Você está na página 1de 9

.

revista
[Artigo) Ilnes
A comunicação mercadológica
na Copa do Mundo:
os anunciantesentram em campo

Gino Giacomini Filho


Professor e Coordenador de Comunicação Social do IMES

A Copa do Mundo é o maior evento futebolísti- World's CUp is the biggest football event, that
co, reunindo bilhões de pessoas para acompa- joins billions of persons to watch nationals teams.
nhar as seleções nacionais. Bilhões de dólares Another billions of dollars are invested to pro-
são investidos a fim de promover marcas. Este
mote brands. This article goals to analyses how
brands and advertiser are focused in that event
artigo pretende analisar como marcas e anun-
through a histori~al comparison between world's
ciantes são retratados neste evento por meio cup of 1982, 1986 and 2002.
de uma comparação histórica entre as Copas
de 1982, 1986 e 2002. Key words: marketing communication;
advertising of opportunity; marketing sporting.
Palavras-chave: comunicação mercadológica;
propaganda de oportunidade; marketing espor-
tivo.

(janeiro/junho 2002} 11
(ilomunicação iA r t i gol

A MíDIA E A As peças de comunicação por meio de análise comparati-


COPA DO MUNDO surgem em diferentes veículos va, estabelecer relações entre
A Copa do Mundo, para paí- (TV,rádio, revista, jornal, inter- marcas e anunciantes veicula-
ses como o Brasil, é um evento net etc.) e em vários instrumen- dos em comerciais de TV nes-
que mistura comoção, expecta- tos promocionais (Displays, sas Copas.
tiva, fanatismo, desportividade, Marketing Direto, Promoção de
entretenimento e consumo. Vendas, Marketing de Incenti- MARCAS NAS COPAS
Consumo das transmissões dos vo, Propaganda etc.), passando O patrocínio ao esporte exis-
jogos, dos programas esporti- mensagens com teores igual- te há tempos. A marca Bouril
vos, das marcas e produtos mente diferenciados e que po- patrocinou o Nottingham Fo-
anunciados, compondo um ce- dem ser classificados como rest Football Club em 1898. A
nário ativo e participativo, em ações de marketing de oportu- Gillette patrocinou o baseball
que ninguém fica indiferente, nidadejá que se beneficiamdo em 1910 e a Coca-Cola as olim-
calculando-se uma audiência evento Copa. píadas de 1928 (Aaker, 2001,
acumulada para a Copa de No caso específico dos p.215).
2002 em torno de 2,5 bilhões Anúncios de Oportunidade, Já a relevância das Copas
de espectadores. questiona-se se apenas retra- está relacionada com os valo-
A Copa é também uma opor- tam uma ação isolada em de- res da sociedade moderna, que
tunidade para o anunciante es- terminada Copa ou se há ação tem dado importância para a
tabelecer a continuidade de prolongada, caracterizando qualidade de vida, esportes,
uma comunicação global, algo uma estratégia de comunicação entretenimento, dentre outros.
estratégico para marcas como mercadológica identificada Trata-se de um evento global,
Coca-Cola e Gillette (McCarthy como prática de longo prazo. que atinge diferentes segmen-
e Perreault, 1997, p. 267). Pergunta-se, também, se as tos de mercado, atraindo mar-
Esse conjunto de emoções marcas ou anunciantes, ao apro- cas e anunciantes de várias fai-
forma um ambiente singular veitar-sedo eventoCopa,desen- xas etárias, classes sociais, gê-
para a comunicação mercado- volveram diferentes instrumen- neros, profissões etc.
lógica, muitas vezes vinculan- tos de marketing a ponto de es- Atualmente, a Sociedade da
do marcas à emoção da Copa e sas marcas/anunciantes perma- Informação adiciona atributos
da performance da Seleção de necerem atuantes no mercado, de tecnologia, conveniência e
Futebol. diferenciando-se do princípio exigências no consumo, for-
Em pesquisa realizada no oportunista de "Atacar e Retirar" mando uma nova moldura so-
Brasil-, o futebol surgiu como (Kotler, 1996, p. 92). cial nas edições recentes das
primeira opção de resposta O objetivo desse artigo é Copas. Segundo estudo da Fun-
dentre outros 17 esportes analisar a comunicação merca- dação Getúlio Vargas, entre
quanto às características de dológica relacionada às Copas 1995 e 2001, o PIBreal do es-
"merecer apoio de empresas", do Mundo de Futebol por meio porte teve uma expansão de
"ser excitante", "dinâmico", de uma abordagem comparati- 6,35% ante um crescimento
"mostrar habilidade", "ser com- va histórica, através de pesqui- médio do PIBnacional de 2,28%.
petitivo" e "propiciar prestígio" sa bibliográfica e documental. Em 2001, o esporte obteve uma
(Contursi, 2000, p. 26), atribu- O parâmetro de comparação é participação de 1,7% (US$ 8 bi-
tos que somados a outros (po- o evento de 2002. Dessa for- lhões), parecida à que obteve
pularidade, número de adeptos ma, para oferecer um período todo o negócio da propaganda
etc.) justificam os esforços de de tempo significativo (16 a 20 (Conceição, 2002).
muitas marcas para associar-se anos), examinaram-se as copas Verifica-se que há uma iden-
a esta modalidade esportiva. de 1982 e 1986. Pretende-se, tidade das marcas anunciadas

