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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Campus Toledo

Engenharia Civil

PROJETO DE UMA PEQUENA BARRAGEM


MEMORIAL DE CÁLCULO

Adriana Elisabete Limberger


Claudia Marquezini Hauy
Thiago Alex Hemkemeier

Disciplina: Obras Hidráulicas


Professor: Elisabete Yukiko Nakanishi Bavastri

Toledo, 18 de Dezembro de 2014.


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Sumário

1. Introdução...............................................................................................................4
2. Barragem................................................................................................................5
2.1 Tomada d’Água.................................................................................................6
2.2 Sistema de Baixa Pressão................................................................................7
2.3 Câmara de Carga..............................................................................................8
2.3.1 Dimensionamento............................................................................................8
2.4 Chaminé de Equilíbrio.....................................................................................11
2.5 Conduto Forçado.............................................................................................12
2.6 Casa de Força.................................................................................................12
2.7 Tipologia de Turbinas Hidráulicas...................................................................13
2.8 Canais de Fuga...............................................................................................16
2.9 Substação Elevadora......................................................................................18
3. Detalhamento de uma Usina Hidrelétrica e seus Principais Componentes........20
4. Conclusão.............................................................................................................21
5. Referências bibliográficas....................................................................................22

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1. Introdução

O presente memorial de cálculo apresentará o estudo de implantação de


uma barragem com área de drenagem inferior a 2 km², incluindo seu
dimensionamento de acordo com o método proposto pelo Departamento de
Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo (DAEE).
O procedimento adotado para o dimensionamento consiste em:
a) Escolha da bacia;
b) Cálculo da área de drenagem (AD)
c) Cálculo da vazão de cheia (Q) intensidade das chuvas (i) e tempo de
concentração (t c), incluindo hidrograma de enchente;
d) Determinação das características da barragem;
e) Dimensionamento de vertedor;
f) Verificação para vazão catastrófica;
g) Dimensionamento da bacia de dissipação, incluindo dimensionamento
de canal;
h) Dimensionamento do descarregador de fundo.

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2. Escolha da Bacia

A bacia escolhida para implantar a barragem é a Bacia do Rio São


Francisco, cuja extensão envolve os estados de Minas Gerais, Bahia,
Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
O rio selecionado é o Rio Pratudinho, no oeste da Bahia, localizado a 60
km da cidade de Coribe e a 50 km da cidade de Cocos (Figura 1 e Figura 2). A
economia da região é baseada no cultivo de lavouras de arroz, cana-de-açúcar,
feijão, mandioca, milho, manga, além da economia agropastoril (IBGE, 2014).

Figura 1 – Localização do Rio Pradutido no oeste da Bahia.


Fonte: Google Earth, 2014.

Figura 2 – Localização do Rio Pratudinho em relação às cidades de Cocos e Coribe


Fonte: Google Earth, 2014.

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3. Área de Drenagem

A área de drenagem da subbacia foi feita com auxílio do software


AutoCAD. A Figura 3 abaixo mostra a subbacia com sua respectiva área de
drenagem e a possível localização do barramento.

Figura 3 – Área de drenagem e localização do barramento


Fonte: Google Maps, 2014.

As seções S e M escolhidas definem o limite de jusante e montante da


bacia, conforme a Figura 4.

Figura 4 – Seção de estudo


Fonte: Google Maps, 2014.

Com isso, tem-se que a área de drenagem vale AD = 191 ha e o


comprimento do talvegue vale 1,52 km.

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4. Cálculo da Vazão de Cheia

Para as bacias com área de drenagem até 2 km² será utilizado o método
racional:
Q=0,167 .C .i . AD
Equação 1.
Onde:
Q – Vazão máxima de cheia (m³/s)
C – coeficiente de escoamento superficial
i – intensidade da chuva (mm/min)
AD – área da bacia (ha)

4.1. Coeficiente de Escoamento Superficial

Aplicando-se esse conceito ao rio Pratudinho, têm-se, na Figura 5, os


valores recomendados para o coeficiente de escoamento superficial.

Figura 5 – Valores recomendados para o coeficiente C.


Fonte: DAEE, 1994.

Considerando uma área parcialmente urbanizada e de acordo com a


Figura 5, o valor do coeficiente C será 0,35.

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4.2. Intensidade das Chuvas

Para o cálculo da intensidade da chuva máxima será adotada a fórmula


(FESTI, s.d. apud OLIVEIRA, et al) para a cidade de Goiânia/GO, conforme a
Equação 2. Será utilizada a formulação para a cidade de Goiânia/GO por ser a
mais próxima da localidade a conter esse tipo de estudo.

