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Universidade Federal da Bahia

Escola Politécnica Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental


Disciplina: ENG275 - Tratamento de Água para Abastecimento
Discente: Guilherme Andrade Albuquerque

ETAPA 2 - PROJETO DE TRATAMENTO DE ÁGUA PARA


ABASTECIMENTO (2022.1)

Salvador
Junho, 2022
SUMÁRIO

1. Núcleo Urbano de Santo Estevão .......................................................... 2

2. Cálculo das vazões de projeto ................................................................ 3

3. Dispositivo hidráulico para mistura rápida .............................................. 4

4. Dimensionamento do canal de água contendo coagulante .................. 10

5. Dimensionamento do canal de floculação de fluxo horizontal .............. 12

6. Dimensionamento dos decantadores convencionais ............................ 17

7. Dimensionamento das cortinas difusoras de passagem entre as câmaras de


floculação ................................................................................................................. 19

8. Dimensionamento das calhas coletoras de água decantada .................... 23

9. Dimensionamento do sistema de floculação mecanizado ......................... 25

...................................................................................................................... 29

10. Dimensionamento do sistema de filtração ............................................... 29

11. Dimensionamento das calhas de coleta de água de retrolavagem ......... 35

12. Sistema de desinfecção........................................................................... 37

13. Conclusão................................................................................................ 40

14. Refrências Bibliográficas ......................................................................... 40


2

1. Núcleo Urbano de Santo Estevão

Santo Estevão é um município brasileiro do estado da Bahia, que se encontra


distante 157 km de Salvador, capital baiana. Localiza-se à latitude 12º25'49" sul e à
longitude 39º15'05" oeste, com 242 metros de altitude, às margens da BR 116, na
Microrregião de Feira de Santana, tem como municípios vizinhos Ipecaetá, Rafael
Jambeiro, Antônio Cardoso, Castro Alves e Cabaceiras do Paraguaçu.

Figura 1 - Localização geográfica da cidade de Santo Estevão

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2022

O município possui uma área de 360,334 km² segundo o Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE) e população de 53.666 habitantes de acordo com o
enunciado do atual projeto.
A comemoração do São João é um dos pontos de maior referência na cultura
do município, elogiado pelos moradores e turistas. Santo Estevão atrai uma multidão
quando o assunto é festa junina, chegando a receber, na Praça 7 de setembro, mais
de 30 mil pessoas por dia.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Santo Estevão, o município ainda
apresenta desigualdades econômicas e sociais.
A sede do município de Santo Estevão conta com um serviço de água mantido
pela Empresa Baiana de Água e Saneamento (EMBASA) e as ligações são feitas
através de hidrômetros. Na área rural o sistema de abastecimento de água em certas
comunidades, se faz através do Rio Paraguaçu ou provenientes de poços tubulares
e cisternas.
3

2. Cálculo das vazões de projeto

Para dar continuidade ao projeto, se faz necessário o cálculo das vazões


(mínimas, médias e máximas).
O consumo per capita é importante para a determinação das capacidades das
unidades de uma instalação de abastecimento de água. Por isso, buscou-se no
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) o consumo per capita
efetivo de água da população de Santo Estevão (qe), encontrando o valor de:
qe = 107,32 L/hab.dia
Utilizando como base o livro “Abastecimento de água para consumo humano,
p.108” (Léo Heller e Valter Lúcio de Pádua), será utilizada a Equação 1, que refere-
se à vazão média (L/s), para o cálculo das vazões:

𝑃 𝑥 𝑞𝑒
Equação 1 𝑄𝑚 =
86400

Onde P refere-se a população (habitantes), qe refere-se ao consumo per capita


e 86400 faz referência ao tempo de funcionamento em segundos.
Para cálculo das vazões máximas e mínimas, devem ser utilizados os
denominados coeficientes de reforço:
k1 - máxima vazão diária;
k2 - máxima vazão horária;
k3 - mínima vazão horária;
Na ausência de determinações específicas, a NBR 9649 recomenda adotar
para os coeficientes, os valores de 1,2, 1,5 e 0,5, respectivamente.
O coeficiente k1 consiste na razão entre o maior consumo diário verificado em
um ano e o consumo médio diário no mesmo ano, considerando-se as mesmas
ligações.
O coeficiente k2 consiste na razão entre a máxima vazão horária e a vazão
média diária do dia de maior consumo.
O coeficiente k3 consiste na razão entre o dia de menor consumo e a vazão
média anual.
Para o cálculo da vazão média será utilizada a Equação 1, e partir desta, será
determinada a vazão mínima por meio do produto com o coeficiente k3, enquanto a
4

vazão máxima será obtida por meio do produto da vazão média pelo coeficiente k1
(máxima vazão diária). O coeficiente k2 não será utilizado neste projeto.
Dessa forma, foram calculadas as vazões de projeto, que são apresentadas
na Tabela 1:
Ok
Tabela 1: Valores das vazões

Vazões (L/s)
Qmin 33,3
Qmed 66,7
Qmax 80,0
Fonte: Elaborado pelo autor, 20222

3. Dispositivo hidráulico para mistura rápida

De acordo com a NBR 12216 (Projeto de estação de tratamento de água para


abastecimento público), constitui dispositivos de mistura: qualquer trecho ou seção
de canal ou de canalização que produza perda de carga compatível com as condições
desejadas, em termos de gradiente de velocidade e tempo de mistura;
A escolha da calha Parshall será baseada na Figura 2.
Figura 2 - Dimensionamento de Calhas Parshall

Fonte: Slides do Prof. Sidney S. Ferreira Filho do Departamento de Eng. Hidráulica e Sanitária da
Escola Politécnica da USP
5

Foram tomadas como referência as vazões máxima e mínima do projeto


(Qmax=80 L/s e Qmin=33,3 L/s), de forma que atendam ao intervalo de vazão com
escoamento livre, que foi de 1,4 - 110, de acordo com a Figura 2.
Sendo assim, foi encontrada a dimensão da garganta da calha Parshall
W=15,2 cm, que corresponde a menor garganta, cujo intervalo de vazões mínimas e
máximas atende a vazão de projeto e garante o menor custo possível.
Para cálculo das verificações, será utilizada a vazão média do projeto (Q=66,66
L/s).
Entre essas verificações, devemos buscar:
● Menor valor de h1;
● Evitar o ressalto oscilante (Froude entre 2,5 e 4,5)
● Gradiente de velocidade acima de 1000 s¹ (segundo elevado a “menos 1”)

O cálculo da profundidade Ho fundamenta-se em uma equação específica


vinculada a dimensão da garganta, portanto têm-se a Equação 2, onde a unidade de
Q é dada em m³/s.

