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MARIA ADELAIDE MIRANDA

A ILUMINURA ROMANICA EM SANTA CRUZ DE COIMBRA


E
SANTA MARIA DE ALCOBAgA

Subsídios para o estudo da iluminura em Portugal

Primeiro Volume. Tomo 2

'C.

DISSERTA^AO DE DOUTORAMENTO EM HISTORIA DA ARTE MEDIEVAL

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

1996

•--1 ,
<-,
-_ v,' ; -,* __.
IV. ICONOGRAFIA E ORNAMENTO

4.1. Sacralizacão do Tempo

4.2. Sacralizacão do Espaco

4.3. Imagens do Sagrado


4.4. Iraagens do Humano

4.5. Bestiário

4.6. No Reino do Ornamento

A abordagem autonoma dos programas iconográf icos e da

ornamentacão, permitir-nos-á individualizar melhor os

scriptoria de Santa Cruz e Alcobaca.

Com influências muito diversas os dois scri ptoria optaram


por manuscritos despojados de cenas de carácter narrativo.

A iconografia também é bastante reduzida nos seus

programas . A explicacão mais geral deste facto encontrámo-la

no modo singular do monge medieval viver o tempo e o espaco,

no gual o guotidiano era desvalorizado.

Na Península Ibérica esta atitude assumirá aspectos

particulares como veremos .

inspirava as imagens da sociedade


0 guotidiano que

enquanto tal, está relativamente ausente e é redimensionado em

do correspondem ãs preocupacôes dos


representacoes sagrado que ,

monges e dos que zelavam pelo uso das tradicôes iconográf icas .

São os monges que garantem esta visão do mundo, que passa

uma outra vivência do tempo e do espaco.


por

Os palavras, eles prôprios, sâo condicionados


gestos e as

por rituais cuja origem se perde no cristianLsmo primitivo.


As relacôes de dependéncia entre os honien.. obede-.:em ■
-.

cerimoniais que se procuram sacralizar.

287
A percepcão visual está limitada por um imaginário que

todo universo e encontra a sua matriz na Bíblia.


ordena o

segundo Albert d'Haenens560,


Este processo utôpico,
consiste numa recusa total do presente e do passado imediato,
dum futuro se quer seja diferente. Â partida, a
em nome que

utopia monástica inscreve-se no quotidiano por uma


inspiragão
fundador
partilhada e vivida espontaneamente pelo e os seus

companheiros.
As representacôes do quotidiano são assim, integradas numa

são fundamentalmente expressôes do


visão do mundo na qual
é símbolo, escondendo um significado muito
divino. A imagem
ambivalente e so excepcionalmente é tomada em si.
profundo,
São os monges e os cánegos ,
os responsáveis privilegiados
de sacralizacão do tempo e do espaco, e
pelo processo
criadores de imagens neste
simultaneamente os principais
período.

4.1. Sacralizacão do Tempo

A vida da comunidade monástica assenta numa ruptura com

o tempo profano que pretende ser abolido pela vivência do tempo

sagrado. Os monges procuram atingir um tempo de perfeicão que


No séc.
reactualize o tempo primordial do prôprio cristianismo.
Cistercienses efectuam um
XI, quer Cônegos Regrantes guer
através da de
esse tempo. Os primeiros, procura
percurso para
encontro da
uma vida inspirada na simplicidade apostôlica, ao

prôpria vivência de Cristo na terra, os segundos procurando um

da Regra de S. Bento
retorno aos preceitos .

especial o dos monges


0 quotidiano dos clérigos, e em ,

tarefas que asseguram toda a


apesar de ritmado pelas
sobrevivéncia material, é vivido em fungão do tempo litúrgico.

■•""
Albert d'Haenens Quot.ioâiennete et Contexte ,

Louva i n-] a Neuve . . .

p .

288
e cristianiza o trabalho e as
tempo clerical estrutura
0

festividades agrárias, coincidindo


a época das colheitas e

momentos do calendário litúrgico


sementeiras com os grandes
anual. A sacralizacão da utilizacão do tempo incide ainda sobre

variados aspectos da vida quotidiana, que vão desde o exercício

da guerra ås actividades sexuais, passando pela utilizacão das

oracôes como unidade de contagem do tempo , explicando-se por

actividade demore a executar tantos credos avé-


que tal
,
vezes

marias ou padre- nossos561.


A vida de oracão implicava pois a experiência ininterrupta
côsmico, curvando-se aos ritmos circulares,
do tempo sagrado e

A comunidade
afastando-se de tudo aquilo que podia perturbá-la.
monãstica vivia já a eternidade.^2.
virada uma busca de comunicacão coro
Esta vivência, para

o invisível, leva o monge a construir uma relacâo imaginária


seus fantasmas na criacão de
com o objecto, projectando os

imagens metafôricas e simbôlicas. A descoberta das paisagens,


homem do seu estão
do sentido do espaco, do prôprio e corpo

de referência em que os livros


estreitamente ligada a topoi
sagrados e especif icamente a Bíblia -

estarão sempre presentes.


A observacão empírica ou racional da realidade está muito

vivendo num mundo povoado de


ausente das suas preocupacoes ,

manif estacôes de Deus


significados, reenvios, sobressentidos ,

nas coisas563

rj61
Luis na Idade Media in Dicionario
Krus, Tempo
coord. José Costa Pereira,
Ilustrado da Historia de Portugal
Lisboa, Alfa,1986. pp. 279-280.

d(- la
'>"?
Cf. Georges Duby Le Moyen Age: Adolescence
Occidentale 9 S 0- 1 I 4 0 Genêve : Alcbert
chretienté ,

Skira, 1984. p. 116; J. Filguera Valverde, Tempo y gr-zo eterno


en la narrativa medieval, Ediciones Xerais de Galiria, Vigo,
19 8 2.

'"'■■
Les catngcries de la culiui~e
Aaron Gourevitch,
medievale, Gallimard, Paris, 1 983 , pp. 31-154 .

2 89
do cristianismo que o monge além
Desde os primeiros tempos
da Historia, da sua vida pessoal e
de participar no tempo

colectiva, procura viver o tempo da Salvacão.

regras monásticas preocupam-se


com a
As primeiras resposta
Entre elas a que maior divulgacão teve
a estas inquietagôes .

a Ocidente foi a de S. Bento'"""1 .

Nas comunidades beneditinas, o monge vive intensamente o

Temporal e o Santoral
calendário litúrgico, seguindo o que os

costumeiros prescrevem de forma pormenorizada , como já


referimos em capítulo anterior.
organizado em vários eixos: a
0 tempo beneditino estava

o jejum e a hora da refeigão, o trabalho e


oracão, o repouso ,

a leitura565. 0 dia a dia dos monges desenrolava-se segundo um

ciclo nas Matinas e terminava nas


litúrgico que comegava

completas566.

564
Criada no séc. VI, so foi imposta no territôrio que
_

e hoje Portugal em finais do séc .


XI, já que o monaquismo
ibérico vivia ainda Regras de S. Fructuoso ou Sto
segundo as

Isidoro.

51,5
J. Biarne, Le Temps d'Apres les Premiêres
du Moine
d'Occident (IV-VI siêcles), Le Temps
Regles Monastiques
III-XIII siecles
Chrétien de la Fin de l'Antiquité au Moyen Age
da vida do aparece
...p.105. A organizagão quotidiana monge
carta
pela primeira vez escrita por S. Jerônonirno
na sua a

Eustáguio.
566
Nas Matinas, ou seja â meia noite, os monges
no claustro e seguiam
deslocavam-se do dormitôrio , juntavam-se
em procissão para a Igreja onde rezavam no coro parte do
ofício que lhes era destinado
-

hinos, salmos e leituras, apos


Por volta cinco horas- Prima- das
o que voltavam para a cama.
rezavam mais uma vez na igreja oragôes e salmos. As nove
onde era
reuniam-se os monges para a missa e para o capítulo
imprescindível a leitura da Regra.
hora da refeigão, tambem ela
da
Depois missa, seguia-se
a
antes da
maroada pelo ofício divino hino de acgão de gragas -

leitura da Bíblia ou de vidas de


releigão, e durante ela a

final novamente hinos.


Santos, e no

As duas da tarde celebravam a Nona na igreja, a que se


sequia um
período de trabalho.Ãs quatro voltavam a igreja para
depois deslocavam-se para trabalho,
e
rezarem as Vésperas ,

por volta das seis jantavam. Ãs sete cantavam as Completas.

