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TERMODINÂMICA
Introdução
Entre os possíveis efeitos causados pelo calor a um sistema térmico (um corpo ou
uma substância) há dois principais: a variação de temperatura e a mudança de fase.
Para compreender melhor como o calor atua nos diferentes sistemas, é preciso
conhecer os conceitos associados a duas grandezas de fundamental importância
para qualquer sistema térmico: a capacidade térmica e o calor específico. Embora
sejam grandezas correlatas, o conhecimento de ambas favorece uma compreensão
mais aprofundada de como um sistema térmico, ao absorver ou ceder calor, sofre
os efeitos mencionados.
De forma simplória, fazendo uma analogia com a Lei da Inércia, podemos
definir capacidade térmica como a inércia térmica de que um corpo é dotado
para absorção ou ceder calor. Já o calor específico, ou capacidade térmica espe-
cífica, está vinculado à inércia térmica com que uma substância específica pode
absorver ou ceder calor. Essa duas grandezas são as responsáveis, portanto, pela
modulação da quantidade de calor necessária para que um sistema térmico possa
tanto aumentar quanto reduzir sua temperatura. Ainda, quando ocorre mudança
de fase, outro parâmetro entra em cena, o calor de transformação, responsável
por modular a energia consumida na mudança de estado físico das variadas
substâncias que transitam entre os estados sólido, líquido e gasoso.
2 Calores e mudanças de fase
Conceitos fundamentais
Capacidade térmica e calor específico são duas grandezas física escalares
associadas à forma como os diferentes materiais respondem à troca de calor
com o meio onde estão imersos. Para uma melhor compreensão, vejamos
um exemplo simples.
Tomemos dois pequenos cubos de mesma massa, um de alumínio e o
outro de madeira, ambos à temperatura ambiente. Coloquemos, agora, esses
dois cubos, ao mesmo tempo, sobre a mesma fonte de calor, a chama de uma
lamparina, por exemplo, de forma que recebam a mesma quantidade de calor.
Passado um tempo, não muito longo, caso você encoste na parte superior do
cubo de madeira, poderá fazê-lo sem problemas, mas não conseguirá fazer o
mesmo com o cubo de alumínio sem correr o risco de se queimar.
Esse exemplo simples nos mostra que, de alguma forma, corpos que
possuem características macroscópicas idênticas, como a massa e a forma
geométrica, por exemplo, mas possuem características microscópicas dife-
rentes, como a constituição química, interagem de forma diferente com o
calor, ou, melhor dizendo, respondem de maneira diferente quando expostos
à mesma fonte de calor durante o mesmo intervalo de tempo.
Esse mesmo exemplo pode ser pensado de forma contrária. Ao desligar-
mos a chama dos dois cubos ao mesmo tempo, deixando que esfriem por um
período não muito longo, certamente o cubo de metal esfriará muito mais
rápido do que o cubo de madeira.
Outro exemplo bem intuitivo, mas que mostra o mesmo resultado, é o
de uma panela de alumínio, com certa quantidade de água em seu interior,
exposta à chama de um fogão. Após alguns minutos de exposição à chama
Calores e mudanças de fase 3
(1)
A relação (1) nos diz que o calor absorvido ou perdido (Q) por um corpo
é diretamente proporcional à variação de temperatura (ΔT) sofrida pelo
corpo. Entretanto, como você foi levado a perceber pelos exemplos dados,
corpos constituídos de materiais diferentes variam suas temperaturas de
formas diferentes, sendo que uns possuem mais facilidade do que outros
para aumentar ou diminuir a temperatura. Portanto, para incorporar essa
característica à relação de proporcionalidade (1) e transformá-la em uma
equação, é preciso acrescer uma constante de proporcionalidade, à qual
designaremos pela letra C (maiúscula), tal que:
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Calor específico
Substância Calor específico molar
Sólidos
elementares
Outros sólidos
Líquidos
(8)
8 Calores e mudanças de fase
A equação (8) nos mostra que calor e temperatura são grandezas dire-
tamente proporcionais, isto é, caso um corpo, ou substância, absorva certa
porção de calor, sua temperatura aumentará; do contrário, se perder calor,
sua temperatura decairá.
Segundo Nussenzveig (2002), se a temperatura variar em um intervalo de
valores grande o suficiente para que o calor específico de um corpo sofra alguma
dependência com a temperatura, então os valores fornecidos pela tabela deverão
ser desconsiderados e a equação (8) deverá ser reescrita em sua forma integral:
(9)
(10)
(11)
Perceba que as equações (10) e (11) podem, sempre que necessário, ser
reescritas em termos não do calor específico c, mas da capacidade térmica
C, mediante o auxílio da equação (5), tal que:
(12)
(13)
equações (12) e (13). No segundo caso, o efeito que ocorre no sistema é uma
mudança de estado ou fase; isto é, não há aumento de temperatura, mas a
reestruturação a nível molecular/atômico do corpo. Um exemplo disso é a
transformação de gelo em água (ou água em gelo) e de água em vapor (ou
vapor em água). Essas transformações ocorrem sem que haja alteração da
temperatura enquanto durar o processo de transformação.