li {j a n e i r o / j u n h o 2 O O 2}.
.revista
iArtigol Imes
com um cenário social, em que ram adquirir as cotas dessas investimentos na Copa de 1998
desfrutam do contexto propor- emissoras e por isso teriam in- foram de US$ 500 milhões, con-
cionado, neste caso, pelos vín- teresse em patrocinar a trans- centrados em TV, ocorrendo o
culos emocionais que o futebol missão pela Record (Damante, maior com o Itaú e a Rede Glo-
e, particularmente, a Copa do 1994). bo: US$ 40 milhões, ficando as
Mundo oferece. A Copa é um Alguns indicadores são bem demais cotas em US$ 36 mi-
fenômeno sócio-cultural, assim favoráveis ao evento. Em 1986, lhões: Kaiser, Guaraná Brahma,
como são as marcas, produtos a promoção "Copa dá Prêmios", Grendene e Volkswagen (Sam-
e serviços (Ferrés, 1998; Can- da Antarctica, através da Rede paio, 1998).
clini, 1997). Aproveitando esta Bandeirantes, gerou resposta Os direitos da Copa 2002 e
sinergia, os anunciantes promo- em todo o Brasil traduzida em 2006 foram comprados por
vem o posicionamento de mar- mais de 50 milhões de cartas, US$ 1,2 bilhões pelo grupo ale-
cas afins. a ponto de os correios solicita- mão Kirch Media (Copa, 2001).
A Seleção Brasileira possui rem que a emissora retirasse A Copa chega a representar
contrato com a Ambev (Guara- as cartas por meio de cami- 50% a mais no faturamento de
ná Antarctica) estimado em US$ nhões próprios (Seleção,1986). empresas de confecções, caso
180 milhões pelo patrocínio de Para a Copa de 1998 foram da Indústria Conti, de Suzano
10 anos, a partir de 2001. Essa vendidos 6 milhões de apare- (São Paulo). A empresa normal-
iniciativa da Ambev se deve à lhos de TV no Brasil, com es- mente confecciona uniformes
estratégia mercadológica de timativa igual para 2002 (Hes- para times de futebol do interior
expandir a comercialização do sei, 2002). brasileiro e para equipes de vár-
Guaraná Antarctica para o pIa- Os índices de audiência da zea (Teles, 2002, p. 1). Estraté-
no internacional, visto ainda ser TV na Copa de 1998 foram al- gia interessante foi articulada
uma marca nacional, algo a ser tos: 72% só no primeiro jogo pela empresa Armarinhos Fer-
trabalhado no âmbito externo entre Brasil e Escócia(Sampaio, nando, que decidiu comerci-
para competir com outros fabri- 1998). Naquele ano, conside- alizar bandeiras de plástico e
cantes, caso da Coca-Cola. As- rando-se o Brasil, a audiência artigos para torcedores enca-
sim, portanto, a Seleção Brasi- média elevou-se para a Globo lhados da Copa da França
leira, por ser um dos ícones e Bandeirantes, mas diminuiu (1998):
positivos brasileiros em deze- para o SBTe Record em relação "Naquela ocasião, tudo o que
nas de países, atuaria como vi- à audiência média da programa- era relacionado à Copa desapa-
trine para exportação da mar- ção normal. A Globo se desta- recia das prateleiras em ques-
.ca e como forma de posiciona- cou na preferência do telespec- tão de horas, segundo o geren-
mento de marketing. tador (82%)em função do locu- te da loja, Mareio Eduardo Ga-
A Copa de 1994, por exem- tor (35%), da qualidade da ima- vranic. O resultado todos sa-
plo, motivou tanto os anuncian- gem (29%) e dos comentaristas bem: na final do Mundial, o Bra-
tes, que a Record foi sondada (12%) (Sampaio, 1998). sil perdeu de 3 a O da França,
para oferecer cotas de patrocí- Em 1998, 12 marcas paga- na maior derrota brasileira em
nio, mesmo sem ter adquirido ram US$ 30 milhões para apa- uma Copa. Nos Armarinhos Fer-
os direitos de transmissão. A recer em placas nos jogos e nando, a frustração foi grande
emissora se propôs a pagar US$ usar o logotipo oficial do even- e houve prejuízo: as milhares
7,8 milhões, em acordo direto to: Adidas, Budweiser, Canon, de bandeiras de plástico termi-
com a Globo, Bandeirantes e Coca-Cola, FUjifilm, Gillette, naram encalhadas. E agora, de-
SBTpara transmitir osjogos ale- JVC, McDonald's, MasterCard, pois de quatro anos estocadas,
gando haver, pelo menos, três Opel, Philips e Snickers. ao menos cinco mil bandeiras do
anunciantes que não consegui- No Brasil, calcula-se que os Brasil voltaram às prateleiras da