290
Os monges da Reconquista diziam todos os dias, pelo menos

24 hinos, 6 credos, 9 cânticos e 11


100 salmos,12 ligôes,
sem contar com outras pegas mais curtas56'.
responsos,
pela sua intervengão pastoral esta
Pelo seu exemplo e ,

de viver e marcar o tempo difunde-se pela comunidade


forma

dos campanários que eram construídos


laica.Lembremos o papel
foram durante séculos um dos
junto å igreja paroquial e que

da cristianizagão do tempo do homem


grandes instrumentos

medieval .

segundo a Regra constavam de


reíeigôes
-

Também as que

sopa, pão e prato de legumes sendo a carne apenas permitida


doentes e servida em ocasioes especiais
-
sucediam-se aos
aos

0 soar do sino concentrava os monges no


ofícios religiosos.
daí ao refeitorio. Depois de uma oragão,
claustro e passavam

silêncio, cortado apenas pela leitura da


sentavam-se num

efectuada no púlpito por um monge para isso


Bíblia. Esta era

da comida voltavam a rezar o hino e


designado. Depois
retiravam-se.
recusam o seu tempo de
Ao entrar no mosteiro, os monges

0 direito ao ôcio e condenado veementemente


vida profana568. ,

uma
sendo prescrito ao monge um quotidiano que pretende ser

costumeiro de S. Rufo56
ruptura com o mundo leigo; o

in José Mattoso,Le Monachisme Ibérique et


567 Cluny.Les
Monastêres du dicese du Porto de l'An Mille a
1200 ...
p. 281 .

Premiéres
Temps du Moine d'apres les
568
In J. Biarne Le
d'Occident (IV-VI) in Le Temps Chrétien de
Reqles Monastiques
la Fin de l'Antiquité au MOyen Age-III-XIII
siecles Collogues ,

Paris : C .N R S 1984 p. 103. A


Internationaux du C.N.R.S., . . . .
,

mesmo uma ruptura fisica


entrada na vida monástica pressupunha
com o tempo profano.
o rompe com os costumes
"__ com este tempo que monge ,

assim como com a sua


dos contemporâneos
seus
ele coloca uma
família, a sua pãtria, parte,
nova
distância geográfica entre a sua antiga e a sua

"
existência .

et (\>utumes aux Xle eí Xlle


"'■"
J.S. Dereine, Saint-Ruî sos
ae
Benedi tine t.LlX, Beluique: Abbayo
Siécle, in Kevue ,

Madredsous, 1949, p. 167.

291
Regrantes de Santa Cruz de Coimbra
utilizado pelos Cônegos
estabelecia a prática do jejum, o silêncio, a abstinência do

vinho e a austeridade do vestuário: "Quattuor igitur


inductionum ratione propensius inspecta videlicet cotidiani

ieiunii, continui silentii ,


abstinentiae a vino, vestimenti

illorum objectional aggredimur obuiare, si possimus,


lanei,
subnixi utruiusque Testamenti eloquio" .

0 Livro de Usos da Ordem de Cister (B.N.L. Ms Alc. 208),

usado de Alcobaga pronuncia-se também sobre o


pelos monges

silêncio570. O silêncio permitiria uma mais fácil comunicagão


com Deus, mas os monges logo criam um conjunto de gestos que
entenderem-se em momentos e lugares de
lhe permitem
silêncio571. 0 codigo gestual sistematizado pelos
cluniacenses foi adoptado por quase todas as ordens monásticas,
privilegiaram. Pelo
e em especial pelos cistercienses que o

locutio produz os textos gestuais tendo o


per signa, o monge

0 corpo torna-se uma espécie de codex onde


corpo como suporte . ,

os gestos criam uma linguagem numa alternativa â comunicagão


com o mundo exterior, mais uma vez, num processo que se

pretende de ruptura572.
Os gestos que exprimem os vários momentos litúrgicos
foram-se codificando desde os primeiros rituais cristãos, ao

fixam as leis canônicassv\ A atitude de pé


mesmo tempo que se

é prôpria de sacerdote que ministra no altar; a de joelhos

570
Da vida da morte dos monges de
Mário Martins, e

II ( 1950) ,pp. 5-7


Alcobaga, .

dos ,Broteria 7 2
h~'1
In Mário Martins Disciplina monges , ,

(1961 ) .p.

S72
O mesmo Livro de Usos da Ordem de Cister fornece-nos
o côdigo deste tipo de linguagem que o monge de
dedo
veria dominar.Por exemplo : "por signal de brasas, sopra o
demostrador e faze asi como quem sfrega as maáos quando ha
írio"fl. ou "por dormir poem a palma na queixada e emclina a

cabega sobre ella".fl.

r,T1
La raison rfta; (jostes dans
Jean Claude Schmitt,
í 'Occident Médiéval , Paris, Ga Ll irrtard, 289-320 .

29 2
humildade; o sinal da cruz uma consagragão
sinal penitencial e

do crente a Cristo e muitos outros gestos gue a


tradigâo
litúrgica manteve até aos dias de hoje.
0 das tarefas ligadas â subsistência está tarnbém
tempo

regulamentado no livro de Usos da Ordem de Cister, em fungão


'

do tempo litúrgico'"' .

Há pois a preocupagão de assegurar um equilíbrio entre

tarefas que pertencem ao sagrado e ao profano.


da Palavra Sagrada e da Escritura Santa
A prática
estrutura assim, o mundo monástico.

Da mesma forma que o seu quotidiano foi marcado pela


também ao nível da cultura
ruptura com o tempo profano,
seleccionaram cuidadosamente o saber com os príncipios de uma

vivência considera a vida como uma passagem para o Além.


que

A o texto sagrados constituem a realidade


palavra e

ã estão subordinados as outras formas de


primeira, qual
realidade menos pura e mais degradada575.
de tudo os estimulados mais pelo culto
Apesar , monges
necessariamente saber
divino que pelo saber profano têm, , que

latim e saber cantar; estava reservada ao abade a organizagão


assim de todas as outras que decorrem
destas actividades, como

dentro do mosteiro 576.

574
Mário Martins Da Vida e da Morte dos Monges
Citado em

de Alcobaca Brotéria, 2-3 ,( 1961 ). Na época da ceifa, por


:
exemplo, prescreve-se
assaber em todallas festas de XI
"E devedes que
em que lavramos, vigílias e nas dos sanctos,
ligoôes
deve convento ouvyr missa ante que vaão lavrar.
o
lavrar ataa Vla. E
Naquestes tenpos sooe o convento
se Mester for sayrem ante da prima, e fora do
for necessario o
mosteiro jantar e dormir, se
mixto ".
cozinheiro e o que leer aa mesa tomem o

',7''
Albert d'Haenens, Quotidiennete et Contexte, ,
Louvain-
la-Neuve. p. 590.

in
José Mattoso Cultura Mona-.rf.ica em Portugal ,

Cultura na Tdade Merfia Portugucsa,


Religiao e
des
358.Jean Claude Schitt, La Raison
Lisboa,I.N.C.M.1982.p.
gestes dans l'Occident Mêdiéval
..
.pp. 57-92 .

