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Parte 3 – Reunificação na era budista

Esta parte do texto é dedicada ao fracasso do governo republicano na China entre 1912 e 1949,
enfatizando a ascensão do comunismo.

- A fé budista, vinda da Índia, ganhou força após o declínio do confucionismo durante o império Han.

Na base do código confucionista está o respeito a uma hierarquia cósmica em que cada pessoa tem seu
lugar e deve venerar quem lhe é superior e cuidar de quem lhe é inferior. “Os pais eram superiores aos
filhos, os homens às mulheres, os reis aos súditos”, escreveu Fairbank. “Se todos cumprissem seu papel,
a ordem social se conservaria.”

Para o imperador, é claro, o confucionismo assegurava a legitimidade de seu governo, baseado na idéia
de mandato divino. Isso não significa, entretanto, que esse mandato não pudesse ser ameaçado. Caso o
governante não aparentasse seguir corretamente o código moral confucionista, seu império poderia ser
tragado pelo caos gerado por desequilíbrios cósmicos – o que fazia com que uma enchente, por exemplo,
pudesse ser vista como uma prova de que o imperador, digamos assim, havia quebrado o decoro divino.

Desejando evitar esse tipo de dúvida, os imperadores se apropriaram do código confucionista e o levaram
para dentro do Estado, fazendo com que as leis e o treinamento dos funcionários do Estado fossem
inspirados nesses preceitos. Com o fim da dinastia Qin, esse sistema foi usado por seus sucessores. A
começar pela dinastia Han (vigente entre 206 a.C. e 220 d.C.), eles preservaram a unidade da China e
expandiram seu poder nos séculos seguintes.

Apesar de a dinastia Han ter tentado manter o controle sobre a venda de mercadorias, comerciantes
enriqueceram com a exportação dos primeiros artigos chineses a ganhar fama mundial (veja o quadro
abaixo). A rede de caminhos por onde esses produtos viajavam até a Europa seria conhecida mais tarde
como a Rota da Seda, primeiro elo comercial entre a China e o Ocidente. Por ela passaram não apenas
mercadores, mas novas ideias e religiões, como o budismo, que veio da Índia para, a partir do século 5,
se somar ao confucionismo nos fundamentos do pensamento chinês.

Historiadores estimam que, no início do século 15, durante o período Ming, a China era a maior potência
naval do mundo – para fazer uma comparação, a famosa armada espanhola reuniria, em 1588, pouco
mais de 130 embarcações. Entre 1405 e 1433, os chineses empreenderam sete expedições de longa
distância lideradas pelo almirante Zheng He. As viagens foram do sudeste asiático ao golfo Pérsico,
chegando à costa oriental da África décadas antes de os portugueses se aventurarem por lá. De acordo
com a polêmica tese do historiador inglês Gavin Menzies, autor de 1421 – O Ano em Que a China
Descobriu o Mundo, uma das expedições de Zheng He teria inclusive chegado à América.

Menos de um século depois dessas expedições, os chineses perderam a dianteira naval para os europeus.
De acordo com os historiadores, uma das explicações para o recuo da expansão marítima chinesa – e a
conseqüente perda de sua liderança mundial – seria a excessiva centralização do poder. Uma única
decisão do imperador decidia o destino de todo o enorme território chinês e inibia iniciativas individuais.
Foi exatamente isso que aconteceu após as navegações de Zheng He. A expedição chinesa de 1433 foi a
última delas e três anos depois um edito imperial proibiu a construção de navios de alto-mar. Apesar de
todas as oportunidades que se ofereciam no além-mar, a China tinha decidido voltar as costas para o
mundo.

Uma razão para a retração naval teria sido a necessidade de concentrar esforços militares nas fronteiras
do norte, onde os mongóis continuavam ameaçando invadir a China. Além disso, os burocratas chineses
tradicionalmente viam o comércio como atividade pouco nobre. Para eles, as expedições deveriam ter
caráter exclusivamente diplomático. “Com a vitória da anti comercialização e da xenofobia, a China
retirou-se do cenário mundial”, escreveu o historiador John King Fairbank.

Mesmo após a dinastia Qing, iniciada em 1644, ter revigorado o país, a China não conseguiria mais
acompanhar o crescimento das potências do Ocidente. Nesse período, a China teve de se adaptar para
tentar digerir a nova dinâmica iniciada com o advento da Revolução Industrial. E isso aconteceu da pior
forma possível. Durante o século 19, após diversas invasões, o país parecia prestes a se desintegrar: era
controlado no Norte pelos alemães, no centro pelos britânicos e no Sudoeste pelos franceses. Nada
menos que 50 portos chineses estavam nas mãos de estrangeiros.

Quando o último imperador, Pu-Yi, deixou o trono aos 5 anos após um motim de seus oficiais, em 1911,
ninguém sabia como a China se manteria unida. Após as duas Guerras Mundiais e décadas de guerra civil,
a China voltaria a encontrar um eixo unificador pelas mãos do líder comunista Mao Tsé-tung, que
proclamou em 1949 a República Popular da China. Com as reformas econômicas empreendidas por Deng
Xiaoping [o sucessor de Mao] no fim dos anos 1970, a China tem desafiado aqueles que acreditavam que
o capitalismo era incompatível com a ética confuciana.

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