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HISTÓRIA DO PARANÁ:

PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA E IMPÉRIO


EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

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autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta

edição 2016 para a editora.


Solange Marly Oshima
HISTÓRIA E CONHECIMENTO

Lúcio Tadeu Mota


(ORGANIZADOR)

História do Paraná:
Pré-história, Colônia
e Império

21
Eduem
Maringá
2011
HISTÓRIA E CONHECIMENTO

Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese


Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
Revisão Gramatical: Jeanette Cnop
Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
Eliane Arruda

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

História do Paraná: pré-história, colônia e império / Lúcio Tadeu Mota,


H673 Organizador. -- Maringá: Eduem, 2011.
90p. il. color. fot. 21cm. (Coleção História e conhecimento, v. 21)

ISBN 978-85-7628-403-1

1. História do Paraná. 2. Estudo e ensino. - 2.História regional. 3. Indígenas -


Paraná - História.

CDD 21.ed. 981.62

Copyright © 2011 para o autor


1ª reimpressão 2016 - revisada
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edição 2011 para Eduem.

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S umário

Sobre os autores > 7

Apresentação da coleção > 9

Apresentação do livro > 11

CAPÍTULO 1
A ocupação humana dos territórios
entre os rios Paranapanema e Iguaçu
> 15
até a chegada dos europeus, em 1500

CAPÍTULO 2
O Guairá: a conquista e as relações interculturais nos > 35
territórios indígenas no Paraná, de 1500 a 1630

CAPÍTULO 3
A formação do Paraná: do povoamento do litoral à > 55
emancipação da 5ª Comarca

CAPÍTULO 4
O Paraná provincial: 1853-1889 > 67

5
S obre os autores

Dulce Elena Canieli


Possui mestrado em História pela Universidade Estadual de Maringá (2001).

Atualmente é professora efetiva – Secretaria de Estado de Educação do Para-

ná –, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino, Paraná Província e

População Indígena.

Lúcio Tadeu Mota


Possui graduação em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia

e Política de São Paulo (1980); mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Uni-

versidade Católica de São Paulo (1992); doutorado em História pela Universida-

de Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998); e estágio de pós-doutorado

em Antropologia Social no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Atualmente é

Professor Associado I da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na

área de Antropologia, com ênfase em Etno-história Indígena, atuando princi-

palmente nos seguintes temas: Fronteiras e Populações, Etno-história Indígena,

Relações Interculturais, Índios Kaingang e História da Bacia do Rio da Prata.

Nádia Moreira Chagas


Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá (1992), e

pós-graduação em Arqueologia, Etnologia e Etno-História do Paraná, também

pela Universidade Estadual de Maringá. É pesquisadora no Programa Inter-

disciplinar de Estudos de Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia

e Etno-história – UEM. Mestre em História, na linha de pesquisa Fronteiras e

Populações, pela Universidade Estadual de Maringá. Atualmente é professora

do Centro Estadual de Educação Básica Professor Manoel Rodrigues da Silva e

tutora no Ensino a Distância – História, da UAB, na Universidade Estadual de

Maringá.

7
A presentação da Coleção
A coleção História e Conhecimento é composta de 42 títulos, que serão utiliza-
dos como material didático pelos alunos matriculados no Curso de Licenciatura em
História, Modalidade a Distância, da Universidade Estadual de Maringá, no âmbito
do sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que está sob a responsabilidade
da Diretoria de Educação a Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal do Ensino Superior (CAPES).
A utilização desta coleção pode se estender às demais instituições de Ensino Su-
perior que integram a UAB, fato que tornará ainda mais relevante o seu papel na for-
mação de docentes e pesquisadores, não só em História mas também em outras áreas
na Educação a Distância, em todo o território nacional. A produção dos 42 livros, a
qual ficou sob a responsabilidade da Universidade Estadual de Maringá, teve 38 títulos
a cargo do Departamento de História (DHI); 2 do Departamento de Teoria e Prática
da Educação (DTP); 1 do Departamento de Fundamentos da Educação (DFE); e 1 do
Departamento de Letras (DLE).
O início do ano de 2009 marcou o começo do processo de organização, produção
e publicação desta coleção, cuja conclusão está prevista para 2012, seguindo o cro-
nograma de recursos e os trâmites gerais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE). Num primeiro momento, serão impressos 294 exemplares de cada
livro para atender à demanda de material didático dos que ingressaram no Curso de
Graduação em História a Distância, da UEM, no âmbito da UAB.
O traço teórico geral que perpassa cada um dos livros desta coleção é o compro-
misso com uma reconstrução aberta, despreconceituosa e responsável do passado. A
diversidade e a riqueza dos acontecimentos da História fazem com que essa recons-
trução não seja capaz de legar previsões e regras fixas e absolutas para o futuro. No
entanto, durante a recriação do passado, ao historiador é dado muitas vezes descobrir
avisos, intuições e conselhos valorosos para que não se repitam os erros de outrora.
No transcorrer da leitura desta coleção percebemos que os livros refletem várias
matrizes interpretativas da História, oportunizando ao aluno o contato com um ines-
timável universo teórico, extremamente valioso para a formação da sua identidade
intelectual. A qualidade e a seriedade da construção do universo de conhecimento
desta coleção pode ser tributada ao empenho mais direto por parte de cerca de 30
organizadores e autores, que se dedicaram em pesquisas institucionais ou até mesmo

9
HISTÓRIA DO PARANÁ: em dissertações de mestrado ou em teses de doutorado nas áreas específicas dos livros
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO que se propuseram a produzir.
Esta coleção traz um conhecimento que certamente marcará positivamente a formação
de novos professores de História, historiadores e cientistas em geral, por meio da Educa-
ção a Distância, o qual foi fruto do empenho de pesquisadores que viveram circunstâncias,
recursos, oportunidades e concepções diferentes, temporal e espacialmente.
Como corolário disso, seria justo iniciar os agradecimentos citando todos aqueles
que não poderiam ser nominados nos limites de uma apresentação como esta. Roga-
mos que se sintam agradecidos todos aqueles que direta, indireta ou mesmo longin-
quamente, quiçá os mais distantes ainda, contribuíram para a elaboração deste rico rol
de livros.
Além do agradecimento, registramos também o reconhecimento pelo papel da Rei-
toria da UEM e de suas Pró-Reitorias, que têm contribuído não apenas para o êxito
desta coleção mas também para o de toda a estrutura da Educação a Distância da qual
ela faz parte.
Agradecemos especialmente aos professores do Departamento de História do Cen-
tro de Ciências Humanas da UEM pelo zelo, pela presteza e pela atenção com que
têm se dedicado, inclusive modificando suas rotinas de trabalho para tornar possível a
maioria dos livros desta coleção.
Agradecemos à Diretoria de Educação a Distância (DED) da Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), e ao Ministério da Educação
(MEC) como um todo, especialmente pela gestão dos recursos e pelo empenho nas
tramitações para a realização deste trabalho.
Outrossim, agradecemos particularmente à Equipe do NEAD-UEM: Pró-Reitoria de
Ensino, Coordenação Pedagógica e equipe técnica.
Despedimo-nos atenciosamente, desejando a todos uma boa e prazerosa leitura.

Moacir José da Silva


Organizador da coleção

10
A presentação do livro
A princípio tudo representava um panorama selvático. O seio da terra virginal,
recoberto de florestas seculares, abrigava tesouros inestimáveis de fecundação e
fertilidade, prontos para fornecerem colheitas dadivosas [...]. Havia, de primei-
ro, a terra protegida pela floresta imensa. E lentamente a floresta, a floresta tão
exuberante e impenetrável cedia lugar àqueles homens intrépidos e valentes.

Frases como essas acima, de diferentes autores, são comuns nos escritos sobre a
História do Paraná. Construiu-se a ideologia de que esses territórios estavam vazios,
desabitados e prontos a serem ocupados. Essa construção ocorreu dentro dos marcos
da expansão capitalista, que incorporou, no século XX, imensas áreas do norte, oeste
e sudoeste do Estado ao seu sistema de produção.
Os agentes dessa construção são muitos: desde a história oficial das companhias
colonizadoras; os discursos governamentais; os escritos que fazem a apologia da co-
lonização; a geografia que trata da ocupação nas décadas de 30 a 50 do século XX; a
historiografia paranaense produzida nas universidades; e por fim os livros didáticos,
que, utilizando-se dessas fontes, repetem para milhares de estudantes do Estado a
ideia de que os vastos territórios ocupados por sociedades indígenas do segundo e do
terceiro planaltos do Paraná constituíam um imenso ‘vazio demográfico’, pronto a ser
ocupado por migrantes vindos de várias partes do Brasil e mesmo do exterior. Com
isso são eliminados propositadamente da história regional as populações indígenas,
caboclas e quilombolas que ali viviam e resistiram à conquista de suas terras e à des-
truição de seu modo de vida1.
Observando essas populações enquanto sujeitos ativos da história percebemos que
os territórios localizados entre os rios Paranapanema, Paraná e Iguaçu foram ocupados
por populações caçadoras e coletoras desde há pelo menos 9 mil anos antes do pre-
sente, e que desde a chegada das populações europeias no novo continente iniciou-se
a guerra de conquista contra elas.

1 Para maiores detalhes sobre esse assunto ver MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios
Kaingang. Maringá: Eduem, 2009.

11
HISTÓRIA DO PARANÁ: Guerra é aqui entendida no sentido dado por Antônio Carlos de Souza Lima: um
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO processo que requer uma organização militar conquistadora, que age em nome de um
Deus, um Rei, uma Nação ou um Império; um povo de onde se origina o conquistador
e que lhe dá uma identidade social e uma direção comum; e o butim, composto pelo
povo conquistado com seus territórios e riquezas, que passam a ser mercantilizadas. E
conquista, quando parte do povo conquistador se fixa nos territórios conquistados, faz
a exploração sistematizada do butim e passa a veicular os elementos básicos da cultura
invasora através de instituições concebidas para tanto1.
A guerra de conquista iniciou-se nas primeiras décadas do século XVI, com as expe-
dições portuguesas e espanholas que cruzaram o atual território do Paraná em busca
de metais, de escravos e de uma rota rumo ao Império Inca no atual Peru. Acentuou-se
nos anos seiscentos com a implantação das reduções jesuíticas no Guairá, e logo de-
pois com as bandeiras paulistas, que invadiram a região capturando índios, e com as
atividades mineradoras no litoral e no primeiro planalto. Prosseguiu no século XVIII,
com a instalação das fazendas de gado nos Campos Gerais, com a descoberta de ouro e
diamantes no rio Tibagi e com as expedições militares, que construíram fortificações e
transitaram pelo território rumo ao Mato Grosso. Recrudesceu, nos anos novecentos,
com a ocupação dos campos de Guarapuava, de Palmas e do sudoeste da Província,
e das terras da bacia norte do rio Tibagi, pelos grandes fazendeiros dos Campos Ge-
rais paranaenses, na expansão de seus domínios. No século XX a guerra de conquista
continuou, sob o manto da ‘colonização pacífica e harmoniosa’, levada adiante pelas
companhias de terras, que ocuparam, lotearam e venderam os antigos territórios indí-
genas, com o aval institucional do Estado do Paraná.
Dessa forma, a ocupação humana do Paraná apresenta, numa primeira olhada, o
aspecto da divisão em fronteiras. Mas não no sentido de elas serem apenas uma di-
visa entre os brancos e os indígenas, uma coluna móvel de colonização em território
novo não colonizado, ou como um processo de conquista envolvendo a subjugação
de não-europeus por europeus. Mas sim, conforme os recentes estudos de fronteiras
têm apontado, os espaços fronteiriços são como locais de encontro de populações
diferenciadas, e lócus privilegiado dos fluxos e das trocas culturais. A fronteira é vista
como local não do isolamento e da separação de culturas (cultura x cultura), mas de
combinações inovadoras, de manejo e de somas culturais (cultura + cultura), como

1 Cf. LIMA, Antônio C. de Souza. Um grande cerco de paz: poder tutelar e indianidade no
Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.

12
bem aponta Ulf Hannerz.2
Assim, as numerosas ‘fronteiras’ existentes no espaço denominado Paraná não se
ajustam ao ideal simplificador de serem apenas divisores de culturas diferenciadas,
entre o ‘civilizado’ e o ‘selvagem’, ou uma coluna móvel de colonização em território
novo não colonizado. Mesmo porque, estudos recentes em Antropologia, História ou
Etno-história têm mostrado que as populações locais ofereciam resistência, as doenças
impediam a penetração europeia, e a geografia limitava a intrusão estrangeira. Os co-
lonizadores europeus não impuseram simplesmente suas culturas em todas as partes
do planeta: inúmeros foram os obstáculos, as derrotas, e inúmeros foram os processos
de negociação, alianças e acordos, que resultaram em fluxos culturais, hibridismos e
mestiçagens que compõem a história de grande parte das populações do continente
americano e também do Paraná, estabelecendo aqui processos de relações intercultu-
rais ricos e complexos3, o que pretendemos apresentar na sequência deste livro.

2 Cf. HANNERZ, Ulf. Fronteras. Revista de Antropologia Experimental, [s.n.], n. 1, p.


6, 2001. Para uma discussão mais completa sobre essa questão e outras relativas a fronteiras e
fluxos culturais, ver: Fluxos, fronteiras, híbridos: palavras chaves da Antropologia Transnacio-
nal. Mana, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p. 7-39, e Conexiones Transnacionais – Cultura, Gente,
Lugares. Ediciones Cátedra, 2001.
3 Sobre a mestiçagem na América ver BERNAND, Carmen; GRUZINSKI, Serge. Historia del
Nuevo Mundo II: los mestizajes. 1550-1640. México: Fondo de Cultura Econômica, 1999.

13
1 A ocupação humana
dos territórios entre
os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
dos europeus, em 1500

O debate sobre as questões relativas à humanização do continente americano


tem sido intenso e rico. As disciplinas que tratam dessa temática, como a Arqueo-
logia, a História e outras, apresentam pontos de concordância e muitos outros de
discordância.
Hoje é consenso aceitar a premissa de que o homem não é autóctone em nos-
so continente. Isto é, o homo sapiens-sapiens que ocupou as Américas teve suas
origens no continente africano, há mais ou menos 100 mil anos antes do presente
(AP), e em algum momento migrou para o continente americano.
O segundo ponto, ou a segunda pergunta muito usual nesse debate é: se o
homem não surgiu na América, de onde ele veio? Uma grande parte dos pesqui-
sadores do tema são unânimes em afirmar que a maioria das levas humanas que
aqui chegaram atravessaram o estreito de Bering, no extremo norte do continente.
Existem outros pesquisadores que afirmam que o continente também foi povoado
por grupos humanos vindos das ilhas do Oceano Pacifico, navegando do oeste para
o leste e desembarcando na costa oeste da América Central e do Sul. E ainda existe
quem afirme que também recebemos migrações de grupos humanos pelo extremo
sul do continente, que chegaram à Terra do Fogo vindos da Austrália e da Nova
Zelândia.

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HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO

Figura 1 - Povoamento do Continente Americano


Fonte: A AURORA da humanidade (1993).

A terceira pergunta, talvez a mais polêmica, é a que questiona qual foi a época da
chegada dos primeiros humanos no continente americano. Nesse ponto temos um
debate intenso, que está longe de terminar. Existem autores que afirmam que os pri-
meiros homens chegaram à America há mais de 300 mil anos antes do presente (AP).
Mas as datações mais aceitas pela comunidade científica são aquelas que giram em tor-
no de 12 mil AP. A grande maioria dos pesquisadores aceitam a presença do primeiro
homem americano em torno de 11 mil a 12 mil anos AP, porque são desse período as
datações dos esqueletos humanos mais antigos encontrados no continente, como é o
caso do crânio de uma mulher, batizada de Luzia, encontrado em Minas Gerais, datado
de 11.500 AP.

As populações caçadoras coletoras pré-cerâmicas1


A bacia do Rio da Prata vem sendo continuamente habitada por diferentes popu-
lações humanas2 há cerca de pelo menos 11 mil anos AP. Para a região onde hoje é

1 Uma primeira versão deste texto foi publicada em parceria com Francisco Silva Noelli, no
livro DIAS, Reginaldo Benedito; ROLLO, José Henrique (Org.). Maringá e Norte do Paraná:
estudos de História regional. Maringá: Eduem, 2000.
2 Consideramos, para fins didáticos, populações pré-históricas como as anteriores à chegada
dos europeus na região, isto é, em meados do século XVI; e populações indígenas aquelas que
entraram em contato com os europeus e vivem até o presente no Paraná, isto é, os Jê do Sul –
Kaingang e Xokleng, os Guarani e Xetá, falantes de línguas do tronco linguístico Tupi. Eviden-
temente, como veremos adiante, em alguns casos houve uma continuidade entre a Pré-história
e a História.

16
o Paraná há datações que chegam a 9 mil anos AP. Entretanto, se considerarmos a A ocupação humana
dos territórios entre
cronologia dos territórios vizinhos que foram ocupados em épocas anteriores, é pro- os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
vável que ainda possam ser obtidas datas que poderão atestar a presença humana em dos europeus, em 1500

períodos mais recuados.


Em 1958, um grupo de arqueólogos do Departamento de Antropologia da Univer-
sidade Federal do Paraná foi comunicado sobre achados arqueológicos nas margens
do rio Ivaí, no extremo oeste do Estado, na localidade de Cidade Gaúcha3.
Escavações no sítio denominado José Vieira demonstraram a existência de dois
povoamentos no local. O material lítico, colhido nos níveis mais profundos das esca-
vações e submetidos a datação, registrou uma idade entre o oitavo e o nono milênio
antes de nossa era. Isso significa assentamentos humanos nas barrancas do rio Ivaí há
8 mil anos. O material lítico coletado nas camadas superiores da jazida datam de 2 a 3
mil anos (AP), o que significa novos acampamentos em épocas posteriores à primeira.
Existem, portanto, em um mesmo local, acampamentos em épocas distantes 4 a 5
milênios uma da outra, que permitem a verificação de grandes transformações no
clima e na vegetação. Outras escavações, realizadas nas margens do rio Paraná, foram
datadas em 8 mil anos, assim como as escavações realizadas no centro-leste do Estado,
na região de Vila Velha, também com 8 mil anos.
A indústria lítica lascada do homem pré-histórico presente no norte paranaense es-
palha-se ao longo do rio Ivaí. A 350 km, subindo o rio no município de Manoel Ribas,
no centro do Estado, pesquisas arqueológicas feitas em 1960 revelaram a existência de
material lítico que corresponde ao do Sítio José Vieira, datado em torno de 7 a 8 mil
anos. Foi encontrada também uma grande quantidade de material cerâmico, datado
em torno de 800 anos AP4.
Por todo o Paraná vamos encontrar vestígios desses antigos assentamentos huma-
nos. O mais antigo deles, datado de 9.040 AP, foi encontrado pela Drª Cláudia Pa-
rellada, arqueóloga do Museu Paranaense, no vale do rio Iguaçu. Essas evidências,
anteriores a 6 mil AP, também podem ser encontradas em outras partes do território
paranaense, como podemos ver na tabela a seguir.

3 Cf. LAMING, Anete; EMPERAIRE, José. A jazida José Vieira: um sítio Guarani e pré-ce-
râmico no interior do Paraná. Arqueologia, Curitiba, v. 1, 1969. Nesse trabalho, os autores
também fazem observações em possíveis sítios arqueológicos na região de Apucarana.
4 Cf. ANDREATTA, Margarida Davina. Notas parciais sobre pesquisas realizadas no planalto
e litoral do Estado do Paraná. In: SIMPOSIO DE ARQUEOLOGIA DO PRATA, 2., 1968,
São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisa; FFCL, 1968. p. 65-76.
De acordo com a autora, o material lítico lascado, tanto o encontrado na gruta de Wobeto, em
Manoel Ribas, como o do Sítio José Vieira fazem parte da indústria lítica lascada, que se estende
por toda a bacia do Rio da Prata.

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HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO

Fonte: PARELLADA,C. I. Revisão dos sítios arqueológicos com mais de seis mil anos BP no Paraná: discussões geoar-
queológicas. Fumdhamentos, São Raimundo Nonato, n.7, p. 118-135, 2008.

Assim, podemos afirmar que os territórios que hoje se denominam Paraná vêm
sendo continuamente habitados por diferentes populações humanas há cerca de 9
mil anos AP, de acordo com os vestígios materiais mais antigos encontrados pelos
arqueólogos. Entretanto, se considerarmos a cronologia dos territórios vizinhos
que foram ocupados em épocas anteriores, é provável que ainda possam ser ob-
tidas datas que poderão atestar a presença humana em períodos mais recuados,
podendo alcançar ate 11 mil ou 12 mil anos AP5.
As populações que viveram no Paraná entre 9 mil a 3 mil anos AP são denomi-
nadas, pela Arqueologia, de caçadores e coletores pré-cerâmicos. Elas foram subs-
tituídas pelas populações indígenas agricultoras e ceramistas – Kaingang, Xokleng,
Guarani e Xetá – a partir de sua chegada na região, por volta de 3 mil anos AP, e
continuam a viver aqui até hoje.
A Arqueologia classifica essas populações caçadoras coletoras em três tradições,
conforme a Figura 2.

5 Daqui em diante, optamos por incorporar parte de um texto feito em parceria com Francisco
Silva Noelli e publicado em outras obras, conjuntas ou separadas.

18
A ocupação humana
dos territórios entre
os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
dos europeus, em 1500

Figura 2 - Populações caçadoras coletoras pré-cerâmicas no Paraná.

Os arqueólogos reuniram uma série de informações sobre essas populações. Aqui


apontaremos sucintamente os dados que consideramos mais importantes em cada
uma delas.