29 3
Para além da actividade litúrgica que marcava as

diferentes horas do dia, consoante as ordens religiosas, a

importante do dia do
lectio divina ocupava também uma parte
As escolas e o
monge e exigia-lhe leituras complementares .

letrado continuam a estar a cargo exclusivamente do


ensino

clero5'7".
A leitura colectiva ocupava uma parte também considerável
do Tem lugar no coro e no refeitôrio e no
do tempo monge.
å igreja. 0 abade toma o lugar
claustro; na galeria adjacente
onde encontra uma imagem de Nossa
a meio, sob um nicho se

daí ao fim do dia, antes do Ofício das Completas,


Senhora, e ,

leitura habitualmente tomada do livro das


preside â comum,

de João Cassiano, suf icientemente documentado em


Collationes

No entanto, a leitura individual tem lugar no espago


Alcobaga.
não pode ser espago diferente
reservado a cada monge (gue
foi destinado ao monge), ou também no claustro
daquele que lhe

ou na sala comum"578.
razôes nos levam, assim, a afirmar que o
Múltiplas
iluminador tinha que ser fortemente
imaginário do monge

influenciado por esta vivência do tempo ritualizado, que

de uma dimensão sacralizada a cada gesto


suscita a atribuigão
afastando tudo o que é profano.
guotidiano,

in Histôria de
577
José Mattoso, Monarquia Feudal ,

Lisboa, Círculo dos


Portugal, dir. José Mattoso, Vol.II,
Antes de 1130 reduzem-se aos mosteiros
Leitores p.262.
tendo já desempenhado um
e âs sedes diocesanas.Os mosteiros ,

das
certo protagonismo cultural durante
a renovagao monastica
Guimaraes, Lorvao
observâncias hispânicas, como aconteceu com ,

Santo Tirso, Pago de Sousa, Pendorada e


Vacariga, Lega, usos
dos
outros, receberam novo impulso com a introdugao
conceitos vmdos de
cluniacenses e a importagão de livros
e
os seus cabiuos
além Pirinéus. As sedes diocesanas orgamzaram
nomeadamente em Braga
canonicais e as suas escolas catedrais, ,

ensinaram
Porto e aí recolheram também livros
e
Coimbra e
adopgáo a recepcao
jovens élérigos
durante a época em que a e

renovacao paralela.
sustentavam uma
da reforma gregoriana
*7B
A do Nascimento, A experiencia do livro no
A
centenario do
primitivo 'meio alcobacense in ,
Actns do IX

U.C.P., 1991 -p. 124-1 25.


Nascimento de S. Bemardo , Braga ,

294
0 livro fornece ao monge a matéria para reflexão que este

transformará em imagens, através da expressão artística.

4.2. Sacralizagão do Espago

uma ruptura com o espago, numa


Pretendiam também os monges

A do templo representa a entrada


fuga ao tempo profano. porta
num espago sacralizado,
dentro do qual o monge pode viver o seu

tempo litúrgico.
do espago traduz-se na escassez de natureza
Esta concepgão
plásticas, na ausência de
envolvente nas representagôes
perspectiva clássica. As imagens surgem-nos como teofanias,

anulando o entre o espectador e a obra.


espago
local onde se anulam o espago
0 templo é espago sagrado, o

e o tempo profanos. "A pedra fundamental do templo possuia um

será idêntica a pedra de Béthel donde Jacob


valor cosmico; ,

céus abertos" (Gén. XXXV, 9). Esta pedra é


pode contemplar os

terrestre
ponto onde comunicam o e
assim o centro do mundo, o

o celeste"579.
morada do prôprio Deus, mas também
É, pois, entendido como

como lugar de actualizagão dos tempos primordiais da prôpria


é o instrumento fundamental
origem do cristianismo; o templo,
da sacralizagão do espago580.
de templo exigia um verdadeiro ritual, que
A fundagão um

passava pela sua orientagão.


os
"
Ela é orientada, voltada para a aurora, para

trevas e todas
orimeiros clarôes que vêm dissipar as

esta luz que todos


as inquietagôes nocturnas, para

Romane Pa
'■"■"*
in M.M. Davy Initiation a la Symbolique ,

Flammarion, 1 977. p. 179.


Champs
*•""
Mircea Eliade, Tratado de historia das Religi
Llsboa, Cosmos, 1977, pp. 435-458.

29 5
da alvorada, o ciclo da liturgia
os dias, na comogâo
tecendo louvores ao eterno""81
saúda,
É a Leste que se encontra o Paraíso, o lugar julgado
assinalava a ocorrência de milagres ou
ideal, que muitas vezes
maravilhoso 5B2. A procura do paraíso
qualquer acontecimento

terrestre faz os monges da Idade Média sonharem com ilhas

perdidas e desabitadas.
é o homem medieval um espago
0 espago arquitectônico para
facto de Trezenzônio
ordenado, proporcionado. É siqnif icativo o

ao descrever a sua ilha, comegar pela basílica que considera


extraordinária grandeza e de extraordinár ia
de

arquitectura5fl\
Detém-se que sendo provavelmente
em pormenores

imprimir grande rigor, revelando a


imaginários, procuram
da harmonia e proporgão do templo cristão'^A
importância
indicagão de números exactos , quer quanto âs dimensôes, quer

581 Adolescense de la Chretientc


Georges Duby Le Moyen Age.
Flammari 1 967 136
Occidentale, 980-1140, Genéve p.
on , ,

terras desconhecidas eram


imaginário românico,
582 as
No

pormenores que nos deixam surpreendidos


com essa
narradas com
entre realidade e ficgão. Lembremos a obra
fabulosa osmose

de autor anônimo, traduzida e anotada por Aires Augusto do


a funcionalidade
Nascimento, Trezenzônio e a Ilha do Solsticio:
in Em Torno da Idade
da ausência no reencontro do presente
Media dir, Helder Godinho, Lisboa, U.N.L.,
1989. pp. 185-196.

Trezenzônio e a Ilha do
*Arj
A.A. do Nascimento,
Solsticio. .
.p.192.
dimensoes
r>p4
Trezenzonio descreve-nos minuciosamente as

de cinquenta e um côvados de altura


desta basílica: são
sessenta e um de comprimento; cã perímetro era de
volta, o

trezentos estádios; tinha 8 ábsides, quatro porticos...O autor


da grandiosidade do templo
dá-nos, assim , uma ideia exacta
oito ábsides o que seria notável e nos envia para
compreendendo as suas
um modelo de uma grande igreja de peregrinagao com

Pressente-se também a nostalgia das antigas


capelas radiantes.
basílieas paleocristãs porticadas. visao
A descricão desta basílica passara certamonte pela
um dos
idealizada da prôpria igreja de Santiago de Compostela,
acolhia numerosos
principais centros de peregrinagão que
portuqueses .

296

.*S-;- y; 00-- ;. •

,^x
/: a>" -_ .' ',.-1î\
r
/. ■■' \ "Cí-
'

v '0. "*"'' ^
..
-, .
_
00 .
oy
no que diz respeito ao número de elementos do mosteiro, mostra

a importância que o número tinha devido â sua simbologia, mas

outro lado revela que este espago é ordenado segundo uma


por

harmonia divina. Tudo é harmonia, em contraste com o espag o

caôtico. Esta concepgâo que o espago sagrado é um


profano
igualmente defendido por Vincent de Beauvais
espago ordenado é

que recorda que a arquitectura integra a ordem, a disposigão,


a eurritmia, a simetria e a beleza "585.

Trezenzonio além de dar uma ideia de grandeza da


para

faz-nos também supor que a construgâo de um templo


basílica,
obedecia a uma iniciagão ã aritmética sagrada. Esta fazia parte

dos estudos monásticos, e estaria já presente na narragão


bíblica do templo de Salomão586.
da está na base da
0 princípio da ordem e proporgão que

é simultaneamente acompanhado por um outro


construgão do templo
fundamental da estética medieval- a importância dada
aspecto
58\ Na verdade a luz dominou a
â luz e ao que resplandece.
concepgão de espago medieval.

Mas o templo é ainda espaco de milagre, de maravilha,


existem exercem sobre
espago originário onde poderes que se

a
o mundo; eles são depositários das relíquias que asseguram

permitem não apenas a sua


presenga do sagrado, que

têm, sobre os três continentes


manifestagão. "Geragoes ,

centenas de basílicas e capelas, elas entesouraram


construído

Citado em Umberto Eco


585
(Speculum majus II, 11,12,14).
Arte e Beleza na Estetica Medi eval ,
Llsboa : Presenga , 1989 , p.52.

aspecto esotérico da mística das proporgôes que


586
Este
foi contudo
origem entre as seitas pitagôricas,
,
tem a sua

afastado pela escolástica .Cf. Umberto Eco Arte e Beieza na


Estética Medieval ..
.p. 532 .

já como tema doutrinal e


gosto das proporcôes chega
587
"0
terreno da constatagâo
sô gradualmente se transfere para o

prática e do preceito produtivo;


o qosto pela cor e pela luz
é, pelo contrário, um dado de reacgáo espontânea , tipicamente
interesse e se
médieval, que sô depois
articula como
Cf
sc
Lĩmberto Eco Arte
sistematiza nas especulagôes metafísicas" .

e Beleza na Estética Medieval p. 57 ... .

