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REVISTA FAMECOS
mídia, cultura e tecnologia
https://dx.doi.org/10.15448/1980-3729.2022.1.42803
SEÇÃO: CIBERCULTURA
Marcelo Alves dos Resumo: A proposta desse artigo é elaborar uma análise da disseminação da
peça de desinformação “Laranjal do Boulos”, divulgada durante o debate UOL/
Santos Junior1
orcid.org/0000-0003-4995-6612 Folha de S.Paulo no primeiro turno da eleição para a prefeitura de São Paulo. O
marcelo_alves@id.uff.br
arcabouço teórico mobilizado integra estudos sobre desinformação, táticas de
coordenação e astroturfing. Os dados foram coletados de Instagram, Facebook,
Twitter e YouTube. Os procedimentos metodológicos seguem abordagens de
análise cross-plataforma dos métodos digitais e combinam estatística descritiva e
análise de redes sociais. Os resultados sugerem a coordenação entre a campanha
Recebido em: 15 fev. 2022.
de Russomano e Oswaldo Eustáquio para questionar Guilherme Boulos durante
o debate. Além disso, os achados descrevem a temporalidade da circulação e o
Aprovado em: 2 jun. 2022.
espalhamento do conteúdo de forma transmídia. Ao final do artigo, debatemos
Publicado em: 29 nov. 2022.
os desafios de moderação da desinformação nas mídias sociais e apontamos
caminhos para estudos multiplataformas.
Palavras-chave: Desinformação. Coordenação. Astroturfing. Multiplataformas.
Eleição.
1
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2/18 Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 29, p. 1-18, jan.-dez. 2022 | e-
artículo, debatimos los retos de la moderación de la Oswaldo Eustáquio com aplicação de multa de
desinformación en los medios sociales y señalamos
caminos para los estudios multiplataforma. R$ 15 mil reais e, em agosto de 2021, a Justiça
Palabras clave: Desinformación. Coordinación. As- Eleitoral de SP o condenou a pagar mais R$ 20
troturfing. Múltiplas Plataformas. Elecciones. mil reais (TAVARES, 2021).2
O caso em tela oferece um bom exemplo para
elucidar como as notícias falsas se espalham nas
Introdução
em múltiplas plataformas de mídias sociais, na
O fenômeno da ordem desinformacional é
medida em que o vídeo do Youtube foi citado
extremamente desafiador do ponto de vista em-
no debate e se tornou trending topic no Twitter.
pírico (WARDLE, 2018; BENNETT; LIVINGSTON,
Para esse estudo, coletamos dados do Facebook,
2018; GOMES; DOURADO, 2019). A maior parte
Twitter, YouTube e Instagram durante o dia 11 de
dos estudos aplicados oferece um recorte focado
novembro, combinando diferentes ferramentas,
em apenas uma plataforma digital, geralmente o
e aplicamos métodos digitais para analisar o
Twitter, dadas as características tecnológicas das
espalhamento transmidiático da desinformação.
interfaces de dados. Esse escopo de investigação
Nesse sentido, a análise da propagação das
é frutífero para entender condicionantes tecno-
mensagens sobre o Laranjal do Boulos oferece
lógicas e affordances específicas, mas perde de
uma oportunidade muito particular para entender
vista as táticas de coordenação multiplataformas.
o a instrumentalização dessas redes para desin-
Trabalhos relacionados demostram que movi-
formar o público durante uma corrida eleitoral.
mentos de extrema-direita elaboram repertórios
O trabalho está dividido em cinco partes. Nas
ativistas que se apropriam das infraestruturas
duas primeiras, revisamos os estudos empíricos
digitais para organizar arquiteturas de desin-
nacionais e internacionais sobre coordenação de
formação com interfaces entre diferentes sites
campanhas de desinformação, além das evidên-
(ONG; CABAÑES, 2018; BAELE; BRACE; COAN,
cias sobre táticas de convergência de plataformas
2020). As táticas de coordenação multiplatafor-
para espalhar mensagens falsas em contexto
mas buscam não somente multiplicar as histó-
eleitoral. Em seguida, situamos o contexto eleito-
rias fabricadas para amplificar seu alcance, mas
ral do primeiro turno da eleição para a Prefeitura
também dificultar os processos de moderação
de São Paulo. No trecho metodológico, apresen-
de conteúdo (DAVEY; EBNER, 2017; DONOVAN;
tamos os fundamentos teórico-metodológicos
LEWIS; FRIEDBERG, 2019).
da abordagem cross-plataforma, descrevemos
A proposta desse artigo é elaborar uma análise
os instrumentos de coleta de dados e técnicas
comparativa da disseminação da notícia falsa
analíticas. Os achados apontam que a retirada
chamada de “Laranjal do Boulos”, divulgada
do vídeo do YouTube teve efeito reduzido em
durante o debate da Folha de S.Paulo e do portal
conter o espalhamento da inverdade, na medida
UOL no primeiro turno da eleição para a prefeitura
em que o conteúdo foi rapidamente replicado no
de São Paulo. Na transmissão, Celso Russomano
Twitter, republicado em grupos do Facebook de
(Republicanos) citou um vídeo publicado pelo
modo nativo e transformado em outras notícias
blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio para
de websites de desinformação. Ao final do artigo,
questionar o candidato psolista sobre falsas
debatemos os desafios da moderação de notícias
denúncias de empresas fantasmas utilizadas em
falsas em plataformas digitais.