(j a n e i r o / j u n h o 2 OO2 }
[i)omunicação {Artigo)

loja. Cada uma vendida a R$ com a Seleção e, mesmo com o e chamadas, com 7 das cotas
0,80" (reles, 2002,4). término da partida, continua: negociadas com a AGFSeguros,
Segundo Ademir Bonfá, da nas ruas, na mídia, nas casas. Baterias Heliar, Café Pilão, Casa
área de promoção e merchan- O comunicador esforça-se para & Construção, JVC, Laboratóri-
d!sing da Companhia União dos informar, mas sempre adicio- os Luper e Sherwin Willians a
Refinadores: "O mercado Copa nando os valores emocionais, um preço de cerca de US$ 200
está virando um atrativo tão mantendo o vínculo com o re- mil cada (Charoux, 2002, p. 27).
grande que, daqui a pouco, o ceptor. A fim de capitalizar a atra-
consumidor sozinho não con- Tal sinergia beneficia o ção que a Copa oferece, os ve-
seguirá ir à Copa. Os pacotes anunciante, que assiste a sua ículos tentam efetuar a "venda
estarão todos loteados entre as marca interagir com os laços casada" de eventos, oferecen-
empresas de promoção e as emocionais protagonizados, do pacotes que incluem a Copa
agências de turismo" (Eskinazi, porém, sempre na expectati- e outros eventos esportivos,
1998, p. 22). Esta referência va de vivenciar uma seqüên- equacionando melhor a deman-
também é válida para ações cia vencedora. da. Um exemplo foi a cota de
promocionais, caso do Marke- Fenômeno que não ocorre patrocínio para 1994, comerci-
ting de Incentivo, que pode ser apenas nos períodos de Copas alizada pela Globo, cujos anun-
ilustrado com empresas como a é a repetição contínua de anún- ciantes (Kaiser, Coca-Cola, Itaú,
União,Coca-Colae a AIpagartas , cios, abusando do direito à re- General Motors e Grendene)
que premiaram funcionários, le- dundância e causando efeitos pagaram, cada, cerca de US$ 2
vando-os à Copa de 1998. duvidosos em termos de eficá- milhões para ter direito sobre
cia. José Roberto Whitaker Pen- a Copa de 1994, Campeonato
A COMUNICAÇÃO DOS teado descreveu essa inquieta- Paulista e Campeonato Nacio-
ANUNCIANTES NA COPA ção: "A realidade das Copas do nal (Sant'Anna, 1993).
Estimou-se que a verba de Mundo, contudo, é que os te- Para transmitir a Copa 2002,
comunicação destinada às lespectadores brasileiros são a Globo pagou cerca de US$120
ações da Copa movimentaria submetidos a doses maciças, milhões pelos direitos e estaria
R$ 600 milhões na economia cavalares, de GRP's dos mes- vendendo as cotas por US$ 14
(Araújo, 2002, p. 23). Estes e mos comerciais, vistos e revis- milhões cada (Costa, 2002). Tor-
os demais números grandiosos tos, diariamente, dezenas (tal- naram-se cotistas da emissora:
decorrem do interesse direto vez centenas) de vezes... A par- Coca-Cola, Volkswagen, Biotô-
do brasileiro com o evento, fa- tir de quantos comerciais o con- nico Fontoura, Itaú, Brahma e
zendo com que a Seleção Bra- sumidor começa a ficar irritado Casas Bahia.
sileira tenha seu desempenho como produto e resolve não Mas há o outro lado da moe-
analisado por todos, em dife- comprar nunca mais?" (Pentea- da. E ele se revela quando a
rentes situações, alimentando do, 1986). Seleção Brasileira decepciona e
esperanças, causando frustra- Para se ter uma idéia do vo- sai da Copa. O reflexo na co-
ções, reforçando críticas, enfim, lume de inserções de anuncian- mercialização pode ser primei-
proporcionando uma infinidade tes, cita-se o caso do planeja- ramente revelado pela diminui-
de emoções que ultrapassam o mento da rede Transamérica de ção abrupta dos preços das ca-
lado técnico do que seria um rádio, que disponibilizou para misas e artigos da Seleção, em
campeonato ou uma partida de a Copa de 2002 oito cotas Más- que todos correm contra o tem-
futebol. ter, que dariam direito a uma po para evitar o encalhe de es-
A vibração do torcedor co- carga de 1.800 comerciais de toque, como ilustrou este rela-
meça com a própria perspecti- 30 segundos e menções de pa- to sobre a Copa de 1982:
va dos jogos, entra em campo trocínio durante transmissões "Como fizeram todos os cer-

