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EDUCAÇÃO ESPECIAL preciso permitir ao aluno que tenha


acesso a tudo, por outras vias, que
Introdução eliminem as barreiras existentes. Isso
poderá ocorrer por meio de alternativas
A inclusão da pessoa com deficiência diversas (jogos, brincadeiras e
no âmbito escolar é um debate atual experimentação de diferentes
que demanda a organização de várias estratégias) que o professor precisará
propostas de trabalho, pelas buscar para tratar dos conhecimentos em
especificidades inerentes à pessoa sala de aula, perpassando, portanto,
humana e pelas diversas barreiras como se disse anteriormente, pela
existentes no contexto escolar. sensibilização, criatividade e formação
necessárias a esse professor.
Ao se pensar essa inclusão é importante
refletir acerca do que é incluir de fato, já Assim, dentro da perspectiva social de
que se trata de um tema polêmico do deficiência podemos afirmar que a
ponto de vista da prática educacional. pessoa com deficiência procura outro
De acordo com Sassaki (2006), a percurso de desenvolvimento distinto
integração propõe a inserção parcial do daquele que está impedido
sujeito, enquanto que a inclusão propõe biologicamente (VYGOTSKY, 2004). A
a inserção total. Para isso, a escola, pessoa cega, por exemplo, aprende e se
como instituição que legitima a prática desenvolve na busca de novos acessos,
pedagógica e a formação de seus cognitivos e sociais, utilizando-se do
educandos, precisa romper com a braile e de recursos de tecnologia de
perspectiva homogeneizadora e adotar informação e comunicação acessíveis.
estratégias para assegurar os direitos Já a pessoa surda, usuária da língua de
de aprendizagem de todos. Contudo, sinais, tem acesso ao objeto de
tais estratégias dependem das conhecimento por meio dessalíngua.
especificidades de cada pessoa, da
experiência, e da criatividade e É importante ressaltar que a concepção
observação do professor com de que os alunos não começam sua
sensibilidade e acuidade, além de uma apropriação do sistema de escrita
formação inicial e continuada que o alfabética do zero também é válida
encaminhe para isso. para as crianças com deficiência
(REILY, 2004). A escola deve
Documentos, como, por exemplo, a disponibilizar recurso e tecnologia
Declaração de Salamanca (1994), assistiva, a fim de promover condições
defendem que o princípio norteador da de acessibilidade, segurando, assim,
escola deve ser o de propiciar a mesma plena participação e possibilidade de
educação a todas as crianças, aprendizagem às crianças com
atendendo às demandas delas. Nessa deficiência em igualdade de
direção, a inclusão traz como eixo oportunidade com as demais crianças.
norteador a legitimação da diferença
(diferentes práticas pedagógicas) em No âmbito da teoria sócio-histórica, uma
uma mesma sala de aula para que o educação inclusiva deve ser
aluno com deficiência possa acessar o fundamentalmente de caráter coletivo e
objeto de conhecimento. “Acessar” aqui considerar as especificidades dos
tem um papel crucial na legitimação da estudantes. Por meio das interações
diferença em sala de aula, pois é sociais, e pela mediação semiótica, dá-se
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a reorganização do funcionamento As causas são as mais diversas. Em


psíquico de pessoas com e sem seguida serão apresentadas algumas:
deficiência, favorecendo-lhes o
desenvolvimento superior. Paralisia Cerebral:
Por prematuridade; anóxia perinatal;
desnutrição materna; rubéola;
A Deficiência Física toxoplasmose; trauma de parto;
1.1 O que é deficiência física? subnutrição.

Definição: -Hemiplegias: por acidente vascular


A deficiência física refere-se ao cerebral; aneurisma cerebral; tumor
comprometimento do aparelho locomotor cerebral.
que compreende o sistema
osteoarticular, o sistema muscular e o -Lesão Medular: por ferimento por arma
sistema nervoso. As doenças ou lesões de fogo; ferimento por arma branca;
que afetam quaisquer desses sistemas, acidentes de trânsito; mergulho em
isoladamente ou em conjunto, podem águas rasas; traumatismos diretos;
produzir quadros de limitações físicas de quedas; processos infecciosos;
grau e gravidade variáveis, segundo(s) processos degenerativos.
segmento(s) corpora(is) afetado(s) e o
tipo de lesão ocorrida. -Malformações congênitas: por
exposição à radiação; uso de drogas;
Tipos/características: causas desconhecidas.
-• Lesão cerebral (paralisia cerebral,
hemiplegias) -Artropatias: por processos
-• Lesão medular (tetraplegias, inflamatórios; processos degenerativos;
paraplegias) alterações biomecânicas; hemofilia;
-• Miopatias (distrofias musculares) distúrbios metabólicos e outros.
-• Patologias degenerativas do sistema
nervoso central (esclerose múltipla, Fatores de risco:
esclerose) Violência urbana
-• Lesões nervosas periféricas -•
Amputações -Acidentes de trânsito
-• Seqüelas de politraumatismos -Acidentes desportivos
-• Malformações congênitas -Alto grau de estresse
-• Distúrbios posturais de coluna -Tabagismo
-• Seqüelas de patologias da coluna -Maus hábitos alimentares
-• Distúrbios dolorosos da coluna -Uso de drogas -Sedentarismo
vertebral e das articulações dos -Epidemias/endemias
membros -Agentes tóxicos
-• Artropatias -Falta de saneamento básico
-• Reumatismo inflamatório da coluna e
das articulações Sinais de alerta:
-• Doenças osteomusculares (DORT) -Atraso no desenvolvimento
-• Seqüelas de queimaduras neuropsicomotor do bebê (não firmar a
cabeça, não sentar, não falar no tempo
Causas: esperado).

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-Perda ou alterações dos movimentos, Esta mesma criança é um ser com


da força muscular ou da sensibilidade em direitos. Existe, sente, pensa e cria. Pode
membros superiores ou inferiores. não ver, mas não tem dificuldades em
-Erros inatos do metabolismo. orientar-se ou fazer música. Pode não
-Doenças infecto-contagiosas e crônico- aprender conteúdo específico do
degenerativas. currículo, mas pode destacar-se em uma
-Gestação de alto risco Realizar exames atividade esportiva. Pode não ouvir, mas
pré e pós-natais favorecem a escreve poesia.
identificação e a prevenção primária e
secundária desses sinais de alerta, Segundo a confirmação da investigação
minorando assim o agravamento dos e da prática clínica, a criança com
quadros de limitação e de incapacidade. paralisia cerebral, que é um dos tipos da
deficiência física, apresenta
Dados estatísticos: essencialmente um comprometimento
A OMS (Organização Mundial de Saúde) neuromotor. Porém, parece-nos bastante
estima que, em tempos de paz, 10% da óbvio que, quando frente às que
população de países desenvolvidos são apresentam um grau de
constituídos de pessoas com algum comprometimento severo, temos de
tipo de deficiência. Para os países em discutir suas possibilidades e
vias de desenvolvimento estima-se de 12 oportunidades de inclusão caso a caso,
a 15%. Desses, 20% seriam portadores pois algumas delas necessitam de
de deficiência física. Considerando-se o adaptações complexas e
total dos portadores de qualquer individualizadas.
deficiência, apenas 2% deles recebem
atendimento especializado, público ou As convicções sociais que caracterizam
privado. (Ministério da Saúde – a noção de normalidade e ideal têm de
Coordenação de Atenção a Grupos ser amplamente debatidas, pois geram
Especiais, 1995). confusões e adiam a resolução dos
problemas. Temos, cada vez mais, de
1.2 Quem é o deficiente físico? reconhecer que o conceito de
Claude Lévi-Strauss (o mesmo normalidade não pode se reduzir a um
antropólogo cantado por Caetano Veloso sentido biológico, ele tem de incluir um
em “Estrangeiro”) disse que as conceito de realização no sentido social.
diferenças existem, devem ser
reconhecidas e assumidas e não A deficiência física pode apresentar
escondidas. Somos natural e comprometimentos diversos das funções
biologicamente diferentes: nascemos motoras do organismo físico que variam
branco, negro, amarelo, vermelho ou em número e grau, de indivíduo para
mestiço, homem ou mulher. Isso não indivíduo dependendo das causas e da
quer dizer que necessariamente abrangência.
devamos ser desiguais. Diferença e
desigualdade não são a mesma coisa. As Esses comprometimentos relativos a
crianças com deficiências, apresentam deficiência física podem apresentar-se
características que fogem do como:
convencionado padrão de normalidade,
mas devem ser consideradas com •-leve cambalear no andar;
características individuais.

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-necessidade do uso de muletas ou conjunto de transformações embrionárias


andador adequados para auxiliarem a e pós- embrionárias pelas quais passa o
execução da marcha; organismo vertebrado desde a fase do
-uso de cadeira de rodas que pode ser ovo até a forma adulta (GOULD, 1977).
manobrada pelo aluno;
-uso de cadeira de rodas manobrada por Duas correntes teóricas no
terceiros devido á impossibilidade do interacionismo, a elaborada por Piaget e
aluno; seus seguidores e a defendida por
-uso de cadeira de rodas motorizada teóricos soviéticos, em especial
que poderá ser acionada por qualquer Vygotsky, dão sustentação aos
parte do corpo onde predomine alguma referenciais teóricos analisados e
função voluntária. apropriados quanto à solicitação da
Esses problemas poderão estar criança com deficiência física.
associados ou não a:
Para Piaget, o desenvolvimento
-dificuldades de linguagem ( disartria, cognitivo da criança ocorre por meio de
anartia,...); constantes desequilíbrios e equilibrações.
-dificuldades visuais ( estrabismo, O aparecimento de uma nova
nistagmo, visão sub-normal,...); - possibilidade orgânica na criança ou a
dificuldades auditivas com possibilidade mudança de alguma característica do
de compensação com uso de aparelho meio ambiente, por mínima que seja,
específico; provoca a ruptura do estado de repouso -
•-semi-dependência para atividades da da harmonia entre o organismo e o meio
vida diária (AVD): - causando um desequilíbrio. São dois os
*higiene; mecanismos acionados para alcançar um
*alimentação; novo estado de equilíbrio. O primeiro
*uso do banheiro; recebe o nome de assimilação e o outro,
*escrita; acomodação.
*desenho;
*atividades que necessitem coordenação Piaget ainda divide a fase de
motora fina. desenvolvimento em dois períodos:
• -problemas do desenvolvimento período da inteligência sensorial-motora,
cognitivo: que vai do nascimento até os dois anos
*dificuldades para o “fazer”; de idade (constituído de seis estágios), e
*dificuldades para o “compreender o que período pré-operacional, compreendido
está sendo visto”; entre dois e sete anos de idade.
*dificuldades para compreender a
linguagem. No interacionismo proposto por
Vygotsky encontramos uma visão de
1.3 Abordagens teóricas para crianças desenvolvimento baseada na concepção
com deficiência física em decorrência de um organismo ativo, cujo pensamento
da paralisia cerebral é construído paulatinamente num
ambiente que é histórico e, em
É hoje consensual, de acordo com os essência, social. Nessa teoria é dado
grandes teóricos do desenvolvimento destaque às possibilidades que a criança
humano, que a ontogênese e a dispõe a partir do ambiente em que vive.
socialização estão fundidas na realização O pensamento infantil, amplamente
do ser humano. A ontogênese traduz o guiado pela fala e pelo comportamento
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dos mais experientes, gradativamente formação do pensamento é portanto


adquire a capacidade de se auto- despertado e acentuado pela vida social
regular. Para Vygotsky o processo de
e pela constante comunicação que se mental e/ou epilepsia” (BOBATH, 1984,
estabelece entre crianças e adultos, a p.1)
qual permite a assimilação da De uma forma mais simplificada
experiência de muitas gerações. podemos dizer que paralisia cerebral
(PC) é uma deficiência motora
Paralisia Cerebral ocasionada por uma lesão no cérebro.
2.1 O que é paralisia cerebral?
Quando se diz que uma criança tem
“A paralisia cerebral é definida como uma paralisia cerebral significa que existe uma
desordem do movimento e da postura deficiência motora consequente de uma
devido a um defeito ou lesão do cérebro lesão no cérebro quando ele ainda não
imaturo” (...). A lesão cerebral não é estava completamente desenvolvido.
progressiva e provoca debilitação variável
na coordenação da açãomuscular, com Entendendo melhor: ao contrário do que
resultante incapacidade da criança em o termo sugere, “paralisia cerebral” não
manter posturas e realizar movimentos significa que o cérebro ficou paralisado. O
normais. Esta deficiência motora central que acontece é que ele não comanda
está freqüentemente associada a corretamente os movimentos do corpo.
problemas de fala, visão e audição, Não manda ordens adequadas para os
com vários tipos de distúrbios da músculos, em consequência da lesão
percepção, um certo grau de retardo sofrida.

Na criança com paralisia cerebral deve- as mãos para comer, ao escrever, ao


se perceber como dificuldades típicas as se equilibrar, ao falar, ao olhar ou
seguintes características: alterações no qualquer outra atividade que exija
desempenho motor ao andar, ao usar controle do corpo e coordenação motora
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adequada, assim como são utilizadas para descrever tais


comprometimentos das funções déficits. De uma forma geral, deve ser
neurovegetativas (sucção, mastigação e feita por tipo clínico e pela divisão da
deglutição). localização da lesão no corpo ( Souza,
1998).
Além das dificuldades motoras, essas
crianças podem apresentar deficiências Classificação por tipo clínico
sensoriais e intelectuais, ou seja, Esta classificação tenta especificar o tipo
dificuldades para ver, ouvir, assim como da alteração de movimento que a criança
para perceber as formas e texturas dos apresenta:
objetos com as mãos. Pode ainda estar
afetada a noção de distância, direita e 1 - Espástica: Os músculos são muitos
esquerda, de espaço, etc. Essas tensos, o que limita ou impossibilita os
dificuldades podem se combinar das movimentos do corpo. A criança
mais variadas maneiras, nos mais espástica é dura demais para mover-se,
diversos graus de gravidade, segundo a todo movimento é lento e exige um
área do cérebro atingida e a extensão grande esforço. É o tipo mais comum de
da lesão. Dessa forma, uma criança paralisia cerebral;
poderá ter a movimentação pouco 2 - Extrapiramidal: A lesão ocorreu em
afetada e apresentar sérias dificuldades uma região do cérebro
intelectuais, como pode também chamada núcleos da base. Os
acontecer o contrário. músculos possuem um grau de tensão
variável, o que resulta em uma
É importante ressaltar que, mesmo com realização de movimentos indesejáveis,
muitas definições dadas ao termo involuntários. É o segundo tipo mais
paralisia cerebral, todos os autores comum de paralisia cerebral e pode ser
assinalam algumas características de dividido em:
fundamental importância para a
compreensão dessa disfunção cerebral: 2.1 - Atetóide: Há variação no grau de
tensão dos músculos das extremidades
-Paralisia cerebral não é doença, mas do corpo (em relação aos braços, essa
uma condição especial, que variação ocorre nas mãos), levando à
frequentemente ocorre em crianças realização de movimentos lentos,
antes, durante ou logo após o parto, e contínuos e indesejáveis, que são muito
quase sempre é o resultado da falta de difíceis de dosar e controlar. A criança
oxigenação no cérebro. atetóide tem grande dificuldade de
-Os efeitos da paralisia cerebral variam realizar o movimento voluntário e manter
grandemente de pessoa para pessoa. a mesma postura por muito tempo;
Na forma mais leve, a PC pode resultar
em movimentos desajeitados ou em 2.2 - Coréico: Há variação no grau de
controle deficiente das mãos. Na sua tensão dos músculos das raízes dos
forma mais severa, a PC pode resultar membros (em relação ao braço, esta
em falta de controle muscular, afetando variação ocorre nos ombros), levando à
profundamente os movimentos globais e realização de movimentos rápidos e
a fala. indesejáveis. A criança coréica pode ter
-Paralisia cerebral é um termo genérico dificuldade para realizar o movimento
para descrever um grupo heterogêneo de voluntário;
déficits motores. Várias classificações
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2.3 - Distônico: Há um aumento Cabe ressaltar que é muito comum haver


repentino da tensão do músculo, levando uma combinação desses tipos de
à fixação temporária de um segmento do paralisia cerebral apresentados,
corpo em uma postura extrema; caracterizando o que alguns autores
3 - Atáxico: A lesão ocorreu em uma chamam de paralisia cerebral mista.
região do cérebro chamada cerebelo,
responsável, entre outras coisas, pelo Dependendo da localização do corpo
equilíbrio. Os movimentos são que foi afetada, os tipos abaixo
incoordenados e bruscos. Pode haver a apresentam subdivisões que poderíamos
presença de um certo tremor. A chamar de anatômicas:
criança atáxica tem dificuldade em
manter uma postura parada. É um tipo
raro de paralisia cerebral.

Para evitar confusão, não usamos termos tornam o diagnóstico confuso; estas
que o leitor pode encontrar em outras classificações também baseiam-se no
publicações, como paraplegia, triparesia, local do corpo acometido.
dupla hemiplegia, etc. Todos são
termos adicionais que muitas vezes

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A classificação por severidade do atender pessoas com necessidades


comprometimento motor, isto é, leve, especiais.
moderado e severo ou grave, é
geralmente usada em combinação com a Nesse sentido, a educação especial
classificação anatômica e a clínica: por poderia ser considerada
exemplo hemiparesia espástica grave predominantemente provedora de
(SOUZA & FERRARETTO,1998). serviços a uma clientela específica nas
classes de educação especial e
2.2 Perfil da criança paralisada cerebral instituições especializadas, mais
em relação ao processo de propícias ao respectivo tratamento a
desenvolvimento ser dado à sua clientela. Diante dessa
realidade, encontramos a existência de
O desenvolvimento global de uma dois sistemas paralelos de educação: o
criança acometida por lesões cerebrais regular e o especial.
será mais lento em todos os aspectos.
Dados da normatização da Lei de
Quando imaginamos o “fazer” da criança, Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº
logo pensamos no seu brincar. O brincar 9.394/96, Cap. V, da Educação Especial:
é o meio pelo qual a criança constrói,
executa, aprende. A criança com “Entende-se por Educação Especial, para
paralisia cerebral, como consequência os efeitos desta Lei, a modalidade de
da sua incapacidade de movimentar-se, educação escolar oferecida
de explorar o ambiente etc. terá muita preferencialmente na rede regular de
dificuldade para esse brincar, sendo ensino para educandos portadores de
assim, seu construir, executar, aprender necessidades especiais”.
ficam prejudicados. Segundo Piaget, Desde a Declaração de Salamanca, em
nossa capacidade de explorar 1994 (BRASIL, 1997), passou-se a se
fisicamente os objetos faz com que considerar a inclusão dos alunos com
classifiquemos e estabeleçamos uma necessidades educacionais especiais
ordem entre eles. Dessa forma, quando em classes regulares como a forma
observamos a criança com paralisia mais avançada de democratização das
cerebral, constatamos sua incapacidade oportunidades educacionais, à medida
de construir esquemas para executar que se considerou que a maior parte
certas atividades em função de suas dessa população não apresenta qualquer
dificuldades motoras, sensoriais e característica intrínseca que não permita
cognitivas, prejudicando grandemente o essa inclusão, “a menos que existam
brincar. Devemos então propiciar os fortes razões para agir deoutra forma.”
momentos do brincar tornando-o (p.2)
facilitador para essas crianças, Diante destas constatações, as práticas
interagindo com elas como sendo parte sociais e o fortalecimento de ideais
ou extensão do seu próprio corpo. É o democráticos e seus reflexos nas
fazer com ela e não o fazer por ela. formulações de políticas em diversas
áreas (educacional, social, de saúde,
Igualdade de Oportunidades trabalho), e no planejamento e
implementação das respectivas práticas,
A educação especial, até duas ou três a “especialidade” da educação especial
décadas atrás, tinha como propósito tem sido colocada em questão.