0,1422
920,450∗T r mm
i max = 0,7599
( )
(t+12) hora
Equação 2.
Sendo:
Tr – tempo de retorno;
t = t c = duração da chuva crítica.
Para o tempo de retorno, podemos definir através da Figura 6.

Figura 6 – Recomendações para os valores mínimos de período de retorno.


Fonte: DAEE, 2005.

Dessa forma, o tempo de retorno será de 1000 anos.


Na aplicação do Método Racional, como em vários outros, considera-se a
duração da precipitação intensa de projeto igual ao tempo de concentração da
bacia.

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4.2.1. Tempo de Concentração

De acordo com o a fórmula do “California Culverts Practice” (TUCCI,


1993), também recomendado pelo DAEE:

( )
2 0,385
L
t c =57 .
I eq
Equação 3.
Sendo:
L – comprimento do talvegue do curso d’água (km)
I eq - desnível equivalente do talvegue entre a seção e o ponto mais
distante da bacia (m)

4.2.2. Desnível Equivalente

Para calcular a declividade equivalente do talvegue, deve-se determinar


dados de distâncias horizontais e desníveis entre as curvas de nível que estão
contidas no trecho S-M. A Figura 7 apresenta a planialtimetria hipotética da
área da barragem.

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Figura 6 – Planialtimetria hipotética da área da barragem

A Tabela 1 apresenta os dados de desnível e declividade necessários


ao cálculo do desnível equivalente.

Ponto do Cota H Dist. "M" L Desnível ΔH Extensão Ln Declividade Jn


Talvegue (m) (KM) (m) (Km) (m/km)
Divisor (M) 490,00 0,00 - - -
Curva de nível 485,00 0,35 5,00 0,35 14,29
Curva de nível 475,00 0,89 10,00 0,54 18,52
Seção 'S' 465,00 1,52 10,00 0,63 15,87
Tabela 1 – Dados e cálculos para o traçado do perfil do talvegue

As três primeiras colunas correspondem ao ponto analisado, à cota do


ponto e a distância dos pontos até a seção M, respectivamente. As três últimas
colunas representam o desnível do trecho em relação ao nível do ponto
anterior, a extensão e a correspondente declividade entre esses dois pontos,
respectivamente.
Com bases nesses dados, traça-se o perfil longitudinal do talvegue,
conforme a Figura 7.

Figura 7 – Perfil longitudinal o talvegue

Assim sendo, o cálculo da declividade equivalente do talvegue se dá


através da Equação 2.

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( )
2
L
I eq=
L 1 L2 L 3 L4 Equação 2
+ + +
√ j 1 √ j2 √ j3 √ j 4

Onde:
L=L1 + L2 + L3+ L4
Ln: extensão do trecho, correspondente a quinta coluna da Tabela 1;
j 1 : declividade do trecho, correspondente a sexta coluna da Tabela 1.
Assim:

( )
2
1,52
I eq= =16,32
0 0,35 0,54 0,63
+ + +
√ 0 √14,29 √18,52 √15,87

4.3. Cálculos

Utilizando-se das informações apresentadas anteriormente, pode-se


realizar os procedimentos para o cálculo da vazão, iniciando-se pelo tempo de
concentração:

( )
0,385
1,522
t c =57 . =26,85 minutos
16,32

Então, pode-se calcular a intensidade da chuva com o valor de t c .

( ) ( )
0,1422
920,450∗1000 mm mm
i max = =152,34 =2,54
(26,85+12)
0,7599
hora min

Com isso, obtém-se a vazão da bacia através da Equação 1:

3
Q=0,167 .0,35. 2,54 . 191=28,36 m /s

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5. Definição das Características da Barragem

5.1. Nível Máximo Maximorum

O nível máximo maximorum é definido pela cota máxima de inundação.


Essa cota será, então, o nível máximo a que deverá chegar o reservatório
durante a enchente de projeto:

NA máx max=470,00 m

5.2. Cota da Crista do Maciço

É recomendado em literatura que a distância vertical entre o nível máximo


maximorum e a crista da barragem não seja inferior a 0,5 m.
Encontra-se a cota da crista do maciço em função das dimensões do
reservatório e das características do vento. Como a barragem projetada neste
trabalho é de pequeno porte, considera-se o valor mínimo, que se expressa
por:

Cota da Crista do Maciço=470,00+0,5 m=470,50 m

5.3. Soleira do Vertedor de Superfície

A área inundada do reservatório em seu nível normal foi medida através


do auxílio do software AutoCad, e vale aproximadamente A=3,5 hectares.

