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GARANHUNS
2019
JONATHAN JUVENCIO DE SOUZA
GARANHUNS
2019
JUVENCIO DE SOUZA, Jonathan.
Referências: p. 56-59
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Orientador Maurício Santos Gusmão Júnior
_____________________________________________
Prof. Examinador Diego Rodrigo Silva de Farias
_____________________________________________
Prof. Examinador Jailton de Melo Elias
Dedico este TCC à minha mãe, Vanusia
Juvencio, à minha companheira de todas
as horas, Nathália Melo, e a todos que me
ajudaram a concluir esta graduação.
AGRADECIMENTOS
Quão bonito é, quando o homem percebe e entende que não está sozinho no
meio, mas sim, que é rodeado de pessoas que o alicerçam e o apoiam
incondicionalmente.
Durante esses cinco anos de caminhada, se construiu toda a base que resultou
agora neste Trabalho de Conclusão de Curso. Durante essa jornada, grandes
amizades foram formadas, grandes descobertas feitas, de modo que, certamente,
alguém será esquecido nas próximas linhas. Não por intenção, mas apenas pela
minha pequena capacidade de memorização.
Primeiramente, agradeço ao autor de tudo, aquele que nunca me desampara,
mesmo que eu não mereça de forma alguma os seus cuidados. A Deus todo poderoso,
minha mais profunda gratidão e reverência.
Agradeço à minha família, meu núcleo de sustentação, à minha mãe, Vanusia
Juvencio, e à minha irmã, Rebeca Juvencio, pelo incentivo de sempre.
Agradeço demais à minha namorada, Nathália Melo, por todos os empurrões,
os pedidos para que eu fosse estudar, pela paciência de entender minha ausência
nos momentos críticos do curso, como por exemplo na elaboração desse TCC, e por
todo apoio e motivação que me deu. Amo muito você.
Aos amigos sinceros formados nesta graduação, isentos de qualquer inveja, ou
sentimento de superioridade, Rogério Cordeiro, Hélder Francisco, Antônio Laurindo,
Náglyton Gustavo, Gleidson Barbosa, Kennya Espíndola e Jefferson Gomes.
Aos professores que viraram amigos, Thaminne Moraes, Fábio Guilherme,
Reinaldo Alves, Giane Lira e Diego Rodrigo. Seus ensinamentos e apoio foram
essenciais para a conclusão desta jornada.
Aos professores que me auxiliaram diretamente neste trabalho, Prof. Maurício
Gusmão e Dra. Cláudia Fernanda. Obrigado pela paciência e pelo apoio.
E, por fim, mas não menos importante, agradeço a todos os amigos que a vida
me deu, e que durante toda a produção desse TCC sempre me incentivaram a
continuar persistindo. Dentre tantos, cito Pe. Poul Anderson, Caio Elieldo, Felipe
Souza, Isamara Policarpo, Lailson Simplício e Robson Adenor.
“É melhor voltar atrás, do que perder-se no
caminho. ”
Provérbio Chinês
RESUMO
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS..................................................................................09
2 A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA...........................................................................11
2.1 Noções gerais sobre regras e princípios.........................................................11
2.2 O princípio da presunção de inocência...........................................................12
2.3 Evolução Histórica ............................................................................................14
2.4 Direito comparado..............................................................................................17
3 DO INQUÉRITO À SENTENÇA PENAL: COMO FUNCIONA O PROCESSO
PENAL BRASILEIRO................................................................................................19
3.1 O inquérito..........................................................................................................19
3.2 A ação penal.......................................................................................................21
3.3 As provas............................................................................................................24
3.4 A sentença penal................................................................................................27
4 DAS PRISÕES........................................................................................................31
4.1 Conceito..............................................................................................................31
4.2 Histórico da prisão.............................................................................................31
4.3 A prisão penal e processual..............................................................................34
4.3.1 A prisão-pena...................................................................................................35
4.3.2 A prisão processual........................................................................................37
4.4 As prisões cautelares .......................................................................................37
4.4.1 Prisão temporária............................................................................................37
4.4.2 Prisão em flagrante.........................................................................................39
4.4.3 Prisão preventiva.............................................................................................40
4.5 A prisão cautelar e o princípio da presunção de inocência...........................41
5 INCONSTITUCIONALIDADE DA PRISÃO APÓS DECISÃO DE SEGUNDA
INSTÂNCIA................................................................................................................43
5.1. Visão histórica do STF......................................................................................43
5.2. Entendimento atual da Corte Suprema...........................................................46
5.3. Presunção de inocência x prisão em segunda instância..............................49
6 METODOLOGIA.....................................................................................................52
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................54
REFERÊNCIAS .........................................................................................................56
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nos últimos anos, têm-se visto diversas mudanças de entendimento das cortes
superiores sobre a questão do cumprimento da pena após a sentença condenatória
de um tribunal, ou seja, a tão propalada prisão em segunda instância. A análise do
texto legal seco se tornou insuficiente para definir qual o real posicionamento jurídico
do tema no país.