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Da mesma forma que a educação inverso. As escolas devem, portanto,


especial, a educação regular também oferecer oportunidades curriculares que
sofre suas consequências: o contingente se adaptem a alunos com diferentes
do fracasso escolar de excluídos interesses, potencialidades e
formaliza, portanto, a necessidade de o capacidades.
sistema educacional rever suas práticas
educativas, apesar de muitas ações A fim de acompanhar o progresso de
nesse sentido virem sendo realizadas. cada aluno, os procedimentos de
avaliação devem ser revistos, buscando
3.1 Currículo uma proposta que respeite o
O currículo utilizado com os alunos com desempenho e o processo de construção
necessidades educacionais especiais, do conhecimento de cada um.
estejam eles incluídos no sistema regular
de ensino ou em escolas especializadas, O grande desafio é desenvolver uma
é o das diretrizes curriculares nacionais pedagogia centrada no aluno capaz de
para as diferentes etapas e propiciar o desenvolvimento de
modalidades da educação básica: habilidades e competências de acordo
educação infantil, educação fundamental, com a capacidade motora, intelectual,
ensino médio, educação de jovens e enfim, uma pedagogia que atenda as
adultos e educação profissional (BRASIL, diferenças individuais.
2001).
Respeitar a origem, o conhecimento
Atender as necessidades educacionais prévio, os interesses, enfim, a
especiais dos alunos dentro da diversidade, incluindo os alunos com
diversidade escolar requer uma postura necessidades educacionais especiais,
educativa adequada, que abrange deve-se oferecer diferentes formas de
graduais e progressivas adaptações de apoio, desde uma ajuda mínima em
acesso ao currículo, bem como classes comuns ou participação em
adaptações de seus elementos. Como serviços de apoio especializado na
exemplo, podemos citar trabalhos que escola.
tem como propósito o desenvolvimento
de projetos pedagógicos, com temáticas A participação da família torna-se cada
interessantes e significativas sugeridas vez mais importante no cotidiano da
pelos próprios alunos, que se constituem escola, no acompanhamento de suas
em elementos corresponsáveis pelo ações, no centro de construção da
trabalho e pelas escolhas, ao longo do cidadania e nas contribuições coletivas,
desenvolvimento do projeto. Formar- se- e tem como objetivo a integração entre
á, assim, uma equipe, que será escola e comunidade.
responsável pela divisão do trabalho,
estabelecendo parcerias, É importante estabelecer uma parceria
desenvolvendo competências e trabalhos entre escola e família, propiciando
cooperativos. Diante dessa realidade participação efetiva desta última no
todos são importantes, cada aluno pode ambiente escolar, com o objetivo de
oferecer suas contribuições e prestar suporte à execução das
desenvolver competências de acordo atividades de aprendizagem e de
com suas capacidades e possibilidades. socialização aos alunos severamente
O currículo deve ser adaptado às comprometidos. Esse será mais um
necessidades dos alunos e não o apoio, que somará à assessoria dada
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pelos professores especialistas e equipe do conhecimento. Os programas oficiais


de apoio externo. de formação de professores
especializados em Educação Especial
Entendemos por currículo um projeto exerceram e exercem um papel
global e integral de cultura e educação, significativo nesse sentido.
no qual elementos como matérias e
conteúdos escolares constituem parte Um movimento aparentemente alentador
integrante e não totalitária do mesmo. verificou-se no final da década de 60,
Cada vez mais se desvela a necessidade quando o Conselho Federal de Educação
de repensar as propostas curriculares e – CFE emitiu um parecer que defendia
os projetos educativos para mudar as que a formação de professores de
práticas existentes, implicando em um educação especial fosse elevada ao
envolvimento de professores nas nível superior (Parecer CFE Nº 295/69).
questões de um aprendizado significativo
e interessante, que atenda a grande Passados mais de trinta anos, porém,
diversidade que há nas escolas. aquela proposta não somente não se
concretizou, como foi flexibilizada
As inovações curriculares e os novos mediante a promulgação da nova Lei de
projetos educativos têm de nascer na Diretrizes e Bases (Lei nº9.434, de
própria escola, abrangendo as diferenças 20/12/96). No inciso III do artigo 59, a
que nela se encontram com relação a nova LDB prevê que a escola especial
raça, etnia, culturas, especificidades deva contar com “professores com
decorrentes de deficiências, interesses, especialização adequada em nível médio
etc. As propostas partem primeiramente ou superior, para atendimento
de uma descentralização de poder, especializado”.
modificando, portanto, uma hierarquia Acredita-se que na formação inicial de
instituída. Esse movimento causa uma professores devam obrigatoriamente ser
reorganização das funções dentro da incluída nos currículos oficiais das
escola, mudando as relações de poder. universidades disciplinas que discutam
Professores não mais se preocupam aspectos científicos, sociais e
somente com as atividades para os educacionais que permeiam as
alunos; diretores não mais decidem deficiências, bem como estágios em
sozinhos questões administrativas; instituições que ofereçam trabalhos
documentos oficiais são analisados direcionados para as necessidades
criteriosamente quanto às questões do educacionais de seus alunos.
que ensinar; pais, alunos e
comunidades são grupos de indivíduos Importante aspecto a considerar, nesse
atuantes em todas as instâncias processo, é a formação continuada do
escolares. Diante dessa necessidade, professor, e constatamos que “as escolas
se faz necessário pensar a respeito de não podem mudar sem o empenhamento
diversos elementos do processo dos professores; e estes não podem
educacional, entre eles: mudar sem uma transformação das
instituições em que trabalham” (NÓVOA,
3.2 Perspectivas de formação de 1992, p.28).
professores
Nas décadas de 80 e 90, a educação 3.3 Formação continuada
especial apresentou avanços importantes A formação continuada, centrada nas
quanto à integração das diferentes áreas atividades desenvolvidas no cotidiano da
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sala de aula, nos problemas reais e formação mútua, assumida como um


cotidianos do professor, na realidade da processo interativo e dinâmico. Dessa
escola e da instituição em que ela está perspectiva de interação entre os
inserida aponta, como afirma García profissionais e os contextos em que
(1992), para uma ampla possibilidade de estão inseridos nasce um novo sentido
valorização da prática como elemento para as práticas de formação de
de análise e reflexão do professor, na professores diante da diversidade
qual este assume dimensões educacional que encontramos nos
participativas, ativas e investigadoras. contextos escolares.

Disso decorre que, a cada etapa de Disso decorre que a formação


formação e de transformação nas continuada do professor não é uma ação
práticas pedagógicas, seguem-se independente e isolada. É necessário
análises críticas de suas consequências, que as escolas e todos os elementos que
levando, eventualmente, a uma mudança fazem parte do processo educacional se
de rota, rumo a novos mares do envolvam no sentido de gerar
processo educacional, mares transformação e sensibilização para
desconhecidos ainda, cujo fascínio e atender às necessidades educacionais
profundidade, porém, nos convidam a especiais de seus alunos.
conhecê-los melhor. Mergulhar nas
novas ações, além disso, requer o O processo de sensibilização e
compartilhamento dos problemas, aperfeiçoamento dos profissionais da
angústias e incertezas surgidas dos escola deverá propiciar a interação de
novos olhares e atitudes adotados, da adultos com experiências bem sucedidas
experimentação e da nova vivência, em suas vidas pessoais e profissionais,
refletidas e reelaboradas pelo corpo a fim de desmistificar tabus, e a troca de
docente de maneira coletiva. De fato, experiências práticas, proporcionando,
segundo Nóvoa (1992), os espaços e dessa forma, ações pedagógicas
trabalhos coletivos se constituem como realistas no que concerne ao “ viver” e
instrumentos poderosos de formação, a “fazer” do deficiente físico. Essa ação é
qual, por sua vez, implica em uma incentivada na Declaração de
mudança de atitude por parte dos Salamanca, também relacionada
professores e das escolas. diretamente à formação pessoal e
profissional do aluno com deficiência
Portanto, o desenvolvimento da física.
formação requer um plano de ação
voltado para a inovação que valorize os 3.4 Informática na educação:
grupos envolvidos e respeite o processo perspectivas de inclusão
de cada professor. Esse processo, já
afirmado anteriormente, incluirá não A amplitude de recursos oferecida pela
somente o trabalho de reflexão crítica informática representa uma contribuição
sobre as práticas, mas também a inestimável para o alcance de inúmeros
reconstrução permanente da identidade objetivos da escola regular que atende
pessoal. A troca de experiências e o pessoas com necessidades especiais.
diálogo nesse contexto constituem Dentre os inúmeros, citamos a
componentes essenciais, permitindo a possibilidade da comunicação
compreensão do outro em sua totalidade alternativa, intermediada por interfaces,
e o estabelecimento de espaços de e o uso da tecnologia para a construção
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do conhecimento. É também um recurso análise para o campo da ação, na busca


poderoso como instrumento de análise efetiva do resgate de situações, de
das dificuldades intelectuais, permitindo vivências, de experiências que
explorá-las e até minimizá-las, promovam a construção desse sujeito,
possibilitando, desta forma, um feedback com objetivo de oferecer-lhe
do desenvolvimento intelectual e a oportunidades iguais para o
elaboração de ideias (NARDI,1998). desenvolvimento de toda sua
potencialidade.
A partir de experiências da utilização das
tecnologias da informação e 4.2 Desenvolvimento neuropsicomotor
comunicação em instituições ou classes
de educação especial, percebemos o O desenvolvimento infantil da criança
quanto a tecnologia pode ser útil, sem deficiência é o ponto de partida
abrangendo desde as possibilidades de ou o parâmetro para se fazer qualquer
expressão de uma ideia por meio de avaliação da criança que apresenta
um editor de texto, de um editor de deficiência física e, em especial, a
desenhos, de software específicos para decorrente de paralisia cerebral, que
comunicação alternativa até produções abrange um universo maior de
que têm como proposta a construção do comprometimentos, no qual toda
conhecimento, utilizando software de experiência pedagógica adquirida poderá
autoria, manipulação de banco de dados, ser estendida e aplicada com outras
construção e transformações de gráficos, crianças cuja deficiência física tenha
planilhas e recursos da internet. outras origens que não só a neurológica.
Partindo desse ponto de vista, é
Aspectos Educacionais Importantes importante lembrar alguns princípios
para a Prática Pedagógica básicos do desenvolvimento de toda
criança:
4.1 Desenvolvimento e aprendizagem
da criança com necessidades • o desenvolvimento se processa no
educacionais especiais em decorrência sentido da cabeça para os pés.
da deficiência física Primeiramente, controla os olhos e
progressivamente, percebe, estabelece
Para a melhor compreensão do processo contato, busca e fixa a visão; depois
evolutivo da criança com necessidades percebe as mãos e, aos poucos,
educacionais especiais em deficiência descobre o poder de preensão e força
física decorrentes de problemas que elas têm para pegar, agarrar,
neurológicos, tais como a encefalopatia puxar, manipular; com ajuda dos braços
crônica não-progressiva, popularmente busca alcançar, apoiar, e, futuramente,
chamada de paralisia cerebral, a passa a ter domínio das pernas e dos
mielomeningocele, ou de qualquer outra pés usando-os em seu benefício na
manifestação física de causa não exploração do meio. Assim, um bebê,
neurológica, que provoque anomalias primeiramente, vê um objeto, para depois
motoras com o impedimento parcial ou poder alcançá-lo com as mãos; controla
total das funções corporais na interação primeiro a cabeça, depois o tronco, e a
com o meio, é necessário estabelecer seguir, aprende a sentar, e assim
um paralelo com o desenvolvimento da sucessivamente; aprende a fazer muitas
criança normal, para que, dessa forma, coisas com as mãos bem antes de
possa o educador sair do campo da andar;
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• o desenvolvimento se processa da diferentes e particulares a cada uma.


área central do corpo para as Essa construção de sua pessoa e de
periféricas como um processo que se seu conhecimento do mundo nada mais é
irradia: primeiro, o bebê adquire a do que uma autoorganiza ção que o
capacidade para usar o braço e a coxa, meio, e especialmente as pessoas,
depois as mãos e os pés, e finalmente, podem facilitar ou não. É muito
seus dedos. Dessa forma, observa-se importante lembrar que o
que o desenvolvimento da criança desenvolvimento da criança com
acompanha a mesma sequencia da deficiência realiza-se como o da criança
formação do embrião (cabeça, tronco e sem deficiência, no qual as etapas da
membros); conquista de autonomia e de
• o desenvolvimento parte do geral para o conhecimento seguem a mesma ordem
específico, dos grandes para os e acontecem pelas mesmas razões. As
pequenos músculos e depois se amplia divergências que poderão existir entre o
do simples para o complexo. (Ex.: desenvolvimento dessas crianças se
preensão). restringem às fases do desenvolvimento,
No desenvolvimento da linguagem, o e na criança comprometida pela
choro é o primeiro tipo de comunicação deficiência física poderão não ocorrer de
do bebê, depois o balbucio se faz acordo com a cronologia estabelecida
presente, para mais tarde usar as pelos teóricos que embasam a nossa
palavras e, finalmente, frases. Dessa prática. Elas poderão iniciar mais tarde,
forma podemos concluir que o além de serem mais demoradas porque
desenvolvimento ocorre de forma o ritmo de interação social e de
ordenada seguindo certos padrões execução das suas ações apresentarão
gerais, entendendo-se que existe uma formas diferentes de manipulação e
previsão sequencial: a criança senta experimentação com o meio. Constata-
antes de andar, usa os olhos antes de se que, se o meio oferece ao sujeito
usar as mãos, balbucia antes de falar sentimentos de segurança, de autonomia
(FRANCO, 1995) e confiança para poder agir, a criança
com deficiência ou não, terá condições
Apesar de o crescimento e o de ter um desenvolvimento mais
desenvolvimento ocorrerem seguindo harmonioso. A única diferença é que a
determinados padrões e sequências, o criança denominada normal consegue
ritmo e a qualidade dos mesmos podem encontrar soluções para construir sua
variar, pois a idade em que cada criança pessoa com mais facilidade, mesmo que
se torna capaz de executar novas o contexto não seja facilitador (VAYER &
atividades e a forma como as executa RONCIN, 1989).
varia de uma para outra, porque cada
criança é única e sua individualidade É normal que a criança com deficiência
sofre influências da hereditariedade e encontre dificuldades na interação com o
do ambiente em que vive. meio, mas mesmo essas diferenças não
deverão ser entendidas como padrão de
As condições do desenvolvimento não dificuldades que pode ser estabelecido
são as mesmas para todas as crianças, para julgar todas as crianças que se
com ou sem deficiências, porque todas enquadram nesse perfil. A qualidade do
constroem sua pessoa com relacionamento com os adultos (pais na
possibilidades (características genéticas família, professor na escola) será
e estruturas corporais) que são muito determinante para minorar ou agravar
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a descoberta de habilidades e de própria e particular interpretação do


possibilidades da criança nas suas mundo.
tentativas de interação social (VAYER &
RONCIN, 1989). A alteração existente no
desenvolvimento da criança devido a
Cada criança deverá ser vista como uma deficiência não significa que ela seja
única, em um universo infinito de inferior às outras crianças, mas que seu
possibilidades, sem que se estabeleça desenvolvimento acontece por outros
qualquer tipo de comparação, caminhos, por recursos internos que ela
considerando-se que as diferenças são criou para se adaptar ao mundo. Sabe-se
características evidentes de um indivíduo que qualquer interesse do indivíduo com
para o outro, e o educador tem o “mérito” base em necessidade fisiológica, afetiva
de abrir e expandir o leque de ou intelectual pode desencadear uma
oportunidades iguais para todas as ação e, nessas situações de interação,
características individuais, com ou sem é a inteligência que tem a função de
deficiência, com objetivo de que cada um compreender, de explicar, partindo
construa a sua pessoa e sua concepção inicialmente de uma análise primária e,
do mundo. avançando, progressivamente, para
formas sempre mais elaboradas, que
“Toda criança, ao nascer, inicia a correspondem, gradativamente, à
fascinante aventura de adaptar-se ao evolução de seu desenvolvimento.
mundo equipada apenas da sua frágil
organização herdada. Seus poderes É importante dizer que a ação
naturais são formidáveis, e aos poucos, (atividade/motricidade), a afetividade e a
ela transforma, ajusta, aumenta, alarga e inteligência trabalham em harmonia,
enriquece a sua organização somática estabelecendo-se um estreito paralelismo
inicial. Gradualmente, torna-se mais entre o desenvolvimento da afetividade e
acostumada a sugar, a alcançar, a agarrar o das funções intelectuais, porque estes
e a identificar visualmente e a seguir são dois aspectos inseparáveis de cada
objetos: este é o início do seu processo ação (RODRIGUES, 1976). É da
de adaptação ao mundo.”(RODRIGUES afetividade que provêem a motivação e
1976, p.90) Nesse período, na o dinamismo energético de toda ação,
manipulação e interação com o meio, a ao passo que o aspecto cognitivo,
criança “brinca” com os mais diversos sensório-motor ou racional é influenciado
tipos de conceitos: distância, altura, pelas técnicas e pelos meios
tamanho, forma, peso, temperatura, empregados. Esses dois elementos,
textura, som, espacialidade, lateralidade sempre e em todo lugar, implicam-se um
e, dessa forma, começa a construir, ao outro e intervêm em todas as
primitivamente, as estruturas mentais condutas relacionadas tanto a objetos
básicas e fundamentais para como a pessoas. Nenhuma ação poderá
aprendizagem formal. ser inteiramente racional ou puramente
Esse processo de descoberta de afetiva. O que pode existir são indivíduos
possibilidades amplia-se à medida que que se interessam mais por pessoas do
se acentua sua interação com o meio, que pelas coisas ou abstrações, ao
promovendo- lhe o desenvolvimento da passo que com outros se dá o inverso.
inteligência e, simultânea e Os primeiros parecem mais sentimentais
paralelamente, permite-lhe construir sua e os outros mais secos, mas são apenas
condutas e sentimentos que implicam,
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necessariamente ao mesmo tempo, a Sabe-se que quando os nascidos com


inteligência e a afetividade comprometimentos proveem de um meio
(RODRIGUES, 1976). socioeconômico-cultural muito carente,
este fato contribui desfavoravelmente
Um fator muito importante relacionado para que se processe uma reabilitação
aos aspectos da afetividade e da adequada. Destacamos ainda alguns
inteligência é a construção da fatores que também interferem
autoestima do indivíduo, que ocorre negativamente: distância do local de
como consequência das respostas tratamento, causada pelo número
obtidas pela interação com o meio, como reduzido de clínicas especializadas;
as insistentes tentativas até alcançar o problemas financeiros que impossibilitam
sucesso e/ou aprovação que despertam o transporte diário para o devido
sentimentos de prazer e de alegria, tratamento; dificuldade de locomoção do
fortalecendo-o emocionalmente e dando- indivíduo devida ao peso, ao tamanho,
lhe segurança para tentar novamente, ao uso de cadeira de rodas e/ou outros
caso haja fracasso ou frustração. materiais de uso corretivo ou preventivo;
gravidade do quadro motor, o que
As seqüelas decorrentes das lesões dificulta acomodação nos transportes
neurológicas e de outras patologias que coletivos; estrutura familiar com mais
comprometem a manifestação global e a filhos e sem auxílio na ausência da
interação social do indivíduo, em estado mãe; necessidade de trabalhar para o
patológico podem ser irreversíveis, sustento geral da família sobrepondo-se
entretanto, não se deve considerá-las às necessidades do tratamento de
como doenças ou males. Fatores reabilitação da criança com
importantes como atenção, reabilitação necessidades especiais; desagregação
física e educação, se aplicados correta e da família. É extremamente relevante
convenientemente por profissionais considerar a importância da creche e da
especializados, podem melhorar ou escola respondendo para o resgate da
manter a capacidade funcional desse devida estimulação, e suprindo algumas
indivíduo, aproximando-o de um dessas carências com a nutrição, os
funcionamento cada vez mais próximo do estímulos, a afetividade e a socialização,
normal. em ambiente propício e fortalecido pela
motivação e por regras de participação,
4.3 Importância do ambiente no objetivando o auto- conhecimento e a
desenvolvimento da criança com aprendizagem.
deficiência física
4.4 De professor para professor
Crianças com necessidades especiais A primeira infância é um período
decorrentes da deficiência física fundamental para a estruturação da
precisam de muito mais do que tão- criança e do adulto que ela virá a
somente recursos básicos que ser. A base para sua personalidade,
satisfaçam suas necessidades primárias. suas condições cognitivas e perceptivas,
São crianças que poderão precisar de a forma como irá se relacionar com o
cuidados e atenção ininterruptos em mundo dos objetos e das pessoas
todos os dias de sua vida, ou superar as dependerá dos estímulos que irá
dificuldades iniciais se forem bem receber, dos afetos trocados e do lugar
estimuladas e bem acolhidas. que lhe é dado na família e na escola.

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Portanto, a creche e a pré-escola têm de lidar com ela e entendê- la. Para isso,
um papel fundamental no processo de buscar ajuda e orientações com
formação da criança, sendo o primeiro técnicos da saúde, criatividade e
momento de sua inserção social fora da disposição para o novo darão conta da
família, ou seja, o primeiro passo para a grande maioria de dúvidas e incertezas.
inclusão.
Estamos acostumados a esperar um 4.4.1 O Educador e o diagnóstico –
padrão de desenvolvimento específico, detectando dificuldades Na maioria das
organizando nosso trabalho a partir dele. vezes, nos primeiros meses de vida, o
Receber uma criança que não anda no bebê portador de paralisia cerebral não
tempo esperado, usa fraldas, não fala apresenta traços que possam sugerir
ou canta, não consegue segurar um lápis sua alteração neurológica para o leigo.
ou um brinquedo, parece tornar inviável Pelo olhar é um bebê como qualquer
qualquer forma de atuação educativa outro. Na observação de seus
dentro de um currículo normal. Nos movimentos e na aquisição de
preocupamos com tantas diferenças e comportamentos motores como controlar
com nossa impossibilidade de lidar com a cabeça, sentar, rolar, ou no seu
elas e esquecemos de olhar para o que cuidado diário, principalmente no que se
há de comum entre todas as crianças: refere a alimentação, sono, aconchego é
sua necessidade de aprender, sua que iremos perceber que algo não vai
paixão pelo novo. bem com ele.

Um aluno com paralisia cerebral O educador de creche, muitas vezes é


apresenta as mesmas necessidades e quem sugere aos pais a necessidade de
desejos de qualquer outra criança. buscar orientação médica, embora o
Encanta-se com histórias, adora ideal seja a existência, na própria
músicas, gosta de desenhar e brincar. A creche, de estrutura e suporte
sua especificidade não está no adequados da área da saúde para
conteúdo, mas na forma como realizar diagnósticos e tratamentos devidos.
as atividades e expressar seu Diante disso, muitas vezes o professor
pensamento. fica solitário e a mercê de suas próprias
inspirações, boa vontade, indagações e
luta pertinaz. Quanto mais ele souber
sobre o desenvolvimento infantil e
quanto mais olhar para suas crianças
tendo a posse desse conhecimento,
mais cedo o diagnóstico poderá ser feito,
possibilitando uma intervenção precisa e
em tempo, pois somos elementos
fundamentais para auxiliar o
desenvolvimento pleno da criança, dentro
de suas possibilidades, superando seus
limites.

Dessa forma, o saber do educador é


imprescindível dentro do processo de
aprendizagem e formação dessa criança,
sendo apenas necessário adaptar formas
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Piaget nos fala que o homem é um ser


geneticamente social e nasce
potencialmente inteligente, e o ser social
de mais alto nível é aquele que se
relaciona com seus semelhantes de
forma equilibrada (Piaget). Essa teoria é
complementada por Vygotsky quando
refere que a inteligência humana
somente se desenvolve no indivíduo
em função de interações sociais e é
Em outros casos, quando já se tem um fruto de uma grande influência das
quadro definido, ao recebê-la na experiências do indivíduo (GOULART,
comunidade escolar, deve-se deixá-la 2000).
fazer parte do mundo infantil, permitindo
que ela seja uma criança, e não apenas Tendo como parâmetros estes teóricos,
um ser “doente” que precisa de cuidados sabemos que alguns fatores isolados ou
especiais. somados interferem na aquisição de
habilidades que são pilares básicos
4.4.2 Um ganho qualitativo para todos para o intercâmbio cultural, para a
A experiência de conviver com uma interação educativa, para as práticas
criança portadora de deficiências não instrucionais como o manejo de
traz benefícios apenas para ela, mas instrumentos nas atividades de vida
para todas as pessoas envolvidas. Os diária: na higiene pessoal, na
adultos e os colegas ganham com o alimentação, na troca com os
aprendizado sobre a diferença, elementos do meio, nas brincadeiras
descobrindo que há lugar para todos e próprias de cada fase de
que há formas diferentes de ver o desenvolvimento, no desenhar e no
mundo e de interagir com ele. Amplia- escrever.
se o olhar sobre o indivíduo e sobre si
mesmo. Esses fatores poderão ser melhor
compreendidos entendendo-se que o
Aprendemos que há diversas formas de cérebro possui múltiplas funções que
ser, desenvolvemos nossa maneira de estão inter- relacionadas. Uma ou mais
escutar a linguagem, ampliamos nosso funções poderão ser afetadas pela lesão
olhar, e ao mesmo tempo passamos a neurológica e possíveis perturbações
observar detalhes pequenos, mas muito motoras poderão estar acompanhadas
importantes, que antes passavam de outras alterações, como linguagem,
despercebidos. Um olhar, um pequeno audição, visão, desenvolvimento mental
gesto ou som passa a ter a importância e/ou outros transtornos perceptivos.
de um discurso, aumentando cada vez Essas são possíveis deficiências que
mais nossa percepção e compreensão da poderão estar associadas na criança com
própria vida. paralisia cerebral (MUÑOZ et al.,1997).

