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UNIDADE CURRICULAR:

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A preencher pelo estudante

NOME:

N.º DE ESTUDANTE:

CURSO: Ciências Sociais

DATA DE ENTREGA: 19 de Dezembro de 2022

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

O texto em análise é o capítulo 3 da tese de doutoramento de João Mineiro. Este autor


licenciou-se em 2013 em sociologia, posteriormente concluiu em 2015 o grau
académico de mestre e em 2021 doutorou-se em Antropologia. Todos os graus
académicos foram atribuídos no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).

João Mineiro nasceu em 1992 e apesar de jovem já conta com um vasto currículo: é
colaborador e investigador no centro de pesquisa em antropologia (CRIA), é editor,
autor e co-autor de vários livros e estudos científicos e já recebeu vários prémios
académicos

A obra sobre a qual se reflete é “Fazer política: etnografia da assembleia da república”,


mais especificamente o capítulo 3 que se intitula “Um etnógrafo na assembleia:
acesso, métodos e dilemas éticos”, datada de 2021.

A tese de mestrado de João Mineiro refere-se a uma investigação etnográfica que o


autor efetuou com o objetivo de compreender o entendimento que as várias pessoas
que estão na assembleia possuem referente à vida parlamentar e de que forma este
entendimento é construído, partilhado e reproduzido.

O autor esteve no parlamento português entre outubro de 2015 a julho de 2018, e


nesta linha temporal observou, conversou, entrevistou e acompanhou o trabalho dos
deputados, dos assessores, jornalistas e funcionários. “A etnografia exige um
compromisso de tempo duradouro” (Mineiro, 2021, p. 63)

O autor deparou-se com alguns desafios: o primeiro foi o “acesso ao terreno”, sendo a
assembleia um órgão de soberania, o acesso foi complexo e muitas vezes
equacionado, outro desafio para o autor foi o facto deste estudo etnográfico ser
pioneiro, esta instituição nunca tinha acolhido uma pesquisa etnográfica, a maioria dos
estudos incidem em metodologia de questionário ou entrevista e não a permanência
de um investigador permanentemente e isto era motivo de desconfiança por parte dos
deputados e assessores.

Para o autor “etnografia é uma metodologia e não um método particular (…) permite
analisar um determinado contexto da experiência humana, a partir das relações de
conhecimento intersubjetivo com quem o partilha” (Mineiro, 2021, p. 67)

O investigador utilizou como método etnográfico a observação participante, por ação


deste papel do investigador torna-se cada vez mais subjetivo, mas consegue ainda a

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criação de uma nova voz daí decorrente. Através das 366 sessões de observação há o
debate a várias vozes, há uma espécie de cruzamento de informação, de troca de
vivências o que permite que o resultado seja o mais fiel, completo e fidedigno possível.

A observação etnográfica é feita no campo e o investigador pode ir do observador


invisível ao de participante totalmente envolvido. Embora a observação pareça ser
simples exige do investigador um elevado grau de consciência, de atenção aos
pormenores, e de uma escrita cuidadosa de forma a que todos os dados sejam
ferramentas de trabalho.

Esta “observação participante permite dizer o que está a acontecer pelo facto

de o registar presencialmente, pelo facto de o observador estar mais perto da

realidade” (Sousa, 2021, p.14).

Além de ter uma observação participante o investigador optou por efetuar entrevistas
sendo esta metodologia benéfica para os intervenientes que não se sentiam
confortáveis pela observação direta. O autor realizou 134 entrevistas e por último teve
o que se designa de “conversas etnográficas” que são diálogos mais próximos da vida
quotidiana.

Com as entrevistas o etnógrafo pode obter respostas diretas e conhecimentos sobre


os intervenientes e é um excelente método para desvendar aquilo que não conseguiu
observar e entender.

A entrevista deverá decorrer num ambiente acolhedor, pois, com um clima de


confiança, as informações tendem a fluir naturalmente e os intervenientes sentem-se
mais à vontade/seguros para manifestar suas opiniões.

O autor ao longo da sua investigação constrói com os intervenientes uma relação de


empatia e de cumplicidade, que lhe facilita o diálogo com os mesmos.

Em suma, pode-se concluir que a Etnografia evoluiu ao longo dos anos, assumindo-se
como caminho epistemológico da Antropologia. Na sua génese, estudava culturas e
mapeava-as. As abordagens contemporâneas são muito mais complexas e amplas, na
medida em que dão um novo protagonismo ao observador. Agora este tem voz ativa
no processo da recolha de dados, e as suas emoções e vivências são considerados.

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O investigador após um estudo etnográfico não é o mesmo, encontra-se modificado e
enriquecido pelas vivências transformadoras que viveu. E assim surgem os
significados e conhecimentos da Antropologia, à luz das conceções contemporâneas.

A etnografia é não segue um padrão rígido, muitas vezes é um guiados pelo


investigador. As técnicas e os procedimentos são pré-determinados, contudo é a partir
do trabalho de campo e do senso do investigador que se desenvolve a investigação.

Por vezes os instrumentos de análise e de colheita de dados são alterados ou


reformulados para responder com maior eficácia à realidade do trabalho de campo,
para que este seja mais rico em dados.

A etnografia atualmente é considerada uma análise holística e neste estudo o


investigador observa o modo como os trabalhadores da assembleia conduzem o seu
trabalho com o objetivo de revelar o significado do quotidiano dos deputados,
jornalistas, assessores que estão na assembleia da república. O objetivo é
documentar, monitorizar e encontrar o significado da suas ações, pensamentos e
comportamentos referente à vida parlamentar.

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BIBLIOGRAFIA:

Mineiro, J. (2021). Fazer política: uma etnografia da Assembleia da República [Tese


de doutoramento, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte.
http://hdl.handle.net/10071/22779

Sousa, L. (2021). Textos de Antropologia Geral. Lisboa: Universidade

Aberta.

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