0 9 7
o cristal, as pedras preciosas, as sedas e as
o ouro, a prata,
de milhares de caixas, de estaurotecas de
pérolas, em dezenas ,

de quadros de estátuas e
filacteras, de suários, de ampulas, ,

de cofres (...). A ordem inerente â beleza, contudo, tem sempre

de santuários encarregados de proteger


presidido ã construgão
de activar os restos carnais nos
e de exibir, de transportar e

dia, se integrou a transcendência"'388


quais um

durante toda a Idade Média e em relagão â igreja


Também,
e ao mosteiro apreciagôes ligadas ao simbôlico.

De anima lib. I, liga


Honorius Augustodinensis no gemma

ã materializagão da Jerusalém Celeste. A sua


os templos
contemplagão e a sua vivência levam a gue o cristão, que se

harmonia divina. Segundo este autor,


pretende purificar capte a

situa entre 1095 e 1135, a igreja constrôi-


cuja actividade se

yse sobre alicerges de pedra tal como a igreja espiritual se

rocha que é Cristo. Eleva-se sobre 4 paredes que são


apoia numa

os Evangelistas l>89.

simbôlicos são reafirmados ao longo de


Estes fundamentos

toda a Idade Média, e citados em parte sempre que

necessário590. 0 concebido como simbolico, contribui


espago,

para a vivência do tempo sagrado e vai ser o palco da criagão

588
Marie- Madeleine Gauthier Les Routes de la Foi.
In
et Rel iquaires de Jérusalem a
Reliques
des Arts 1983 .p. 12
Compostelle, Paris :Bibliothêgue ,
.

589
O autor continua a atribuir significados simbôlicos a

todas as partes do templo: as pedras unem-se com argamassa tal


de amor. As colunas são os bispos
como os fiéis pelos lacos
da
sobre os quais apoia a estrutura da Igreja, merce
se
a
rectidão da sua vida, o pavimento simboliza o povo gragas
construidas
cujo trabalho a Igreja se mantém. As criptas, o
são os cultivam a vida interior,
debaixo do solo, que
claustro é o Paraíso e a porta o prôprio Cristo.

de Cremona retoma em finais do séc.


Sicardo, bispo ,

a
XIĨ, a obra de Honorius Augustodinensis ,
ondo aprofunda
do suas
proéura simbologia
da mística e teolôgica templo e

dependências monásticas.
298
medievais. É ainda nele que o livro se
dispôe
de imagens
conforme o momento dramático que a liturqia reclama591.
da Reconquista na Península Ibérica
A situagão particular
destas categorias do espago
criou um clima propício ã adopgâo
reflexos evidentes na produgão de imagens .

e do tempo, com

Os monarcas hispânicos dos tempos da Reconquista apoiam


dando todas as condigôes materiais â
a edificagão de templos,
eles são um dos garantes da nova ordem,
sua construgão, pois
assegurando a coesão da comunidade e possibilitando-lhe o

diálogo com o divino.


vai sendo marcado um
Cada espago recém conquistado por

corresponde ãs novas
determinado tipo de templo que

necessidades, mas que também deve muito âs tradigôes

locais59?. Se bem que a historiograf ia alcobacense

'■"'
La mesure du monde .Représentetion de
Paul Zumthor,
l'espace au Moyen Age , Paris, Seuil, 1993 , pp-184-217 .

w-
.Segundo Pierre David podemos
encontrar vários tipos
comunidade as
igrejas adaptadas â sua insergâo
na ,
de
basílicas e os mosteiros.
ecclesiae urbanas e paroquiais, as

até meados do século XIII maior


São estes últimos que
de sacralizagao dos
influência exerceram no processo
territôrios reconquistados.
denominadas por catedrais marcam a
As ecclesiae também
existência de locais sagrados nas principais cidades sob
jurisdigão do bispo. _

Os monarcas da Reconquista no processo de ocupagao das


a favorecer a fundagão de catedrais
cidades apressaram-se
aproveitando para isso locais já antes consagrados
a santos
Mas a templos dedicados nas paroquias
fundagão de
no processo
locais exerceu iqualmente um papel fundamental, um
Comportavam, além do oratorio,
de reorganizagão do reino.
a
cemitério e um e estavam por vezes ligadas
baptistério,
reais ou virtuais que localmente
veneragão de relíquias
as relagôes de dependencia
estimulavam ascrengas e
de santos, as basilicas
Sempre erigidas sobre as relíquias
em vilas e aldeias sáo-lhes dedicadas ,
e proliferam desde as
crengas especialmente
origens do cristianismo, correspondendo
a

mártires locais Lra


culto dos santos e .

vivas nesta época : o


a
í ace as
populagoes_
a sua existência que legitimava da
sacralizacão do ospaco em que ci rounscrevia a jurisdigao
Ihes coníoria a identidado cristã.
iqreja que
contexto
Finalmente e desempenhando um papel importante no

do os mosteiros, que
peninsular de sacralizagão espago-
modalidades bem dif erentes Pierre David,
integram situacôes
.
e

299
seiscentista tenha efabulado a partir do imaginário medieval,
motivos da fundagão da mais grandiosa abadia
as lendas sobre os

elas dão-nos testemunho sobre a


cisterciense em Portugal,

importância que a ordem assumiu no processo de cristianizagão

do territorio.

0 primeiro rei de Portugal, embora favorega especialmente

de Santa Cruz de Coimbra, inicia uma politica de


os conegos
deixando-se envolver pela aura de
protecgão aos cistercienses ,

impulsionador S.
santidade que rodeava o seu principal ,

rei segundo Frei Antônio Brandâo,


Bernardo. Será o prôprio , que

de uma empresa, como seria a tomada


sentindo as dificuldades
teria encomendado ao sanro593.
de Santarém aos Ârabes, se

du Vle au Xlle
Études Historiques sur la Galice et le Portugal
siecle, Coimbra:Faculdade de Letras,1947, pp.7-10

593
Antônio Brandão Monarchia Lusitana, Parte III,
Frei
1973 ,p. 162 "prometendo de
Livro X, Lisdboa, Imprensa Nacional ,
.

seus
fundar hum celebre mosteiro de sua Ordem, se por
em aquella noite
merecimentos alcansasse vitoria.Ha tradigão
certificou do bom sucesso, & isto
o Sato e elRey, & o
apareceu
de vulto que estão remate do
em o
dão a entender as figuras
Coro de Alcobaga, vidagas do
& em hua das Capítulo. Tambem
em o mesmo ponto
consta por tradigão & memoria escritas, que
voto de fundar o mosteiro, foi revelado ao
que elRey fez o
com suas oragoes & de seus
Santo em Franga, onde vivia, o qual
sbditos franqueou a elRey D. Afonso o despacho daquella
do espago neste caso
vitoria". Esta situagão de sacralizagão
através da construgão de uma abadia
é mesmo superada pela
ordem "enfeudar" todo o reino a
monarca de
vontade do prôprio Se. Antonio Brandao
tal como o será feito â Santa
de Cister", ordeno
faz como sendo palavras de D. Henriques
Afonso
passar debaxo
minha meus sucessores fiquemos
q eu, meu Reyno , gente ,

desesão & amparo da beaventurada Virge


da tutela & protecgão, sucessores
de Claraval a todos e cada hu de meus
& mando
Maria ,

q leqitimamente entrarem na sucessão


deste Reyno,d dem todos
"em modo ue
os anos â Igreja de S. Maria de Claraval" ,(...) &
de bo, digno ae
feudo , & vassalage cincoenta maravedis
ouro

se receber"

300
levassem uma vida de acordo com a sua
S6 os monges que

lhes era dado o direito de ocuparem a terra, o que


condigão
marca claramente a sua fungão purif icadora594 .

o caso de pequenas igrejas, sob


Parece muito frequente,
de um nobre abrigarem uma comunidade de clérigos aos
patronato
vida santa condigão de purificagão
quais procuram impôr uma ,

e santificagão do local.
ter acentuado
A vivência dos monges peninsulares parece

o que os terá levado a optarem pelo


estes pressupostos,
iconográf icos com imagens tão
ornamento e reduzidos programas

sintéticas que é difícil descodificar o seu significado.


anicônica caracteriza o territôrio
A tendência que

do Românico é apenas
penínsular e o regionalismo prôprio nosso

cortado por versôes que surgem mais eruditas e figurativas,

através da penetragão do monaquismo e da arte veículada pelos


séc. XI e XII a
beneditinos de Cluny. No entanto quando nos

escultura e a pintura se consolidam com a


arquitectura, a

reinos o ornamento mantém todo o


formagão dos novos europeus

seu viqor.
A explicagão para isso reside nas tendências profundas
de época de formagão em que há hesitagôes
peninsulares695, uma

