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SEGURANÇA: A EVOLUÇÃO DE UM

CONCEITO

Disciplina: Investigação Criminal


Prof. Me. José Fernando M. Chuy
“A transição do Estado moderno para o pós-moderno tem como um de seus grandes fatores
justamente a consolidação da segurança através do multilateralismo e da transparência.
Ademais, a nova ordem mundial reorienta as atenções dos líderes mundiais para novas
ameaças que colocam em dúvida a eficácia da tradicional defesa militar”.

SACCHETTI, António E. F. O impacto do conceito de segurança humana. In: MOREIRA, Adriano; RAMALHO, Pinto (Coord). Estratégia. v. XVII. Lisboa: Instituto Português da Conjuntura Estratégica, 2007.
➢ Contextualização

➢ Introdução: Importância do Estudo;

➢ Segurança, polícia e dinâmica organizacional;

➢ Evolução histórica e conceitual;

➢ Uma nova agenda de segurança.


“Os que se encantam com a prática
sem a ciência são como os
timoneiros que entram no navio
sem timão nem bússola, nunca
tendo certeza do seu destino. ”
Leonardo da Vinci
➢ Histórica preocupação humana;

➢ Debates;

➢ Pesquisas acadêmicas;

➢ Estudar segurança - Polícia – análise da sua


evolução.
➢ Abordagem e análise evolutiva;

➢ Contextualização social e histórica;

➢ “Patriotismo científico” – agregar interpretação mais


completa e embasada sobre formas de enfrentamento -
políticas públicas eficientes;

➢ Aprofundamento jurídico teórico-prático da atividade policial - defesa e da garantia dos


direitos e liberdades fundamentais historicamente conquistados.
➢ Realidade democrática Estado de Direito;

➢ Assunto presente;

➢ Responsabilidade partilhada;

➢ “Recrudescimento” ações criminosas transnacionais violentas - Readequação (conceitos,


metodologias, formas de enfrentamento);

➢ Ampliação alçada de pesquisas > Abordagens forças militares - Variado aprofundamento


científico.
➢ Conceito em constante construção;

➢ Temática de abordagem variável (contexto, ambiente, momento


histórico) em ritmo alucinante;

➢ Hodiernamente terrorismo e criminalidade organizada transnacional


são sérias ameaças à segurança global;

➢ Profunda reavaliação de cenários e atores.


➢ Conceito: notada influência da doutrina militar e “na contraposição guerra e paz, no
conflito e cooperação, na preponderância do papel desenvolvido pelos Estados”.

➢ Complexidade de interpretar segurança a partir do


instrumental da hermenêutica jurídica convencional,
circunstância agravada pela multidimensionalidade,
pela polissemia e pelo simbolismo da palavra.

WERNER, Guilherme Cunha. Securitas: da Segurança Nacional à Segurança Humana. Revista Brasileira de Ciências Policiais, v. 11, n. 1.
➢ Constante e histórica construção - abordagem deriva e varia de acordo com
contexto, ambiente e momento histórico, ritmo dos acontecimentos;
➢ Define-se mais pelo que seria a insegurança – percepção de (in) segurança.
Cada indivíduo tem uma
percepção de segurança e de
risco, derivada de fatores
variados (idade, sexo e perfil
financeiro) - certas pessoas se
sentem “intranquilas” mesmo
diante de exposições
residuais a perigos.
➢ A segurança é o primeiro desejo do homem, estando na
base do contrato social. Todos nascem livres, mas não
seguros.
➢ Personagem mais aparente: a polícia, que perfectibiliza e
operacionaliza a primeira separação entre quem deve padecer
os rigores da lei penal e aqueles que devem ficar-lhes imunes;

➢ Em uma sociedade, o aparato policial é inerente a toda e


qualquer dinâmica organizacional de poder.
Aristóteles observa justamente que o ser
humano não basta a si próprio, precisando dos
outros dentro da comunidade (ou cidade). O
filósofo bem refere serem os “guardas cívicos”
(os policiais) responsáveis por garantir a
ordem, a paz interna e o governo da
comunidade, sendo a polícia o primeiro e um
dos maiores bens da “cidade dos homens”.
Regras de Ouro da Ciência da Segurança: (Pedro Clemente)
I. Legado de Aristóteles: sem segurança não há cidade. A segurança é basicamente a base do contrato
social;
II. Partindo de Sócrates (somente na cidade se respira liberdade): Segurança é a 1ª das liberdades e condição

fundamental para esta;

III. A Polícia é o principal produtor da segurança, é o seu ator principal. Sendo assim, a segurança é um domínio
da soberania;

IV. Não há estado, sem polícia. Nem polícia sem força coativa. A força é imanente à polícia, que tem como base
o princípio da força do direito.
➢ Séc. XVIII: segurança = dever fundamental ESTADO (principal ator e agente
securitizador);

➢ Dir. Segurança cidadão - articulado ao contrato social;

➢ Legado de Rousseau, Mostesquieu e Revolução Francesa.


Declaração Direitos do Homem e do Cidadão (1789): “os homens nascem e são livres e iguais em direitos”.
Art. 2º: O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do
homem. Esses Direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.”
➢ “Segurança Nacional”: II Guerra Mundial - utilização do aparato militar (defesa e
resistência do Estado frente a agressão estrangeira);

➢ Segurança do Estado (natureza militar): soberania


e o monopólio da utilização da força pelo governo
legalmente definido;

➢ Pós-Guerra: Evolução conceitual desta “segurança nacional”.


➢ Perspectiva Realista - paradigma teórico RI;

➢ ESTADO FORTE!

➢ Versão analítica e clássica - visão negativa sobre


a possibilidade de cooperação esfera
internacional;

➢ Estados são atores auto-interessados.