Equação 2 𝑄 = 0,381 𝑥 𝐻𝑜1,580

usando o 𝑄𝑚é𝑑𝑖𝑜 :
𝑯𝒐 = 0,3318 m

Largura na seção de medida (D’) é dada pela Equação 3:

Equação 3 𝐷′ = [2/3 ∗ (𝐷 − 𝑊) + 𝑊]
D = 40,3 cm
W = 15,2 cm = 0,152 m
D’ = 31,9333 cm = 32cm

Velocidade na seção de medida (Vo) é dada pela Equação 4:


6

Equação 4 𝑉𝑜 = 𝑄 / 𝐷′ ∗ 𝐻𝑜
𝑽𝒐 = 0,6292 m/s

Vazão específica na garganta do vertedor parshal (q) é dada pela Equação 5:

Equação 5 𝑞 = 𝑄/𝑊
q = 0,43855 (m³/s)/m

Energia Hidráulica disponível (Eo) é dada pela Equação 6:

Equação 6 𝐸𝑜 = (𝑉𝑜²/2𝑔) + 𝐻𝑜 + 𝑁

𝐸𝑜 = (0,62922/ 2 .9,81) + 0,3316 + 0,114


Eo = 0,4659

Ângulo fictício é dado pela Equação 7:


Equação 7

*Q/W = q

9,81 .0,43855
cos(𝜃) = - 3
(0,67 .9,81.0,4659)2

cos(𝜃) = - 0,8
(𝜃) = 143º7’
7

Velocidade na seção 1 é dada pela Equação 8:

Equação 8

𝑽𝟏 = 2,35 m/s

A profundidade a montante do ressalto (h1) é dada pela Equação 9:

Equação 9 𝒉𝟏 = 𝑸 / 𝑽𝟏

h1 = 0,028m

Número de Froude (Fr) é dado pela Equação 10:

Equação 10 𝐹𝑟 = 𝑉1 / (𝑔 ∗ ℎ1)1/2

𝑭𝒓 ≅ 4,45 = 4,5
O número de Froude com valor de 4,5 representa a fase final do ressalto
oscilante e inicial do ressalto estacionário desejável (4,5<Fr<9,0).

A altura do ressalto (h2) é dada pela Equação 11:

Equação 11 ℎ2 = (ℎ1/2) ∗ ((1 + 8𝐹𝑟²)1/2 + 1)

𝒉𝟐 = 0,165m
8

A altura na seção de saída (h3) é dada pela Equação 12:

Equação 12 ℎ3 = ℎ2 − (𝑁 − 𝑘)

𝒉𝟑 = 0,127m

Velocidade (V2) é dada pela Equação 13:

Equação 13 𝑉2 = 𝑄/𝑤 ∗ ℎ2

𝑽𝟐 = 2,65 m/s

Velocidade na seção de saída do ressalto (V3) é dada pela Equação 14:

Equação 14 𝑉3 = 𝑄/(𝐶 ∗ ℎ3)

𝑽𝟑 = 1,33 m/s

Perda de carga (hf) é dada pela Equação 15:

Equação 15 ℎ𝑓 = (ℎ2 − ℎ1)³ / (4 ∗ ℎ2 ∗ ℎ1)

𝒉𝒇 = 0,14m

Tempo de mistura (T) é dado pela Equação 16:

Equação 16 𝑇 = (2 ∗ 𝐺)/(𝑉2 + 𝑉3)

𝑻 = 0,31s
9

Gradiente de velocidade (Gr) é dado pela Equação 17:

Equação 17

𝑮 = 1634s-1

Com isso, é confirmado valor de gradiente de velocidade acima de 1000s -1,


garantindo a promoção da mistura rápida. Apesar de se encontrar acima do que indica
a NBR 12216 (o gradiente entre 700s -1 e 1100s-1), a vazão tratada é sempre abaixo
da estimada, portanto atende aos parâmetros.

Um esboço do perfil hidráulico da calha parshall pode ser observado a seguir


na Figura 3.

Figura 3: Planta baixa e corte da calha Parshall


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4. Dimensionamento do canal de água contendo coagulante

É sabido que todos os fatores envolvidos no processo de coagulação


apresentam grande relevância para a fase seguinte, a floculação. Além disso, o
gradiente de velocidade G (que deve ser inferior a 120s -1 nesse canal) e o tempo de
detenção são os principais fatores envolvidos no sucesso do processo de floculação.
Tais parâmetros governarão a densidade e o tamanho dos flocos formados,
reduzindo a turbidez e/ou cor aparente da água decantada ou, para estações de
filtração direta, conferindo aos flocos maior resistência aos efeitos de cisalhamento
provocado pelas forças hidrodinâmicas do escoamento maximizando a retenção nos
interstícios do meio filtrante. (Marcelo Libânio, 3ª edição).
Inicialmente, precisaremos dos valores de alguns parâmetros necessários:
 Velocidade da água no canal: V adotada será de 0,4m/s;
 Altura útil do canal: será adotada hu = 0,2m;
 Vazão média de projeto (dobrada): Q = 0,07 m³/s
 Material utilizado para construção do canal: madeira (coeficiente de
rugosidade n = 0,011.

Afim de encontrar a largura B do canal vamos usar a Equação 18.

Equação 18 𝑄=𝑉∗𝐴
𝑄 = 𝑉 ∗ (𝐵 ∗ ℎ𝑢)
0,07 = 0,4 ∗ (𝐵 ∗ 0,2)
𝑩 = 𝟎, 𝟗 𝒎

*O valor da largura B exato foi de 0,88m, porém seu valor é majorado com o objetivo
de se obter flexibilidade no projeto.

Agora é necessária a verificação da velocidade, que passa a ser:


𝑄
𝑉=
ℎ𝑢∗𝐵
0,07
𝑉=
0,2∗0,9

𝑽 = 𝟎, 𝟑𝟗 𝒎/𝒔
11

Vamos utilizar a Equação 19 para encontrar o Raio Hidráulico, que será


utilizado posteriormente na fórmula de Manning.