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Então, fixou-se o valor da cota da soleira do vertedor como sendo 0,8 m abaixo
do nível máximo maximorum.

As dimensões da soleira apresentaram 0,4 m de largura e 0,5 m de


altura, acima do leito do canal extravasor. Essas dimensões e disposições
permitem que a soleira seja livre, espessa e de fácil execução. Assim, a cota
do fundo do canal do vertedor junto da soleira será 469,20 m.

Figura 8 – Corte transversal do maciço da barragem mostrando cotas de nível (sem escala)

5.3.1. Determinação da Vazão

Após o amortecimento da onda de cheia, deve-se definir o comprimento


da soleira do vertedor necessário à veiculação da vazão de projeto. Para isso,
calcula-se a vazão máxima que sairá pelo vertedor para a lâmina de 0,8 m.

Q=μ ∙ L∙ H √ 2 gH Equação 4

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Onde:

μ: 0,35 (para soleira espessa);

L: largura da soleira (m);

H : carga da soleira (m).

Substituindo os valores, têm-se os valores de:

Q s =1,55∙ L ∙ H
3 /2
e Qs =1,1 L
máx

Além da determinação de Qs e Q s , deve-se determinar o volume de


máx

reservação e volume de enchente, antes de determinar a largura da soleira.

5.3.2. Volume de Amortecimento e Reservação (V R)

Deve-se estimar o volume de armazenamento entre o nível da soleira do


vertedor e o nível máximo maximorum, definido pelo volume de reservação ( V r
), que permitirá amortecer o pico de cheia. A Tabela 2 apresenta os valores dos
volumes acumulados e estimados.

Cota Área inundada Área Média Desnível h Volume Parcial Volume


(m) (m²) (m²) (m) (m³) Acumulado (m³)
465,00 0,00 - - 0,00 0,00
467,00 7500,00 - 2,00 5000,00 5000,00
468,50 35100,00 21300,00 1,50 17550,00 22550,00
470,00 84600,00 59850,00 1,50 42300,00 59850,00
Tabela 2 – Valores dos volumes acumulados
Para as cotas da soleira do vertedor (469,20 m) e para o nível máximo
maximorum (470,00 m), os volumes acumulados são, respectivamente, por
interpolação, 39956,67 m³ e 59850,00 m³.

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Considerando-se o nível do lago tangente à soleira do vertedor no início


da cheia, o volume de reservação ( V R) que poderá ser utilizado para amortecer
a onda de cheia é dado pela diferença:

V R=59850,00−39956,67
Portanto,
V R=19893,33 m ³

5.3.3. Amortecimento da Onda de Cheia

Para determinar o valor de Q s , utiliza-se o método do Amortecimento


máx

Simplificado de Onda de Cheia, adotando-se um valor de tempo de base t b=3 t c


.
Sendo assim,

t c =26,85 min ¿1611 s


t b=3 ∙ 1611 s=4833 s

Além disso, utiliza-se o valor de vazão de pico calculado inicialmente, sendo:

Q E =28,36 m ³/ s
máx

O volume de enchente é expresso pela equação:

QE t b
V E= máx

2
Portanto,

28,36 ∙ 4833
V E= =68531,94 m ³
2

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Como V E=V R +V S ' , então V S '=V E−V R, assim:

'
V S =68531,94−19893,33=48638,61m ³

Com isso, pode-se calcular finalmente o valor de Q s , através da


máx

formulação:

'
2Vs
Qs =
tb
máx

Dessa forma,
2 ∙ 48638,61
Qs = =20,13 m³ /s
máx
4833

5.3.4. Largura da Soleira do Vertedor

A Figura 8 mostra a soleira do vertedor na cota 469,20 m, o nível d’água


máximo no reservatório na cota 470,00 m, e, como consequência, uma lâmina
ou carga máxima sobre a soleira de 0,80 m.
Como a vazão máxima que deverá passar pelo vertedor tem o valor de

Qs =20,13 m³ /s
máx

pode-se definir a largura da soleira:

Qs =1,1 L
máx

20,13=1,1 L

L=18,30 m

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A Figura 9 apresenta o hidrograma de enchente:

Figura 9 – Representação simplificada do hidrograma de enchente

E a Figura 10 apresenta o esquema do vertedor de superfície da


barragem:

