Você está na página 1de 3

Instituto Filosófico de Apucarana

Vitor Gabriel Ambrósio

Síntese do verbete filosofia – Dicionário de Filosofia Tomo II (José F. Mora) – 2ª edição

Introdução à Filosofia – Professor: Pe. Leandro

Com respeito ao verbete filosofia encontramos 4 problemas: I- com relação ao termo; II-
com relação às origens da filosofia; III- com relação à sua significação e IV- com relação à divisão
da filosofia.

I- O termo. O termo filosofia significa “amor à sabedoria” e, sobre essa definição, encontramos
os primeiros vestígios em Heródoto, Tucídides e Heráclito. O primeiro a se denominar filósofo foi
Pitágoras (Cícero, Diógenes e Jâmblico) e a explicação do termo “filósofo” em Pitágoras parece ter
sido dada por Heráclides Pôntico.
Uma primeira definição surgiu quando “filosofar” foi entendido como estudar teoricamente
a realidade e, sendo assim, sábios, sofistas, historiadores, físicos e fisiólogos foram denominados
filósofos pois, como disseram Platão e Aristóteles, todos eram homens sapientes. Vemos nos gregos
antigos uma tendência à unidade do saber e daí surge a “filosofia como busca da sabedoria por si
mesma” que resulta numa explicação racionalizada do mundo.
Deve-se entender, entretanto, que os significados expostos não são os únicos sendo que
filosofia também poderia designar outras coisas (Anne M. Malingrey) como: eloquência ou moral
prática (Isócrates), contemplação do cosmos e método de investigação científica (Aristóteles), vida
em comunidade (Epicuro) e outras mais encontradas em Fílon de Alexandria, Clemente de
Alexandria, os estoicos e os cristãos (filosofia como realidade cristã e filósofo como o cristão
perfeito ou até Cristo).

II- A origem. A filosofia se inicia mesclada com mitologia ou cosmogonia (Hesíodo e Ferécides)
e há uma no método que é descritivo nos teólogos e racional nos filósofos. Uma outra questão
aparece. Alguns dizem que a filosofia só poderia surgir entre os gregos; outros afirmam influências
orientais no pensamento grego e outros dizem que China e Índia mostraram especulações que
deveriam ser chamadas filosóficas. Seja qual for a origem, a filosofia amadurece na Grécia.

III – A significação. As definições são variadas, mas permanece o fato de que nos vários
sistemas, a mesma é o primeiro de seus problemas (Simmel). De modo semelhante, Josef Pieper
mostra como perguntar “O que é a física?” não é uma pergunta da ciência física, mas perguntar “O
que é filosofia?” é uma pergunta filosófica. Cada resposta dada a esse problema é parcial, mas
necessária. Portanto, a exposição dessas definições pode ser considerada o conjunto das
perspectivas a partir das quais a filosofia foi vista. Devemos também lembrar que a unidade da
filosofia se manifesta através de sua diversidade.
Vemos que a filosofia apresenta condição dupla: por um lado, a filosofia manifesta um
interesse universal, enfatiza a superioridade da razão, destaca a importância da teoria, não quer dar
nada por suposto, quer identificar-se com o puro saber e com o que será chamado de ciência,
apresenta-se como uma série de proposições; por outro revela escassa atenção pela diversidade dos
fatos, inclina-se a uma intuição do ser de índole às vezes mais mística que discursiva, assinala o
caráter fundamental da virtude e do comportamento, é decididamente crítica, está submersa em todo
tipo de suposições, destaca o afã da salvação, apresenta-se como atitude humana. (cita os sofistas,
os pitagóricos, os jônios, Aristóteles e Platão)

Segundo Platão e Aristóteles, a filosofia nasce da admiração e estranhamento. Para Platão, o