Tradição Humaitá
As populações que os arqueólogos convencionaram chamar de Tradição Humaitá
não deixaram, aparentemente, descendentes historicamente conhecidos. Por enquan-
to, é sabido que ocuparam todos os estados do sul brasileiro e as regiões vizinhas do
Paraguai e da Argentina, entre 8 mil e 2 mil anos atrás.
Os estudos de seus vestígios mostram que essas populações possuíam característi-
cas das culturas do tipo bando, compostas de pequenos grupos (40-60 pessoas) que
viviam dentro de amplos territórios. Sua subsistência era baseada em diversas fontes
animais, obtidas por meio da caça, da pesca e da coleta, bem como de fontes vegetais.
A exemplo de outros povos caçadores-coletores sul-americanos, também deveriam ter
uma série de acampamentos sazonais espalhados dentro de um território definido.
Tais acampamentos estariam relacionados a uma série de atividades de subsistência,
obtenção e preparação de matérias-primas, rituais e lazer. Suas habitações poderiam
ser desde uma simples meia-água até casas mais elaboradas, de madeira, cobertas por
palha ou folhas de palmáceas. Eventualmente poderiam ocupar abrigos sob rocha
(reentrâncias em paredes rochosas).
Seus vestígios mais estudados até o presente restringem-se aos instrumentos líticos
feitos de pedra, pois a maior parte de seus objetos eram provavelmente confeccio-
nados com materiais perecíveis, que se destruíram ao longo da formação dos sítios
arqueológicos. Entre as ferramentas de pedra podemos mencionar os grandes instru-
mentos lascados bifacialmente, lascas usadas para raspar, rasgar, cortar, tornear, bem
como ferramentas para polir, furar, amolar, macerar, moer, pilar e ralar.

19
HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO

Figura 3 - Ferramenta lítica da Tradição Humaitá.


Fonte: Acervo da Coleção Arqueológica do Museu Histórico de Santo Inácio-PR.
Foto de Edmar Alencar Jr / Josilene Aparecida de Oliveira

Tradição Umbu
Também as populações que os arqueólogos chamam de Tradição Umbu não
deixaram descendentes historicamente conhecidos. Os vestígios dessa tradição,
marcadamente as pontas de projéteis e resíduos de lascamentos, são encontrados
em toda a região sul do Brasil, no Uruguai e em partes do Estado de São Paulo.
Esses vestígios foram datados entre 12 mil e 1 mil anos AP, o que demonstra a longa
persistência dessa Tradição nos mais variados ambientes do Brasil Meridional.
Essas populações ocuparam preferencialmente as regiões de maior altitude nos
planaltos do Paraná, principalmente os interflúvios dos principais rios, mas há tam-
bém a presença de artefatos dessa Tradição nas margens dos principais rios do

20
Paraná, como o Iguaçu, no sítio Ouro Verde, datado de 9 mil anos AP, e em vários A ocupação humana
dos territórios entre
locais ao longo do rio Ivaí. Nesses locais construíram suas habitações, tanto a céu os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
aberto quanto nos abrigos sob rochas. Já no Rio Grande do Sul e no Uruguai, nas dos europeus, em 1500

áreas alagadiças, construíram os cerritos – aterros artificiais –, onde fixaram suas


habitações.

Figura 4 - Ponta de flecha da Tradição Umbu.


Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu Mota.

Tradição Sambaqui
Os pescadores/coletores do litoral sul do Brasil ocuparam uma vasta faixa entre
o mar e a Serra do Mar, desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, desde 6 mil anos
AP até mil anos depois de Cristo. Seus principais vestígios são os inúmeros mon-
tes – conhecidos por sambaquis – que construíram intencionalmente com restos
alimentares, adornos, conchas, ferramentas, armas, carvões de antigas fogueiras,
vestígios de sepultamentos humanos e de antigas moradias.
Construídos tanto em planícies quanto em encostas, diretamente na areia ou
sobre o embasamento rochoso, os Sambaquis têm ocorrências desde o Rio Grande
do Sul até a Bahia de Todos os Santos, basicamente no interior dos ambientes lagu-
nares que se apresentam em todo esse trecho da faixa costeira. As baías, estuários
e lagunas dessa porção do litoral apresentam normalmente grandes concentrações
desses sítios arqueológicos.
A implantação dos Sambaquis nesses ambientes estuarinos não foi fortuita: ela
se deu devido à existência de várias espécies de peixes, moluscos, crustáceos e ou-
tros animais, componentes riquíssimos da dieta alimentar desses grupos humanos.

21
HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO

Figura 5 - Sambaquis do litoral sul do Brasil.


Fonte: Gaspar (2000, p. 49-53).

As populações ceramistas agricultoras - populações indígenas históricas


Por volta de 2.500 anos antes do presente (AP), agrupamentos maiores de popu-
lações passaram a ocupar a região da bacia do rio Paraná e de seus afluentes (Iguaçu,
Piquiri, Ivaí, Paranapanema Pirapó, Santo Inácio, Bandeirantes, Tibagi, Itararé e outros
menores). Tratava-se de uma das frentes da ampla expansão dos povos falantes da língua
guarani, os quais vinham ocupando sistematicamente o território do atual Mato Grosso
do Sul e as bacias dos rios Paraguai e Paraná, e do Rio da Prata. Podemos dizer que esses
agrupamentos tinham em comum a língua e a produção de artefatos cerâmicos.
Os vestígios da cultura material dessas populações agricultoras ceramistas são de-
nominados pela Arqueologia como Tradição Tupi-guarani e Tradição Itararé/Taquara.
As mais antigas populações de ceramistas começaram a chegar à bacia do rio Paraná
em torno de 2.500 anos AP, como podemos ver numa série de sítios datados, na região,
pelas metodologias de C-14 (carbono 14) e termoluminescência.
O rio Paranapanema, em sua junção com o médio Paraná, é considerado, como já
foi sugerido por José P. Brochado e Francisco S. Noelli (BROCHADO, 1984; NOELLI,
1998, 1999-2000), para o caso dos falantes do guarani, como a ‘porta de entrada’ para
o Paraná e o sul do Brasil. O conjunto das pesquisas indica que essas populações,
em contínuo processo de crescimento demográfico e de expansão territorial, teriam
sucessivamente ocupado a área do atual Mato Grosso do Sul e, através da bacia do
Paraná, teriam ingressado no sul do Brasil pelo noroeste paranaense.

22
No caso dos Jê do sul (Kaingang e Xokleng), como aponta a Arqueologia com os A ocupação humana
dos territórios entre
indícios de cerâmica da Tradição Itararé, a porta de entrada dessas populações para os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
o sul do Brasil teria sido os campos e cerrados do interflúvio dos rios Paranapanema/ dos europeus, em 1500

Itararé e Ribeira.

Trabalhando com a hipótese de que os grupos Jê, que se deslocaram do Bra-


sil central para o sul, foram ocupando regiões semelhantes às que ocupavam
em seus locais de origem, podemos afirmar que após ocuparem os planaltos
de cerrados entre os rios Tietê e Paranapanema eles iniciaram a ocupação dos
Campos Gerais no Paraná. Esses campos se estendem desde o sul de São Paulo
– região de Itapetininga até Itararé, entre as cabeceiras dos rios Paranapanema
e Itararé – até a margem direita do rio Iguaçu, no segundo planalto paranaense.
No século XVII os padres jesuítas fundadores das reduções anotam a presença
de grupos não Guarani na região, que eles denominaram de Cabeludos e Gua-
lachos (MOTTA, 2000, p. 49)6.

Ancorados nas informações arqueológicas podemos afirmar que a região da bacia


do rio Paraná e de seus afluentes da margem esquerda onde é hoje o estado do Paraná
foi densamente povoada, até a chegada dos espanhóis e portugueses, por populações
caçadoras/coletoras pré-ceramistas e pelos agricultores ceramistas, principalmente os
falantes do guarani7.

6 Cf.MOTA, Lucio Tadeu. Os índios Kaingang e seus territórios nos campos do Brasil meri-
dional na metade do século passado. In: Uri Wãxi: estudos interdisciplinares dos Kaingang.
Londrina, Eduel, 2000.
7 Existem ainda informações arqueológicas sobre a presença de vestígios cerâmicos diferentes
das tradições discutidas acima, e também existem informações históricas sobre a presença de
populações não-Guarani e não-Kaingang principalmente na margem direita do médio Para-
napanema. São informações importantes para o entendimento da ocupação da região, as quais
discutiremos em outra oportunidade.

23
HISTÓRIA DO PARANÁ: Tabela 1 - Sítios arqueológicos com datações de populações ceramistas nas bacias
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO do Paraná, Paranapanema e Ivaí, da jusante para montante

RIO PARANÁ

Data A.P. Sítio Lab. nº Rio Margem Município Estado Fonte

2010 ± 75 PR/FI/140 SI 5028 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

1625 ± 60 PR/FI/118 SI 5021 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

1565 ± 70 PR/FI/99 SI 5019 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

1395 ± 60 PR/FI/142 SI 5033 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

1235 ± 60 PR/FI/97 SI 5016 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

745 ± 75 PR/FI/140 SI 5027 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

700 ± 55 PR/FI/112 SI 5036 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

625 ± 55 PR/FI/100 SI 5020 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

600 ± 60 PR/FI/103 SI 5029 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

590 ± 55 PR/FI/127 SI 5024 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

415 ± 75 PR/FI/104 SI 5032 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

395 ± 60 PR/FI/142 SI 5034 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

340 ± 60 PR/FI/118 SI 5023 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

255 ± 80 PR/FI/97 SI 5017 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

230 ± 80 PR/FI/22 SI 5015 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

205 ± 80 PR/FI/118 SI 5022 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

190 ± 75 PR/FI/98 SI 5018 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

? ± 195 PR/FI/141 SI 5031 Esquerda Foz do Iguaçu - Pr Chmyz 1983

490 ± 60 PR/FO/3 SI 5040 Esquerda Guaíra - Pr Chmyz 1983

760 ± 40 PR/FO/4 SI 5039 Esquerda Guaíra - Pr Chmyz 1983

475 ± 45 MT/IV/1 SI 1017 Direita Bataiporã - MS Chmyz 1974

180 ± 60 MT/IV/1 SI 1018 Direita Bataiporã - MS Chmyz 1974

110 ± 60 MT/IV/2 SI 1019 Direita Bataiporã - MS Chmyz 1974

260 ± 70 MT/IV/1 SI 1016 Direita Bataiporã - MS Chmyz 1974

239 ± 10 MS/PR/13 FATEC Direita Anaurilândia - MS Kashimoto 1997

240 ± 30 MS/PD/06 Gsy Direita Anaurilândia - MS Kashimoto 1997

275 ± 20 MS/PD/07 FATEC Direita Anaurilândia - MS Kashimoto 1997

425 ± 25 MS/IV/08 FATEC Direita Anaurilândia - MS Kashimoto 1997

432 ± 32 MS/PD/04 FATEC Direita Anaurilândia - MS Kashimoto 1997

245 ± 15 MS/PR/41 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

280 ± 15 MS/PR/46 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

370 ± 20 MS/PR/22 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

480 ± 30 MS/PR/26 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

565 ± 32 MS/PR/55 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

580 ± 40 MS/PR/39 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

625 ± 40 MS/PR/35 FATEC Direita Bataguaçu - MS Kashimoto 1997

1493 ± 100 MS/PR/85 FATEC Direita Brasilândia - MS Kashimoto 1997

1248 ± 100 MS/PR/64 FATEC Direita Brasilândia - MS Kashimoto 1997

1015 ± 75 MS/PR/64 Gsy Direita Brasilândia - MS Kashimoto 1997

480 ± 30 MS/PR/98 FATEC Direita Três Lagoas - MS Kashimoto 1997

909± 80 MS/PR/90 FATEC Direita Três Lagoas - MS Kashimoto 1997

24
A ocupação humana
RIO IVAÍ
dos territórios entre
Data A.P. Sítio Lab. nº Rio Margem Município - Pr Fonte os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
1380 ± 150 José Vieira Gsy 81 Esquerda Cidade Gaúcha Emperaire, 1968 dos europeus, em 1500
540 ± 60 PR/QN/2 SI 697 Direita Mirador Brochado 1973

1065 ± 95 PR/ST/1 SI 695 Esquerda Indianópolis Brochado 1973

610 ± 120 PR/ST/1 SI 696 Esquerda Indianópolis Brochado 1973

300 ± 115 PR/FL/5 SI 693 Direita Paraíso do Norte Brochado 1973

470 ± 100 PR/FL/5 SI 694 Direita Paraíso do Norte Brochado 1973

135 ± 120 PR/FL/13 SI 698 Direita Doutor Camargo Brochado 1973

1490 ± 45 PR/FL/21 SI 1011 Direita Doutor Camargo Brochado 1973

560 ± 60 PR/FL/23 SI 700 Direita Doutor Camargo Brochado 1973

590 ± 70 PR/FL/15 SI 699 Direita Doutor Camargo Brochado 1973

RIO PARANAPANEMA

Data A.P. Sítio Lab. nº Rio Margem Município/Estado Fonte

Diamante
530 ± 55 PR/NL/7 SI 6400 Esquerda Chmyz 1986
do Norte - Pr

± 930* Alvim Direita Pirapozinho - SP Kashimoto 1997

±1668* Ragil FATEC Direita Iepê - SP Faccio 1998

1130 ± 150 SP/AS/14 SI 422 Direita Iepê - SP Chmyz 1969

± 1093* Ragil 2 FATEC Direita Iepê - SP Faccio 1998

980 ± 100 SP/AS/14 SI 709 Direita Iepê - Sp Smithsonian

± 755* Neves FATEC Direita Iepê - Sp Faccio 1998

* = datado por termoluminescência;

Figura 6 - Populações indígenas agricultoras ceramistas no Paraná.

25
HISTÓRIA DO PARANÁ: Os Guarani
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO Dentre os povos pré-históricos e indígenas de que estamos tratando, os Guarani são
os mais conhecidos em termos arqueológicos, históricos, antropológicos e linguísticos. A
denominação Guarani define, ao mesmo tempo, a população e o nome da língua por ela
falada.
Uma série de estudos comparados – arqueológicos e linguísticos – realizados no leste
da América do Sul indica que os Guarani vieram das bacias dos rios Madeira e Guaporé.
A partir daí, ocuparam continuamente diversos territórios ao longo das bacias dos rios
Paraguai e Paraná até alcançar Buenos Aires, distante aproximadamente 3 mil km do seu
centro de origem. Expandiram-se ainda para a margem esquerda do Pantanal, nos atuais
estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Também ocuparam o
Uruguai e o Paraguai. Conforme as datações já obtidas, excetuando o Uruguai, a foz do
Rio da Prata e o litoral sul brasileiro, as demais regiões citadas foram ocupadas desde há
pelo menos 2.500 anos AP. Mantiveram esses territórios até a chegada dos primeiros eu-
ropeus, que, a partir de 1504, registraram em centenas de documentos os limites desse
vasto domínio.
Os Guarani ocuparam os vales e as terras adjacentes de quase todos os grande rios e
de seus afluentes. Raramente estabeleciam suas aldeias e rocas em áreas campestres. A
maioria dos sítios arqueológicos da Tradição Tupi-guarani estão inseridos em áreas cober-
tas por florestas, seguindo o padrão de estabelecer as aldeias e as plantações em clareiras
dentro da mata.
Como se pode constatar na bibliografia especializada sobre os Guarani, eles possuíam
um padrão para ocupar novas áreas, sem, no entanto, abandonar as antigas. Os grupos
locais se dividiam, com o crescimento demográfico, ou por divisões políticas, indo habitar
áreas próximas, previamente preparadas por meio de manejo agroflorestal, isto é, abriam
várias clareiras para instalar a aldeia e as plantações, inserindo seus objetos e plantas nos
novos territórios. Assim como trouxeram suas casas, vasilhas cerâmicas e outros objetos,
os Guarani também trouxeram de seus locais de origem diversas espécies de vegetais,
úteis para vários fins (alimentação, remédios, matérias-primas etc.), contribuindo para o
aumento da biodiversidade florística do sul do Brasil.
Dessa maneira iam ocupando as várzeas dos grandes rios, e com o passar do tempo,
áreas banhadas por rios cada vez menores. Por exemplo, após dominar as terras próximas
aos rios Ivaí, Pirapó e Tibagi, ocuparam trechos ao longo de alguns dos ribeirões que ba-
nham o divisor de águas desses rios.
As aldeias tinham tamanhos variados, podendo comportar mais de mil pessoas, or-
ganizadas socialmente por meio de relações de parentesco e de aliança política. Essas
famílias extensas viviam em casas longas, e cada aldeia poderia ter até sete ou oito casas,

26
construídas de madeira e folhas de palmáceas, podendo abrigar até 300 ou 400 pessoas, A ocupação humana
dos territórios entre
e alcançar cerca de 30 ou 40 metros de comprimento por até 7 ou 8 metros de altura. os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
Algumas aldeias, dependendo de sua localização, poderiam ser fortificadas, cercadas por dos europeus, em 1500

uma paliçada.
A cultura material era composta por centenas – talvez milhares – de objetos, confec-
cionados para servirem a diversos fins, sendo a maioria feita com materiais perecíveis
(ossos, madeiras, penas, palhas, fibras vegetais, conchas etc.) e, em minoria, de não-pe-
recíveis (vasilhas cerâmicas, ferramentas de pedra, corantes minerais). Desse conjunto
normalmente sobrevivem apenas as vasilhas, as ferramentas de pedra e, eventualmente,
esqueletos humanos e de animais diversos, conchas e ossos usados como ferramentas ou
enfeites. O reconhecimento da existência desses objetos perecíveis, salvo condições raras
de conservação, só e possível por meio de informações obtidas indiretamente por pesqui-
sas históricas, linguísticas e antropológicas.

Figura 7 - Fragmento cerâmico Guarani.


Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu Mota

Figura 8 - Fragmento cerâmico Guarani.


Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu Mota

27
HISTÓRIA DO PARANÁ: Os Xetá
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO O povo Xetá é conhecido e nominado, na literatura, nos relatos de viajantes e em fon-
tes documentais, como: Botocudo, Héta, Chetá, Setá, Ssetá, Aré e Yvaparé. Foi o último
grupo indígena contatado no Paraná, no final da década de 1940 e no início de 1950,
quando a frente de ocupação cafeeira chegou ao seu território tradicional, que se esten-
dia pelas margens do baixo rio Ivaí até a sua foz, no rio Paraná.
A presença dos grupos Xetá no rio Ivaí e em seus afluentes foi registrada por viajantes
e exploradores desses territórios desde a década de 1840, quando Joaquim Francisco
Lopes e John H. Elliot – empregados do Barão de Antonina – fizeram contato com al-
guns deles nas imediações da foz do rio Corumbataí, no Ivaí. Posteriormente, em 1872, o
engenheiro inglês Thomas Bigg-Whiter capturou um pequeno grupo nas proximidades
do Salto Ariranha, também no rio Ivaí. No início do século XX, em 1910, Albert V. Fric
ouviu dos Kaingang a informação da presença de pequenos grupos Xetá no interflúvio
dos rios Ivaí e Corumbataí, muito acima do local onde os Xetá foram contatados nos anos
de 1950. Junto ao grupo Kaingang do cacique Paulino Arak-xó, que vivia no salto Ubá,
Fric encontrou cativos Xetá, com os quais efetuou um primeiro registro de vocabulário.
Esses locais de caça e coleta, os encontros e confrontos com os exploradores do rio
Ivaí, e os conflitos com os Kaingang, que resultavam em capturas e dispersão dos Xetá,
fazem parte da memória de sobreviventes Xetá mais velhos. Um deles teve seu pai captu-
rado no início do século XX, porém conseguiu fugir e retornou para seu grupo familiar
na região da Serra dos Dourados (SILVA, 1998, 2003).
Nessas primeiras décadas do século XX muitos outros contatos foram noticiados, mas
na região conhecida como Serra dos Dourados, onde hoje estão implantados os mu-
nicípios de Umuarama, Ivaté, Douradina, Icaraíma, Maria Helena, Nova Olímpia, entre
outros, é que se deu, a partir de 1954, 1955 e mais principalmente em fevereiro de 1956,
o mais documentado encontro com um grupo Xetá, que ocorreu entre professores da
UFPR e membros do Serviço de Proteção ao Índio-SPI da 7ª Regional de Curitiba e dois
meninos8 Xetá, capturados em 1952 por agentes das Companhias de Colonização.
Apesar dos esforços dos professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do
Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e de funcionários do SPI, o Governo
do Estado do Paraná vendeu os territórios Xetá para as Companhias de Colonização,
que os lotearam para revenda aos interessados no cultivo de café na região.
Até a década de 1990 os Xetá eram tidos pelo órgão indigenista brasileiro Fundação
Nacional do Índio – FUNAI – como grupo extinto ou quase extinto, pois constam nos

8 Um deles viveu até o ano de 2008 e foi um dos colaboradores ativos do estudo de Silva (1998;
2003).

28
seus dados populacionais apenas cinco pessoas. No entanto, a pesquisa antropológica A ocupação humana
dos territórios entre
de Carmen Lúcia da Silva apontou que, ao contrário do que se afirmava nos levanta- os rios Paranapanema
e Iguaçu até a chegada
mentos oficiais, os Xetá não estavam extintos. dos europeus, em 1500

Em 1997, por solicitação dos Xetá, foi realizado o primeiro encontro dos seus so-
breviventes em Curitiba, intitulado ‘Encontro Xetá: Sobreviventes do Extermínio’, com
o apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e do Museu de Arqueologia e Etnologia da
UFPR (MAE), do qual participaram todos os sobreviventes do grupo, crianças, jovens,
mais velhos e cônjuges, além do Prof. Dr. Aryon Dall’Igna Rodrigues, que efetuou os
primeiros estudos da língua Xetá junto a um grupo familiar na década de 1960 (1960,
1961 e posteriormente em 1967).
Como resultado desse encontro, os Xetá solicitaram o seu reconhecimento en-
quanto pertencentes à etnia Xetá e a retificação de seus nomes nos registros civis,
levando em conta os registros que já vinham trabalhando na pesquisa antropológica,
os quais apresentavam como se dava o sistema de nominação do grupo. Também co-
locaram em pauta a indenização financeira de suas perdas e a recuperação de seus
territórios tradicionais, na Serra dos Dourados, bem como reivindicaram o retorno a
seu território de origem, nominando-o como Terra Indígena Herarekã Xetá.
Atualmente os Xetá somam aproximadamente 100 (cem) pessoas, em 25 (vinte
e cinco) famílias. Estão em processo de luta para que seu território tradicional seja
reconhecido junto à FUNAI, para que seus direitos sejam reconhecidos e para se
reconstituírem enquanto povo e revitalizarem sua cultura. Além da demanda para
reaverem parte de seus territórios, os Xetá solicitaram ao Estado do Paraná um aten-
dimento especifico e diferenciado de: educação escolar indígena bilíngue Português/
Xetá; o ensino da sua história na escola; produção de literatura e materiais didáticos
que retratem a realidade do povo, trazendo inclusive a memória coletiva da antiga
sociedade narrada por seus pais, hoje considerados ‘guardiões da memória Xetá’ (SIL-
VA, 1998; 2003).