Figura 10 – Vista frontal esquemática do vertedor de superfície da barragem

5.3.5. Verificação para a Vazão Catastrófica

Definida a largura do vertedor, verifica-se qual vazão de uma cheia com


TR superior a 1000 anos levaria o nível d’água do reservatório a atingir a crista

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do maciço da barragem na cota 470,50 m, que representa uma condição-limite


para o barramento.
Além desse ponto, ocorre o galgamento do aterro, com grande risco de
provocar sua destruição parcial ou total.
Com o nível d’água no reservatório na cota 470,50 m, a altura d’água ou a
carga sobre a soleira do vertedor será:
H=470,50−469,20=1,30 m

Calculando-se a vazão Qs para essa carga, tem-se:

3 3
2 2
Qs =1,55∙ L ∙ H =1,55 ∙ 18,3∙ 1,3

Q s =42,04 m ³ /s

Essa é a estimativa para a máxima vazão que sairá pelo vertedor na


ocorrência da cheia denominada “catastrófica”.
Com o uso das equações e relações entre vazões, volumes, tempo de
concentração e tempo de base do item Amortecimento da Onda de Cheia,
pode-se estimar a vazão de pico da cheia catastrófica: Q E =QC . máx

Primeiramente, tem-se:

' Q s t b 42,04 ∙ 4833


V S= = =101597,87 m³
2 2

Para o nível de 470,50 m, por interpolação da Tabela 2, encontra-se o


valor de volume acumulado de 101100 m³. Como o volume armazenado
referente à cota da soleira do vertedor é de 39956,67 m³, tem-se um volume de
reservação de:

V R=101100−39956,67=61143,33 m ³

Pode-se, então, calcular o novo valor do volume de enchente ( V E):

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V E=V R +V S '

V E=61143,33+101597,87=162741,20 m ³

QE t b
Como V E= máx

2
Tem-se
2V E
QE =
máx
tb
Assim,
2∙ 162741,20
QE = =67,35 m ³/s
máx
4833

Sendo, portanto, Q E =67,35 m ³/ s o valor estimado para o pico de cheia


máx

catastrófica.
Com esses valores pode-se determinar, através da equação racional, qual
é o valor de intensidade de chuva, para o tempo de retorno igual a 1000 anos,
que será necessário para ocorrer a vazão de cheia catastrófica. Dessa forma:

67,35=0,167 ∙0,35 ∙ 191∙ i


i=6,03 mm /min

Para comparação, a intensidade de chuva calculada no início do


dimensionamento para o período de retorno de 1000 anos foi de i=2,54 mm/min
. Portanto, pode-se concluir que a probabilidade de ocorrer uma vazão
catastrófica é muito pequena.

6. Bacia de Dissipação

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A implantação de uma barragem cria um desnível entre a superfície do


reservatório e a lâmina d’água do curso d’água no trecho de jusante. No
presente caso, esse desnível será de 4 m, aproximadamente.
As descargas através do vertedor terão de percorrer esse desnível para
retornar ao leito do Rio Pratudinho, a jusante do barramento. Se não for
utilizado um trecho com forte inclinação ou um trecho com degraus, de modo a
vencer o desnível numa curta distância horizontal, será necessário estender o
canal de restituição do vertedor por centenas de metros, buscando um perfil
que esteja em conformidade com o relevo natural.
Para esse projeto, optou-se por construir um “rápido”, ou calha inclinada,
num trecho com 20 m de comprimento, vencendo um desnível de mais de 4,0
m.

6.1. Estimativa da Lâmina d’Água de Jusante

Ao retornar ao córrego a jusante da barragem, a torrente que extravasar


pelo vertedor precisará chegar ao leito natural com uma energia muito próxima
daquela que o escoamento da mesma vazão teria se não houvesse o
barramento.
A vazão de enchente que passará pelo vertedor, de acordo com os
cálculos feitos anteriormente, será de 20,13 m³/s, já amortecida pelo
reservatório.
É preciso estimar qual a lâmina e qual velocidade média essa vazão irá
assumir no canal natural do córrego em estudo, para o dimensionamento de
um canal de restituição cujo escoamento apresente características
semelhantes.
Para isso, estima-se um canal de restituição trapezoidal conforme
geometria hipotética natural do rio. A Figura 11 apresenta a seção do canal
com suas respectivas relações geométricas básicas.

