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O desenvolvimento dos alunos com deficiência múltipla

Objetivos ou expectativas de aprendizagem

● Conhecer o que é deficiência múltipla


● Compreender as particularidades dos principais diagnósticos de pessoas com deficiência
múltipla
● Compor um repertório de estratégias pedagógicas, sugestões de adaptações, recursos
pedagógicos e tecnologia assistiva de baixo custo para estudantes com deficiência
múltipla

Introdução
Deficiência múltipla é o termo usado para caracterizar mais de uma deficiência
apresentada por uma pessoa ao mesmo tempo, como a física e a intelectual. Cada vez mais
estudantes com diagnóstico de deficiência múltipla são recebidos em nossas salas de aula. Nesta
semana vamos apresentar as características de três tipos: paralisia cerebral, distrofia muscular e
surdo-cegueira. Eles foram escolhidos por serem quadros complexos, com prejuízos motores,
sensoriais e intelectuais.
As alunas e os alunos com esses tipos de deficiência possuem necessidades
educativas específicas. Por isso vamos falar de estratégias, recursos pedagógicos e TAs,
específicos de cada um. Vamos levar você a enxergar o potencial dos estudantes com
deficiência múltipla e ampliar seu repertório para ajudar na inclusão de cada um deles.

1. Três tipos de deficiência múltipla


A deficiência múltipla geralmente compromete mobilidade, comunicação, interação e
cognição. As causas são variadas, assim como os possíveis diagnósticos. A seguir, falaremos
sobre paralisia cerebral, distrofia muscular e surdo-cegueira.
1.1 Paralisia cerebral
A paralisia cerebral (PC) é um conjunto de sintomas decorrentes de uma lesão no cérebro
adquirida nos primeiros estágios de desenvolvimento. O código dela na CID-10 é G 80. As causas
podem ser diversas. Problemas durante o trabalho de parto anormal ou prolongado são a principal,
e a prematuridade vem logo atrás. A PC também pode acontecer devido a infecções que afetam a
mãe durante a gestação, como a toxoplasmose ou as causadas pela rubéola e pelo citomegalovírus,
ou as que acometem o bebê logo após o parto, como a decorrente da meningite.

Nem todas as pessoas com PC apresentam deficiência múltipla - algumas, somente


deficiência física. Elas podem sofrer ainda com síndromes epilépticas, comprometimento visual
e deficiência intelectual (DI). Os sintomas incluem diferentes formas de comprometimento
motor, além de prejuízos importantes na mobilidade, na fala e no desenvolvimento cognitivo.

Muita gente imagina que a criança com comprometimento motor também tem
limitações cognitivas, subestimando, então, seu potencial de aprendizagem. Isso é um erro.
Ela pode aprender. É preciso, entretanto, conhecê-la para planejar os caminhos.
Lembre-se de manter o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) atualizado, com
informações sobre as medicações utilizadas pela aluna, ou pelo aluno, e os acompanhamentos
médicos e terapêuticos que realiza. O trabalho da equipe multidisciplinar - que inclui
fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicoterapia e psicopedagogia - é fundamental
para melhorar a qualidade de vida e o potencial de aprendizagem das habilidades motoras e
adaptativas da criança.
O filme indicado a seguir mostra a história de um homem com PC. As limitações do
corpo não foram capazes de conter o potencial criativo dele.

Filme: Meu pé esquerdo


Ano: 1989
Elenco: Daniel Day-Lewis, Brenda Fricker e Kirsten Sheridan
Sinopse: o filme conta a emocionante história de Christy Brown. Ele tem paralisia cerebral
grave, mas consegue pintar e escrever usando o pé esquerdo. Vale a pena assistir.

