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Quando a coreógrafa e bailarina paulistana Cassi Abranches, em sua imersão na

trajetória e produção de Tomie Ohtake, deparou com a escultura realizada no Parque


dos Maracás, em Guaíra, houve um encontro.

Constituída por 13 arcos irregulares, produzidos em tubos de aço curvado, a obra


pública da artista foi concebida em 2008 como um percurso que modulava e
enquadrava o paisagismo de Burle Marx. Cassi fez dessa imagem o disparador de um
percurso corpóreo de deslizamentos e transições espaciais, como um deslocamento
coreográfico por meio desses arcos. Para transpor essa hipótese ao ateliê da artista,
uma escultura tubular em menor escala foi escolhida como ponto de encontro com a
obra de Tomie.

Cassi visualizou na cadência das esculturas tubulares uma espécie de pas-de-deux,


termo proveniente do balé que designa um movimento dedicado ao encontro de dois
corpos, por convenção um feminino e um masculino, que respondem um ao outro e se
misturam. A imagem desse duo foi revisitada pela coreógrafa agora como um encontro
feminino, entre a bailarina Irupé Sarmiento e Tomie.

Irupé percorreu e envolveu as oscilações da escultura, e respondeu a elas: fazia-se


necessária a construção de uma intimidade entre ambas para que houvesse uma
efetiva aproximação entre seus corpos. Tratava-se de um momento solo da bailarina
com Tomie, complementado pelas conversas e traduções das intenções de Cassi e
pelas imagens que ela associava à obra da artista.

O resultado compartilhado no ensaio aberto foi um percurso delicado, de movimentos


sutis, em que Irupé traçava novas linhas em complementaridade com as da escultura.
Essas linhas corriam juntas, oscilavam e se entrecruzavam, como numa espécie de
costura, evidenciadas pelo desenho luminotécnico.

Se o pas-de-deux tradicional do balé clássico foi trazido por Cassi como uma forma de
tradução desse encontro, o polifonismo de estrutura matemática de Johann Sebastian
Bach (1685-1750) foi um importante elemento agregador. Cassi elegeu as Suítes para
Cello a fim de remeter à ideia de geometrização e circularidade que visualiza nas obras
de Tomie Ohtake. São também essas suítes que marcam o percurso da bailarina e sua
relação com a escultura. Com aproximações e diálogos distintos, Irupé sintetiza dois
movimentos: primeiro percorre a extensão da escultura sem tocá-la, explorando seus
vãos e contornos, depois procura o atrito, o entrelaçado e a fusão com a peça. O duo
encontra aí seu clímax, marcado claramente pelos jogos de luz com cores variadas
impressas à peça tubular.

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