por unidade de massa, que deve ser fornecida ou retirada de um
sistema para que haja a completa transformação desse sistema de um estado
físico para outro. O Quadro 2, a seguir, apresenta alguns valores para o calor
de transformação de algumas substâncias, bem como as temperaturas em
que ocorrem essas transformações.
10 Calores e mudanças de fase

Quadro 2. Calores de transformação de algumas substâncias

Substância Fusão Vaporização

Ponto de Calor de Ponto de Calor de


fusão (K) fusão (kJ/kg) ebulição (K) vaporização (kJ/kg)

Hidrogênio 14,0 58,0 20,3 455

Oxigênio 54,8 13,9 90,2 213

Mercúrio 234 11,4 630 296

Água 273 333 373 2.256

Chumbo 601 23,2 2.017 858

Prata 1.235 105 2.323 2.336

Cobre 1.356 207 2.868 4.730

Fonte: Adaptado de Halliday, Resnick e Walker (1996).

De acordo com Knight (2009), o termo calor de transformação é genérico,


podendo representar a energia absorvida ou cedida para que haja qualquer
transformação. Entretanto, os dois calores de transformação mais importan-
tes, e mais comumente usados, são:

„„ o calor de transformação de fusão, comumente denominado calor


latente de fusão (Lf);
„„ o calor de transformação de vaporização, comumente denominado
calor latente de vaporização (Lv),

O calor latente de fusão, Lf, serve tanto para descrever transformações do


estado sólido para o estado líquido quanto para descrever transformações
do estado líquido para o estado sólido. Se a transformação for no sentido
sólido → líquido, o sistema precisa absorver calor (+); caso a transformação
seja no sentido contrário, líquido → sólido, o sistema precisa perder calor
(–). De igual maneira, o calor latente de fusão, Lf, serve tanto para descrever
transformações do estado líquido para o estado gasoso como do estado
gasoso para o estado líquido. Se a transformação for no sentido líquido →
gasoso, o sistema precisa absorver calor (+); caso a transformação seja no
sentido inverso, gasoso → líquido, o sistema precisa perder calor (–). Portanto,
uma forma resumida de escrever a equação (15) é:
Calores e mudanças de fase 11

(17)
(18)

Veja, na Figura 1, as mudanças de fase mais comuns associadas às subs-


tâncias. Para exemplificar, tomamos as mudanças de fase da substância água
em suas três formas básicas: sólida, líquida e gasosa.

Figura 1. Mudanças de fase (ou estado) envolvendo os três estados da água.


Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 183).

Para finalizar esta seção, vamos apresentar, de forma gráfica (Figura 2),
o que ocorre a um sistema quando lhe é fornecido calor de forma constante.

1. Para uma substância que esteja no estado sólido, inicialmente em uma


temperatura Ti, a primeira parte do gráfico, indicada por S, representa
sua elevação de temperatura até o ponto de início da fusão, que ocorrerá
a uma temperatura Tfusão. O calor absorvido para elevar a temperatura
de Ti para Tfusão é Q1, o qual é calculado mediante uso da equação (10).
2. Atingido o ponto de fusão, a temperatura não se eleva e a substância
permanece em uma mistura de dois estados coexistindo, sólido e
líquido, representada pelo patamar S + L. O calor gasto apenas no
processo de fusão pode ser calculado mediante uso da equação (17). O
calor Q2 é cumulativo, sendo a soma do calor necessário para elevar a
temperatura da substância até o ponto de fusão, Q2, mais o calor para
fundir a substância. A substância só inicia novo aumento de temperatura
após estar totalmente transformada de sólida em líquida.
12 Calores e mudanças de fase

Figura 2. Gráfico representativo da mudança de fase das substâncias.