4.5 Comprometimentos prejudiciais ao “A criança atingida pela paralisia cerebral


desenvolvimento da criança com poderá apresentar uma série de
necessidades especiais em alterações na evolução de seu
decorrência da deficiência física desenvolvimento psicológico que, de
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forma direta ou indireta, derivam de seu sensação do movimento em toda


distúrbio neuromotor. Grande parte das experiência com o corpo e, sendo assim,
habilidades que a criança adquire ao no desenvolvimento motor ocorre uma
longo de seu desenvolvimento tem um sequência de diferentes e variadas
componente motor; assim, a possibilidade posturas e aquisições de movimentos.
de andar, manipular, falar, escrever Uma nova postura nada mais é que o
depende, entre outras coisas, da aperfeiçoamento de outras mais
possibilidade de realizar concretamente primitivas já adquiridas e também de
determinados movimentos”. (PALACIOS & associações dessas posturas: a
MARCHESI, 1992). A lesão neurológica passagem de posição sentada para a de
poderá alterar o desenvolvimento dessas gato é conseguida por meio de um bom
habilidades, cuja aquisição pela criança controle de tronco associado a uma
poderá ocorrer mais tarde, ou de forma dissociação da cintura treinada no rolar,
diferente do normal, dependendo da respeitando as etapas naturais da
gravidade da lesão. Há alguns fatores evolução motora, por exemplo.
importantes que devem ser
considerados como no desenvolvimento O problema neurológico prejudica em dois
global da criança: sentidos o desenvolvimento psicomotor,
que compreende a capacidade de
Motricidade: “O desenvolvimento da movimentação corporal espontânea
percepção na criança com paralisia (alimentação, sono, marcha), e a
cerebral, está condicionado aos intencional (atividades físicas próprias de
problemas sensoriais (sobretudo os cada fase da infância: rolar, brincar,
auditivos e visuais) e motores” que ela correr e saltar, subir e descer, manipular
possa apresentar (MUÑOZ et al., 1997). objetos). Enfim, para experimentar e
A motricidade, em qualquer indivíduo, é experienciar o mundo em que vive na
garantida pelo “conjunto de funções interação com o meio, e para adquirir e
biológicas que asseguram a trocar conhecimentos, desde o gesto
movimentação”. (LAROUSSE, 1992) mais simples ao mais complexo, é
É muito importante ter conhecimento necessário haver intenção, que exige
detalhado do desenvolvimento motor da atenção, concentração e planejamento
criança sem deficiência para se ter para melhor execução.
condições de estabelecer parâmetros
com situações que fogem a esse “padrão O problema neurológico interfere na
de normalidade”. Para melhor esclarecer, maturação normal do cérebro e provoca
“´habilidade motora´ é a capacidade de atraso no desenvolvimento motor:
movimento e de postura, que se define • do tônus (capacidade de tensão
num contínuo, variando desde grande muscular) e, consequentemente, na
habilidade motora (desenvolvimento movimentação do corpo em qualquer
normal) até a ausência de movimentação ação;
encontrada nos diversos • da postura, que é o posicionamento
comprometimentos motores causados adequado do corpo nas infinitas
pela paralisia cerebral, de acordo com o atividades que a vida proporciona;
maior ou menor grau de comprometimento • das experiências com o corpo, desde
apresentado”. (PFEIFER,1994, p.27) o mais simples gesto,
De acordo com Piaget, o até os mais complexos, na
desenvolvimento é sensório-motor experimentação do mundo.
porque a aprendizagem se dá pela
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de funções adequadas, porque a causa


dessas disfunções é neurológica e está
localizada no sistema nervoso central.
As experiências, nas diferentes fases do
desenvolvimento dessa criança, podem
ser muito limitadas ou extremamente
diferentes pela dificuldade de manipular
e de controlar o meio físico em que vive.

As dificuldades motoras da criança com


deficiência poderão agravar-se com a
presença de problemas sensoriais que
poderão ser da audição e da visão. É
maior do que se pensa a incidência de
“O desenvolvimento global existente sofre problemas auditivos na criança com
alterações, apresentando formas deficiência, caracterizando-se por perdas
primitivas, estereotipadas ou auditivas em diferentes graduações, mas
generalizadas de reflexo, mantendo raramente ocorre surdez profunda.
esquemas de atitudes e de movimentos
que não correspondem ao padrão usual.” Uma avaliação auditiva correta o mais
(COLL et al., 1995) Todo e qualquer cedo possível trará benefícios para que
gesto intencional ou mecânico sofre as providências necessárias sejam
alterações, apresentando-se de forma tomadas, porque um diagnóstico tardio
irregular em diferentes níveis, desde vai repercutir negativamente no
uma morosidade até a total inaptidão desenvolvimento e aprendizagem da
para sua execução. A criança pode criança. No caso de crianças mais velhas
sofrer atrasos para controlar a cabeça, e com atraso importante na linguagem,
controlar o tronco, sentar-se, que não é explicado pelo déficit
engatinhar, ficar em pé e andar, para cognitivo, recomenda-se também que se
falar, ou mesmo poderá adquirir estas faça essa avaliação.
funções cuja execução apresente certa
morosidade, certa lentidão ou até jamais Os problemas visuais certamente
conseguir efetuar qualquer gesto que lhe estarão presentes como mais um
propicie interação com o meio, mesmo elemento a contribuir negativamente para
que haja intenção e, dessa forma, o desenvolvimento da criança que, se
dependa inteiramente de outras não forem tratados precocemente, trarão
pessoas para qualquer ação da vida sérios prejuízos ao seu desenvolvimento
diária, cuidados básicos de higiene e motor.
alimentação, como também locomoção,
comunicação, educação etc. É preciso
compreender que esses problemas
motores não estão localizados no órgão
físico, ou seja, não estão localizados
nas partes do corpo que estão
comprometidas, não cabendo, portanto,
em sala de aula, qualquer tipo de treino
motor, exercícios de repetição ou
quaisquer outros que visem aquisição
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A criança que apresenta


comprometimentos motores devido a
lesões neurológicas poderá ser, logo que
nasce, um bebê “molinho” para, a partir
de dois ou três meses de idade,
apresentar progressiva espasticidade
(enrijecimento dos músculos de braços
e pernas, prejudicando o ato de dobrar
e movimentar adequadamente esses
membros), ou um bebê com
dificuldades de sucção, de preensão, de
visão, de audição, necessitando de
diferentes tipos de adaptações para ser
alimentado, posicionado, acomodado.
Sua percepção do mundo corresponderá
Sabe-se que a fase sensório-motora é o às acessibilidades que lhes sejam
período da evolução da percepção e do proporcionadas; seu desenvolvimento
movimento, sendo, também, riquíssimo maturacional e, conseqüentemente,
em conquistas intelectuais decisivas físico, poderá ser mais lento, podendo
para a evolução posterior. É a fase em apresentar aquisições tardias como:
que a criança realiza as primeiras equilíbrio de cabeça, de tronco, do ato
experiências com recursos do próprio de sentar-se, de arrastar-se, de
corpo, utilizando suas estruturas engatinhar, de andar, se o
organizacionais básicas (sucção, comprometimento neurológico não for
preensão, visão, audição); na qual a muito grave. Em alguns casos, a criança
representação do objeto nasce da não terá condições neurológicas para tais
sucção, da motricidade, da busca aquisições, ficando totalmente
visual, auditiva e táctil, da manipulação; dependente em todas as atividades da
os primeiros contatos com a noção de vida.
espaço desenvolvem-se a partir da
coordenação de movimentos, e as Não se pode afirmar que existem
noções primárias de percepção de duas crianças e, mais tarde, dois
causalidade nascem com os erros e adultos, que apresentem o mesmo tipo
acertos de manipulação. Da mesma de comprometimento motor em
forma, é de extrema importância o decorrência da paralisia cerebral. Há
período pré-operacional, porque promove uma variação imensa desses
profundas transformações afetivas e comprometimentos, podendo acarretar
intelectuais. Nessa fase, ocorre a desde um leve cambaleio no andar até
aquisição das primeiras formas de os quadros que apresentam parcial ou
linguagem, o que dá início à socialização total dependência.
efetiva da inteligência; instala-se o
pensamento propriamente dito, porque a Observa-se que, quando o
criança é capaz de pensar uma coisa e desenvolvimento dessa fase inicial da
fazer outra; é a fase da fantasia na qual, vida da criança com necessidades
brincando, a criança elabora e procura especiais em decorrência da deficiência
resolver as situações conflitantes da sua física não ocorrer dentro dos
vida. parâmetros da normalidade, este fato,
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por si só, poderá desencadear um A comunicação ocorre porque engloba o


atraso no desenvolvimento global pensamento, a linguagem, a fala e os
subsequente, comprometendo ainda mais afetos, e porque socializa o
sua interação com o meio e pensamento, que tem sua origem na
prejudicando suas aquisições mentais, motivação e inclui inclinações,
consideradas os pilares que formam a necessidades, interesses, impulsos,
base necessária para o posterior afeto e emoção.
processo de aprendizagem informal e de
aprendizagem escolar. É importante A linguagem é um sistema organizado
esclarecer que a maturidade de de símbolos arbitrários que o ser humano
desenvolvimento dessa criança deverá usa para comunicar-se no nível abstrato,
sempre ser observada com base nas e se divide em linguagem receptiva (o
suas capacidades e possibilidades, na indivíduo recebe a fala do outro) e
forma como ela compreende e reage aos expressiva (o indivíduo fala com o
estímulos. Forçar quaisquer situações de outro).
aprendizagem que tenham como base
somente o desenvolvimento cronológico A linguagem humana, além de servir
(idade) trará como consequência o para comunicação entre os indivíduos,
desrespeito ao seu real potencial, e também simplifica e generaliza os
também estar-se-á promovendo a significados atribuídos aos objetos,
desigualdade de oportunidades, porque havendo desse modo um
não lhe serão oferecidos desafios compartilhamento com todos os usuários
compatíveis com a sua capacidade e dessa linguagem. Exemplo: a fala de
suas possibilidades. Também há nomes tais como cama, mamãe,
crianças que superam essas dificuldades mamadeira tem o mesmo significado
e, mesmo com limitações para interação para todas as pessoas. Cada indivíduo,
adequada, presenciam a movimentação de acordo com suas experiências e
e as mudanças de seu meio e, assim relações de afetividade, atribui uma
operando mentalmente sobre seu mundo, significação muito particular e individual a
passiva e silenciosamente desenvolvem- esses objetos, assim como a toda
se, formando, alimentando e mantendo experimentação.
estruturas suficientes para
aprendizagem. O desenvolvimento da linguagem não
acontece em todas as crianças da
Linguagem e Comunicação – O ser mesma forma ou na mesma época. Estas
humano é o único ser sobre a terra capaz variações ocorrem devido a fatores
de transmitir sua cultura de geração a hereditários, condições orgânicas e
geração por meio da linguagem. diferenças de estimulação que o meio
A criança nasce com a capacidade de oferece. Para melhor explicar, observa-se
desenvolver a linguagem, e os meios que os filhos de uma mesma família
familiar e social é que terão fator começam a falar em idades diferentes, e
determinante no grau de seu quando o meio é bastante estimulador, a
desenvolvimento. O progresso da fala poderá apresentar um melhor e mais
linguagem está intimamente ligado ao rápido desenvolvimento. Já em um meio
progresso cognitivo num processo carente, esse desenvolvimento será
paralelo de evolução. muito lento e com vocabulário muito
pobre. Pode-se entender que a fala é o
processo mecânico da comunicação
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verbal, compreendendo a voz e a está tentando se comunicar e transmitir


articulação das palavras. Sabe-se que a seu pensamento. Essa manifestação
fala é uma importante, porém não é física precisa ser vista dentro dessa
única, forma de comunicação e interação possibilidade e é preciso, então, dar-lhe
do indivíduo, assim como tem função a devida atenção na tentativa de
instrumental considerável para a compreender o que ela quer transmitir.
construção do conhecimento. É preciso Existe um elemento de extrema
considerar a importância do discurso de importância que negligenciamos numa
outros indivíduos do meio como linguagem gestual e que transcende a
fundamentais para que a criança sem fala e as mãos: o olhar. Os olhos falam,
condições de fala sinta-se envolvida na transmitem sentimentos, se negam,
linguagem e passe a fazer parte dela, recusam e aceitam enfim, demonstram
buscando formas diferenciadas de que por trás de um olhar existe
comunicação e de construção do pensamento, existe compreensão, existe
conhecimento. alguém que tem algo a dizer e que
precisa ser ouvido. Para realmente ouvir
Vamos esclarecer que nem todas o que quer dizer uma criança que não
crianças com paralisia cerebral fala, é preciso fazer um tipo diferente de
apresentam dificuldades no “escuta” na qual a sensibilidade,
desenvolvimento da comunicação. tentativas e erros deverão direcionar “o
ouvinte” para estabelecer uma eficiente
Há três tipos de comunicação: forma de comunicação.
Falada - composta de fonemas, necessita
Gestual - por meio de gestos que da preservação da capacidade
acompanham, reforçam e dão respiratória, dos músculos articulatórios
expressão à fala. Entendemos por (boca e língua) e da voz.
gestual, os movimentos intencionais e É importante ressaltar que a criança
coordenados que acompanham a fala. sem condições motoras de fala e que
“Os problemas motores da criança com não tem como expressar verbalmente
paralisia cerebral podem afetar a seu pensamento, pelo fato de estar
expressão facial, a fixação e o seguimento envolvida no universo social e afetivo da
visual, assim como determinados linguagem e ser dele participante,
movimentos do corpo compreendidos compreende a sua função. Essa criança
como linguagem corporal.” (SOUZA & poderá não apresentar condições de
FERRARETTO, 1998) No caso da fala, mas pensa. E, quando existe
criança com paralisia cerebral sem fala, pensamento, existe discurso interior,
a comunicação gestual própria das portanto, poderá existir compreensão do
pessoas sem comprometimento físico, é significado das palavras. Deve-se então,
muito pouco usada, se não for limitada, considerar que, se essa criança é um
devido à dificuldade de coordenação indivíduo que pensa, sempre terá algo a
motora decorrente da lesão neurológica, dizer e a transmitir, fazendo-se
porém existe uma forma diferenciada de necessário que seu interlocutor tenha
comunicação gestual que precisa ser predisposição e sensibilidade para
vista como tal. No momento em que, compreender sua forma de linguagem,
diante de qualquer situação, uma criança para então traduzir primeiramente em
com paralisia cerebral sem condições palavras, depois em ação, e também
de fala entra em distensão, para o meio.
enrijecendo os músculos do corpo, ela
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Escrita - composta por letras ou • pulseiras com peso para controlar a


grafemas, requer usualmente condições movimentação involuntária, quando
motoras preservadas de ombro, braço, indicadas pelo terapeuta responsável.
antebraço, punho, mão, de preensão dos Deve-se tomar os devidos cuidados para
dedos e coordenação motora fina para que o peso demasiado ou menor que o
sua execução, seja em letra cursiva ou necessário, ou, ainda, seu uso intensivo,
de forma. Para os indivíduos que não provoque outros danos;
apresentam algum tipo de
comprometimento motor que afeta a
execução ou o traçado da escrita,
existem adaptações que possibilitam
esse traçado. Estas adaptações podem
ser:
• aparelhos usados nas mãos para
melhor prender o lápis, para quem
apresenta alguma condição motora para
a escrita. Nem sempre é preciso se
prender à necessidade de aparelho
próprio para isso porque a criatividade do
professor é sempre um elemento
facilitador. Verifica-se com o aluno onde • capacete com uma ponteira que sai
melhor posicionar o lápis para sua escrita da base da testa ou do queixo, onde o
e prendê-lo com fita crepe, de forma que professor encaixa o lápis para que, com
fique firme para proporcionar a escrita; a movimentação coordenada da cabeça,
• engrossamento de lápis que poderá a criança possa processar a escrita;
ser feito com espuma de espessura
adequada para a preensão do aluno
ou, com massa do tipo epox revestindo
todo o lápis. Se, após revestir o lápis
com este tipo de massa, se fizer uma
movimentação de ir e vir com o lápis
dentro da massa, depois de seca ela
poderá ser usada em outros lápis;

• uso de letras do alfabeto ou números


em quadrados de madeira para
construção da escrita de sílabas,
palavras ou frases. A criança que usa
esse tipo de material, provavelmente
poderá precisar da ajuda de uma pessoa
para transcrever sua produção para o
caderno. Nessa situação, é preciso
muito cuidado para que a pessoa que
assume o papel para transcrição da

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escrita com as letras móveis não interfira


na ideia, na ortografia, na organização,
na concordância ou em nenhum outro
aspecto do conteúdo elaborado e
transmitido pelo aluno. Total fidelidade
à produção do aluno significa respeito às
suas possibilidades e individualidade.

• é importante enfatizar que as


indicações quanto ao uso de
determinadas adaptações específicas,
descritas abaixo, necessitam de
orientação de profissionais da área, tais
como terapeuta ocupacional e
fisioterapeuta.
- Órteses (FOTO) (aparelhos para mãos)
• o computador também poderá ser um - Pulseiras diversas (FOTO)
recurso com o qual o aluno, fazendo - Capacete com ponteira (FOTO)
dele o seu caderno eletrônico, digitará a - Placa e letra imantadas (FOTO)
sua “escrita”. Caso tenha movimentação
involuntária, poderá ser usada sobre o
teclado, uma placa de acrílico chamada
“colméia”, que tem um furo sobre cada
caracter do teclado, possibilitando que o
aluno direcione os dedos para os furos
batendo uma tecla por vez. Algum
elemento de adaptação para a escrita
também poderá ser improvisado com
materiais de uso diário, como por
exemplo, no caso de a criança não
conseguir usar seus dedos para teclar, e
tendo condições de preensão com a
Problemas de linguagem e
mão, mesmo de forma irregular, poderá
comunicação
ser usado por ela um lápis, a embalagem
4.6 Problemas de linguagem e
vazia de qualquer caneta esferográfica,
comunicação
a seringa de injeção sem agulha, um
pedaço de madeira com espessura e
Crianças com problemas neurológicos,
tamanho suficiente para esse uso,
em especial as que sofreram paralisia
enfim, para a criatividade e inventividade
cerebral, em sua quase totalidade,
do professor não pode haver obstáculos.
sofrem de distúrbios no desenvolvimento
da fala e da linguagem, podendo
apresentar alterações variáveis em maior
ou menor grau de inteligibilidade da
linguagem falada, chegando ao
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impedimento por completo. Isso ocorre crianças sem nenhum desses


devido a perturbações mais ou menos comprometimentos.
graves dos órgãos fonológicos (músculos Esses distúrbios motores dos órgãos
que controlam os movimentos da boca, fonoarticulatórios podem afetar outras
das articulações e da respiração) funções importantes da criança como a
podendo acarretar comprometimento da mastigação, a deglutição, o controle de
fala em vários níveis (COLL et al., saliva (problema da baba) ou a
1995): respiração. É preciso compreender que a
terapia fonoaudiológica, de
- retardo de linguagem – a aquisição da responsabilidade do fonoaudiólogo,
fala pode ocorrer com atraso devido ao poderá melhorar ou manter as funções
comprometimento motor que prejudica os adquiridas, sendo essa terapia de
órgãos fonológicos, pela falta de fundamental importância quando existe
estimulação do meio, e por deficiência um mínimo potencial para o
mental em decorrência do grau de desenvolvimento parcial ou total da
comprometimento neurológico; linguagem oral. A implantação de
sistemas alternativos de comunicação
- disartria - a fala da criança pode ser possibilitam uma compensação das
executada com dificuldade de articulação deficiências que porventura possam
quando os fonemas não são claros existir para que uma efetiva comunicação
(trocas fonéticas, dificuldade para falar as se estabeleça.
sílabas complexas), necessitando de
tempo, atenção e paciência do É importante observar que caso não haja
interlocutor para o entendimento da na área neurológica outros problemas
mensagem falada; associados, a compreensão da
linguagem pela criança se desenvolverá
- anartria – pode existir intenção de fala, corretamente mesmo havendo problemas
mas a criança não consegue concretizá- que interfiram ou comprometam a
la pela impossibilidade de organizar o emissão da fala. A criança pode não ter
conjunto muscular encarregado da condições de falar, mas pode
articulação de sua emissão; compreender o que está sendo falado
por outras pessoas, por seu interlocutor,
- gagueira – a fluência da fala fica pelo meio, e tem consciência de tudo que
prejudicada pelos problemas motores e acontece ao seu redor. Se ocorrerem
também por problemas emocionais distúrbios específicos da linguagem na
decorrentes de exigência demasiada das área cerebral, e não somente
pessoas que com ela convivem (na problemas localizados para o ato motor
família, na escola), com ênfase somente da fala, eles poderão afetar não
para as suas dificuldades e seus limites somente a expressão como a
de ação e de execução, evidenciando compreensão da fala, ou seja, além de
as diferenças e dificuldades em não falar, também não compreenderá o
detrimento das conquistas que possa ter que os outros falam, comprometendo,
alcançado. É preciso respeitar as assim, sua compreensão do mundo.
possibilidades que a criança pode Por isso, para saber diferençar a
apresentar, o jeito que ela pode fazer, criança que compreende a linguagem
sem que se estabeleça um único padrão daquela que não compreende, é
ou modelo a ser copiado das demais preciso estar atento a todos os sinais
que ela possa fazer para se comunicar
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com o meio e com aqueles que mostram conhecimentos gerais e específicos. Se


o que realmente está compreendendo, essas aquisições apresentarem-se
pois tão somente o fato de não falar tardias, anômalas ou irregulares,
não quer dizer que esteja alheia ao sabemos que isso irá interferir seriamente
meio em que vive, como também não no desenvolvimento de sua
quer dizer que não tenha condições de
aprendizagem formal de leitura, de
escrita e de raciocínio em ambiente
escolar.