1.2 Distrofia muscular


A distrofia muscular (DM) se constitui de um grupo de mais de trinta doenças
genéticas. O código da CID-10 está relacionado a cada uma delas.
Por isso não abordaremos isso. Cada uma tem um nível de complexidade, mas todas causam
fraqueza e atrofia muscular. Essas doenças causam degeneração progressiva, e alguns casos
evoluem mais rapidamente que outros. As manifestações podem começar na fase pré-natal e ir até
a fase adulta.
O vídeo a seguir mostra a evolução de crianças e adolescentes com distrofia muscular
de Duchenne.

Vídeo: The Duchenne timeline


Sinopse: o vídeo mostra a progressão da doença de forma clara, indicando a necessidade de estarmos
atentos às flexibilizações necessárias para trazer conforto e acessibilidade a estudantes com DM.
Não há legendas para o vídeo, que está em inglês, mas, como as etapas da doença estão bem visíveis,
vale a pena acompanhar as imagens.

Alguns tipos de distrofia têm a DI como comorbidade. Por isso, o PDI deve estar sempre
atualizado com as informações referentes à equipe multidisciplinar e familiar. Dessa forma, você
tem clareza sobre os objetivos, as estratégias e os recursos necessários para atender às necessidades
educativas da aluna, ou do aluno.
Com a progressão da doença, ela, ou ele, gradativamente deixa de fazer ações simples do
dia a dia, como levantar os braços, escrever, comer sem ajuda, usar o banheiro ou conduzir a
própria cadeira de rodas. São necessários, portanto, diversos recursos de tecnologia assistiva (TA)
e suporte do profissional de apoio, que vai auxiliar o estudante no horário das refeições, nos
deslocamentos e na hora de ir ao banheiro.
É normal sentir insegurança ao dar assistência a alguém com DM. Quando não souber o
que fazer, pergunte à própria pessoa como ela quer ser ajudada. Ações como essa ajudam a criar
vínculos e atender às demandas específicas da pessoa.

A seguir, apresentamos orientações, relativas a diferentes aspectos, para incluir


estudantes com Deficiencia Múltiplas:

● Flexibilização de atividades pedagógicas – Elabore atividades mais curtas, visando a


diminuir o esforço físico da aluna, ou do aluno. Você pode sugerir a troca do registro escrito
pela gravação de um podcast. As provas também devem ser flexibilizadas. A avaliação
continuada é a
ideal, com a comparação de como ela, ou ele, estava no início do semestre e no momento
da avaliação. Peça ao estudante para gravar a resposta dele em áudios, realize a avaliação
no tablet ou computador e, conforme a necessidade, softwares facilitadores da escrita,
como o
Simplex, do qual falaremos aqui.
● Cuidados com a segurança – Antes de a aluna, ou o aluno, chegar ao estágio que demanda
o uso de cadeira de rodas, é comum que ela sofra muitas quedas, o que demanda atenção
da equipe escolar para evitar que essa criança se machuque. É importante interagir com a
família para planejar juntos formas de mantê-la segura. Como ela, ou ele, se torna cada vez
mais dependente nessa fase, o acolhimento é fundamental. Evite, no entanto, a
superproteção, prejudicial ao desenvolvimento.