11 (j a n e i r o / j u n h o 2 O O 2)"
.revista
.[Artigol Imes
ca de 80 barraqueiros do Par- seus patrocinadores". ( Meio deram a Nike patrocinadora ofi-
que D.Pedro, Zé Canário tam- Neto, 2000, p 34). cial da Copa, em que a Adidas é
bém havia providenciado um Outra manifestação da co- a parceira oficial, enquanto 75%
grande estoque de camisetas municação mercadológica na não sabem quem são os parcei-
verde-amarelas com emblema Copa ocorre com o Marketing ros da Copa (Bueno, 2002).
da CBFna altura do peito - iguai- de Guerrilha (Levinson e Rubin, Porém, o conceito de "guer-
zinhas às vestidas em campo 1997), em que empresas e mar- rilha" em marketing defendido
pelos jogadores da Seleção. cas lançam mão de todo tipo por Ries e Trout é bem diverso,
Agora, os ambulantes são unâ- de estratégias, táticas e muni- denominando ações específicas
nimes: houve otimismo em ex- ção de marketing para fazer de marcas inferiores sobre as
cesso. 'Acho que me entusias- frente a uma concorrência for- superiores ou a líder de merca-
mei demais', considera um de- te e agressiva. No caso das Co- do: "Em negócios também, a
les, MaurícioAndrade, ao apon- pas, marcas não cotistas apro- guerrilha tem um reservatório
tar para dezenas de caixas veitam-se do evento e vinculam- de vantagens táticas que per-
amontoadas no fundo da bar- se por meio de frases, ilustra- mite à pequena empresa acom-
raca... Francisco dos Santos, a ções e expressões alusórias. panhar e florescer na terra dos
quem, dois dias depois, uma Referindo-se à Nikee Pepsi, que gigantes" (Ries e Trout, 1986,
indignada freguesa recusaria a não pagaram as cotas de cerca p. 84). Ações sugeridas pelos
oferta de levar por Cr$ 600 a de 15 milhões de dólares em autores: 1. Encontre um seg-
camiseta antes vendida a Cr$ 2002, uma porta-voz da Fifa mento de mercado bastante
1 mil: 'Só se for para queimar', declarou: "Ações parasitas de pequeno para defender; 2. Não
rebateu ela."(Barros, 1982, p. diretos concorrentes de nossos importando quanto sucesso
13). oficiais parceiros são estrategi- você alcance, nunca aja como
São viagens canceladas, dis- camente planejadas por ex- um líder; 3. Esteja preparado
cos encalhados, audiência dimi- perts em marketing, em marke- para cair fora, logo ao primeiro
nuída, desinteresse pelos fogos ting de guerrilha. Mas alguém aviso (Ries e Trout, p. 84-90).
de artifício etc. Na mesma Copa que somente tira dos outros Portanto, é discutível que as
de 1982, a Gillette havia criado sem dar nada de volta vai con- ações promocionais em Copas
a figura eufórica do Pacheco, tra os princípios fundamentais têm sido marketing de guerri-
uma caricatura de torcedor bra- de qualquer sociedade" (Bueno, lha, pois retratam muitas vezes
sileiro fanático e otimista, que 2002). Seria o próprio caso da ações de grandes marcas e
protagonizava os comerciais. Antárctica no Brasil, que apare- empresas.
Com a derrota, a opinião públi- ce como agente do marketing
ca passou a repetir o slogan "O de guerrilha frente à Coca-Cola PESQUISA: OS ANUNCIAN-
Pacheco é gilete", trazendo pro- (cotista oficial). Alguns anunci- TES EMTV NAS COPASDE
blemas para a imagem da em- antes têm feito campanhas que 1982, 1986 E 2002
presa no Brasil. induzem o mercado a pensar Para colher indicadores mais
O desafio do anunciante é que têm relação com a Copa, precisos de análise da comuni-
associar, naturalmente, sua mas a Fifa não possui meios cação mercadológica, foram
marca com a Copa, estabele- para coibir essa prática, já que selecionados comerciais de TV
cendo um proveito sinérgico a ligação de uma mensagem com a temática Copa do Mun-
com o poder simbólico do even- publicitária com a Copa não tem do até uma cota máxima de 40.
to: "Émais do que sabido que a parâmetros de uso de direitos. Os comerciais tiveram como
emoção e a beleza do esporte Pesquisa feita na Coréia eJapão, praça de veiculação a cidade de
agregam valor comercial e, so- sedes da Copa 2002, apurou São Paulo, considerando-se so-
bretudo, estético às marcas dos que 20% dos torcedores consi- mente as emissoras de TV de