𝐵∗ℎ𝑢
Equação 19 𝑅ℎ =
𝐵+2ℎ𝑢
0,9∗0,2
𝑅ℎ =
0,9+(2∗0,2)

𝑹𝒉 = 𝟎, 𝟏𝟒𝒎

Calculando a fórmula de Manning por meio da Equação 20, ficamos com:

𝑄∗𝑛
Equação 20 𝐽=( )
𝐴∗𝑅ℎ2/3
0,07∗0,013
𝐽=( )
0,18∗0,142/3

𝑱 = 𝟑, 𝟔𝒙𝟏𝟎−𝟒 𝒎/𝒎

*coeficiente de rugosidade 0,013 para concreto


Feito isso, é possível calcular o gradiente de velocidade do canal que é dado
pela Equação 21 a seguir:
𝛾∗𝑉∗𝐽
Equação 21 𝐺= √
𝜇

1000𝐾𝑔𝑓 9,81𝑚 0,39𝑚


∗ 2 ∗ ∗3,6∗10−4
𝐺= √ 𝑚3 𝑠 𝑠
1,167∗10−4

𝑮 = 109 s-1

Sendo assim, podemos continuar com o projeto visto que o gradiente de velocidade
do escoamento nesse canal não ultrapassa o limite pré estabelecido de 120 s -1.
12

5. Dimensionamento do canal de floculação de fluxo horizontal

A floculação pode ser entendida como um processo físico que consiste na


formação de partículas maiores e pesadas, que são denominadas flocos. Nesta
etapa, há a necessidade de uma agitação lenta, diferentemente do processo de
mistura rápida, de forma a garantir choques entre as partículas para a formação dos
flocos. Os gradientes de velocidades e o tempo de detenção no floculador são os
principais parâmetros de operação. Aqui, os gradientes devem obedecer aos
seguintes valores: G1 = 80 s-1 , G2 = 50 s-1 e G3 = 15 s-1 e o tempo total de floculação
deve ser igual a 30 minutos.

Sendo assim, vamos encontrar o volume da câmara de floculação, que é dada


por meio do produto entre a vazão e o tempo de floculação, sendo assim:

Equação 22 𝑉 =𝑄∗𝑡
𝑉 = 0,07 ∗ 1800𝑠
𝑽 = 𝟏𝟐𝟔𝒎³

Segundo Libânio, 2010 “Alguns pesquisadores recomendam mínimo de três


câmaras, ao passo que outros reforçam a premissa de que os custos de instalação e
manutenção dos equipamentos inviabilizariam unidade de floculação com mais de
quatro câmaras.”. Sendo assim, serão adotados 3 canais de floculação com
tempos iguais (t = 10 minutos)
É necessário calcular o volume em cada um dos canais de floculação, que serão
idênticos, como pode ser visto na Tabela 2.

Tabela 2: Divisão dos canais de floculação

GRADIENTE DE
CANAL VOLUME (m³) TEMPO (s)
VELOCIDADE (s-1)

1 42 600 80
2 42 600 50
3 42 600 15
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022
13

Será adotada uma altura de lâmina d’água igual a 0,8m, de forma a manter
a flexibilidade de projeto, falicilitando a manutenção e limpeza da câmara, conforme
recomendação de Ferreira Filho (2020) para que essa altura esteja entre 0,8m e 1,5m.

A Equação 23, que consiste na divisão do Volume pela altura da lâmina d’água,
é capaz de indicar a área superficial total da unidade de floculação.
𝑉
Equação 23 𝐴𝑠 =
𝐻𝑢
126
𝐴𝑠 =
0,8

𝑨𝒔 = 𝟏𝟓𝟖 𝒎²

Será adotada uma largura B de 7,5 metros. De forma a obedecer uma relação
onde L≥3B, temos que o comprimento total L será de 24 metros.

As dimensões dos canais de floculação, contendo seus valores de volume, área


superficial, largura, comprimento, tempo de floculação e gradiente de velocidade pode
ser visto na Tabela 3 consolidada.

Tabela 3: Dimensionamento canais de floculação


ÁREA
COMPRIMENTO GRADIENTE DE
CANAL VOLUME (m³) SUPERFICIAL LARGURA (m) TEMPO (s)
(m) VELOCIDADE (s-1)
(m²)
1 42 52,5 2,5 24 600 80
2 42 52,5 2,5 24 600 50
3 42 52,5 2,5 24 600 15

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Com isso, deve-se calcular o número de espaçamentos em cada unidade de


floculação por meio da Equação 25, onde a variável será o Gradiente G.
3 ℎ𝑢∗𝐿∗𝐺 2
Equação 24 𝑛𝑒 = 0,045 ∗ √ ( ) ∗𝑡
𝑄

O espaçamento entre as chicanas será dado através da Equação 26.


𝐿
Euqação 25 𝑒=
𝑛𝑒
14

O número de chicanas será obtido por meio da soma 𝑛𝑒 + 1 e o número de


curvas por meio da subtração 𝑛𝑒 − 1.

Os valores encontrados para cada canal é apresentado na Tabela 4.

Tabela 4: Consolidação dos canais de floculação


GRADIENTE DE Número de
Espaçamento entre Número de Número
CANAL VELOCIDADE espaçamentos
as chicanas (m) chicanas de curvas
(s-1) (ne)
1 80 76 0,3 77 75
2 50 56 0,4 57 55

3 15 25 1,0 26 24

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

A NBR12216/1992 recomenda que o espaçamento mínimo entre chicanas deve


ser de 0,60 m, podendo ser menor, desde que elas sejam dotadas de dispositivos
para sua fácil remoção. Conforme visto na Tabela 4, os canais 1 e 2 apresenta m
espaçamentos abaixo do recomendado, então será necessária a adoção de
dispositivos para sua remoção, portanto serão adotadas chicanas fabricadas
de madeira (coef. De Manning 0,011).

Deve-se fazer a verificação das velocidades da água nos trechos retos (V1) e
nas curvas das chicanas (V2). Segundo a NBR12216/1992, a velocidade da água ao
longo dos canais deve estar dentro do intervalor de 10cm/s e 30cm/s. Porém Ferreira
Filho (2020) propõe uma variação das velocidades entre 0,1m/s e 0,4m/s. Essas
velocidades são importantes, pois garantem que os flocos não sedimentem no
floculador quando muito baixas e nem se rompam por colisões quando muito altas.

A velocidade da água nos trechos retos pode ser verificada por meio da Equação
26 e a velocidade da água nas curvas é encontrada na relação 2/3V1. Os valores
encontrados para cada canal são apresentados na Tabela 5.

𝑄
Equação 26 𝑉1 =
ℎ𝑢∗𝑒
15

Tabela 5: Velocidades nos canais

Velocidade nos
Velocidade nas
CANAL trechos retos
curvas (m/s)
(m/s)
1 0,28 0,18
2 0,20 0,14
3 0,09 0,06

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Agora devem ser calculadas a perda de carga total no sistema, que se dá pelo
somatório das perdas de cargas distribuidas e localizadas em cada canal.
Com auxílio dos softwares Microsoft Excel, será calculada a perda de carga
distribuída dada pela Equação 27 e posteriormente a perda de carga localizada dada
pela Equação 28 e os resultados encontrados serão apresentados na Tabela 6.