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Figura 11 – Canal trapezoidal

A equação a seguir apresenta o cálculo da vazão para esse tipo de


canal, com as respectivas relações geométricas aplicadas. Como a vazão de
enchente já foi calculada utiliza-se da equação para calcular a altura de lâmina
de água que passará pelo canal, a partir da fixação de uma das dimensões, ou
seja, a base, como sendo igual a 2 m.

( )
2/ 3
1 ( bh+ mh ²
Q= √i bh+mh ² )
n b+2 h √ 1+ m²

Com:
n = 0,035 (coeficiente de rugosidade para revestimento de terra);
i = 0,0025 m/m (valor adotado);
b = 2,0 m
m = 1,0
Q = 20,13 m³/s

Substituindo esses valores, encontra-se o valor de lâmina d’água:

h=2,6 m

Utilizando a equação da continuidade, tem-se:

v=1,68 m/ s

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6.1.1. Canal de Restituição à jusante da Bacia de Dissipação

A fim de aperfeiçoar as dimensões do canal de restituição à jusante da


Bacia de Dissipação, consideram-se os valores a seguir para o cálculo da base
do canal, fixando-se, agora, a altura do canal como sendo a altura de lâmina
d’água encontrada no item anterior, e alterando-se a inclinação do talude.
Assim, os valores adotados são:

n = 0,035 (talude de escavação em terra);


m = 1,5 (inclinação do talude);
i = 0,0025 m/m (declividade adotada);
h = 2,60 m;
Q = 20,13 m³/s

Utilizando-se esses valores, pode-se calcular a nova base através da


equação utilizada para calcular a altura do item anterior. Assim:

b=0,87 m=1,0 m

E com a equação da continuidade, a velocidade vale:

v=1,62 m/ s

Como a velocidade calculada para o novo canal de restituição é próxima à


velocidade estimada no item anterior, que considera a geometria aproximada
do rio, não haverá grandes perturbações ao longo da deposição de água à
jusante.

6.2. Dimensionamento da Bacia de Dissipação

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Com o objetivo de apresentar um projeto de geometria simples, que


possa ser compreendido, verificado, projetado e construído com certa
facilidade, o tipo de bacia escolhido tem forma de piscina (Figura 12), inserida
no canal de concreto de seção retangular, terminando em degrau ascendente
ou parede vertical. No final da bacia se faz a transição da seção retangular
(revestida) para a seção trapezoidal (em terra), já definida, com redução da
largura da base de 2,0 m para 1,0 m.

Figura 12 – Bacia de dissipação de energia em canal retangular

A partir da Figura 12, observa-se que para determinar o comprimento x e


a altura h da bacia de dissipação, deve-se determinar os valores de y 3, v1 e y 1.
O valor de y 3 foi determinado anteriormente, e vale h=2,60 m.

6.2.1. Estimativa Preliminar da Profundidade da Bacia de Dissipação

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Incialmente determina-se o valor de y 1, ao final do canal que se


assemelha à geometria natural do rio, através de manipulações da equação da
continuidade, resultando:

Q 1
y 1=
b v1

m3
Sendo Q=20,13 e b=2,0 m. Assim:
s

10,065
y 1=
v1

Para a determinação da velocidade média do escoamento ( v1 ) no final da


calha inclinada admite-se que quase toda energia potencial (desnível),
transforma-se em cinética. Sendo assim,

v1 =√ 2 gD

Onde D é o desnível entre o nível máximo maximorum e a cota de


interseção teórica do leito do canal com a calha inclinada, estimado como
sendo igual a 5 m. Dessa forma, o a cota o leito do canal vale 465,00 m.
Calculando para a fórmula, resulta:

v1 =9,90 m/s

Substituindo o valor da velocidade para a equação de y 1, tem-se:

y 1=1,02 m

Para determinar o valor da altura h, deve-se determinar o número de


Froude, e realizar a interpolação do gráfico apresentado na Figura 13. Com
isso,

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v1 9,9 y 3 2,60
F 1= = =3,13 e = =2,55
√ g y1 √ 9,81 ∙1,02 y 1 1,02

Localizando esses pontos no gráfico, tem-se (Figura 13):

Figura 13 – Gráfico de Froude

Observa-se que o ponto encontra-se entre:

h h
=1 e =0,5
y1 y1

Por interpolação, obtém-se:

h
=0,8
y1

Como y 1=1,02, então:

h=0,82 m

Assim, o valor da cota no fundo da bacia vale 465,0−0,82=464,18 m.