Os Kaingang
A denominação Kaingang define genericamente, ao mesmo tempo, a população e
o nome da língua por ela falada.
Embora exista uma volumosa bibliografia e inumeráveis conjuntos de documen-
tos não publicados sobre esses povos, ainda se conhece pouco sobre seus ascenden-
tes pré-históricos.
Os resultados de estudos comparados – Arqueologia e Linguística – apontam o
Brasil central como a região de origem dos Kaingang, que ocuparam imensas áreas
dos estados da região sul, parte meridional de São Paulo e leste da província de

29
HISTÓRIA DO PARANÁ: Missiones, na Argentina. Embora não existam ainda datas mais antigas do que as dos
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO Guarani, e provável que os Kaingang e os Xokleng tenham chegado primeiro ao Pa-
raná, pois em quase todo o Estado os sítios dos Guarani estão próximos ou sobre os
sítios arqueológicos dos Kaingang e Xokleng.
Com a chegada dos Guarani, à medida que iam conquistando os vales dos rios os
Kaingang foram sendo empurrados para o centro-sul do Estado e/ou foram sendo
confinados nos territórios interfluviais, enquanto os Xokleng foram sendo impelidos
para os contrafortes da Serra Geral, próximo ao litoral. A partir do final do século
XVII, quando as populações Guarani tiveram uma drástica redução, os Kaingang vol-
taram a se expandir por todo o centro do Paraná.
Em meados do século XVIII, com as primeiras expedições coloniais nos territó-
rios hoje denominados Paraná, foi possível conhecer parcialmente a toponímia em-
pregada pelos Kaingang para nominar seus territórios: Koran-bang-rê (campos de
Guarapuava); Kreie-bang-rê (campos de Palmas); Kampo-rê (Campo Ere – sudoeste);
Payquerê (campos entre os rios Ivaí e Piquiri, hoje nos município de Campo Mourão,
Mamborê, Ubiratã e outros, adjacentes); Minkriniarê (campos de Chagu, oeste de
Guarapuava, no município de Laranjeiras do Sul); campos do Inhoó (em São Jerôni-
mo da Serra).

Figura 9 - Os Kaingang: a produção de cerâmica

30
Os Xokleng A ocupação humana
dos territórios entre
A denominação Xokleng define genericamente, ao mesmo tempo, a população e o os rios Paranapanema
Anotações e Iguaçu até a chegada
nome da língua por ela falada. Na bibliografia arqueológica esses povos são conheci- dos europeus, em 1500

dos como Tradição Itararé. Apesar da volumosa bibliografia e de inumeráveis conjun-


tos de documentos não publicados a seu respeito, ainda se conhece pouco sobre seus
ascendentes pré-históricos Sua chegada e sua presença no Paraná já foram resumidas
no item sobre os Kaingang, necessitando ainda de mais pesquisas para se corroborar
ou desabonar as conclusões e hipóteses vigentes. Suas aldeias eram geralmente peque-
nas, no interior das florestas, abrigando poucos habitantes. Também ocupavam abrigos
sob rocha e casas semissubterrâneas. Fabricavam vasilhas cerâmicas semelhantes às fei-
tas pelos Kaingang, a tal ponto que, devido às pesquisas pouco sistemáticas realizadas
até o presente, ainda é problemático definir claramente as diferenças.

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Revista do Cepa, Santa Cruz do Sul, RS, v. 22. n. 27/28. p. 101-105, 2000a.

NOELLI, F. S. A ocupação humana na região sul do Brasil: Arqueologia, debates e


perspectivas - 1872 - 2000. Revista USP, São Paulo, n. 44, p. 218-269, 2000b.

PARELLADA, C. I. Revisão dos sítios arqueológicos com mais de seis mil anos BP no
Paraná: discussões geoarqueológicas. Fundamentos, São Paulo, n. 7, p. 118-135,
2008.

SILVA, Carmen Lucia da. Em busca da sociedade perdida: o trabalho da memória


Xetá. 2003. Tese. (Doutorado em Antropologia)-Universidade de Brasília, Brasília, DF,
2003.

SILVA, Carmen Lucia da. Sobreviventes do extermínio: uma etnografia das


narrativas e lembranças da sociedade Xetá. 1998. Dissertação. (Mestrado em
Antropologia Social)-Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.

Fontes e referenciais para o aprofundamento temático

1) Você já viu alguma família indígena circulando por sua cidade? O que observou, a respeito?
2) Por ocasião da chegada dos europeus no Paraná, quais eram os povos indígenas que aqui
se encontravam?
3) Recolha junto a sua comunidade (cidade, bairro ou vizinhos) o que eles sabem sobre os
índios no Paraná.

33
HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO
Anotações

34
2 O Guairá: a conquista
e as relações
interculturais nos territórios
indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630
Nádia Moreira Chagas / Lúcio Tadeu Mota

INTRODUÇÃO
A História dos territórios entre os rios Paranapanema ao norte e Iguaçu ao sul, per-
tencentes hoje ao Estado do Paraná, está inserida nos processos de ocupação da Amé-
rica Meridional pelos europeus, no século XVI. Denominados nos primeiros séculos
da colonização como Guairá, sua história é, portanto, parte da História do Paraná Co-
lonial, que inicia com a chegada dos europeus ao litoral meridional da América do Sul.
Para conhecermos a história de períodos mais remotos sobre a região temos que
recorrer à historiografia clássica da Bacia Platina, sobre a história do Paraguai e da
Argentina, e também a estudos sobre os bandeirantes paulistas.
A relevância dessa historiografia está no debate sobre a ocupação do atual Paraná e
no reconhecimento das populações que aqui viviam, a fim de se desmistificarem algu-
mas ideias, como a de que a região era um deserto a ser desbravado.
A ocupação dos territórios do atual Paraná e as relações interculturais ocorridas en-
tre o início da colonização até o século XVII possibilitam compreender os contatos que
ocorreram antes e depois da chegada dos europeus. Ou seja, é possível reconstruir a
história de povos que foram considerados etnocentricamente como sem história, por
não dominarem a escrita.
O importante nos estudos da ocupação desses territórios é determinar o impacto
da conquista sobre as sociedades indígenas que aqui viviam, procurando se entender
como se desenvolveram as estruturas sociais e compreender que os europeus não
foram os únicos sujeitos que fizeram a história desta parte do continente americano.
A história da conquista dos territórios entre os rios Paranapanema e Iguaçu, os
quais mais tarde se tornariam o Estado do Paraná, está presente em alguns autores
clássicos da historiografia paranaense, dentre os quais se destacam: Silveira Neto, que
escreveu no início do século XX; David Carneiro, um dos que mais escreveu sobre

35
HISTÓRIA DO PARANÁ: o Paraná; Romário Martins, autor da ideia do paranismo; Faris A. S. Michaelle, que
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO aborda a presença indígena e as dificuldades que tornavam seu estudo difícil; Altiva
P. Balhana, Brasil P. Machado e Cecília M. Westphalen, que tratam da descoberta do
ouro e da procura do indígena para o trabalho no estabelecimento do português; Ruy
C. Wachowicz, com sua publicação didática sobre a História do Paraná. Na década de
1980, Cecília M. Westphalen e Jaime A. Cardoso publicaram o Atlas Histórico do Pa-
raná. Existem ainda outras obras mais recentes, na década de 1990, como a de Maria
A.M.S. Schmidt, que apresenta em publicação paradidática uma História do Paraná, e
ainda a de Sérgio O. Nadalin, sobre a ocupação do território.
Pode-se dizer que algumas das obras mais antigas seguem uma mesma linha de
estudo: indo da chegada dos europeus à formação de vilas e povoações em regiões
consideradas como despovoadas, prontas para serem ocupadas, não contando com a
presença do indígena, o que justificaria, assim, a prática da conquista dos territórios
empreendida pelos europeus. Havia, na verdade, uma política de omissão com respei-
to aos povos indígenas, segundo a qual os europeus acreditavam que, se não podiam
fazer esses povos desaparecerem, eles seriam então integrados.
Uma historiografia mais recente1 discute a ocupação do Guairá como uma guerra
de conquista, ou seja, a exploração das populações indígenas pelos conquistadores
não foi sem obstáculos como afirmam muitos autores, e a conquista dos seus terri-
tórios também não ocorreu de forma pacífica. Em todos os momentos, e por várias
etnias, a resistência foi renhida e sangrenta. O território do Guairá, que compreendia
quase todo o Paraná, foi local de trânsito de portugueses e espanhóis que iam e vi-
nham de Assunção em direção às vilas do litoral brasileiro, palco de guerras variadas
e constantes. A conquista desses territórios foi feita palmo a palmo, com o uso da
espada, do arcabuz, da besta, da cruz, de doenças e de acordos. Alianças foram esta-
belecidas e rompidas, e de ambas as partes fidelidades foram sacramentadas e traições
meticulosamente planejadas.

O GUAIRÁ E SUA POPULAÇÃO, ENTRE 1500 E 1632


O território
Por ocasião da expansão marítima, havia uma divergência entre Portugal e Espanha
sobre os limites das terras que conquistaram. Isso levou à assinatura do Tratado de
Tordesilhas (1494), segundo o qual o mundo ficaria dividido entre as duas metrópoles
coloniais, ou seja, as terras descobertas e a descobrir seriam divididas entre as duas

1 Conferir os trabalhos de Lúcio Tadeu Mota, Francisco Noelli e outros pesquisadores sediados no Pro-
grama Interdisciplinar de Estudos de Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história
da Universidade Estadual de Maringá.

36
nações. Pelas determinações desse tratado, uma linha imaginária passaria a 360 léguas O Guairá: a conquista
e as relações
da Ilha de Cabo Verde, e todas as terras que estivessem a leste pertenceriam a Portugal; interculturais nos
territórios
e a oeste, à Espanha. indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630
O território do atual Paraná estava localizado a ocidente dessa linha, mas não havia
concordância entre espanhóis e portugueses quanto à divisão. Para os,

[...] cosmógrafos espanhóis caia no mar na altura de Iguape, embora para os


portugueses terminasse na altura de laguna, e a expedição de (1532), ainda
mais ao sul, procurasse estender o direito lusitano colocando marcos na foz do
rio da Prata (MARTINS, 1995b, p. 59)2.

A discussão sobre os limites territoriais avançaram pelos séculos XVII e XVIII, quan-
do se estabeleceram as reais fronteiras nas nações. A presença de portugueses avan-
çando pelo sertão após a linha de Tordesilhas foi intensa ao longo dos séculos XVI
e XVII, sentida, por exemplo, pela atuação dos bandeirantes paulistas em busca de
metais preciosos e indígenas para o trabalho escravo, o que determinou uma divisão
diferente da estabelecida.
O que se pode afirmar é que, pela divisão imposta pelo Tratado de Tordesilhas de
1494, ficava bastante evidente que a quase totalidade do atual território do Paraná era do-
mínio dos espanhóis, ficando para os portugueses uma pequena faixa de terra do litoral.
Informações detalhadas sobre o Guairá são encontradas nos escritos do historiador
e conquistador Ruy Diaz de Guzmán, sobrinho-neto de Don Álvar Nuñes Cabeza de
Vaca, o primeiro espanhol que passou por essas terras e as denominou de Província
de Vera. Para o autor, o território correspondia aos ‘[...] campos que corren y confinan
com el Río de la Plata, que llaman de Guayra3’.
O delineamento do Guairá também é encontrado nos escritos do Padre Nicolas del
Techo, segundo o qual

[...] El Guairá está situado en la parte del Paraguay que mira al Brasil y al Occi-
dente del rio Paraná; por el Sur acaba en los campos que baña el Uruguay, y por
Norte en selvas y lagunas no bien conocidas; su extensión es considerable […]4.

2 Cf. MARTINS, 1995b, p. 59.


3 Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de 1836, p. 32 e 67. Com respeito a essa demarcação, na mesma obra, no
Índice Geográfico e Histórico, p. 392, existe a explicação de que o Guairá era um ‘[...] Vasto e inculto
território entre las províncias meridionales del Brasil y el Paraguay y tan poco conocido que no es posible
demarcar sus limites [...]’, ou seja, o autor erra quando diz que a região limitava-se com o Rio da Prata.
4 Cf. TECHO, Nicolas del. [1673], 2005, p. 196),

37
HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO

Figura 1 - Mapa do Guairá.


Fonte: Ramon Cardoso, 1918.

O encontro
Como vimos no capitulo anterior, o sul do Brasil e mais especificamente o Paraná,
quando da chegada dos europeus, estava habitado pelas populações falantes do tron-
co linguístico Tupi, no caso os Guarani e Xetá, e os falantes das línguas do tronco Ma-
cro-jê, os Kaingang e Xokleng. Dessa forma, os marinheiros que desembarcaram dos
navios espanhóis e portugueses na costa sul do Brasil fizeram contato primeiro com
os Carijós, como eram chamados os Guarani, e quando eles começaram a percorrer
o interior passaram a ter contatos com populações de fala diferente dos Carijós, os
grupos falantes do tronco linguístico Jê, hoje conhecidos como Kaingang e Xokleng.
Os primeiros contatos de europeus com as populações indígenas no Guairá ocorre-
ram a partir do início do século XVI, quando os navios portugueses e espanhóis come-
çaram a aportar no litoral sul. Esses navegantes procuravam, num primeiro momento,
uma passagem para as Índias, até que em 1520 Fernão de Magalhães cruzou o estreito
que levaria seu nome, no extremo sul do continente, e alcançou o objetivo de chegar
às Índias navegando para o ocidente. A partir da descoberta de ouro e prata no Peru, o
principal objetivo desses europeus era chegar ao Império Inca, e para isso a travessia
do território do Guairá era uma opção se não quisessem contornar todo o sul até o Rio
da Prata e subir o rio Paraguai.
Dessa forma é que os navegadores realizaram contato com os Guarani, e com eles
fizeram as primeiras trocas comerciais. Objetos vindos da Europa, principalmente
artefatos de metais, foram trocados por comida, lenha, peles de animais, pássaros e ou-
tras raridades de interesse dos marujos. Também deixaram no litoral os ‘desterrados’,
ou ‘náufragos’. Nesse momento pode-se constatar que relações entre povos diferentes
ocorreram em torno dessas trocas, e o objetivo de descobrir se havia metais preciosos

38
na região aceleraram esses contatos. Pelo lado dos portugueses e espanhóis, a busca O Guairá: a conquista
e as relações
de metais, pedras preciosas e outras mercadorias de valor a serem comercializadas na interculturais nos
territórios
Europa; e pelo lado dos indígenas, a possibilidade de acessar ferramentas de metal e indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630
outros objetos trazidos da Europa foram o motor dessas relações interculturais, de
populações diferenciadas culturalmente, no Guiará.
Foram inúmeras as armadas e embarcações vindas da Europa que passaram no
litoral sul do Brasil ou aí aportaram, nos primeiros 30 anos da conquista.

LOCAIS
DATA VIAJANTE ARMADA DESEMBARQUE DE TRIPULANTES
DE CHEGADA
Cananéia SP
Oceano Atlântico 53º
Gonzalo Coelho Em Cananéia 15/02/1502, G. Coelho deixa um
1501/08/17 3 Caravelas Latitude. Sul altura
Américo Vespúcio degredado (Bacharel de Cananéia)
de Punta Arenas na
Patagônia
Gonzalo Coelho
Américo Vespúcio,
Bahia de Todos os Foram deixados 24 homens em uma fortaleza
João Lopes de
1503/08/10 6 Caravelas Santos BA, até São em São Vicente, em São Paulo, daí entraram 40
Carvalho e João
Vicente SP léguas terra adentro
de Lisboa –
Pilotos
Desembarcaram nesse local onde
Binot Paumier de 1 Navio L’Espoir São Francisco do Sul permaneceram seis meses: de janeiro a julho
1504/01/05
Gonneville Esperança SC, de 1504, vivendo com os Guarani do cacique
Arosca
Estevão Frois e Cabo de Santa Maria – Encontro com os índios Charruas depois de
1514/07/00 2 Caravelas
João de Lisboa Punta del Leste Uruguai subirem 300 Km pelo Rio da Prata
Solis e seus homens foram mortos na
Cananeia, Santa embocadura do rio Uruguai no Rio da Prata,
1516/01/00 Juan Dias de Solis 2 Caravelas
Catarina, Rio da Prata ficando vivo Francisco Del Puerto, um grumete
de 14 anos
Jaques fora nomeado guarda- costa do Brasil,
Cabo Frio, Rio de
1516/08/00 Cristóvão Jaques 3 Naus pelo Rei de Portugal. Perseguiu os espanhóis e
Janeiro, Santa Catarina
franceses que aportaram na costa brasileira
Fernando de 4 Naus e 1 Rio de Janeiro, Rio da Contornou o estreito que levou seu nome na
1519/12/13
Magalhães Caravela Prata (1520/01/11) Patagônia
Em SC recolheu Melchior Ramires, um dos
náufragos da expedição de Solis, e subiram 200
Km acima no rio Prata, na Ilha de São Gabriel,
1521/00/00 Cristóvão Jaques 2 Caravelas Santa Catarina
onde encontrou Francisco Del Puerto. Subiu
o rio mais 140 Km, até onde hoje é a cidade
argentina de Rosário
Jofre de Loyasa, Estavam percorrendo a rota de Magalhães, e
1526/08/00 D.Rodrigo de Porto dos Patos SC por mau tempo tiveram que voltar às costas
Acuña do Brasil
Caboto encontrou Henrique Montes, náufrago
Sebastião Caboto de Solis, que lhe deu noticias da expedição de
1526/10/31 3 Naus Santa Catarina
(Veneziano) Aleixo Garcia ao Peru. Caboto entrou no rio da
Prata, navegou os rios Paraguai e o Paraná
São Vicente, Encontrou com Caboto descendo o rio Paraná.
1528/05/07 Diego Garcia 1 Nau e 1 Galeão
Cananéia(1528/01/15), Seu destino era as Ilhas Molucas na Ásia
Percorreu o litoral sul
Martin Afonso de 1 Galão, 2 Naus, 2 Pero Lopes subiu o rio Paraná e na volta
1531/01/00 do Brasil até Punta Del
Souza Caravelas estiveram na Baía de Paranaguá
Leste, no Uruguai.
Percorreu o litoral sul
Pedro de
1535/00/00 do Brasil e foi fundar a
Mendonça
cidade de Buenos Aires

Quadro 1 - Embarcações vindas da Europa que aportaram no sul do Brasil até 1535.

39
HISTÓRIA DO PARANÁ: Quando os primeiros europeus começaram a desembarcar no litoral sul do Brasil
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO para abastecer seus navios com água, lenha e alimentos, ou foram deixados como
desterrados ou náufragos, eles tomaram conhecimento, por meio dos Guarani, das
enormes riquezas existentes a oeste dos seus territórios. Em conjunto com esses ín-
dios prepararam expedições para irem até as terras onde existiam ouro e prata em
abundância. Começou então o processo de desvendamento e conquista dos territórios
indígenas do interior do que seria mais tarde o Estado do Paraná.
Do litoral os conquistadores subiram a Serra do Mar em direção ao poente, rumo
às minas de prata na Cordilheira dos Andes. As primeiras expedições, como a de Aleixo
Garcia em 1522, tiveram o objetivo de fazer o reconhecimento e descobrir a origem do
ouro encontrado com os Carijós na costa de Santa Catarina. Acompanhados de cerca
de 2 mil Guarani, a viagem demorou três anos. Partiu do litoral de Santa Catarina,
passou pelo interior do Paraná, pelo Paraguai e pela Bolívia, até chegar ao Peru, nas
periferias do Império Inca; na volta, em 1526, Garcia foi morto pelos Guarani na re-
gião da Foz do Iguaçu. A história dessa expedição foi contada e recontada na tradição
oral dos Guarani até que chegou aos ouvidos dos primeiros cronistas espanhóis em
Assunção, no Paraguai5.
Interessado em buscar riquezas no sertão, Martim Afonso de Souza enviou de Cana-
neia, a Francisco de Chaves e Pero Lobo juntamente com 80 homens, rumo ao interior
do Paraná, por terra. Esses homens foram mortos pelos Guarani em algum lugar entre
Sete Quedas e Foz do Iguaçu, provavelmente em 1531. Podem ter seguido os mesmos
caminhos percorridos por Aleixo Garcia.
Dez anos depois, quando já havia sido criada a cidade de Nossa Senhora de Assunção, a
capital do Paraguai, Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, após várias aventuras na América do
Norte, veio tomar posse e comandar a província do Paraguai, em nome do Rei da Espanha.
Desembarcou na ilha de Santa Catarina, e no final de 1541, partindo da foz do rio Itapucu,
rumou para Assunção no Paraguai, aonde chegou quatro meses depois, acompanhado
por 250 arcabuzeiros e balesteiros. Durante a expedição foi acompanhado por centenas
de índios Guarani. A cada novo território que ingressava a expedição dispensava os acom-
panhantes do território anterior, e mediante pagamentos em espécie (machados, contas,
etc.) integrava novos guias para o percurso seguinte. Subiram a Serra do Mar, alcançaram
o rio Negro (na altura de Rio Negrinho - SC) e desceram até a sua desembocadura, no rio

5 Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de. La Argentina. Emece, Buenos Aires, [s.n., ]1998, p. 50-59.