(j a ne iro/ j u nho 2 OO2 } li


(i1omunicação (A r t i g 01

sinal aberto, compreendendo QUADRO 1 - Total de Marcas/Anunciantes nas três Copas


a semana anterior e a primeira Anunciante/Marca 82 86 02 Anunciante/Marca 82 86 02
semana das Copas de 1982, Cigarro Continental X Dietil X
1986 e 2002. A contabilização, Hollywood X X Vitassay X
Minister X Cerveja Brahma X X
portanto, iniciou-se na semana River 90 X Kaiser X X
anterior à Copa até atingir a Bradesco X X Cinzano X
cota de 40 comerciais com Unibanco X 51 X
marcas/anunciantes diferentes, PoupançaContinental X Sanyo X
Losango X Philips X X
cota esta só atingida pelo even- Buri X Orelhinha X
to de 2002. Garbo X X
Maggi
Não se distinguiram os anun- Fábricade Móveis Brasil X Arisco X
ciantes oficiais (cotistas) dos Mappin X Bliss X
Sonrisal X Nescau X
não oficiais (não cotistas). Fo- Adidas X X Pullman X
ram descartados anúncios de Topper X X X X X
Fuji Film
Turismo, anunciantes que ape- CervejaAntarctica X X X Blackand Decker X
nas exibiam roupas com estam- Caracu X Pierre Cardin X
Coca-Cola X X X Deso.Verde-Amarelo X
pas em verde e amarelo, além X
Cynar Votorantim X
das inserções dos próprios veí- Undemberg X Itaú X
culos em sua programação. O Old Eiqht X Real X
monitoramento foi observacio- Mitsubish X X Extra X
Philco X Marabrás X
nal: tratou-se, portanto, de uma Motorádio X X Kolumbus X
amostragem qualitativa não Cafédo Ponto X Barateiro X
probabilística. Logan X Carrefour X
Hotéis Othon X Superist X
Optou-se por colocar os
Gol X Benegripe X
anunciantes das Copas de 1982 Kodak X Nike X
e 1986 por representarem um Wella X GuararáAntárctica X
lapso de tempo significativo Staroup X Skol X
Havaianas X Dollv X
para uma comparação com
Bombril X Pepsi X
2002, já que o objetivo dessa Embratel X X X
Semp Toshiba
pesquisa é estabelecer relações Gillete X X X Sonv X
entre marcas e anunciantes vei- Petrobrás X PizzaPerdiqão X
culados em comerciais dentro Volkswaqen X Torcida X
CarneI X Inteliq X
de uma análise comparativa his- Mistura Fina X Pólo X
tórica limitada. Caixa EconômicaFed. X Duracell X
Banco do Brasil X Oral B X
RESULTADOS Baneri X Skv X
Casas Bahia X X RevistaShowde Gols X
E CONCLUSÕES
Loias Cem X Unibanco/Uniband X
A pesquisa apurou quatro G. Aronson X Telesena X
marcas/anunciantes em TV fre- Chic X Mastercard X
Doril X Assolan X
qüentes nas três Copas:
Gelol X Center Castilho X
Cerveja Antárctica, Coca- Total de marcas na Copa de 1982: 37
Cola, Topper e Gillette, totali- Total de marcas na Copa de 1986: 38
Total de marcas na Copa de 2002: 40
zando 4,2% do total. Com apa- Total de marcas diferentes em todas as Copas: 96
rição em duas Copas surgem 10 Anunciantes presentes nas três Copas: 4 ou 4,2%
Anunciantes presentes em duas edições da Copa: 10 ou 10,5%
marcas ou 10,5% (Quadro 1). Categorias representadas em todas as Copas: Cigarro (exceto em 2002), Bebidas,
A Coca-Cola tem sido um Instituição Financeira, Eletro-eletrônico, Varejo, Alimento, Remédio, Material Esportivo,
Institucionais (exceto em 2002) e Outras.