Equaçaõ 27 ∆𝐻𝑑 = 𝐽 ∗ 𝐿𝑓
𝑄∗𝑛
Perda de carga -> 𝐽 = ( 2 )²
𝐴𝑚∗𝑅ℎ 3)

Comprimento percorrido -> 𝐿𝑓 = 𝑛𝑒 ∗ 𝐵

𝑉²2
Equaçaõ 28 ∆𝐻𝑙 = 𝑛𝑐 ∗ 𝐾 ∗ 2𝑔

Tabela 6: Perdas de carga


Raio
Coeficiente de Perda de carga Comprimento Perda de carga Perda de carga Perda de carga
CANAL Vazão (m³/s) Área molhada (m²) hidráulico
Manning (m/m) percorrido (m) distribuida (m) localizada (m) total (m)
(m)
1 0,07 0,011 0,25 0,13 0,00014 190,0 0,026 0,417 0,443
2 0,07 0,011 0,35 0,17 0,00005 138,9 0,007 0,162 0,169
3 0,07 0,011 0,77 0,30 0,00000 62,2 0,0003 0,014 0,015

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Feito isso, é necessária a verificação dos gradientes de velocidade em cada canal


para garantir que os parâmetros iniciais foram respeitados. O cálculo do gradiente é
dado pela Equação 29.
𝜆∗𝑄∗𝐻𝑡
Equação 29 𝐺= √
𝜇∗𝑉𝑜𝑙

Os valores encontrados para os gradientes em cada canal estão na Tabela 7.


16

Tabela 7: Verificação dos gradientes de velocidade em cada canal


Viscosidade
Peso específico da Perda de Gradiente de
CANAL dinâmica da água Volume (m³)
água (kg/m³) carga total (m) velocidade (s-1)
(kgf*s/m²)
1 9810 0,443 0,001167 42 78,8
2 9810 0,169 0,001167 42 48,7
3 9810 0,015 0,001167 42 14,3

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Conforme pode ser verificado na Tabela 7, os gradientes de velocidades


calculados se aproximam muito dos propostos inicialmente, então o dimensionamento
está dentro dos parâmetros exigidos. Sendo assim, o dimensionamento do floculador
hidráulico pode ser observado na Figura 4.

Figura 4: Desenho esquemático do canal de floculação projetado

Entrada da água
7,5m
coagulada

24m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022
Saída da água
floculada
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6. Dimensionamento dos decantadores convencionais

Os decantadores são unidades destinadas à remoção de partículas presentes


na água, pela ação da gravidade. Podem ser convencionais, ou de baixa taxa, e de
elementos tubulares, ou de alta taxa (NBR12216/1992). Para a atual ETA serão
adotados 2 decantadores de alta taxa, visto que será uma estação com capacidade
superior a 10.000m³/dia, como recomenda a norma.
Utilizando a vazão média de projeto (que será dobrada), temos Qmed = 134
L/s, o que significa dizer que a presente ETA apresenta uma vazão 11.578 m³/dia,
operando 24 horas por dia. Serão projetados 2 decantadores retangulares.
A taxa de escoamento superficial adotada para dimensionamento será de
40m³/m².dia e a altura útil adotada será de 4,0 metros.

Vamos calcular a área superficial de um decantador por meio da Equação 30.


𝑄𝑚𝑒𝑑
Equação 30 𝐴𝑠 =
𝑇𝐴𝑆
11.578
𝐴𝑠 =
40
𝑨𝒔 = 𝟐𝟖𝟗 𝒎²

Sendo assim, o volume de um decantador será 𝑉 = 289 𝑥 4,0 = 𝟏. 𝟏𝟓𝟔 𝒎³


O tempo de detenção é calculador por meio da Equação 31.
𝑉𝑜𝑙
Equação 31 𝜃ℎ =
𝑄𝑚𝑒𝑑
1.156
𝜃ℎ =
11.578

𝜽𝒉 = 2,4 horas

Uma relação entre o comprimento (L) e a largura (B) deve ser obedecida para
os casos de decantadores retangulares, onde L/B ≥ 4.
L/B = 4
L = 4B
As = 4L
289 = 4B²
B = 8 metros L = 32 metros
18

Verificações para o decantador dimensionado:


A = 8*32 = 256m²
Vol = 1.024m³
Taxa = 11.578/256 = 46 m³/m²*dia
Tempo de detenção = 2,1h

Para os 2 decantadores, ficaremos com:


Área: 256*2 = 512m² (B=16m / L=32m)
Volume = 1.024*2 = 2.048m³
Taxa = 11.578/512 = 23 m³/m²*dia
Tempo de detenção = 4,2h

A velocidade de escoamento pode ser calculada por meio da Equação 32.


𝑄
Equação 32 𝑉𝑒 = 𝐵∗ℎ
0,07
𝑉𝑒 = 8∗4

𝑽𝒆 = 𝟎, 𝟐𝟐𝒄𝒎/𝒔

O Raio Hidráulico é definido pela Equação 33.


𝐵∗ℎ
Equação 33 𝑅ℎ = 𝐵+2ℎ
32
𝑅ℎ = 8+2∗4

𝑹𝒉 = 𝟐𝒎

O número de Reynolds pode ser calculado pela Equação 34.


𝑉𝑒∗𝑅ℎ
Equação 34 𝑅𝑒 = 𝜇
0,0022∗2
𝑅𝑒 = 10−6

𝑹𝒆 = 4.400 < 20.000 (Escoamento laminar)


19

Figura 5: Dimensionamento decantadores convencionais

G1 G2 G3

G1 G3
G1

G1 G2 G3
8m

4m G1 G2 G3

4m
32m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

7. Dimensionamento das cortinas difusoras de passagem entre


as câmaras de floculação

Nesta etapa, o gradiente máximo deve ser igual a 10s -1. e a velocidade adotada
na passagem nos orifícios será Vp = 0,1m/s.

A área requerida será dada pela Equação 35.

𝑄
Equação 35 𝐴𝑟 = 𝑉𝑝
0,07
𝐴𝑟 = = 𝟎, 𝟕𝒎²
0,1

Serão adotados furos de geometria quadrada de lado L = 0,2 m


20

Figura 6: Geometria dos furos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

A área inidividual de cada furo será Ai = 0,2m*0,2m = 0,04m²


O número total de orifícios pode ser encontrado pela relação da área total dos
orifícios pela área individual, ficando assim N = Ar/Ai = 0,7/0,04 = 18 orifícios.

É necessário calcular a área de influência dos orifícios por meio da Equação 36.

𝐵∗ℎ
Equação 36 𝐴𝑖 = 𝑁
8∗4
𝐴𝑖 = 18

𝑨𝒊 = 𝟏, 𝟖𝒎²

Sendo assim, L² = 1,8, então L = 1,34m para a área de influência.


Figura 7: Área de influência

1,34m

1,34m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Devemos calcular a quantidade de fileiras difusoras na horizontal e na vertical.