40
Iguaçu. Para contornar o território dos Kaingang6 tiveram de atravessar o rio Iguaçu e se O Guairá: a conquista
e as relações
dirigiram a noroeste em direção às cabeceiras do rio Tibagi. Nas proximidades da foz do interculturais nos
territórios
rio Iapó no Tibagi, na atual cidade de Tibagi, a expedição dirigiu-se para oeste até chegar indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630
ao rio Ivaí. Dali Cabeza de Vaca rumou para o sudoeste, atravessando o rio Piquiri até
alcançar o rio Iguaçu, a poucos quilômetros de sua foz, de onde seguiram até Assunção.
O relato de Alvar Nunez Cabeza de Vaca é importante na medida em que descreve, ao
longo de sua expedição, o contato e a entrada em territórios pertencentes a diferentes
grupos Guarani, e desvia no seu trajeto dos territórios Kaingang em Guarapuava e Palmas.
Esse foi o primeiro documento a informar que quase todo o interior do Paraná estava
habitado e, ao mesmo tempo, a mostrar que havia uma divisão política entre esses diver-
sos grupos de mesma matriz cultural, organizados politicamente em cacicados.7 E ainda
que indiretamente, devido à imensa volta que a expedição fez não seguindo o vale do rio
Iguaçu, isso nos dá uma noção da extensão do território dominado pelos Kaingang nos
Koran-bang-rê (Campos de Guarapuava).

Figura 2 - Rota aproximada da expedição de


Dom Alvar Alvar Núñes Cabeza de Vaca - 1541.

6 O Barão de Capanema sustenta que Cabeça de Vaca deu uma volta de mais de 80 léguas, evitando seguir
diretamente pelas margens do rio Iguaçu ou pelos campos de Guarapuava ao norte, e os campos de Palmas
ao sul desse rio, porque esses eram territórios ocupados por índios ferozes, mais valentes que os guaranis. Cf.
CAPANEMA. Questões a estudar em relação aos princípios da nossa história. RIHGB, 52(1):499-509.
Cabeza de Vaca evitou transitar pelos territórios dos Kaingang, por isso desviou-se dos Koran-bang-rê
(campos de Guarapuava) e dos Kreie-bang-rê (campos de Palmas) e seguiu o caminho indicado pelos
Guarani ao norte.
7 Conjunto de aldeias sob a liderança de um prestigioso cacique, que dominava certas porções de territó-
rios bem definidos.

41
HISTÓRIA DO PARANÁ: Os contatos entre europeus e indígenas no litoral do Paraná também foram registrados
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO por Hans Staden. Viajando em direção ao Rio da Prata na expedição do adelantado Diego
de Sanabria, sob o comando de Juan de Salazar, ele naufragou em 1550 na baia de Parana-
guá, no porto de Superagui.
Staden foi um dos que primeiro escreveu sobre o litoral do Paraná e sua população,
como podemos conferir em: Duas viagens ao Brasil. Relata que ele e sua expedição,
depois das manobras e dos perigos que tiveram que enfrentar numa noite de tempestade,
conseguiram aportar em algum lugar da Baía de Paranaguá, onde encontraram degrada-
dos portugueses vivendo com os índios Tupiniquins. Vejamos:

[...] nos disseram que o porto onde estávamos era Supraway, que estávamos a 18
léguas de uma ilha chamada S. Vicente, [...] La moravam eles e aqueles outros que
tínhamos visto no barco pequeno a fugirem por pensarem que eramos franceses.
Perguntamos também a que distância ficava a ilha de Santa Catarina, para onde
queríamos ir. Responderam que podia ser umas trinta milhas para o Sul e que lá
havia uma tribo de selvagens chamados Carios e que tivéssemos cautela com eles.
Os selvagens do porto onde estávamos chamavam-se Tuppin Ikins (STADEN, 2000,
p. 38-39)8.

Dessa forma, os dois portugueses que viviam com os índios na Baia de Paranaguá
informaram que o lugar se chamava Supraway (Superagui), e que os índios que ali
viviam eram os Tuppin Ikins (Tuniquim), que dominavam a costa de Paranaguá até São
Vicente e eram aliados dos portugueses. Informaram também que ao sul de Superagui
encontravam-se os Carios (Guarani), inimigos dos Tupiniquim.
Em 1544, Domingos Martínez de Irala, então governador do Paraguai, saiu de As-
sunção e veio ao Guairá apresar índios para as encomiendas. Fundou a cidade de
Ontiveros junto ao rio Paraná, pouco acima da foz do Iguaçu. No início da década
seguinte, em 1551, Diego de Sanabria viajou pelo mesmo itinerário de Cabeza de Vaca.
Ainda nesse ano, Cristoval de Saavedra atravessou a região indo do Paraguai até o
porto de São Vicente, em São Paulo. No ano seguinte, Hernando de Salaza também fez
o mesmo roteiro, de Assunção no Paraguai até o porto de São Vicente, em São Paulo.
Esse também foi o roteiro percorrido por Ulrich Schmidl, no mesmo ano. Ele partiu
de Assunção em 1552, acompanhado de 20 índios Guarani, com destino ao porto de
Santos, aonde chegou em 1553.

8 Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p. 38-39.

42
O Guairá: a conquista
e as relações
interculturais nos
territórios
indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630

Figura 3 - Superagui – Xilogravura de Hans Staden


Fonte: (STADEM, 2000, p 38).

Ruy Dias Melgarejo, em 1553/1554, percorreu duas vezes o interior do Paraná, desde
Ontiveros até São Vicente, e regressou em 1555, partindo do litoral, em Santa Catarina,
e seguindo o mesmo roteiro de Cabeza de Vaca, pois ele havia participado em 1541 da
expedição de Don Alvar Nunez. Melgarejo teve um destacado papel entre os conquis-
tadores espanhóis no interior do Paraná, pois conduziu a fundação de Ciudad Real del
Guairá (foz do rio Piquiri, município de Terra Roxa) e participou da segunda fundação
de Villa Rica del Spiritu Sancto, junto à foz do rio Corumbataí, município de Fênix, hoje
Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo9.
O ano de 1555 foi marcado por várias ocorrências nesses territórios. Francisco de
Gambarrota veio do Paraguai até o porto de São Vicente, em São Paulo. Nuflo Chaves
saiu de Assunção para combater e apresar índios no Guairá, e Juan de Salazar e Cipriano
de Góes fizeram o caminho inverso, partindo de São Vicente para o Paraguai.
No ano de 1588 os padres Manuel Ortega e Thomas Fields percorreram o Guairá
fazendo trabalho missionário. A expedição dos padres coletou informações sobre a re-
gião, e os dados foram passados ao governador de Assunção, relatando sobre a existên-
cia de ‘milhares de índios Guarani’ vivendo ali (MOTA, 2005, p. 25).

9 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e sertanistas do Brasil. [S.l.:


s.n.], 1954. p. 241.

43
HISTÓRIA DO PARANÁ: Como se viu, todos os viajantes informaram sobre a existência de numerosos índios
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO no território, inclusive de grupos distintos – Kaingang, além dos Guarani, que predomi-
navam na região. Os contatos muitas vezes resultaram em lutas e morte, tanto de por-
tugueses quanto de espanhóis, pelos índios, mas também em conquista e desagregação
dos indígenas, por meio dos europeus. Praticamente nada ocorreu de forma pacífica,
havendo resistência por parte dos indígenas.
Nesse contexto é que os espanhóis procuraram dominar e estabelecer-se cada vez
mais para o ocidente do Paraná, para defender as terras segundo o Tratado de Torde-
silhas de 1494. Nessa região eles fundaram Ontiveros, perto da foz do Piquiri (1544);
Ciudad Real del Guairá, na confluência do Piquiri, no Paraná (1555), e Vila Rica del
Espiritu Santu, em 1576, que foi transferida para perto da foz do rio Corumbataí, hoje
no município de Fênix (Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo)
As relações entre os espanhóis nas recém-fundadas vilas e os Guarani, que eram
numerosos, não eram boas, pois os indígenas foram obrigados ao trabalho nas enco-
miendas, o que provocou diversas formas de resistências. Essas resistências e a fuga
para locais distantes das vilas espanholas levou parte dos conquistadores, no caso os re-
ligiosos, a traçarem uma nova estratégia para a conquista das almas dos indígenas. Essa
nova estratégia foi a organização das reduções jesuíticas como forma de catequizá-los.

Caminhos
Certamente pode-se ainda falar sobre as relações ou os encontros de indígenas
com os europeus, na região do Guairá, no período que vai até a destruição das redu-
ções jesuíticas, considerando-se que a comunicação dentro dos territórios realizava-se
por meio de diversos caminhos, os quais foram percorridos pelos viajantes, explorado-
res europeus, desde o início do século XVI: ligavam o litoral ao planalto, mas também
havia rotas terrestres que se estendiam do Rio Grande do Sul, por Santa Catarina, até
os territórios do Paraná e de São Paulo.
Assim como os espanhóis e os jesuítas, os bandeirantes paulistas também transi-
taram intensamente na região, e com toda a certeza pelos caminhos e pelas trilhas
construídos pelos índios. As penetrações pelo território foram feitas pelos vales dos
grandes rios (Iguaçu, Tibagi, Ivaí, etc.). As vias de comunicação, chamadas de ‘cami-
nhos históricos’ eram de condições de difícil trânsito, mas é por onde também passa-
ram, num período posterior, tropas de gado bovino e muar. Esses caminhos tiveram
muita importância na ocupação dos territórios do atual Paraná. Alguns deles ficaram
conhecidos como Caminho do Peabiru, de Cubatão, do Itupava e do Arraial, de Soro-
caba e Viamão. Este último teve grande importância na formação de diversas cidades
do Paraná Velho, indo ele do Rio Grande do Sul até Sorocaba, atravessando o Paraná.

44
Quadro 2 - Viajantes e conquistadores que cruzaram os territórios indígenas, hoje O Guairá: a conquista
e as relações
denominados Paraná, no século XVI e inicio do XVII interculturais nos
territórios
indígenas no Paraná,
ANO DE ENTRADA DESTINO DA ENTRADA OU BANDEIRA CHEFE DA BANDEIRA
de 1500 a 1630
1525 Viagem ao Peru Aleixo Garcia
1526 Paraguai Jose Sedenho
1528 Rio da Prata Diogo Garcia
1531 Paraguai Francisco de Chaves e Pero Lobo
1534 Paraguai Antonio Lopes de Aguiar, Martim de Orue
1538 Rio da Prata Gonçalo Mendonça
1541 Paraguai/Assumpção Alvaro Nunez Cabeza de Vaca
1544 Guairá Domingos Martinez de Irala
1551 Paraguai/Assunção Diego de Senabria
1551 Paraguai para São Vicente Cristoval de Saavedra
1552 Assunção Nuflo de Chaves
1552 Paraguai para São Vicente Hernando de Salazar
1552 Paraguai para São Vicente Ulrich Schmidl
1554 Ontiveros para São Vicente Ruy Dias Melgarejo
1555 Assunção para o Guairá Nuflo de Chavez
1555 Assunção para o Guairá Rodrigo de Vergara
1555 Paraguai João de Salazar e Espinosa
1555 Paraguai para São Vicente Francisco de Gambarota
1555 São Francisco SC para Assunção Ruy Dias Melgarejo
1556 São Vicente para o Paraguai Juan de Salazar e Cipriano de Goes
1557 Ciudad Real del Guairá Ruy Dias de Melgarejo
Cidade Real do Guairá para Vila Rica do Espírito
1576 Ruy Dias Melgarejo
Santo
1581 Guairá Jerônimo Leitão
1585 São Vicente para Paranaguá Jerônimo Leitão
1588 Guairá Padres jesuítas Ortega e Fields
1594 São Vicente Paranaguá Jorge Correia
1595 Paranaguá Manoel Soeiro
1601 Guairá Hernando Arias de Savaedra
1602 São Paulo para o Guairá Nicolau Barreto
1607 São Paulo para o Guairá Manoel Preto
1607 Paraguai via Paraná Pedro Franco de Torres
1611 Guairá Pedro Vaz de Barros
1615 Santa Catarina Lázaro da Costa
1616 São Paulo para o Paraguai Antonio Fernandes
1623 São Paulo para o Guairá Henrique da Cunha Gago
1623 São Paulo para o Guairá Manuel e Sebastião Preto
1628 São Paulo para o Guairá Antonio Luis Grou
1628 São Paulo para o Guairá Antonio Raposo Tavares
1628 São Paulo para o Guairá Nicolau Barreto
1631 São Paulo para o Guairá Antonio Raposo Tavares
1631 São Paulo para o Guairá Cristóvão Diniz
1648 São Paulo para o Guairá Antonio Domingues
1648 São Paulo para o Guairá Antonio Raposo Tavares

Fonte: Adaptado de JACOMINI, 2003.


45
HISTÓRIA DO PARANÁ: As reduções Jesuísticas no Guairá
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO A atuação dos jesuítas no Guairá iniciou bem antes da fundação das reduções. Os
documentos da Coleção de Angelis, de jesuítas e bandeirantes no Guairá, compõem-se
de várias cartas, informes e outros documentos que dão conta de todo esse trabalho. Os
documentos tratam da doação de terras para a Companhia de Jesus na região, feita pelo
governo do Paraguai; sobre as encomiendas de índios também dessa região aos espanhóis
conquistadores; e incluem toda espécie de documentos relativos ao apoio que se deveria
dar aos padres para o início das reduções.
Um desses documentos, por exemplo, diz respeito a uma ordem do governador do
Paraguai e Rio da Prata, D. Antonio de Añasco, para que em Ciudad Real se dessem apoio
aos padres a fim de que fundassem reduções no rio Paranapanema e no Tibagi. É um
documento da referida Coleção em que é possível se entender que os padres receberam
apoio para tal empreendimento, e também que era do interesse dos espanhóis que os
indígenas estivessem reduzidos, evangelizados e civilizados. O documento é do ano de
1609. As primeiras reduções do Guairá foram organizadas em 1610, como se lê:

[...] Por el presente mando al cap. Pero garçia y outra qualquer Justiçia de guayra,
que en ninguna manera precisa asta que outra cosa se ordene y mande, no salgan
ni embien a hacer malocas Jornadas ni entrada ninguna a la Provª del yparanapane
y Atibaxiva, ni outro ningun rio que cayga en el paranapane, porquanto de presen-
te se pretende reduçir a los naturalles della por médio del Padre Joseph Cataldino y
el P. Simon Maseta de la compañia del nombre de Jesus a quien les esta cometida la
dha reduçion, antes para Ella les acudiran y haran acudir con todo el favor y ayuda
que fuere neccessº [...] (CORTESÃO, 1951, p. 13710.

Assim, Nossa Senhora do Loreto e Santo Inácio, nas margens do rio Paranapanema,
foram as primeiras reduções jesuíticas fundadas no Guairá, e após elas mais 12 outras se
organizaram, nos vales dos rios Paraná, Iguaçu, Piquiri, Ivaí, e Tibagi.
As reduções de São José, São Francisco Xavier, Encarnación e São Miguel localizaram-se
no Vale do Rio Tibagi. Nas margens do Rio Ivaí localizavam-se as reduções de Jesus Maria,
Santo Antônio e São Paulo. São Tomás e Sete Arcanjos estavam nas terras do cacique Taio-
ba (Cortesão, 1951, p. 245). Nas cabeceiras do Rio Piquiri, as de São Pedro e Concepção.
E finalmente, no médio Piquiri, a redução de Nossa Senhora de Copacabana, totalizando
as 14 reduções conhecidas, fundadas na região do Guairá.

10 CORTESÃO, Jaime. Jesuítas e bandeirantes no Guairá. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951.
p. 137.

46
O Guairá: a conquista
e as relações
interculturais nos
territórios
indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630

Figura 4 - Mapa do Paraná com as reduções jesuíticas


Fonte: Adaptado de MOTA; NOVAK, 2008.

O padre Antonio Ruiz de Montoya informa o significado do termo redução:

Chamamos reduções aos povos de índios que vivendo à sua antiga usança nos
montes, foram reduzidos pelas diligências dos padres a povoações grandes e à
vida política e humana (MONTOYA, 1639, p. 6).
O ato de reduzir os indígenas em povoados tinha o objetivo de ensinar a doutrina
católica e promover a civilização, como pretendia a Companhia de Jesus.

Capdeville (1923, p. 19) diz:

Se entiende por Misiones Jesuiticas, los establecimientos fundados por los je-
suítas em América para la civilización y la formación cristana de los índios [...].
Se las há llamado también Reducciones, porque mediante um sistema parti-
cular, trataron los Jesuitas de hacer pasar a los índios de la vida salvaje de los
bosques a la vida Cristiana de la comunidad.

É preciso anotar, também, que os conceitos de missões, reduções e doutrinas foram


usados para designar as povoações de indígenas sob o governo teocrático dos jesuítas.
A organização das reduções não foi bem-vista nem pelos fazendeiros espanhóis
instalados no Guairá nem pelos paulistas da recém- fundada São Paulo de Piratininga.
Estes últimos já faziam incursões no Guairá para prear índios desde o inicio do século
XVII. No limiar dos anos seiscentos os portugueses chegaram à região em busca do seu
butim: escravos indígenas para o trabalho nas fazendas paulistas, metais preciosos e

47
HISTÓRIA DO PARANÁ: outras riquezas11. Porém, desde a fundação de São Vicente eles já preavam os Guarani
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO do litoral e da encosta das serras paranaenses.
Em 1602 Nicolau Barreto desceu o rio Paraná, passando pelo Guairá rumo às minas
de Potosi, no Peru. Em 1607 foi a vez de Pedro Franco de Torres atravessar a região
rumo ao Paraguai para fazer o roteiro já conhecido desde meados do século XVI. Nes-
se mesmo ano Manuel Preto, um dos maiores preadores de índios da época, dirigiu
uma bandeira para o aprisionamento dos índios Guarani nas proximidades da cidade
espanhola de Vila Rica do Espírito Santo. Procurando medidas estratégicas para conter
as investidas dos bandeirantes paulistas contra o ‘seu’ butim, o Rei da Espanha criou a
Província del Guairá em 1608, que abarcava praticamente quase todo o Paraná.
Ignorando as medidas protecionistas da coroa espanhola, Manuel Preto, acompa-
nhado pelo temido Raposo Tavares, voltou ao Guairá em busca de mais índios nos
anos de 1611, 1618, 1623 e 1628. Seu fim foi a morte por ferimentos de flechas em
plena campanha de aprisionamento de índios no sul do Brasil (AZEVEDO, 1983)12.
As primeiras décadas do século XVII foram marcadas por uma intensificação das
ações dos europeus no Guairá. De um lado houve os choques entre os índios Gua-
rani e os encomendeiros espanhóis, que os exploravam no trabalho semiescravo da
coleta da erva-mate. Os padres jesuítas, em sua pregação religiosa, tentavam inculcar
os valores da sociedade invasora junto às populações indígenas existentes na região.
Contrariando os interesses dos encomendeiros espanhóis e dos padres da Companhia
de Jesus vieram os paulistas, com a intenção de buscar seu butim.
De uma perspectiva oposta, os índios faziam uma leitura própria da conjuntura,
resultando eventualmente em alianças, acordos e guerras, o que torna complexo o
entendimento sobre os fatos ocorridos nas relações deles com os invasores de seus
territórios. Disso resulta que a análise histórica da ocupação da região não pode ser
dicotômica: índios contra brancos ou vice-versa. Devem-se considerar os grupos con-
quistadores europeus e seus interesses localizados, bem como os Guarani e os Kain-
gang, que eram inimigos mas que, estrategicamente, estabeleceram alianças entre si.
Alianças explícitas ou não, o fato de que em determinados momentos um grupo in-
dígena podia procurar as reduções, mesmo sendo refratário à pregação missionária,
pode significar apenas uma tática política momentânea para se livrar dos invasores
paulistas ou do trabalho escravo nas encomiendas espanholas.

11 Sobre a preação de índios na região para o trabalho escravo em São Paulo, ver o livro de
MONTEIRO, John M. Negros da terra. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
12 Cf. AZEVEDO, Victor de. Manuel Preto ‘O herói de Guairá’. São Paulo: Governo do
Estado de São Paulo, 1983.

48
Destruídas as reduções jesuíticas, as populações indígenas se dispersaram: parte O Guairá: a conquista
e as relações
foi para o sul junto com os padres fundar os sete povos das missões no Rio Grande interculturais nos
territórios
do Sul, e outra parte voltou a ocupar seus antigos territórios. Mas a região não deixou indígenas no Paraná,
de 1500 a 1630
de ser um atrativo para os paulistas tentarem aumentar seu butim. A partir de 1651,
Fernão Dias Paes Leme ficou por três anos na região da Serra da Apucarana e submeteu
os caciques da nação Guaianá, ancestrais dos Kaingang, levando-os prisioneiros para
São Paulo, com todo o seu povo. Pedro Taques, na Nobiliarquia Paulistana, relata
essa expedição:

Penetrou Fernão Dias Paes o sertão do sul até o centro da serra de Apucarana,
no reino dos índios da nação Guyanãa, pelos annos de 1651; nelle existiu al-
guns annos, tendo estabelecido arraial com o troço das suas armas, para vencer
a reducção daquelle reino, que se dividia em três differentes reis. [...] Poz-se em
marcha o grande corpo daquelles reinos e todos seguiam gostosos esta trans-
migração debaixo do commando inteiramente do seu conquistador e amigo
Fernão Dias (TAUNAY, 1955, p. 167)13.

Esse fato ainda requer estudos mais aprofundados, pois certamente os índios não
‘seguiram gostosos’ o ‘amigo’ Fernão Dias. O paulista invasor teve de permanecer
vários anos na região, estabelecendo um arraial, provavelmente um local fortificado,
nos moldes do construído em 1628 por Raposo Tavares para conter o ataque dos
índios. Taques fala em cerco imposto por Fernão Dias às plantações desses índios.
Também fala de três caciques, Tombu, Sondá e Gravitay. Este ultimo morreu antes
da partida para São Paulo; Sondá morreu na marcha (podemos sugerir a hipótese de
que teria havido uma resistência desses caciques em seguir o bandeirante). Apenas o
primeiro, Tombu, chegou a Santana do Paraíba, em São Paulo, onde morreu alguns
anos depois.