sua campanha. O material havia sido publicado
no Youtube pouco tempo antes da pergunta e
1 Definições de desinformação e
rapidamente se espalhou por outras platafor-
coordenação nas redes
mas. Em dezembro de 2020, a Justiça condenou
Os problemas de pesquisa que giram em tor-
2
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/08/21/justica-eleitoral-de-sp-condena-blogueiro-bolsonarista-a-
-pagar-multa-de-r-20-mil-por-divulgar-noticias-falsas-sobre-boulos.ghtml. Acesso em: 26 maio 2022.
Marcelo Alves dos Santos Junior
Desinformação multiplataformas: análise da circulação do caso Laranjal do Boulos 3/18
no de um arcabouço mais geral do que vem se empírico em análise. Isso porque a notícia falsa
convencionando a chamar de informações falsas do Laranjal do Boulos é factualmente incorreta,
são diversos empiricamente e, também, do ponto foi deliberadamente fabricada durante a semana
de vista teórico-metodológico (KAPANTAI et al., e plantada nas mídias sociais pouco antes da
2021). Esse artigo se dedica particularmente a formulação da pergunta de Celso Russomano
contribuir com a discussão sobre as táticas de no debate promovido por UOL/Folha. Assim,
coordenação de campanhas de desinformação circunscreve-se um contexto adequado para
cross-plataforma partindo do caso do Laranjal a proposta conceitual indicada pela intencio-
de Boulos. O recorte proposto visa: a) elucidar nalidade do uso da inverdade para manchar a
como a desinformação pode ser analisada a reputação do candidato Guilherme Boulos (PSOL)
partir da participação criativa de múltiplos atores com fins eleitorais.
para espalhar intensamente as mentiras com O recorte analítico se preocupa com a desinfor-
o objetivo de poluir o ambiente informacional mação sob o prisma de campanhas que possuem
(VENTURINI, 2019); e b) identificar as táticas de diferentes níveis e táticas de coordenação. Por
coordenação dessas ações por meio de atores campanhas de desinformação, entende-se que
políticos, sociais ou agências de comunicação a criação e o espalhamento de notícias falsas é
digital. Para isso, esse estudo dialoga com a uma atividade coletiva que envolve a participação
literatura especializada que vem avançando as de diversos atores, possui estratégia e objetivos
questões e apontando possibilidades e limitações bem definidos e é executada no longo prazo
acerca desses dois pontos. (STARBIRD et al., 2019). Além disso, o foco sobre
De acordo com revisão sobre o estado da arte as estratégias de coordenação busca jogar luz
da literatura em relação à desinformação, não sobre as dinâmicas organizacionais, estratégicas
há uma terminologia aceita universalmente para e operacionais mobilizadas pelos atores para
tipificar os fenômenos relacionados ao problema orquestrar, distribuir tarefas e mobilizar as cam-
da desinformação (KAPANTAI et al., 2021). Inicial- panhas de desinformação (ONG; CABAÑES, 2018).
mente, termos como fake news foram criticados Os estudos de astroturfing ajudam a eluci-
pela falta de densidade teórica e instrumentali- dar a coordenação para manipular o ambiente
zação para fins de perseguição política (FARKAS; informacional e falsear a percepção pública.
SCHOU, 2018). Wardle e Derekshan (2017) sugere O conceito investiga estratégias utilizadas por
um arcabouço de “ordem desinformacional”, grupos de interesse, relações públicas, empresas
que separa erros de apurações de notícias jor- e organizações políticas para contratar pessoas
nalísticas (misinformation) de informações falsas para agirem como ativistas em grupos artificiais
criadas intencionalmente para fins de enganar a que tem a finalidade de emular um movimento
audiência (disinformation) e informações corretas grassroots, ou seja, fingir uma percepção de au-
instrumentalizadas para produzir danos (malin- tenticidade e enraizamento de base (WALKER,
formation). Para os fins teórico-metodológicos, 2016). Essas táticas foram apropriadas rapidamen-
aplica-se o conceito de desinformação entendido te para os meios digitais por meio de consultores
como um conteúdo factualmente falso e que é que utilizavam as potencialidades dos canais
espalhado com a intenção deliberada de enga- digitais para aperfeiçoar suas táticas e encobrir
nar ou confundir (WARDLE; DEREKSHAN, 2017). seus rastros (HOWARD, 2006; KLOTZ, 2007). O
Muito embora diversas críticas tenham sido astroturfing digital é definido como um conjunto
elaboradas em detalhe sobre o conceito, par- de técnicas com coordenação central e modelo
ticularmente, acerca do problema de atribui- organizacional hierárquico (top-down) em que
ção e verificação da intencionalidade (FARKAS; gestores atribuem tarefas especializadas para
SCHOU, 2018), a desinformação aparece como um pessoas pagas para criar personas políticas, gerar
operador analítico que se enquadra ao objetivo interação, redigir comentários, avaliar ou criticar
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pautas, entre outras finalidades (KOVIC, 2018). e veículos hiperpartidários. O segundo ponto é
Dada a sua natureza enganosa, as campanhas a estrutura centralizada e hierárquica da orga-
de astroturfing recebem diferentes definições e nização da campanha, o que entra em conflito
delimitações conceituais. Kovic et al. (2018) ofe- com as possibilidades de mobilização em rede. A
recem um quadro analítico na tentativa de sanar coordenação também pode ser organizada sem
imprecisões nessa área. Segundo eles, o astrotur- a característica de astroturfing, isto é, utilizar os
fing digital é “uma forma manufaturada, enganosa, próprios canais oficiais dos políticos.