Horizontal Nh = B/L = 8 / 1,34 = 10 fileiras horizontais (adotado)
Vertical Nv = H/L = 4 / 1,34 = 6 fileiras verticais (adotado)
21

Fazendo as verificações necessárias:


Área dos orifícios A = No * Ai = (10*6)*0,04 = 2,4m²
Velocidade de passagem V = Q/A = 0,07 / 1,8 = 0,04m/s
Espaçamento vertical Ev = H/Nv = 4 / 6 = 0,67m
Espaçamento horizontal Eh = B/Nh = 8 / 10 = 0,8m

Figura 8: Dimensionamento das cortinas (60 orifícios)

0,8m
0,67m

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Por fim, se faz necessária a verificação do gradiente de velocidade, mas antes


disso é preciso encontrar os valores do diâmetro hidráulico, fator de atrito e perda
de carga.

O diâmetro hidráulico é encontrado através da Equação 37.

Equação 37 𝐷ℎ = 4 ∗ 𝑅ℎ
𝐵∗ℎ
𝐷ℎ = 4 ∗ ( )
2∗(𝐵+ℎ)
0,2∗0,2
𝐷ℎ = 4 ∗ (2∗(0,2+0,2))

𝑫𝒉 = 𝟎, 𝟐𝒎

Cálculo do número de Reynolds pela Equação 38.


22

𝑉∗𝐷ℎ
Equação 38 𝑅𝑒 = 𝜇
0,04∗0,2
𝑅𝑒 = 10−6

𝑹𝒆 = 𝟖. 𝟎𝟎𝟎

O fator de atrito é calculo por meio da Equação 39.

0,25
Equação 39 𝑓= 𝜀 5,74
[log( + ]²
3,7𝐷ℎ 𝑅𝑒0,9

*Para cortina difusora confeccionada em concreta, 𝜀 = 1,0𝑚𝑚


0,25
𝑓 = 1,0 5,74
[log( + ]²
3,7∗200 80000,9

𝒇 = 𝟎, 𝟎𝟒

A perda de carga pode ser calculada por meio da Equação 40.

𝑓∗𝑉²
Equação 40 𝐽= 𝐷ℎ∗2𝑔

0,04∗0,06²
𝐽= 0,2∗2∗9,81

𝑱 = 𝟑, 𝟕 𝒙 𝟏𝟎-5

Com esses valores é possível fazer a verificação do gradiente de velocidade


utilizando a Equação 41.
𝛾∗𝑉∗𝐽
Equação 41 𝐺= √ 𝜇

1000∗9,81∗0,06∗3,7∗10^−5
𝐺= √ 10^−3

𝑮 = 𝟒, 𝟕𝒔-1

Como o gradiente de velocidade é menor que 10s -1 conforme indicado pelo


projeto e ainda menor que na última câmara de floculação (G = 15s -1), a cortina está
dimensionada de acordo com a NBR 12216/1992, garantindo que não haja a ruptura
do floco na passagem da água entre as câmaras.
23

8. Dimensionamento das calhas coletoras de água decantada

Segundo a NBR12216/1992, não sendo possível proceder a ensaios de


laboratório, a vazão nos vertedores ou nos tubos perfurados de coleta deve ser igual
ou inferior a 1,8 L/s por metro. Sendo assim, será admitda uma taxa de coleta de água
(q) por metro linear de calha = 1,5 L/s.m.
O comprimento virtual (ou comprimento do vertedor Lv) é dado pela
relação Q/q, sendo que a vazão Q utilizada será a vazão utilizada em 1
decantador (70L/s), sendo assim Lv = 70/1,5 = 46,7m.

Utilizando a Equação 42, determinamos o número de calhas a ser utilizadas.

𝐿𝑣
Equação 42 𝑁𝑐 = 2∗𝐿𝑐𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠
46,7
𝑁𝑐 = 2∗6

𝑵𝒄 = 𝟒 𝒄𝒂𝒍𝒉𝒂𝒔

*De forma que o comprimento da calha não exceda 20% do comprimento do decantandor
(32m), foi adotado 6m de comprimento para as calhas.

Dessa forma, o novo comprimento Lv passa a ser Lv = 2*4*6 = 48m e a taxa de


coleta passa a ser q = 70/48 = 1,46 L/s.m.

Adotando-se calha retangular com descarga livre e largura igual a 0,40m, a


altura de lâmina d’água pode ser calculada por meio da Equação 43.
𝑄𝑑𝑒𝑐
Equação 43 = 1,38 ∗ 𝑏 ∗ ℎ1,5
𝑁𝑐
0,07
= 1,38 ∗ 0,4 ∗ ℎ1,5
4

𝒉 = 𝟎, 𝟏𝟎𝒎
Considerando um fator de segurança de 0,10m, ficamos com h = 0,20m.

O espaçamento entre as calhas pode ser calculado por meio da Equação 44.
𝐵
Equação 44 𝐸 = ( )−𝑏
𝑁𝑐
24

6
𝐸 = (4) − 0,4

𝑬 = 𝟏, 𝟏𝒎

Sendo assim, serão utilizadas em cada decantador, 4 calhas de coleta de água


decantada do tipo retangular, de dimensões 6m x 0,4m e espaçamento de 1,1m.
Figura 9: Calhas de coleta de água decantada

0,4 m

6m

1,1 m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022
25

9. Dimensionamento do sistema de floculação mecanizado

A maior vantagem dos sistemas de floculação mecanizados em relação aos


sistemas hidráulicos reside no fato de que é possível a alteração dos gradientes de
velocidade nas câmaras de floculação por meio da alteração dos valores de rotação
impostos aos equipamentos de agitação (SIDNEY, 2020).

Na presente ETA, os gradientes de velocidades nas câmaras devem ser


iguais a G1 = 80s-1 , G2 = 50s-1 e G3 = 15s-1 e o tempo total de floculação igual a
30 minutos. A vazão utilizada será Qmed = 134 L/s e a altura útil hu = 4m.

Para iniciar o dimensionamento da unidade de floculação, vamos fazer uma


estimativa do seu volume total:
V = Q*t
V = 0,134*30*60
V = 241,2m³

O próximo passo será a estimativa das dimensões básicas da unidade de


floculação, sendo assim, a área superficial requerida:
A = V/hu
A = 241,2 / 4
A = 60,3m²

Será adotada uma unidade de floculação composta por 3 câmaras de


floculação em série e 4 câmaras em paralelo, logo Qfloc = 0,134 / 4 = 0,035 m³/s e
Vfloc = 241,2 / 12 = 20,1 m³.

Visto que uma unidade de decantação possui 8m x 32m, o floculador deve ser
dimensionado de forma a “encaixar” nas dimensões no decantador. Sendo assim, a
largura adotada para a unidade de floculação será de 16 metros, sendo 4 metros
para cada câmara.