3. Para atingir o ponto de vaporização, a substância precisa elevar sua


temperatura de T fusão para Tvaporização . Durante todo esse processo,
a substância permanece no estado líquido, indicado no gráfico
por L. O calor absorvido apenas nesse processo de elevação de
temperatura é calculado mediante o uso da equação (10). Nova-
mente, o calor Q 3 é cumulativo, sendo a soma do calor Q 2 mais o
calor absorvido durante o processo de elevação de temperatura
de T fusão para Tvaporização .
4. Atingida a temperatura de vaporização a substância inicia nova mu-
dança de fase, representada pelo patamar L + G, em que os estados
líquido e gasoso coexistem à temperatura Tvaporização. Durante o processo
de vaporização, a substância absorve uma quantidade de calor dada
pela equação (17). No gráfico, o calor Q4 representa a soma cumulativa
do calor Q3 mais o calor absorvido, calculado mediante uso da equação
(17). Após estar totalmente vaporizada, para atingir a temperatura
final, Tf, a substância precisa, ainda, absorver uma quantidade de calor
calculada mediante o uso da equação (10).

No gráfico, o calor Q5 representa o cumulativo total da quantidade de calor


absorvida pela substância, desde o estado sólido, a uma temperatura inicial
Ti, até atingir o estado gasoso a uma temperatura final Tf.
Vejamos, agora, como colocar em prática alguns conceitos explorados
nas duas primeiras seções.
Calores e mudanças de fase 13

Resolução de alguns problemas envolvendo


capacidade térmica, calor específico e calor
Nesta seção, dedicaremos um tempo à resolução de alguns problemas que
envolvam as grandezas térmicas estudas, facilitando, assim, a assimilação do
conteúdo teóricos estudado até aqui: a capacidade térmica, o calor específico
e os calores sensível e de transição ou latente.

Exemplo 1
Para compreender melhor os efeitos da absorção do calor pela água, um
pesquisador toma, para estudo, uma amostra de 1 L de água doce e uma
amostra de 1 L de água do mar, e aquece ambas, desde a temperatura ambiente
(25°C) até a temperatura de fervura (100°C). A seguir, ele calcula a relação
entre os calores sensíveis absorvidos nesse processo pelas duas amostras
de água para saber a relação percentual entre os dois calores. Vejamos qual
foi o percentual encontrado por ele.
O pesquisador adotou os seguintes valores para as densidades da água
doce e salgada, respectivamente: 1 kg/L e 1,03 kg/L. Além disso, ele garantiu
que o experimento ocorresse à pressão de 1 atm.
Para saber quanto de calor cada amostra absorveu até atingir o ponto
de fervura, vamos fazer uso da equação (10) para cada amostra. Para a
água doce:

Para a água salgada:

Dividindo os dois calores:


14 Calores e mudanças de fase

Portanto, vemos que, para variar em 75°C, a temperatura da água salgada


se gasta em torno de 96% do calor necessário para elevar em 75°C a mesma
quantidade de água doce.
A seguir, vamos resolver um problema envolvendo o uso de um caloríme-
tro. O calorímetro é um instrumento muito utilizado no estudo de sistemas
térmicos, principalmente envolvendo trocas de calor entre dois ou mais
corpos. A principal característica de um calorímetro é impedir que o meio
externo influencie as trocas de calor entre os corpos ou substâncias cujas
características térmicas se quer analisar.

Exemplo 2
Após adquirir um calorímetro de alumínio de capacidade térmica nominal
de 185,035 J/K, um técnico de laboratório decide averiguar se a calibração
do aparelho era condizente com aquela contida em seu manual. Para
isso, ele executou um experimento exemplificado no próprio manual
do aparelho.
Primeiramente, ele ajustou o calorímetro tal que atingisse uma temperatura
inicial de 96°C. Atingida a temperatura desejada, ele introduz, no aparelho,
uma massa de água de 120 g à temperatura de 96°C e um bloco de alumínio de
56 g à temperatura de 10°C. Após esse procedimento, ele desligou o aparelho
e deixou o calorímetro, a água e o bloco de alumínio atingirem o equilíbrio
térmico, o que ocorreu em 90°C. Nessas condições, ele calculou a capacidade
térmica do calorímetro e conferiu com a fornecida pelo manual do aparelho.
Vejamos qual foi o valor encontrado por ele.
Nesse problema, temos uma situação de equilíbrio térmico entre a
água, o calorímetro e o bloco de alumínio. Assim, vamos aplicar a seguinte
condição:

