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NOTA TÉCNICA
DUPILUMABE /RINOSSINUSITE CRÔNICA COM POLIPOSE NASAL
PROCESSO: 0714191-17.2022.8.07.0018
ABREVIATURAS:
• IL: Interleucina
1. PACIENTE
1.1 Nome: M. I. S.
1.2 Data de nascimento: 10/06/1961
1.3 Sexo: Feminino.
1.4 Diagnóstico:
Pansinusite crônica e pólipo da cavidade nasal
1.5 Meios confirmatórios do diagnóstico já realizados:
Não foram anexadas ao processo cópias dos exames complementares
diagnósticos.
1.6 Resumo da história clínica e CID:
Segundo informações colhidas do relatório médico assinado pelo Dr. Gustavo
Subtil Magalhães Freire (CRM DF 16156) e pelo Dr. André L. Valente (CRM DF
25749), de 17/08/2022 (ID: Num. 135524797 - Pág. 1), trata-se de paciente do
sexo feminino, de 61 anos, com rinossinusite crônica com polipose nasal,
refratária a tratamento medicamentoso com lavagem nasal salina e
corticosteroides nasal e oral. Está em acompanhamento no ambulatório de
Otorrinolaringologia e Pneumologia do Hospital Universitário de Brasília e já
foi submetida a cinco procedimento cirúrgicos endoscópicos nasossinusais,
entre eles, sinusectomia com polipectomias em 2019.
Não houve controle adequado dos sintomas nasais após procedimento e
mantém necessidade de corticoterapia oral (último tratamento em
março/2022), às vezes associado a terapia antimicrobiana (última
sulfametoxazol + trimetropim em abril/2022).
A prescrição descrita foi: Sulfametoxazol + trimetropim 14 dias + predsim 40mg
7 dias + irrigação nasal com budesonida recorrente.
Há melhora da secreção nasal apenas quando em uso da medicação.
Em última avaliação endoscópica nasal (agosto/2022), apresentava quadro
com edema moderado e secreção mucoide espessa, associado a pequenos
pólipos nasais. Apresenta anosmia e pontuação no SNOT-22 de 43 pontos.
Assim, para o melhor controle da doença, foi sugerido o uso de dupilumabe
300mg a cada 14 dias, por via subcutânea, por pelo menos 1 ano.
2. DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA
2.4 Posologia:
Não.
Existem outras opções terapêuticas disponíveis no SUS e que são utilizadas para
o tratamento de rinossinute crônica com polipose nasal, a saber: omalizumabe
e mepolizumabe. Porém, tais medicamentos são fornecidos pela farmácia
especializada de alto custo para CID diferente do CID do autor, ou seja, indicados
em casos de asma grave de difícil controle, que não respondem ao tratamento
com corticosteroide inalatório em altas doses.
A maioria dos casos de RSCcPN é idiopática, mas também pode ocorrer como
parte de doenças genéticas, metabólicas ou imunológicas. Muitos pacientes com
RSCcPN podem apresentar um padrão de inflamação tipo 2, caracterizado por
eosinofilia e níveis elevados de citocinas interleucina-4, interleucina-5 e
interleucina-13.
Sabe-se que 0,5-4,5% dos pacientes com rinite alérgica apresentam PN e que
aproximadamente 25% dos pacientes com PN são alérgicos. Acredita-se, que a
alergia pode estar associada e pode exacerbar os sintomas da RSC com PN, mas
não é a causa da polipose. A RSCcPN também está significativamente associada
à asma de início tardio.
Antibióticos para pacientes com RSC com PN não são recomendados, a menos
que haja suspeita de infecção.
Terapias biológicas são outra opção para pacientes com doença recalcitrante. Os
imunobiológicos voltados para o tratamento da RSCcPN atuam exclusivamente
na inflamação do tipo 2. Em estudos randomizados pequenos e de curto prazo,
os agentes biológicos aprovados para o tratamento da asma alérgica refratária,
incluindo omalizumabe (anti-IgE), mepolizumabe (anti-interleucina-5) e
dupilumabe (anti-interleucina-4 e anti-interleucina-13), também reduziram
significativamente os escores de sintomas e o tamanho do pólipo. Nos Estados
Unidos, todos os três agentes são aprovados para o tratamento da RSC com PN.
Foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para tratamento
de RSC com PN em 2019, e pela ANVISA no Brasil em 2020, na dose de 300 mg
administrada por via subcutânea a cada duas semanas.
No geral, um aspecto negativo é que essas terapias podem não ser eficazes em
casos de RSCcPN que não apresentem um padrão de inflamação tipo 2. Além
disso, os altos custos, o risco de anafilaxia e o uso de injeção subcutânea são
fatores limitantes na aplicação generalizada de tais tratamentos atualmente.
A National Institute for Health and Care Excellence (NICE) não avaliou o uso do
dupilumabe para tratamento da rinossinusite crônica com pólipos nasais porque
o laboratório não forneceu uma apresentação de evidências. A empresa
confirmou que não pretende fazer uma apresentação para a avaliação porque é
improvável que haja evidências suficientes de que a tecnologia seja considerada
custo-efetiva para o sistema inglês. O NICE recomenda o uso do dupilumabe para
o tratamento da dermatite atópica moderada a grave, refratária a, pelo menos,
uma terapia sistêmica como ciclosporina, metotrexato, azatioprina ou
micofenolato de mofetila, condicionado ao cumprimento de acordo comercial
preestabelecido pela empresa farmacêutica.
7. CONCLUSÕES
Conclusão justificada:
Considerando que a National Institute for Health and Care Excellence (NICE) não
avaliou o uso do dupilumabe para tratamento da RSCcPN porque o laboratório
não forneceu uma apresentação de evidências;
Cabe ressaltar que existem outras opções terapêuticas que são registradas na
ANVISA e que também tem indicação em bula para RSCcPN e estão disponíveis
no SUS, a saber: omalizumabe e mepolizumabe. Porém, tais medicamentos são
fornecidos pela farmácia especializada de alto custo para CID diferente da
paciente (casos de asma grave).
Assim, como alternativa menos onerosa ao sistema de saúde, sugere-se que seja
solicitado relatório médico detalhando a situação clínica da paciente em relação
ao preenchimento de critérios de inflamação tipo 2 e esclarecendo se ela atende
aos critérios das diretrizes para uso de imunobiológicos disponíveis no SUS para
essa patologia, qual a dose a ser utilizada, para que haja uma comparação de
qual alternativa seria de menor custo para o Estado. No entanto, é feita a
ressalva de que essa conclusão só terá valor se houver a segurança de que a
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal forneça o omalizumabe para o
tratamento da RSC, caso julgue ser uma possibilidade menos onerosa, dada a
ausência de Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde
para essa enfermidade.
Salienta-se que esta nota não ousa definir qual é a melhor estratégia terapêutica
para a referida paciente, ato que é de exclusiva competência do médico
assistente. Apenas estabelece que a literatura aponta a existência de alternativa
terapêutica tida como eficaz para o caso em tela (omalizumabe), que essa
alternativa está disponível no SUS e que é possível que a paciente atenda aos
critérios exigidos para acesso a este medicamento via SUS.
8. Há evidências científicas?
Sim.
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