O comprimento total será L será A / B, portanto L = 60,3 / 16 = 3,77 metros. Sendo


assim, adotamos para cada câmara 4 metros, então 4*3 = 12 metros.
26

Na Figura 10 é possível verificar as dimensões do floculador.

Figura 10: Dimensões da unidade de floculação

80 s-1

50 s-1

15 s-1 4m

4m Q/4
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

A portência a ser introduzida no escoamento pode ser calculada de acordo com a


Equação 32, onde o gradiente é variável e o responsável pela diferença de potência.
Os resultados podem ser observados na Tabela 8.

Equação 32 𝑃𝑜𝑡 = 𝜇 ∗ 𝑉𝑜𝑙 ∗ 𝐺²

Tabela 8: Cálculo das potências

Cálculo das potências


Gradiente (s-1)Potência (watts)
80 150,1
50 58,6
15 5,3
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Será adotado equipamento com dois braços, tendo cada um quatro pás planas.
Alguns parâmetros devem ser obedecidos nas câmaras de floculação, sendo eles:
 Distância mínima entre as paletas de 0,10 m;
27

 Comprimento máximo das paletas de 4,0 m;


 Largura das paletas de 0,10 a 0,30 m;
 Distância mínima da extremidade superior da paleta ao nível d’água de 0,15
m;
 Distância máxima da extremidade inferior da paleta ao fundo da câmara de
0,50 m

Figura 11: Modelos dos agitadores

De forma a garantir que não haja zonas mortas dentro da câmara de floculação,
𝜙
será escolhido o modelo de = 3600, que contém 4 paletas por braço. Dessa forma,
𝐴

ficamos com o apresentado na Tabela 9.

Tabela 9: Dimensões adotadas


Dimensões adotadas
Diâmetro dos agitadores (m) 3,60
Número de braços 2
Paletas por braço 4
Distância de fundo (m) 0,30
Distância até lâmina d'água (m) 0,20
Largura da paleta (m) 0,20
Distância entre paletas (m) 0,20
Comprimento das paletas (m) 3,00
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Escolhendo um rotor com diâmetro igual a 1,8 metros, será calculada a rotação para
cada potência, com base na Equação 33, onde Kt = 1,5. A Equação 34 é utilizada
28

para cálculo das velocidades periféricas e a Equação 35 para cálculo da potência


nominal. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 10.

Equação 33 𝑃𝑜𝑡 = 𝐾𝑡 ∗ 𝜌 ∗ 𝑛3 ∗ 𝐷5

Equação 34 𝑉𝑝 = 𝜋 ∗ 𝐷 ∗ 𝑛

Equação 35 𝑃𝑜 = 2 ∗ 𝑃𝑜𝑡𝑙𝑖𝑞

Tabela 10: Verificação de parâmetros dos agitadores


Velocidades
Potência Potência nominal
Gradiente (s-1) Rotação (rpm) periféricas
(watts) (Hp)
(m/s)
80 150,1 10 0,66 0,40
50 58,6 8 0,48 0,16
15 5,3 3 0,22 0,01
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Dessa forma, a velocidade das paletas é inferior a 0,7 m/s e todos os


parâmetros foram atendidos, conforme a recomendação inicial.

Figura 12: Dimensões câmara de floculação e agitador mecanizado

ϴ=3,6m 4m

4m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022
29

Figura 13: Dimensionamento detalhado agitadores mecânicos

3m

0,3m 0,2m 0,1m


m m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022
m

10. Dimensionamento do sistema de filtração

Segundo a NBR 12216/1992, os filtros rápidos “São unidades destinadas a


remover partículas em suspensão, em caso de a água a tratar ser submetida a
processo de coagulação, seguido ou não de decantação, ou quando comprovado que
as partículas capazes de provocar turbidez indesejada possam ser removidas pelo
filtro, sem necessidade de coagulação.”
O sistema de filtração da presente ETA será composto por filtros rápidos,
de fluxo descendente e de camada única composta por areia. O sistema de
drenagem utilizado será composto por blocos Leopold.
A taxa de filtração (q) adotada para o projeto será de 120m³/m².dia. A taxa
máxima recomendada é de 180m³/m².dia (NBR 12216/1992).
A vazão média utilizada é Q = 134L/s, que corresponde a 11.578 m³/dia.

Sendo assim, a área total de filtração é obtida por meio da Equação 36.
30

𝑄
Equação 36 𝑞= 𝐴𝑓
11.578
120 = 𝐴𝑓

𝑨𝒇 = 96 m²

Agora é possível calcular o número de filtros para atender o sistema com base
na Equação 37 𝑁 = 1,2 ∗ 𝑄0,5
*Onde Q é dado em mgd 𝑁 = 1,2 ∗ 3,060,5
𝑵 = 𝟐, 𝟏

Assumindo que são 2 decantadores em funcionamento nesta ETA, serão


assumidos 4 unidades de filtração, onde serão admitidos 2 filtros por
decantador, de forma a garantir flexibilidade de projeto.
Dessa forma a área de cada filtro é Af = 96,5/4 = 24m².
1,0 metro

Para o dimensionamento de cada filtro, deve-se levar em conta uma célula com
uma calha lateral de coleta de água filtrada com largura igual a 1,0, que não fará parte
do meio filtrante, onde sua área é encontrada por meio da relação x*y, conforme
exemplificado na Figura 14.

Figura 14: Modelo esquemático pré-dimensionamento do filtro

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Como cada decantador apresenta largura igual a 8 metros, o dimensionamento


de cada filtro é dado por 1+x=4, resultado em x = 3 metros. Portanto, x.y=24
resultando y = 8 metros.
31

Tabela 11: características do meio filtrante

Fonte: Dados fornecidos para o projeto, 2022

Para o meio filtrante de camada únida constituinte de d 10 entre 0,45-0,55 e Cu


menor que 1,6, será considerada altura h=700mm. De acordo com a Tabela 11, temos
que def = 0,5mm, portanto a grandeza h/def resulta em 1400. Ou seja, quando essa
verificação é maior que 1000, a composição do meio filtrante (camada simples de
areia) é considerada adequada.

Tabela 12: Dimensionamento de cada filtro


Comprimento L Área total Volume
Unidade Largura B (m) Altura h (m)
(m) (m²) total (m³)
FILTRO 3 8 24 0,7 16,8
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Para o cálculo da velocidade mínima de fluidificação serão utilizadas as


formulações expressas na Figura 15.

Figura 15: Equações para cálculo da velocidade mínima de fuidificação

Para cálculo do admensional de Galileu, será utilizada a Equação 38.