É certo também que distúrbios profundos


de linguagem, quando associados a
outros comprometimentos acarretados
pela paralisia cerebral, sensoriais (visão,
audição,...) ou intelectuais, podem
provocar déficits cognitivos sérios, e a
criança necessitará de orientação
educacional adequada em ambiente inteligência e, também, na construção de
apropriado, profissionais especializados, sua autoestima. O sentimento de
e material adaptado. Em muitas incompetência que o outro lhe transmite
situações, haverá sérios gera reciprocidade nela, porque ela
comprometimentos afetando a percebe que, realmente, não é capaz de
aprendizagem escolar e, quando isso controlar suas experiências, e a emoção
ocorrer é fundamental que nos dá lugar à impotência, abalando o
questionemos se um ambiente escolar equilíbrio harmonioso que deve existir
que visa prioritariamente a aprendizagem entre o prazer e o aprender.
acadêmica será o melhor lugar para se
promover o desenvolvimento global O prazer nos direciona, nos comanda
dessa criança. É necessário, porém, e é o ponto de equilíbrio que traz
estar atento a cada uma das crianças segurança em qualquer situação da vida
que nos chegam, tomando o devido de todo indivíduo. Podemos dizer que
cuidado e observando atentamente suas temos duas mentes: uma que se
reais possibilidades para não se incorrer emociona, sente, comove, adapta; outra
em generalizações precipitadas, negando que compreende, analisa, pondera
qualquer tipo de oportunidade para reflete. Elas são interdependentes.
aquelas que tenham condições de Emoção e razão formam um
aprendizagem. mecanismo dinâmico onde uma
impulsiona a outra para a tomada de
Interação social - É sabido que a decisões, contribuindo para a formação
evolução da afetividade depende da personalidade do indivíduo. Conforme
totalmente da ação da criança sobre pesquisas científicas já realizadas,
o meio, assim como o desenvolvimento sabemos que a emoção impulsiona o
das funções cognitivas. É da indivíduo para a ação, e seu controle é
manipulação do meio e das experiências essencial para o desenvolvimento da
com o próprio corpo que a criança inteligência. A emoção está para a razão
adquire esquemas mentais que são assim como o prazer está para o
básicos para a futura aprendizagem de aprendizado, e a autoestima é a
leitura, de escrita, de cálculo e de outros ferramenta que movimenta os estímulos
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para gerar bons resultados nessas autoestima dá sentido à vida e é muito


relações. A autoestima exige mais importante do que se pensa no
assertividade. O indivíduo deve sentir-se processo ensino- aprendizagem, porque
no direito de ser levado a sério, de ter está ligada ao sentido interno do prazer e
suas próprias opiniões e escolhas. Deve aprender, e tem estreita relação com as
ser participante das relações em influências do meio externo.
condições de igualdade, isto é, não ser “A autoestima é o elo entre o gostar e o
considerado nem o “coitado”, nem o aprender, o partir e o
“perfeito”: ter seu direito de errar, de chegar, o perder e o achar. Ela está ao
começar de novo, de investigar, de alcance de quem consegue enxergar,
vivenciar e de experimentar o mundo de seguramente, a ponte entre o sonho e
“seu jeito”, sem ter de levar em a realidade”. (TAILLE, 2002)
consideração o padrão de “normalidade”
existente como senso comum, como a
única forma de execução e de obter
resultados.
Toda criança tem sensibilidade suficiente
para perceber quando é diferenciada das
demais, quando é considerada aquém do
“padrão de normalidade”, quando o gesto
ou o olhar do interlocutor está carregado
de sentimentos discriminatórios. Se o
ambiente físico e social coloca a criança
diante de questões que rompem o
estado de equilíbrio de seu organismo, se
seu emocional e sua autoestima são
desconsiderados, ela não partirá em
busca de comportamento mais
adaptativo, para moldar-se a situações
novas, porque sua vulnerabilidade a
guiará para o desequilíbrio que afeta
sua aprendizagem, sejam quais forem
suas limitações.

A ausência da autoestima compromete


a capacidade de agir e de interagir de
qualquer indivíduo, por isso, ela é uma
necessidade fundamental para a
sobrevivência, tem alto valor psicológico
e econômico, porque é um critério de
adaptação em um mundo cada vez mais
desafiador, complexo e competitivo. 4.7 A linguagem pictórica e
representativa
Todo indivíduo nasce com o direito de ser A linguagem envolve uma variedade de
feliz e de ser respeitado, de ser capaz de possibilidades de comunicação no
optar por seus gostos e desejos e de decorrer da vida do indivíduo. No bebê,
traçar sua linha de vida por meio de seu mesmo antes das palavras, o olhar, os
trabalho e empenho, portanto, a gestos, o balbucio, o choro expressam
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emoções e desejos. Ao observarmos Portanto, um simples rabisco alcança


uma mãe com seu bebê, sorrindo, uma dimensão pictórica a partir de
emitindo sons e trocando olhares, significantes individuais, realizando uma
percebemos o uso de linguagem ponte com o discurso social, ou seja, o
diferenciada e, de certa forma, primitiva, ato de desenhar torna-se um sistema
ou seja, os primeiros contatos de de escrita, no qual as idéias e emoções
comunicação. É um tipo de linguagem de são expressas por meio de figuras
quem está principiando o exercício das simbólicas, a primeira escrita da criança
articulações, dos músculos da fala, da que será o embrião para o aprendizado
voz que, aos poucos, vai tomando forma formal do código social, ou seja, da
de discurso. Eles se entendem. Um fala e alfabetização.
o outro responde. Quando o bebê
balbucia, a mãe compreende o significado A criança com deficiência física, muitas
da sua fala e dialoga com ele, vezes, tem dificuldade para realizar
envolv endo-o afetivamente, utilizando a mesmo esses primeiros registros. Sua
linguagem com muitos significados. falta de coordenação motora, ou seja, a
impossibilidade de segurar um lápis ou
A mãe introduz seu filho no campo da pincel, inviabilizam uma atividade
linguagem, já que o ser humano é o espontânea. No entanto, seu desejo de
único sobre a terra a comunicar-se realizar suas marcas e de comunicar-se
dessa forma, fazendo dele um bebê com o mundo é o mesmo de qualquer
humano e social, possibilitando sua outra criança e, de igual forma, é a
imersão na cultura. Isso permite que, importância dessas marcas para o
posteriormente, a fala, o desenho e o processo de aprendizagem. O padrão ou
brincar apareçam como manifestações do modelo de representação no grafismo ou
pensamento construído desde os no desenho representados pelas crianças
primeiros contatos maternos com forte sem deficiência não deverá ser esperado
vínculo afetivo, carregado de emoções e da criança comprometida motoramente
lógicas infantis particulares às suas porque, mesmo tendo a intenção, a sua
experiências anteriores e às execução dependerá das possibilidades
significações construídas por ele. motoras que apresentar. Nessas
situações, o professor deverá ter muita
Assim como o primeiro balbucio ocorre perspicácia e aceitar aquilo que o aluno
de forma aleatória, sendo seu significado conseguiu fazer, valorizando seu produto
dado pela mãe, inicialmente o rabisco e estimulando-o a prosseguir, não
está impregnado da dinâmica do gesto permitindo qualquer tipo de comparação
que o produziu. É um exercício motor, negativa.
uma exploração do objeto, mas que vai
assumindo características cada vez mais Criar a possibilidade de expressão e
elaboradas, tomando status de registro de acordo com suas
linguagem. Quando o prazer do gesto possibilidades motoras permitirá à
associa-se ao prazer da inscrição e à criança com deficiência física superar
satisfação de deixar uma marca, aquele as dificuldades que impedem o
grupo de linhas aparentemente desenvolvimento de seu potencial.
desconexas ganha uma dimensão Oferecer estratégias que vão desde a
simbólica. adaptação dos instrumentos, tamanho
do papel, posicionamento adequado,
expressão livre sem modelos a seguir
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podem permitir que a criança, além de Desde que a criança nasce,


conseguir executar movimentos, mesmo apresentando ou não qualquer tipo de
que pequenos, sinta-se capaz e segura deficiência, deverá ser envolvida no
para construir seu campo de universo social, participando de todas as
significantes, desenvolvendo seu oportunidades para compreender,
pensamento e linguagem, facilitando seu integrar-se e interagir com o meio. É
processo de aprendizagem, e ajudando preciso deixar bem claro mais uma vez,
na solução de conflitos emocionais, uma que toda criança, apresentando ou não
vez que eles podem ser representados. qualquer tipo de anomalia, necessita das
mesmas oportunidades e experiências
4.8 Comunicação alternativa para que ocorra seu desenvolvimento. O
que é característico e particular a cada
“Comunicação suplementar alternativa é uma é o tempo e o ritmo individual que
uma área de atuação clínica educacional deverão ser considerados, respeitados e
e de pesquisa que objetiva compensar valorizados, para que possa sentir-se
e facilitar (temporária ou produtiva e em compasso com o
permanentemente) os prejuízos ou movimento social dos ambientes familiar
incapacidade de indivíduos com severos e escolar.
distúrbios da comunicação expressiva
e/ou distúrbios da compreensão.” (ASHA, A comunicação aumentativa ou
1991) alternativa é um recurso que envolve
Para a criança com problemas de formas diferentes de expressão da
comunicação, principalmente aquela que linguagem falada, ou melhor, da palavra
não tem condições de falar e, por esse articulada. Estar atento aos sinais de
motivo, não consegue se fazer entender, compreensão da comunicação que a
mas compreende a linguagem falada, é criança transmite é fundamental para
preciso criar condições para que ela que, junto com ela, se possa estabelecer
possa se comunicar com as pessoas a uma forma alternativa de comunicação
seu redor, expondo seu pensamento, sua eficiente, considerando que a linguagem
vontade, sua opinião, sua necessidade falada de um interlocutor deverá estar
de participação nas situações que lhe presente como forma de tradução da
sejam significativas, num processo que ideia que a criança quer transmitir.
se denomina comunicação suplementar
alternativa. Para proceder a comunicação alternativa
são usados diversos recursos e materiais
que possam dar suporte, facilitar ou
viabilizar o processo de comunicação da
criança com os indivíduos do meio
(família, escola, comunidade). Esse é
um processo onde a família tem relativa
importância para o sucesso da
implantação e uso da comunicação
alternativa, que não deverá ser tão
somente um instrumento a ser
trabalhado em terapias e/ou em sala de
aula. Esse material deverá ser levado e
manipulado pela criança em todas as
situações de sua vida diária procurando
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alçar outras pessoas para fazer parte opinião da criança sobre sua importância
desse processo. A atenção, dedicação e nas relações sociais. E sabe-se que é
participação da família contribuem para o nesse processo de oportunidades de
enriquecimento e aplicação de novos convivência com regras de conduta e de
símbolos, somando e complementando participação nos jogos sociais que o
o trabalho como um todo. indivíduo aprende normas sociais, é
apresentado às primeiras noções de bem
É importante ressaltar que em um e de mal, de certo e de errado, de justo e
processo de comunicação alternativa injusto, de direitos e deveres. Isso
vários elementos necessitam ser favorece a construção das estruturas
considerados: em todo processo de mentais operatórias necessárias à
exploração e efetivação da comunicação conquista, pela criança, dos valores
alternativa deve-se considerar não morais necessários para agir e interagir
somente o estabelecimento dos adequadamente com o meio, ao mesmo
símbolos significativos para criança tempo que ela compreende ser um
nesse processo, mas também todos os elemento importante no mecanismo
sinais corporais manifestados por ela nas social: é um indivíduo que, em um
situações de comunicação, para que momento, segue normas já
seja estabelecido um real vínculo entre estabelecidas, e, em outro, modifica as
as informações (símbolos e expressões já existentes em um processo de
corporais diversas) de forma que venha adaptação aos novos tempos e
ao encontro das necessidades de necessidades.
comunicação da criança e da
compreensão do interlocutor. Nesse aspecto, a criança aprende que é
mais um elemento importante no
Afetividade contexto social, porque na troca com
4.9 Afetividade os demais, em um processo de
cooperação, desenvolve-se intelectual e
Como já vimos anteriormente, alguns moralmente construindo valores como
fatores poderão contribuir, de forma respeito mútuo e autonomia. Conclui que
positiva ou negativa, para o sua necessidade de ser respeitada pelos
desenvolvimento global da criança que outros, exige reciprocidade, e isso
apresenta comprometimentos motores. permite que construa autonomia própria
Para toda criança, sua relação com o onde as respostas obtidas levam-na a
mundo depende das experiências com consolidar ou descartar novos valores.
os indivíduos do meio, que tem,
implicitamente, normas de caráter moral É nesse jogo de descobertas de seu
que regulam a participação de todos os próprio valor e de sua importância no
indivíduos. jogo social que a criança encontra prazer
em agir, sentindo-se motivada a
A forma como a família e a escola veem prosseguir em suas ações
essa criança poderá causar benefícios ou transformadoras. Nesse processo podem
maléficos à evolução da sua afetividade coexistir dois sentimentos contraditórios
porque elas são os elementos mais que podem caminhar paralelamente: o
importantes na evolução da criança prazer e a frustração. Porém, os dois
como um todo. Suas oportunidades de têm importância relativa, já que existe
participação e ação dependerão do olhar aprendizado com os acertos e também
que o meio estabelecer para formar a com os erros. Tentativa e erro fazem
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parte importante de qualquer motor do professor, nenhuma ação


experiência, e não existem experiências deverá ser executada sem a
que tenham como resultado somente o concordância da criança, ou contra sua
prazer. vontade, porque é preciso respeitar a
criança como indivíduo em formação,
Percebe-se que nas atitudes do meio não cabendo, port ant o , o “fazer por
está a ideia que ele passa para a ela”.
criança: sua opinião é importante. Isso a
faz sentir-se integrada e valorizada,
estimulando-a a prosseguir na sua
conquista de autonomia. Nesse aspecto,
a creche e a escola têm papel
preponderante porque, respeitando e
aproveitando as relações de cooperação
que nascem espontaneamente das
relações entre as crianças, favorecem
não somente a conquista como também o
fortalecimento da autonomia.

Para a criança com os


comprometimentos aos quais já nos “Segundo Piaget, o sujeito participa
referimos anteriormente é muito ativamente de seu desenvolvimento moral
importante ser vista e compreendida e intelectual para que possa construir e
como alguém que, por trás da compreender que tipo de autonomia terá
deficiência, apresenta os mesmos diante de seus parceiros. A moral é um
sentimentos e desejos de toda criança, fato social, sendo preciso construir,
tem as mesmas necessidades de também, uma consciência social capaz
desenvolvimento e, por isso mesmo, de elaborar e respeitar regras morais.”
precisa das mesmas oportunidades. (TAILLE, 1992) “A criança tem
necessidade de construir e fortalecer
No período do nascimento aos três relações de confiança com outras
anos, toda criança precisa experienciar pessoas, que lhe atribuem valor, cumprem
concretamente, por meio dos jogos o que prometem, fazem o que dizem que
lúdicos e das brincadeiras, todas as vão fazer ou o que é bom fazer. Esse
situações, todos os movimentos, todas sentimento é essencial nos primeiros
as mudanças necessárias ao seu anos de vida, pois dele depende a “liga
desenvolvimento global e, quando ou a cola” das primeiras relações sociais,
dificuldades ou impossibilidades e também a construção da base afetiva
dificultam essas vivências, o professor sobre a qual serão erguidos a moral, a
deverá “fazer com a criança”, ética e o exercício da cidadania. Se ela
proporcionando-lhe condições para não confiar em alguém, entrará no
explorar sensações que somente ela universo social com medo e sem alegria,
poderá sentir e, dessa forma, formar o que gerará como consequência a falta
as estruturas básicas próprias do de confiança em si mesma. Atenta ao
período sensório-motor que são comportamento dos adultos, julga se
fundamentais para seu posterior demonstram que lhe atribuem valor e, ao
aprendizado. É preciso estar consciente mesmo tempo, se fazem o que falam. Os
de que, mesmo na condição de apêndice educadores da área infantil, além de ter
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conhecimentos teóricos que embasem a implantação dos recursos, desde os


sua prática pedagógica, também devem preventivos até os que atendem às
inspirar confiança em seus pequenos necessidades mais específicas da
alunos para estes saberem que poderão criança com deficiência física.
contar com alguém que lhes inspire
confiança e segurança e que terão os À equipe cabe o desenvolvimento de um
conceitos morais ensinados defendidos trabalho multidisciplinar, nos estritos
com paixão no dia-a-dia.” (TAILLE, 2002) limites das atividades que lhe são
A criança com deficiência física não é reservadas. Isso acontece quando são
diferente no aspecto do reconhecidos os casos pertencentes
desenvolvimento de sua afetividade. Ela aos demais campos da especialização.
poderá ser mais sensível às respostas Procede-se, então, ao encaminhamento
do meio e mais atenta ao comportamento da criança aos profissionais habilitados a
dos adultos, porque antes de existir fim de discutir o caso em equipe,
“um relacionamento com ela” é preciso procurando as soluções mais
que se estabeleça um vínculo que convenientes para cada caso.
começa com o processo de
conhecimento e de descobertas que o O trabalho de equipe deverá ser
professor estabelece com ela; das colaborativo e solidário, de modo a
abordagens e estratégias que usa para permitir aos profissionais uma relação
sua aprendizagem; do empenho em de respeito, com base em uma
buscar soluções e/ou adaptações para estrutura e limites nítidos para que haja
satisfazer suas necessidades de harmonia de classe e aumento do
aprendizagem; da sua luta para que ela conceito público.
consiga e não desista nunca; da forma e
de todas as formas que lhe transmite: Uma prática equilibrada e uma
“eu acredito em você” e, também não experiência centralizada na criança com
desiste dela enfim, como se vê, essa deficiência física podem contribuir para
criança dará o melhor de si para evitar o desperdício de recursos e a
alguém que se envolve e acredita em frustração de esperanças,
suas capacidades e possibilidades. consequências frequentes da
mentalidade de que “o que é bom para
4.10 Trabalho em equipe um, é bom para todos”. Acreditar no
potencial da criança é a imperiosa
De fundamental importância, o trabalho necessidade para a mudança na
de equipe não somente viabiliza uma perspectiva social.
estimulação global da criança como
também pode prevenir, planejar e 4.11 Papel da família
desenvolver uma ação bastante
específica para a criança com deficiência Considerando todos os aspectos que
física. envolvem o crescimento e
desenvolvimento da personalidade do
Dessa maneira, os contatos feitos entre a ser humano, e também seu ajustamento
instituição que reabilita a criança e os aos diferentes âmbitos da sociedade em
outros agentes, como a família, a escola que vivemos, podemos afirmar que a
e outros grupos, são importantes à família exerce um papel de suma
medida que possibilitam a intervenção, a importância dentro desse processo no
conscientização, a informação e a
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que diz respeito à dinâmica de quando a família e a equipe de


relacionamento e convivência. reabilitação atuam em parceria,
integradas, poderão dar à criança as
melhores oportunidades para o
desenvolvimento das suas capacidades,
quaisquer que sejam suas limitações.

Sentimentos confusos permeiam a


convivência familiar dessa criança,
mascarando ou deturpando ainda mais
suas dificuldades quando se dá ênfase
às deficiências e às impossibilidades,
revestindo as interações de um caráter
superprotetor sob o qual a criança é
A família dependerá de todos os seus encarada como um ser incapaz de
membros e das reações que eles pensar, ter vontades, aspirações ou
tiverem, tanto frente aos problemas de desejos, como se fosse uma massa
ordem interna como aos causados por amorfa e sem personalidade. Essa
fatores externos, para que haja criança poderá, tão somente, receber os
harmonia e boas condições de cuidados básicos e ser impedida de ter
desenvolvimento para todos que dela acesso à real convivência familiar para
fazem parte. participação, para trocas, para verdadeira
integração no meio em que vive.
Quando se espera o nascimento de Superproteção ou negligência são
um filho, a expectativa dos pais é constantes na vida dessa criança, e
receber uma criança saudável, bonita e podem ser impedimentos que agravam
inteligente. É certo que ninguém espera ainda mais suas deficiências, porque
ter um filho com deficiência, e quando existe o reforço da influência humana.
isso acontece há frustração e Se o outro mostra que não crê na
desestruturação total da família. Diante capacidade de ação da criança, será
de tal fatalidade, essa família buscará certamente esse o retorno. A percepção
respostas às suas inquietações e, aos da ineficácia desmoraliza e debilita mais
poucos, o trauma inicial dará lugar à que os obstáculos externos.
tristeza e desolação, iniciando-se o
processo de luto pelo sonho não Surgem sentimentos como os de culpa
concretizado. Esse doloroso processo pela condição do nascimento dessa
continua com o lento ajustamento à criança, percebida como “castigo divino”.
realidade não esperada. Essa criança A esses sentimentos soma-se a
está à espera, necessitando de cuidados limitação cultural, que impede os
especiais, situação diante da qual se circunstantes de compreender o que seja
deseja que o luto inicial possa se realmente o quadro da deficiência, o que
transformar em luta diária. mascara anseios de cura, de milagres. A
mãe tende a tomar para si mesma os
O processo de ajustamento a essa nova cuidados desse filho como se fosse a
situação de vida familiar determinará o única capaz de fazê-lo, impedindo assim
tratamento e o bem-estar da criança a ajuda de outras pessoas. Pode, ainda,
especial e de toda sua família, sendo vital delegar a terceiros essa obrigação,
a cooperação dos pais, pois somente numa tentativa de afastar-se das
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limitações e dos sentimentos Considerando o despreparo e as


contraditórios que a deficiência impõe. dificuldades enfrentadas pela família na
São situações muito conflitantes para qual existe um membro portador de
uma família que se tornou “família necessidades especiais, entendemos ser
especial”, na qual todos os integrantes de suma importância um acolhimento
precisam e merecem um tratamento dos pais com o objetivo de contribuir
adequado para se beneficiarem. Faz-se para o processo de reestruturação
necessário um aprendizado que forlateça familiar.
a estrutura familiar existente agregando
todos no mesmo objetivo reabilitacional, Sabemos que a orientação dos
sabendo cada um o quê, porquê, para profissionais da reabilitação
quê e como fazer para realmente integrar proporcionará a família que tem um
a criança com necessidades especiais no filho especial experiências dentro das
complexo familiar, promovendo sua possibilidades, permitindo que essa
interação adequada com o meio em criança desfrute de seus direitos e
que vive. Desse modo, ela aprende o deveres, seja respeitada em suas
que é o mundo, integrando- se e limitações, mas valorizada por suas
sentindo-se parte importante dele. A capacidades. Devemos ressaltar o papel
criança com necessidades especiais do professor nesse contexto familiar
somente terá um desenvolvimento como sendo de fundamental importância,
saudável a partir do compromisso de pois esse será a ponte entre o aluno e
seus pais de também se família, transmitindo confiança,
desenvolverem, isto é, de assumirem segurança, dando acolhimento e, por
postura e atitudes que conduzam meio de um processo gradativo,
também o “crescer” com a criança. Os conscientizando os pais a respeito, do
pais sentir-se-ão obrigados a adaptar-se valor e da importância da família para o
à condição do filho especial; entretanto, é desenvolvimento psicossocial dos filhos,
igualmente importante que seja dada à e em particular do filho especial.
criança oportunidade para também se
adaptar a eles. O professor poderá orientar os pais com
relação à disciplina dessa criança
Além dos pais, os demais filhos poderão especial. “Toda criança precisa de
ser afetados de diversas maneiras pela limites”. Muitas vezes esses pais poderão
chegada de uma criança especial. relutar em discipliná-la, repreendê-la,
Eles poderão sentir-se preteridos e ensinar quais são seus reais limites,
negligenciados, já que o irmão especial como faz com os outros filhos. Talvez
requer muitos cuidados e tempo dos pais; porque pensem assim: “Coitadinha, já
poderão sentir-se talvez culpados pela tem tantos problemas”, ou, “é tão
deficiência desse irmão e enciumados limitada e sofre tanto”, e vão deixando a
por acharem que os pais só se importam criança fazer o que bem quer,
com o filho especial, dando- lhe toda a negligenciando seu papel de educadores
atenção; poderão sentir-se em decorrência da pena que sentem
pressionados para serem “os melhores” pelo fato de o filho ser deficiente. A
em todas as atividades (escola, esportes, criança especial precisa e deve aprender
profissão, etc.) para compensarem o a viver e conviver com a família e o
“fracasso” do irmão deficiente. mundo, entendendo que nem tudo o
que deseja terá de ser feito pelos outros.