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem modificado a forma de interpretação do
tema à luz da Constituição Federal, bem como do Código de Processo Penal
Brasileiro, tornando a discussão sobre a prisão após a condenação em segunda
instância, uma verdadeira incerteza entre doutrinadores e parte da população. Por
isso, se faz importante uma análise sobre a constitucionalidade da prisão após a
condenação em segunda instância.
Urge que se tenha no Brasil uma posição razoável sobre o tema. Por esta
razão, buscou-se neste trabalho, responder ao seguinte problema: é constitucional a
prisão penal após a confirmação da condenação em segunda instância?
Percebe-se, nos tempos atuais, uma preocupação pelo fato da jurisprudência
não se mostrar completamente convencida do atual posicionamento sobre o assunto
perante as cortes superiores, pois este mesmo foi alterado recentemente pela
segunda vez em menos de 6 anos.
Esta dissonância no Poder Judiciário pode prejudicar a qualquer cidadão
comum que não tenha como fazer valer seus direitos constitucionalmente garantidos,
quer seja por falta de condições de acesso à justiça, quer seja pela total
impossibilidade de esse acesso se tornar eficaz, uma vez que a restrição de liberdade
hoje acontece antes mesmo da culpa ser comprovada através do devido processo
legal, dificultando o exercício dos princípios da ampla defesa e do contraditório.
O objetivo geral do trabalho é analisar a legalidade e a constitucionalidade da
prisão sem o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, conforme o Código
de Processo Penal (CPP) e a Constituição Federal de 1988 (CF/88). Os objetivos
específicos são: relacionar os principais dados históricos do princípio da presunção
de inocência, disposto no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, bem como no
CPP; descrever o instituto da prisão no Brasil, à luz da CF/88 e do Código de Processo
Penal; apresentar a compreensão do direito comparado sobre o tema pertinente à
prisão após a confirmação da sentença em segundo grau; e discutir criticamente sobre
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2 A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
Dessa forma, tem-se que o princípio inspira a criação das regras, ou seja, tem
como função, instruir o legislador ou outro agente sobre os seus motivos.
Ensina Alexy (2008, p. 90) que “o ponto decisivo na distinção entre regras e
princípios é que princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior
medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”.
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Dito isto, verifica-se a importância de cada uma das espécies normativas para
o bom funcionamento de todo o sistema jurídico.
seguinte forma:
Assim, pode-se afirmar que o referido princípio preza pelo devido processo
legal, bem como pelo princípio do contraditório e da ampla defesa. O imputado,
enquanto não restar provada a sua culpa, por todos os meios de prova admitidos, não
terá sua culpabilidade reconhecida.
Juridicamente, segundo Lenza (2012b, p. 460), entende-se por transitada em
julgado a decisão que não cabe mais recurso, ou seja, onde já se esgotou todas as
possibilidades de defesa, respeitando o devido processo legal. Fica provada, dessa
forma, a culpa do acusado por sentença irrecorrível, não sendo mais possível interpor
nenhum recurso para tentar reformar a decisão.
Há que se definir sobre o momento em que se dá a formação da culpa do
indivíduo no processo penal. Existe hoje uma grande discussão na sociedade sobre o
assunto. Enquanto parte da população defende que o princípio da inocência só
protege o investigado até o segundo grau de jurisdição, prestigiando assim o atual
posicionamento do STF, outra parte considera a culpa formada apenas após o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória, como está escrito no CPP.