594
elucidativo desta situagão é o episôdio descrito
Bem
a fundagão de uma igreja por
uma
por este autor, onde
menciona
vila de Parada
comunidade local:" os homens que habitavam
na
na
(Terra de Santa Maria) se
reuniram para fazer a ígreja
e mulher, que nomeiam, e
propriedade de dois senhores, marido considerados
ser
oferecem seus dons
os puderem para
nela uma
"herdeiros».Dotaram a igreja e estabeleceram
comunidade religiosa.Declaram pois, que a ,
^re^a, s^*
no respeito pelo seu
"possuída" pelos clérigos que preservarem
dos possuidores da terra quer
proprio estado, quer descendam .Jose
mencionados "herdeiros
dos filii ecclesiae, ou seja, dos
in Historia de Portugal dir. Jose
Mattoso, Monarquia Feudal ,
,

Mattoso, Vol.II,p. 47

Creaciôn en
de la la
In André Grabar Las Vias
147.
lconoarafia Cristiana, Madrid : Alianza Editorial, 1985, p.
contrastam como que
as tendências emergentes na península,
do 2- concilio de Niceia.
acontece no Império Bizantino depois
relativamente longo a representagao
Aqui durante um período
conviccôes religiosas :
figurativa é veículo das
301
imagem ocupa e que leva que os reinos
sobre o papel que a

"bárbaros" dêem pleno desenvolvimento âs artes ornamentais.

Na Península, particularmente durante o período que se

estende do séc. V ao séc. XI, houve um ambiente propício ao

desenvolvimento do ornamento.
Num territôrio em que a romanizagão teve dificuldades em

os visigodos vieram dar continuidade ã arte


penetrar, em que

da Proto Histôria, que se caracterizou exactamente pelo lugar


dado ao ornamento de carácter geométrico e abstracto, a arte

esta tendência, acentuando os temas


paleocristã prosseguiu
simbôlicos onde predominam as imagens-signo.
dos Vândalos, a instalagão dos
De facto, a passagem

arianos criaram um terreno favorável ã insistência


Visigodos
sobre a natureza humana de Cristo, e â recusa de imagens. 0

de Elipando, arcebispo de Toledo opoe a Cristo,


adopcionismo
criado Pai desde a origem, coeterno e consubstancial a
pelo
Deus, a natureza humana do Cristo nascido de uma mulher sob a

logica não manifesta


adoptado pelor Pai. forma
A se na
Lei e

matéria, o que arruina a possibilidade da imagem religiosas<>" .

As deliberagoes conciliares tendem também a reforgar a

arte ornamental, em detrimento da de carácter imagético.


Nos inícios do séc. IV, o Concílio de Elvira, em que

estiveram presentes os bispos de Faro e de Évora, determinava

no XXXVI capítulo:

"
dos mais característicos da
um tragos
iconografia bizantina da Idade Média seja o do seu

soberbo
esforgo por pegar-se firmemente ao programa,
e limitado, que consistia em reafirmar
incansavelmente a permanente presenga de Cristo
e

inclusivamente dos acontecimentos da


dos Santos ou

obra da Salvagão, excluindo da medida do possível


os

temas foram transposigôes iconográí icas de obras


que
poéticas ou doutrinárias" .

Medievale. p. 119 Esto autor


Jean Wirth, L'lmage .. .

da heresias que se instalaram


justifica pelas particularidade
na Península em consequência das controversas teoloqicas, a

escassez de imaqens neste periodo.

30 2
"Que não se fagam pinturas para as igrejas. Decidiu-
na igreja a fim de
se que não deve haver pinturas
se honra e adora não se veja nelas
que aquele que
"
pintado .

Se bem que hoje esta posigão seja controversa e


alguns
dos Cristâos face âs
autores vejam nela apenas uma preocupagão
de Dioclesiano597, o facto é que mais tarde tera
perseguigôes
repercussôes na estética peninsular; posigão reforgada pelas
de vieram mais tarde a dominar a
concepgôes povos que

É todavia errôneo atribuir a este concílio a fraca


península.
ica deste período na Península. Trata-se mais
produgão iconográf
do resultado de um conjunto de circunstâncias historicas para

contribuiu o confronto com os povos "bárbaros" , o


as quais
então reinante, e ainda a fraca
clima de instabilidade

da cultura clássica nas zonas do Noroeste .

penetragâo
discutíveis as interpretagôes dadas å
Além disso se são

é influência de Sto Agostinho.


determinagáo conciliar não o a

ser o resultado de uma


Na época estas determinagôes parecem
interior da igreja ou mais
tradigão intelectual mais rígida
no

meios imperatoriais do Oriente698.


elitista ligada aos

as heresias
Do ponto de vista das concepgôes peninsulares ,

que proliferam na Península vêm ao encontro das perspectivas


iconoclastas. 0 priscilianismo e o arianismo repudiam as

representagôes do sagrado ã luz da atitude maniqueísta.


domínio árabe e o mogarabismo vêm
A presenga judaica, o

acentuando a ausência de
reforgar também esta mesma posigão,

J. Maciel em Arte Tardia Romana e


Cf.Manuel
Lisboa : Dissertagão de Doutoramento ,
Paleocristâ em Portugal ,

este autor a data da sua


F C S H 1993... p. 72. Para
de discussão, embora se possa
realizacâo é ainda hoje objecto
data Ôssio de Corduba, que
balizar'ontre 295, dado que nessa
data do Concílio de
nele participou, jã bispo, e 314, era

Arles, em que participam bispos hispânicos


e se pressupoem ja
será efectivagao entre
os cánones de Elvira.De excluir a sua

3 face ã perseguigão de Dioclesiano.


os anos 303 e 05,

et lec
••':'
Charles Murray Le Probleme de L' Iconophobie
in Nicee II, 787- 1 987 p. 46 Nicee
Siecles Chretiens
.
...

Premiers
II, 787-1987

303
humana na arte deste territorio. Os Árabes
representagão
definir esta arte, que
finalmente darão o perfil e ajudam a

mais uma vez assimila aquilo que melhor corresponde a sua

prôpria identidade599.
Se bem que não haja qualquer interdito sobre figuragão no

Deus não pode ser representado


Corão, na perpectiva mugulmana,
de forma antropomorf ica .

Mas ao mesmo tempo gue excluiu o ícone da divindade, o

nome divino, celebrando caligraf icamente


islão multiplicou o

o Verbo600.

É do século IV ao X que se divulga a caligrafia


acentuando-se este tipo de
monumental no Egipto e no Irão,

séc. XII. Os calígrafos assinavam as suas


ornamentagão no

obras, assim como os artistas dos programas ornamentais.

o Deus dos mugulmanos não pode ser


Teologicamente
dos sentidos, e não é perceptivel senão
apreendido através

Deus é luz, mas essa luz não pode ser


através de analogias.
Deus revela-se pelos seus atributos"01 .

apreendida;
Não há qualquer lugar para uma iconografia sagrada,
obediência dos crentes. "o unico acesso
gualquer que seja
conhecimento supremo é a meditagão da Revelagão.
possível ao

599
Focillon diz-nos acerca da escultura na Península o que
a todas as artes plásticas. "A
de certa forma podemos alargar
é balbuciamento de uma raga
qrande arte ibérica, que não
o
e
a expressão reflectida duma cultura poderosa
primitiva, mas
estilo tubular, uma
refinada, a arte asturiana, que dá ,
com o

arte islamica quer pelos


interpretagão pessoal da forma,
a

um corte da pedra e sobretudo


seus capitéis encobertos por
seus que os animais
marfins de caga se perseguem
em
pelos irradiou pela Espanha
através de florestas de caules enrolados,
Henri Focillon, Art
cristâ e sobre a Franga do Sudoeste."
1938, p.2/0.
d'Occident, Vol.I, Paris: , Armind Colm,
L'Islam, le
f-°°
Assadullah Souren Melikian-Chirvani
In
0 autor explica que
Verbe et l'Image, in Nicée II. p. 89-90 ..
.

do
esta atitude leva a "uma espécie
de iconografia abstracta
única na histôria da procura humana
Loqos-Monumento que parece
da Realidade Haqq , para retomar
- a palavra ,icc mistit-o_.
Deus"
mugulmanos quando designam
.