Essa equação nos garante que o calor cedido pelos corpos quentes
(a água e o calorímetro) seja absorvido pelo corpo mais frio (bloco de
alumínio). Como não haverá transformação de fase de nenhum dos com-
ponentes, podemos apenas aplicar a equação (10) para cada elemento
(água e alumínio) dentro do calorímetro e, para o calorímetro, podemos
aplicar a equação (12). Assim:
Calores e mudanças de fase 15

Logo, o técnico concluiu que o valor estava dentro do esperado e que o


calorímetro estava corretamente calibrado.
Veremos, agora, a resolução de um problema gráfico envolvendo a capa-
cidade térmica e o calor específico de um material desconhecido. Esse é o
procedimento que pode ser adotado para determinar a constituição de um
material desconhecido.

Exemplo 3
Em um laboratório, a fim de descobrir informações sobre um sólido des-
conhecido de massa 216,58 g, um pesquisador forneceu calor ao sólido,
registrando sua temperatura. De posse dessas informações, ele construiu
o seguinte gráfico:

Utilizando o gráfico, o pesquisador conseguiu determinar a composição


do sólido. Vejamos como.
Mediante o uso da equação (3), temos que:
16 Calores e mudanças de fase

Usando a equação (5), podemos calcular o calor específico:

Consultando a tabela de referência, o pesquisador verificou que o material


constituinte do sólido era o cobre (Cu).
Por fim, vamos explorar um problema de transformação de fase, envol-
vendo calor de transformação.

Exemplo 4
Buscando desenvolver um sensor térmico, um pesquisador faz o seguinte
experimento: em um recipiente contendo certa massa de água à tempera-
tura ambiente (25°C), ele introduz um aquecedor elétrico, ligado ao sensor,
que fornece um fluxo constante de calor. Em um cronômetro, ele registra
que, após um intervalo de tempo de 8,4 min, a água atinge 100°C e inicia
seu processo de transição de estado para a fase gasosa. Caso o sensor
não detecte corretamente a temperatura de vaporização da água e des-
ligue o aquecedor elétrico, a água vai evaporar por completo, queimando
o aquecedor. Assim, ele aciona novamente o cronômetro para verificar
quanto tempo o sensor tem para entrar em ação antes que o aquecedor
queime. Vejamos quanto tempo o sensor tem para entrar em ação antes
que o aquecedor queime.
Inicialmente, para que a água atinja o ponto de fervura, o aquecedor
terá que fornecer uma quantidade de calor que pode ser calculada pela
equação (10):

(I)

A potência do aquecedor é constante, então podemos usar a relação:

O pesquisador sabe que a água leva Δt1 para começar a entrar em fervura,
então:
Calores e mudanças de fase 17

(II)

Portanto, igualando as equações (I) e (II), temos que:

(III)

Quando a água atingir o ponto de fervura, sua temperatura vai parar de


aumentar e a energia fornecida pelo aquecedor será utilizada apenas no
processo de vaporização, o qual levará um tempo Δt2 para ocorrer. Assim,
podemos aplicar a equação (17):

(IV)

A potência do aquecedor será, agora, dada por:

(V)

Substituindo (IV) em (V), temos:

(VI)

Dividindo (VI) por (III), teremos uma expressão geral:

(VII)

Usando os dados fornecidos pelas tabelas e pelo enunciado, teremos:

Assim, após atingir o tempo de fervura, o sensor terá ≈ 1 h para desativar


o aquecedor caso ele não seja desativado manualmente.
18 Calores e mudanças de fase

Referências
BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: óptica e física moderna.
Porto Alegre: AMGH, 2013.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, ondas e ter-
modinâmica. Rio de Janeiro: LTC, 1996. 2 v.
KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. 1 v.
NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica: fluidos, oscilações, onda e calor. 4. ed. São
Paulo: Blucher, 2002. 2 v.

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