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Nota-se que a partir deste ponto da história, o que hoje se conhece como
presunção de inocência começou a ser aplicado: O respeito ao devido processo legal,
garantia que ninguém fosse condenado antes de sua culpa ficar legalmente
comprovada.
A partir desse marco, o princípio da presunção de inocência começou a constar
nos textos de vários códigos de processo penal ao redor do mundo, mudando a visão
unicamente punitiva dos tempos antigos, dando um pouco de dignidade aos cidadãos
que se envolviam em processos criminais.
É importante salientar que os documentos citados até aqui colocam a prova da
culpabilidade como um divisor de águas entre a presunção de inocência, e a
possibilidade da prisão do investigado. Logo, a prisão só se torna lícita e legal a partir
do momento em que se demonstra inequívoca a afirmação de que o réu é realmente
culpado pelo fato a ele imputado. Qualquer prisão efetuada fora desses termos,
excetuando, claro, as prisões processuais que serão explanadas nos próximos
capítulos, se torna ilegal e arbitrária.
Sobre isso, pode-se trazer à tona o conceito do garantismo penal, ensinado por
Ferrajoli (2010, p. 785-786):
“Garantismo” designa um modelo normativo de direito: precisamente, no que
diz respeito ao direito penal, o modelo de “estrita legalidade”, próprio do
Estado de direito, que sob o plano epistemológico se caracteriza como um
sistema cognitivo ou de poder mínimo, sob o plano político se caracteriza
como uma técnica de tutela idônea a minimizar a violência e maximizar a
liberdade e, sob o plano jurídico, como um sistema de vínculos impostos à
função punitiva do Estado em garantia dos direitos dos cidadãos. É
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pelo Decreto 678/92. Tem-se, portanto, que a CF/88 e o Pacto de São José da Costa
Rica asseguram o princípio da presunção de inocência.
Neste mesmo entendimento, o Estatuto de Roma, do Tribunal Internacional,
que foi promulgado no Brasil em setembro de 2002, por meio do Decreto 4.388,
aborda o seguinte:
No Canadá, outro país que utiliza o sistema da common law, não possui
Constituição escrita; porém, existe um documento normativo, a Carta de Direitos e
Liberdades, que, no seu texto, traz expressamente o princípio da presunção de
inocência, no item 11, d, que trata das garantias jurídicas dos canadenses: “ser
considerada inocente até que se prove sua culpa de acordo com a lei, em um processo
público por um tribunal independente e imparcial. ”
Dessa forma, tem-se que a aplicação do princípio da presunção de inocência é
global, não sendo particularidade do Brasil, e, portanto, é princípio jurídico aceito e
aplicado em grande parte do mundo.
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3.1 O inquérito
Ensina Capez (2018) que o inquérito é escrito. O CPP traz a previsão dessa
peça informativa, com as formalidades que deverão ser cumpridas. O inquérito é
sigiloso, até pelo caráter investigativo que possui. Esse sigilo não é oponível ao
Ministério Público (MP) com atribuição para atuar naquele procedimento, nem à
autoridade judiciária competente. Caso não seja decretado o sigilo do inquérito, o
advogado, também, poderá ter acesso às informações nele acostadas,
independentemente de procuração. Quando decretado o sigilo, impõe-se que o
acesso restrinja ao procurador constituído, nos termos do art. 7º do Estatuto da OAB.
Vale ressaltar que, nessa fase, não existe, ainda, a ampla defesa e o
contraditório, já que não há ação penal instaurada. Esses princípios somente poderão
ser evocados, posteriormente, no curso da ação penal.
Urge salientar que o caráter inquisitivo do inquérito não dispensa a presença
do advogado constituído pelo investigado ou, na impossibilidade, a assistência pela
defensoria pública.
Capez (2018) ensina que outra característica do inquérito é a sua oficialidade.
Somente órgãos oficiais têm a prerrogativa de produzir inquéritos, não sendo possível
que um particular o faça, embora, na ação privada, a iniciativa da ação penal seja do
ofendido. Esta característica diz respeito à obrigação que tem a autoridade policial de
instaurar o inquérito, quando do recebimento de uma notícia de infração penal,
independentemente de provocação, com exceção dos casos de ação penal pública
condicionada e de ação penal privada. A autoritariedade é a exigência que a CF/88
faz sobre o inquérito ser presidido por uma autoridade pública, a autoridade policial.