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6.2.2. Verificação das Dimensões da Bacia de Dissipação

Após ter estimado preliminarmente o valor de h através da adoção de um


desnível D igual a 5 m, utiliza-se da formulação seguinte para determinar um
novo D que compense as perdas por atrito:

h
D= +(N s−N Fb)
2

Onde:
h=0,82=¿ altura;
N s =468,70=¿cota da soleira;
N Fb =464,18=¿cota do fundo da bacia de dissipação (resultante da
estimativa preliminar.
Dessa forma,
D=4,93 m

A partir desse novo valor de D, adotando-se o mesmo desenvolvimento e


expressões do item anterior, calculam-se novamente os valores de v1 , y 1, F 1e
y 3 / y 1:
v1 =9,83 m/s;
y 1=1,02 m;
F 1=3,11;
y3
=2,55;
y1
Em posse desses valores, tem-se:
h
=0,78
y1
Assim:

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h=0,80

Da Figura 12, tem-se a expressão para o cálculo do comprimento da


bacia de dissipação:

x=5 ( h+ y3 ) ∴ x=5 ( 0,80+2,60 )=17 m

Como dimensões de projeto, adotou-se uma bacia de dissipação de


energia em concreto armado, incluída no canal retangular, com largura
2=2,00m , comprimento x=17,0 m, profundidade h=0,80 m e cota do fundo
N Fb=464,20 m.
A Figura 14 apresenta o perfil do canal extravasor que mostra o desnível
entre o reservatório e o canal de restituição.

Figura 14 – Perfil do canal extravasor

A Figura 15 apresenta a planta e os cortes do canal extravasor de superfície.

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Figura 15 – Canal extravasor e cortes

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7. Descarregador de Fundo

O descarregador de fundo é uma estrutura hidráulica importante e


indispensável para qualquer pequena barragem, e é utilizado na fase de
construção do barramento como desvio para o escoamento das vazões do
curso d’água. Após a implantação da obra, permite a operação do reservatório
quando necessário em qualquer nível, tornando possível a manutenção de
vazões mínimas para jusante. Para a segurança própria da estrutura, o
descarregador funcionará hidraulicamente como um conduto livre.
A Figura 16 apresenta um esquema da localização do descarregador de
fundo na barragem.

Figura 16 – Descarregador de fundo

O descarregador de fundo da barragem dimensionada no presente


trabalho será de concreto, com dimensão circular, de aplicação mais comum.
Assim, calcula-se a vazão nesse descarregador através da expressão:

Q=18,628 D
8 /3
√i
Onde:
Q = vazão máxima do descarregador de fundo (m³/s);
D = diâmetro interno da tubulação (m);
i = declividade (m/m).

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Como a precipitação anual média para a região é de 1200 mm/ano,


calcula-se a vazão pelo método racional. Para isso, utilizam-se os mesmos
dados apresentados no início do dimensionamento, variando-se somente a
intensidade de precipitação. Dessa forma, pode-se estimar a vazão utilizada no
enchimento do reservatório, através da precipitação média anual.

Q=0,167 .0,35. 0,0023 . 191=0,0257 m3 /s

Utilizando-se esse valor de vazão na fórmula para o descarregador de


fundo:

0,0257=18,628 D
8/ 3
√0,005
Assim,

D=0,228 m

Entretanto, é recomendada a utilização de um diâmetro de 0,8 m, no


mínimo, para a galeria do descarregador de fundo, pela necessidade de
inspeções visuais internas para identificação de possíveis vazamentos ou
problemas estruturais e para dar mais segurança ao escoamento das vazões
do curso d’água na fase de construção, quando funciona como desvio.
As Figuras 17, 18 e 19 apresentam esquemas do descarregador de
fundo.

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Figura 17 – Desemboque do descarregador de fundo

Figura 18 – Emboque do descarregador de fundo

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Figura 19 – Tomada d’água do descarregador de fundo

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8. Representações Gráficas

As representações gráficas dos esquemas gerais da barragem, incluindo


o maciço de terra da barragem e a vista da barragem à montante e à jusante
estão apresentadas no Anexo I.

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Referências Bibliográficas

UFRRJ. 2004. Escoamento superficial. Disponível em: <


http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-
Cap7-ES.pdf>. Acesso em 20 nov 2014.

FESTI, A. V. Coletâneas das equações de chuva do Brasil. São Paulo.


S.d.

IBGE, ÍNDICE BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.


Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?
lang=&codmun=290910&search=bahia|coribe|infograficos:-informacoes-
completas Acesso em: dez/2014.

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