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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
EDU3098 – EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO – TURMA B
PROFESSORA GRACIELE MARJANA KRAEMER
PALOMA SILVA DE MELLO
Artefato Cultural: Forrest Gump, o contador de histórias

Introdução

O filme norte-americano “Forrest Gump, o contador de histórias”, dirigido por


Robert Zemeckis e lançado em 1994 relata a vida de Forrest, um menino que quando
pequeno possuía um grave problema nas pernas, o que levou ao uso de aparelhos e,
além disso, ele era deficiente intelectual. A produção cinematográfica retrata diversos
aspectos e dificuldades da vida de Forrest, algumas coisas atreladas à deficiência,
como o preconceito e a dificuldade de se relacionar, e outras que se referem muito
mais à vida pessoal.
Inicialmente o sujeito com deficiência intelectual era visto, de forma pejorativa,
como retardado. Outro tempo que está em desuso é deficiência mental – ela existe,
mas não é sinônimo da deficiência intelectual. A DI é uma limitação atribuída a alguns
sujeitos, que em sua grande maioria apresentam o funcionamento cognitivo que não
corresponde à média esperada para a idade, ou seja, o sujeito apresenta um QI abaixo
da média, dessa forma se faz necessário que essas pessoas sejam acompanhadas
por profissionais de várias especialidades, buscando seu desenvolvimento satisfatório
e olhando para a deficiência de forma integral.
De acordo a 11ª edição da AAIDD (Associação Americana em Deficiência
Intelectual e do Desenvolvimento) a definição de deficiência intelectual é caracterizada
por:
Limitações significativas tanto no funcionamento intelectual quanto no
comportamento adaptativo como é expresso nas habilidades adaptativas
conceituais, sociais e práticas. Essa deficiência se origina antes dos 18 anos.
AAIDD (2010, p. 5).

A Organização Mundial de Saúde - OMS (2010) estima que 1 a 3% da


população em geral tem DI. A causa ainda é desconhecida, mas a comunidade médica
trabalha com várias linhas de pesquisa para a DI, e sabemos que o transtorno
caracteriza, grosso modo, uma alteração no cérebro do paciente que afeta suas
sinapses e maturação.

Desenvolvimento
A primeira dificuldade trazida na obra é o acesso de Forrest à escola. Quando
sua mãe tenta matriculá-lo, o professor alega que o garoto tem um QI abaixo da média
então deveria frequentar uma escola para alunos especiais, não a escola regular. Na
época em que o filme se passa a mãe de Forrest precisa recorrer à meios informais
para conseguir que o filho frequente a escola, mas hoje temos alguns documentos e
políticas como a PNEEPEI (Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva), que tem como objetivo:

Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais


do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os
sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação,
aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados de ensino. PNEEPEI
(2008, p. 14)

A partir daí, é importante destacar o preconceito que Forrest sofre na escola,


ele tem dificuldade para caminhar, então inicialmente tem uma diferença física das
demais crianças, mas também seu comportamento é diferente. Durante toda sua vida
ele enfrenta crocodilos e avestruzes, como os do texto de Lígia Assumpção Amaral, e
eles começam a aparecer na infância, quando as crianças da escola não querem ficar
perto dele; os crocodilos seriam os mitos trazidos por Lígia, mitos que cercam a
questão da deficiência. Ao redigir esse trabalho, confesso que acabei reproduzindo o
mito da correlação linear, onde há a lógica do “se... então”. Se há uma pessoa autista
desenvolvendo tal atividade, então todas as pessoas autistas conseguem desenvolver
essa atividade. Caí nesse campo ao me deparar com alguns feitos de Forrest: ao
longo do filme ele apresenta grande habilidade em corrida e ping-pong, logo pensei
“nossa, será que ele não tem altas habilidades? ou talvez seja autista e tenha um
hiperfoco?”, mas na verdade não – essas coisas e várias outras eram apenas
habilidades dele, coisas que ele sabia fazer muito bem e não tinha nada por trás disso,
era apenas seu potencial, assim como todos nós temos potenciais e habilidades que
às vezes desabrocham sozinhos, e outras vezes precisam ser aprimorados.
Em determinado momento do filme Forrest vai para a guerra e é um soldado
exemplar – é ágil ao executar tarefas, não tem problemas em receber comandos,
realiza tudo com muita maestria, o próprio comandante fica impressionado com ele –
tanto que, ao fim do filme, eles ainda são amigos. No exército Forrest faz seu único
amigo, Bubba, cujo único assunto que gostava de falar era sobre camarões,
tamanhos, peso, pesca, forma de preparo, tudo. Os dois se dão muito bem pois ambos
são honestos, falam e entendem tudo com muita literalidade e são extremamente
leais.
Por fim, é preciso salientar que do começo ao fim da produção Forrest é
apaixonado por Jenny, sua única amiga de infância. Eles ficam juntos por um curto
período do filme, já na vida adulta, mas durante toda a obra Jenny menospreza os
sentimentos de Gump, inclusive diz que ele não sabe o que é o amor, e o enxerga
apenas como um amigo. É frequente que isso ocorra com pessoas com alguma
deficiência ou transtorno, principalmente pelo preconceito da pessoa que não enxerga
o sujeito como alguém que possa se relacionar amorosamente, mas também pela
vergonha, ambas ocasionadas por estigmas da sociedade.

Conclusão
Forrest Gump é uma obra brilhante que traz diversas facetas da deficiência
intelectual, trazendo inclusive o sucesso profissional que Forrest atinge e geralmente
não é atribuído a sujeitos com DI. Por um lado, temos a vida pessoal de Gump, como
ele se relaciona com o amor, a amizade, os preconceitos e o sucesso; por outro,
vemos como a sociedade encara isso, como a escola da época não abrangia alunos
com DI e outras deficiências.
Por fim, é importante olhar como Forrest e sua mãe lidam com todas essas
dificuldades, como o filme traz mensagens de resiliência e uma forma de olhar a vida.
Realizar esse trabalho trazendo a DI foi muito especial, pois é uma deficiência que
teve seu conceito muito variado ao longo dos anos, ainda sendo alvo de muito
preconceito e desinformação, e ainda hoje não ganha tanta relevância como deveria.

Referencial Bibliográfico

AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando das diferenças


físicas, preconceitos e sua superação. In: AQUINO, Julio (org) Diferenças e
preconceitos na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998
(p.11-30).
BRASIL, MEC. Política Nacional de Educação Especial Equitativa, Inclusiva e ao
Longo da Vida. Brasil, MEC, 2018.Arquivo

LEITE, Madson Márcio de Farias. A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: história e


estigmatização imposta as pessoas ao longo dos tempos. Revista Ibero-Americana
de Humanidades, Ciências e Educação, [S.L.], v. 8, n. 1, p. 748-760, 31 jan. 2022.
Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação.
http://dx.doi.org/10.51891/rease.v8i1.3866.

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