Esta característica bem se assemelha à da oficialidade.
Ainda, na lição de Capez (2018), a característica da indisponibilidade significa
que, uma vez instaurado o inquérito, a autoridade policial não poderá simplesmente
arquivá-lo por si só. Em outras palavras, não há discricionariedade quanto à abertura
do inquérito, se existem elementos mínimos da autoria ou da materialidade delitiva.
O inquérito possui, também, aspecto inquisitivo, uma vez que a persecução se
encontra na mão de uma única pessoa, no caso, da autoridade policial. Esta deve agir
de ofício, empreendendo esforços ao esclarecimento do crime e de sua autoria.
Quando a autoridade policial obtém elementos razoáveis da autoria e da
materialidade do crime, deverá promover indiciamento, que Lenza (2012b, p. 62)
define da seguinte forma:
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recebimento da peça acusatória pelo juiz, o denunciado se torna réu. Acerca da fase
judicial, colha-se a lição abaixo:
Dessa forma, leciona Lenza (2012b) que a ação penal é um direito autônomo,
não se confundindo com o direito material que se busca tutelar. É também um direito
abstrato, já que independe do resultado final do processo. É um direito subjetivo, já
que o titular pode exigir do Estado-juiz a prestação jurisdicional. E é um direito público,
já que se está provocando uma atividade jurisdicional de natureza pública.
Sabe-se que as ações penais podem ser públicas ou privadas, dependendo do
tipo de infração cometida. Serão públicas se a atribuição para sua propositura for do
Ministério Público e, privadas, se esta atribuição estiver reservada ao particular. Sobre
isso, diz o art. 100, caput, do Código Penal (CP): “A ação penal é pública, salvo
quando a lei, expressamente, a declara privativa do ofendido”.
Observa-se que o critério para definir se a ação é pública ou privada é o
normativo. Cabe à lei penal dizer, sendo regra o caráter público da ação penal e a
exceção, a iniciativa privada. Tourinho Filho (2010, p. 380) diz que “levando em conta
o sujeito que a promove, a ação penal se classifica em pública e privada. Essa a
summa divisio da ação penal no Direito pátrio.”.
Dentro da categorização das ações penais públicas, há uma divisão. Estas
podem ser pública incondicionada ou pública condicionada. Será incondicionada,
quando o MP promove a ação independentemente de provocação ou de pedido da
vítima, bastante que estejam presentes as condições da ação e os pressupostos
processuais. Por outro lado, a ação penal será condicionada à representação, se o
MP precisar ser instado pela vítima ou por seu representante legal a promover a ação.
Sobre isso, traz o art. 100, § 1º, do Código Penal: “A ação pública é promovida pelo
Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido
ou de requisição do Ministro da Justiça”.
Na ação penal privada, é necessária a apresentação da queixa-crime pela
vítima ou por seus representantes. Esta categoria se divide em mais duas: a privada
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Tal distinção não é destituída de interesse, pois sabemos que, quando a ação
penal é pública, somente o órgão do Ministério Público pode iniciá-la, e,
quando privada, sua promoção compete, exclusivamente, ao ofendido ou a
quem o represente legalmente. Tão importante é essa divisão que os autores
costumam classificai as infrações penais, quanto ao processo, em crimes de
ação pública e em crimes de ação privada.
Quem define qual tipo de ação penal será proposta, quanto aos critérios de
ação penal pública, privada, e suas subdivisões, é o próprio direito penal material, que
no seu bojo indica qual o tipo de ação aceita para cada infração cometida, como já
explicitado acima.
Conforme leciona Capez (2018), como na ação civil, a ação penal também
possui algumas condições, como a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de
agir e a legitimidade para agir.
Por possibilidade jurídica do pedido, entende-se que esta condição foi cumprida
quando a lei penal expressamente prevê a conduta criminosa narrada na peça inicial.
Não se pode propor uma ação penal, se o fato supostamente praticado pelo indiciado
não constitui crime previsto na legislação penal pátria. A denúncia deve, portanto, ser
rejeitada, quando o fato imputado ao agente não for considerado crime pelo
ordenamento.