top-down e estratégica de atividade na internet, Ainda que os autores concordem com certos
iniciada por atores políticos que imitam ações pontos, como a participação de simpatizantes,
bottom-up de indivíduos autônomos” (KOVIC et há uma cadeia de dependência claramente ar-
al., 2018, p. 71). A tipologia lista quatro tipos de ticulada em que atores políticos mobilizam uma
atores que podem iniciar a campanha: governo, organização central para distribuir tarefas com
partidos, políticos ou grupos de interesse; dois finalidade de forjar movimentos ou percepções
alvos de persuasão: o público ou atores políticos; públicas. Essa prática busca ocultar o ator po-
e dois objetivos: apoiar ou contrapor políticas lítico que financia ou se beneficia da operação.
públicas ou atores políticos. Além disso, o paper Os simpatizantes aparecem em um segundo
sugere a ideia de repertórios de astroturfing, que momento, mas nunca poderiam iniciar a cadeia
envolvem: a) ferramentas – sock-puppets (contas de conspiração.
falsas que atuam como ventríloquos); fazendas Dessa forma, há algumas arestas na aplicabi-
de clique, simpatizantes e apoiadores pagos; lidade do conceito para entender campanhas de
b) canais – mídias sociais, sites, comentários e desinformação. Estudo comparativo de Bradshaw
mensagens diretas; e c) ações – criar conteú- e Howard (2017) e Wolley e Howard (2019) sobre
do e sinalizar endosso ou crítica. Estudando o cibertropas indica diferentes formas de manipu-
WhatsApp, Chagas (2022) chama atenção para lação digital, sugerindo um fenômeno contínuo
as características de espalhamento viral das entre coordenação central e iniciativas autônomas
mensagens e ocultamento dos patrocinadores, e independentes. “Em alguns casos, os times
levando a ações coordenadas em rede, cluste- são completamente estruturados com tarefas
rizadas em torno de temáticas e administradas determinadas e hierarquia definida, muito simi-
por superposters presentes em diversos grupos. lar à gestão de uma empresa ou à burocracia
Trata-se um arcabouço analítico rico e versátil de governo [...] Em outros, os times são menos
para entender diversas facetas do astroturfing supervisionados e coordenados” (BRADSHAW;
e táticas de coordenação, contribuindo para a HOWARD, 2017, p. 19-20).
compreensão as dinâmicas de coordenação do Uma forma de avançar nessa discussão é a
espalhamento de campanhas de desinformação. perspectiva de desinformação como trabalho
No entanto, seu recorte é muito específico e per- colaborativo (STARBIRD et al., 2019). A ideia prin-
de de vista integrações fluidas entre repertórios cipal é que a desinformação não deve ser vista
e atores. Dois limites podem ser destacados. O como um processo comunicacional em que o
primeiro é que as campanhas de desinformação público é receptor passivo, ou seja, um alvo a ser
nem sempre podem ser coordenadas antecipa- manipulado pelos atores políticos. Os esforços
damente. Ainda que Kovic et al. (2018) e Keller et de manipulação são “em geral pensados como
al. (2020), por exemplo, aceitem a possibilidade algo feito com as multidões humanas, em vez de
de simpatizantes participarem sem necessa- algo que as multidões humanas fazem” (STARBIRD
riamente serem pagos ou receberem vanta- et al., 2019, p. 3, grifo do autor). Nesse sentido, a
gens, o conceito se fecha para a possibilidade virada proposta pela autora e colegas visa en-
de campanhas desinformativas orgânicas ou tender o trabalho participativo na desinformação,
abertamente mobilizadas pelos atores políticos que pode ser coordenado não explicitamente
Marcelo Alves dos Santos Junior
Desinformação multiplataformas: análise da circulação do caso Laranjal do Boulos 5/18
3
Dados divulgados em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2020/noticia/2020/09/24/pesquisa-datafolha-em-sao-pau-
lo-russomanno-tem-29percent-covas-20percent-boulos-9percent-e-franca-8percent.ghtml. Acesso em: 13 mar. 2021.
