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Aumentar a oferta para habitação

Em primeiro, aumentar a oferta de imóveis para habitação, das quais destacou


que, sem alteração de plano de ordenamento do território ou licença de
utilização, terrenos classificados ou imóveis licenciados para comércio ou
serviços podem usados para a construção de, ou reconvertidos para habitação.

Ainda para aumentar a oferta de imóveis para habitação, o Estado disponibilizará


terrenos ou edifícios para cooperativas ou o setor privados fazerem habitações a
custos acessíveis, referindo «dois concursos dedicados à construção modelar que
encurta significativamente os prazos de construção e aumenta a eficiência
energética».

Simplificar o licenciamento

Em segundo, simplificar os processos de licenciamento, das quais sublinhou dois


tipos de medidas. 

Uma, «muito inovadora, é que os projetos de arquitetura e de especialidades


deixam de estar sujeitos a licenciamento municipal passando a haver um termo
de responsabilidade dos projetistas, ficando o licenciamento municipal limitados
às exigências urbanísticas». 

Pela outra, «fixamos que haja efetiva penalização financeira das entidades
públicas quando não respeitem os prazos previstos na lei para a emissão de
pareceres ou tomada de decisão, passando a correr juros de mora a benefício do
promotor», o Estado deduzindo, «no Orçamento do ano seguinte ao causador da
demora» à entidade que se atrasou.

Maior mercado de arrendamento

Em terceiro, mais casas no mercado de arrendamento, tendo destacado a


necessidade de reforçar a confiança dos senhorios para que coloquem no
mercado casas devolutas através de duas medidas a primeira das quais é que o
Estado propõe-se arrendar todas as casas disponíveis durante cinco anos desde
que possa subarrendar. 

Outra medida, é «introduzir uma alteração, relativamente a contratos que já


existem ou que sejam estabelecidos entre senhorios e inquilinos, para que, em
todos os pedidos de despejo que deem entrada no Balcão Nacional de
Arrendamento após três meses de incumprimento, o Estado passe a substituir-se
ao inquilino no pagamento e ao senhorio na cobrança da dívida, verificando se
há uma causa socialmente atendível e resolvendo-a, ou despejando-o». 

Para aumentar a oferta pública de habitações para arrendamento acessível,


estabelece-se «um princípio de isenção de imposto de mais valias a quem venda
ao Estado, incluindo municípios, qualquer tipo de habitação», incentivando quem
tem casas que não pretende usar a vender, para que se possa aumentar o
número de habitação a colocar em arrendamento acessível. 

Ainda para alargar o mercado de arrendamento, cria-se «uma linha de crédito de


150 milhões de euros para financiar as obras coercivas por parte dos municípios,
que a lei permite mas os municípios raramente fazem por dificuldade financeira».

Cria-se um «forte incentivo para que regressem ao mercado de habitação


frações que estão dedicadas ao alojamento local» através de várias medidas. 

Assim, as atuais licenças serão reavaliadas em 2030, e, posteriormente, haverá


reavaliações periódicas; serão proibidas as emissões de novas licenças com
exceção do alojamento rural nos concelhos do interior onde não há pressão
urbanística e onde podem contribuir para a dinamização económica do território;
os proprietários que transfiram fogos do alojamento local para arrendamento
habitacional até final de 2024, terão uma taxa zero no IRS até 2030; será criada
uma contribuição extraordinária aos alojamentos locais para financiar políticas de
habitação.

Reforçam-se os incentivos fiscais para o arrendamento acessível, sem


pagamento de IMT na aquisição de casas para arrendamento acessível. Quem
realize obras de reabilitação nestas casas pagará IVA à taxa de 6%, e terá total
isenção de IRS sobre os rendimentos prediais.

Melhoram-se os incentivos fiscais para todo o arrendamento, baixando a taxa de


28% para 25%. 

Reforçam-se os incentivos à estabilidade nos contratos de arrendamento: se o


contrato for entre 5 e 10 anos a taxa de 23% passará para 15%; se for entre 10 e
20 anos, a taxa de 14% baixará para 10%; e se for mais de 20 anos, baixará de
10% para 5%.

Combater a especulação

Em quarto, combater a especulação imobiliária, foram destacadas duas medidas.


Uma, o fim da concessão de novos Vistos Gold, «sendo renovados os existentes,
se se tratar de investimentos imobiliários, apenas para habitação própria e
permanente ou se for colocado duradouramente no mercado de arrendamento». 

Outra, para regular as rendas no mercado, o Estado passará a limitar a


crescimento das rendas em novos contratos, devendo estas «resultar da soma da
renda praticada com as atualizações anuais e do valor da subida da inflação
fixada pelo Banco Central Europeu». 

Apoiar as famílias

Em quinto, medidas para apoiar as famílias quer no contrato de arrendamento,


quer no crédito à habitação.
Para ajudar a reduzir o endividamento das famílias «permite-se a isenção do
imposto de mais-valias da venda de uma casa para amortização do crédito à
habitação do próprio ou de um seu descendente».

Determina-se que todas as instituições financeiras que praticam crédito


imobiliário têm de oferecer crédito a taxa fixa.

Cria-se um apoio para créditos até 200 mil euros de famílias tributadas até ao 6.º
escalão do IRS, o Estado bonificando o juro em 50% do valor acima do valor
máximo a que foi sujeita a família no teste de stress que fez quando contratou o
crédito.

