Você está na página 1de 4

Phatryck Pinheiro

FMC – 2024.2

Sd. do desconforto respiratório


INTRODUÇÃO - ADAPTAÇÃO RESPIRATÓRIA À VIDA EXTRAUTERINA:
No período intraútero, o pulmão fetal contém líquido secretado pelo epitélio respiratório desde o
período canalicular (16ª sem), que exerce uma pressão de distensão sobre as vias aéreas. A absorção
do líquido pulmonar se inicia antes do nascimento, por mecanismos ainda pouco conhecidos. Cerca
de 70% do líquido é absorvido antes do nascimento por meio de uma mudança de padrão de
secreção do epitélio respiratório. Esse mecanismo de reabsorção é potencializado após o nascimento.
Durante o trabalho de parto também ocorre liberação de prostaglandinas que levam à dilatação
dos vasos linfáticos pulmonares, acelerando a remoção de líquido do interstício pulmonar.

AVALIAÇÃO CLÍNICA DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO DO RN:


A maioria das doenças respiratórias neonatais se manifestam nas primeiras horas de vida, de forma
inespecífica, muitas vezes, com sobreposição de sinais e sintomas:

PADRÃO RESPIRATÓRIO:
1. Frequência respiratória → normal de 30-60irpm, considero taquipneia > 60irpm
2. Respiração periódica → períodos de 10-15 segundos de movimentos respiratórios rápidos,
intercalados por pausas respiratórias com duração de 5-10 segundos cada e que não
apresentam repercussão cardiovascular. Mais comum em RNPT e desaparece de forma
espontânea até que o RNPT atinja a 36ª semana.
3. Apneia → pausa respiratória > 20 segundos ou entre 10-15 segundos se acompanhada de
bradicardia, cianose ou queda de saturação de oxigênio.

TRABALHO RESPIRATÓRIO:
1. Batimento de asa nasal
2. Gemido expiratório → fechamento parcial da glote durante a expiração
3. Head bobbing → movimento para cima e para baixo da cabeça, a cada respiração, pela
contração da musculatura acessória do pescoço
4. Retrações torácicas → Podem ser: intercostais, subcostais, supraesternais e esternais (ou
xifoideas).

COR:
1. Acrocianose → cianose em regiões plantares e palmares, sinal benigno e comum no período
neonatal.
2. Cianose central → em mucosa oral devido a uma hipoxemia grave (Hb < 5g/dL)

O trabalho respiratório pode ser quantificado por


meio do Boletim de Silverman-Andersen.
Considera-se que a dificuldade respiratória é leve se <
5.

Página 1 de 4
Phatryck Pinheiro
FMC – 2024.2
Para fazer o diagnóstico diferencial, devemos avaliar não só o exame físico do RN, mas também
correlacionar com dados da história gestacional e do parto e com achados de exames
complementares, como o RX de tórax.

ASPECTOS GERAIS E FISIOPATOLOGIA:


A síndrome do desconforto respiratório está diretamente relacionada à deficiência qualitativa
e quantitativa do surfactante alveolar, composto por 10% de proteínas e 90% de lipídios, que tem
a função de diminuir a tensão superficial no interior dos alvéolos. A produção começa pela 20ª semana
pelos pneumócitos do tipo II, mas é apenas por volta da 35ª semana que o surfactante está presente
em grande quantidade na superfície alveolar.

FATORES DE RISCO:
É uma afecção respiratória mais frequente no RN pré-termo, sendo a incidência inversamente
proporcional à idade gestacional e ao peso do nascimento. Acomete principalmente aqueles com
idade inferior a 28 semanas, embora também ocorram em menores de 35 semanas e até em recém
nascidos a termo, especialmente os filhos de mães diabéticas (pelo aumento da insulina que
desequilibra a produção do pneumócito do tipo II, piorando a qualidade e diminuindo a quantidade),
os RN com asfixia perinatal e nos RN do sexo masculino (maturidade pulmonar mais lenta).

QUADRO CLÍNICO:
Os sinais de aumento do trabalho respiratório (FR > 60irpm, gemidos, batimento de asa de nariz,
retração torácica, apneia e cianose) aparecem logo após o nascimento, com piora progressiva nas
primeiras 24 horas, pico em 48-72 horas e melhora gradativa depois. Nos casos com má evolução
há surgimento de crises de apneia, cianose e deterioração do estado hemodinâmico e metabólico.

A evolução clássica pode ser modificada por meio da administração antenatal de corticoide materno,
assistência ventilatória precoce (CPAP) e uso de surfactante exógeno.