4
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/09/26/filha-de-russomanno-e-genro-sao-acu-
sados-por-esquema-de-piramide.htm. Acesso em: 13 mar. 2021.
5
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2020/noticia/2020/10/30/pesquisa-ibope-em-sao-paulo-covas-
-26percent-russomanno-20percent-boulos-13percent-franca-11percent.ghtml. Acesso em: 13 mar. 2021.
Marcelo Alves dos Santos Junior
Desinformação multiplataformas: análise da circulação do caso Laranjal do Boulos 7/18
peças irreverentes, expansão transmídia e lives de TÁQUIO, n/d, 2020)9. A publicação do vídeo foi
24 horas se assemelhando a um reality show do feita minutos antes da pergunta de Russomano no
cotidiano da família, o que resultou no primeiro debate UOL/Folha, momento em que a hashtag
lugar no Índice de Popularidade Digital6 de São #LaranjaldoBoulos começava a ser espalhada
Paulo (FARIA, 2020). pelas redes e ainda não estava entre os assuntos
Em dados divulgados pelo Datafolha no dia mais comentados do Twitter no Brasil.
11 de novembro, Boulos já havia assumido o A denúncia falsa foi rapidamente desmentida
segundo lugar com 17% das intenções de voto pela campanha de Boulos que informou que as
contra 15% de Russomano, um empate técnico empresas estavam trabalhando remotamente
se considerada a margem de erro de dois pontos. na produção de vídeos. Em seguida, o comitê
Nesta data, em debate promovido pelo portal abriu processo judicial para retirada do vídeo do
UOL em colaboração com a Folha de S.Paulo, YouTube; o que foi acatado pela Justiça Eleitoral
Russomano questionou Boulos sobre uma falsa (SOPRANA; NUNES, 2020).10 Em dezembro, a
acusação que circulava nas redes que denun- justiça condenou11 Eustáquio a indenizar Boulos
ciava um esquema de contratos fantasmas com em R$ 15 mil pela difamação (LOPES, 2020). Cabe
empresas de produção de conteúdo no valor enfatizar o curtíssimo intervalo temporal do caso,
de R$ 528 mil reais. Embora não mencionasse levando em conta a divulgação do vídeo com a
diretamente, ele fez referência ao vídeo publi- notícia falsa no final da manhã, a pergunta no de-
cado pelo bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que bate minutos depois, a desconstrução à tarde e a
estava em liberdade em função do vencimento ordem de retirada expedida pela Justiça Eleitoral,
de sua prisão temporária decretada pelo STF por à noite. No resultado do primeiro turno, Boulos
conta da organização de atos antidemocráticos ficou em segundo lugar com 20,24% dos votos
(MÁXIMO, 2020). 7
válidos, maior votação do partido na capital de
No vídeo “O laranjal de Boulos: PSOL utiliza São Paulo, e Russomano ficou em quarto lugar,
empresas fantasmas para lavar dinheiro na cor- com 10,5%.
rida eleitoral em SP”, Eustáquio afirma que vai
“desmascarar mais um laranjal, dessa vez do 4 Metodologia
psolista, comunista, esquerdista Guilherme Bou-
Uma característica relevante das campanhas
los” (EUSTÁQUIO, 2020).8 Ele visitou endereços
de desinformação é a criação de um ambiente
registrados na Receita Federal pelas produtoras
de poluição informacional (VENTURINI, 2019).
Kyrion Consultoria e Análise em Comunicação e
Certamente, esse ambiente não está restrito
Filmes de Vagabundo, contratadas pela campa-
a uma plataforma em particular. Os estudos
nha de Boulos. Nos locais, entrevistou moradores
que se inserem no contexto dos métodos di-
das vizinhanças que afirmaram que as empresas
gitais frequentemente se debruçam sobre um
nunca funcionaram naqueles locais. Eustáquio
site tanto pelas complexidades operacionais,
afirmou que as empresas foram abertas para
quanto pelo próprio desenho das interfaces de
“lavar dinheiro para a campanha comunista” (EUS-
coleta de dados (ROGERS, 2017). Estudos sobre
6
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/10/veja-ranking-de-popularidade-digital-dos-candidatos-a-prefeito-
-em-sao-paulo.shtml. Acesso em: 13 mar. 2021.
7
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2020-07/stf-solta-jornalista-oswaldo-eustaquio-mas-impoe-restri-
coes Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2020-07/stf-solta-jornalista-oswaldo-eustaquio-mas-impoe-res-
tricoes. Acesso em: 11 nov. 2020.
8
Trecho transcrito pelo autor do vídeo “O laranjal de Boulos: PSOL utiliza empresas fantasmas para lavar dinheiro na corrida eleitoral
em SP”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=P1j-31JifbM. Acesso em: 11 nov. 2020.