1.3 Surdo-cegueira
As pessoas com surdo-cegueira demandam suporte e abordagem específicos. Para
entender essas especificidades, confira como elas se classificam:
● cegas que se tornaram surdas;
● surdas que se tornaram cegas;
● as que se tornaram surdo-cegas;
● as que nasceram surdo-cegas ou adquiriram surdo-cegueira precocemente.
As que estão nesse último grupo não tiveram a chance de desenvolver a linguagem ou
outro tipo de comunicação. A combinação das perdas visual e auditiva limita a experiência da
observação e da imitação. Essas pessoas não têm repertório para compreender o mundo, o que
limita o desenvolvimento cognitivo delas. O surdo-cego, porém, pode ter audição e visão
residuais. É importante ensiná-lo e incentivá-lo a usar o recurso, além dos demais sentidos, como
forma de estimular sua curiosidade.
Incluir um estudante surdo-cego pode parecer impossível, num primeiro momento, mas
não é! Inicie o contato acolhendo-o, sem fazer julgamentos nem prognósticos sobre o desempenho
dele. O estudante surdo-cego precisa reconhecer você de alguma forma. Isso pode acontecer por
meio do perfume ou de um acessório. Se a escolha for pelo acessório, ao se aproximar dele, mostre
o objeto, que pode ser uma pulseira ou um lenço, por exemplo.
Elabore o PDI para conhecer o estudante de forma integral e fazer seu plano pedagógico.
Por meio do plano, você vai descobrir o que ele sabe ou não fazer e a via de comunicação que
utiliza. Essa comunicação pode ser feita com base em códigos comunicativos estabelecidos entre
o aluno e o receptor, que pode ser um acompanhante, um cuidador ou o professor, por exemplo.
Esse profissional é um mediador, que proporciona a ampliação do que o aluno conhece sobre o
mundo, visando à sua autonomia e à sua independência.
As demandas e as características das pessoas com surdo-cegueira são específicas. A LBI
determina que o estudante com esse tipo de deficiência tem direito ao profissional de apoio e,
nesse caso, deve ser alguém com condições para se comunicar com ele e assim mediar sua
interação com o grupo. Esse profissional deve eventualmente ajudar no deslocamento dessa
criança e nos cuidados pessoais.
O tato é fundamental na comunicação. Uma técnica conhecida como mão sobre mão -
a mão do professor é colocada sobre a do estudante, para orientar o seu movimento - é bastante
usada. Ela é efetiva para mediar, além da comunicação com a aluna, ou o aluno, as descobertas
dela, ou dele, com relação ao espaço, aos objetos e às pessoas. A experiência do toque, a
princípio, pode ser desconfortável para a criança surdo-cega que chega ao ambiente escolar. É
previsível que haja um período de adaptação, durante o qual a professora, ou o professor, vai
conhecê-la e ela vai aceitar sua aproximação.
As libras também são utilizadas, mas são táteis, ou seja, os sinais são feitos por uma
pessoa enquanto a outra, surdo-cega, segura nas mãos dela.
Outra forma de comunicação é o tadoma. O surdo-cego coloca a mão sobre a mandíbula e o
pescoço da pessoa que está falando e a entende por meio da vibração da voz. O alfabeto manual é
outra forma comum de comunicação: o surdo-cego escreve a mensagem desenhando as letras na
palma da mão da pessoa com quem está se comunicando. O alfabeto pode ser em português ou
braille.
Assista ao vídeo indicado a seguir para compreender na prática como as pessoas surdo-
cegas se comunicam e podem ser autônomas.

Vídeo: Os desafios da surdo-cegueira


Ano: 2015
Sinopse: o vídeo mostra formas de comunicação entre as pessoas surdo-cegas. Quando a
barreira de comunicação é eliminada, a pessoa surdo-cega pode interagir, pertencer e
exercer sua cidadania.

Crianças que não tiveram acesso a alguma forma de comunicação adequada podem
comunicar o desconforto ou alguma necessidade usando a força física, por exemplo, batendo na
mão de quem entregar o lanche a ela.
Não se assuste com isso! O aluno não enxerga, não ouve e pode estar desconfortável por não ter
referência das pessoas e do lugar. Aproxime-se dele de forma delicada, para que se acostume com
sua presença e aceite seu toque.
É comum observar as crianças se autoestimulando (balançando-se, batendo palmas,
movendo o dedo na frente dos olhos, por exemplo). Essa movimentação é confundida com
autismo ou DI, mas pode acontecer devido à falta de estímulos externos. Essa é uma forma de
autorregulação e não deve ser repreendida. Direcione a aluna, ou o aluno, a algo funcional, como
tocar em um material com textura confortável ou aprender os sinais da libras tátil. No filme
indicado a seguir, você vê o trabalho de Anne Sullivan para ensinar a língua de sinais a Helen
Keller e para direcionar sua forma de explorar o mundo ao redor.