Considerações finais
Os territórios do Guairá, atual Paraná, estiveram, desde pelo menos 7 a 8 mil anos
atrás, ocupados por diversos grupos indígenas. No início do século XVI os europeus,
ao aportarem na região, iniciaram contatos com os indígenas, na maior parte das vezes,
com o objetivo de subjugá-los. Por isso, para estudar a ocupação territorial paranaense é
necessário buscar elementos etno-históricos que permitam entender essas populações
como vivendo de forma dinâmica, produzindo cultura, as quais não podem ser tratadas
como integrantes da história da região apenas após a chegada dos europeus.

13 Cf. TAUNAY, Affonso de E. A grande vida de Fernão Dias Pais. São Paulo: [J. Olympio],
1955. p. 167.

49
HISTÓRIA DO PARANÁ: O que se pode confirmar é que relatos dos próprios viajantes, exploradores, mis-
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO sionários e outros que por ali passaram comprovam que o território era densamente
habitado por milhares de indígenas, perfeitamente organizados cultural e politicamen-
te, que mantiveram contatos com os europeus desde o início do século XVI.
Os registros mostram que, após diversas tentativas de manter sua liberdade e seu
modo de vida, os indígenas procuraram fazer alianças com os europeus ou fugiram,
por exemplo, do domínio espanhol, que os obrigavam às encomiendas. Outras vezes
empreenderam sangrentas guerras, e embora fossem quase sempre em maior número
acabaram sendo subjugados, escravizados, mortos ou segregados. Por seu lado, os
europeus também tiveram sua parcela de dificuldades. As entradas para o interior
dos territórios exigiram deles grandes esforços para chegar ao seu objetivo, que foi,
sempre, alcançar as riquezas que sabiam ou imaginavam que houvesse no interior
da América. Nesse caso, o Paraná atual foi território que os europeus atravessaram,
partilharam e exploraram para conseguir seus objetivos As fontes revelam que os eu-
ropeus penetraram no território e que as perdas foram enormes, principalmente para
as populações primitivas.

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Fontes e referenciais para o aprofundamento temático

1) A discussão em relação à ocupação e à exploração das novas terras destaca como fator
importante a ideia de que a terra era despovoada. Tais questões são confrontadas pela
historiografia recente. Discuta esse posicionamento conforme aponta o texto. Para isso,
utilize também fontes indicadas na bibliografia.
2) Elabore um texto-comentário sobre as primeiras expedições que passaram pelo sul do
Brasil, utilizando os dados descritos no quadro 1.
3) Utilizando a leitura do texto aponte, de forma sintética, os interesses dos bandeirantes pau-
listas, dos padres jesuítas e dos índios em relação à expansão colonial pelo sul do Brasil.
4) Aponte, com base no texto, quais foram as cidades espanholas fundadas no Guairá, a re-
gião em que se localizaram seus fundadores, o período em que foram fundadas, e sua
importância para os espanhóis.
5) Destaque a importância da fundação das cidades espanholas no Guairá para a expansão e
a colonização espanhola na região. Aponte os interesses em relação ao território, às popu-
lações indígenas e aos portugueses.

Anotações

54
3 doApovoamento
formação do Paraná:
do litoral
à emancipação da
5ª Comarca

Lúcio Tadeu Mota

O POVOAMENTO DO LITORAL E AS ORIGENS DE CURITIBA


Desde os primeiros anos de 1500 os europeus aportaram na região, e nessa época
a baía de Paranaguá já era conhecida dos navegantes. Ocupada primeiramente pelas
populações construtoras dos sambaquis, em 1500 ela era habitat dos Tupiniquins, que
disputavam esses territórios com os Guarani, então chamados de Carijós. O grande
estuário foi denominado de Paranaguá, que em Tupi, Paraná-guá, significa algo como
‘seio do mar’, ou ‘grande mar redondo’.
Uma das primeiras informações que temos da região é o mapa feito por Hans Sta-
den, quando ele aqui esteve junto com Martim Afonso de Sousa e seu irmão Pero
Lopes de Souza, em 1534, por ocasião da posse de suas capitanias hereditárias no sul
do Brasil. Pelas informações de Hans Staden ali já viviam, em meio aos Tupiniquins,
dois portugueses.

Eram mais ou menos duas horas da tarde, quando deitamos âncora. De tar-
de, veio uma grande embarcação com selvagens, que queriam falar conosco.
Nenhum de nós, porém, entendia a língua deles. Demos-lhes algumas facas
e anzóis, com que voltaram. Na mesma noite, veio uma embarcação cheia, na
qual estavam dois portugueses (STADEM, 2000, p. 38)1.

Podemos inferir a presença de europeus na região da baía de Paranaguá desde os


primeiros momentos de sua chegada no continente. Mas a região passou a ser frequen-
tada com mais assiduidade por faiscadores de ouro e preadores de índios vindos de

1 Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p. 38.

55
HISTÓRIA DO PARANÁ: São Vicente, no litoral paulista, desde 1554. Foram várias as bandeiras que percorre-
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO ram o litoral do Paraná com esses objetivos. Em 1585 Jerônimo Leitão, em 1594 Jorge
Coréia, em 1595 Manoel Soeiro, e em 1617 foi a vez da bandeira de Antonio Pedroso,
até que foi descoberto ouro nos ribeirões da região. Teve inicio então o povoamento
definitivo, com a fundação das primeiras vilas do litoral.

Figura 1 - Extrato do Mapa. Demonstração do Pernagua e Cananeia. Livro de toda a


costa da província de Santa Cruz feito por João Teixeira Albbernaz, Anno D. 1666.
Fonte: Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores (654).

Paranaguá
A primeira sesmaria, requerida por Diego de Unhate em 1614, abrangia vastos ter-
ritórios no rio Superagui. Anos mais tarde Gabriel de Lara fundou uma povoação na
ilha da Cotinga, depois transferida para o continente. Em seis de janeiro de 1646 foi
levantado o Pelourinho, e em junho de 1648 ocorreu a primeira eleição para a Câmara

56
Municipal de Paranaguá. As possibilidades de gerar riquezas, com o garimpo de ouro A formação do Paraná:
do povoamento do litoral
nos riachos da serra e do planalto, aumentaram a importância da região diante da à emancipação da
5ª Comarca
coroa. Tanto que em 1660 Gabriel de Lara foi nomeado capitão-mor da Capitania de
Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. Ela existiu até 1709, mas a partir de 1711,
com a diminuição das atividades do faiscamento do ouro, perdeu o status de capitania
e foi integrada à Capitania de São Paulo, como a Quinta Comarca de Paranaguá e Curi-
tiba ( WACHOWICZ, 1988, p. 39-51)2.

Antonina
Como as outras vilas do litoral, Antonina também surgiu em decorrência da presen-
ça de faiscadores de ouro na região. No entanto, a fundação da povoação só ocorreu
no século XVIII, em 1714, com a construção da capela de Nossa Senhora do Pilar da
Graciosa. Somente muito mais tarde, em 1797, é que ela foi elevada a vila, com a de-
nominação de Antonina, em homenagem ao Príncipe D. Antonio, primeiro filho do Rei
Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina.

Morretes
Situada às margens do rio Nhundiaquara, local de passagem dos faiscadores de
ouro que subiam a serra, Morretes foi fundada por determinação do ouvidor Rafael
Pires Pardinho, em 1721. Anos depois, em 1769, a população teve permissão para er-
guer a capela de Nossa Senhora do Porto e Menino Deus dos três Morretes, e somente
no século seguinte, em 1841, Morretes foi desmembrado de Antonina e elevado a
município.

Guaratuba
Os historiadores dão como data provável da fundação da povoação de Guaratuba,
por Gabriel de Lara, o ano de 1656. Um século depois ela foi inserida na política de
defesa do litoral sul do Brasil pelo então governador da Capitania de São Paulo, D.
Luiz A. de Souza, o Morgado de Mateus. Este enviou para a região o tenente-coronel
Afonso Botelho com a missão de incrementar a ocupação de região e construir fortes
para defesa do litoral.

2 Para maiores detalhes sobre o assunto ver: WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná., Curitiba: G.
Vicentina, 1988. p. 39-51. Cap. 3.

57
HISTÓRIA DO PARANÁ: Curitiba
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO Na primeira metade do século XVII os faiscadores de ouro já tinham chegado ao
primeiro planalto paranaense e exploravam seus riachos e ribeirões em busca do me-
tal precioso. O local era habitado pelos índios Guarani, que exploravam os imensos
pinheirais da região, e com certeza mantinham relações sociais e comerciais com os
habitantes não-índios do litoral e com os mineradores de ouro já algum tempo antes
da elevação do Pelourinho, em 1668, por Gabriel de Lara. Com o crescimento da po-
voação, no final de século XVII foram eleitas as autoridades locais com a constituição
da Câmara Municipal em 1693, data da fundação da cidade.

A OCUPAÇÃO DOS CAMPOS GERAIS: AS FAZENDAS DE CRIAR E O CAMI-


NHO DO VIAMÃO
Os campos Gerais, situados no segundo planalto paranaense, começaram a ser
povoados por fazendeiros de São Paulo, Santos, Paranaguá e pelos estabelecidos nos
campos de Curitiba, no início do século XVIII, quando foi descoberto ouro em Minas
Gerais e se criou uma forte demanda por animais cavalares e muares, criados em abun-
dância nos campos do sul do Brasil e no Uruguai. Essa demanda e essa possibilidade
de negócios fizeram com que as famílias abastadas de São Paulo requeressem enormes
sesmarias na região e para ali enviassem parentes ou capatazes para estabelecerem
fazendas de criar gado. Com o inicio das atividades do tropeirismo, que consistia em
comprar animais nos campos de Vacaria, no Rio Grande do Sul, e vendê-los em Soro-
caba, em São Paulo, começaram a surgir as povoações ao longo dessa rota.
Essas povoações, que no inicio eram locais de pouso e descanso dos tropeiros,
passaram a aglutinar pequenos artesãos e pequenos comerciantes, e logo se transfor-
maram em vilas e cidades, como Ponta Grossa, Castro, Lapa e muitas outras. Assim é
que ocorreu a ocupação dos vastos campos naturais do segundo planalto do Paraná:
enormes sesmarias em torno da rota Sorocaba – Vacaria.
A sociedade estabelecida nos Campos Gerais se caracterizou por ser uma socieda-
de constituída de famílias patriarcais, que iam além da família nuclear. Abrigavam em
seu seio agregados e homens pobres livres, protegidos dos grandes proprietários por
ser uma sociedade sustentada no trabalho escravo, com a característica de que esse
trabalho típico de escravos – a lida com o gado em campos abertos – requeresse que
andassem armados para protegerem, a si e ao gado do seu senhor, dos índios e dos
animais predadores. Tratava-se de uma sociedade assentada na grande propriedade,
ou seja, nas grandes sesmarias de criação de gado bovino, muar e cavalar.

58
A DESCOBERTA DE OURO E DIAMANTES, AS EXPEDIÇÕES MILITARES E A A formação do Paraná:
do povoamento do litoral
IMPLANTAÇÃO DAS FAZENDAS NO VALE DO RIO TIBAGI, NOS SÉCULOS à emancipação da
5ª Comarca
XVIII E XIX
A serra de Apucarana e o vale do Tibagi continuaram sendo atrativos para os aven-
tureiros e uma esperança de riquezas. Esses aventureiros deram continuidade aos
bandeirantes do século XVII. Em meados do século XVIII, Francisco Tosi Colombina
apresentou aos governantes um plano de ocupação dos territórios do rio Tibagi, que
no seu entendimento eram ricos em ouro e diamantes. E qual era o seu plano?

E para senhorearse com facilidade dessas terras do Tabagy que agora estão ocu-
padas do numeroso Gentio Guayanã, [...] um dos melhores meyos hé transpor-
tar huns Casaes dos indios mansos, que se achaão nas aldeas de São Paulo, e lá
Aldealos (COLOMBINA, 1974, p. 33)3.

O plano de Colombina não foi levado adiante, mas foram descobertos ouro e dia-
mantes em Pedras Brancas, a sudoeste da atual cidade de Tibagi, por Ângelo Pedroso
e Frei Bento de Santo Ângelo4. Essas descobertas causaram a disputa das terras das
minas do Tibagi por poderosos donos de lavras de Minas Gerais e autoridades de
Paranaguá. Em 1757 o Ouvidor de Paranaguá enviou uma bandeira de 200 soldados
para Pedras Brancas com a finalidade de submeter os posseiros. Enviada pela Câmara
de Curitiba para vigiar os garimpos de Pedras Brancas, essa guarda ficou acantonada,
no registro de Nossa Senhora do Carmo, na foz do rio Capivari, junto ao rio Tibagi, até
1765. Nessa área foi instalado o forte militar de Nossa Senhora do Carmo.
Ainda no século XVIII os vales do Tibagi e do Ivaí foram marcados pela passagem
das expedições militares de Morgado de Mateus, governador de São Paulo, com desti-
no ao Forte Militar de Iguatemi, no Mato Grosso. Entre os anos de 1769 e 1774, várias
expedições partiram do Porto de São Bento, no Tibagi, com destino ao rio Ivaí, e daí
para o Mato Grosso5. Conforme Edmundo Mercer, o Porto de São Bento foi uma antiga
fazenda situada à margem esquerda do Tibagi, 4 léguas acima da cidade do mesmo
nome. Esse porto foi estratégico para as expedições que iam para o forte de Iguatemi,
no Mato Grosso.

3 Cf. COLOMBINA, Francisco Tosi. Descobrimento das terras do Tibagi. Maringá: UEM,, 1974. p.
33. [1753].
4 Cf. MERCER, Edmundo; MERCER, Luiz L. História do Tibagi. Curitiba: Prefeitura Municipal de
Tibagi, 1977. p. 23.
5 Para maiores detalhes sobre a campanha do Morgado de Mateus no Paraná e Mato Grosso ver: BOTE-
LHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento dos sertões do Tibagi; BELLOTTO, Heloísa L.
Autoridade e conflito no Brasil Colonial: o governo de Morgado de Mateus em São Paulo; Davi CAR-
NEIRO. Afonso Botelho de São Payo e Souza.

59
HISTÓRIA DO PARANÁ: Em março de 1771 a terceira expedição da campanha de Afonso Botelho, coman-
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO dada pelo capitão Francisco Lopes da Silva, desceu o rio Ivaí até as ruínas de Vila Rica
do Espírito Santo, abandonada pelos espanhóis devido aos ataques bandeirantes em
1632: ‘ [...] alí mandou o capitão botar roças e principiou o seu estabelecimento dan-
do-lhe o nome de Vila Real do Rio Mourão’6. Essa tentativa de estabelecer um posto
de suprimentos para as expedições que desciam o rio Ivaí em direção ao Mato Gros-
so, desde a barra do rio Corumbataí com o Ivaí, não prosperou, e em pouco tempo
a localidade foi novamente abandonada, e a floresta voltou a cobrir os vestígios da
ocupação humana no local.
No século XIX também foi iniciada a ocupação da bacia ocidental do Tibagi e dos
campos ao seu norte pelos grandes fazendeiros dos Campos Gerais paranaenses,
que procuravam expandir seus domínios. Em 1794, Antonio Machado Ribeiro – ca-
pitão de mato do sargento-mor José Felix da Silva – atravessou o rio Tibagi, acima
do rio Iapó, e ocupou o lugar onde seria a cidade de Tibagi, no coração dos terri-
tórios kaingang. Em 1812, o próprio José Felix da Silva comandou uma expedição
militar ao Tibagi. Por esse feito lhe foi dada a patente de tenente-coronel de milícias,
para que ele comandasse, às próprias custas, uma expedição para descobrir o que
houvesse no Tibagi. Entrou ele com uma companhia de aventureiros pelo Tibagi e
descobriu diamantes na região. Essas descobertas explicam o rápido enriquecimen-
to de José Felix da Silva, dono da Fazenda Fortaleza e de muitas outras na região de
Castro e Tibagi7.
Em 1820, Auguste de Saint-Hilaire excursionou pelos territórios do Paraná, vindo
de Sorocaba - SP, pelo caminho dos tropeiros, até Curitiba. Aí presenciou a partida
de expedições militares organizadas pelos fazendeiros da região contra os Kaingang,
a oeste das grandes fazendas de criação. Dessa forma é que foram sendo implantadas
fazendas de criar gado nas terras conquistadas dos Kaingang.
A conquista desses territórios prosseguiu para o norte, no curso do rio Tibagi.
Em 1838 iniciou-se a ocupação dos Campos do Inhoó, por Manoel Inácio do Canto
e Silva. John Elliot informou que oito anos antes de sua entrada nesses campos, em
21/10/1846, o neto de José Felix da Silva, coronel Manoel Inácio, tinha mandado
abrir uma picada de cargueiros até esses campos, e para poder tomar posse mandou
queimá-los.

6 Cf. BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento dos sertões do Tibagi. Anais da Biblio-
teca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956.
7 Cf. CHICHORRO, Manuel da Cunha Azeredo Coutinho. Memória em que se mostra o estado eco-
nômico, militar e político da Capitânia de São Paulo, quando seu governo tomou posse, em 8/12/1814.
RIHGB, Rio de Janeiro, v. 36, p. 219, 1873.

60
A partir da década de 1840 as iniciativas de ocupação das terras da bacia do Tibagi A formação do Paraná:
do povoamento do litoral
foram levadas adiante pelo Barão de Antonina ( João da Silva Machado), o qual en- à emancipação da
5ª Comarca
carregou Joaquim Francisco Lopes e John Henrique Elliot de realizarem várias expe-
dições de reconhecimento na região. Conforme Elliot, a 2ª expedição enviada pelo
Barão foi comandada por Joaquim Francisco Lopes e ele, como piloto mapista, num
total de nove pessoas. Saíram da fazenda Monte Alegre, pertencente a Manoel Inácio
do Canto e Silva, atravessaram o Tibagi e seguiram rumo norte-noroeste em direção
à Serra da Apucarana. No dia 15/9/1846 chegaram ao rio Apucarana, nas fraldas da
serra. Subiram essa serra, e por vários dias esperaram até que as condições atmosfé-
ricas lhes permitissem vislumbrar toda a região. Elliot afirmou que desse local avis-
tou os campos do Inhoó, distantes de 8 a 9 léguas a nordeste da margem ocidental
do Tibagi, bem como as grandes áreas de florestas que se estendiam em direção aos
rios Ivaí e Paranapanema. Por causa da visão que tiveram a partir desse mirante,
concluíram que o Tibagi deveria ser navegável logo abaixo desses campos, e que se-
ria necessário explorá-los para ver se comportariam a instalação de um depósito de
gado, bem como para verificar as condições para o fornecimento de pastagens para
as tropas que seguissem com mercadorias para embarcar no Tibagi, rumo ao Mato
Grosso. Após estudar os relatos, o Barão determinou que eles deveriam prosseguir
as explorações para abrir um caminho de Curitiba até o Mato Grosso.
Uma semana após terem chegado da Serra da Apucarana, Lopes e Elliot, mais o
genro do Barão de Antonina, partiram para os campos do Inhoó. Era uma expedição
de 30 pessoas com dois índios como guias. Iniciaram a picada em 21/10/1846, e em
20/11/1846 chegaram a esses campos. Lá queimaram-nos, e os índios responderam
com fogos em três lugares diferentes; a norte, distante 6 a 8 léguas, e mais um a nor-
deste, a 4 léguas. Demoraram na exploração dessas campinas durante 10 dias, pois
eram várias campinas entremeadas de matos. No dia 4/12/1846 eles se encontravam
nos campos de Inhoó, que denominaram de São Jerônimo. Concluíram que eles, os
componentes da expedição, constituíam número suficiente para a instalação de um
depósito, isto é, um entreposto entre o futuro porto do Jataí e Castro.
Em 16/12/1846, Lopes e Elliot e mais 12 pessoas, por determinação do Barão,
rumaram dos Campos do Inhoó rumo ao norte por 1 ou 2 léguas, acompanhando
o Tibagi. Seguiram para o ribeirão Santa Bárbara, depois acompanharam o rio Con-
gonhas. Tudo indica que o itinerário seguido tenha sido o divisor de águas entre o
rio Congonhas e o rio Tibagi. Em 13/1/1847 estavam de volta aos campos do Inhoó,
depois de 25 dias.
Em 15/3/1847, a 5ª entrada de Lopes e Elliot, também por determinação do Barão
de Antonina, partiu dos Campos do Inhoó em direção aos fogos dos índios que eles

61
HISTÓRIA DO PARANÁ: tinham visto na exploração de novembro de 1846. Após atravessarem o rio Congo-
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO nhas8, a 6 léguas dos campos de Inhoó, chegaram às terras queimadas.
Ainda em 1847, o Barão de Antonina ordenou a José Francisco Lopes e João H.
Elliot que partissem para descobrir o caminho para o Mato Grosso. Em 14/6/1847,
Elliot, Lopes e 3 camaradas embarcam no Tibagi, uma légua abaixo dos Campos do
Inhoó. No dia 20/9 iniciaram a viagem de retorno de Albuquerque, no Mato Gros-
so, para Perituva, em São Paulo, onde chegaram a 27/12, com 6 meses e 13 dias de
viagem.
A partir dessa data os territórios do cacique Inhoó nos planaltos a leste do rio
Tibagi seriam transformados em entreposto comercial, caminho para o Mato Gros-
so, e fazenda de criação do Barão de Antonina. O comerciante Antonio Prestes, em
viagem para o Mato Grosso, em 1851, passou por São Jerônimo e lá encontrou José
Raymundo Curim como administrador da fazenda do Barão de Antonina9. Podemos
constatar que após seis anos da chegada de Lopes e Elliot aos campos do Inhoó, o
Barão de Antonina já havia consolidado uma fazenda no território Kaingang, que
após alguns anos seria repassada ao Império para a criação do aldeamento indígena
de São Jerônimo.
Mas a ocupação branca avançou para o norte e ultrapassou o rio Tibagi para as
terras de suas margens ocidentais. Na década de 1850 foi instalada a Colônia Militar
do Jataí, hoje cidade de Jataizinho, e em frente, na outra margem do rio, foi instala-
do o aldeamento indígena de São Pedro de Alcântara, com a finalidade de aldear os
índios Guarani-Kaiová, que viviam no Mato Grosso às margens do rio Paraná, e os
Kaingang, que viviam nas terras ao sul do aldeamento.
A partir desse momento, tanto o aldeamento indígena quanto a colônia militar
tornaram-se entreposto para os viajantes que seguiam para o Mato Grosso.