Por interesse de agir, faz-se necessária a aplicação do trinômio: necessidade,
inerente ao devido processo penal, sem o qual é impossível impor uma pena; utilidade,
que decorre da verificação da efetiva utilidade do uso da justiça para a defesa do
direito supostamente violado; e adequação, que verifica o processo penal
condenatório e o pedido de aplicação de sanção penal.
Por fim, a legitimidade para agir compreende o conceito já visto no Direito Civil,
das partes dos polos da demanda terem capacidade de postular e, realmente, serem
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3.3 As provas
Do latim probatio, é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (CPP,
arts. 156, I e II, 209 e 234) e por terceiros (p. ex., peritos), destinados a levar
ao magistrado a convicção acerca da existência ou inexistência de um fato,
da falsidade ou veracidade de uma afirmação. Trata-se, portanto, de todo e
qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de
comprovar a verdade de uma alegação. Por outro lado, no que toca à
finalidade da prova, destina-se à formação da convicção do juiz acerca dos
elementos essenciais para o deslinde da causa.
Não seria lógico que o Estado, a pretexto de distribuir justiça, permitisse que
seus agentes ou que particulares violassem normas jurídicas para garantirem
o sucesso do esforço probatório, pois, assim, estaria, paradoxalmente,
incentivando comportamentos contrários à ordem jurídica que pretende
tutelar com a atividade jurisdicional. É por isso que a Constituição Federal
previu, expressamente, em seu art. 5º, LVI, que “são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meio ilícito”. A ilicitude da prova pode
decorrer das mais variadas ações: busca domiciliar sem mandado, quando
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Por essa razão, entende-se não ser razoável que provas produzidas de
maneira irregular possam produzir seus efeitos, qual seja, servirem para
demonstração da culpabilidade do réu pelo delito que lhe é imputado. Adotar essa
prática seria afrontar, por completo, o princípio do devido processo legal, tornando
sem efeito qualquer decisão condenatória prolatada, diante da ilicitude da prova
colhida.
Doutrinariamente, Lenza (2012b, p. 257) ensina que existem dois tipos de
prova ilícita. A primeira é a prova ilícita em sentido estrito, sendo uma prova ilegal
obtida por meio de violação de uma norma de direito material. A obtenção dessa prova
independe do curso do processo. A segunda classificação é a prova ilegítima, que se
configura como a prova produzida sem estar em conformidade com as normas
processuais. Deriva de um comportamento processualmente ilícito.
Importante ressaltar-se que essa classificação é meramente doutrinária. Na
prática jurídica, ambos os tipos de provas ilícitas são vedados pelo ordenamento
pátrio, visando-se, assim, evitar abusos na investigação.
Todo processo penal visa apurar uma suposta infração cometida pelo réu. Para
que se chegue a uma sentença condenatória, a culpa deve-se restar provada. Surge,
então, o instituto do ônus da prova.
O CPP é claro quando dispõe sobre quem tem a obrigação de provar o alegado:
A sentença é a parte última do processo, aquela que põe fim à lide. É a decisão
do juiz, que se materializa após o exame de todas as provas produzidas no processo.
O Código de Processo Civil define que a sentença “é o ato pelo qual o juiz põe termo
ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. No processo penal, segue-se essa
mesma linha.
Sobre a origem do termo “sentença”, ensina Tourinho Filho (2013, p.342) que
Vem a palavra do latim sententia, que, por sua vez, vem de sentiendo,
gerúndio do verbo sentire, dando a ideia de que, por meio dela, o juiz declara
o que sente (quod judex per eam quid sentiant declaret). A palavra sentença
deve ser reservada para aquele ato processual, momento culminante do
processo, em que o juiz põe termo ao processo, pouco importando se decidiu,
ou não, o mérito da causa.
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4 DAS PRISÕES
A prisão é o fim último da persecução penal. Por isso, faz-se importante estudar
todas as nuances relacionadas a este instituto no nosso país. Neste capítulo, serão
abordados o conceito e o histórico da prisão, as modalidades e as espécies de prisão
no Brasil.
4.1 Conceito
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXVI -
ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;
moderna. Estas não são equiparáveis. Porém, alguns dos ensinamentos da primeira,
compõem a prisão que se pratica nos dias de hoje.