No valor dos contratos de arrendamento já em vigor, atribui-se aos agregados


familiares que tenham rendimentos até ao 6.º escalão de IRS inclusive e uma
taxa de esforço superior a 35% e uma renda de casa no limites fixados pelo
IHRU para o respetivo concelho, um subsídio do Estado até ao limite máximo de
200 euros mensais para as rendas.

Nova geração de políticas de habitação

António Costa lembrou que «em 2016 definimos como prioridade o lançamento
de uma nova geração de políticas de habitação. Começámos pelas fundações –
pela elaboração de uma estratégia nacional e a aprovação de uma lei de bases –
e construímos uma política como o País não tinha desde o início do século».

A estratégia nacional «já deu lugar a 230 estratégias locais de habitação de


municípios». As medidas do programa Porta 65, de arrendamento jovem, apoiam
16 500 famílias e com as novas regras, permitirá alargar este número.

No âmbito do PRR, «definimos 2700 milhões de euros para aumentar a oferta


pública de habitação. 1200 fogos estão concluídos, 11 900 estão em fase de
projeto ou de obra e temos o calendário para 26 mil novas casas de oferta
pública de habitação», disse.

O Visto Gold – conhecido oficialmente por Autorização de Residência para


Atividade de Investimento (ARI) – é uma autorização para entrada e residência
em Portugal atribuída a cidadãos estrangeiros, não naturais da União Europeia
ou residentes fora do Espaço Schengen, a troco de um investimento financeiro
avultado.
Ativo desde 2012, as estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)
informam que até fevereiro de 2023  beneficiaram do programa  11 758
pessoas, a quem foi garantida a possibilidade de:
 entrar em Portugal com dispensa de visto de residência;
 residir e trabalhar em Portugal, desde que permanecendo em território nacional
um período mínimo não inferir a 7 dias no primeiro ano e não inferior a 14 dias
nos anos subsequentes;
 circular pelo espaço Schengen, sem necessidade de visto;
 beneficiar de reagrupamento familiar;
 solicitar a concessão de Autorização de Residência Permanente;
 possibilidade de adquirir a nacionalidade portuguesa, por naturalização.

RISCOS DOS VISTOS GOLD


Em Portugal, entre outubro de 2012 e fevereiro de 2022, foram atribuídos pelo
menos 431 vistos golds a cidadãos russos e apenas 12 pedidos foram recusados.
Destes, 21 gozam de residência permanente e não sabemos quantos terão já
obtido a cidadania portuguesa.
A Rússia ocupa quase sempre um lugar no top 5 dos países a cujos cidadãos são
atribuídos vistos gold. Quanto dinheiro sujo de oligarcas russos já terá sido
branqueado em Portugal?

Nesse sentido, foi bem-vinda a decisão de suspender a atribuição de vistos gold a


cidadãos russos, como parte das sanções aplicadas pela União Europeia à Rússia
pela invasão da Ucrânia.

Pressão no mercado da habitação


É uma das principais conclusões deste estudo que incide sobre o programa
criado em 2012 - quando Pedro Passos Coelho era primeiro-ministro - e que
critica a forma como este programa “dificultou” o acesso à habitação por parte
dos portugueses.

O relatório questiona “em que medida o regime das ARI retirou o acesso à
habitação a cidadãos nacionais, por ter havido uma diminuição do
número de imóveis disponíveis no mercado residencial para nacionais
e/ou por ter inflacionado o preço dos imóveis nas zonas de maior
pressão”, pode ler-se.

Os Vistos Gold não eram apenas destinados aos investidores em imobiliário,


mas em Portugal representou 90% dos beneficiários. O estudo vai mais longe
e sugere que, “na literatura existente sobre o tema, é muitas vezes apontado
que a compra de imóveis por requerente de ARI, entre outros fatores, promove
a subida dos preços dos imóveis, ultrapassando a capacidade financeira das
famílias nacionais”.
O estudo refere que, em geral, “a pressão na procura conduz ao aumento dos
preços” e que, sendo a habitação uma “importante fatia do rendimento das
famílias”, o programa provocou “dificuldades de acesso à habitação”.

Entre as críticas aos resultados do programa, o relatório sublinha que houve


“um boom” na procura do mercado imobiliário, e associa-o a um fenómeno de
“despejos e a deslocalização de residentes do centro das cidades” por parte de
cidadãos nacionais que não conseguiram acompanhar a subida de preços.
Registou-se uma tendência para “uma espécie de monopólio urbano” em
que os investidores tomam as partes mais centrais das cidades, enquanto os
residentes são empurrados para a periferia.

Foto: Lusa
“Esta reestruturação não terá apenas exacerbado as desigualdades sociais entre
locais/inquilinos e ricos investidores migrantes, mas também o aumento da
insegurança da habitação para uma grande parte da população que viu o seu
rendimento disponível diminuir através de aumentos de renda, e uma
estagnação dos salários”, desfere o relatório interministerial a que
a Renascença teve acesso.

Sobram ainda críticas às estatísticas disponíveis, que são “insuficientes para


uma análise mais circunstanciada”. O relatório lamenta que não existam dados
sobre o número e o tipo de imóvel associado a cada atribuição de Visto Gold.
O relatório lamenta que “apesar das recomendações das instituições
europeias”, os sucessivos governos não tenham criado “um mecanismo
estatal de monitorização e avaliação” do programa.

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