Rois J. Molh, Paris 1976.


...i i
In Shah-Name Le Livre des ,

304
até â vertigem para melhor aí
Assim tragaram palavras

penetrar"602.
o desenvolvimento das artes
Deste modo justifica-se
ornamentais de carácter abstracto utilizadas por este povo nas

vastas zonas que dominaram. Na Península, o seu legado


que já tinham perdido o poder
estendeu-se a periodos em

político, tendo especial relevo entre os mogárabes e


emergindo
na Baixa Idade Média com o Mudejarismo.
ornamental árabe, e sobretudo o de carácter
Este fundo

bem que esteja quase ausente no nosso


vegetal, o ataurique ,
se

devido â destruigão sistemática da arquitectura


territôrio

acentuou a predisposigão para o domínio do


deste período,
ornamento .

árabe trouxe consigo a contribuigão de


Mas, o legado
Califado de Côrdova â medida que se afasta
outras regiôes: o ,

de Damasco, busca as formas decorativas dos impérios romano e

do Islão oriental, cria por via


bizantino. Depois do impulso
sincretismo de arte oriental; e através de influxos
omíada um

sincretismo de arte
sassânidas, bizantinos e visigodos um

ocidental .

Santo Estêvão da mesguita Maior de Cordova


A porta de

integra todas estas tradigôes, numa arte hispano mugulmana6°\


Os estuques, madeiras e o barro cozido perderam-se, mas o gosto

pelo ornamento permaneceu na arte peninsular.


os
Havia, pois toda uma longa predisposigão para

este tipo de arte em


iluminadores peninsulares privilegiarem
Estava aberto o
detrimento da figuragão e da plasticidade .

caminho ao ornamento.

do século XII a intervengão das


No último quartel

'■n:' Melikian-Chirvani L'Islam, le


In Assadullah Souren

Verho ct in Nicée II... p. 117


l'Tmage,

Bas.il io P. Maldonado El Arte Hispanomusulman en su


Decoraciôn Floral ,Madrid: Aqencia Espanola de Cooperacíon
International ,1990, p. 18-19.

3 0 5
veiculadas pelo pensamento
concepgôes estéticas cistercienses
a simplicidade e ausência
bernardino determinaram igualmente

de programas iconográf icos.


do quotidiano, do homem
Neste contexto, a representagão
na iluminura e esculturas
e da mulher raramente aparece
existentes, pelas razôes já
românicas; os poucos exemplos

expressas, são em qeral representagôes sagradas.


No caso da iluminura podemos mesmo afirmar, que os

quotidianas, sâo
manuscritos onde ocorram representagôes
de terem sido produzidos em
aquelas em que há poucas hipôteses
embora seja difícil determinar a sua
scriptoria portuqueses,
origem.

4.4. Imagens do Sagrado

uma
de ser o ornamento dominante, comegamos por
Apesar
dois fundos.
análise iconográfica das imagens existentes nos

Todos os pressupostos de caracter teôrico foram já expostos.


iconográf ica em sentido
Utilizamos aqui uma interpretagão ,

restrito, que lhe dá Panofsky604. Não temos qualquer propásito

de enveredar por um percurso iconolôgico, já que nos pareceu

mais correcto em termos metodolôgicos , para a época que

criagão de imagens, recorrendo a


estudamos, contextualizar a

nosso alcance. A quase


todos os instrumentos interpretativos ao

ausência de programas iconográf icos nas nossas artes plásticas,


mesma raridade de fontes literárias originais,
acompanhada pela
de forma sistemática apreender os significados
nâo nos permite

trata das ímagens,


»
A análise iconográf ica , que
de motivos, implica, e claro,
histôrias e alegorias, em vez
familiaridade com objectos e
muito mais do que a simples
.Pressupoe uma
acgoe^
que fomos adquirindo através da experiência tal como
familiaridade com temas ou conceitos especiiicos,
íoram transmitidos através das
1 ontes literanas o adquiridos
leitura ou da tradigao oral". Erwm Panoisky,
através da
1982, pp.;4-25.
E^tudos de Iconol onia ,Lisboa , Estampa ,

3 06
de cada imagem, mas tão sô procurar
intrínsecos, a partir
contextos mais gerais que nos possibilitem compreendê-las .

A principal fonte iconográfica das imagens nos dois

fundos é quase exclusivamente bíblica, mas também a encontramos

nos textos de espiritualidade ,


como o Livro das Aves, ou em

obras de caracter didáctico, como vocabulários e enciclopédias .

Antigo Testamento

Moisés

No Alc. 353605, surge um V inicial na abertura ao

Comentário do Levítico,- livro que regulamenta o culto entre

os Hebreus. Deus no tabernáculo, dá ordens a Moisés erguendo


o indicador. Moisés de joelhos, ouve-o com reverência, enquanto
turíbulo langa incenso sobre as personagens. Deus
um anjo com

de nimbo crucifero, surge ,


a meio corpo, do interior duma

um cadeiral, cuja parte inferior é ornada


superfície que sugere

de arcadas (Fig .400-401) .

da arca da alianga. Contudo, neste


A cena poderia ser a

mais fosse Aarão. A cena


caso seria lôgico que a personagem

reportar-se-ia então ao Êxodo ,


mas semelhante hipotese é agui
texto. Neste são claras as
desmentida pelo prôprio
bíblicas de Deus a Moisés: "0 Senhor chamou
recomendagôes
do tabernãculo nestes termos : Fala aos
Moisés e falou-lhe ,

filhos de Israel e diz-lhes..." (Lev.1,1)

,j0,>
Este manuscrito contém um conjunto de comentários
Deuteronomi o
Números Josué e Juízes
sobre o Levítico, , ,

extraídos de S. Jerônimo, S. Gregôrio Magno, Santo Agostinho,


Beda Orígenes, Rábano Mauro e
Santo Isidoro de Sevilha, ,

Gilborto de Londres .

307
de Moisés é a habitual na Idade Média:
A iconografia
vestes longas e com vestes barbas606 .

é sintética, como sempre acontece em


A representagâo
manuscritos de fundos portugueses. Deus junto a Moisés surge

no interior do tabernáculo. 0 iluminador não confere ã cena

carácter narrativo, nem evoca outros aspectos do


qualquer
texto.

0 conjunto é enquadrado por ornamentagão vegetal e as

delicadas são muito expressivas. A pintura é de


figuras,
tal como o desenho. As cores são opacas, excepto nos
qualidade
sendo os contornos a preto e realces a branco.
rostos,
0 Sta Cruz 1 é o manuscrito que nos fornece o maior número

destas repetimo-lo, tão escassas na iluminura em


personagens ,

Portugal .

Jeremias

fl. 160 ã entrada do


Jeremias surge no Sta Cruz 1,
livro 0 facto de se apresentar
Prôloqo do seu (Fig.402).
cabelos brancos, barbas
descalgo, com filactera, aureolado, com

e túnica comprida, coloca-o entre os profetas, embora não haja


nenhum atributo específico.

Daniel

no mesmo Sta Cruz


Daniel é outro dos profetas que surge

fl.260 numa cena historiada. Na cova com os leôes, o


1,
de barbas e mãos abertas sobre o
profeta, nimbado, longas
olha o alto, onde uma ave segura com o bico, um
peito, para

forma de círculo (Fig .403 )


objecto
.

em

mais habitual se restringe ã


Cena pouco comum , já que a

narrativas que contam


representagão de Daniel e os leôes, ou

as a sua histôria ou profecias de forma mais desenvolvida .

■■
Duchet-Sucheaux e Michel Pastoureau La
cf. Gaston
Bihlo et les Saints ...
p. 2 3 3-2 35 .

3 08
Esta cena não corresponde á primeira condenagão de

â segunda, quando Daniel foi atirado aos leôes


Daniel607, mas

dragão. É nesse momento que Habacuc lhe suplica


por ter morto o

refeigão que Deus lhe envia "Então o anjo agarra-o


que aceite a

alto da leva-o pelos cabelos, num sopro até â


pelo cabega e

cima da cova
-

Daniel aceita a refeigão que


Babilonia, por
.