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A tarefa de educar filhos não é fácil, de articular, no trabalho pedagógico, a


porém consiste, em grande parte, em realidade sociocultural das crianças, o
bom senso, reforçado por um interesse desenvolvimento infantil e os interesses
sincero e pelo amor. É um compromisso específicos que as crianças manifestam,
consciente entre pais e filhos, de bem como os conhecimentos
confiança e respeito mútuos. Para acumulados historicamente pela
BUSCAGLIA (1993, p.41), “disciplinar humanidade.
crianças deficientes, de forma sensata e
dentro de seus próprios limites Para isso, utilizam-se os temas dos
especiais, não é cruel, mas ao contrário, mini-projetos, que imprimem um clima
pode representar uma atitude de maior de trabalho conjunto e de cooperação à
generosidade”. medida que os conhecimentos vão sendo
coletivamente construídos, ao mesmo
Adaptações curriculares na Educação tempo em que são respeitados os
Infantil interesses individuais e os ritmos
5.1.1 - Crianças do nascimento aos seis diversificados das crianças. Propostos
anos pela pedagoga, detectados no grupo
infantil ou ainda sugeridos por pais de
Uma diversidade marcante em termos crianças, os temas dão um colorido e
culturais, sociais, econômicos e raciais um tom de entusiasmo e descoberta à
permeia as relações entre a criança, sala do grupo e ao trabalho de
sua família e a sociedade. estimulação em geral, e ao mesmo
tempo favorecem o crescimento infantil
A heterogeneidade é a marca dos e a construção de novos
diferentes contextos em que vivem as conhecimentos.
crianças com deficiência física, como as
condições de moradia, o número de Cada criança vence um a um os estágios
pessoas residentes na habitação, o de seu desenvolvimento de maneira
nível de escolaridade dos pais, a peculiar por meio da fala e da
profissão, as diferentes expressões de cooperação familiar, em especial da
religiosidade, o tipo de relacionamento mãe, que exerce um tipo de mediação.
entre os adultos e as crianças, as
atividades desses adultos, a idade da Destacamos a mãe, dentre os outros
mãe, a idade do pai, entre outros. membros da família por considerá-la a
mediadora e o instrumento mais
A formação do autoconceito na criança presente no processo do
depende de como seu meio está desenvolvimento psicossocial da criança
organizado e da relação que o adulto com deficiência física. Essa criança
estabelece com ela. pode vir a ter maior necessidade de
ajuda para o desempenho de algumas
Uma atividade que é planejada para a funções. Aí então os pais precisarão
criança do período sensório-motor e pré- ajudá-la a diferençar entre uma real
operatório envolve desde o seu preparo, dependência física e a dependência
passando pela motivação, pela emocional causada pela limitação.
curiosidade, permitindo a experiência
para a descoberta, até chegar ao produto Transformar a ligação da criança com
final. É necessário introduzir, desde o o grupo infantil em uma relação
período sensório-motor, a possibilidade prazerosa exige apenas que a mãe
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tenha e lhe passe a certeza de que assim selecionadas de acordo com o seu nível
vai ser. de desenvolvimento, porque dessa forma
a probabilidade de êxito e a modificação
A brincadeira é a melhor forma de do potencial de aprendizagem podem
aprendizado que a humanidade inventou. com certeza aumentar.
É brincando que as crianças aprendem
mais. Cabe a cada um de nós ter 5.1.2 Desenvolvimento psicomotor do
“olhos de ver e ouvidos de ouvir” para nascimento aos três anos de idade
compreender suas especiais Desde o nascimento a criança que não
necessidades e, dessa forma, incentivar apresenta nenhum tipo de deficiência
seu convívio na sociedade. As adquire conhecimentos por meio da
estratégias de ação implementadas para manipulação e de seu contato com o
facilitar as experiências com a utilização meio em que se desenvolve (MUÑOZ et
dos recursos de aprendizagem e da al.,1997).
distribuição do tempo devem prever:
Do nascimento aos três anos de idade, as
• apresentação da estimulação como necessidades cognitivas se traduzem
brincadeira adequada aos interesses da por uma certa curiosidade da
criança; descoberta do meio e, quando se fala de
• oportunidade para que ela também crianças que se encontram no período
crie e realize suas próprias estratégias; sensório-motor deve-se considerar que,
• progressividade, isto é, uma vez ao agir sobre os objetos, a criança,
alcançado um nível, sirva esse de base gradativamente, vai descobrindo suas
para passar ao seguinte; propriedades, e como seus esquemas
• facilitação da livre escolha, para a são essencialmente funcionais, ela
criança tomar decisões, expressar suas passa a perceber como é que esses
ideias e ir se acostumando a objetos funcionam em relação a si
responsabilizar-se por seus próprios própria.
atos;
• aceitação da autoridade e das Sua organização de mundo se dá,
normas, sem que isso limite a sua portanto, de modo simultâneo e
liberdade de expressão e criatividade; complementar à organização de suas
• possibilidade de serem solicitadas em ações frente ao meio. O corpo pode ser
um ambiente apropriado, com materiais considerado o ator nas relações que a
diversos e um clima emocional adequado, criança estabelece com o meio. Ele é
por meio dos quais elas possam ter a investido de significados, de
oportunidade de desenvolver seus sentimentos, de valores absolutamente
esquemas de ação nas diferentes áreas pessoais, porque as experiências de
de seu desenvolvimento. prazer e desprazer, de êxito e fracasso
E, com relação aos recursos de são sempre vivências corporais que vão,
aprendizagem, é importante ressaltar um paulatinamente, investindo-o de valores
dos princípios fundamentais da educação positivos e negativos.
infantil: a criança aprende quando está
preparada e motivada. Deseja aprender “Piaget afirma que o sensório-motor é o
quando reconhece a finalidade e a período da evolução da percepção e do
significação das atividades que se lhe movimento, sendo, também,riquíssimo em
apresentam. Essas atividades devem conquistas intelectuais decisivas para
ser criteriosamente programadas e a evolução posterior. É a fase em que a
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criança realiza as primeiras experiências cabeça, de tronco, do ato de sentar-


com recursos do próprio corpo utilizando se, de arrastar-se, de engatinhar e de
suas estruturas organizacionais básicas andar, se seu comprometimento
(sucção, preensão, visão, audição); na neurológico não for muito grave. Em
qual a representação do objeto nasce alguns casos, a criança não terá
da sucção, da motricidade, da busca condições neurológicas para tais
visual, auditiva e táctil, da manipulação; aquisições, ficando totalmente
na qual, a base conceitual primária da dependente em todas as atividades da
noção de espaço desenvolve-se a partir vida. Não se pode afirmar que existam
da coordenação de movimentos, assim duas crianças e, mais tarde, dois adultos,
como as noções primárias de percepção que apresentam o mesmo tipo de
de causalidade nascem com os erros e comprometimento motor em decorrência
acertos de manipulação”. (RODRIGUES, da paralisia cerebral. Há uma variação
1976) imensa desses comprometimentos, que
“É na fase sensório-motora (primeira podem acarretar desde um leve
etapa do desenvolvimento infantil) que cambaleio no andar até os quadros que
ocorrem os prejuízos básicos ao apresentam parcial ou total dependência
desenvolvimento da criança com da criança ao meio.
deficiência física pelas dificuldades de
manipulação, coordenação e exploração Observa-se que quando o
do meio. Essa situação condicionará de desenvolvimento dessa fase inicial da
forma marcante seu desenvolvimento nas vida da criança com deficiência física não
etapas seguintes e, geralmente, poderá ocorre dentro dos chamados “parâmetros
apresentar dificuldades na elaboração dos de normalidade”, pode desencadear-se
esquemas perceptivos – esquema um atraso no desenvolvimento global
corporal, orientação e estruturação subsequente, comprometendo ainda
espaço temporal, lateralidade, etc.” mais sua interação com o meio e
(MUÑOZ et al., 1997) A criança que prejudicando suas aquisições mentais,
apresenta comprometimentos motores que são consideradas os pilares que
devidos a lesões neurológicas poderá formam a base necessária para o
ser, logo que nasce, um bebê “molinho” posterior processo de aprendizagem
para, a partir de dois ou três meses de formal e de aprendizagem escolar.
idade, apresentar progressiva Tão logo a família tome conhecimento
espasticidade (enrijecimento dos do diagnóstico de paralisia cerebral de
músculos de braços e pernas que, sua criança, deverá procurar locais
prejudica o ato de dobrá-lo e movimentá- especializados para tratamento de
lo adequadamente) ou um bebê com reabilitação e, dessa forma, dar início ao
dificuldades de sucção, de preensão, de processo de estimulação precoce, cujas
visão ou de audição, necessitado de atividades específicas e direcionadas têm
diferentes tipos de adaptações para ser a proposta de promover o melhor
alimentado, posicionado, acomodado desenvolvimento possível da criança com
etc. Sua percepção do mundo esse tipo de comprometimento.
corresponderá às acessibilidades que “Todo o processo de estimulação precoce
lhes sejam proporcionadas; seu deverá estar voltado para desenvolver e
desenvolvimento maturacional e, reforçar as capacidades sensoriais,
consequentemente, físico poderá ser intelectuais, motoras e de prontidão,
mais lento, podendo apresentar estruturas básicas que antecedem ao
aquisições tardias como: equilíbrio de processo de aquisição da leitura e
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escrita, em busca de maior integração O gosto pela atividade corporal, o prazer


do movimento, pensamento e extraído dos jogos com objetos, o
linguagem." Nessa fase, ação sobre o contato com outras crianças e adultos
ambiente, por meio de atividades e devem fazer parte integrante do projeto
materiais variadíssimos (a construção educativo da criança comprometida pela
do real), a comunicação, a organização deficiência física (SOUZA &
da criança e de suas ações e FERRARETTO, 1998). Atividades que
pensamento, a tríade espaço-tempo- satisfaçam necessidades motoras,
causalidade, a consciência do próprio sensoriais, afetivas e intelectuais e, ao
corpo, de si mesmo, a expressão são mesmo tempo, sejam prazerosas,
os primeiros objetivos com os menores. passam a fazer parte importante do
Explorar ao máximo a capacidade de sistema de significações da criança
conhecimento físico dessas crianças.” (HEYMEYER & GANEM, 1993).
(SOUZA & FERRARETTO, 1998, p.318)
“Quando se fala em movimento da criança
com deficiência física, considera-se
desde o deslocamento do seu corpo
num determinado espaço até a vitória de
movimentos para o estabelecimento da
comunicação, como um simples levantar
e apontar de dedo para um objeto (para o
qual sua intenção de execução esteja
dirigida) ou mesmo, um piscar de olhos,
significando uma resposta positiva ou
negativa.” (FLAVEL et al., 1999)
É muito importante observar o ritmo de
desenvolvimento de cada criança, pois
sua necessidade de experimentação, de
manipulação e/ou de vivência poderá No período pré-operacional ocorrem
requerer um tempo mais prolongado, profundas transformações afetivas e
diversidade de estratégias, mergulhos intelectuais. Nessa fase, processa-se na
repetidos nas experiências concretas criança a aquisição das primeiras formas
para aquisição e assimilação de de linguagem, iniciando-se a socialização
conhecimentos, enfim, que sejam efetiva da inteligência; instala-se o
respeitadas suas necessidades e seu pensamento propriamente dito, porque a
jeito de aprender. criança é capaz de pensar seus próprios
pensamentos, e de pensar uma coisa e
Nessa fase, os jogos e brincadeiras fazer outra; é a fase da fantasia, na
são a tônica, pois vão ao encontro do qual, brincando, a criança elabora e
universo lúdico da criança, aliviando procura resolver as situações conflitantes
tensões e promovendo a integração do da sua vida (RODRIGUES, 1976).
grupo, dando ênfase à educação
psicomotora por meio de atividades que 5.1.3 Comunicação alternativa do
proporcionem a descoberta do próprio nascimento aos três anos de idade
corpo, de sua capacidade na execução Desde o nascimento, assim como
do movimento, dos outros parceiros do qualquer criança, também aquela com
grupo, do meio. paralisia cerebral deve ser mergulhada
no universo da linguagem por todos que
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se relacionam com ela. A fala dos pais, porque ela depende de fatores como:
dos terapeutas, dos professores é sua gravidade motora associada ou não a
muito importante para que ela ingresse e déficits visuais e ou auditivos, seu
se situe no contexto da comunicação. É desenvolvimento global, estímulos que o
fundamental observar cuidadosamente os meio lhe oferece, sua relação de
movimentos potenciais de comunicação afetividade com o meio, sua
que ela desenvolve, como os capacidade cognitiva etc. Cada criança
movimentos corporais (enrijecimento do é única, e deverá ser vista e
corpo, aumento de movimentação compreendida como tal em todas as
involuntária, agitação), os sons vocais situações no ambiente de
que produz, o direcionamento e fixação aprendizagem.
do olhar, o manuseio e toque de objetos,
a manifestação de sentimentos de Para se estabelecer qualquer tipo de
alegria, raiva, tristeza, diante de comunicação alternativa são ideais as
situações, pessoas ou objetos, o tipo de tentativas e experimentações com a
brincadeiras que pode e de que gosta própria criança, atentando para perceber
ou não de participar, porque poderão se ela parece estar pronta para o
ser vistos e interpretados como entendimento e aplicação dos símbolos.
elementos importantes para o Uma situação de comunicação
estabelecimento da comunicação alternativa poderá ser elaborada,
alternativa em substituição à inicialmente, com um número pequeno
comunicação formal, ou, ainda, servir de símbolos, que poderão ser objetos da
como complementação do potencial vida diária, como: mamadeira, copo,
comunicativo existente. A observação é prato, brinquedo preferido, para
uma estratégia muito importante para se expressar situações ou palavras
descobrir que tipo de comportamento da familiares que tenham valor significativo
criança poderá ser entendido como canal para a criança como alimentação, sono,
potencial de comunicação. higiene... Exemplo: a mamadeira e, mais
tarde, o prato, trazem o significado de que
Do nascimento aos três anos de idade, é hora da refeição, assim como a caneca
a criança comprometida pela paralisia ou o copo poderão ser usados para
cerebral precisa ser observada simbolizar que a criança quer beber
atentamente, com objetivo de verificação água. É muito importante que a pessoa
da potencialidade ou não de fala, porque, que acompanha as situações de
muitas vezes, seu desenvolvimento estabelecimento e uso diário dos
global sofre alterações, ocorrendo mais símbolos traduza, em palavras, a ideia
lentamente. Independentemente disso, completa do que a criança quer
toda criança deve ser estimulada e comunicar,
valorizada com relação a seu potencial
de comunicação, desde que nasce, pois
todo esse processo visa a beneficiar a
criança no universo comunicativo,
independentemente de suas
possibilidades futuras.

É bastante variável a fase em que se


inicia a compreensão do processo
comunicativo entre os indivíduos,
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própria comunicação, dando-lhe o tempo


necessário para responder e interagir,
além de respeitá-la, também se
favorecerá a aprendizagem e
comunicação. Algumas compensações
ou adaptações nos posicionamentos dos
envolvidos deverão ser feitas para
facilitar os episódios de comunicação:

• Os parceiros ou interlocutores da
criança deverão se posicionar de forma
que também possam ver, ouvir e sentir a
colocando o devido conteúdo na criança durante a comunicação, ao
mensagem transmitida, usando a mesmo tempo que ela possa vê-los,
estrutura gramatical correta e determinar ouvi-los e senti-los durante o processo.
o seu uso: L. quer beber água porque Devem procurar encontrar uma posição
está com sede. Dessa forma, a criança mais adequada para ambos no
poderá perceber que tem condições de processo de indicação, escolha,
comunicar-se e de ser compreendida, manipulação e uso dos diversos
além de ter acesso ao uso correto da recursos comunicativos a fim de que
estrutura da nossa língua. A rotina no não se percam as oportunidades. A
uso desses símbolos lhe dará maior escola que possui equipe de apoio
segurança e, aos poucos, novos deverá buscar auxílio dos profissionais
símbolos poderão ser integrados para especializados para melhor
criar um sistema e um ambiente posicionamento e adequação de
particular de comunicação da criança material (fisioterapeuta, terapeuta
associando também os gestos, o olhar ocupacional e fonoaudióloga) para
direcionado, o apontar, o alcançar e criação e ou estabelecimento de
outros movimentos. À medida que a símbolos.
criança evolui e adquire melhores • Outra maneira de observar a criança
condições de ampliar o sistema de durante a comunicação é com ela no
comunicação alternativa, poder-se-á colo. O parceiro deve ficar frente a um
fazer uma ponte entre os objetos usados espelho, para poder ler os movimentos
como símbolos para algo mais abstrato, dos olhos e a expressão facial para
como um pequeno álbum contendo detectar prováveis potenciais de
fotografias da própria criança, das comunicação.
pessoas do seu convívio e que são • Em quaisquer das situações já
importantes para ela (pai, mãe, avós, mencionadas, o ideal é que os olhos do
tios, irmãos, madrinha, etc.), assim interlocutor estejam ao nível dos olhos da
como das suas preferências, que criança, porque, dessa forma, ele terá
poderão ser de figuras recortadas de melhores possibilidades em
revistas, embalagens e rótulos compreendê-la e interagir com ela.
(MARUJO, 1998). • A partir do comprometimento motor da
criança, deve-se encontrar o melhor
Reagir à criança para estabelecer uma posicionamento para os momentos de
comunicação eficiente na qual se possa alimentação, facilitando-se para a
garantir respostas e respeitar o papel das criança levar ou colocar a alimentação na
crianças como controladoras da sua boca, mastigar e engolir. Algumas
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crianças apresentam sérios quebra- cabeças desenhados e


comprometimentos nesse processo, adaptados às condições motoras e de
podendo ocorrer engasgos, tosses, manipulação da criança (ampliados, com
espirros, devolução do bolo alimentar, traçado grosso e poucos detalhes e em
lentidão e muita dificuldade para engolir, papel resistente do tipo cartolina, papel-
quando poderá, ao mesmo tempo, cartão ou caixas de papelão). Com as
“engolir” e “respirar” e, assim sendo, partes do quebra-cabeça imantadas,
parte da alimentação poderá se localizar assim como uma placa onde deverão ser
nas vias pulmonares, acarretando fixadas. Esse material poderá ser melhor
problemas de pneumonia, manipulado, favorecendo a ação criativa
broncopneumonia etc. Cada alimento a e a descoberta de regras, propiciando
ser oferecido necessitará de especial momentos de aprendizagem prazerosa
atenção, a fim de adequá-lo às (MARUJO, 1998).
possibilidades de deglutição da criança: É muito importante observar também
que todo o desenrolar-se das
- engrossar líquidos ou diluir alimentos atividades envolvendo tempo,
pastosos e colocá-los em recipientes continuidade e aprendizado para uso nas
próprios para o consumo da criança diferentes situações de comunicação
(copo resistente com canudo, copo com terão variações de acordo com a
tampa e abertura para sair o líquido, etc.); necessidade de cada criança e do
- triturar ou moer a carne; processo necessário para cada ação em
- frutas amassadas ou raspadas; particular. Deve-se considerar, também
- pão macio e picado em pequenos que as regras precisam ser claras e
pedaços. todos os envolvidos deverão aplicá-las
de forma igual com a criança para se
• Selecionar brinquedos e outros estabelecer um padrão único de
materiais com os quais a criança possa comunicação. Em qualquer situação de
interagir, entendendo que eles precisam comunicação, a criança deverá estar bem
estar de acordo com o posicionada, de forma a ter condições de
desenvolvimento cognitivo, motor e buscar e encontrar visualmente seu
visual da criança, e tomar os devidos objeto de indicação, e encontrar o olhar
cuidados para que não se desmontem no do interlocutor, também posicionado de
manuseio. forma que ele perceba todos os
• Criar situações para que a criança, movimentos corporais e expressão facial
usando da sua fantasia, modifique os da criança.
brinquedos, inventando funções
diferentes para os mesmos (poderá fazer À medida que a criança cresce, ela
de uma caixa uma bola de futebol). deverá ser estimulada a usar todas as
• Observar se os brinquedos são de formas possíveis de comunicação:
tamanho, forma e resistência movimentos, sons vocais, fixação ou
compatíveis com a possibilidade de busca visual. No caso de insucesso ou
preensão e manipulação pela criança. E recusa da criança, descarta-se
muitas vezes haverá necessidade de momentaneamente a forma utilizada.
adaptação para que a criança possa Entretanto, ela deverá ser retomada para
usá-los: aplicando puxadores especiais novas tentativas no decorrer do
compatíveis com a sua capacidade de amadurecimento da criança.
preensão (substituindo material fino por
grosso, como barbante por corda);
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A criança deverá ser sempre estimulada 5.1.4 Desenvolvimento psicomotor dos


a dar sua opinião e manifestar seu quatro aos seis anos de idade
desejo diante de todas as situações de
contato comunicativo. Isso poderá ser Na fase dos quatro aos seis anos de
proporcionado com alternativas como por idade, teoricamente, deduz- se que, a
exemplo: “você quer usar este papel criança com deficiência física estaria em
amarelo ou aquele que é verde?” condições de iniciar escolaridade na
Quando a criança apresenta graves educação infantil. Porém, visando
comprometimentos motores, é preciso beneficiar a própria criança, é
que os pais e os profissionais envolvidos fundamental observar se ela apresenta
no trato diário com a criança observem condições reais de iniciar essa fase, que
que tipos de movimento, mesmo que é muito importante para seu
sutis, exagerados ou diferentes, ela aprendizado. As dificuldades de
consegue fazer, para transformá-los em percepção, de motricidade, de
comunicação, aproveitando as situações comunicação, de interação social e
da vida diária para dar ênfase ao uso e outros problemas até então
aplicação desses movimentos, até que apresentados por ela poderão ter
ela aprenda a usá-los com significação. provocado uma defasagem em seu
Ela aprende que um movimento do ritmo de desenvolvimento cognitivo e,
olhar, do pé, um esticar de braço, os dessa forma, somente o fato de ter
sons que produz são forma de alcançado a idade ideal para o novo
comunicação. passo não garante que ela possa estar
apta para enfrentar esses novos desafios
À medida que a criança cresce e seu de forma satisfatória para ela.
desenvolvimento evolui, pode ocorrer o
aprimoramento das suas habilidades Estimular adequadamente a criança,
motoras, aumentando suas procurando suprir as carências em seu
possibilidades de comunicação nas quais desenvolvimento global, cria
pode fazer tentativas para criar oportunidades para experimentações,
situações diferentes de comunicação, vivências, exploração do meio. Ao
criando outros movimentos, até que o fornecer as devidas orientações à
adulto descubra seu significado. Se não família, objetiva-se estabelecer uma
houver respostas à sua tentativa de se parceria efetiva a favor do melhor
comunicar, a criança poderá desistir de desenvolvimento possível da criança,
tentar, desfavorecendo sua evolução com vistas à sua real inclusão escolar e
comunicativa. social. Essas são ações que propiciam
uma melhor evolução global de toda
Com a criança na escola (creche ou criança.
educação infantil), o professor deve
assumir o papel de aproximar os pais O comprometimento motor faz com que
para que as necessidades de os movimentos da criança com
comunicação da criança sejam deficiência física sejam lentos, e estes,
satisfeitas, procurando estabelecer uma somados à falta de coordenação, irão
parceria de trocas de informações causar uma lentidão de ação, implicando
sobre o modo como criam soluções para em um ritmo de vida diferenciado, com
compreender a criança na rotina diária, e repercussões na aprendizagem
assim estabelecer um padrão uniforme (MUÑOZ et al., 1997). Por causa
para o trabalho. dessa gama de comprometimentos,
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observa-se que o desenvolvimento limitações para interação adequada,


dessa criança não ocorrerá dentro das presenciam a movimentação e as
etapas previstas por Piaget porque ela mudanças de seu meio e, assim
apresenta ritmo mais lento de operando mentalmente sobre seu mundo,
desempenho e interação. Portanto, é passiva e silenciosamente se
preciso observar e avaliar com atenção desenvolvem, formando, alimentando e
quais são suas reais possibilidades de mantendo estruturas suficientes para a
aprendizagem no momento, sem incorrer aprendizagem. Quando isso acontece, é
em generalizações ( MARUJO, 1998). certo que o desenvolvimento poderá
ocorrer de forma mais lenta, porque não
Embora a criança possa ter uma é a criança quem está manipulando e
inteligência considerada dentro do experimentando as ações com o meio,
padrão de normalidade e destreza mas participa como expectadora,
suficiente de movimentos, ela poderá tornando o processo de aquisição de
apresentar algumas dificuldades: conhecimentos mais lento.