Experimentalmente, observa-se que, no processo de transformação de
fase, o calor despendido, ou retirado, para que isso ocorra é proporcional à
massa da quantidade a ser transformada. Assim, matematicamente, podemos
expressar esse resultado como:
(14)
(15)
(16)
(17)
(18)
Para finalizar esta seção, vamos apresentar, de forma gráfica (Figura 2),
o que ocorre a um sistema quando lhe é fornecido calor de forma constante.
Exemplo 1
Para compreender melhor os efeitos da absorção do calor pela água, um
pesquisador toma, para estudo, uma amostra de 1 L de água doce e uma
amostra de 1 L de água do mar, e aquece ambas, desde a temperatura ambiente
(25°C) até a temperatura de fervura (100°C). A seguir, ele calcula a relação
entre os calores sensíveis absorvidos nesse processo pelas duas amostras
de água para saber a relação percentual entre os dois calores. Vejamos qual
foi o percentual encontrado por ele.
O pesquisador adotou os seguintes valores para as densidades da água
doce e salgada, respectivamente: 1 kg/L e 1,03 kg/L. Além disso, ele garantiu
que o experimento ocorresse à pressão de 1 atm.
Para saber quanto de calor cada amostra absorveu até atingir o ponto
de fervura, vamos fazer uso da equação (10) para cada amostra. Para a
água doce:
Exemplo 2
Após adquirir um calorímetro de alumínio de capacidade térmica nominal
de 185,035 J/K, um técnico de laboratório decide averiguar se a calibração
do aparelho era condizente com aquela contida em seu manual. Para
isso, ele executou um experimento exemplificado no próprio manual
do aparelho.
Primeiramente, ele ajustou o calorímetro tal que atingisse uma temperatura
inicial de 96°C. Atingida a temperatura desejada, ele introduz, no aparelho,
uma massa de água de 120 g à temperatura de 96°C e um bloco de alumínio de
56 g à temperatura de 10°C. Após esse procedimento, ele desligou o aparelho
e deixou o calorímetro, a água e o bloco de alumínio atingirem o equilíbrio
térmico, o que ocorreu em 90°C. Nessas condições, ele calculou a capacidade
térmica do calorímetro e conferiu com a fornecida pelo manual do aparelho.
Vejamos qual foi o valor encontrado por ele.
Nesse problema, temos uma situação de equilíbrio térmico entre a
água, o calorímetro e o bloco de alumínio. Assim, vamos aplicar a seguinte
condição:
Essa equação nos garante que o calor cedido pelos corpos quentes
(a água e o calorímetro) seja absorvido pelo corpo mais frio (bloco de
alumínio). Como não haverá transformação de fase de nenhum dos com-
ponentes, podemos apenas aplicar a equação (10) para cada elemento
(água e alumínio) dentro do calorímetro e, para o calorímetro, podemos
aplicar a equação (12). Assim:
Calores e mudanças de fase 15
Exemplo 3
Em um laboratório, a fim de descobrir informações sobre um sólido des-
conhecido de massa 216,58 g, um pesquisador forneceu calor ao sólido,
registrando sua temperatura. De posse dessas informações, ele construiu
o seguinte gráfico:
Exemplo 4
Buscando desenvolver um sensor térmico, um pesquisador faz o seguinte
experimento: em um recipiente contendo certa massa de água à tempera-
tura ambiente (25°C), ele introduz um aquecedor elétrico, ligado ao sensor,
que fornece um fluxo constante de calor. Em um cronômetro, ele registra
que, após um intervalo de tempo de 8,4 min, a água atinge 100°C e inicia
seu processo de transição de estado para a fase gasosa. Caso o sensor
não detecte corretamente a temperatura de vaporização da água e des-
ligue o aquecedor elétrico, a água vai evaporar por completo, queimando
o aquecedor. Assim, ele aciona novamente o cronômetro para verificar
quanto tempo o sensor tem para entrar em ação antes que o aquecedor
queime. Vejamos quanto tempo o sensor tem para entrar em ação antes
que o aquecedor queime.
Inicialmente, para que a água atinja o ponto de fervura, o aquecedor
terá que fornecer uma quantidade de calor que pode ser calculada pela
equação (10):
(I)
O pesquisador sabe que a água leva Δt1 para começar a entrar em fervura,
então:
Calores e mudanças de fase 17
(II)
(III)
(IV)
(V)
(VI)
(VII)
Referências
BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: óptica e física moderna.
Porto Alegre: AMGH, 2013.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, ondas e ter-
modinâmica. Rio de Janeiro: LTC, 1996. 2 v.
KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. 1 v.
NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica: fluidos, oscilações, onda e calor. 4. ed. São
Paulo: Blucher, 2002. 2 v.