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Introdução
Deficiência múltipla é o termo usado para caracterizar mais de uma deficiência
apresentada por uma pessoa ao mesmo tempo, como a física e a intelectual. Cada vez mais
estudantes com diagnóstico de deficiência múltipla são recebidos em nossas salas de aula. Nesta
semana vamos apresentar as características de três tipos: paralisia cerebral, distrofia muscular e
surdo-cegueira. Eles foram escolhidos por serem quadros complexos, com prejuízos motores,
sensoriais e intelectuais.
As alunas e os alunos com esses tipos de deficiência possuem necessidades
educativas específicas. Por isso vamos falar de estratégias, recursos pedagógicos e TAs,
específicos de cada um. Vamos levar você a enxergar o potencial dos estudantes com
deficiência múltipla e ampliar seu repertório para ajudar na inclusão de cada um deles.
Muita gente imagina que a criança com comprometimento motor também tem
limitações cognitivas, subestimando, então, seu potencial de aprendizagem. Isso é um erro.
Ela pode aprender. É preciso, entretanto, conhecê-la para planejar os caminhos.
Lembre-se de manter o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) atualizado, com
informações sobre as medicações utilizadas pela aluna, ou pelo aluno, e os acompanhamentos
médicos e terapêuticos que realiza. O trabalho da equipe multidisciplinar - que inclui
fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicoterapia e psicopedagogia - é fundamental
para melhorar a qualidade de vida e o potencial de aprendizagem das habilidades motoras e
adaptativas da criança.
O filme indicado a seguir mostra a história de um homem com PC. As limitações do
corpo não foram capazes de conter o potencial criativo dele.
Alguns tipos de distrofia têm a DI como comorbidade. Por isso, o PDI deve estar sempre
atualizado com as informações referentes à equipe multidisciplinar e familiar. Dessa forma, você
tem clareza sobre os objetivos, as estratégias e os recursos necessários para atender às necessidades
educativas da aluna, ou do aluno.
Com a progressão da doença, ela, ou ele, gradativamente deixa de fazer ações simples do
dia a dia, como levantar os braços, escrever, comer sem ajuda, usar o banheiro ou conduzir a
própria cadeira de rodas. São necessários, portanto, diversos recursos de tecnologia assistiva (TA)
e suporte do profissional de apoio, que vai auxiliar o estudante no horário das refeições, nos
deslocamentos e na hora de ir ao banheiro.
É normal sentir insegurança ao dar assistência a alguém com DM. Quando não souber o
que fazer, pergunte à própria pessoa como ela quer ser ajudada. Ações como essa ajudam a criar
vínculos e atender às demandas específicas da pessoa.
1.3 Surdo-cegueira
As pessoas com surdo-cegueira demandam suporte e abordagem específicos. Para
entender essas especificidades, confira como elas se classificam:
● cegas que se tornaram surdas;
● surdas que se tornaram cegas;
● as que se tornaram surdo-cegas;
● as que nasceram surdo-cegas ou adquiriram surdo-cegueira precocemente.
As que estão nesse último grupo não tiveram a chance de desenvolver a linguagem ou
outro tipo de comunicação. A combinação das perdas visual e auditiva limita a experiência da
observação e da imitação. Essas pessoas não têm repertório para compreender o mundo, o que
limita o desenvolvimento cognitivo delas. O surdo-cego, porém, pode ter audição e visão
residuais. É importante ensiná-lo e incentivá-lo a usar o recurso, além dos demais sentidos, como
forma de estimular sua curiosidade.
Incluir um estudante surdo-cego pode parecer impossível, num primeiro momento, mas
não é! Inicie o contato acolhendo-o, sem fazer julgamentos nem prognósticos sobre o desempenho
dele. O estudante surdo-cego precisa reconhecer você de alguma forma. Isso pode acontecer por
meio do perfume ou de um acessório. Se a escolha for pelo acessório, ao se aproximar dele, mostre
o objeto, que pode ser uma pulseira ou um lenço, por exemplo.
Elabore o PDI para conhecer o estudante de forma integral e fazer seu plano pedagógico.
Por meio do plano, você vai descobrir o que ele sabe ou não fazer e a via de comunicação que
utiliza. Essa comunicação pode ser feita com base em códigos comunicativos estabelecidos entre
o aluno e o receptor, que pode ser um acompanhante, um cuidador ou o professor, por exemplo.
Esse profissional é um mediador, que proporciona a ampliação do que o aluno conhece sobre o
mundo, visando à sua autonomia e à sua independência.
As demandas e as características das pessoas com surdo-cegueira são específicas. A LBI
determina que o estudante com esse tipo de deficiência tem direito ao profissional de apoio e,
nesse caso, deve ser alguém com condições para se comunicar com ele e assim mediar sua
interação com o grupo. Esse profissional deve eventualmente ajudar no deslocamento dessa
criança e nos cuidados pessoais.
O tato é fundamental na comunicação. Uma técnica conhecida como mão sobre mão -
a mão do professor é colocada sobre a do estudante, para orientar o seu movimento - é bastante
usada. Ela é efetiva para mediar, além da comunicação com a aluna, ou o aluno, as descobertas
dela, ou dele, com relação ao espaço, aos objetos e às pessoas. A experiência do toque, a
princípio, pode ser desconfortável para a criança surdo-cega que chega ao ambiente escolar. É
previsível que haja um período de adaptação, durante o qual a professora, ou o professor, vai
conhecê-la e ela vai aceitar sua aproximação.
As libras também são utilizadas, mas são táteis, ou seja, os sinais são feitos por uma
pessoa enquanto a outra, surdo-cega, segura nas mãos dela.