3 ∗𝜌∗(𝜌 −𝜌)∗𝑔
𝑑90 𝑝
Equação 38 𝐺𝑎 = 𝜇²

(0,99∗10−3 )3 ∗1000∗(2650−1000)∗9,81
𝐺𝑎 = (1,02∗10−3 )²

𝑮𝒂 = 𝟏𝟓. 𝟕𝟎𝟔
32

Com isso, é possível o cálculo do número de Reynolds.


Equação 39 𝑅𝑒𝑚𝑓 = √(33,7)2 + 0,0408 ∗ 𝐺𝑎 − 33,7

𝑅𝑒𝑚𝑓 = √(33,7)2 + 0,0408 ∗ 15.706 − 33,7


𝑹𝒆𝒎𝒇 = 𝟖, 𝟓

Por fim, podemos encontrar a velocidade mínima de fluidificação.


𝑉𝑚𝑓 ∗𝑑90
Equação 40 𝑅𝑒𝑚𝑓 = 𝜐
𝑅𝑒𝑚𝑓 ∗𝜐
𝑉𝑚𝑓 = 𝑑90

8,5∗10−6
𝑉𝑚𝑓 = 0,00099
𝒎
𝑽𝒎𝒇 = 𝟎, 𝟎𝟎𝟖𝟔 = 𝟕𝟒𝟑 𝒎/𝒅𝒊𝒂
𝒔

A massa total de sólidos é dada pela Equação 41.


Equação 41 𝑀𝑠 = 𝑉 ∗ (1 − 𝜖0 ) ∗ 𝜌𝑝
𝑀𝑠 = 24 ∗ 0,7 ∗ (1 − 0,45) ∗ 2650
𝑴𝒔 = 𝟐𝟒. 𝟒𝟖𝟔 𝒌𝒈 Ok

Tabela 13: Novas características do meio filtrante


Material def (mm) d90 (mm) CU ρ (kg/m³) ψ ϵo Vmf (m/s) Ms (kg)
Areia 0,5 0,99 1,4 2.650 0,75 0,,45 0,0086 24.486
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Tendo conhecidos os valores do diâmetro efetivo (d10), d90 e CU, faz-se


necessário encontrar o valor do d60 que é dado por d60=CU*d10=0,7mm. Para o
meio filtrante da presente ETA serão consideradas 5 subcamadas. Dessa forma,
foi utilizado o método da interpolação para encontrar o diâmetro da areia em cada
subcamada.
Tabela 14: Diâmetro da areia nas subcamadas
Ok
Diâmetro Areia (mm)
d10 0,5
d30 0,59
d50 0,7
d70 0,8
d90 0,99
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022
33

Conhecendo o diâmetro do material em cada subcamada, é possível calcular


as superfícies específicas por meio da Equação 42.
6
Equação 42 𝑆𝑣 =
𝜓∗𝑑

Tabela 15: Diâmetro da areia nas subcamadas


Diâmetro Sv
d10 16,0
d30 13,6
d50 11,4
d70 9,6
d90 8,1
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

A partir disso, é possível calcular a expansão do meio filtrante por meio de


método iterativo, com auxília da ferramenta “solver” existente no software Microsoft
Excel. As equações utilizadas no cálculo são apresentadas na Figura 16.

Figura 17: Equações para cálculo da porosidade expandida

Segundo a NBR 12216/1992, A vazão de água de lavagem em contracorrente


deve promover a expansão do leito filtrante de 20% a 30%. Para dimensionamento
da atual ETA será utilizada expansão igual a 30% e serão adotadas 5
subcamadas.

Atribuindo diferentes valores para a velocidade ascencional, foi utilizado o


método iterativo a fim de se encontrar uma expansão igual a 30%.
34

Tabela 16: Velocidades adotadas e respectivas expansões


Velocidade (cm/s) Expansão
1 13,56%
1,1 18,91%
1,2 25,84%
1,3 32,69%
1,4 36,13%
1,5 40,02%
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

É possível observar que para se obter uma expansão igual a 30%, a velocidade
está entre 1,2cm/s e 1,3cm/s. Portanto, será feito o método de interpolação entre
esses valores com o intuito de encontrar o valor exato da velocidade ascencional que
garanta uma expansão igual a 30%.

Tabela 17: Velocidade encontrada para a expansão


Velocidade
Expansão
(cm/s)
1,2 25,84%
1,3 32,69%
1,2607 30,00%

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Portanto, pode-se concluir que a velocidade ascencional utilizada no sistema


será de 1,26cm/s.

De acordo com Ferreira Filho (2020), para a lavagem do meio filtrante somente
com água, pode-se usar as seguintes recomendações:

Figura 16: Camada suporte convencional – lavagem somente com água

Fonte: Ferreira Filho (2020)


35

Para a presente ETA, a retrolavagem será realizada apenas com água, em


intervalo de tempo igual a 12 minutos. Através da Equação 43 será calculada a
vazão de água de retrolavagem.
Equação 43 𝑄𝐿 = 𝐴𝑓 ∗ 𝑣
𝑄𝐿 = 24 ∗ 1,26 ∗ 10−2
𝑸𝑳 = 𝟎, 𝟑𝒎𝟑 /𝒔

O volume de água de lavagem é dado por:


Equação 44 𝑉𝐿 = 𝑄𝐿 ∗ 𝑡
𝑉𝐿 = 0,3 ∗ 12 ∗ 60
𝑽𝑳 = 𝟐𝟏𝟔𝒎³
Para a reservação mínima: 2*V = 432m³
Ok
Reservação adotada: 450m³

Adotando-se velocidade da água como 2,5m/s, é possível dimensionar o


diâmetro da tubulação da água de lavagem por meio da Equação 45.
4∗𝑄
Equação 45 𝜙 = √ 𝜋∗𝑣𝐿

4∗0,3
𝜙 = √𝜋∗2,5

𝝓 = 𝟎, 𝟑𝟗𝒎
Portanto, será adotado diâmetro de 400mm para a tubulação da água de
lavagem.

11. Dimensionamento das calhas de coleta de água de


retrolavagem

Segundo a NBR 12216/1992, as calhas de coleta de água de lavagem devem


ter o fundo localizado acima e próximo do leito filtrante expandido.
Será considerado que cada filtro possui 3 calhas de coleta, sendo assim, a
vazão em cada calha será de Qc = 0,3/5 = 0,06m³/s.
36

Tendo a vazão individual de cada calha, deve-se calcular a largura(B) e altura


(hc) das calhas por meio da Equação 46.
Equação 46 𝑄 = 1,38 ∗ 𝐵 ∗ ℎ𝑜 1,5

Adotando diferente valores de largura, foi possível obter as seguintes alturas


para as calhas.
Tabela 18: Possíveis valores de largura e altura para calhas de coleta

B (m) hc (m)
0,1 0,287
0,2 0,101
0,3 0,055
0,4 0,036
0,5 0,026
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Será adotada calha com largura B igual a 0,2m e altura H igual 0,2m.

