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Comentários sobre documentário “A céu aberto” - Sara Arkanian -

Comovedor documentário, sobre manifestações graves na infância, um ato


artístico que mostra a invenção no quotidiano!!
Consegue ser uma verdadeira transmissão acerca das psicoses, dos diferentes
funcionamentos subjetivos, da posição do analista. De favorecer o próprio de
um sujeito, de acompanhar. Exemplo claro de tratamento entre vários onde
está bem precisa a direção de todos de não acompanhar no gozo.
Ir a favor do sujeito, contra ao gozo. A instituição em si e cada um deles é “um
lugar”, “um estar aí”.
Mostra muito bem a importância da construção dos casos no espaço de
controle e supervisão tanto em equipe como individual, onde se podem ler as
intervenções, atos analíticos, dificuldades, avanços e interrogantes que
apresentam para cada praticante cada caso etc., até se vê alguém dizendo não
saber de que iria a falar na supervisão, mas está claro que se trata de um
momento muito importante onde apresentar os impasses, perguntas,
dificuldades etc. que o caso apresenta.
Interessante ver como a filmagem do documentário é uma intervenção em se
mesma. O que a presença do olhar da câmera gera em diferentes casos: para
uma foi um “vou ser vc”, em outra foi a curiosidade de tocar a câmera e ver o
que há por trás, para outro é uma presença frente a qual se apresentar e se
dirigir, tem um que faz gesto de fuck you na câmera, em outra se vê muito bem
como nela um olhar de fora lhe permite gerar certa unidade, ou seja, a
presença desta câmera é muito marcante.

Sobre as intervenções:

Evanne: gira e gira até ficar tonto. Essa aparente diversão passa a tornar-se
excessiva, o gozo invade o corpo e fazer coco é uma forma de deixar cair,
perder algo. Ele caindo no chão como ele cai no real nos ataques de epilepsia.
Consegue pausar esse imaginário disparado, com as detenções, ritmos
frequências etc. com algo do simbólico que freia algo do imaginário. Consegue
junto com o outro tocar a flauta articulando de maneira harmônica o sopro dele
com os dedos da analista, consegue separar o ritmo, isso apresenta um
acontecimento novo.

Lena: contar as colheres de açúcar como forma de contabilizar o gozo. Uma


forma de colocar limite ao excesso.

Logan: comer sem limites carregando pães o dia todo, não se imutar frente ao
caos ao seu redor. Nota-se como ainda se trata de um recém-chegado na
instituição muito pequeno e ainda por conhecer na convivência. Ele está sendo
observado pela equipe para poder pensar os tipos de intervenções que o caso
vai requer.
Amina: o tema da fragilidade do seu lugar quando alguém novo chega. O resto
o lixo o sujo como parte dela e com apoio nas canções consegue escrever a
organização da sua semana, assim é como ela começa a organizar seu
mundo, nomeando as atividades, dias e horários algo se regula e começa a ter
efeito no cuidado dela e consegue começar a falar com outros.

Alysson: frente aos fenômenos elementares (típico nas psicoses) que se lhe
apresentam, as intervenções vão ao sentido de “eu não vi”, “eu não ouvi”, um
“queres tomar um banho?” pode ser um corte na situação.
Sua forma de achar as coisas, de descobrir aos poucos como nos quebra-
cabeças onde as coisas se armam lentamente, ela consegue a traves do forte
vinculo com a terra, a experiência de escavar, tirar coisas que já não só saem
do seu corpo, de sua pele, senão que podem sair do jardim e não só os bichos
senão, que crescem flores, tomates, consegue pisar a grama etc.
É um caso que mostra o tamanho do sofrimento e a angustia nas psicoses,
frente a esses fenômenos de fragmentação, do corpo em pedaços, e sua
angustia frente ao título ser “dama de honra” o medo de não conseguir impedir
que apareçam os fenômenos em uma situação onde não terá a contenção da
instituição. É interessante como a função da câmera nela é um olhar que a
sustenta ela se integra com o olhar da câmera, parece conseguir momentos de
certa unidade.

Mateo: outro caso onde se vê muito bem a angustia e o padecimento do sujeito


frente aos fenômenos que se lhe apresentam, achei muito comovedor quando
ele diz “meu sono está quebrado, tento, mas não consigo”. Ai vem o armado da
cabana com a analista e consegue se acalmar.
Ele usa os curativos sem ferimentos como forma de sujeitar e fazer existir um
corpo. Na instituição que ele estava antes era estimulado no seu gozo a tal
ponto que tinha cadeira de rodas. Aqui ele pede muletas e a resposta é “aqui
não temos”, como forma de reduzir, ajudar a ceder algo desse gozo espalhado,
de não incentiva-lo.
Frente a um episodio onde um fenômeno do corpo que ele nomeia “o tremor”
impede finalizar o ato de colocar uma torrada na boca, a analista toma do que
ele já achou outras vezes como forma de resolver a situação, usa esse recurso
subjetivo que foi a língua inglesa e a coisa se articula.

Jean-Hugues: Se evidencia sua angustia na frase “é difícil minha vida assim


falando o tempo todo” “Minha cabeça dói”, o pesadelo de não poder parar. A
analista ficando ao seu lado em silencio, até o fazer fechar os olhos e logo
propor uma atividade de colar na parede seus albumes etc., uma intervenção
que tem como efeito um alivio. Um claro caso de autismo Asperger.
Nota-se sua forma particular de falar, “o sol me transpira, o sol transpirou
minha pele” nota-se sua facilidade na dimensão da logica tecnológica não
afetada pela enunciação nem pelo afeto. Interessante sua fala quando diz que
no momento de aprender a ler e escrever seu cérebro o incomodava.

Vejo no filme um maravilhoso respeito á criança, uma grande delicadeza para


mostrar o terrível sofrimento subjetivo envolvido.

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