A partir do século XVIII, já na Idade Moderna, os conceitos de punição utilizados
até então, notadamente a pena de morte, já se encontravam no seu limite. Inicia-se,
então, uma guinada da prisão como pena:
A pena privativa de liberdade – assinala – não tem uma longa história [...]. Na
segunda metade do século XVIII, o arco da pena de morte estava
excessivamente tenso. Não tinha contido o aumento dos delitos nem o
agravamento das tensões sociais, nem tampouco havia garantido a
segurança das classes superiores. O pelourinho fracassava frequentemente
em se tratando de delitos leves ou de casos dignos de graça, uma vez que a
publicidade da execução dava lugar mais à compaixão e à simpatia do que
ao horror. O desterro das cidades e as penas corporais tinham contribuído
para o desenvolvimento de um banditismo sumamente perigoso, que se
estendia com impetuosa rapidez quando as guerras e as revoluções haviam
desacreditado e paralisado os velhos poderes. A pena privativa de liberdade
foi a nova grande invenção social, intimidando sempre, corrigindo amiúde,
que devia fazer retroceder o delito, quiçá, derrota-lo, no mínimo, cerca-lo
entre muros. A crise da pena de morte encontrou aí o seu fim, porque um
método melhor e mais eficaz ocupava o seu lugar, com exceção de alguns
poucos casos mais graves. (Von Hentig, apud Bitencourt, 2011, p. 49)
O fim, pois, não é outro que impedir o réu de causar novos danos a seus
cidadãos e afastar os demais do cometimento de outros iguais.
Consequentemente, devem ser escolhidas aquelas penas e aquele método
de impô-las, que, respeitada a proporção, causem uma impressão mais eficaz
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e mais durável sobre o ânimo dos homens e que seja a menos dolorosa para
o corpo do réu.
4.3.1 A prisão-pena
O nosso Código Penal, por intermédio de seu art. 59, prevê que as penas
devem ser necessárias e suficientes à reprovação e prevenção do crime.
Assim, de acordo com nossa legislação penal, entendemos que a pena deve
reprovar o mal produzido pela conduta praticada pelo agente, bem como
prevenir futuras infrações penais. As teorias tidas como absolutas advogam
a tese da retribuição, sendo que as teorias relativas apregoam a prevenção.
Na reprovação, segundo a teoria absoluta, reside o caráter retributivo da
pena. (Grego, 2015, p. 537)
Cumpre ressaltar que a lei 8.072/90, que trata dos crimes hediondos, ordena
em seu art. 2º, § 4º, que a prisão temporária nos casos de crimes hediondos tem prazo
de 30 dias, igualmente prorrogável nos casos de extrema e comprovada necessidade.
Esta medida reforça que o Estado procura julgar e punir de forma mais enfática aquele
que for surpreendido cometendo crime considerado grave.
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da infração penal; e pelo menos uma das situações descritas no art. 312 do CPP
(garantia da ordem pública, da ordem econômica, conveniência da instrução criminal,
ou da aplicação da lei penal).
Pode-se concluir, então, que, por não ser considerada uma sanção, mas
apenas um modo de se conduzir melhor o processo penal, as prisões cautelares não
ferem o princípio da presunção de inocência, desde que sejam observados os
pressupostos legais e, principalmente, que se avalie sobre sua necessidade, já que a
regra é a liberdade do indivíduo.
42
como por exemplo, o HC 69.964 (j. 18.12.1992), HC 72.366 (j. 13.09.1995), HC 73.968
(j. 14.05.1996), HC 74.983 (j. 30.06.1997), entre outros. Tais precedentes foram
suficientes para a edição de duas súmulas vinculantes:
SÚMULA 716
Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação
imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória.
SÚMULA 717
Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada em
sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão
especial.
Art. 283 - Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação
ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
46
Tal dispositivo legal reafirma o texto constitucional, uma vez que deixa clara a
ilegalidade de conduzir à prisão, aquele que ainda não teve sua culpa comprovada e,
portanto, se presume inocente, por força do verbete constitucional.