A OCUPAÇÃO DOS CAMPOS DE GUARAPUAVA E PALMAS


No século XVIII, a corte reagia indignada ao desassossego que imperava nos
territórios do sul do Brasil, que no dizer das autoridades estavam infestados de sel-
vagens. A Carta Régia de novembro de 1808 relata ataques generalizados por todo
o sul do Império, principalmente nos Campos Gerais de Curitiba, de Guarapuava
e nos campos das cabeceiras do rio Uruguai. O Príncipe Regente propunha então
guerra contra os índios, que matavam cruelmente todos os fazendeiros e proprie-

8 John Elliot disse que puseram esse nome nesse rio por causa da abundância de erva- mate que havia no
local.
9 Cf. PRESTES, Antonio Dias Baptista. Viagem do Capitão D. Prestes e seu irmão Manoel D. B. Prestes
desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851. RIHGSP, São Paulo, p. 775, 1851.

62
tários estabelecidos nesses campos. Indignava-se ele com o abandono dos Campos A formação do Paraná:
do povoamento do litoral
Gerais de Curitiba e os de Guarapuava, assim como das terras com as vertentes à emancipação da
5ª Comarca
voltadas para o rio Paraná.
Tentativas de conquista e de ocupação efetivamente tinham sido feitas, como as
das expedições de Afonso Botelho, nos anos de 1769 a 1774, as quais foram recha-
çadas pelos índios Kaingang, então senhores desses territórios.
Passados 40 anos, os campos Gerais, os de Guarapuava e Palmas continuaram

[...] infestados pelos índios denominados Bugres que matão cruelmente todos
os fazendeiros e proprietários que nos mesmos Paizes tem procurado tomar
sesmarias e cultivalas, em beneficio dos Estado. [...] a maior parte das Fazen-
das que estão na dita Estrada (São Paulo - Rio Grande do Sul) serão despovoa-
das humas por terem os índios Bugres morto os seus moradores e outras com
o temor que sejão igualmente victimas (MARTINS, 1915, v. 2, p. 86)10.

Desde a expulsão de Afonso Botelho e suas tropas dos Koran-bang-rê, (Cam-


pos de Guarapuava), em 1772, os Kaingang, encorajados, faziam incursões cada vez
mais ao ocidente. No início do século XIX, eram senhores dos territórios a oeste da
estrada do Viamão, e atacavam constantemente fazendas, vilas e viajantes nas suas
imediações.
Com a chegada de Dom João VI ao Brasil, o Império tomou uma resolução: os
índios deveriam ser combatidos, catequizados, ‘civilizados’, e seus territórios de-
veriam ceder lugar a prósperas fazendas de gado. O governador da província de
São Paulo convocou o experiente militar Diogo Pinto de Azevedo para organizar a
ocupação dos territórios dos Kaingang e mantê-los afastados das fazendas de gado.
Diogo Pinto era um militar disciplinado, duro, experiente e conhecedor dos campos
de Guarapuava, pois ali estivera com o capitão Paulo Chaves em 1774. Era o perfil
ideal para realizar o empreendimento, e em 1809 já se encontrava nos Campos Ge-
rais, refazendo o antigo caminho das expedições de Afonso Botelho.
Dessa forma, o ano de 1810 foi marcado pela chegada aos campos de Guarapuava
de uma enorme expedição, com mais de 300 pessoas, das quais cerca de 200 eram
soldados. O objetivo da expedição era ocupar esses campos, abrindo espaço para as
fazendas de criação. No dia dois de julho, acampam no lugar denominado Atalaia,
último ponto alcançado pelo capitão Paulo Chaves em 1774. No dia 29 de agosto,

10 Cf. Carta Régia de novembro de 1808. In: MARTINS, Romário. Documentos Comprobatórios,
vol. II, p. 86. Em a Política Indigenista Brasileira no Século XIX, Carlos Araujo MOREIRA NETO
afirma que a política indigenista brasileira durante o Império foi formulada em torno de critérios ‘estritos
de dominação e subordinação’, e tinha como objetivo a implementação e a consolidação do domínio da
sociedade nacional sobre os grupos tribais.

63
HISTÓRIA DO PARANÁ: os Kaingang fizeram um ataque em massa ao acampamento. Diogo Pinto e o padre
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO Francisco das Chagas Lima atestaram a firme defesa do tenente Antonio da Rocha
Loures.

Sustentou corajosamente a defeza deste Aquartelamento da Atalaia por es-


paço de seis horas no primeiro e profiado combate que atentarão os índios
deste continente quando virão nossa gente abarracado nos seus campos
(FRANCO, 1943, p. 95)11.

Figura 2 - Fortaleza de Atalaia, primeiro local de fundação da vila de Guarapuava.


Fonte: Kruger (1999).

Na batalha foram mortos e feridos muitos índios, ocorrendo na força militar de


Rocha Loures apenas ferimentos leves. Os Kaingang sofreram uma forte derrota e dis-
persaram-se pelos campos ao sul e a oeste da fortificação de Atalaia. Mas continuaram
a atacar as forças de Diogo Pinto. Foram três meses de guerra contra uma tropa de mais
de 200 soldados armados, inclusive com peças de artilharia, e acantonados na fortaleza
de Atalaia, o primeiro nome da futura vila de Nossa Senhora do Belém de Guarapuava.
Os Kaingang foram derrotados em 1810, porém sua resistência continuou. Pas-

11 Cf. Atestado do comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal e do padre Francisco das Chagas Lima,
elogiando a ação do tenente Rocha Loures na defesa do quartel de Atalaia, atacado pelos índios em 29 de
agosto de 1810. In: FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba:
Museu Paranaense, 1943. p. 95.

64
sados cinco anos da ocupação dos campos guarapuavanos entre os rios Coutinho e A formação do Paraná:
do povoamento do litoral
Jordão, os brancos começaram a se movimentar em direção aos campos de Palmas, ao à emancipação da
5ª Comarca
sul de Guarapuava, onde chegaram 20 anos depois. Em 1839 os fazendeiros de Guara-
puava tinham conquistados os Krei-bang-rê (Campos de Palmas). Ali tinham instalado
37 fazendas, com mais de 30 mil cabeças de gado, e fundaram a vila de Palmas.

Referências

BELLOTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil colonial: o governo de


Morgado de Mateus em São Paulo. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1979.

BOTELHO, Afonso. Notícia da conquista e descobrimento dos sertões do Tibagi.


Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956

CHICHORRO, Manuel da Cunha A. C. Memória em que se mostra o estado


econômico, militar e político da Capitania de São Paulo quando do seu governo
tomou posse a 8/12/1814. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro,
Rio de Janeiro, v. 36, p. 219, 1873.

COLOMBINA, Francisco Tose. Descobrimento das terras do Tibagi. Maringá:


Universidade Estadual de Maringá, 1974.

FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba:


Museu Paranaense, 1943.

KRUGER, Nivaldo. Guarapuava. Guarapuava, PR: Fundação Santos Lima, 1999.

MARTINS, Romário. Documentos comprobatórios dos direitos do Paraná na


questão de limites com Santa Catharina. Rio de Janeiro: Jornal do Comércio,
1915.

MERCER, Edmundo; MERCER, Luiz Leopoldo. História do Tibagi. Tibagi: Prefeitura


Municipal de Tibagi, 1977.

MOREIRA NETO, Carlos Araújo. Política indigenista brasileira no século XIX.


1971. Tese (Doutorado em História)-FFCH, Rio Claro, 1971.
65
HISTÓRIA DO PARANÁ: MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos índios Kaingang: a História épica dos índios
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO Kaingang no Paraná (1769-1924). 2. ed. Maringá: Eduem, 2009. v. 500. 301 p.

MOTA, Lúcio Tadeu; NOVAK, Eder da Silva. Os Kaingang do vale do rio Ivaí Pr:
História e relações interculturais. 1. ed. Maringá: Eduel, 2008. v. 500. 190 p.

NOELLI, Francisco Silva; SILVA, F. A.; VEIGA, J.; TOMMASINO, Kimiye; MOTA, Lúcio
Tadeu; D’ANGELIS, W. R. (Org.). Bibliografia Kaingang: referências sobre um povo
Jê do Sul do Brasil. 1. ed. Londrina, Pr: Eduel, 1998. v. 1000. 250 p.

PRESTES, Antônio Dias Baptista. Viagem do capitão D. Prestes e seu irmão Manoel
D. B. Prestes desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, n. 28, p. 777, 1851.

STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2000.

TOMMASINO, Kimiye; MOTA, Lúcio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva (Org.). Novas
contribuições aos estudos interdisciplinares dos Kaingang. 1. ed. Londrina:
Eduel, 2004. v. 500. 430 p.

WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: G. Vicentina, 1988.

Fontes e referenciais para o aprofundamento temático

1) Conforme o texto estudado neste capitulo, O povoamento do litoral e as origens de Curi-


tiba, aponte as cidades surgidas no litoral, naquela época.
2) O oeste e o noroeste do Paraná foram ocupados pelos europeus antes da fundação das
cidades do litoral. Aponte quais foram as principais atividades desenvolvidas pelos espa-
nhóis, pelos jesuítas e pelos bandeirantes na região, nos séculos XVI e XVII.
3) Qual foi a atividade econômica responsável pela ocupação e pelo surgimento das fazendas
e cidades nos Campos Gerais, no século XVIII?

66
4 O Paraná provincial:
1853-1889
Dulce Elena Canieli / Lúcio Tadeu Mota

A LUTA PELA EMANCIPAÇÃO DA PROVÍNCIA DO PARANÁ


Entre 1660 a 1770, a região onde hoje é o Estado do Paraná e parte de Santa Ca-
tarina, entre os rios Paranapanema ao norte e Uruguai ao sul, foi elevada ao status de
capitania, denominada Capitania de Paranaguá. Em 1770, com a restauração da Capita-
nia de São Paulo, ela foi extinta e incorporada por esta como comarca. Em 1812 a sede
da comarca, que era em Paranaguá, foi transferida para Curitiba, e passou a se chamar
Quinta Comarca de Paranaguá e Curitiba.
A luta pela emancipação política do Paraná teve seus antecedentes em 1811, quan-
do Pedro Joaquim Correia de Sá, com pretensões de ser capitão-mor, tentou, junto à
corte no Rio de Janeiro, a emancipação da comarca, mas fracassou.
A segunda tentativa ocorreu em 1821, quando os defensores da emancipação reto-
maram o movimento, organizando a denominada ‘Conjura Separatista’. Essa tentativa
também fracassou, pois o Juiz de Fora Antonio Azevedo Melo e Carvalho – que visitava
o Paraná – não atendeu ao apelo de Bento Viana – capitão da Guarda de Regimento
de Milícia de Paranaguá – para que nomeasse um governo provisório independente
de São Paulo.
Mesmo com um desfecho desfavorável, o desejo de autonomia permanecia. Fre-
quentemente, as câmaras de vereadores de Paranaguá, Morretes, Antonina, Lapa, Curi-
tiba e Castro solicitavam autonomia ao Governo Imperial Brasileiro.
Mas em 1835 ocorreu um fator favorável e decisivo para a autonomia do Paraná.
Os liberais do Rio Grande do Sul entraram em luta contra o Império, organizados na
‘Revolução Farroupilha’, e os liberais do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, re-
voltados com a política ‘conservadora’ do governo central, uniram-se com os farrapos
e organizaram uma única frente revolucionária. Os liberais da Quinta Comarca em
Curitiba, cooptados pelo Barão de Antonina, não aderiram, no entanto, ao movimen-
to. O Governo Imperial negociou com os liberais curitibanos, por intermédio de João
da Silva Machado e do chefe das forças legalistas, Duque de Caxias, a emancipação
da comarca. O governo do império conseguiu, assim, o apoio dos liberais da Quinta
Comarca para vencer os revolucionários.
Dessa forma retomou-se, em 1843, o projeto de emancipação da Quinta Comarca
na Assembleia Geral Legislativa no Rio de Janeiro. Entre idas e vindas foi conseguida
67
HISTÓRIA DO PARANÁ: a aprovação, em 2 de agosto de 1853, elevando-se a Quinta Comarca de São Paulo à
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO categoria de Província do Paraná. A instalação oficial foi realizada em 19 de dezembro
de 1853, quando tomou posse o primeiro presidente, Zacarias de Góes e Vasconcelos,
tendo Curitiba como Capital.

Lei nº 704 de 29 de agosto de 1853

Eleva a Comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, à categoria de Província, com a


denominação de Província do Paraná.
Dom Pedro Segundo, por graça de Deus, e unânime aclamação dos povos, Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos nossos súditos que a
Assembléia Geral Legislativa decretou e nós queremos a Lei seguinte:
Art. 1º - A comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, fica elevada à categoria de
Província, com a denominação de Província do Paraná. A sua extensão e limites serão os
mesmos da referida Comarca.
Art. 2º - A nova Província terá por Capital a cidade de Curitiba, enquanto a Assembléia
respectiva não decretar o contrário.
Art.3º - A Província do Paraná dará um Senador, e um Deputado à Assembléia Geral; sua
Assembléia Provincial constará de 20 membros.
Art.4º - O Governo fica autorizado para criar, na mesma Província, as estações fiscais
indispensáveis para arrecadação e administração das rendas gerais, submetendo depois o
que houver determinado ao conhecimento da Assembléia Geral para definitiva aprovação.
Art.5º - Ficam revogadas as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento desta lei pertencer, que
a cumpram, e a façam cumprir e guardar tão inteiramente quanto nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios do Império
A faça imprimir, publicar e correr.
Dado no Palácio do Rio de Janeiro, aos 29 de agosto de 1853, trigésimo segundo da Inde-
pendência e do Império.

Assinam : Imperador Pedro II


e Francisco Gonçalves Martins

Fonte: Coleção de Leis do Império do Brasil - 1853, Página 50 Vol. 1 pt I (Publicação Original).

A vida política da província paranaense, de 1853 a 1889


A Província do Paraná teve, ao longo do período de 1853 a 1889, 53 períodos de go-
vernos; 27 presidências; 41 presidentes em exercício e 26 períodos de vice-presidência
e retorno presidencial.
Os presidentes eram escolhidos entre aqueles que pertenciam ao partido político
dominante, e nomeados diretamente pelo Imperador D. Pedro II. De 1853 a 1870 os

68
governantes vieram de outras províncias. No período subsequente (1870 a 1889), o O Paraná provincial:
1853-1889
Imperador fez algumas nomeações de pessoas procedentes da própria província para
ocupar o cargo de presidente e vice-presidente.
As justificativas para a nomeação dos presidentes e dos vice-presidentes oriundos
de outras províncias era de que o Paraná tinha uma pequena projeção política e eco-
nômica no império. E não possuiria elementos com ‘boa formação político-adminis-
trativa’ para o cargo majoritário na província. No entanto, sabemos que a nomeação
para a presidência das províncias no Brasil era utilizada pelo Imperador Pedro II1 para
acomodar as forças políticas que o apoiavam.
O Imperador geralmente escolhia governantes que eram fiéis e aliados ao governo
imperial. A intenção era criar e estabelecer governos provinciais comprometidos com
os interesses do governo central, além de promover alianças com as elites dominantes
locais. Eram dois os partidos políticos dos quais esses representantes faziam parte: o
Conservador e o Liberal. Os partidos na província eram dominados pelas oligarquias
locais, que escolhiam seus representantes aos cargos políticos2. A disputa entre os con-
servadores e liberais não representava um empecilho à nomeação dos cargos; na rea-
lidade, seus programas políticos não diferiam um do outro e não havia uma oposição
efetiva entre eles. No Paraná, os principais líderes liberais foram: Jesuíno Marcondes
de Oliveira e Manuel Alves de Araújo, que formavam as famílias dos Barões do Tibagi
e dos Campos Gerais. Os líderes conservadores foram: Manuel Antonio Guimarães
( Visconde de Nácar) e Manoel Francisco Correia, que formavam as famílias do litoral,
controladoras do comércio importador e exportador da erva-mate.
Quando foi instalada oficialmente, o cargo majoritário da província paranaense foi
ocupado pela primeira vez em 19 de dezembro de 1853, sendo seu primeiro presiden-
te o baiano Zacarias de Góes e Vasconcellos.

1 A Carta outorgada em 1824 por D. Pedro I e elaborada pelo Conselho de Estado atribuiu
ao Imperador o poder de nomear os presidentes de província. O capítulo VII, que trata da
Administração e Economia das Províncias diz, no primeiro artigo: ‘Haverá em cada Província
um presidente, nomeado pelo Imperador, que poderá remover, quando entender que assim
convém ao bom serviço do Estado’. Essa era a Constituição em vigor no Brasil em 1853, quan-
do da criação da Província do Paraná. Disponível em: <http://www.alep. pr.gov.br/assembleia.
php?pag_int=assembleia_historico.php. > Acesso em: 11 mar. 2008.
2 Esses representantes aos cargos políticos geralmente eram eleitos pelo ‘voto de cabresto’, ou
seja, por meio da troca de ‘favores’ os coronéis (elites dominantes locais) exigiam que as pessoas
votassem nos candidatos indicados por eles. Aquele que se negasse a votar podia sofrer violência
dos capangas ou jagunços que trabalhavam para os coronéis.

69
HISTÓRIA DO PARANÁ: PRESIDENTES E PERÍODO DE
Nº NOMEAÇÃO OBSERVAÇÃO
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA VICE-PRESIDENTES GOVERNO
E IMPÉRIO 1º Presidente e Instalador da Província.
Zacarias de Goes e 19.12.1853 a Origem: Bahia. Era do partido
1 17.09.1853
Vasconcelos (Pres.) 03.05.1855 Conservador, e em 1862 passou a ser
Liberal

Nomeação para 2º vice-presidente.


Theófilo Ribeiro de 03.05.1855 a
2 17.09.1853 Origem: São Paulo. Era do Partido
Rezende (Vice) 27.07.1855
Conservador
Henrique de
27.07.1855 a
3 Beaurepaire Rohan -27.07.1855 Origem: Rio de Janeiro
01.03.1856
(Vice) – Liberal
Padre Vicente Pires da 01.03.1856 a Origem: São Paulo. Era do Partido
4 15.09.1855
Mota (Pres.) 26.09.1856 Conservador
José Antônio Vaz de 26.09.1856 a 2º vice-presidente. Origem: São Paulo.
5 06.09.1856
Carvalhaes (Vice) 11.11.1857 Era do Partido Conservador
Francisco Liberato de 11.11.1857 a
6 18.08.1857 Origem: Bahia - Partido Liberal
Matos (Pres.) 26.02.1859
3º vice-presidente e passou a 1º vice no
Luis Francisco Câmara 26.02.1859 a
7 24.03.1857 início de 1859. Origem: Rio de Janeiro. Era
Leal (Vice) 02.05.1859
do Partido Conservador
José Francisco Cardoso 02.05.1859 a Deposto pelas ‘Cardosadas’. Origem: Rio
8 28.02.1859
(Pres.) 16.03.1861 de Janeiro - Partido Liberal
Antônio Barbosa Gomes 16.03.1861 a Origem: Minas Gerais. Era do Partido
9 31.01.1861
Nogueira (Pres.) 31.03.1863 Conservador
1º paranaense a compor o governo
Manoel Antônio 31.03.1863 a Provincial - 2º vice-presidente. Origem:
10 26.11.1862
Ferreira (Vice) 05.06.1863 Paraná.
Era do Partido Conservador
Sebastião Gonçalves da 05.06.1863 a 1º vice-presidente. Origem: Pernambuco.
11 26.11.1862
Silva (Vice) 07.03.1864 Sem menção de Partido
José Joaquim do Carmo 07.03.1864 a
12 23.01.1864 Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
(Pres.) 18.06.1864
André de Pádua Fleury 18.06.1864 a
13 s/d Origem: Paraná - Partido Liberal
(Pres.) 19.08.1864
Agostinho Ermelino de 19.08.1864 a 1º período de governo.
14 s/d
Leão (Vice) 18.11.1864 Origem: Paraná – s/menção de partido
André de Pádua Fleury 18.11.1864 a 2º período de governo.
15 12.10.1864
(Pres.) 04.06.1865 Origem: Paraná - Partido Liberal
Manoel Alves de Araújo 05.06.1865 a 1º vice-presidente.
16 10.12.1864
(Vice) 18.08.1865 Origem: Paraná - Partido Liberal
André de Pádua Fleury 18.08.1865 a 3º período de governo.
17 s/d
(Pres.) 23.03.1866 Origem: Paraná - Partido Liberal
Agostinho Ermelino de 23.03.1866 a 2º vice-presidente - 2º período de governo.
18 31.01.1866
Leão (Vice) 15.11.1866 Origem: Paraná – s/menção de partido
Polidoro César 15.09.1866 a Abandona o governo em 17.08.1867
19 06.09.2866
Burlamaque (Pres.) 11 /17.08.1867 Origem: Piauí – s/menção de partido
Carlos Augusto Ferraz 16.08.1867 a 1º vice-presidente. Origem: Rio de Janeiro.
20 23.03.1867
de Abreu (Vice) 23/31.10.1867 Era do Partido Conservador
José Feliciano Horta de 31.10.1867 a
21 29.09.1867 Origem: Minas Gerais - Partido Liberal
Araújo (Pres.) 05.05.1868
Carlos Augusto Ferraz 05/29.05.1868 a 2º período de governo. Origem: Rio de
22 s/d
de Abreu (Vice) 14.09.1868 Janeiro. Era do Partido Conservador
Antônio Augusto da 14.09.1868 a Pediu demissão em 27.03.1869
23 22.07.1868
Fonseca (Pres.) 01.09.1869 Origem: São Paulo – Partido Conservador
Agostinho Ermelino de 28.08.1869 a 3º período de governo.
24 s/d
Leão (Vice) 26.09.1869 Origem: Paraná – s/menção de partido
Antônio Luís Afonso de 27.11.1869 a
25 20.10.1869 Origem: Bahia - s/menção de partido
Carvalho (Pres.) 28.08.1870
Agostinho Ermelino de 20.04/05.1870 a 4º período de governo.
26 s/d
Leão (Vice) 24.12.1870 Origem: Paraná - s/menção de partido
Venâncio José de 24.12.1870 a Origem: Rio de Janeiro – Partido
27 s/d
Oliveira Lisboa (Pres.) 15.01.1873 Conservador
Manoel Antônio 15.01.1873 a 3º vice-presidente – Visconde de Nácar -
28 03.01.1873
Guimarães (Vice) 13.06.1873 Origem: Paraná – Partido Conservador
Frederico José de
13.06.1873 a
29 Araújo Abranches 29.03.1873 Origem: São Paulo – Partido Conservador
02.05.1875
(Pres.)
Agostinho Ermelino de 02.05.1875 a 5º e último período de governo.
- s/d
Leão (Vice) 08.05.1875 Origem: Paraná - s/menção de partido
Adolfo Lamenha Lins 03.05.1875 a
30 10.04.1875 Origem: Pernambuco - Partido Liberal
(Pres.) 16.07.1877