Filme: O milagre de Anne Sullivan


Ano: 1962
Elenco: Anne Bancrot, Patty Duke e Victor Jory
Sinopse: o filme retrata o trabalho da professora Anne Sullivan para estabelecer
comunicação com a garota Hellen Keller, surdo-cega. Ele traz diversas reflexões sobre o
papel do educador.

2. Estratégias e recursos pedagógicos acessíveis


Encontramos com frequência estudantes com deficiência múltipla que não participam das
atividades de sala de aula. Para evitar que isso aconteça, vamos apresentar a você algumas opções
de encaminhamento. Antes, porém, reflita sobre os níveis de participação do aluno:

Figura 1 - Níveis de participação do aluno com deficiência


2.1 Adequação do espaço escolar e das atividades
A criança consegue ir a todos os espaços da escola? Se a mobilidade dela é restrita e isso
a impede de participar de atividades, algo precisa ser feito. Enquanto rampas não são construídas,
uma saída é reservar uma sala próxima ao banheiro, ao pátio e à quadra para a turma da aluna, ou
do aluno, que tem dificuldade de locomoção.
No que se refere à aprendizagem, vamos relembrar que, de acordo com o Desenho
Universal para a Aprendizagem (DUA), a mesma atividade deve contemplar a todos os estudantes.
Alunas e alunos com deficiência múltipla, muitas vezes, têm necessidades específicas. Conheça
algumas atividades que contemplam o grupo e, mais especificamente, estudantes com deficiência
múltipla. Elas podem ser desenvolvidas em quadra, nas aulas de educação física:
● Brincadeira com bolas grandes e bexigas – Atividades com bola são indicadas para todo
o grupo, mas, se você usar bolas pequenas, o estudante com deficiência múltipla pode ter
de ficar de fora. Proponha, então, jogos com bolas grandes, com guizos ou bexigas.
Flexibilize as regras para que ele consiga jogar, segurar ou empurrar a bola de acordo com
sua possibilidade.
Percurso – Essa atividade pode ser desenvolvida em conjunto com língua portuguesa. A ideia
é trabalhar um conto sobre disputas entre
reinos e criar um circuito motor em que os alunos são desafiados a pular corda, arrastar-se
por baixo de obstáculos, pular no jump e escorregar durante a simulação de uma batalha.
Como incluir um aluno com deficiência física e visão subnormal, que usa cadeira de rodas
o tempo todo devido ao comprometimento motor? Em primeiro lugar, é necessário observar
as particularidades dele. Está seguro na cadeira de rodas? Tem disponibilidade para
participar? Se esse aluno sentir medo e insegurança, é papel do educador transmitir
segurança e encorajá-lo. O planejamento do percurso deve acontecer de forma que seja
possível flexibilizar as atividades para que ele participe com os demais, que não precisam
fazer somente aquilo de que esse colega com deficiência é capaz. Na etapa em que todos
pulam corda, o objeto pode ser suspenso, para que a criança passe por baixo dele com a
cadeira de rodas, ou movimentado simulando o deslocamento de uma cobra no chão, para
que ela passe por cima. É possível também retirar o estudante da cadeira de rodas para que
realize as atividades em solo, desde que a sensibilidade dele esteja preservada. Nesse caso,
ele pode arrastar-se. Fique próximo para ajudá-lo se necessário. Na hora de pular no jump,
você pode segurar a criança no colo ou dar apoio a ela para que fique em pé enquanto a
auxilia com impulso para que pule.
Lembre-se de perguntar à criança a melhor forma de segurá-la e se está confortável com a
forma como você está fazendo. A etapa do escorregador também é viável! Escorregue com
a criança e, à medida que ela se desenvolve motoramente, diminua o apoio. No início,
porém, é mais seguro que a criança seja acompanhada por um adulto.