9
Trecho transcrito pelo autor do vídeo “O laranjal de Boulos: PSOL utiliza empresas fantasmas para lavar dinheiro na corrida eleitoral
em SP”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=P1j-31JifbM. Acesso em: 11 nov. 2020.
10
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/11/apos-pedido-de-boulos-justica-determina-retirada-de-video-com-
-acusacao-citada-por-russomano.shtml. Acesso em: 11 nov. 2020.
11
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/12/25/justica-oswaldo-eustaquio-boulos.html. Acesso
em: 11 nov. 2020.
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comunicação política e cultura digital vem defen- As técnicas analíticas para encontrar coordena-
dendo a necessidade de desagregar a categoria ção, em geral, se baseiam em recortes temporais
“mídias sociais” em redes sociotécnicas com ou cadeias de relacionamentos repetitivos e
affordances e culturas particulares, observando sistematizados. Keller et al. (2020) argumentam
como são apropriadas de forma convergente ou que um dos problemas da pesquisa aplicada
transmidiática pelos atores políticos (BENNETT; sobre práticas de astroturfing é a impossibilidade
SEGERBERG, 2021). de evidenciar e comprovar com precisão se um
Em uma das primeiras sugestões metodo- movimento não é orgânico. Eles resolvem esse
lógicas, Elmer e Langlois (2013) recomendam desafio estudando o caso da eleição presidencial
a investigação de objetos e assuntos que cir- sul-coreana de 2012, em que o South Korean Na-
culam entre plataformas por meio do conceito tional Information Service (NIS) foi judicialmente
de marcadores de tráfego (traffic tags). A ideia é processado por fabricar o apoio ao candidato de
rastrear objetos digitais que estejam presentes direita Geun-hye Park. A autora e colaboradores
em diversos websites, como tags de html, textos, partiram das evidências jurídicas, como a lista de
identificadores, imagens, vídeos, hashtags e links. contas controladas no Twitter, fornecida pelos
O objetivo é mapear a rede de campanhas, atores funcionários do escritório, para encontrar padrões
e conteúdo: “traffic tags não somente organizam peculiares e discerníveis em relação ao uso não
a comunicação cross-plataforma, mas também orquestrado.
estabelecem conexões entre diferentes ato- A análise encontra dois padrões de coorde-
res que organização atividades online” (ELMER; nação: a dimensão temporal e a articulação das
LANGLOIS, 2013, p. 50). Para os fins desse artigo, mensagens. O primeiro evidencia o funcionamen-
utilizaremos dois objetos como marcadores de to das atividades em horário comercial e queda
tráfego: links e hashtags. abrupta à noite e durante os finais de semana,
Seguiremos os procedimentos sistematizados com desativação das contas depois do perío-
por Rogers (2017) para repropor métodos digitais do da campanha. O segundo aplica análise de
para análises multiplataformas: a) o episódio em redes sociais e séries temporais para identificar
tela é a notícia falsa sobre desvio de verba públi- a) redes de retweets: o compartilhamento de
ca pela campanha de Boulos; b) a expressão de tweets originais de membros da campanha de
consulta de extração de dados é composta pelos astroturfing, b) redes de co-tweets: tuitar a mesma
termos: #laranjaldoboulos, #laranjaldeboulos, mensagem mais de uma vez em até um minuto;
‘boulos laranjal’, ‘boulos laranja’, ‘boulos fantasma’, e c) redes de co-retweets: perfis que retuitaram
“russomano falso”, “russomano falsa”, “russomano mais de uma vez o mesmo tweet dentro do limite
fake”; c) a chave analítica será a coordenação de um segundo. Adaptaremos a proposta para
entre os atores para circular a hashtag; d) as encontrar perfis que postaram sobre o assunto
peculiaridades das plataformas serão observa- em mais de uma rede.
das nas dinâmicas de interação possibilitadas Os dados foram coletados no dia 12 novembro
pelos marcadores de tráfego, na medida em de 2021 com três ferramentas. A interface gráfica
que as hashtags são adequadas para mapear do Crowdtangle foi utilizada para extração de
conteúdo entre Facebook, Twitter e Instagram publicações que mencionavam textualmente ou
e os links entre YouTube, Facebook e Twitter; e) na imagem os termos de consulta no Instagram
utilizaremos as medidas que indicam interação e em páginas ou grupos do Facebook. Usamos
em cada plataforma para aferir a circulação da aplicativo YouTube Data Tools para coletar meta-
campanha de desinformação; e f) discutiremos os dados de vídeos do YouTube que mencionavam
achados sobretudo em relação à literatura sobre os termos de consulta no título. Por fim, foi escrito
desinformação e questões políticas. um script em linguagem estatística R pelo pacote
Marcelo Alves dos Santos Junior
Desinformação multiplataformas: análise da circulação do caso Laranjal do Boulos 9/18
A Tabela 1 indica que o Twitter foi a principal so, as próprias interfaces e mecanismos de coleta
plataforma de mídias sociais para o debate em de dados, bem como o que Rogers (2017) chama
torno da informação falsa contra Boulos, levando de cultura de dispositivo, influenciam os dados
em conta a contagem de tweets. A comparação sob análise, na medida em que o Twitter tem uma
também sugere culturas participativas e affor- gramática infraestrutural com temos respostas
dances distintas, em que as mensagens curtas (comentários) e RTs (compartilhamentos); e nas
do microblog se traduzem em maior quantidade demais plataformas, o banco de dados repre-
de publicações únicas; ao contrário do YouTube senta somente as publicações. Outro elemento
em que se investiga produções audiovisuais que relevante é que o valor máximo de interações,
demandam maior tempo de produção. Além dis- isto é, a publicação única com mais interações, é
12
O rtweet é um pacote da linguagem de programação R a ser instalado e carregado para realizar uma conexão à interface programá-
tica de extração de dados do Twitter. Aplicamos a função search_tweet para montar o banco de dados desta pesquisa.