70
Manoel Antônio 16.07.1877 a 2º período de governo. O Paraná provincial:
31 s/d
Guimarães (Vice) 17.08.1877 Origem: Paraná – Partido Conservador 1853-1889
Joaquim Bento de 17.08.1877 a Origem: Minas Gerais – Partido
32 04.07.1877
Oliveira Junior (Pres.) 07.02.1878 Conservador
Jesuíno Marcondes de 07.02.1878 a 1º período de governo – 1º vice-presidente.
33 01.02.1878
Oliveira e Sá (Vice) 23.03.1878 Origem: Paraná - Partido Liberal
Rodrigo Otávio de
23.03.1878 a
34 Oliveira Menezes 30.01.1878 Origem: Bahia - Partido Liberal
31.03.1879
(Pres.)
Jesuíno Marcondes de 31.03.1879 a 2º período de governo.
35 s/d
oliveira e Sá (Vice) 23.04.1879 Origem: Paraná - Partido Liberal
Manoel Pinto de Souza 23.04.1879 a
36 15.03.1879 Origem: Bahia - Partido Liberal
Dantas Filho (Pres.) 04.08.1880
João José Pedrosa 04.08.1880 a 1º paranaense nomeado pelo Imperador -
37 25.07.1880
(Pres.) 03.05.1881 Origem: Paraná - Partido Liberal
Sancho de Barros 03.05.1881 a
38 24.03.1881 Origem: São Paulo - Partido Liberal
Pimentel (Pres.) 26.01.1882
Jesuíno Marcondes de 3º período de governo.
39 s/d s/d
Oliveira e Sá (Vice) Origem: Paraná - Partido Liberal
Carlos Augusto de 06.03.1882 a
40 01.02.1882 Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
Carvalho (Pres.) 26.05.1883
Antônio Alves de Araújo 26.05.1883 a 1º vice-presidente – 1º período de governo.
41 14.05.1883
(Vice) 03.09.1883 Origem: Paraná - Partido Liberal
Luís Alves Leite de 03.09.1883 a
42 30.06.1883 Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
Oliveira Belo (Pres.) 05.06.1884
Brasílio Machado de 05.06.1884 a
43 29.07.1884 Origem: São Paulo - Partido Liberal
Oliveira (Pres.) 21.08.1885
Antônio Alves de Araújo 24/26.08.1885 a 2º período de governo.
44 s/d
(Vice)- 18.09.1885 Origem: Paraná - Partido Liberal
Joaquim de Almeida 20.09.1885 a 1º vice-presidente – 1º período de governo.
45 30.08.1885
Faria Sobrinho (Vice) 29.09.1885 Origem: Paraná – Partido Conservador
Alfredo D’Escragnolle 29.09.1885 a
46 30.08.1885 Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal
Taunay (Pres.) 03.05.1886
2º paranaense p/ nomeação direta do
Joaquim de Almeida 03.05.1886 a
47 18.10.1886 Imperador. 3º período
Faria Sobrinho (Pres.) 26.12.1887
Origem: Paraná – Partido Conservador
2º vice-presidente em 03.12.1887 e 1º em
Antônio Ricardo dos 29.12.1887 a
48 15.12.1887 15.12.1887
Santos (Vice) 09.12.1888
Origem: Paraná – Partido Conservador
José Cesário de 09.02.1888 a Origem: Minas Gerais – Partido
49 23.12.1887
Miranda Ribeiro (Pres.) 30.06.1888 Conservador
Ildefonso Pereira 30.06.1888 a Barão de Serro Azul
50 26.11.1887
Correia (Vice) 04.07.1888 Origem: Paraná – s/menção do partido
Balbino Candido da 04.07.1888 a Origem: Minas Gerais – Partido
51 15.06.1887
Cunha (Pres.) 29.05.1889 Conservador
3º e último paranaense presidente – 4º
Jesuíno Marcondes de 16.06.1889 a
52 15.06.1889 p. de governo. Origem: Paraná - Partido
Oliveira e Sá (Pres.) 23.08.1889
Liberal
Joaquim José Alves 03.09.1889 a 1º vice-presidente.
53 15.06.1889
(Vice) 11.09.1889 Origem: Paraná - Partido Liberal
Jesuíno Marcondes de 12.09.1889 a 5º e último período de governo provincial
- s/d
Oliveira e Sá (Pres.) 16.11.1889 Origem: Paraná - Partido Liberal

Quadro 1 - Galeria de presidentes e


vice-presidentes da província do Paraná (1853-1859)
Fonte: CARNEIRO, D. História do período provincial do Paraná:
galeria de presidentes 1853-1889. Curitiba: Tipografia Max Roesner, 1960.

As principais políticas de governo no período provincial


A preocupação dos presidentes e vice-presidentes, de forma geral, foi a de construir e
melhorar estradas, instalar colônias de imigrantes europeus para aumentar a população,
implementar a segurança pública para promover a defesa dela, organizar a instrução pú-
blica e as finanças da província, implantar a catequese e a civilização dos índios, e desen-
volver e organizar a cidade de Curitiba como sua capital.

71
HISTÓRIA DO PARANÁ: Essas ações políticas foram frequentemente tratadas nos relatórios dos presidentes e
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO vice-presidentes. Esses documentos, apesar do caráter descritivo, tratam dos principais
acontecimentos ocorridos durante cada período de governo na província. A periodicidade
usual dos relatórios era anual, mas a cada mudança de presidente ou a cada abertura da
Assembleia Legislativa da província era elaborado um relatório e apresentado ao seu suces-
sor ou aos representantes do legislativo provincial. Foram 76 relatórios, alguns dos quais
vinham em forma de ofício, principalmente quando o período de ocupação da administra-
ção do governo era breve. Nesses casos, não apresentavam a estrutura usual de relatórios.
A estrutura desses documentos possui mais semelhanças que diferenças. Neles, podemos
destacar alguns pontos que abordam as principais ações dos governantes provinciais.

Política de segurança pública


Durante o período provincial, desde o primeiro presidente, Zacarias de Góes e
Vasconcellos, a política de segurança pública foi uma preocupação de todos os go-
vernantes. Frequentemente, nos relatórios e nos ofícios é destacada a importância da
força pública, composta pela Guarda Nacional, pela força policial e pela companhia de
marinheiros, que eram responsáveis pela proteção e guarda do território paranaense.
As reclamações pela falta de recursos para investir na segurança foram constantes:
‘[...] pode-se affirmar que he superior ao que permittem os escassos recursos, que na
actualidade estão à disposição da polícia, e com que, provalvemente, por algum tempo
ainda se há de contar na província’ ( VASCONCELLOS, 1854, p. 3)3.
Para os governos, era importante obter mais verbas que se destinassem à manu-
tenção da ordem social, numa província onde ocorriam inúmeros conflitos, como os
decorrentes de desavenças pessoais, de furto de animais, do confronto entre os fazen-
deiros e indígenas, da posse da terra etc. O conflito pela demarcação da propriedade
da terra foi muito comum nesse período, pois a província estava aplicando a Lei de
Terras de 1850.

[...] Agitão-se frequentes questões de posses e limites, que em geral procedem


do estado confuso e desordenado da propriedade territorial, as quaes, no fu-
turo he provavel se reduzirão à pouco ou nada, com a observancia da lei das
terras e respectivos regulamentos, que procuranmdo definir e fazer conhecida
a porção de terra, de que cada um he proprietario, tendem a assegurar á todos
o gozo de seus direitos sem o temor de força do vizinho, nem da conta do
escrivão e do advogado [...] ( VASCONCELLOS, 1854, p. 5)4.

3 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório... 15 de julho de 1854. p. 3.


4 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 5.

72
Isso provocava discordâncias e discussões frequentes em relação à posse e aos O Paraná provincial:
1853-1889
limites. Outra questão mencionada pelos governantes se refere ao costume que os
habitantes tinham de usar armas, o que contribuía para a ‘desordem’ na província:

[...] O uso de armas de defezas era, por assim dizer, hum direito consuetudi-
nário neste paiz.
O vasto poncho, serve-se a maioria dos habitantes, e as largas e estrepitosas
chilenas, não erão artigos mais essenciaes ao trajar de hum homem do povo, do
que a inseparavel cartucheira, a faca, e as pistolas, já não digo em viagem, nas
estradas, ou em seus trabalhos do campo, mas em passeio à cidade, e (parece
incrível) até nos templos do Senhor!( VASCONCELLOS, 1854, p. 6)5.

A atitude tomada pelo presidente foi a proibição do uso de armas de defesa, com
o intuito de diminuir a violência. Essa medida teve um resultado eficaz nas cidades,
onde a ação da polícia pôde ser mais efetiva, mas em localidades distantes dos cen-
tros urbanos, longe das autoridades, o uso das armas foi mais difícil controlar: ‘[...]
nas estradas e lugares remotos, longe das autoridades, que tem alguma força, ainda
voga o uso criminoso, mas essa fonte de crimes irá diminuindo por toda a parte com
a progressiva actividade e desenvolvimento da policia’ ( VASCONCELLOS, 1854, p. 6).
Essas ações desenvolvidas para a manutenção da segurança pública sofreram altera-
ções à medida que a população6 paranaense crescia, e em decorrência de outra política
desenvolvida pelos governantes, a de implantação de colônias de migrantes europeus,
principalmente ao redor de centros urbanos. As tensões e os conflitos provocados pela
aglomeração de populações mobilizaram as autoridades policiais da província, que
demonstravam preocupação em manter a ‘tradição’ provincial de tranquilidade públi-
ca, combatendo a criminalidade, principalmente no período de 1860 a 1880, quando
foram fundados 28 núcleos coloniais, com a entrada de 19.215 migrantes.
Política de Educação
A ‘Instrução Pública’ foi uma das preocupações constante dos governantes e das
elites locais. Desde a primeira gestão governamental esse era um desafio a ser enfren-
tado, pois o desenvolvimento da Educação influenciaria a prosperidade da província.

[...] Todas as corporações e funcionários, á quem ouvi acerca do estado da ins-


trucção na província, derão-me as mais desfavoráveis informações desse ramo

5 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 6.


6 A população que constituía o período provincial paranaense em 1854 contava com 60.625
habitantes, dos quais quase 16% eram escravos, em torno de 10 mil. Mas com a entrada de mi-
grantes, a partir da década de 1860 e com a saída de escravos para a lavoura paulista ocorreram
mudanças no quadro demográfico da província. A população, com o censo de 1872, totalizava
126.722 habitantes, incluindo 10.560 escravos (8,3%) (Dicionário histórico-biográfico do Pa-
raná, 1991, p. 383).

73
HISTÓRIA DO PARANÁ: do serviço publico, e assim parece ser, á vista de documentos que tive presen-
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA tes. Seja, pois, este hum dos assumptos que mais mereção vossa solicitude e
E IMPÉRIO
attenção, pois que, por certo, he de maior alcance e influencia para a prosperi-
dade [...]. Consideremos o ensino publico tanto primário como secundário, á
ver o que mais importa na actualidade ( VASCONCELLOS, 1854, p. 12)7.

[...] É a instrucção o primeiro elemento da educação, a primeira necessidade da


humanidade o primeiro dever de todas as nações.

Nas nações que se dizem livres, isto é, em que as classes que se presume illus-
tradas e capazes, são chamadas a tomar na direcção dos negócios públicos a
parte proporcionada á sua capacidade, e em que o dever de gerir os interesses
collectivos exige de cada um maior somma de sacrifício e abnegação, a necessi-
dade da instrucção sobreleva a todas as outras.

A constituição chamando a maior parte da nação ao exercício dos pesados de-


veres da soberania, garantia com razão a instrucção primaria gratuita a todos
(PARANÁ, 1869, p. 9)8.

Com a instrução pública seria possível não apenas a formação de mão de obra,
mas a conquista de visibilidade dos governantes em relação aos governados. Também,
no Paraná o ensino primário vinha a atender à questão do ‘abrasileiramento’ dos mi-
grantes estrangeiros que se estabeleciam na província, com sua língua, seus hábitos,
costumes e valores. Os governantes e as elites dominantes sempre viam isso como uma
ameaça à sua hegemonia (MAGALHÃES, 2001)9.
Nos relatórios vimos que é constantemente mencionada a importância do desen-
volvimento da Educação formal para a província, e como era a organização do ensino
para meninos e meninas.
O ensino era dividido em: instrução primária, secundária e escola normal, conside-
rada necessária para suprir a falta de professores da época.
As escolas públicas eram frequentadas pelas crianças das camadas pobres, e as esco-
las particulares eram em geral frequentadas pelos filhos das famílias mais providas eco-
nomicamente, as quais se estabeleceram nos centros urbanos mais populosos, onde
havia uma clientela com vida econômica, social e cultural mais elevada10.

7 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. .12.


8 PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca). Relatório... 6 de abril de 1869.
p. 9.
9 MAGALHÃES, Marion Brepohl. Paraná: Política e Governo. Curitiba: SEED, 2001. (Cole-
ção História do Paraná – textos introdutórios).
10 Para maiores detalhes sobre essa questão da Educação, ver: OLIVIEIRA, 1986; TRINDA-
DE; ANDREAZZA, 2001; GUARNIERI, 2006.

74
Os estudos superiores eram cursados em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro ou em O Paraná provincial:
1853-1889
faculdades europeias, e somente pelos jovens da elite dominante, que tinham recursos
financeiros para cursar esse nível.
O ensino era baseado no princípio da moralidade e dos costumes da época, com a
preocupação de manter o ordenamento social, que visava à obediência à autoridade,
cujo centro era a Corte, devendo a periferia ser moldada segundo seus interesses.

[...] Nos paizes, que presão a civilização do povo, e vêem nas escolas a origem
della, aprender as matérias do ensino primário he mais que hum direito, he
huma rigorosa obrigação, imposta á todos, sob certas penas. Assim o deveis
considerar e dispor na legislação da nova província.
Obriga-se o povo á vaccina, e elle obedece ou deve obedecer sem reparo, por-
que he hum meio de preservar-se de hum flagello fatal.
Ora a instrucção primaria he, por assim dizer, huma vaccina moral, que preser-
va o povo do peior de todos os flagellos conhecidos e por conhecer – a ignorân-
cia – das nações elementares, que nivela o homem ao bruto, e o torna matéria
apta e azado instrumento para o roubo, para o assassinato, para a revolução,
para todo mal, enfim ( VASCONCELLOS, 1854, p. 12)11.

As instituições escolares, principalmente as públicas, mantinham um maior núme-


ro de unidades direcionadas aos alunos do sexo masculino em relação às destinadas ao
sexo feminino, isso pelo fato de terem sido criadas escolas primeiro para os meninos,
e depois, se houvesse necessidade, para as meninas. Para se ter uma ideia, em 1854
eram 22 escolas masculinas para 08 femininas, e em 1889 eram 61 masculinas para 24
femininas (OLIVEIRA, 1986, p. 201)12.
As escolas mistas ou promíscuas sugiram pela falta de professores. Com isso os go-
vernantes tiveram que criar escolas que comportassem meninos e meninas. A aceitação
pela comunidade paranaense a esse tipo de escola ocorreu aos poucos, e de 1886 a
1889 o número delas chegou a 114.
O ensino primário e secundário esbarrou em diversos problemas, como: falta de
prédios públicos, de verbas, de professores, de estradas em condições adequadas para
o deslocamento dos estudantes das comunidades distantes para as cidades e vilas onde
existiam as escolas etc., o que dificultava o seu desenvolvimento na província, ou seja,
isso inviabilizou o que se pretendia em face do que se podia fazer, diante da realidade
social e econômica paranaense da época.

11 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 16.


12 Para obter os índices de todos os anos do período provincial, conferir tabela em: OLIVEIRA,
Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná 1853-1889. Curitiba/PR:
Biblioteca Pública do Paraná, 1986, p. 201.

75
HISTÓRIA DO PARANÁ: Mas as diversas ações tomadas para a regulamentação e organização do ensino pri-
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO mário e secundário na província, apesar dos problemas enfrentados pelas autoridades,
fomentaram um crescimento significativo em comparação ao atendimento precário
herdado do período anterior à emancipação. Em 1853, o Paraná tinha um número
limitado de escolas: eram 28 estabelecimentos públicos de ensino, distribuídos entre
18 localidades, e 3 escolas de ensino particular. Ao final do período provincial, devido
à política de investimento na Educação Pública, o resultando foi de 199 escolas de
ensino primário e secundário, distribuídas por 130 localidades, sendo 180 escolas da
rede pública e 19 da rede particular13.

PERÍODO AÇÕES
• Regulamentação da instrução pública na província.
1854 a 1857 • Estabelecimento de orçamento para a Instrução Pública.
• Estabelecimento e planejamento de divisão do ensino nas escolas
primárias.
• Regulamento de ordem para as escolas da Instrução Primária.
• Preparação e organização do professorado.
• Instituição de normas para o ensino particular, primário e secundário.
• Regulamentação e estabelecimento de orçamento para a Instrução Pública.
1858 a 1869 • Estabelecimento e organização dos conteúdos de ensino para as escolas
secundárias.
• Encaminhamentos com relação ao valor despendido à Instrução Pública.
• Desenvolvimento do ensino secundário, principalmente na iniciativa
1870 a 1880 privada (1870).
• Obrigatoriedade do ensino primário para os meninos de 7 a 12 anos e
meninas de 7 a 10 anos (1874).
• Normatização da fiscalização das escolas primárias (1874).
• Criação da Escola Normal, em Curitiba, para formação de professores para
a Instrução Pública (1876).
• Criação de escola noturna, na capital, para adultos (1882), e também em
1881 a 1889 outros municípios.
• Vinculação de 20% do imposto predial para a Instrução Pública.
• Incentivo à criação de escolas através de estipulação de subvenções do
governo.
• Câmaras municipais responsáveis em instituir, em suas sedes, casas
escolares.
• Criação de alguns colégios particulares, fundados por ordens religiosas
ou civis.

Quadro 2 - Resumo do desenvolvimento do


ensino primário e secundário na província do Paraná, de 1854 a 1889
Fonte: OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província
do Paraná 1853-1889. Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.

13 OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná 1853-


1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.

76
Política de construção e manutenção de estradas O Paraná provincial:
1853-1889
A questão das estradas obteve grande atenção dos governantes, pois delas dependia
todo o transporte de produtos e mercadorias produzidos e consumidos na província,
como também a comunicação do interior com as principais cidades, vilas e povoados.
As estradas existentes eram precárias, o que para as autoridades impedia o ‘progresso
da província’.

A primeira necessidade desta província he, decididamente, o melhoramento de


suas vias de communicação.
A lavoura, tão atrazada, [...], não póde alar, o commercio não póde desenvolver-
-se, em quanto as estradas se conservarem como estão, e o anhelo de attrahir,
aos excellentes terrenos da província, colonos europêos em certa escala, encon-
tra forte resistência no estado deplorável das vias actuaes de communicação,
onde não póde rodar hum carro, e tudo se transporta, mal e mui dispendiosa-
mente em costas de animaes ( VASCONCELLOS, 1854, p. 86)14.

Assim que o Paraná se emancipou, desde o seu primeiro governante, Zacarias de


Góes e Vasconcellos, iniciou-se o projeto da Estrada da Graciosa, que ligava Curitiba ao
litoral, e também o de uma estrada planejada para estabelecer a ligação entre o Paraná
e o Mato Grosso. Vários foram os engenheiros que trabalharam na construção e em
melhorias de estradas nesse período: Francisco Antonio Monteiro Tourinho (1835-
1883), Henrique Beaurepaire Rohan (1812-1894), Antonio Rebouças (1839-1874),
Willian Loyd e os Irmãos Keller, entre outros.
As estradas eram vias de comunicação fundamentais para a província do Paraná,
como ainda é hoje, pois isso representava o desenvolvimento econômico e social,
segundo Wilson Martins (1989, p. 12)15.

[...] a sua falta (estradas) foi talvez o principal entrave ao progresso do Paraná
em geral e ao sucesso integral da colonização (migrantes estrangeiros) em par-
ticular. [...] a súplica pelas estradas é uma espécie de lugar-comum na história
administrativa do Paraná e o clamor ininterrupto que se ouve, em todas as
línguas, desde os primeiros dias de sua história provincial.

No Paraná havia quatro estradas principais: a da Graciosa, Ytupava, Arraial e a Estra-


da Geral. Esta última servia de passagem para o gado e os muares que vinham de Via-
mão/RS para Sorocaba/SP. Além dessas, outras estradas também necessitavam de inves-
timentos, pela utilidade que tinham: ‘[...] as estradas de serra-ácima, particularmente
daquellas por onde se faz todo ou grande parte do commercio entre as provincias do

14 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 86.


15 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação no Pa-
raná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 12.

77
HISTÓRIA DO PARANÁ: Sul e as de S. Paulo, Minas-Geraes, e Rio de Janeiro’ ( VASCONCELLOS, 1854, p. 93)16.
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO As estradas que ligavam uma localidade a outra dentro da província paranaen-
se, como a de Guarapuava a Ponta Grossa, estavam na pauta de governo, conforme
informa o presidente Zacarias de Góes e Vasconcellos (1854, p. 93) nesse mesmo
Relatório.