(j a n e i r o / j u n h o 2 O O 2).
.revista
(Artig01 IlneS
dos anunciantes constantes. Se- Dos quatro anunciantes, ape- pouco significativa dessas mar-
gundo Rodolfo Jimenez, então nas a cerveja Antárctica não é cas: 1982/2002(13,5 %) e
diretor de marcas Cola: "ACoca- uma marca "global", sinalizando 1986/2002 (15,8 %). Fazendo-
Cola tem tradição em futebol, que a permanência constante na se a leitura inversa, das marcas/
patrocinando e apoiando os TVpara tematizar a Copa neces- anunciantes que veicularam
mais importantes campeonatos sita de bons investimentos e de comerciais em 1982, cerca de
do esporte em todo o mundo uma percepção de que a Copa 86% continuaram por mais 20
desde 1928. Mas foi só em também tem sinergias globais, anos no mercado e, dos que
1978 que a empresa começou tal como se o futebol fosse uma veicularam em 1986, cerca de
a patrocinar a Copa do Mundo" linguagem universal. 84% permaneceram no merca-
(Alonso, 1998). Quanto às marcas/anuncian- do após 16 anos.
Outro anunciante constante tes, chama a atenção a ausên- Essa situação pode ser expli-
tem sido a Gillette, que no ano cia total da categoria "Cigarros" cada, em parte, por se tratar,
de 2002 investiu R$ 5,4 mi- em 2002, motivada pela proi- muitas vezes, de grandes mar-
lhões em campanha promocio- bição da propaganda de taba- cas/anunciantes, a ponto de ter
nal, visando ao sorteio de 11 co em TVa partir de 2001 (Qua- verba para utilizar a mídia TV.
carros Hyundai, duas viagens dro 1). Também não foram apu- Detendo mais poder de merca-
com acompanhante para as fi- rados comerciais institucionais, do, tais marcas teriam possibi-
nais e sete pessoas para comen- sinalizando as empresas uma lidade de sobrevida maior que
tar os jogos em uma emissora preocupação e "ir direto ao as- pequenas marcas/anunciantes.
de TV (Araújo, 2002, p. 26). sunto", ou seja, promover o pro- Por se tratar de um "jogo de
A cerveja Antárctica repre- duto ou serviço. gigantes", em sua maioria, os
senta o segmento de bebidas Portanto, pode-se concluir anunciantes em TV não se sub-
e, particularmente, de cerveja, que as marcas anunciadas e metem tanto ao perfil de ciclo
que é para o brasileiro a bebi- tematizadas com a Copa em TV de vida de pequenas empresas
da típica para acompanhar e não são fiéis a ela, preferindo ou marcas secundárias.
comemorar o futebol, pois am- adotar aparição limitada a uma Segundo Carlos Alberto Rico,
bos (futebol e cerveja) são va- edição do evento, o que carac- do Sebrae/RS, cerca de 90%dos
lores compartilhados em even- teriza, em termos de planeja- pequenos negócios no mundo
tos ou encontros coletivos. mento de propaganda, ação li- fecham as portas antes do pri-
A marca Topper também re- mitada por evento. meiro ano de vida; dos 10%res-
presenta um segmento: o de De outro lado, percebeu-se tantes, apenas 20%completam
material esportivo, até porque que as marcas/anunciantes em seu quinto ano (Centeno, 1994;
a Copa é um evento esporti- Copa permanecem muito tem- Vassalo, 1994). No Brasil, num
vo e possibilita o patrocínio de po no mercado (Quadro 2), pois período de cinco anos, a taxa
equipes, algo que agrega cre- foram tidas como não atuantes de mortalidade das micro-
dibilidade à marca. no mercado uma quantidade empresas foi de 63%, algo que