• nos jogos construtivos, como os Na educação infantil, a organização dos


quebra-cabeças, com os quais tem muita alunos deverá ser cuidadosa, objetivando
dificuldade em organizar as peças para o agrupamento de crianças em níveis de
sua montagem, etc.; desenvolvimento próximos para
• na representação gráfica: o desenho proporcionar melhores oportunidades de
de uma casa, uma bola, um boneco não troca, parcerias, ajuda mútua e outras
seguirão a representação considerada relações importantes, porque em um
normal etc.; ambiente de sala de aula de escola
• em orientar-se no espaço: perde-se na regular dever-se-á considerar alguns
organização do próprio corpo no espaço aspectos relevantes, como:
e, consequentemente, para seguir
ordenadamente os movimentos a) o número de alunos de cada classe
mecânicos usados para alimentar-se, deverá corresponder às possibilidades
para os primeiros traçados, etc.( MUÑOZ de organização, orientação e
et al., 1997). atendimento do professor para todos os
É importante esclarecer que a alunos, mas também para a criança com
maturidade de desenvolvimento dessa necessidades especiais que,
criança deverá ser observada com base naturalmente, é mais dependente para
em suas capacidades e possibilidades, participar e executar as tarefas,
na forma como ela compreende e reage requerendo, portanto, o
aos estímulos. Forçar quaisquer acompanhamento individual do professor
situações de aprendizagem que tenham em todas as atividades propostas;
como base somente o desenvolvimento
cronológico (idade) trará como
consequência o desrespeito a seu real
potencial e, também, estar-se-á
promovendo a desigualdade de
oportunidades, porque não lhe serão
oferecidos desafios compatíveis com sua
capacidade e suas possibilidades.
Também há crianças que superam
essas dificuldades e, mesmo com
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coletiva dos conhecimentos, além de


respeitar os interesses individuais e os
diferentes ritmos dos alunos. As
diferenças têm a conotação de
contribuição porque estão buscando
satisfazer a todos os interesses e,
dessa forma, esse tipo de diversidade
precisa ser vista de maneira a ser
compreendida e respondida devidamente;
e) fios condutores e, ao mesmo tempo,
geradores de atividades infantis. O
movimento lúdico alimenta o imaginário
dos alunos, necessário para que a
criança que apresenta dificuldades de
interação com o meio possa ter
oportunidade de “brincar”,
b) a participação efetiva do aluno no
experimentando diferentes situações que
desenvolvimento de sua aprendizagem,
satisfazem sua necessidade de
porque aquele é um elemento catalisador
integração, de sentir-se igual aos
dos interesses dos alunos, cuja
demais, da descoberta do prazer e das
motivação está presente no movimento
suas próprias possibilidades (KRAMER,
de participação e desempenho do grupo,
1992).
satisfazendo-o e estimulando-o num
As propostas metodológicas que levam
processo de contínua busca. Nesse
em consideração projetos de trabalho
contexto, a participação e o
abrem infinitas possibilidades para que a
desempenho da criança com deficiência
criança que apresenta diferentes
física têm se mostrado mais acentuados,
limitações tenha oportunidade de
favorecendo sua necessidade de
experimentar, de manipular, de
vivenciar intensiva e de diferentes
vivenciar, de trocar, de se divertir, de
maneiras situações em busca de
sentir prazer em construir
significados para construir
conhecimentos, porque só com a
conhecimentos;
experimentação concreta de todas as
situações de aprendizagem ela será
c) temas geradores desenvolvidos no
beneficiada. A construção de
trabalho pedagógico, que permitem a
conhecimento vivo e dinâmico, sempre
possibilidade de articular a realidade
em movimento e transformação faz com
sociocultural dos alunos, fazendo-os se
que o aluno sinta-se como autor do seu
sentirem valorizados e em igualdade de
próprio conhecimento e ajuda-o a se
condições com o restante do grupo
perceber com autonomia sobre o seu
quando sua bagagem histórica “entra nas
saber, valorizando autoestima e
brincadeiras” e enriquece o
ajudando-o a descobrir-se como alguém
desenvolvimento infantil, porque ela
com capacidades.
responde aos interesses específicos
que as crianças manifestam;
Se todos os objetivos de aprendizagem
de qualquer fase escolar tiverem, como
d) temas geradores, que favorecem um
ponto de partida, oportunidades de
clima de trabalho em conjunto e de
experimentação de situações nas quais o
cooperação no processo de construção
palpável, o concreto estejam presentes,
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sendo manipulados intensivamente e em necessidades e interesses, para que


diferentes situações, todos os alunos cada símbolo seja escolhido por ela
terão ganhos evidentes no processo de porque tem um significado real para ela,
construção de conhecimentos. e, com isso, possa ser colocado em uso.
Essa nova forma de comunicação poderá
5.1.5 Comunicação alternativa de não ser compreendida imediatamente
quatro a seis anos de idade pela criança, necessitando, portanto, de
um período de adaptação variável de
Nesta fase, a criança poderá mostrar que criança para criança, para que ela
está pronta para iniciar o processo de possa compreendê-la, assimilá-la e
estabelecimento de comunicação colocá-la em uso.
alternativa com o uso de símbolos
concretos já relatados anteriormente, ou Os símbolos escolhidos pela criança
está superando etapas e, com isso, deverão ser organizados de tal forma
não necessita mais do objeto concreto que facilitem seu transporte e manuseio
como símbolo de comunicação, estando e, se possível, agregados numa pasta,
pronta para começar a utilizar formas num caderno resistente, num álbum ou
simbólicas: outro material com essa característica,
para acompanhar a criança onde quer
• Símbolos visuais para representar uma que ela vá, para o seu uso com finalidade
ideia: fotos, figuras recortadas de de comunicação.
revistas, jornais, propagandas, livros,
rótulos, desenhos. A criança que apresenta potencial de
• Símbolos de fala: sons que a criança fala, mas cujo desenvolvimento está
possa produzir onde, a partir desse ocorrendo com atraso, terá benefícios
momento deverão ter intenção de falar nesse processo, porque muito antes da
alguma coisa, ou seja, de comunicar aquisição da fala estará desenvolvendo
algo importante para ela. Dessa forma, à uma forma alternativa de comunicação e,
medida que a criança recebe com isso, formando estruturas básicas
devidamente atenção e orientação, para uma comunicação eficiente. Se a
poderá aperfeiçoar esses sons, criar fala ocorrer, a comunicação alternativa
outros e, com isso, sentir-se valorizada e será negligenciada, e até abandonada.
encorajada a novas descobertas. Se isso não acontecer, aos poucos
• Combinações dos sistemas acima poderá procurar um modo de aperfeiçoar
mencionados, que também poderão ou sofisticar sua forma de comunicação.
estar associados a gestos faciais e
corporais, de forma a propiciar a melhor É possível e muito importante que a
forma de entendimento da ideia que ela pasta de comunicação alternativa da
quer transmitir, além de permitir que a criança contenha símbolos das
criança saiba que tem algum tipo de atividades da vida diária (alimentação,
controle sobre o seu mundo e sobre os higiene), das suas preferências
sons que ela produz. Não está (brinquedos, lugares, amigos), como
totalmente passiva e a mercê da também de material adequado para sua
iniciativa do outro (MARUJO, 1998). participação efetiva nas atividades de
Isso deverá ocorrer num processo sala de aula, no que diz respeito ao
gradativo durante o qual essa nova forma conteúdo pedagógico e às regras de
de comunicação será estabelecida junto convivência desenvolvidas pelo
com a criança, de acordo com suas professor. Com o progresso do domínio
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pela criança do manuseio da pasta de atento ao tipo de movimentação de


comunicação alternativa, novos símbolos membros superiores que a criança com
deverão ser incorporados, à medida que deficiência física apresenta, com objetivo
a necessidade de comunicação se de verificar quais as possibilidades de
amplia. grafismo, do momento ou futuras. Muitas
vezes, a prontidão para o grafismo
5.1.6 Recursos e adaptações de poderá estar defasada em relação ao
materiais pedagógicos desenvolvimento da criança sem
deficiência e, em alguns casos, a criança
O comprometimento motor da criança poderá não apresentar condições de
com deficiência física torna-se muito escrita. Somente com o tempo e a
evidente nas diferentes situações de estimulação adequada, respeitadas as
sala de aula nas quais o aluno precisa possibilidades e potencialidades do
mostrar condições de “fazer”, ou melhor, aluno, é que ele poderá mostrar
de “executar” as atividades de condições de escrita. Se ele apresenta
exploração e manipulação de material e condições, mas os movimentos de braços
do próprio corpo, como recorte, colagem, são amplos, fugindo ao espaço limitado
grafismo, entre outros. de cadernos ou folhas de papel sulfite,
esses materiais terão que ser
A movimentação corporal, assim como a adaptados ao espaço adequado a sua
coordenação motora fina da criança, condição de movimentação, para o
poderá estar prejudicada por todos os registro do grafismo.
problemas já relatados anteriormente.
Por isso, vários aspectos de seu Com esse quadro, o desenho da
desempenho fogem ao padrão de criança poderá apresentar-se
normalidade, mostrando uma execução prejudicado porque ela não consegue
diferente, ou até podendo não conseguir representá-lo de forma a ser entendido:
realizar de forma nenhuma as atividades usa traçados disformes, como imensas
comuns. garatujas, e seu desenho não representa
o modelo. O estímulo do professor é
Em todas as situações próprias ao fundamental nessas situações, porque a
desenvolvimento e à aprendizagem da criança sabe melhor que todos que a
criança na sala de aula e na escola, representação feita por ela não se
o aluno com comprometimentos motores aproxima com a mesma fidelidade da
deverá receber a atenção necessária representação que os colegas fizeram e,
para que possa delas participar, dentro muito menos, do objeto real. O seu
das suas possibilidades e com o seu esforço e dedicação deverão ser
jeito de atuar. Dessa forma, tendo as levados em conta e valorizados para que
mesmas oportunidades de participação ela possa sentir-se produtiva e
e de execução, a criança se sentirá participante.
valorizada e estimulada, desenvolvendo
sua auto- estima e, pelas experiências e São raras as crianças que conseguem
oportunidades de interação social, terá fazer letra do tipo cursiva. Para algumas
condições de formar as estruturas delas, é mais fácil produzir a escrita, em
mentais básicas para aprendizagem. letra de forma do tipo bastão (letra de
forma maiúscula) e, ao longo da vida,
Na fase em que se inicia o grafismo, é poderá ser essa a única forma de escrita
muito importante que o professor esteja que conseguirão produzir. Assim como
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no desenho representa o objeto de algumas adaptações nos utensílios


forma irregular ou diferente do real, a usados para alimentação e higiene.
letra “feia” também poderá ser uma
constante na sua vida. Nesses casos, Algumas adaptações básicas de material
não se recomendam exercícios de uso diário são importantes:
repetitivos em cadernos de caligrafia ou
em outro material melhor adaptado, • bandejas ou tábuas com recortes para
porque o que ela está produzindo é o copos e pratos que podem ser presos
máximo que consegue realizar. Ao longo sobre a mesa com ventosas ou outro
de seu desenvolvimento, poderá sistema de fixação, evitando que
apresentar melhora no traçado, e só não escorreguem ou caiam, sendo indicado
consegue fazer melhor porque realmente especialmente para crianças com
não tem condições motoras para isso, incoordenação olho-mão-mão- boca;
apesar de todo seu esforço. • pratos com ventosas, com bordas
O material pedagógico precisa ser altas, que permitem a fixação na mesa
adaptado às condições de manipulação ou bandeja, impedindo que a comida se
e de uso da criança, sendo que, para espalhe, indicado para crianças com
isso, a criatividade e inventividade do incoordenação motora manual;
professor são fundamentais. O material • copos adaptados com bases mais
de sucata é importante para esse fim: pesadas, indicadas para inibição dos
embalagens e tampas de material de movimentos involuntários;
limpeza, caixas de diversos tamanhos • copos com duas alças para favorecer
(pasta dental, remédios, presentes, a simetria dos membros superiores e
sapatos, sabão em pó), latas com coordenação bimanual;
respectivas tampas, rolos vazios de papel • copos com bordas recortadas, para
alumínio, tubos de filmes fotográficos, etc. evitar a extensão da cabeça e
Muita coisa poderá ser feita com ajuda da probabilidade de aspiração;
comunidade, como, por exemplo, o • talheres, pentes e escovas de dente
marceneiro poderá fazer em tamanho adaptados quanto ao tamanho, tipos e
maior as peças de jogos de dominó, angulações, com engrossamento de
números e letras do alfabeto (mais ou cabos revestidos de espuma, e epóxi ou
menos de 12x10 cm), peças do material outros materiais, permitindo melhorar a
dourado, dos blocos lógicos etc., sempre preensão. As angulações proporcionam
com o tamanho de acordo com a melhor desempenho motor em relação à
visualização e capacidade de coordenação mão-boca, em casos de
manipulação e preensão da criança. desvios ulnares;
• lápis com diâmetro engrossado por
É importante destacar que, na educação várias camadas de fita
infantil, constitui aspecto relevante a crepe, argila, espuma, massa do tipo
aquisição de conceitos relacionados às epóxi ou outro material; • evitar o uso
atividades de vida diária, à saúde e de cadernos para a realização de
independência pessoal e social. atividades da criança, porque não podem
ser bem fixados, e também pela
Nessa perspectiva, as crianças que diferença de altura com relação à mesa
apresentam comprometimentos motores ou carteira;
relacionados à preensão e coordenação • para o traçado ou execução de
poderão adquirir maior grau de atividades da criança, usar papel maior
independência com a utilização de que o sulfite padronizado, que é do
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tamanho A4. Pode-se usar o papel


manilha, popularmente conhecido como
papel de embrulho, que é encontrado em
lojas de armarinho, de tecidos,
papelarias e armazéns, e pode ser em
rolo; folhas de sulfite de tamanho A1, ou
outro tipo de papel que poderá ser
adaptado para esse fim;

• os desenhos apresentados nas


diversas atividades deverão ter contorno
grosso, ser simples, com poucos
elementos e sem detalhes, para que sua
visualização identificação ou
reconhecimento fiquem mais acessíveis
para a criança;
• para melhor percepção pela criança, as
figuras geométricas, letras e números
usados no processo inicial de
manipulação (em tamanho grande e de
preferência de madeira) deverão ser
• o papel deverá estar preso nas
revestidos com lixa na face principal. Na
quatro pontas com fita crepe larga com
manipulação, resultados melhores são
grande capacidade de aderência para
alcançados quando o professor orienta,
suportar os movimentos de traçado da
passo a passo, quais os movimentos que
criança;
a criança deve seguir para perceber e
construir a idéia do objeto pesquisado;
• as atividades preparadas pelo professor
• os primeiros exercícios de percepção do
deverão ter traçado grosso feito com
traçado no papel poderão apresentar
pincel atômico em tamanho grande para
melhores resultados se, por baixo da
melhor visualização, percepção e
folha que a criança estiver usando, for
entendimento da criança;
colocada uma folha de lixa de madeira,
• o traçado de desenhos, letras e
iniciando-se pela mais grossa e áspera e
números deverá ser feito na cor
ir gradualmente trocando-a por outras
preta, em papel de fundo branco ou da
mais finas. É importante ressaltar que
cor gelo;
cada fase em que se objetiva estimular os
diferentes tipos de percepção do aluno
tem um ritmo e tempo próprios, devendo-
se considerar especialmente as
características de cada criança. O
professor deverá estar atento ao
momento em que foi superado um
desafio, para só então provocar outro;
• assim como as folhas de atividades
deverão ser presas nos
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quatro cantos com fita crepe, no caso


do uso de caderno, o mesmo
procedimento precisa ser tomado;

• quando a criança se encontrar na fase


de construção da escrita, as linhas das
folhas deverão ser feitas com pincel
atômico e com espaço entre linhas de
acordo com o tamanho da letra que ela
produz. Muito lentamente, à medida que
adquire maior compreensão do espaço
• é importante para a criança explorar e para escrita e segurança no traçado, o
vivenciar concretamente todo tipo de espaço entre linhas poderá ser diminuído
percepção com o próprio corpo, com o gradativamente. Somente quando ela
professor fazendo o movimento com ela dominar o novo espaço poder-se-á
quando existe a impossibilidade de fazê- introduzir um novo desafio;
lo sozinha, contribuindo para formar suas
estruturas mentais básicas para a
aprendizagem;

• as atividades com papel deverão ser


poucas e organizadas, de forma que
facilitem a visualização, compreensão e
execução da criança;
• alguns alunos poderão encontrar maior
facilidade visual e de organização se o
material (folha, caderno, livro, etc) for
colocado sobre a prancha elevatória que
aproxima e permite melhor visualização
e manipulação para execução do aluno;
• para a criança que apresenta
dificuldade de percepção espacial
(quando não consegue encontrar
determinada letra no meio de outras,
perdendo-se e frustrando-se) o professor
poderá providenciar uma tira de cartolina
ou papel cartão nas cores branca ou
preta, onde fará uma “janela” que é um
buraco de forma retangular de tamanho

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suficiente para destacar a letra ou


número em questão. O professor
colocará a janela sobre o papel onde se
encontram as letras deslizando-a sobre
elas, uma a uma, até que a letra seja
localizada e reconhecida pela criança;
• quando a criança apresenta
dificuldades motoras acentuadas que a
impedem de fazer uso da comunicação
escrita (quando não consegue escrever),
deverá ser valorizada e estimulada a sua
comunicação oral;
• no que diz respeito ao melhor
posicionamento na sala de aula para as
diversas atividades e às adaptações ou
confecções de mobiliário específico, a
responsabilidade cabe à equipe de
apoio e, particularmente, ao
fisioterapeuta e terapeuta ocupacional.