Figura 18: Dimensionamento das calhas de coleta de água de retrolavagem

H = 0,2m
ho = 0,101m

B = 0,2m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Deve ser calculada também a altura (Ho) da calha em relação ao meio filtrante,
que pode ser encontrada por meio da relação a seguir, onde L representa a altura do
meio filtrante (0,7m) e D a altura da calha (0,2m).
(0,5 ∗ 𝐿 + 𝐷) ≤ 𝐻𝑜 ≤ (𝐿 + 𝐷)
(0,5 ∗ 0,7 + 0,2) ≤ 𝐻𝑜 ≤ (0,7 + 0,2)
0,55 ≤ 𝐻𝑜 ≤ 0,9
Sendo assim, será adotada altura Ho da calha em relação ao meio filtrante
igual a 0,7m.
37

Segundo a NBR 12216/1992, o espaçamento entre as bordas das calhas deve


ser no mínimo de 1,00 m e no máximo igual a seis vezes a altura livre de água acima
do leito expandido, não devendo, entretanto, ser superior a 3,00 m.
Para cálculo do espaçamento entre as calhas será utilizada a relação entra a
largura Y do filtro e o número de calhas, portanto S=8/5=1,6. Portanto, atende aos
parâmetros da norma.
Pode ainda ser feita a verificação através da seguinte relação:
1,5𝐻𝑜 ≤ 𝑆 ≤ 2,5𝐻𝑜
1,05 ≤ 𝑆 ≤ 1,75
Portanto, é possível concluir que o espaçamento entre as calhas atende aos
requisitos exigidos.

12. Sistema de desinfecção

Será utilizado sistema de desinfecção com cloro, seguindo as seguintes


especificações para dosagens de cloro:
Mínima = 0,7 mg/L
Média = 1,5 mg/L
Máxima 3,0 mg/L
Sendo o tempo de contato entre 30 e 40 minutos, desinfetante – Solução de
hipoclorito de sódio a 12% (Massa específica = 1.220 kg/m³) e o consumo da solução
deve ser estimado considerando autonomia igual a 30 dias

Para cálculo do volume do tanque de contato será utilizada a Equação 47, onde
temos a vazão média de projeto (0,134m³/s) e tempo de contato igual a 30 minutos.
Equação 47 𝑉𝑡 = 𝑄 ∗ 𝑡
𝑉𝑡 = 0,134 ∗ 1800
𝑽𝒕 = 𝟐𝟒𝟏, 𝟐𝒎³ Ok

Será admitidp nível d’água H igual a 3,5 metros no tanque de contato, portanto
a área requerida será:
𝑉𝑜𝑙
𝐴𝑠 = = 𝟔𝟗𝒎²
𝐻
38

Admitindo-se relação entre comprimento e largura igual a 3, temos que:


𝐴𝑠 = 𝐵 ∗ 𝐿
69 = 𝐵 ∗ 3𝐵
𝑩 = 𝟒, 𝟖𝒎 (adota-se 5m)

Portanto temos um tanque retangular de dimensões 15m x 5m e altura útil H


igual a 3,5m.

Figura 19: Geometria do tanque de contato

1,25m

5m

Vertedor de saída

15m
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

Verificação da velocidade nas passagens e no canal principal:


𝑄
𝑣=
𝐴
0,134
𝑣=
3,5 ∗ 1,25
𝒗 = 0,03m/s

Para o consumo de cloro diário será utilizada a Equação 48, variando os


consumos mínimo, médio e máximo de cloro. O resultado encontrado para M
representa a massa de cloro (kg/dia), o Q representa a vazão do projeto (m³/dia) e o
C representa a concentração de cloro (g/m³).
𝑄∗𝐶
Equação 48 𝑀 = 1000𝑔/𝑘𝑔
39

Os resultados do consumo diário de cloro podem ser observado na Tabela 17.

Tabela 17: Consumo diário de cloro

Dosagem Concentração (g/m³) Massa (kg/dia)


Mínima 0,7 8,10
Média 1,5 17,37
Máxima 3,0 34,73
Fonte: Elaborado pelo autor, 2022

A massa de produto é obtida por meio do produto entre a massa diária obtida
para a dosagem máxima e a quantidade de dias adotada para autonomia que é igual
a 30 dias. Sendo assim, a massa é igual a 34,73 x 30 = 1.042 kg.

O desinfetante utilizado será solução de hipoclorito de sódio a 12%, com


massa específica igual a 1220 kg/m³. Dessa forma, é possível calcular a massa da
solução:
𝑀𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜
Equação 49 𝐶= 𝑀𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜

1042
𝑀𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 = 0,12

𝑴𝒔𝒐𝒍𝒖çã𝒐 = 𝟖. 𝟔𝟖𝟑, 𝟑 𝑲𝒈/𝒎ê𝒔

O volume da solução é dado pelo fracionamento da massa de solução e massa


8.683,3
específica. Portanto, 𝑉 = = 7,1𝑚³.
1220

Sendo assim, será adotado volume de 7,5m³ para a solução de hipoclorito de sódio.
Pode-se adotar um tanque em formato de cubo com L=2,75m.
40

13. Conclusão

A presente ETA teve suas unidades dimensionadas respeitando normas e


literaturas de referência. É esperado que a ETA tenha capacidade de entrar em
funcionamento e atender aos padrões de potabilidade exigidos. A partir da
concecpção da estação de tratamento proposta para o município de Santo Estevão,
se tornou possível fixar importantes conceitos e práticas que devem ser realizadas no
dimensionamento e operação de uma estação de tratamento de água.

14. Refrências Bibliográficas

Heller, Léo; de Pádua, Valter Lúcio. Abastecimento de água para consumo


humano. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2006.

Filho, Sidney Seckler Ferreira. Tratamento de água: Concepção, projeto e


operação de estações de tratamento.

Libânio, Marcelo. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Editora


Átomo, 3ª edição.

NBR 12211 - Estudos de concepção de sistemas públicos de abastecimento


de água.

NBR 12216 - Projeto de estação de tratamento de água para abastecimento


público.

NBR 9649 - Projeto de redes coletoras de esgoto sanitário.

SANTO ESTEVÃO, Prefeitura. Disponível em:


<https://www.santoestevao.ba.gov.br/historia>. Acesso em: 28 de abril de 2022.

SANTO ESTEVÃO. IBGE Cidades. Disponível em:


<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/santo-estevao/panorama>. Acesso em: 28 de
abril de 2022.
41

SANTO ESTEVÃO. Painel de Saneamento. Disponível em:


<http://appsnis.mdr.gov.br/indicadores/web/agua_esgoto/mapa-agua>. Acesso em:
28 de abril de 2022.

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