● Jogos cooperativos – Promova atividades nas quais cada aluno colabore como pode e
todos ganham. Esse é o princípio dos jogos cooperativos. O foco é realizar a tarefa ou o
desafio com a colaboração de todos. Uma opção é o jogo de vôlei com bexiga. São
montados dois times e cada um ganha um lençol. Os integrantes de cada time seguram mas
bordas de seu lençol e, com ele, devem jogar uma bexiga para o outro lado da quadra, sem
deixá-la cair no chão. O aluno pode ficar sentado na cadeira de rodas, em pé com sua ajuda
ou ter o apoio de um colega.
● Corre cotia - Adapte a brincadeira e oriente a turma toda a correr sentada. Os estudantes
vão adorar a novidade, e a aluna, ou o aluno, com deficiência poderá participar com os
demais.

Estas são indicadas para as aulas de língua portuguesa:


● Escrita em painel sensorial – Para trabalhar a escrita e a coordenação motora fina, prepare
esse versátil material. Ele pode ser usado também para jogos.
Materiais: saco de congelamento grosso e que possa ser vedado (se a criança tiver visão
subnormal, o saco precisa ser grande); gel para cabelo ou óleo mineral (transparente);
corante; caneta permanente; botões ou bolinhas; glitter; placa de papelão; e silver tape ou
outra fita para vedar o saco e fixá-lo na placa de papelão.
Montagem: com caneta permanente, desenhe no saco letras, o nome da criança ou de
um jogo, por exemplo. Em seguida, coloque óleo mineral ou gel de cabelo dentro dele,
até preencher ⅓ de seu volume.

Acrescente o corante da cor que desejar e outros materiais, como botões e glitter. Retire
todo o ar do saco e vede-o com silver tape ou outra fita. Para estabilizar o saco, coloque-o
sobre uma placa de papelão grosso e fixe-o com a fita.
A criança surdo-cega precisa ter algum material que ela possa movimentar junto com o
gel, como um botão ou uma bolinha. No início, você pode guiar a mão dela sobre o
percurso desenhado. Ela vai gostar da sensação tátil.
Figura 2 – Escrita e jogo sensorial com gel

Fonte: Imagem ilustrativa da internet.

● Escrita em caixa de areia - Outra opção para trabalhar a escrita sensorial é colocar areia
colorida numa caixa de sapato. A reia pode ser substituída por outro material que
proporcione sensação tátil, como pedrinhas, sal grosso, terra e folhas.

● Escrita de receitas e lista de ingredientes - Uma aula de culinária demanda a escolha de


uma receita e a escrita da lista de compras. Os estudantes com deficiência múltipla podem
preparar a lista de acordo com a linguagem que utilizam: braille, sinal, pictogramas,
imagens ou objetos. Eles podem usar papel ou o computador, tanto faz. Verifique o que for
melhor para cada um. Este é o exemplo de uma receita registrada no boardmaker. Você
pode se inspirar para elaborar a lista de compras e muitas outras atividades.

Figura 4 - Ficha culinária


Fonte :Imagem cedida por assistiva.com.br para autora.

2.2 Recursos de tecnologia assistiva


Crianças com deficiência múltipla geralmente precisam de recursos de tecnologia
assistiva (TA). Eles ajudam no suporte e na autonomia e podem ainda facilitar a comunicação e a
participação ativa delas nas atividades.
Seguem alguns exemplos:
● Cadeira de rodas adaptada - Estudantes com PC frequentemente apresentam
espasticidade (aumento do estado de tensão do músculo, o que provoca rigidez). Para
melhorar a função dos membros superiores, a postura é fundamental, e cadeiras de rodas
adaptadas geralmente são indicadas. Elas são planejadas de forma personalizada para
atender à especificidade de cada pessoa com conforto e funcionalidade, daí terem alto
custo. As cadeiras colaboram para o equilíbrio do tronco e da cabeça, e para a melhoria do
posicionamento do quadril e da mobilidade de membros superiores. Quanto maior a
dificuldade, de mais acessórios a cadeira vai precisar, e, assim, mais cara vai ser.

● Mobiliário adaptado - O ideal é que criança tenha cadeira adequada às suas necessidades,
mesa recortada para encaixar a cadeira de rodas e prancha inclinada. Modelos como o
mostrado a seguir são de alto custo.