13
A coleta do Twitter foi a única elaborada em script de linguagem de programação desenvolvido para a finalidade desta pesquisa.
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de Eduardo Bolsonaro no Instagram, alcançando KELLER et al., 2020). O caso em tela é extrema-
43,1 mil curtidas e comentários, mais de 37,7% do mente interessante porque o vídeo de Oswaldo
total dessa plataforma. Eustáquio foi publicado durante o debate e não
A segunda questão se dedica à temporalida- estava entre os assuntos mais comentados do
de da circulação do caso de desinformação. A Twitter quando da pergunta, um traço pouco
literatura relacionada busca jogar luz sobre os questionável de coordenação com a campanha
padrões temporais do engajamento dos atores de Celso Russomano.
na construção de campanhas coletivas em tor- A Figura 1 compara o total de publicações por
no das informações falsas (KOVIC et al., 2018; hora em cada plataforma.
Figura 1 – Total de publicações agrupadas por hora em cada plataforma. As escalas do eixo y são
livres
De forma geral, as menções à hashtag #La- eleitorais, tendo em vista que o blogueiro havia
ranjaldoBoulos aparecem com destaque no final postado acusação semelhante sobre o PSL. Não
da manhã do dia 11 e se intensificaram durante há movimentação em nenhuma outra plataforma,
a tarde. Olhando os dados em detalhe, é pos- o que indica ser um teste da estratégia.
sível desenhar minuciosamente a dinâmica de No dia 11, Eustáquio posta o vídeo com a de-
espalhamento dessa notícia falsa. As primeiras núncia em seu canal do YouTube às 10h41 e di-
publicações foram feitas na noite anterior ao de- vulga o link no Twitter às 11h02, acusando Boulos
bate UOL/Folha, que começaria às 10h; algumas de desvio de dinheiro público por empresas
dezenas de tweets foram feitas por volta de 22h30 fantasmas e lançando a hashtag #Laranjalde-
do dia 10 de novembro já com o termo laranjal de Boulos. Russomano questiona Boulos no de-
Boulos e um link para um vídeo de Oswaldo Eus- bate UOL/Folha minutos depois com base na
táquio no YouTube. Este link, todavia, foi deletado acusação infundada. No Instagram, a primeira
e não é o mesmo que seria divulgado durante publicação sobre o caso é do perfil Sudeste da
a transmissão no dia posterior. São tweets com Direita – Bolsonaro, atacando o psolista e pedindo
pouca interação e que chamam a denúncia de votos para Russomano. A segunda é do próprio
uma continuação da investigação sobre desvios Guilherme Boulos, às 11h19, chamando Eustá-
Marcelo Alves dos Santos Junior
Desinformação multiplataformas: análise da circulação do caso Laranjal do Boulos 11/18
quio de “pseudo ‘jornalista’” (sic) e “difamador para agendar o debate com a notícia falsa e a
bolsonarista profissional”. Na resposta, Boulos dinâmica temporal do dia 11. A Figura 2 mostra
pergunta qual a fonte de Russomano e diz que a quantidade de mensagens por minuto que
a informação falsa é um ato de desespero em citaram ao menos uma das duas fontes da de-
função da queda nas pesquisas. sinformação com mais interações no banco de
Nesse ponto, cabe fazer um recorte específico dados: o link do canal de YouTube de Eustáquio
dos dados para entender melhor a organização ou a republicação do Jornal da Cidade Online.
O que se chama de ator nessa tabela é o resultado de um processo de mineração de dados que tentou uniformizar os títulos dos
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perfis ou das páginas nas diversas plataformas. Para isso, aplicamos técnicas de mineração textual para extrair caracteres numéricos,
pontuações, emojis e menções a cargos, como deputado. A métrica “Plataformas” mostra em quantas redes encontramos publicações
depois dessa uniformização.