Adaptações de mobiliário
5.2 Adaptações de mobiliário

É importante estar atento à postura


sentada da criança na sala de aula, de
maneira que:

- o corpo fique reto (e não dobrado,


curvado ou torcido);
- os braços devem estar apoiados,
alinhados e afastados dos lados do
corpo;
- as mãos devem estar na frente dos
olhos para melhor função durante a
atividade escolar e alinhamento do corpo;
- a distribuição do peso deve ser
igualmente sobre os dois lados do
corpo, sobre os braços, quadris, joelhos
e pés.
Cabe salientar que não são todas as
crianças que serão capazes de ficar
nessa posição sentada; em muitos casos
poderá ser necessário o uso de suportes,
como almofadas nas laterais das coxas,
apoios laterais para o tronco e apoio para
a cabeça. Os pés devem estar sempre
apoiados sobre uma base firme.
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Não existe um posicionamento padrão • cadeira de chão (FOTO): é usada pela


funcional do sentar, pois cada indivíduo, maioria das crianças, contudo cabe
ao longo de sua vida, terá a necessidade ressaltar que devemos estar atentos
de encontrar uma posição individual, quanto às medidas da cadeira, como a
conforme a atividade que estiver profundidade, largura e altura, para
realizando; a posição mais adequada a permitir que a criança possa sentar-se
cada aluno será a que oferecer conforto e sobre os ísquios, apoiar as costas no
possibilidade de viver plenamente. O encosto, e apoiar os pés no solo.
sentar normal consiste em posicionar Também pode ser importante que a
diferentes partes do corpo, como quadril, cadeira tenha braços nas laterais para
joelhos e pés em ângulos de 90º. A uma maior segurança da criança e para
atenção à postura sentada é de grande facilitar as mudanças posturais;
importância, pois provê os seguintes
benefícios:
- normalizar ou diminuir as influências
neurológicas anormais;
- manter o alinhamento do corpo e
controlar ou prevenir deformidades e/ou
contraturas;
- aumentar a estabilidade do corpo,
aumentando a função dos membros
superiores;
- diminuir a fadiga;
- aumentar o tempo de tolerância na
postura sentada, pois a criança se sente
confortável; • cavalo de abdução: é colocado tanto na
- facilitar os padrões normais de cadeira de chão quanto nas cadeiras de
movimento. posicionamento e serve para manter os
Portanto, é muito importante estarmos membros inferiores abduzidos (joelhos
atentos ao posicionamento para a afastados);
realização das atividades na escola. • cantinho: é usado para criança sentar-
Para tanto, dispomos de alguns tipos de se nas atividades desenvolvidas no
mobiliários para esse fim: chão;

• cadeira de posicionamento:
- com encosto reto: é usado de forma
mais comum nos casos de paralisia
cerebral, tipo espástico, pois favorecem
um bom alinhamento do corpo, permite
que os membros superiores fiquem livres
para a realização das atividades;
- com encosto sextavado: é usada mais
nos casos de crianças portadoras de
paralisia cerebral coreoateóide, de
maneira a favorecer a inibição da
retração da cintura escapular, trazendo
os membros superiores para a linha • mesa com recorte: permite um melhor
média; apoio dos membros superiores durante a
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realização das atividades, e encaixa-se Compreendemos que o professor, com


com a cadeira de chão. Na forração das sua sabedoria e prazer de ensinar, pode
espumas do mobiliário deve-se utilizar criar situações e adaptações tais que as
material antiderrapante, a fim de que as barreiras e/ou comprometimentos físicos
crianças não escorreguem nas cadeiras. e sensoriais não impeçam o potencial
criador dos portadores de necessidades
Outro aspecto que destacamos refere- educacionais especiais, que são
se à posição do aluno na sala de aula diferentes, mas não querem ser
e à organização do mobiliário. transformados em desiguais, pois as
suas vidas só precisam ser acrescidas de
1. No caso das crianças com recursos especiais.
movimentação involuntária, é importante
que ela se sente no meio da sala, em Planificação futura
frente à lousa, para maior simetria. 5.3 Planificação futura
2. No caso de crianças com paralisia
cerebral hemiparesia, deixar o melhor Para estabelecer um prognóstico sobre a
amigo do lado comprometido, como aprendizagem de uma criança é muito
também os seus materiais, visando que difícil fazer qualquer tipo de previsão
a criança faça transferência do peso porque nenhum de nós pode se julgar
para aquele lado, bem como estimular o com capacidade de exercer esse tipo
uso de ambas as mãos. de poder. Quando se trata da criança
3. Crianças com maior dificuldade de com deficiência física em decorrência
atenção devem ser sentadas mais à de problemas neurológicos, devemos ter
frente, próximas à lousa. maior cuidado para que o trabalho
4. Verificar a interferência de estímulos pedagógico educacional direcionado a
na sala de aula que possam desviar a ela seja construído em bases que
atenção do aluno. requerem:
5. Verificar a iluminação da sala de
aula e a presença de reflexo da luz no • ruptura de paradigmas: é preciso que
quadro negro. o professor tenha consciência de que a
6. Verificar a cor do quadro de giz, bem bagagem socioeconômica e cultural da
como a cor do giz utilizado para melhor criança é particular, individual e única,
visualização do que é escrito. assim como sua maneira de encarar e
7. O posicionamento do professor frente interpretar o meio. Essas são
ao aluno deverá favorecer o contato características que identificam cada ser
“olho a olho”. humano com suas diferenças e
É importante observar que quando não peculiaridades. Portanto, não existe
existir “equipe de apoio”, a escola uma mesma “fórmula” para construir
deverá buscar orientações junto a conhecimentos. As diferenças devem
profissionais da área de reabilitação nos ser consideradas e valorizadas como
postos de saúde mais próximos, para elementos que enriquecem o viver de
orientações sobre os recursos, cada um;
procedimentos, mobiliários e outras
adaptações necessárias ao • revisar conceitos: é necessário que
desenvolvimento da criança. haja uma constante busca de
aperfeiçoamento e de troca com o
Todos os indivíduos possuem objetivo de acompanhar o movimento
potencialidades a serem desenvolvidas. evolutivo em que vivemos, revendo,
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refletindo e aperfeiçoando a prática pedagógica, as estratégias aplicadas na


pedagógica para compreender, respeitar aprendizagem dos alunos, os erros e
e atender a todas as diferenças; acertos desse processo para melhor
definir, retomar ou modificar sua prática
• derrubar preconceitos: as diferenças de acordo com as necessidades dos
sejam quais forem, devem ser alunos;
consideradas como naturais do ser
humano, porque cada um é único e • predisposição para enxergar o
deve ser visto como tal em um indivíduo real com todas as suas
contexto no qual as diferenças potencialidades e possibilidades como
conduzem à igualdade de aceitação e de qualquer outro ser humano. Todos somos
inclusão; diferentes uns dos outros, com
características particulares e individuais
• adaptar ou inovar estratégias: não em busca de aceitação, de parceria e
existe um modelo de ensino que dê certo de reconhecimento, num contexto de
para todos. Portanto, a busca do igualdade de oportunidades e não de
professor para estabelecer um canal de reprodução em série de “indivíduos
comunicação e de aprendizagem com iguais”.
cada aluno é constante e muito particular Outras poderão apresentar
às especificidades de cada um; comprometimento cognitivo, sendo que,
nesse caso, seria muito difícil prever o
• envolvimento profissional: deve-se desenvolvimento relacionado à
levar em conta que os problemas que aprendizagem formal, necessitando
porventura o aluno e/ou sua família portanto, o aluno, de atendimento
possam apresentar não podem ser institucional. Há também, aquelas que
abarcados e resolvidos pelo professor muito lentamente poderão alcançar a
ou pela escola, porque o papel da alfabetização funcional que poderá ser
educação é criar condições para que a aplicada em situações simples como, por
criança construa conhecimentos e se exemplo, a leitura de uma rota de ônibus,
desenvolva enquanto cidadão nome de um remédio, escrita de recados
conhecendo seus deveres e aprendendo breves.
a lutar pelos seus direitos;
Todo cuidado deverá ser tomado para
• estudo constante: a formação não se incorrer em nenhum tipo de
continuada deve ser objetivo de injustiça, porque a gravidade motora que
aprimoramento de todo professor, a criança pode apresentar muitas vezes
porque o educador deve acompanhar o não quer dizer que tenha o mesmo grau
processo de evolução global, colocando a de comprometimento cognitivo. Aquela
educação passo a passo no contexto criança que não anda, não fala, não
de modernidade, tornando- a cada vez controla os esfíncteres, não escreve
mais interessante para o aluno, a fim de poderá ter sua capacidade cognitiva
que ele possa compreender que, na preservada e, consequentemente, boas
escola, ele aperfeiçoa sua bagagem e condições para aprender, ao passo que
aprende para a vida; aquela que é independente, que tem
condições de fala e possibilidade motora
• análise e reflexão contínuas sobre a de escrita poderá ter muita dificuldade
prática: é nesse processo que o ou até um comprometimento mais sério
professor pode ver e rever sua prática para aprendizagem.
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Até o presente momento poucos são os


casos de alunos com problemas A mielomeningocele é também um
neurológicos que conseguem progresso problema neurológico porque há um
escolar para atingir o ensino médio e a defeito na formação óssea da coluna
universidade. As causas têm origem vertebral onde algumas vértebras não se
diversas, que variam desde limitações fecham e expõem a medula, causando
próprias do quadro neurológico até falta paralisia nas partes do corpo que ficam
de acesso adequado ao sistema abaixo dessa lesão, que poderá ocorrer
educacional do País. São problemas em qualquer lugar na extensão da coluna
estruturais que englobam desde os vertebral. A mielomeningocele é uma
cursos universitários, falta de apoio no doença congênita, isto é, a criança
processo de formação continuada do nasce com ela devido à ocorrência de
professor, falta de equipe de apoio que um defeito na estrutura do embrião entre
dê suporte pedagógico, terapêutico e a 3ª e a 5ª semana de gestação, ou seja,
psicológico à equipe escolar e ao aluno antes da mulher saber que está grávida.
para um trabalho realmente eficiente,
além de: Ainda não se conhece a causa da
doença, e sabe-se que fatores raciais,
• dificuldades em encontrar escolas genéticos, nutricionais e ambientais,
adaptadas e professores, se não interagindo em conjunto, podem ser
capacitados, mas, ao menos, preparados responsabilizados.
para oferecer condições e oportunidades
de desenvolvimento das potencialidades O diagnóstico pré-natal poderá ser feito
do aluno para aprendizagem; por meio da dosagem de alfa feto
• dificuldades de acesso a tratamentos proteína no líquido amniótico por
de reabilitação em locais especializados; aminiocentese no 2° ou 3° trimestre da
• problemas socioeconômicos e culturais, gestação, sendo que a idade ideal para
gerando desconsideração e negligência esse exame é entre a 14ª e 16ª
pelo potencial da criança, ou semana de gestação. O ultrassom
superproteção que lhe transmite a ideia também pode ser utilizado.
de ser incapaz.
O bebê com mielomeningocele nasce
Quando a escola tiver condições de com uma bolsa nas costas que pode, ou
incluir, de respeitar e de trabalhar com não se romper ao nascimento, e
todas as diferenças num processo de apresenta uma paralisia que atinge as
igualdade de oportunidades, certamente pernas, a bexiga e o intestino. Com isso,
aqueles que hoje são considerados o bebê apresenta problemas
menos favorecidos pelo sistema neurológicos, urológicos, ortopédicos,
educacional, político e social poderão ter entre outros.
melhores condições de acesso e de
participação efetiva não somente à Os pais que já têm um filho com
educação, como ao trabalho e ao mielomeningocele deverão receber
lazer, assim como a todas as mudanças esclarecimentos específicos sobre o
estruturais necessárias que garantam problema e indicação para que o pré-
seus direitos de cidadão. natal seja feito por profissional
especializado, no caso de nova gravidez.
Outras Patologias: Mielomeningocele
6.1 Mielomeningocele 6.1.1 - Problemas neurológicos
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Além da bolsa nas costas, que precisa Quanto maior for o grau de paralisia,
ser corrigida logo após o nascimento por menor será a chance de a criança com
meio de cirurgia, o bebê poderá mielomeningocele andar, sendo que
apresentar também a hidrocefalia. algumas crianças poderão conseguir
andar com ajuda de aparelhos
A hidrocefalia é causada por um apropriados (muletas, órteses,
problema na circulação do líquor entre o andador...). Mais tarde, na adolescência
cérebro e a medula, acumulando-se na ou na fase adulta, ao estarem mais
cabeça e empurrando o cérebro contra o pesadas, podem perder a condição de
crânio. Assim, além da paralisia nas marcha devido à dificuldade de
pernas, bexiga e intestino, a criança sustentação do corpo e de outros
poderá ter atraso no desenvolvimento problemas.
global, problemas de visão, de fala, de
rebaixamento cognitivo etc. 6.1.4 – Alergia ao látex

6.1.2 – Problemas urológicos Logo após o nascimento, o bebê


portador de mielomeningocele já passa
A grande maioria das crianças com por exames e avaliações, seguidos por
mielomeningocele não tem a sensação cirurgias. Assim, passa a ter contato
de bexiga cheia, não consegue reter a imediato com produtos que possuem
urina e não tem força para eliminá-la em látex em sua composição como luvas
forma de jato. São comuns as infecções cirúrgicas, sondas de entubação,
urinárias sem febre e sem dor, podendo equipamentos de anestesia, drenos etc.
afetar os rins se não forem
adequadamente tratadas. Esses eventos acontecem quando o
sistema imunológico do bebê encontra-se
As crianças menores precisam fazer uso muito imaturo. A exposição constante ao
de fraldas e as maiores recebem alérgeno, que é a proteína do látex,
orientação do médico urologista para poderá desencadear o quadro alérgico.
fazerem manobras com o objetivo de Essa é a causa mais provável de a
eliminar a urina ou de proceder ao criança com mielomeningocele
cateterismo (colocação de sonda várias apresentar uma incidência maior de
vezes ao dia), dependendo de cada alergia ao látex, se comparada à
caso. população em geral.

6.1.3 – Problemas ortopédicos A alergia ao látex está se tornando um


problema cada vez mais preocupante.
A gravidade da paralisia varia de criança Com a utilização cada vez mais frequente
para criança, dependendo do grau da de produtos industrializados que contém
lesão neurológica. Por isso, essas látex em sua composição, torna-se
crianças podem apresentar deformidades tarefa difícil eliminar do cotidiano da
nas articulações dos quadris, joelhos e criança todos esses produtos. Estima-se
pés, além da coluna vertebral. que cerca de 40.000 produtos
industrializados contenham látex em sua
Há crianças que necessitam de composição. Na população em geral,
cirurgias ortopédicas e uso de aparelhos menos de 1% das pessoas apresentam
para poderem andar. alergia ao látex.
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dura onde está sentada ou deitada


No caso de alergia ao látex, a criança (cadeira de rodas, cama). Dessa forma, a
poderá apresentar sinais e sintomas circulação sanguínea não se processa
inespecíficos como vômitos, diarreia, devidamente, e isso causa feridas,
rinite, conjuntivite ou urticária. Algumas chamadas escaras, que necessitarão de
crianças podem evoluir para um choque tratamento e cuidados devidos realizados
anafilático, que pode ser fatal. por profissionais capacitados (orientação
médica e tratamento pela enfermagem).
Existe uma associação relativamente É importante esclarecer que toda e
frequente entre alergia ao látex e qualquer indicação de aparelhos e/ou
alergia alimentar. Alguns alimentos adaptações que beneficiem o paciente
possuem proteínas muito semelhantes deverão ser prescritos pelo médico.
às proteínas do látex, promovendo Em sala de aula é importante que o
reação cruzada, como os seguintes professor observe o devido
alimentos: banana, abacate, kiwi, posicionamento sentado do aluno, assim
marisco, peixe e tomate. como o uso dos aparelhos prescritos
pelo médico, a fim de evitar futuras
Não existe tratamento específico para a deformidades de coluna, formação de
alergia ao látex. Os profissionais da escaras ou quaisquer outros problemas
saúde e os familiares deverão ser derivados de vícios de postura e de
orientados para evitar que o paciente posicionamentos incorretos.
entre em contato com produtos que
contém látex. Geralmente, essa será uma criança
usuária de fraldas, porque ela poderá
6.1.5 – Cuidados que o professor deve não ter sensibilidade para perceber que,
ter com a criança portadora de a bexiga e/ou o intestino estão cheios e
mielomeningocele o momento de esvaziá-los fazendo uso
do banheiro. Nesse caso, dizemos que
A criança portadora de ela não tem controle de esfíncteres. Seus
mielomeningocele, geralmente, poderá horários de estimulação ou passagem de
apresentar comprometimentos de sonda para esvaziamento da bexiga e de
membros inferiores em maior ou menor intestino deverão ser respeitados para
grau, dependendo da localização da que se evite ao máximo outros
bolsa na coluna. Quanto mais baixa, comprometimentos, como infecções das
menores poderão ser seus vias urinárias ou de outros órgãos.
comprometimentos, o que lhe dará
melhores condições da marcha com ou Outros cuidados deverão ser observados
sem o uso de muletas apropriadas, ou pelo professor caso a criança tenha
até de ser usuária de cadeiras de rodas. hidrocefalia e faça uso de válvula de
Nesse caso, essa criança permanecerá derivação (aparelho colocado dentro da
na posição sentada por tempo cabeça da criança para controlar a
prolongado, necessitando assim de circulação do líquor – líquido que circula
almofada especial, que poderá ser de ar entre o cérebro e a medula). Nesses
ou de água, e materiais que evitam a casos, se a criança apresentar sintomas
formação de feridas nos locais onde a como sonolência, enjoos, vômitos, dores
estrutura óssea pressiona mais de cabeça, irritação sem motivo
intensamente determinadas partes moles aparente, deve-se avisar imediatamente
do corpo no contato com a superfície à família e tomar providências médico-
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hospitalares, porque poderá estar 6.2 Doenças neuromusculares


ocorrendo algum problema de circulação
do líquor. Algo poderá estar ocorrendo 6.2.1 – Distrofia muscular progressiva
com a válvula de derivação, o que
coloca em risco o bem estar da criança A distrofia muscular progressiva é uma
e, se não forem tomadas providências doença neuromuscular (afetando o
imediatas, ela pode entrar em coma. organismo físico abaixo da cabeça:
medula, nervos e músculos).
Com a hidrocefalia, antes da colocação Considerada uma miopatia hereditária,
da válvula de derivação, deve-se caracteriza-se pela perda da força
considerar que o excesso de líquor muscular de forma progressiva, com
pressiona o cérebro contra os ossos do destruição e degeneração das fibras
crânio, o que poderá acarretar alguns musculares e, finalmente, a substituição
prejuízos e afetar o desenvolvimento dessas fibras por tecido fibroso e
cognitivo dessa criança. Dessa forma, adiposo.
em alguns casos, a criança com
mielomeningocele poderá apresentar as Essa doença é determinada por
mesmas características de aprendizagem herança cromossômica porque existe
apresentadas pela criança com paralisia um gene “defeituoso”. A mulher é
cerebral, caso em que se fazem portadora do gene e a doença se
necessárias, portanto, adaptações de manifesta no filho homem.
material pedagógico, atendimento
individualizado, respeito a seu ritmo de A distrofia do tipo Duchenne é a mais
aprendizagem, que poderá ser mais comum, ocorrendo um caso a cada 3.300
lento, valorização das suas habilidades e nascimentos vivos do sexo masculino. A
possibilidades, desenvolvimento da criança já nasce com a doença e os
autoestima. sintomas começam a aparecer por volta
dos três até os seis anos de idade, com
Sempre é bom lembrar que o perda da marcha aproximadamente aos
diagnóstico médico, tão somente, não dez anos de idade, e vão progredindo
é suficiente para traçar o perfil de lentamente, caracterizando-se pelas
comprometimentos que afetarão a perdas dos movimentos e das funções
aprendizagem da criança. É muito corporais já adquiridos e desenvolvidos
importante que o professor tenha o até esta idade, tornando-se, pouco a
máximo cuidado para observar cada pouco, cada vez mais dependente para
aluno na rotina de sala de aula e se todas as atividades da vida diária,
dedique a conhecer individualmente, de atingindo finalmente a dependência total.
forma devida, a cada um, diante de suas Os sintomas iniciais, muitas vezes são
prováveis dificuldades e habilidades, confundidos pelas pessoas leigas como
com o objetivo de ir ao encontro de problemas ortopédicos, porém o
suas reais necessidades de diagnóstico precoce, feito pelo
aprendizagem. Cada aluno é único e neurologista, contribui para iniciar
deve ser visto como tal, tratamento adequado o mais breve
independentemente das diferenças que possível.
possa apresentar.
Os sintomas são progressivos, ou seja,
Outras Patologias: Doenças atingem gradualmente, todos os
Neuromusculares
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músculos do corpo, onde ficam claras as tornando-se então, a criança, totalmente


perdas apresentadas pela criança. dependente para todas as atividades da
vida diária: higiene, vestir-se,
Segue abaixo, a relação de sintomas alimentação, brincar, escrever, desenhar
apresentados pela criança com distrofia etc.;
muscular progressiva do tipo Duchenne, • poderá apresentar comprometimento
esclarecendo que não necessariamente cognitivo e inteligência abaixo da média
ocorrem nesta ordem, um depois do com leve atrofia cerebral;
outro, podendo observar-se um conjunto • com a progressividade da degeneração
de sintomas ao mesmo tempo: muscular, que teve início com a perda
• a criança começa a cair com frequência de movimentação e função de membros
e muita facilidade; inferiores, de membros superiores e do
• apresenta dificuldade para correr, pular tronco, com a evolução gradativa passa
e subir escadas; a provocar o aumento do
• aos poucos, passa a andar na enfraquecimento dos músculos do
ponta dos pés sem apoiar os pescoço, e a criança tem dificuldade
calcanhares no chão; para manter a cabeça equilibrada;
• aumenta a dificuldade para subir • com esse quadro evolutivo, ocorre
escadas e balança o tronco para a morte prematura por disfunção cardíaca
direita e para esquerda durante a antes dos vinte anos de idade.
marcha na tentativa de manter o O diagnóstico precoce é primordial para
equilíbrio do corpo ao caminhar. Esse que se inicie o tratamento adequado para
jeito de andar assemelha-se ao “andar a criança, visando melhorar sua
do pato”; qualidade de vida. Como se trata de
• sente dores nas panturrilhas (barriga uma doença que ainda não tem cura, é
da perna) e dificuldade progressiva para importante o aconselhamento genético
erguerse do chão; para alertar a família do risco de
• marcha na ponta dos pés projetando manifestação da doença em outros
o quadril para frente e filhos do sexo masculino e também,
ombros para trás, buscando equilíbrio para detectar e prevenir as mães
para manter-se em pé; portadoras do gene “defeituoso”. As
• por volta dos oito/nove anos de idade, irmãs dos afetados também deverão
ocorre a perda da marcha. A criança passar pelo mesmo processo de
deixa de andar e passa a fazer uso de investigação genética, porque correm o
cadeira de rodas; risco de também serem portadoras
• frequentemente ocorrem outros desse tipo de gene.
comprometimentos da coluna vertebral
(escoliose - onde a coluna fica em forma 6.2.2 – Observações ao professor
de S) e enfraquecimento da musculatura
do tronco, onde a criança tem A criança portadora da distrofia muscular
dificuldade para manter-se ereta quando do tipo Duchenne é uma criança que
sentada, comprometendo também, a sua luta com sentimentos de perda
capacidade respiratória; indagando-se continuamente de o por
• há perdas gradativas dos movimentos quê de isso estar ocorrendo com ela e,
de membros superiores ao mesmo tempo, alimenta-se de
e, à medida que essas perdas se esperanças para o dia em que voltar a
acentuam, provocam perda da fazer tudo o que fazia antes de a doença
capacidade de movimentação das mãos, se manifestar.
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O papel do professor é fundamental para melhor se adaptarem às situações


para manter equilibrado o causadas pela doença. É importante que
estado emocional dessa criança, porque o professor também seja orientado pelo
sua vida escolar deve ser mantida mesmo profissional, porque além de
enquanto tiver condições de vivê-la. conviver com as perdas da criança, como
Tudo deve ser feito de forma a valorizar indivíduo e como educador, necessita de
sempre o que a criança consegue apoio que o oriente para não
realizar e do jeito que ela consegue superprotegê-la, mas para ajudá-la a ser
fazer. É uma criança que persiste em feliz, apesar de tudo.
lutar por manter a sua integridade e
dignidade. É uma lutadora incansável, e Enquanto a criança estiver na fase
isso deve ser não somente respeitado escolar até a educação infantil, seus
como também valorizado. As opções de comprometimentos motores não terão
ajuda para alguém escrever ou realizar alcançado o estado de maior gravidade.
alguma atividade sob sua orientação Sua participação estará ocorrendo
devem ser oferecidas e, caso não haja próxima ao padrão de normalidade
aceitação, é preciso dar condições para motora, porém a criança é quem estará
ela realizar o que deseja. É necessário sofrendo com as perdas que, ela
observar que, conforme as perdas melhor do que ninguém, sabe quais são,
motoras vão ocorrendo, algumas mas não sabe seu porquê.
adaptações de material escolar e de
organização e adequação espacial O bom acolhimento e aceitação de
poderão ser necessárias para que a todas as crianças da forma como são,
criança prossiga produzindo, como: • com todas as diferenças individuais que
substituir o caderno por folhas de papel possam apresentar são sabidos pelo
sulfite; educador como fatores fundamentais
• prender as folhas em uso com fita para o bom desempenho do aluno na
crepe nos quatro cantos de acordo com aprendizagem. Portanto, essa criança em
o melhor posicionamento da mesma especial não necessita ser tratada de
para a criança; forma diferente das demais, ou com
• manter próximo à criança, o material superproteção. Precisa ser entendida
de uso diário para que ela mesma possa como um ser único, com características
manipulá-lo; próprias, e que apresenta necessidades
• retirar da mesa todo material que que precisam ser entendidas e
não será utilizado naquele momento providenciadas. Para o bom
pela criança; entrosamento e respeito mútuo dos
• promover a sua participação em todas alunos na sala, todos devem receber de
as atividades escolares, valorizando a acordo com suas necessidades e ser
sua forma de participação e seu jeito de atendidos em suas individualidades, sem
fazer; preferências ou negligências.
• aproximar os demais alunos em
todas as situações escolares para que Outras Patologias: Malformações
auxiliem o colega quando necessário, e, congênitas
também, possam desenvolver 6.3 Malformações congênitas
sentimentos de solidariedade e de
respeito. Quando houver estrutura Malformação ou anomalia congênita é
adequada, tanto a criança com a família qualquer alteração estrutural ou
deverão receber apoio de psicólogos metabólica presente no nascimento, por
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herança genética, ou como resultado da A artrogripose caracteriza-se pela