Outra forma de comunicação é o tadoma. O surdo-cego coloca a mão sobre a mandíbula e o
pescoço da pessoa que está falando e a entende por meio da vibração da voz. O alfabeto manual é
outra forma comum de comunicação: o surdo-cego escreve a mensagem desenhando as letras na
palma da mão da pessoa com quem está se comunicando. O alfabeto pode ser em português ou
braille.
Assista ao vídeo indicado a seguir para compreender na prática como as pessoas surdo-
cegas se comunicam e podem ser autônomas.
Crianças que não tiveram acesso a alguma forma de comunicação adequada podem
comunicar o desconforto ou alguma necessidade usando a força física, por exemplo, batendo na
mão de quem entregar o lanche a ela.
Não se assuste com isso! O aluno não enxerga, não ouve e pode estar desconfortável por não ter
referência das pessoas e do lugar. Aproxime-se dele de forma delicada, para que se acostume com
sua presença e aceite seu toque.
É comum observar as crianças se autoestimulando (balançando-se, batendo palmas,
movendo o dedo na frente dos olhos, por exemplo). Essa movimentação é confundida com
autismo ou DI, mas pode acontecer devido à falta de estímulos externos. Essa é uma forma de
autorregulação e não deve ser repreendida. Direcione a aluna, ou o aluno, a algo funcional, como
tocar em um material com textura confortável ou aprender os sinais da libras tátil. No filme
indicado a seguir, você vê o trabalho de Anne Sullivan para ensinar a língua de sinais a Helen
Keller e para direcionar sua forma de explorar o mundo ao redor.
● Jogos cooperativos – Promova atividades nas quais cada aluno colabore como pode e
todos ganham. Esse é o princípio dos jogos cooperativos. O foco é realizar a tarefa ou o
desafio com a colaboração de todos. Uma opção é o jogo de vôlei com bexiga. São
montados dois times e cada um ganha um lençol. Os integrantes de cada time seguram mas
bordas de seu lençol e, com ele, devem jogar uma bexiga para o outro lado da quadra, sem
deixá-la cair no chão. O aluno pode ficar sentado na cadeira de rodas, em pé com sua ajuda
ou ter o apoio de um colega.
● Corre cotia - Adapte a brincadeira e oriente a turma toda a correr sentada. Os estudantes
vão adorar a novidade, e a aluna, ou o aluno, com deficiência poderá participar com os
demais.
Acrescente o corante da cor que desejar e outros materiais, como botões e glitter. Retire
todo o ar do saco e vede-o com silver tape ou outra fita. Para estabilizar o saco, coloque-o
sobre uma placa de papelão grosso e fixe-o com a fita.
A criança surdo-cega precisa ter algum material que ela possa movimentar junto com o
gel, como um botão ou uma bolinha. No início, você pode guiar a mão dela sobre o
percurso desenhado. Ela vai gostar da sensação tátil.
Figura 2 – Escrita e jogo sensorial com gel
● Escrita em caixa de areia - Outra opção para trabalhar a escrita sensorial é colocar areia
colorida numa caixa de sapato. A reia pode ser substituída por outro material que
proporcione sensação tátil, como pedrinhas, sal grosso, terra e folhas.
● Mobiliário adaptado - O ideal é que criança tenha cadeira adequada às suas necessidades,
mesa recortada para encaixar a cadeira de rodas e prancha inclinada. Modelos como o
mostrado a seguir são de alto custo.
● Cadeira de plástico adaptada - Você pode revestir o assento e o encosto de uma cadeira
de plástico comum com rolos de espuma, como
neste m odelo. Para melhorar a estabilidade da cadeira, coloque cada
um dos pés dela em uma lata de leite em pó com cimento. Aguarde a secagem para
liberá-la ao uso.
● Colher adaptada - Para ajudar alunos com deficiência múltipla a ter autonomia nas
atividades de vida diária, você pode, por exemplo, adaptar uma colher. É possível
entortar o cabo de um talher comum para facilitar a chegada da comida à boca. Pode-se
ainda engrossar o cabo do talher com EVA e rolo de espuma ou usar tiras de velcro para
deixá-lo mais estável na mão do estudante.
Figura 7 - Colheres adaptadas
Fontes: Imagens ilustrativas da internet.
● Organizadores de rotina - Crianças com deficiência múltipla podem ter dificuldade para
entender a rotina das aulas e a transição entre uma atividade e outra. Como se
desorganizam com mudanças bruscas, é importante que elas sejam comunicadas sobre a
troca de atividades ou o horário do lanche, por exemplo.
● Material escolar – É provável que a aluna, ou o aluno, com DM tenha dificuldades para
usar materiais comuns, como lápis, borracha, apontador e tesoura. Os recursos de TA
podem facilitar a participação do estudante. Sugerimos o uso de lápis ou caneta mais
grossos, como o lápis jumbo. Uma opção é fazer a adaptação com o EVA ou espuma,
conforme a figura abaixo. O lápis 6 B tem o grafite mais macio e pode facilitar a escrita.
Considerações Finais
Olá, cursista!
Nesta semana você aprendeu a importância de estabelecer comunicação com estudantes
que têm deficiência múltipla, respeitando sua especificidade. Conheceu programas e softwares
gratuitos (como o Simplex e o Livox) para tornar suas estratégias pedagógicas mais efetivas para
eles.
Você aprendeu também que pode produzir recursos de baixo custo, que trazem mais
conforto às alunas e aos alunos com deficiência múltipla e aumentam sua funcionalidade. É
responsabilidade de toda a equipe escolar garantir a permanência e a aprendizagem desses alunos
na escola.
Esperamos que você ponha em prática o que aprendeu aqui para planejar aulas que
contemplem as especificidades de seus alunos com deficiências múltiplas.
Referências