12/18 Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 29, p. 1-18, jan.-dez. 2022 | e-
Na Tabela 3, enfatizamos que, embora o vídeo teúdos nativos, ou seja, hospedados diretamente
de Eustáquio seja a peça principal de desinforma- na plataforma, em websites, no Facebook, Twitter
ção que deu início ao ciclo de campanha desinfor- e Instagram, além de ser comentado e editado
mativas cross-plataforma, não foi o conteúdo com por outros canais do YouTube.
mais interações. Encontramos posts em formato Já os esforços de contenção de danos e cor-
de notícia de veículos de extrema-direita que ex- reção da informação falsa se fundamentam,
pandiram a circulação transmidiática da informa- sobretudo, em notícias da Folha de S.Paulo e do
ção falsa, como o Jornal da Cidade Online, Gazeta portal UOL; além de investigações anteriores
Brasil e Pleno.News. As matérias repercutem a do The Intercept que detalham as práticas anti-
acusação original e abordam aspectos como a éticas de Eustáquio. Interessante notar como as
entrada do termo nos assuntos mais contados primeiras reportagens do UOL repercutiram as
do Twitter e as reações de Boulos, que xingou acusações e a resposta de Boulos, aumentando a
Eustáquio, são exploradas como uma “prova” da visibilidade da mentira original. Durante a tarde, e
veracidade da apuração. Nessas dinâmicas de com o avançar das apurações, o veículo passou a
replicação e transformação transmidiática do retratar o caso como um episódio de informação
conteúdo original (ALZAMORA; ANDRADE, 2019), falsa e repercutiu as decisões da Justiça Eleitoral.
o vídeo foi replicado diversas vezes, gerando con- A Tabela 4 mostra os títulos dos links mais
compartilhados nas plataformas em análise.
Platafor-
Título Fonte Data Posts RTs Interações
mas
Jornalista investigativo desbarata
Jornal da Cida- 2020-11-11
“laranjal” e desmascara Guilherme 224 3466 2 60.104
de Online 13:24:17
Boulos Veja o Vídeo
Platafor-
Título Fonte Data Posts RTs Interações
mas
Por fim, a Figura 3 tem o resultado da análise de redes sociais que oferece uma visão analítica
bimodal que estuda como os atores compartilharam as fontes informacionais.
Além de reforçar o papel central do YouTube e YouTube no Twitter, Celso Russomano se refere
do Jornal da Cidade Online para o espalhamento à notícia falsa para questionar Boulos. Nesse
da notícia falsa nas plataformas, percebe-se sentido, há uma coordenação entre um veículo
como esses esforços foram mais densos do que que propagou uma informação falsa e uma candi-
o cluster em laranja em torno das notícias da datura alinhada a Bolsonaro para dar visibilidade
Folha de S. Paulo e do UOL. Em azul, forma-se ao caso. Em seguida, o assunto circula também
um público em rede em torno da hashtag #La- entre parlamentares e é reproduzido pela rede de
ranjaldeBoulos e dos insumos informacionais, veículos hiperpartidarizados que apoia Bolsonaro.
concentrando 88,9% dos atores presentes na Ainda que possa ter havido inflação das métricas
rede. Isso sugere o caráter participativo do es- por mecanismos automatizados, como apontou
palhamento da desinformação (STARBIRD et al., o sistema Bot Sentinel (NIKLAS, 2020),15 há um
2019) por antagonistas de Boulos para tornar a caráter descortinado da coordenação envolvendo
hashtag um dos assuntos mais comentados do lideranças políticas influentes do bolsonarismo,
dia no Twitter e espalhar a informação falsa pelas como o próprio filho Eduardo Bolsonaro.
demais plataformas. A estratégia é de politização Uma das principais funções de uma campanha
da desinformação com fins eleitorais, envolvendo de astroturfing é atuar em favor de atores políticos
não somente políticos da cidade de São Paulo, influenciando percepções públicas ao mesmo
portanto, com interesses regionais, mas também tempo em que esconde as vinculações e simula
atores de outros estados que compõem o movi- aparência orgânica (KOVIC, 2018). No caso em
mento bolsonarista. tela, a atuação político-partidária está às claras,
tanto pela atuação de Eustáquio, sistematica-
Considerações finais mente acusado de difamação e envolvimento
em atos democráticos, quanto pela adesão dos
O problema da desinformação é extrema-
políticos logo no início. A proposta de Starbird
mente desafiador sobre diversos aspectos. Em
et al. (2019) sobre campanhas de desinformação
particular, a investigação empírica carece de um
como processos participativos com modelos de
recorte multiplataformas para rastrear e analisar
atuação diversos captura melhor as nuances do
os processos de circulação cross e transmidiática
caso, que teve um gatilho top-down e, em segui-
de campanhas desinformacionais. A contribuição
da, uma repercussão descontrolada por outros
desse artigo é testar conceitos teóricos sobre
canais da rede bolsonarista. Dessa forma, argu-
coordenação de atividades inautênticas e astro-
mentamos que há uma combinação de modelos
turfing para elucidar como atores se organizaram
com produção centralizada da informação falsa,
para espalhar uma acusação falsa durante o de-
coordenação com a campanha de Russomano
bate da UOL/Folha. A equipe de Russomano usou
para plantar a questão no debate e, posterior,
o caso para lançar uma pergunta contra Boulos
participação de militantes de extrema-direita
ao vivo, poucos minutos depois das primeiras pu-
para circular e amplificar o alcance do conteúdo.
blicações. Os resultados nos ajudam a entender
O estudo multiplataformas enriquece as des-
dinâmicas particulares sobre a coordenação das
cobertas sobre a circulação transmidiática da
táticas de desinformação.
desinformação (ALZAMORA; ANDRADE, 2019).