saber estranha-se das contradições e chega à visão das ideias; já para Aristóteles, a função da
filosofia é a investigação das causas e princípios das coisas. A filosofia conhece por conhecer, é a
mais elevada e inútil das ciências e, por querer chegar ao princípio último (Deus), é chamada
teologia (enquanto metafísica ou filosofia primeira). É a ciência do ser enquanto ser, da Verdade.
Após Aristóteles, as definições mostram que a filosofia vai se convertendo em substituta da fé
religiosa (estoicismo, neoplatonismo…) e também apresenta parte prática, sendo a norma mais
adequada para a ação.
Na Idade Média, a pergunta “O que é filosofia?” é respondida por cristãos e as definições
dadas devem ser entendidas em virtude da função que desempenha o pensamento filosófico para a
compreensão do conteúdo da fé. A filosofia é definida, então, em relação com a teologia, da qual é
concebida, por alguns, como serva. Vale lembrar que, mesmo que alguns a coloquem como
conflituosas, outros buscam a harmonia entre ambas.
Vimos a filosofia mais como teoria, mas também é interessante acentuar a filosofia como
norma para a vida, similares às do período helenístico-romano. O mesmo acontece com o
Renascimento e a época moderna, onde a filosofia representa a resposta que o homem dá ao
problema de seus viver e a resposta que se dá ao problema da essência da própria filosofia. Aqui
podemos assinalar Bacon, Descartes (filosofia como saber que averígua os princípios das ciências e,
enquanto metafísica, ocupa-se da elucidação das verdades últimas e de Deus), o racionalismo
continental e o empirismo inglês, Locke, Berkeley e Hume definindo a filosofia como crítica das
ideias abstratas e reflexão crítica sobre a experiência. Vemos também Wolff e Kant (o segundo
concebe a filosofia como conhecimento racional por princípios – crítica da razão). Aparecem
também o idealismo alemão, Fichte, Hegel (filosofia como consideração pensante das coisas e
Espírito Absoluto no estado de seu completo autodesenvolvimento), Herbart, Schopenhauer, o
positivismo (que vê a filosofia como compêndio geral dos resultados da ciência), Rehmke,
Vaihinger, Husserl (filosofia como ciência rigorosa que tem a fenomenologia como disciplina
filosfócia fundamental). Vemos também Wildelband, Guéroult, C.D. Broad, Whitehead,
Wittigenstein, Schlick, Bergson e Samuel Alexander.
Diante de tal multiplicidade, cabem várias reações:
1- Investigar se há ou não características comuns nas definições;
2- Investigar se há ou não semelhanças familiares entre os modelos de como foi
entendida a filosofia;
3- Investigar se há ou não uma atitude filosófica comum;
4- Desenvolver uma “filosofia da filosofia” no sentido de Dilthey;
5- Reconhecer que há certos modos básicos como a filosofia se desenvolveu;
6- Reconhecer que o pensamento filosófico varia de acordo com as distintas bases
históricas, culturais, sociais, etc;
7- Adotar determinada orientação filosófica e declarar que aquilo que fazem aqueles
que seguem outras orientações “não é filosofia”;
8- Adotar atitude “gremística”;
9- Reconhecer que o problema não tem solução definida, mas que isso se deve ao
fato de o próprio problema não ser bem definido.

A chamada “história da filosofia” mostra como a mesma obteve diversas definições e, em


alguns casos, confundiu-se com outras atividades chegando até mesmo a ser alguma delas. A
filosofia foi se tornando esse emaranhado de problemas pois os filósofos se preocuparam em propor
problemas, mas não em resolvê-los.

IV- As disciplinas filosóficas. A divisão das disciplinas aparece em alguns filósofos


(Aristóteles e Hegel) e em outros nem tanto (Platão e Santo Agostinho), ou seja, essa divisão
depende do filósofo ou do movimento histórico. Somente em Aristóteles aparecem as divisões que
se tornaram influentes e Aristóteles vai além da divisão da filosofia em parte teórica e prática
(lógica, ética, estética, psicologia, filosofia política e filosofia da Natureza – que são dominadas
pela metafísica). A primeira classificação em grupos de conteúdo mais amplo seria: ciências
teoréticas, práticas e poéticas, com a lógica como órgão. Outra, que fora adotada pelos estoicos
seria: lógica, física e ética. Percebemos um padrão de divisão em disciplinas metodológicas,
teoréticas e práticas. Vale ressaltar que, na modernidade, houve um esforço para sistematizar a
filosofia em diversas disciplinas (J. Micraelius – filosofia dividida em parte teórica, prática e
orgânica; Caramuel; J. Clauberg; Wolff – filosofia dividida em teórica e prática). Com isso vemos
que cada um dos filósofos importantes ofereceu seu próprio sistema.
Várias disciplinas foram tidas como filosóficas e muitas acabaram por se autonomizar
(psicologia, sociologia…). Nota-se que o processo de independentização corre junto à produção de
novas disciplinas onde, por um lado, aparecem novos estudos filosóficos e por outro, as próprias
disciplinas independentes podem ser objeto de indagação, criando assim as “filosofia de(a)”. Nos
dias atuais, a tendência já não é a divisão da filosofia, mas deixar que ela se estenda a todas as
disciplinas que exijam exame filosófico.

Você também pode gostar