QUADRO 2 - Marcas/Anunciantes atuantes no Mercado


Ocorrências. Marcas/ Anu nciantes Total -%
Presentes na Copa de 82 e não atuantes Poupança Continental Buri Mappin Motorádio
no mercado de S.Paulo em 2002 River 90 5 ou 13,5%

Presentes na Copa de 86 e não atuantes Mistura Fina G. Aronson Dietil Orelhinha


no mercado de S.Paulo em 2002 Motorádio Verde-Amarelo 6 ou 15,8%

~aneiro/j unho
j' 2 OO2) 11
(iiomunicação
vem aumentando face à compe- tunidade (AO), na medida em tes criam temas de campanha
titividade, atingindo muito mais que aproveita a oportunidade de específicos para a Copa, en-
as pequenas empresas do que um evento sazonal (4 em 4 anos) quanto outros mudam cores
as médias e grandes. e precisa contar com um plane- de produtos e até sua logísti-
Os anunciantes de Copa pa- jamento publicitário específico, ca de estoque. De qualquer
recem contrariar tal cenário. tendo em vista esta ocasião. A forma, pelos números apre-
Talvez porque não dependam Propaganda de Oportunidade sentados, verificou-se como a
das vitórias da Seleção, pois expressa uma estratégia fre- Copa oferece oportunidade de
contam com uma estrutura de qüente dos anunciantes, que negócios, havendo muitos
marketing maior e mais diver- aproveitam datas comemorati- anunciantes que formatam
sificada, em que o embate de vas, eventos sociais, modismos suas posturas de marketing
uma marca tematizada com a culturais para associar marcas para "acompanhar a onda", al-
Copa é amortizado por ações ao evento, como comentado guns até de forma mecânica.
prolongadas: imagem da em- anteriormente. A Propaganda de Oportuni-
presa e marca, etapas posteri- Não há consenso sobre o dade, embora diferenciada,
ores de propaganda, mix com conceito de AO (Contursi, deve expressar uma certa con-
produtos e serviços comple- 2000, p. 163) nem um forma- tinuidade de comunicação ex-
mentares etc. to específico, pois até peque- perimentada pelo anunciante,
Dessa forma, a aparição na nas empresas podem usar a quando este já se encontra no
Copa retrataria apenas mais Copa para vincular suas mar- mercado. De outro lado, tal
uma etapa no ciclo de vida da cas ao evento (em jornais de ação promocional deve ser
marca, ou então uma etapa bairro, folhetos etc). continuada em termos merca-
promocional das muitas que Mas a modalidade de AO dológicos, se não para cole-
ocorreram ou serão empreen- detectada nas marcas/anunci- tar dividendos da performan-
didas. antes reflete uma postura de ce da Seleção Brasileira, ao
Segundo Sampaio, nem sem- descontinuidade (somente 4 menos para desvinculá-Ia da
pre os anunciantes usam a pro- estiveram nas Copas indicadas) marca/produto em caso de
paganda de uma forma racio- e sustentabilidade estratégica fracasso ou de incompatibili-
nal: "Háos que usam propagan- (a maioria continua no merca- dade com algum descontenta-
da 'porque sempre usam', os do, mas não necessariamente mento: ser campeão, mas ser
que a utilizam 'porque dá cer- anunciando). um campeão com fraquezas.
to', os que a empregam para De qualquer forma, o AO Talvez, esse seja o motivo de
cumprir determinado objetivo e pressupõe o proveito de uma poucos anunciantes jogarem
os que a colocam a serviço do oportunidade de mercado, que todas as fichas no evento con-
conjunto de sua estratégia em- tem data e duração específicas. tinuamente, utilizando uma
presarial" (1995, p. 32). Para o Ao decidir aproveitar tal mídia de grande impacto e vi-
autor, este último formato re- oportunidade, cabe ao anunci- sibilidade como a TV, já que
presenta o estágio mais avan- ante determinar a forma como nem todas as Copas foram e
çado para anunciar, pois o a marca estará sendo posicio- serão vencidas pelo Brasil.
anúncio seria parte das ações nada por meio da propagan- Esse risco é típico da propa-
empresariais e não apenas uma da (Stevens, 2001, p. 147), ganda de oportunidade, que
decisão oportunista. algo que determinará o forma- deve ser melhor estudada e
Caracteriza-se a propaganda to, linguagem e veiculação da ser encarada de forma mais
utilizada com o tema Copa do peça publicitária. sistemática. O
Mundo como Anúncio de Opor- Muitas vezes, os anuncian-