Figura 6 - Mesa inclinada e recortada

Fonte: Imagem ilustrativa da internet.

● Cadeira de plástico adaptada - Você pode revestir o assento e o encosto de uma cadeira
de plástico comum com rolos de espuma, como
neste m odelo. Para melhorar a estabilidade da cadeira, coloque cada
um dos pés dela em uma lata de leite em pó com cimento. Aguarde a secagem para
liberá-la ao uso.
● Colher adaptada - Para ajudar alunos com deficiência múltipla a ter autonomia nas
atividades de vida diária, você pode, por exemplo, adaptar uma colher. É possível
entortar o cabo de um talher comum para facilitar a chegada da comida à boca. Pode-se
ainda engrossar o cabo do talher com EVA e rolo de espuma ou usar tiras de velcro para
deixá-lo mais estável na mão do estudante.
Figura 7 - Colheres adaptadas
Fontes: Imagens ilustrativas da internet.

● Software e equipamento para comunicação e interação - Essa é uma plataforma de


inclusão para comunicação oral e escrita que inclui o software Simplex e teclado funcional,
acionador e acionador com piscadela como acessórios. Os equipamentos são projetados
para pessoas com limitações motoras severas, como aquelas com deficiência múltipla, e
têm alto custo. Além de facilitar a comunicação, o equipamento pode ser usado pela
professora, ou pelo professor, para elaborar atividades flexibilizadas e avaliação escrita e
oral, uma vez que o aluno tem condições para digitar com pouco ou nenhum esforço. Na
figura abaixo vemos um estudante com DM em estágio avançado que pode digitar ativando
o software com piscadas.
Figura 8 - Criança acionando software com a piscada

Fonte: Imagem cedidas de TIX para autora.


Figura 9 - Teclado multifuncional
Fonte: Imagem cedidas de TIX para autora.

Figura 10 - Acionador manual e Acionador por piscadela


Fonte: Imagem cedidas de TIX para autora.

● Livox - Software de comunicação criado pelo analista de sistemas Carlos Edmar


Pereira, para a filha Clara, que tem deficiência múltipla. Reconhecido mundialmente, ele
pode ser baixado gratuitamente. Nesta reportagem, publicada pelo Canal do YouTube
Mundo Possível, pode-se ver como ele funciona.
● Prancha temática - Vamos explorar um pouco mais esse recurso de TA para elaborar uma
estratégia de comunicação de baixo custo. Existem diversos softwares com pictogramas
para você preparar uma prancha de acordo com a necessidade da estudante, ou do estudante.
Estes são gratuitos: Boardmaker, PECS, Picto4me e Prancha fácil. Veja o passo a passo
para montar uma prancha de comunicação com materiais de baixo custo:
Materiais - Papelão ou uma folha firme e resistente (o ideal é que ela seja plastificada
para durar mais); velcro adesivo e pictogramas de acordo com sua necessidade.
Montagem - Cole a parte mais áspera da tira de velcro na folha, no sentido horizontal.
Recorte pictogramas, figuras ou miniaturas de acordo com sua proposta de trabalho. Corte
e cole a outra parte, mais fina, do velcro nas figuras ou objetos que usará para a
comunicação. Você pode montar uma pasta com novos temas ou incluí-los conforme a
necessidade.

● Organizadores de rotina - Crianças com deficiência múltipla podem ter dificuldade para
entender a rotina das aulas e a transição entre uma atividade e outra. Como se
desorganizam com mudanças bruscas, é importante que elas sejam comunicadas sobre a
troca de atividades ou o horário do lanche, por exemplo.

Veja o exemplo de um quadro de atividades que contemplam crianças com surdo-cegueira.