influência ambiental durante a vida fetal malformação das articulações do corpo,
ou o período embrionário. podendo haver maior ou menor grau de
comprometimento, variando de criança
Cerca de 3 a 4% de todos os recém- para criança. Essas articulações podem
nascidos vivos apresentam alguma ser ombros, cotovelos, punhos, mãos,
anomalia congênita que, se não for quadris, joelhos, tornozelos, pés, e ainda
corrigida, na maioria das vezes pode coluna. Quando isso ocorre, a criança
comprometer o crescimento e o fica impedida de realizar movimentos
desenvolvimento do bebê. considerados normais como dobrar e
girar o corpo ou parte do corpo,
Dessa forma, é preciso compreender apresentando movimentações muito
minuciosamente os mecanismos de limitadas ou até com impossibilidade em
formação do embrião, que culminam realizá-las nas atividades da vida diária,
com a formação do feto. A partir da inclusive de participar adequadamente
formação anormal do embrião das atividades da escola. Essa criança
determinam-se os mecanismos poderá apresentar condições normais
patológicos e/ou genéticos envolvidos de fala e de comunicação e, com
como causas das malformações. relação à marcha, dependerá do nível
de comprometimento motor que
O desenvolvimento do embrião e do feto apresente. Algumas crianças poderão até
sofre influências de fatores genéticos e apresentar marcha ou arrastar-se de
ambientais e, dentre estes, considera- forma funcional, ou seja, para locomover-
se: se dentro de casa ou em curtas
distâncias. Certamente necessitarão de
• as deficiências dietéticas (deficiências aparelhos adaptados a suas
na alimentação); necessidades para locomoção mais
• a hipervitaminose (excesso de vitaminas adequada, cuja prescrição é de
no organismo); responsabilidade médica.
• os fatores hormonais (descontrole de
hormônios como o excesso de É importante esclarecer que esses
corticóides, por exemplo); comprometimentos não afetam o
• os agentes químicos (uso de desenvolvimento cognitivo da criança, e
medicamentos, tais como a talidomida); sua aprendizagem poderá se processar
• os agentes físicos (radiações, normalmente, desde que a criança
hipertermia – elevação anormal da receba suportes e adequações nos
temperatura do corpo ou de uma parte aspectos material e humano necessários
dele); para seu desempenho. Para a
• as infecções (como a rubéola, a alimentação dessa criança, deve-se
catapora e outras); evitar o uso de materiais descartáveis,
• o fator mecânico (pressão mecânica pelo fato de serem leves e frágeis (pratos
exercida pelo cordão umbilical). e copos). Ela poderá apresentar
Dentre o grupo de malformações, duas preensão forte e, com isso, coloca em
são encontradas mais freqüentemente risco sua condição de alimentar-se sem
na comunidade escolar: artrogriposee derramar os líquidos ou derrubar seus
osteogênese imperfecta. alimentos. É importante que seus objetos
de uso diário para alimentação sejam,
6.3.1 – Artrogripose também, resistentes e inquebráveis. Se
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possível, o copo e o prato poderão necessário, portanto, verificar quantas e


ser fixados com fita do tipo velcro na quais adaptações viriam ao encontro das
mesa de alimentação. suas necessidades para melhorar o
posicionamento, a participação e a
Todo material usado na educação infantil execução das propostas de sala de aula,
deverá ser adaptado às possibilidades de como:
preensão, de manipulação e de
execução da criança com artrogripose: • mudança na altura da cadeira e da
mesa visando um bom posicionamento
• porções maiores de massinha; pincéis quando sentado, e também para o
e/ou qualquer material concreto em processamento das atividades de
tamanho grande que facilite a preensão grafismo;
da criança; • melhor preensão do lápis na mão;
• supervisionar a possibilidade do uso de • aumento do tamanho do papel para
tinta, de cola, ou qualquer outro material aproveitar a amplidão dos movimentos
líquido; da mão dominante na criança. Nesse
• poderá não apresentar possibilidades caso, pode-se usar papel de embrulho,
de uso da tesoura, necessitando que o papel manilha ou qualquer outro, desde
parceiro colabore nessa situação. A que ele corresponda, em tamanho, aos
criança precisa vivenciar cortar com a movimentos que a criança apresenta;
tesoura, assim como outras situações de • mudança no posicionamento da folha
aprendizagem, porque o fato de não ou do papel na mesa ou carteira onde
conseguir executar tal ação não impede irá realizar a escrita;
que tenha condições de aprender com a • engrossamento do lápis com espuma
ação ou com a experiência de outra ou massa do tipo epóxi,
criança o que deve ser realizado em sua para melhor preensão;
presença; • tipo de material que oferece melhores
• a aceitação e valorização do que essa condições de realização das tarefas
criança produz e do jeito com que ela pela criança: folhas de papel, sejam
consegue fazer as coisas é muito quais forem, ou cadernos. Em muitos
importante para que ela possa se sentir casos, o caderno limita e dificulta a
produtiva e para fortalecer sua auto- movimentação da criança devido a seu
estima. Geralmente, as suas produções tamanho e espessura;
e/ou execuções poderão não • folha de papel ou caderno presos
corresponder ao que é compreendido com fita crepe larga, nos quatro cantos
como normalidade, mas ela precisou de ou no contorno total da folha.
todo seu esforço e empenho para Muitas outras adaptações poderão ser
realizar sua obra, e isso deve ser feitas para facilitar a produção da criança
extremamente considerado. em sala de aula, quando a sensibilidade
Com relação à escrita, é preciso e a criatividade do professor poderão
observar cada criança a fim de verificar direcionar para que isso ocorra. É certo
suas possibilidades de escrever. Em que se ele encontra criança
alguns casos, determinadas adaptações impossibilitada de produzir qualquer tipo
são importantes para facilitar a produção de grafismo, é importante que alguém (o
do aluno. Cada criança apresenta uma professor, um colega) se coloque na
dificuldade muito particular, posição de fazê-lo com a criança ou
correspondente ao seu quadro de sob sua orientação.
comprometimento motor, e faz-se
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6.3.2 – Osteogênese imperfecta às suas possibilidades de preensão, de


suporte do peso e de uso independente.
A osteogênese imperfecta também é
chamada popularmente de ossos de Outras Patologias: Lesões encefálicas
vidro devido à fragilidade óssea que a adquiridas
criança apresenta. Por esse motivo,
podem ocorrer fraturas com muita 6.4 Lesões encefálicas adquiridas
facilidade. Essa criança necessita de É importante esclarecer que para
gestos delicados e cuidadosos para falarmos sobre lesões encefálicas
manipulação, higienização, alimentação, adquiridas (LEA) o enfoque não deve ser
para ser colocada no colo, enfim, no trato direcionado especificamente para a
diário, em todas as situações. Nos criança em fase da educação infantil,
momentos de interação social e das visto que, ao relatar o problema e suas
brincadeiras naturais de toda criança, sua sequelas nas mais diferentes faixas
participação deve ser supervisionada e etárias, abre-se uma oportunidade maior
preservada de todos os riscos, de ampliar conhecimentos a respeito e,
ressaltando que é importante que as dessa forma, munido de maiores
demais crianças tenham conhecimento informações, o professor poderá
da fragilidade apresentada por esta encontrar melhores caminhos para traçar
colega. sua prática pedagógica e estabelecer,
A criança com osteogênese imperfecta em outras bases, o convívio social da
poderá apresentar problemas em seu criança portadora desta patologia.
desenvolvimento físico, o que
compromete o seu crescimento devido à As lesões encefálicas adquiridas podem
fragilidade óssea. Porém, na sua grande ocorrer com pessoas que nasceram sem
maioria, ela mantém o desenvolvimento nenhum comprometimento neurológico,
cognitivo preservado. Além de todo ou seja, com pessoas ditas normais,
cuidado no lidar e na participação diária mas que foram submetidas a situações
nas atividades escolares, poderá ser que provocam lesões cerebrais. Quando
necessária a adaptação de alguns o cérebro de qualquer pessoa é lesado
materiais de uso diário dessa criança em ao longo da vida, ela poderá apresentar
sala de aula para estar de acordo com sequelas variadas em decorrência do
sua capacidade de manipulação e de tipo, da localização e da extensão da
participação. É preciso observar sua lesão.
possibilidade de preensão, sua
capacidade de movimentação das mãos Em geral, essas pessoas são pacientes
e de suportar o peso dos objetos e muito diferentes entre si, exigindo
materiais de uso diário, e do material tratamento realizado por equipe
concreto no processo de multidisciplinar para estabelecer um
desenvolvimento da aprendizagem. diagnóstico preciso das incapacidades
Poderá ser necessário dobrar as folhas físicas, cognitivas e emocionais.
de atividades para que possa executar as
tarefas por partes, devido à reduzida É muito diversa a origem das lesões
capacidade de movimentação de braços encefálicas adquiridas
e mãos e, da mesma forma, para todas (LEA), podendo elas ocorrerem por:
as atividades propostas em classe. Na
alimentação, os materiais próprios para • traumatismo crânio-encefálico (TCE);
esse uso também devem ser adequados • acidente vascular isquêmico1 (AVC);
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• acidente vascular hemorrágico convulsivos e podem apresentar


(AVCH); hidrocefalia tardia (acúmulo de líquor no
• tumores cerebrais; cérebro), hematomas cerebrais crônicos
• anóxia (interrupção ou falta de e calcificações heterotópicas.
oxigenação cerebral causada pela falta 1 Popularmente chamado de derrame
de respiração por tempo prolongado, cerebral.
como no caso de afogamento ou asfixia
por fumaça); Muitas vezes necessitam de
• infecções cerebrais (meningite...). intervenções cirúrgicas precoces ou
Cada uma dessas causas tem tardias, exigindo cuidados de uma
características muito próprias em relação equipe multidisciplinar médica e
ao tempo de retorno neurológico, de paramédica, coordenada por um
evolução das incapacidades e médico fisiatra (uma espécie de clínico
repercussão na reintegração do indivíduo geral na área de deficiência física), que
à sociedade. Esses aspectos são ainda desde o início deve conduzir os
mais diferentes se compararmos adultos profissionais das diferentes áreas a
e crianças com sequelas de LEA. Todo metas comuns. Talvez o TCE seja a
tratamento deverá ser orientado e lesão adquirida mais intrigante, exigindo
realizado por equipe multidisciplinar avaliação intensa e apurada nas diversas
(médicos e terapeutas de várias áreas, pois durante cerca de 24 meses
especialidades, suporte psicológico ao os pacientes passam por mudanças
indivíduo lesado e à família). Cada fase significativas.
do tratamento, muito diferente das outras,
deve ter objetivos próprios. Em geral, o TCE acomete adultos jovens,
na proporção de dois homens para uma
Os pacientes portadores de LEA mulher, sendo que as causas mais
geralmente necessitam de internações comuns são abuso físico e atropelamento
hospitalares na fase mais aguda, durante a infância, quedas e acidentes
quando cuidados intensivos são esportivos durante a adolescência, e
necessários à sua sobrevivência, para acidentes automobilísticos e por arma de
prevenir deformidades e complicações fogo durante a idade adulta. Indivíduos
diversas. São indivíduos muitas vezes idosos têm TCE geralmente devido a
com déficit de consciência, imóveis, quedas, sendo alto o índice de
desnutridos, com hipertonia (devido ao mortalidade por ocorrências clínicas.
aumento do tônus muscular), com
posturas viciosas, alteração no controle Há cerca de 400.000 novos casos de
do sistema nervoso autônomo (SNA) e TCE por ano nos Estados Unidos da
no controle esfincteriano (controle da América (EUA). Cerca de mais ou
urina e fezes), com outras lesões menos 90.000 são considerados graves,
associadas, em caso de politraumatismo isto é, permanecem em coma por um
(fraturas de coluna, membros e lesões período maior ou igual a 8 horas e/ou têm
de nervos periféricos, às vezes não amnésia pós- traumática de mais de 24
diagnosticadas na fase aguda), horas de duração. Cerca de 50% dos
necessitando de tubos de alimentação, indivíduos que sofrem de TCE grave
traqueostomia, cuidados intensivos na morrem nas duas primeiras semanas
prevenção de úlceras de decúbito após a lesão. Aqueles que sobrevivem
(posição do corpo quando está deitado) têm um bom prognóstico de
e infecções. São potencialmente reabilitação, pois cerca de 70% voltam a
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ser independentes nas atividades da Os indivíduos traumatizados podem


vida diária e na deambulação apresentar:
(capacidade de andar).
• déficits leves, motores ou de pares
As sequelas físicas mais comuns são cranianos que não impeçam sua
motoras (hemiparesia – paralisia discreta independência nas atividades de vida
da metade direita ou esquerda do corpo, diária (AVDs) e marcha, porém com
dupla hemiparesia, hipertonia alfa ou limitações à reintegração profissional;
espasticidade – aumento exagerado do • incapacidade grave é aquele que é
tônus muscular), desordens de equilíbrio dependente nas atividades de vida
e coordenação, alterações sensitivas e diária (AVDs) e nas atividades motoras
sensoriais, distúrbios de fala, linguagem devido às sequelas físicas e/ou
e deglutição. As sequelas cognitivas são, cognitivas, ou • estado vegetativo –
muitas vezes, mais importantes que as indivíduo que não reage ao meio
físicas, determinando se o indivíduo irá ambiente. Na prática sabemos que as
ou não obter independência e conseguir sequelas que mais interferem na
um retorno à comunidade do ponto de reabilitação do indivíduo com TCE são as
vista educacional e profissional. cognitivas, relacionadas às habilidades
de pensamento, como atenção,
Como os pacientes apresentam-se organização, planejamento, segurança,
inicialmente em coma, é necessário que raciocínio, percepção de seus limites e
se faça uma avaliação apurada desde os déficit de memória remota e recente.
primeiros dias de lesão a fim de
identificar quais são aqueles que terão As crianças (até 17 anos de idade) em
sequelas leves ou moderadas e aqueles geral têm melhor prognóstico motor que
que permanecerão em estado os adultos, porém desenvolvem com
vegetativo. Já nas primeiras 24 horas mais frequência alterações de
pós TCE, graças à Escala de Coma de comportamento. O impacto sobre a
Glasgow, os médicos podem ter uma educação dependerá da idade do
ideia de como evoluirá o paciente. trauma, da gravidade da lesão e do
Quanto mais alta for a nota recebida grau de escolaridade prévia.
inicialmente, melhor será o prognóstico.
Nos casos de TCE com menor
Outros parâmetros de bom prognóstico, gravidade, quando o paciente não passa
ainda na fase aguda, são a reatividade pela fase do coma, poderão ocorrer
das pupilas à luz e a presença de sequelas das mais variadas, que serão
movimentos oculares espontâneos, tratadas de acordo com as necessidades
enquanto que respostas motoras de reabilitação. Quando o paciente
anormais, como atitude de decorticação passa pelo período comatoso, o
ou decerebração e flacidez, são indícios parâmetro de sua evolução poderá ser
de uma sequela mais grave. acompanhado conforme os níveis
estabelecidos na Escala de Níveis de
Aos seis meses de lesão, pode-se utilizar Função Cognitiva desenvolvida pelo
a Escala de Evolução de Glasgow que Rancho Los Amigos Medical Center.
considera como boa recuperação o
indivíduo que se reintegra à sociedade. A escala de Níveis de Função Cognitiva
desenvolvida em 1972, e aperfeiçoada
em 1986, no Rancho Los Amigos
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Medical Center (EUA), é um instrumento lesão, do tempo transcorrido desde a


de trabalho que poderá ser utilizado lesão e da implantação de um tratamento
pelas equipes de reabilitação no caso de adequado. Alguns indivíduos passarão
coma após o trauma. É composto por por oito níveis, outros evoluirão até um
oito níveis que descrevem padrões ou certo estágio, e nele permanecerão. Essa
estágios típicos de recuperação após o escala que se segue logo abaixo, foi
TCE. traduzida internamente por profissionais
da AACD (Associação de Assistência à
Ela auxilia a equipe a entender e focalizar Criança Deficiente), para que pudesse
as habilidades mentais do indivíduo, ser adequadamente utilizada na
programando um tratamento adequado. reabilitação dos pacientes da referida
Cada pessoa evoluirá de uma forma instituição.
diferente dependendo da severidade da

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6.4.1 – Esclarecimentos ao professor


Como vimos na explicação médica A grande maioria das sequelas que
acima, são muitos os fatores que porventura esse indivíduo possa
deverão ser considerados para se apresentar têm origem neurológica
estabelecer quais são as seqüelas e os devido ao trauma sofrido e, portanto,
tipos de comprometimentos derivados de devem ser compreendidas dessa forma,
um TCE. A idade do trauma é de sendo que quaisquer problemas, sejam
importante consideração, porque pode-se comportamentais e/ou de aprendizagem,
supor quais e que tipos de aquisições fogem da vontade e do controle do
próprias do desenvolvimento natural e de sujeito traumatizado.
aprendizagem escolar foram adquiridas
pelo indivíduo de acordo com o meio em O acompanhamento médico
que vive. (neurologista, fisiatra, ortopedista, e

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outras especialidades que se fizerem AVALIAÇÃO


necessárias) acompanhado de terapias
indicadas pela equipe médica 01 - Educação Especial é a modalidade
(fisioterapia, terapia ocupacional, de educação escolar oferecida
fonoaudiologia, hidroterapia, arte- preferencialmente na rede regular de
reabilitação...), assim como orientação ensino para educandos portadores de
psicológica de forma regular e, em necessidades especiais.
alguns casos, o atendimento
psicopedagógico individual deverão fazer a) CERTO
parte importante do processo de b) ERRADO
reabilitação desse indivíduo. O início
escolar ou seu retorno deverá ocorrer 02 - A alteração existente no
conforme liberação da equipe, desenvolvimento da criança devido a uma
dependendo do nível de deficiência não significa que ela seja
desenvolvimento alcançado pelo paciente inferior às outras crianças, mas que seu
de acordo com a Escala de Níveis de desenvolvimento acontece por outros
Função Cognitiva descrita nesse caminhos, por recursos internos que ela
documento. criou para se adaptar ao mundo.

Muito evidentes ficarão as diferenças a) CERTO


com relação ao aspecto aprendizagem, b) ERRADO
comparando-se o antes e o pós-trauma:
dificuldades de atenção e concentração, 03 - Comunicação suplementar alternativa
de assimilação, ritmo lento para é uma área de atuação clínica
execução e aprendizagem, necessidade educacional e de pesquisa que objetiva
de adaptações de material escolar e/ou compensar e facilitar (temporária ou
de uso aparelhos que auxiliem no permanentemente) os prejuízos ou
processo de grafismo e de melhor incapacidade de indivíduos com severos
posicionamento a fim de evitar distúrbios da comunicação expressiva
deformidades físicas ou problemas e/ou distúrbios da compreensão.
posturais.
a) CERTO
Inicialmente, a impressão que se tem é b) ERRADO
de que tudo que foi aprendido pelo aluno,
poderá ser reaprendido. Na verdade, o 04 - O trabalho de equipe deverá ser
processo poderá ser de resgate do que colaborativo e solidário, de modo a
foi aprendido, quando o professor deverá permitir aos profissionais uma relação de
direcionar o atendimento, respeitando-se respeito, com base em uma estrutura e
as necessidades muito próprias e limites nítidos para que haja harmonia de
particulares que o aluno apresenta. Com classe e aumento do conceito público.
relação às novas aquisições na
aprendizagem, elas dependerão muito a) CERTO
do grau das seqüelas apresentado pela b) ERRADO
criança e do tipo de atendimento
educacional que lhe for oferecido. 05 - O papel do professor no contexto
familiar é de fundamental importância,
pois esse será a ponte entre o aluno e
família, transmitindo confiança,
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segurança, dando acolhimento e, por b) ERRADO


meio de um processo gradativo,
conscientizando os pais a respeito, do 10 - No que diz respeito ao melhor
valor e da importância da família para o posicionamento na sala de aula para as
desenvolvimento psicossocial dos filhos, e diversas atividades e às adaptações ou
em particular do filho especial. confecções de mobiliário específico, a
responsabilidade cabe à equipe de apoio
a) CERTO e, particularmente, ao fisioterapeuta e
b) ERRADO terapeuta ocupacional.

06 - A formação do autoconceito na a) CERTO


criança não depende de como seu meio b) ERRADO
está organizado e da relação que o adulto
estabelece com ela. Bibliografia/Links Recomendados

a) CERTO - http://www.entreamigos.com.br
b) ERRADO BRAGA, L.W. Cognição e paralisia
cerebral - Piaget e Vygotsky
07 - É na fase pré-operacional que em questão. Salvador: SarahLetras, 1995.
ocorrem os prejuízos básicos ao BRAIN I. Rosenthal Rehabilitacion of
desenvolvimento da criança com the adult and child whith
deficiência física pelas dificuldades de traumatic.
manipulação, coordenação e exploração BRASIL. Declaração de Salamanca e
do meio. linha de ação sobre
necessidades educativas especiais.
a) CERTO Brasília: CORDE, 1997. 2ª ed.
b) ERRADO . Diretrizes nacionais para a educação
especial na educação básica. Brasília.:
08 - Na educação infantil, a organização MEC/CNE/ CEB, 2001.
dos alunos deverá ser cuidadosa, . Lei Nº 9.394, de 23 de dezembro de
objetivando o agrupamento de crianças 1996, que fixa as
em níveis de desenvolvimento próximos Diretrizes e Bases da Educação
para proporcionar melhores Nacional. Brasília: MEC, 1993.
oportunidades de troca, parcerias, ajuda . Parecer Nº 295/69 MEC. Brasília:
mútua e outras relações importantes. Conselho Federal de
Educação, 1969.
a) CERTO . Referencial curricular nacional para a
b) ERRADO educação infantil.
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