[...] São por certo, dignas de attenção as ramificações, que de Ponta Grossa e de
Guarapuava se dirigem á colonia Thereza; [...].
[...] De Castro [...] há huma estrada que vem directamente encontrar-se com
a Graciosa; sua importância he immensa, e o direito que tem á attenção desta
assembléia incontestável.
Da mesma Villa segue hum ramal do porto de Jatahy, de summa utilidade, como
parte da via de communicação com Mato-Grosso. Dirige-se huma estrada desta
cidade á de S. Francisco na província de Santa Catharina, que muito convem
melhorar para manter entre as duas cidades e províncias huma communicação
regular.

Essa questão foi muito clamada quando do estabelecimento de colônias de mi-


grantes estrangeiros, a partir da década de 1860. Eram constantes as reclamações
dos colonos à administração pública sobre as péssimas condições das estradas. Os
presidentes da província constantemente abordavam a importância da melhoria e da
construção de estradas que permitissem a comunicação das colônias com a capital e
com os centros maiores, principalmente para a comercialização e para o consumo de
produtos. Esse era um grande problema, pois, segundo as autoridades da província,
as colônias não estavam prosperando em virtude da falta de estradas.

[...] Esta colônia é assentada em fértil terreno, próprio para vários gêneros de
cultura. Não tem prosperado, tanto quanto se esperava, por diversas causas,
nascidas já da grande distancia e da falta de vias de communicação, que liguem-
-a a cidade de Castro, em cujas visinhanças se acha e com quem entre em rela-
ções commerciaes, posto que em pequena escala, e já de se não ter applicado a
necessária attenção ao seu desenvolvimento17.

A administração pública, durante o período provincial, apesar das dificuldades en-


contradas pela falta de recursos técnicos e financeiros, sempre tomou providências
em relação à construção e conservação de estradas, mesmo não conseguindo avan-
çar com algumas obras importantes, como a conservação da Estrada da Graciosa.
A navegação despertou grande interesse das autoridades desde os primeiros
anos de província. O ‘empreendimento’ de tornar os rios navegáveis, naquele

16 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação no Pa-


raná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 12.
17 Carvalho, 15 de fevereiro de 1870, p. 39.

78
momento, vinha ao encontro do fato de que os rios poderiam servir para deter- O Paraná provincial:
1853-1889
minar os limites geográficos da província, como também servir de referência para
o estabelecimento de novas localidades (colônias de povoamento). Essa questão
é constantemente mencionada nos relatórios dos presidentes e vice-presidentes,
principalmente no período de 1850 a 1870, pois os rios representavam a possibi-
lidade de um desenvolvimento econômico para o Paraná. Para explorar e mapear
os rios foram contratados engenheiros como os irmãos Keller18. Vários rios foram
estudados, como: Iguaçu, Tibagi, Ivaí, Piquiri, Paraná, Paranapanema etc. Além de
os rios servirem como referenciais geográficos, poderiam ser transformados em
vias de comunicação, considerados como estradas para o transporte de mercado-
rias. Isso traria um beneficio muito grande à província, pela diminuição dos gastos
em relação ao transporte realizado normalmente por via terrestre.

1º o rio Tibagy que se lança no Paranapanema, assim como este no Paraná,


offerece com o Yvinheima e Brilhante de Mato-Grosso huma via fluvial, que,
á partir do porto do Jatahy nesta, vae ter ao interior daquella província,
ocassionando despezas incomparavelmente menores do que as que se fa-
zem pela actual via de communicação, avista da distancia que encurta-se e
do tempo que se poupa. A não ser pelos rios da Prata, Paraná, e Paraguay,
parece averiguado não haver mais prompto nem mais fácil meio de commu-
nicação para o Mato-Grosso do que a indicada via fluvial, o que pode deixar
de produzir assignalados benefícios a esta província por motivos que estão
ao alcance de todos ( VASCONCELLOS, 1854, p. 76-77)19.

Diversos outros fatores são abordados pelos governantes a respeito dos rios, como
a possibilidade de exploração por meio da cobrança de ‘pedágios’ na utilização de
balsa para a travessia de um lado para outro, e também o fornecimento de peixes, o
que poderia beneficiar as localidades às suas margens.
As inúmeras dificuldades que ocorreram sobre essa questão são informadas nos
relatórios, como por exemplo em relação ao rio Tibagi, onde a navegação poderia ser
realizada apenas em algumas partes, pois em outras havia obstáculos.

[...] não he, porem, o Tibagy rio tal, que consinta navegação não interrompida
e sem perigo, porque sabe-se que tem muitas cachoeiras e baixos que com
dificuldade se transpõe, e não he possível navegal-o com vantagem senão em
certas monções ( VASCONCELLOS, 1854, p. 770)20.

18 Nos anexos dos relatórios estão os relatórios dos engenheiros informando sobre o desenvol-
vimento do seu trabalho com os rios na província.
19 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. , p. 76-77.
20 Carvalho, 15 de fevereiro de 1870, p. 39.

79
HISTÓRIA DO PARANÁ: A mesma questão é referida quanto ao rio Iguaçu.
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO
[...] Yguassú – Este rio, que tem sua origem proxima a Serra do Mar, nos mu-
nicipios de Curytiba e S. José dos Pinhaes, não é navegável em todo seu curso,
por causa das rochas que obstruem, e muito mais pelo magnifico salto que
apresenta [...] ROHAN, 1856, p. 168)21.

Mesmo assim, com todas as dificuldades apresentadas com relação à navegação dos
rios, os presidentes acreditavam nesse empreendimento. ‘[...] E todavia bastantemen-
te vantajosa seria aos interesses da provincia huma tal navegação, e capaz de com-
pensar qualquer sacrifício que com ella se houvesse de fazer’, defendia o presidente
Zacarias em 1855. Mas esse interesse veio a desaparecer quando surgiu a possibilidade
de construção das ferrovias na província, por volta da década de 1880.
Essa questão não se esgota aqui, e nem é o que pretendemos. Apenas procuramos
apontar as perspectivas dos governantes provinciais em relação à pretendida navega-
ção dos rios, principalmente quanto à utilização deles como estradas. Sem dúvida, é
um assunto que posteriormente deve ser mais pesquisado.

Política de povoamento
As colônias de povoamento com migrantes europeus eram citadas seguidamente
pelos governantes nos relatórios, demonstrando a preocupação em dinamizar a ins-
talação de colônias produtoras de gêneros agrícolas para suprir o mercado local e a
comercialização do excedente, como também a criação de mão de obra assalariada.
A migração estrangeira para povoar o Paraná teve início em 1828, quando chega-
ram os primeiros alemães na região de Rio Negro, e continuou com a posse do primei-
ro presidente da província, Zacarias de Góes e Vasconcelos. Ele via o imigrante como
o individuo ‘trabalhador’, que traria técnicas e desenvolveria a agricultura, de que a
província necessitava.

A Lei nº 29 de 21 de março de 1855, em seu artigo 1º autoriza o governante a


promover a imigração de estrangeiro para a província e empregar os meios ne-
cessários para atrair os estrangeiros que estiverem em qualquer outra província
do Brasil (PARANÁ, 1912, p. 16-17)22.

Essa lei inaugurou oficialmente o processo de povoamento com migrantes euro-


peus, no Paraná. Todos os governantes da província mencionaram as dificuldades e os

21 Carvalho, 15 de fevereiro de 1870, p. 39.


22 Fonte: PARANÁ. Leis, Decretos, Regulamentos e Deliberações. Governo da Província do
Paraná. 1855 –1857. Curitiba: Typographia Penitenciária. 1912, p. 16-17. t. 2.

80
obstáculos enfrentados para o desenvolvimento da política de migração, como a falta O Paraná provincial:
1853-1889
de recursos financeiros, a falta de planejamento, os atritos culturais entre os estran-
geiros e a populações do local, o que dificultava a relação entre eles. Mas acreditava-se
nesse empreendimento, pois, apesar dos problemas, os migrantes europeus eram um
bom investimento.

E meu sentimento, senhores, que a província do Paraná, nos seus ensaios de


colonisação [...] crêe um estabelecimento agrícola, onde se admittão os estran-
geiros e nacionaes, [...]. Estou plenamente convencido que, dirigida a empreza
por pessoa intelligente, a província tiraria vantagens, que largamente a com-
pensarião das despezas adiantadas23.

O grande impulso da política de povoamento ocorreu entre as décadas de 1860


e 1880, quando se instalaram, por todo o território, mais de 60 núcleos coloniais,
oficiais e particulares.

ANO LOCALIDADE COLÔNIA ETNIA24

1829 Rio Negro Colônia do Rio Negro Alemães

Colônia Tereza (hoje


1847 Ivaí Franceses
município de Reserva)

Suíços, alemães, franceses e


1852 Guaraqueçaba Colônia do Superagui
outros.

Ingleses, franceses, italianos,


1860 Serro Azul Colônia do Assungui
alemães e outros.

Franceses da Argélia, alemães,


1868 Curitiba, Colônia Argelina
suíços, ingleses e italianos.

1870 Curitiba Colônia do Pilarzinho Poloneses, alemães e italianos

1871 Curitiba Colônia São Venâncio Alemães, poloneses e suecos.

1871 Paranaguá Colônia Alexandra Italianos

1873 Curitiba Colônia Abranches Alemães e poloneses.

1875 Curitiba Colônia Santa Cândida Poloneses, suíços e franceses

Poloneses, italianos, franceses e


1875 Curitiba Colônia Orleans
outros

1875 Paranaguá Colônia Eufrasina e Pereira Italianos e espanhóis

1876 Curitiba Colônia Bento Inácio Poloneses, siberianos e galicianos

1876 Curitiba Colônia Lamenha Poloneses, silesianos e alemães

1876 Curitiba Colônia Dom Augusto Poloneses

1876 Curitiba Colônia Dom Pedro Poloneses, galicianos e silesianos

1876 Araucária Colônia Tomaz Coelho Poloneses, galicianos e silesianos.

1877 Curitiba Colônia Riviére Franceses, poloneses e alemães

23 RELATÓRIO. Rohan, 01 de março de 1856, p. 39.

81
HISTÓRIA DO PARANÁ:
Antonina e
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA 1877 Colônia Nova Itália Italianos
Morretes
E IMPÉRIO
1878 Curitiba Colônia Dantas Italianos

Colônia Alfredo Chaves


1878 Curitiba Italianos
(hoje Colombo)

São José dos Colônia Santa Maria do


1878 Italianos
Pinhais Novo Tirol

São José dos


1878 Colônia Zacarias Poloneses e silesianos
Pinhais

São José dos


1878 Colônia Inspetor Carvalho Poloneses e italianos
Pinhais

São José dos


1878 Colônia Muricy Poloneses e italianos
Pinhais

1878 Campo Largo Colônia Antonio Rebouças Poloneses e italianos

1878 Ponta Grossa Colônia Otávio Alemães do Volga

1878 Palmeira Colônia Sinimbu Alemães do Volga

1878 Lapa Colônia Wirmond Alemães do Volga.

1879 Paranaguá Colônia Maria Luiza Italianos, alemães e espanhóis

1883 Campo Largo Colônia Mendes Sá Italianos e poloneses

1886 Campo Largo Colônia Alice Poloneses

1886 Araucária Colônia Barão de Taunay Poloneses

1886 Curitiba Colônia Santa Gabriela Poloneses e Italianos

1886 Curitiba Colônia Antonio Prado Poloneses e Italianos

1886 Curitiba Colônia Pres. Faria Poloneses e italianos

1887 Curitiba Colônia Maria José Italianos

1887 Rio Negro Colônia João Alfredo Alemães e poloneses

1887 Rio negro Colônia São Lourenço Alemães

1888 Curitiba Colônia Santa Felicidade Italianos

1888 Paranaguá Colônia Visconde de Nacár Italianos

1888 Paranaguá Colônia de Santa Cruz Italianos

1888 Paranaguá Colônia Santa Rita Italianos

1889 Campo Largo Colônia Balbino Cunha Italianos

1889 Campo Largo Colônia Dona Mariana Italianos

Quadro 3 - Colônias de migrantes europeus na província do Paraná24

Fonte: MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno


de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 66-67.

24 Fonte: PARANÁ. Dicionário histórico-biográfico do Paraná. Curitiba: Chain, 1991. p. 90-91.

82
A entrada de migrantes europeus durante o tempo da província foi de 19.215 in- O Paraná provincial:
1853-1889
divíduos. Esse fato alterou a constituição da população, que em 1854 contava com
60.625 habitantes, e passou a 126.722 habitantes em 187225.
Quase a totalidade dos presidentes do período provincial, com exceção de um e
outro, investiram nessa política de povoamento, o que marcou o Paraná e selou um
rumo que não seria abandonado, fato que promoveu a diversidade étnica presente no
Estado hoje. Tal questão leva a muitas pesquisas sobre o que é ser paranaense. Dentre
os estudos apresentados, o sociólogo Wilson Martins aponta como sendo essa política
de migração a responsável por dar uma constituição populacional diferenciada do
restante do Brasil26.

O resultado dessa política, prosseguida sistematicamente há um século, deu


ao Paraná a sua fisionomia humana particular e típica, definidora e essencial,
[...]. Assim, ainda no domínio etnológico, o Paraná repete o exemplo de equi-
líbrio [...] como a sua característica fundamental. Em certas regiões brasileiras
o esquema da população pode ser um ‘triângulo retângulo’ [...] o elemento
português, o índio [...] o africano – aqui a figura geométrica seria, na mais
simplificadora das hipóteses, um polígono irregular de sete lados, cujas faces,
em extensão decrescente e tamanho variável, representariam os elementos po-
lonês, ucraniano, alemão, italiano, [...] o índio e o negro (MARTINS,1989, p.
108)27.

Assim, segundo essa explicação, a representação da formação do povo brasileiro e


do povo paranaense ocorreria conforme os esquemas a seguir 28, na Figura 1.
O Paraná, visto dessa forma por Martins, dilui todas as etnias no povo paranaense,
na sociedade paranaense, que, na sua visão sociológica, é uma sociedade ‘diferente’
da do resto do Brasil.

25 Cf. MARTINS, 1989, p. 69. Não se pode esquecer de que nessa cifra numérica existia a po-
pulação negra. A composição da população do Paraná segundo a cor, no século XIX, variou de
58,6% de brancos e 41,4% de negros, pardos e mulatos em 1800, passando a 55,1% de brancos
e 44,9% de negros, pardos e mulatos, em 1822; 57,2% de brancos, sem população da Lapa,
e 42,9% de negros, pardos e mulatos em 1854; e 55% de brancos e 45% de negros, pardos e
mulatos, em 1872 (Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p. 383).
26 Para se ter uma visão critica sobre essa forma de ver a constituição da sociedade paranaense:
MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios Kaingang: a história épica dos índios Kaingang
no Paraná (1769-1924). Maringá-PR: EDUEM, 2009. p. 19-71.
27 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação no Pa-
raná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 108.
28 O desenho dos esquemas foi retirado de: MOTA, Lúcio Tadeu. História do Paraná: ocu-
pação humana e relações interculturais. Maringá-PR: EDUEM, 2005. p. 53-54. (Formação de
professores EAD, n. 28).

83
HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO

Figura 1 - Esquema geral de explicação da


formação do povo brasileiro e do povo paranaense

Também verificamos, nas informações dos presidentes da província, preocupação


com as populações indígenas e ações direcionadas a elas, como a implantação de colô-
nias militares, também mencionadas nos relatórios. Além de serem priorizadas como
pontos estratégicos na defesa das áreas limítrofes da província, essas colônias eram
consideradas como uma política mais ampla para ocupação dos territórios, no sentido
de promover o povoamento.
Tanto a implantação das colônias militares quanto a dos indígenas constituíram
ações desenvolvidas em conjunto pelo governo imperial e o provincial. Assim, foram
implantadas tais colônias em vários pontos da Província.
As colônias militares foram as seguintes: Colônia Militar de Jataí, criada em 21 de
janeiro de 1855 pelo decreto Imperial nº 751, localizada às margens do rio Tibagi, hoje
cidade de Jataizinho; Colônia Militar do Chopim, criada em 16 de novembro de 1859
pelo decreto Imperial nº. 2.502, instalada em 27 de dezembro de 1882, localizada
onde hoje é a cidade de Chopinzinho; Colônia Militar do Chapecó, pelo decreto nº
2502 de 16 de novembro de 1859, instalada em 14 de março de 1882, e que hoje inte-
gra o território do Estado de Santa Catarina; Colônia Militar de Foz do Iguaçu, fundada
em 23 de novembro de 1889, onde hoje é a cidade de Foz do Iguaçu.
As colônias indígenas foram: Colônia de Nossa Senhora do Loreto do Pirapó, criada
em 1855, localizada na foz do rio Pirapó, no Paranapanema, hoje cidade de Itaguagé;
Colônia de Santo Inácio do Paranapanema, criada em 1862 na embocadura do rio
Santo Inácio do Paranapanema, atualmente município de Santo Inácio; Colônia de

84
São Pedro Alcântara, criada em 1855 às margens do rio Tibagi, em frente à cidade de O Paraná provincial:
1853-1889
Jataizinho, que foi a que teve maior duração, sendo extinta apenas em 1895; Colônia
de São Jerônimo, em 1859, hoje cidade de São Jerônimo da Serra; Colônia do Xongu
(Chagu) instalada em 1859, nos campos do Chagu, a oeste de Guarapuava, onde atual-
mente se localiza a Terra Indígena de Rio das Cobras, no município de Laranjeiras do
Sul; Colônia de Catanduvas, implantada em 1891, localizada entre a colônia militar de
Foz do Iguaçu e Guarapuava; Colônia de São Tomás de Papanduva, instalada em 1875
na região do Rio Negro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao abordarmos as principais políticas públicas dos presidentes e vice-presidentes
do Paraná provincial constatamos como eles buscaram promover o desenvolvimento
político, social, cultural e econômico da província para consolidar a sua autonomia por
meio de ações políticas, como: organizar e garantir a segurança pública, que, apoiada
na ordem dominante, agiu em defesa dos interesses de uma determinada classe social
– a elite; o desenvolvimento de práticas educacionais, para criar uma sociedade com
uma cultura pautada na moralidade e nos costumes da época; a busca por ocupar,
unificar e garantir o domínio do território, ligando uma região a outra pela política
de estradas, investindo na sua construção e em suas melhorias, e no projeto de nave-
gação dos rios, visando impulsionar a economia e a comunicação do interior com o
centro dominante do poder; como também povoar com gente ‘civilizada, morigerada
e laboriosa’ as terras paranaenses, constituindo uma sociedade pautada na ideologia
do progresso e da civilização.
Esperamos que, a partir do que foi abordado neste capítulo, seja possível se conhe-
cer um pouco sobre esse período da história paranaense que não costuma ser abor-
dado nas escolas, e praticamente não é estudado pelos alunos. Apesar de a história
paranaense ser objeto de estudos desde meados do século XIX até os dias de hoje, de
forma geral muito pouco contato os educadores e estudantes têm com esses estudos.

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Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual de Ensino, conteúdos da disciplina
História do Paraná. Diário Oficial do Estado, Curitiba, n. 6.134, 18 dez. 2001.

PARANÁ. Leis, Decretos, Regulamentos e Deliberações. Governo da Província do


Paraná. 1855 –1857. Curitiba: Typographia Penitenciária, 1912. t. 2, p. 16-17.

ROHAN, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire. Relatório apresentado a


Assembléia Legislativa Provincial do Paraná no di 1 de março de 1856 pelo
vice-presidente em exercício Henrique de Beaurepaire Rohan. Curityba: Typ.
Paranaense de C. Martins Lopes, 1856. p. 168.

SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: Seed,
2001.

TRINDADE, Etelvina Maria de Castro; ANDREAZZA, Maria Luiza. Cultura e Educação


no Paraná. Curitiba: SEED, 2001.

VASCONCELLOS, Zacarias de Góes. Relatório do Presidente da Província do


Paraná na abertura da Assembléia Legislativa Provincial em 15 de julho de
1854. Curityba: Typ. Paranaense de Cândido Martins Lopes, 1854.

WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. 2. ed. Curitiba: Editora dos


Professores, 1968. 185p.

87
HISTÓRIA DO PARANÁ: DOCUMENTOS ON LINE
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO
PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Presidente
da Província do Paraná Zacarias de Góes e Vasconcellos na Abertura da
Assembléia Legislativa Provincial, em 15 de julho de 1854. Disponível em:
<http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 15 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Presidente da


Província do Paraná o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos na Abertura
da Assembléia Legislativa Provincial, em 8 de fevereiro de 1855. Disponível em:
<http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 15 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Vice-


Presidente da Província Henrique de Beaurepaire Rohan à Assembléia
Legislativa, em primeiro de março de 1856. Disponível em: <http://www.pr.gov.
br/arquivopublico/>. Acesso em: 17 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca) Relatório do Presidente da


Província Antonio Augusto da Fonseca à Assembléia Legislativa em 6 de Abril
de 1869. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em 17
mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1869-1870: Affonso de Carvalho) Relatório do Presidente


da Província do Paraná Dr. Antonio Luiz Affonso de Carvalho apresentado à
Assembléia Legislativa, na abertura da 1ª sessão da 9ª legislatura, em 15 de
fevereiro de 1870. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso
em: 17 mar. 2008.

PARANÁ. Relatórios dos Presidentes e Vice-presidentes da Província do Paraná.


Curitiba, 1854-1889. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>.
Acesso em: 14 mar. 2008.

Fontes e referenciais para o aprofundamento temático

Observando o quadro 1 da galeria de presidentes verificamos grande número de gover-


nantes no período provincial paranaense. Estabelecendo um paralelo com dados recentes,
responda às seguintes questões:

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1) Você sabe quantos governantes o Paraná teve nas últimas duas décadas? O Paraná provincial:
1853-1889
2) Quais as prioridades de cada governante?
3) De que regiões eram oriundos?
4) Quais partidos políticos representavam?
5) Pesquise e elabore um quadro semelhante ao ‘quadro I’, com informações sobre os gover-
nantes das últimas duas décadas (nomes, partidos, região de origem, principais políticas
de governo etc.).

Anotações

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HISTÓRIA DO PARANÁ:
PRÉ-HISTÓRIA, COLÔNIA
E IMPÉRIO
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