Deus te envia- bradou Habacuc" (Daniel, 14, 34-36). 0 olhar de

Daniel e dos leôes para o alto, sugerem este episodio, no qual

Habacuc é simbolizado por uma ave segurando o alimento no bico.

pensadores cristãos viram em Daniel uraa


Teologos e

de Cristo; a cena da Cova dos Leôes foi


prefiguragão
uma imagem da descida de Cristo aos inf ernos
interpretada como ,

depois da Crucifixão e da sua Ressurreigão608.


de Daniel na Cova dos Leôes aparece também
A representagão
escultura da mesma época, na Charola do Convento
na portuguesa
de dos seus capitéis. Na escultura é tarabém uma das
Toraar, num

raras cenas historiadas, sobre a qual não há dúvidas na

Tal na iluminura, também aqui Daniel está


interpretagâo. como

esculturas da igreja dos


sentado e ladeado pelos animais. As

tem raesmo estilo da escola de Coimbra, da qual são


Templários o

consideradas um dos seus mais perfeitos exemplos609.


este tema foi bastante divulgado, sendo
Na iluminura,
iluminura espanhola. A Bíblia de
particularmente popular na

Roda dispensa a este profeta um lugar muito especial, ocupando


a ilustragão deste livro cinco fôlios.610

607
Daniel é atirado aos leoes por
Na primeira condenagão
de não adorar outro rei senão
ter desobedecido ao édito real
o prôprio rei Dario (Daniel, 6, 117-23).

008
Suchaux Michel Pastoreau La Bible et
Gaston Duchet- e

Les Saints. .
.p. 104-105.

dans l'Art
*°9
Manuel, Sculpture Figurative
L. ,Real- La
Roman du Portugal in Gerhard Graf, Portugal Roman Zodiaque, ,

semelhangas entre
1986 p.58. Este autor refere igualmente as

da catedral com as iniciais


o bestiário românico dos capitéis
de Sta Cruz l,p.56.

p. 76
"10
Walter Canh La Bible Romane ... .

309
0 livro de Daniel apresenta particularidades literárias
de todos os outros livros proféticos. Para
que o distinguem
parte narrativa, gue não o
parte profética contém
uma
além da

Não conta a vida completa


é em si mas era fungão da profecia. se

concentra-se a atengão em poucos acontecimentos


do sujeito mas

o mostrara como conhecedor do f uturo . Na segunda parte da


que
as coisas sobrenaturais
narragáo, Daniel conhece, por exemplo,
vendo e sentindo611.
ou futuras empregando os seus sentidos,

Daniel é além disso considerado um profeta apocalíptico .

pertencem numerosas obras


Este género literário ao qual
não inspiradas foi composto através dos séculos II a.
judaicas
é de preparar a renovagão do
C. e II d..C.61?. 0 seu papel o

mundo, no qual as profecias antigas e tradigôes populares


Grande parte fazia alusão a
haviam difundido a espera .

misteriosos, queda de astros


fenômenos côsmicos, eclipses ,

uma certa tendência para atribuir aos corpos


cataclismos, com

uma institiva percepgâo dos decretos divinos


celestes como que
nos eventos humanos"13.
e uma participagão
esta vertente que estimulou os
Terá sido provavelmente
a darem-lhe um lugar de destaque na
artistas peninsulares
iconograf ia.

Jonas

ao seu
No Sta Cruz 2, fl. 181v aparece Jonas no Prôlogo
medieval de
livro. 0 iluminador não respeitou a iconografia

Torino: Marietti, 1962, pp .

611
P.G. Marietti Daniele ,Roma ,

19-20.

61?
livros deviam circular entre iniciados e
Estes
Daniel coloca-se num
apresentam um carácter de compilagão.
tumultuoso da cultura e consciencia
período de desenvolvimento eie
hebraica. Ao contrário do Apocalipse, a salvagao que
terra er.tre os homens P.o. .

resolver-se na
anuncia deve
RinaLdi, Daniele , ...p.21.

fclî
P.G. Rinaldi DanieJe . . .
, p. 17-18.

310
Jonas e recuou ao tipo de representagão paleocristã61*. No

interior de um S surge um jovem nu. A iconografia esperada


homem idoso barbudo e calvo. 0 seu atributo é
seria a de um

não trata de uma baleia, raas de ura corpo de


ambíguo, já que se

sugere a de um animal marinho


dragâo com uma cabega que

(Fig.63) .

deste tema no mundo românico, é


A imagem mais corrente ,

do atirado do barco e apanhado pela baleia; em


a profeta
coîĩi uma parte do corpo engolida
sequência, noutra cena , surge

prôximo de barco.616
pela baleia, um

Novo Testamento

Cristo

No ciclo da vida de Cristo as únicas cenas que possuimos


da entrada de Cristo em Jerusalém.
sô se iniciam a partir
No Sta Cruz 11, fl. 18 v distingue-se ,
em pé de página,
um desenho da entrada em Jerusalém (Fig.404).
é mais vulgar da época, pouco habitual é
A iconografia a

da inicial. 0 desenho mostra uma certa


o espago que ocupa fora
iluminador que tem um trago seguro a executar
ingenuidade, e o

dificuldades a desenhar Cristo


o animal, mostra grandes
As dificuldades de concepgâo terão levado o iluminador
sentado.

a abandonar o desenho ao lado, devido a desajuste na proporgão.

Esta representagão interpreta a passagem bíblica relativa

a Mateus 21,7: "Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram-

e Jesus sentou-se sobre elas". Nesta


lhes em cima as suas capas

muito simplificada do texto bíblico, é patente o gosto


imagem

614 Michel Pastoureau La Bible et


Gaston Duchet-Suchaux e

les Saints . .
.p. 188

,,ir' na Bíblia dita de 3. Bernardo,


E esta imagera que surge
t. I, fl. 232. 0 profeta na sua viagem
Troyes,B.M. ms .
458,
marinheiros langam
para Nínive é apanhado pela tempestade,
os

no ã água onde e apanhado pela baleia (Jonas,l,2).

311
mais como um signo de algo
pela abstragão, funcionando esta ,

se evoca do que se descreve.


que ,

este tema da Entrada em Jerusalém foi


Na iluminura,
séc. XII. Podemo-lo admirar no belíssimo
bastante divulgado no

do evangeliário de Santa Ehrentrude, por volta de 1140


exemplar
o mosteiro de Nonnberg, um dos manuscritos mais sumptuosos
para
metade do século XII da iluminura românica nos
da primeira
Na iluminura de página deste
países germânicos616(Fig.405J .

a figura de Cristo e do jumento. As suas


livro litúrgico surge

surpreendentes cora o Santa Cruz


posigoes assumem semelhangas
artista executou a cena a partir de
11; o que mostra que este

modelos de grande qualidade!


Na arte portuguesa, esta imagem aparece ligada ao

do Lorvão ( A.N.T.T. ,Casa Forte, 160, fl-120)


Apocalipse
"com palmas nas raãos da grande
(Fig.406 ) , inspira-se no passo:
dizendo: Ao nosso Deus e ao
multidão. . .clamavam em grande voz ,

"
a salvagão. ( Apoc. VII, 9-17).
Cordeiro, pertence . .

não é e é distinta a posigão de Cristo


0 modelo o mesmo,

é habitual no manuscrito do Lorvão


e do jumento. Cristo, como

um adolescente. Esta imagem, mais de acordo com o


surge como

está ausente no Sta


texto bíblico, contém o jumentinho que

Cruz 11 .

Em S. Baudúlio de Berlanga617, no muro setentrional ,

observar o mesmo teraa, raas cora ura sentido narrativo,


pode-se
de nos fala
Cristo desloca-se com o jumento e a jumentinha que

A composigão conduz o
o texto. Os apostolos acompanham-no .

da cidade, do interior da qual as


olhar para a arquitectura
pessoas observam.

Arts de la Couleur in Le Monde


61"
Cf. Frangois Avril Les
Croisades 190
Romane:Le Temps des ... .

617
Monumento prôximo de Casillas de Berlanga,
mocárabe
XII.
orovíncia de Sôria. As pinturas est.áo atribuí.das ao sec.
Ortego
O seu estudo e reprodugão pode consultar-se em Teogenes de
Ermita Mozarabe de San Baudelio en Casillas
y Frias La
Almazan 1987
Berlanga, ,
.

312
0 iluminador de Santa Cruz conhecia, talvez, modelos

destas cenas, como o mostra a coincidência de posigôes dos

representagão de Cristo.
personagens, mas optou apenas pela

Crucif ixão

Cristo está representado


passo da vida de apenas em
Este

Santa Cruz de Coimbra, ao nível dos livros litúrgicos. Para a

época gue estudamos nâo conhecemos qualquer outra imagera cora

a mesma temática.