li Úaneiro/junho 2002}
.revista
[Artigol Imes
- - BIBLIOGRAFIA
AAKER,David. Como construir COPAgera US$ 1 bilhão em PENTEADOFilho,José R. W. La
marcas líderes. São Paulo: Futura, negócios. jornal da Tarde. São última Copa. Coluna Ponderações/
2001. Paulo. 19 out. 2001. j.R.W.P.F. Revista Propaganda. São
ALONSO,Úrsula. Coca-Cola na COSTA,Flávio. Negócios Paulo: Referência. n. 374, jul. 1986.
Copa do Mundo 98. Revista da relacionados ao Mundial de futebol p. 84-5.
ABMN.Rio de janeiro: Associação movimentam bilhões. América RIES,AIe TROUT,jack. Marketing
Brasileira de Marketing e Negócios. Economia. jan. 2002. de Guerra. São Paulo: McGrawHill,
jan.1998, p. 22-23. 1986.
DAMANTE,Nara. Copa do Mundo e
ARAÚJO,Anna Gabriela. Gols de eventos esportivos reforçam SAMPAIO,Rafael. A mídia e a Copa
marca. Revista Marketing. São faturamento das redes de TV. Meio e do Mundo. About. São Paulo: Art
Paulo: Referência. maio 2002. p. Mensagem. São Paulo: Meio e Verbo. 01 set. 1998. p. 5-7.
22-29. Mensagem. 17 jan. 1994. p. 12.
SAMPAIO,Rafael. Propaganda de A
BARROS,Fernando. A Seleção deu ESQUIZANI, jacques. Copa 98: gol de a Z. Rio de janeiro: Campus, 1995.
um prejuízo... jornal Shopping placa ou bola na trave? Revista do
News. São Paulo. 11 jul. 1982. Anunciante. São Paulo: ABA,mar. 98. SANT'ANNA,José Paulo. Rede Globo
p.13. vende todas as cotas do Projeto
FERRÉS, joan. Televisão Subliminar. Futebol 94. Meio e Mensagem. São
BUENO,Rodrigo. Fifa dispara Porto Alegre, 1998. Paulo: Meio e Mensagem. 04 out.
críticas contra marketing de 1993. p. 26.
"guerrilha". Folha de S.Paulo. 18 HESSEL,Rosana. Fábricas de TV
abr. 2002. p. D-2. ganham com a Copa. Gazeta SELEÇÃO.Shopping News. São
Mercantil. São Paulo. 06 mar. 2002, Paulo. 29 jun. 1986. p. 13.
CANCLlNI,Nestor G. p. C-2.
Consumidores e Cidadãos. Rio de STEVENS,Robert. Planejamento de
janeiro: UFRj,1997. KOTLER,Philip. Marketing. São Marketing. São Paulo: Makron,
Paulo: Atlas, 1996. 2001.
CENTENO,Ayrton. Maioria das
empresas fecha antes do 10 ano. O LEVINSON, jay Conrad e RUBIN, TELES,Carlos. Copa já começou nas
Estado de S.Paulo. 17 abro 1994. Charles. Marketing de guerrilha on confecções. Gazeta Mercantil . São
Economia. p. 10. line. São Paulo: Best Seller, 1997. Paulo. 07 mar. 2002. p. C-1.
CHAROUX,Mônica. Seleção McCARTHY, E. jerome e PERREAULT, TELES,Carlos. Loja vende encalhe
canarinho vai despertar milhões de William D. Marketing essencial: de 98. Gazeta Mercantil. São Paulo.
ouvintes. About. São Paulo: Art uma abordagem gerencial e 07 mar. 2002. p. C-4.
Verbo. 25 fev. 2002. p. 26-30. global. São Paulo: Atlas, 1997.
VASSALO,Cláudia. Rugas mais
CONCEiÇÃO,Cláudio R. G. Esporte MELONETO,Francisco Paulo de. cedo: o ciclo de vida está
ganha espaço na economia. Marketing Esportivo. Rio de janeiro: diminuindo. Revista Exame. 16 fev.
Gazeta Mercantil. São Paulo. 06 Record,2000. 1994. p. 86-88.
mar. 2002. p. A-6. OGDEN,james R. Comunicação
CONTURSI,Ernani Bevilaqua. integrada de marketing. São Paulo:
Prentice, 2002.
Marketing Esportivo. 2. ed. Rio de
Janeiro: Sprint, 2000.

{j a n e i r o / j u n h o 2 OO2 f li

Você também pode gostar