QUADRO RADIOLÓGICO:
O aspecto típico, porém, não patognomônico da SDR é o infiltrado
reticulogranular difuso (em vidro moído) distribuído uniformemente
nos campos pulmonares (hipotransparência pulmonar difusa), com
broncogramas aéreos e aumento de líquido pulmonar.

Broncograma aéreo

Hipotransparência pulmonar difusa

EXAMES LABORATORIAIS:
Gasometria evidenciando:
➔ Hipoxemia → diminuição da PO2
➔ Aumento do PCO2 → diminuindo o pH (acidose respiratória)

TRATAMENTO:
O tratamento da SDR pode ser dividido em 3 frentes:

Página 2 de 4
Phatryck Pinheiro
FMC – 2024.2
SUPORTE:
Pode reduzir a gravidade da SDR, principalmente nos RNPT de muito baixo peso. Inclui a estabilização
metabólica (tratamento da acidose) e circulatória (tratamento da hipotensão), o controle da
hipotermia e a terapêutica nutricional (dieta zero e aporte nutricional por via parenteral).

OXIGENIOTERAPIA E SUPORTE VENTILATÓRIO:


Tomando o cuidado de usar o mínimo necessário de ventilação mecânica invasiva e de oxigênio
suplementar com CPAP nasal (manter o alvéolo estável), que se associam a lesão pulmonar em
prematuros. A saturação de oxigênio alvo é entre 91% e 95%

REPOSIÇÃO PRECOCE DO SURFACTANTE:


Terapêutica específica para corrigir a deficiência do surfactante.

PROTOCOLO INSURE:
Método preferencial para fazer o surfactante pulmonar. Consiste na intubação apenas para
instilação de surfactante com extubação precoce para o CPAP, reduzindo, com isso, o tempo de
ventilação mecânica.

A reposição de surfactante não é uma terapêutica isenta de riscos, estando associada a algumas
complicações: hipóxia, bradicardia, hipotensão, obstrução do tubo endotraqueal e hemorragia
pulmonar.

PROFILAXIA:
A administração de corticoide para a gestante pode prevenir e modificar a evolução da SDR.
Considerar o uso de corticoide pré-natal em todas as gestantes entre 24-34 semanas de gestação
com risco de parto prematuro. O tratamento consiste em 2 doses de 12mg de betametasona IM a cada
24h ou 4 doses de dexametasona IM a cada 12h. Os efeitos benéficos são mais evidentes 24h após
o início da terapia e perduram por 7 dias.

Página 3 de 4
Phatryck Pinheiro
FMC – 2024.2

Prescrição: doença da membrana hialina


ORIENTAÇÕES AO PRESCRITOR:
1. O objetivo do tratamento é prevenir hipoxia e acidose, diminuir atelectasia e edema pulmonar
e diminuir lesão pulmonar causada pela ventilação mecânica.
2. O suporte ventilatório busca evitar e reverter a atelectasia alveolar, manter os gases
sanguíneos em níveis aceitáveis e diminuir o esforço respiratório.
3. O uso de pressão positiva nas vias aéreas precocemente nos RN prematuros < 32 semanas
está indicado desde o atendimento em sala de parto.
4. Se o RN não estiver em insuficiência respiratória, o modo de ventilação de escolha é a
ventilação de pressão positiva contínua, o CPAP, com respiração espontânea do RN
4.1. Os parâmetros iniciais são: fluxo de gás 5-8L/min, PEEP +5-+6cmH2O e FiO2
necessária para manter SO2 adequada (90-95%).
5. O surfactante está indicado nos casos em que o RN apresenta sinais de doença da membrana
hialina associada à necessidade elevada de oxigênio, maior que 30-40% para manter saturação
adequada, acima de 90%.

DIETA E HIDRATAÇÃO:
1. Dieta zero
2. SNG aberta em frasco
3. Hidratação venosa com soro glicosado. Inicialmente 60-80ml/kg/dia e com taxa de infusão de
glicose fisiológica adequada. No segundo dia de vida, adicionar eletrólitos na hidratação (sódio,
potássio e cálcio).

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO:
1. Surfactante: fazer a primeira dose de surfactante por via endotraqueal, preferencialmente nas
primeiras 2 horas de vida. Escolha uma das opções:
1.1. Beractanto (Survanta: extrato de pulmão bovino – 25mg/ml). Dose: 100-200mg/kg = 4-
8ml/kg
1.2. Poractante alfa (Curosurf: extratrato de pulmão suíno – 80mg/ml). Dose: 100-200mg/kg
= 1,25-2,5 ml/kg.

CUIDADOS:
1. Cabeceira elevada
2. Incubadora aquecida
3. Suporte ventilatório adequado para o caso
4. Monitorização contínua dos sinais vitais
5. Balanço hídrico diário

Página 4 de 4

Você também pode gostar