Presidente, não vejo uma tarde feliz, em termos jurisdicionais, na vida deste
Tribunal, na vida do Supremo [...]. Esses dois pronunciamentos esvaziam o
modelo garantista, decorrente da Carta de 1988. Carta – não me canso de
dizer – que veio a tratar dos direitos sociais antes de versar, como fizeram as
anteriores, a estrutura do Estado. Carta apontada como cidadã por Ulisses
Guimarães, um grande político do Estado-país, que é São Paulo, dentro do
próprio País. Tenho dúvidas, se, mantido esse rumo, quanto à leitura da
Constituição pelo Supremo, poderá continuar a ser tida como Carta cidadã.
Reconheço, mais, que a Justiça é morosa, que o Estado, em termos de
persecução criminal, é moroso. Reconheço, ainda, que, no campo do Direito
Penal, o tempo é precioso, e o é para o Estado-acusador e para o próprio
acusado, implicando a prescrição da pretensão punitiva, muito embora
existam diversos fatores interruptivos do prazo prescricional. Reconheço que
a época é de crise. Crise maior. Mas justamente, em quadra de crise maior,
é que devem ser guardados parâmetros, princípios e valores, não se gerando
instabilidade, porque a sociedade não pode viver aos sobressaltos, sendo
surpreendida [...]. Porque, no rol principal das garantias constitucionais da
Constituição de 1988, tem-se, em bom vernáculo, que "ninguém será
considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória".
O preceito, a meu ver, não permite interpretações. Há uma máxima, em
termos de noção de interpretação, de hermenêutica, segundo a qual, onde o
texto é claro e preciso, cessa a interpretação, sob pena de se reescrever a
norma jurídica, e, no caso, o preceito constitucional. Há de vingar o princípio
da autocontenção. Já disse, nesta bancada, que, quando avançamos,
extravasamos os limites que são próprios ao Judiciário, como que se lança
um bumerangue e este pode retornar e vir à nossa testa. Considerado o
campo patrimonial, a execução provisória pode inclusive ser afastada,
quando o recurso é recebido não só no efeito devolutivo, como também no
suspensivo. Pressuposto da execução provisória é a possibilidade de retorno
ao estágio anterior, uma vez reformado o título. Indaga-se: perdida a
liberdade, vindo o título condenatório e provisório – porque ainda sujeito a
modificação por meio de recurso – a ser alterado, transmudando-se
condenação em absolvição, a liberdade será devolvida ao cidadão? Àquele
que surge como inocente? A resposta, Presidente, é negativa [...]. Peço vênia
para me manter fiel a essa linha de pensar sobre o alcance da Carta de 1988
e emprestar algum significado ao princípio da não culpabilidade. Qual é esse
significado, senão evitar que se execute, invertendo-se a ordem natural das
coisas – que direciona a apurar para, selada a culpa, prender –, uma pena, a
qual não é, ainda, definitiva. [...] Acompanho, Presidente, a divergência
revelada pela ministra Rosa Weber. Implemento a ordem pleiteada na inicial
deste habeas corpus. (STF - HC: 126292 SP, Relator: Teori Zavascki, Data
de Julgamento: 17/02/2016)
O direito fica sob risco quando o poder judiciário passa a extrapolar seus limites
de interpretação do texto legal. Fica prejudicado o indivíduo, que recorre ao judiciário
na esperança de ter seu direito à liberdade de locomoção garantido, como defende o
49
Com esse fragmento, fica demonstrado que, para o Ministro, não se acaba com
a presunção de inocência pelo simples fato de o acusado ter já sentença desfavorável
em um Tribunal de apelação. Tem coerência essa posição, já que, se realmente fosse
a intenção do constituinte que a presunção de inocência pudesse ser relativizada
dessa forma, não teria incluído de forma expressa que o fim desse princípio só se dá
após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Portanto, o Poder Judiciário não tem autorização legal para mudar a literalidade
do texto constitucional. Se assim o fizesse, não haveria mais razão de ser do
Congresso Nacional, órgão ao qual compete as inovações e as alterações legislativas
do ordenamento brasileiro. A CF/88, no seu art. 2º, afirma que “São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. ” Dessa
forma, delimita bem qual é a função de cada um dos poderes e preza pela não invasão
da competência entre estes.
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6 METODOLOGIA
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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