A despeito da perspectiva sobre a inautenti-
Assim, percebemos que o vídeo inicial no You-
cidade (GLEICHER, 2018) para espalhar percep-
Tube é rapidamente replicado no Twitter, com
ções falsas ou manipuladas, identificamos uma
um link para o conteúdo original (cross-mídia),
ação que parte de um ator que se situa como
ao mesmo tempo em que a audiência criativa
“jornalista investigativo” da extrema-direita. Ainda
modifica, transforma e reconfigura a acusação
na primeira hora de repercussão do vídeo do
(transmídia). Nesse sentido, outros veículos pro- -0ea8-4bf3-943e-d25fa26898b8. pdf. Acesso em: 12
ago. 2022.
duziram episódios ou pseudo-eventos midiáticos
que se desdobraram durante o dia, como a reação ALVES, M. Clones do YouTube: replataformização da
irrealidade e infraestruturas de desinformação sobre a
de Boulos, a subida da hashtag aos assuntos Covid-19. Fronteiras-estudos midiáticos, São Leopol-
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atacavam o psolista. Outros youtubers fizeram
vídeos comentando a denúncia, o que alarga o BAELE, S. J.; BRACE, L; COAN, T. G. Uncovering the
far-right online ecosystem: An analytical framework
ciclo de vida da informação falsa. Esse rastrea- and research agenda. Studies in Conflict & Terrorism,
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para se adequar às linguagens e affordances
BENNETT, W. L.; LIVINGSTON, S. The disinformation
das plataformas, evidenciando também como order: Disruptive communication and the decline of
a desativação do vídeo original pelo YouTube democratic institutions. European journal of commu-
nication, [S. I.], v. 33, n. 2, p. 122-139, 2018. Disponível
teve pouco efeito em conter a propagação, já em: https://doi.org/10.1177/0267323118760317. Acesso
que a informação falsa estava replicada por todo em: 12 ago. 2022.
ecossistema de plataformas. BENNETT, W. L.; SEGERBERG, A. The logic of connec-
O artigo possui algumas limitações que devem tive action: Digital media and the personalization of
contentious politics. Information, communication &
ser observadas. Em primeiro lugar, a análise ainda society, [S. I.], v. 15, n. 5, p. 739-768, 2012. Disponível
é preliminar e exploratória, seguindo construções em: https://doi.org/10.1080/1369118X.2012.670661.
Acesso em: 12 ago. 2022.
metodológicas e adaptando os procedimentos
para os dados coletados. Há lacunas quanto a BRADSHAW, S.; HOWARD, P. Troops, trolls and trou-
blemakers: A global inventory of organized social
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e interfaces específicas criam dilemas quanto á load_file?file_format=pdf&safe_filename=Troops-Trolls-
forma de “descolapsar” (ROGERS, 2017) os dados. -and-Troublemakers.pdf&type_of_work=Report. Acesso
em: 12 ago. 2022.
Essa investigação poderia ser enriquecida de
CESARINO, L. Como vencer uma eleição sem sair
forma significativa pela triangulação com dados
de casa: a ascensão do populismo digital no Brasil.
de aplicativos de mensagens, como WhatsApp Internet & Sociedade, [S. I.], v. 1, n. 1, p. 91-120, 2020.
Disponível em: https://revista.internetlab.org.br/seri-
e Telegram, na medida em que os grupos são
fcomo-vencer-uma-eleicao-sem-sair-de-casa-serif-
espaços importantes de coordenação tática e -a-ascensao-do-populismo-digital-no-brasil/. Acesso
em: 12 ago. 2022.
distribuição de tarefas entre os ativistas. Por
fim, o artigo propõe um caminho promissor para CHAGAS, V. WhatsApp and Digital Astroturfing: A Social
Network Analysis of Brazilian Political Discussion Groups
outras pesquisas que podem aprofundar o en- of Bolsonaro’s Supporters. International Journal of
tendimento do campo sobre o ecossistema das Communication, [S. I.], v. 16, p. 25, 2022. Disponível em:
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-russomano.shtml. Acesso em: 11 nov. 2020. Os textos deste artigo foram revisados pela Poá
Comunicação e submetidos para validação do autor
STARBIRD, K.; ARIF, A.; WILSON, T. Disinformation as antes da publicação.
collaborative work: Surfacing the participatory nature
of strategic information operations. Proceedings of
the ACM on Human-Computer Interaction, [S. I.], v.
3, p. 1-26, 2019. Disponível em: https://dl.acm.org/
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