Como elas precisam de objetos concretos para orientá-las, você pode providenciar um
quadro com a sequência de objetos que representam para ela a sequência de aulas e outras
atividades. Exemplos: quadro com um giz jumbo (arte): bola (educação física); colher
(hora do lanche); escova de dentes (higiene); bloco de papel (atividade de língua
portuguesa e matemática); objeto pessoal da mãe (hora de ir para casa). Ao tocar o objeto
correspondente à atividade seguinte, a criança ficará mais tranquila com a transição. Você
pode colocar esses objetos em pranchas de papelão, pendurá-los, fixá-los na parede, ou
encontrar uma forma mais conveniente para promover a autonomia do estudante. Veja o
exemplo:

Figura 11 - Organizador de rotina com objetos concretos


Fonte: MEC, 2010, p.14.

Os calendários devem atender à necessidade do estudante. A opção com prancha inclinada é


indicada àqueles que precisam das imagens para se localizar. O uso do velcro dá versatilidade. O
aluno pode retirar a imagem depois de concluir a atividade.
Figura 12 - Organizador de rotina com prancha inclinada e velcro
Fonte: MEC, 2010, p.16.

● Material escolar – É provável que a aluna, ou o aluno, com DM tenha dificuldades para
usar materiais comuns, como lápis, borracha, apontador e tesoura. Os recursos de TA
podem facilitar a participação do estudante. Sugerimos o uso de lápis ou caneta mais
grossos, como o lápis jumbo. Uma opção é fazer a adaptação com o EVA ou espuma,
conforme a figura abaixo. O lápis 6 B tem o grafite mais macio e pode facilitar a escrita.

Figura 13 - materiais adaptados com rolo de espuma e EVA


Fonte: Imagens ilustrativas da internet.

Considerações Finais
Olá, cursista!
Nesta semana você aprendeu a importância de estabelecer comunicação com estudantes
que têm deficiência múltipla, respeitando sua especificidade. Conheceu programas e softwares
gratuitos (como o Simplex e o Livox) para tornar suas estratégias pedagógicas mais efetivas para
eles.
Você aprendeu também que pode produzir recursos de baixo custo, que trazem mais
conforto às alunas e aos alunos com deficiência múltipla e aumentam sua funcionalidade. É
responsabilidade de toda a equipe escolar garantir a permanência e a aprendizagem desses alunos
na escola.
Esperamos que você ponha em prática o que aprendeu aqui para planejar aulas que
contemplem as especificidades de seus alunos com deficiências múltiplas.

Referências

ABDIM - Associação Brasileira de Distrofia Muscular. Disponível em:


https://www.abdimviverbemsemlimite.org.br/quem-somos/

ADB. Detetives Duchenne: distrofias musculares no contexto da escola e da sala de aula.


Guia teórico-prático. Disponível em:
https://detetiveduchenne.com.br/arquivos/AF_Guia-DistrofiaMuscular_13x19_5.
pdf

ASSISTIVA. Tecnologia e Educação. Comunicação alternativa. Disponível


em: https://www.assistiva.com.br/ca.html

BOATO, M. E. Henri Wallon e a deficiência múltipla: uma proposta de intervenção


pedagógica. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação Infantil. Saberes


e práticas da inclusão. Dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla.
Brasil, 2006. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deficienciamultipla.pdf

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.


Universidade Federal do Ceará. Ismênia Carolina Mota Gomes Bosco; Sandra Regina Stanziani
Higino Mesquita; Shirley Rodrigues Maia. A educação especial na perspectiva da inclusão
escolar: surdocegueira e deficiência múltipla. Brasília, 2010. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/docman/novembro-2010-pdf/7107-fasciculo-5-pdf/file

DIVERSA. Educação inclusiva na prática.Instituto Rodrigo Mendes. Disponível em:


https://diversa.org.br/

PLETSCH, M. D. Deficiência múltipla: formação de professores e processos de ensino-


aprendizagem. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/cp/v45n155/1980-5314-cp-45-155-00012.pdf

SOUZA, A. M. C.; FERRARETTO, I. (orgs.). Paralisia cerebral: aspectos práticos. São


Paulo: Memnon, 1998.

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