➢ Buzan: “diminuição conceitual segurança;

➢ Corrida armamanetista e nuclear;

➢ Valorização componente militar e distinção


clássica entre segurança interna e externa;
Ao longo da Guerra Fria valorizou-se largamente a componente militar e a
distinção clássica entre segurança interna e segurança externa, dentro de
um pensamento tradicionalista de visão estatocêntrica da temática e de seu
domínio político, econômico, social e essencialmente ideológico e militar.
a) plano interno: visão teórica do pensamento político clássico: Estado tem a
missão primordial de resgatar o homem de sua eterna insegurança, vivenciada no
estado de natureza - missão de garantia da ordem pública e da preservação da paz
social;

b) plano internacional: prevenção dos horrores provocados pelos conflitos, (I e II


Guerra Mundial). Papel preponderante da ONU
Anos 1970 e 1980: movimento pela inclusão questões ambientais e econômicas na
temática securitária;

➢ Crescente opinião pública contra eficácia armas = potencializadores de


questionamento ao pressuposto tradicionalista central da segurança militar.

➢ Incremento nas estatísticas de criminalidade;


➢ Fim GF: agenda mais espraiada de segurança;
➢ Alargamento da segurança nacional - novas perspectivas - Atores não estatais;

➢ Ameaças: economia, fronteiras, recursos naturais, demográficos, energéticos,


geoestratégicos, informações, alimentos, saúde, diversidade étnica, infraestrutura, cyber;

➢ terrorismo, crime organizado transnacional, tráfico de entorpecentes, lavagem de


dinheiro, corrupção, desastres naturais.
➢ Barry Buzan, Ole Waever e Jaap de Wilde;
➢ contraria visão tradicionalista-militar de segurança (guerra e força) - Construtivismo

➢ Estado: personagem central - deixa de ser o grande e único agente dominador;

➢ Anos 1990: desenvolvimento conceito de segurança interna


Pós GF X Relações Internacionais

➢ Corrente a defender complementariedade “segurança humana” e direitos humanos;

➢ Vinculação aspectos econômicos + Desenvolvimento aspectos políticos e sociais;

➢ Expansão de direitos fundamentais.


SEGURANÇA HUMANA

➢ Junho/1992 - Boutros-Ghali (Secretário-Geral ONU);

➢ “Agenda para a Paz”, forma que ONU deveria responder a conflitos pós-Guerra Fria;

➢ fontes não militares de instabilidade nos campos econômico, social, humanitário e


ecológico tornaram-se ameaças à paz e à segurança.
SEGURANÇA HUMANA

➢ 1994-PNUD: necessidade de evolução conceitual focada no ser humano e no


decréscimo do sentimento de insegurança da sua vivência diária;

➢ 7 Ameaças SH: alimentar, ambiental, comunitária, econômica, pessoal, política e


sanitária).
Baseando-se nos componentes da libertação do medo e da liberdade de escolha, foi
“introduzido o conceito de segurança humana, que o referido relatório considerou que
poderia ser afetada por diversas ameaças, como a fome, a doença, a criminalidade, o
desemprego, as violações de direitos humanos e os desafios ambientais”

LUDOVINO, António Manuel Barradas. O emprego das Forças Armadas na Segurança Interna em Portugal: estudo comparativo com Espanha. Disponível em: https://www.revistamilitar.pt/artigo/1174.
SEGURANÇA HUMANA

➢ rompidas as clássicas, históricas e rígidas distinções conceituais entre a “segurança


interna” e a “segurança externa”.

➢ Segurança: muito mais que Estado e indivíduo;

➢ Modelo mais denso de preocupação subjetiva e de proteção, centralizada no


CIDADÃO - condições para que se sinta seguro.
➢ Sociedade de risco: prestação social protetiva estatal - utilização conjunta/integrada
operadores de segurança;

- Hodiernamente, a atividade policial acaba por garantir dois valores indissociáveis e


fundamentaís a uma democracia: a liberdade e a segurança.
➢ Debate acadêmico-político generalizado/potencializado;

➢ Multidisciplinaridade, Pluralismo Interpretativo;

Nova conceitualização expandida: “passa a ser tratada como fenômeno multisetorial,


extravasando os tradicionais setores político e militar e multinível, deixando de ser limitado
ao provedor e objeto de referência estatal”.BRANDÃO, Ana Paula. O Nexo Interno-Externo na Narrativa Securitária da União Europeia.
Prover segurança começa a relaciona-ser diretamente com a estratégia, tendo ambas
(segurança e estratégia) diferentes dimensões, que extrapolam o clássico e histórico
aspecto militar.
BUZAN, Barry. People, States and Fear: an Agenda for International Security Studies in the Post-Cold War Era. 2. ed. Colchester: ECPR Press, 2007.
CONCLUSÃO
O conceito de segurança é algo em constante construção, tendo a temática uma
abordagem variável de acordo com o contexto, o ambiente e o momento histórico.
Hodiernamente o terrorismo e a criminalidade organizada transnacional são sérias
ameaças à segurança global, exigindo uma profunda reavaliação de cenários e de atores.
A sociedade de risco demanda ao Estado uma verdadeira prestação social protetiva por
meio da utilização conjunta e integrada dos operadores de segurança. Modernamente, a
atividade policial acaba por garantir dois valores indissociáveis e fundamentaís a uma
democracia: a liberdade e a segurança.
AMARO, António Duarte. Segurança comunitária e proteção civil. Territorium: Revista Internacional de Riscos, n.
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“O mundo está cheio – cada vez mais cheio – de senso comum, de imagens feitas, de ideias recebidas e
repetidas acriticamente, de uma ditadura doce dos meios de comunicação social que, além de confundir
simplicidade com simplificação, torna automaticamente aceites os pontos de vista mais problemáticos”.
António Manuel Hespanha

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