Saltério Sta Cruz 27: A cena já descrita no capítulo dos

é das raras representagôes de página


livros litúrgicos, uma

existente nos nossos raanuscritos . 0 Missal Sta Cruz 40

(Fig.205) repete de forma bastante simplificada esta primeira


outro
imagem; o Breviário Sta Cruz 62 (Fig.207) apresenta uma

do mesmo tema.
modelo iconográfico
27 fl. XV, podemos observar uma das
No Saltério Sta Cruz
da nossa iluminura(Fig. 255-
representagôes mais bem conseguidas
256). Bora desenho, sera ser excelente, elegante e expressivo,
atitude face ã morte, não a de dor mas a de
dá-nos uma outra ,

uma infinita serenidade que anuncia já a espiritualidade


para o rosto de Cristo:
humanista. Toda a composigão converge

do Sol e da lua, sob os seus bragos, Maria


em cima as figuras
e João. Estas figuras são muito esbeltas e as roupagens caiem

â direita coloca a mão sobre o


com naturalidade. A Virgem
rosto, segundo a tradigão oriental , gesto que na Antiguidade

simbolizava a dor . S. João ã esquerda é o único dos apôstolos


semelhante â da Virgem. 0
a sua posigão é muito
presentes,
do
drama que a cena encerra é-nos dado mais pela gestualidade
dos rostos 618. A forma da cruz é acentuada
que pela expressâo
da figura de Cristo que a envolve. Apesar de
pelo geometrismo

au Moyen Age
Francois Garnier, Le lanqage de l'Image
,
",8

1982 refero-se a este gesto "Nos secs


Paris, Le Leopard d'Or, numa
XII XTTÍ XIV, a Virqem e S. João ao pé da Cruz,
o
posígão estavel
e exprimem por este unico gesto
diqna,
invade a sua alma"p. 184 .

intenso desgosto que

313
estarem a seu lado, a Virgem e S. João, Cristo é envolvido por

uma imensa solidão gue sô é quebrada pela representagão dos

ciclos côsmicos e astrais. A posigão do rosto- exactamente na

intercessão dos bragos da cruz- é o local onde não há nem

é lugar de passagem ou de comunicagão


tempo, nem mudanga ,
o

simbôlica entre este e o Outro Mundo61*. Uma barra azul

vertical, acompanha a figura de Cristo, duas horizontais a do

sol e da lua620. A cor azul gue acompanha Cristo e a lua pode


simbolizar a noite, a morte e as trevas que envolveram a Terra

no raoraento da morte621 ,
corao tarabém ser o símbolo do prôprio
Filho, manifestagão das águas originais e das águas vivas da

vermelho envolve o sol pode ainda sirabolizar


graga622. 0 que

fogo devorador é Deus Amor, o sangue


o prôprio Verbo, o que

Cristo verte para a salvagão de todos...62:


purificador que

619
Jean Chevalier, Dictionnaire des Symboles ,11 V, Paris
:Seqhers 1973. p. 150.

bíblica
presenga do Sol é justificada pela passagem
620
A
envolvida trevas momento
que refere que a Terra seria por no

da morte de Cristo (Mateus, 27, 45; Marc.,15, 33; Luc.23,44).


Este acontecimento teria luqar do meio dia âs três da
tarde o
do Sol A presenga da lua é mais
que justificaria a presenga
.

dificilmente explicável talvez esteja ligada â necessidade de


equilibrar simetricamente a composigão. A representagão
tem as suas origens
antropomôrfica destes dois astros a ver com

sua representagão
pagãs, onde tinham um significado funerário.A
fazia-se muitas vezes através dos bustos de Hélios e

Artemisia.In Louis Réau Iconographie de L'Art Chrétien


Tomo ,

II, Paris:P.U.F. ,1957, p. 486.

Idade
021
Horácio Peixeiro 62 .Psalterium in Nos Confins da
Média. .
.p. 160-161

Sacre des Couleurs


622Roland Maisonneuve Le Symbolisme
chez deux Mystiques Medievales -.Hildegarde de Bingen;Julienne
Senefiance n-24 Aix
deNorrwich in Les Couleurs au Moyen Âge
en Provence, Publications du C. U E. R. M. A. .
,
1988 , p.256.Este
autor cita também um texto de Hildegarda de Bingen em que esta
refere a forma humana, cor da safira, sem nenhum trago de
que
designa o Filho criado
imperfeigâo, de desejo ou iniquidade,
em sequida encarnado no tempo,
peio Pai, antes do tempo ,
mas

vias Dommi (II, 2/).


segundo a humanidade" .Sc i
'•'■
Roland Maisonneuve Le Symbolisme Sacrv des Couleurs
. . .
p. 261

: o
A figuragão de Cristo na Cruz generaliza-se apôs o Ano

Mil assiste â transf ormagão da cruz


624, época que em

pintada ou em relevo (ouro, marfim,


crucufixo, na figuragão,
madeira ou metal) de Cristo crucificado. Do único signum da

cruz, passa-se â imagem do crucificado; imago crucifixi . Esta

receber relíquias e é objecto de práticas


imagem pode
devocionais e litúrgicas intensas.

Esta evolugão não se reduz a uma transf orraagão de formas

traduz mudanga considerável na sensibilidade


plásticas, uma

promogão da ideia de humanidade de Cristo,


religiosa: a que

conduz â sua contemplagão morto na cruz ,


e não somente å

de Deus julgando os homens no fim dos tempos626.


majestade
Apesar da reacgão de alguns heréticos esta imagem vem a

impôr-se no Ocidente Medieval para justificar a sua

representagão .

Gerardo de Cambrai defende que a cruz deve ser

interpretada como uma prefiguragão de Cristo crucificado. Esta

imagem permite igualmente a edificagão dos iletrados, gue vendo

pintada a Paixão, adorarão a Cristo. Este autor relaciona esta

identif icagão com a divulgagão da atitude de Sto André que se

colocou sobre o madeiro da cruz para se identificar

completamente com Cristo.

"A contemplagão da imagem visível do Salvador crucificado

fará mais instruir o povo; animará o espírito interior do


que

homem e inscrever-se-á na membrana do coragão, de tal maneira

primeiros tempos do cristianismo até ao séc. V/VI


624
Nos , ,

a crucificagão era simbolizada pelo cordeiro místico. A partir


desta data, representado na cruz entre os
Cristo passa a ser

ladrôes ou sô, nu e Esta modificagão deve-se a razôes


imberbe.
de caracter teolôgico e estão ligadas ã necessidade de corabater
o monofisismo reafirmando a Encarnagâo. S6 no séc. XI, Cristo
reflectindo as transf ormagôes de
passa a figurar morto
sensibilidade e estéticas gue se fazem sentir noOcidente no

Chretien, Tomo
séc. XII. Louis Réau, Iconographie de l'Art
II . .
.p.475-
'--
Jean-Claude Schmitr L'Occid^nt, Nicee II et les Imaget;
du Vlle au XlIIe Siécle in Nicee II: 787-1987 ... 282-283

315
si mesmo a sua dívida em relagão ao
que cada um reconhega em

Redentor"626.
aspecto bem interessante no contexto
Este tema apela a ura

da estética medieval: ã arte como emogáo, e não apenas como

instrumento didáctico.

Na arte espanhola, o primeiro exemplo conhecido da

crucifixão é o do Beato de Gerona, datado do séc. X

o teraa a partir do séc.XI


avangado627, popularizando-se
(Fig.408) .

Esta representagão, contudo, nada tera a ver cora as

crucifixôes dos saltérios conimbricenses .


Aquela inclui também

a crucifixão dos dois ladrôes, as personif icagôes do Sol e da

de esponja, ausentes neste fundo.


Lua, e o portador
Mas â medida se avanga no Românico, até ao séc. XII,
que

simplif icam-se as Crucifixôes, reduzindo-se o acompanhamento


ã Virgem, João, Sol e Lua .

Em livros litúrgicos uma das primeiras representagôes de

Cristo na Cruz a acompanhar o Cânon surge no Sacramentário de

( B.N.Lat. 1141 fl. 6v.), manuscrito da


Metz (Fragmento) Paris, ,

escola da corte de Carlos o Calvo, produzido cerca de 870"28.

Neste folio de Sacramentário é Cristo que se inscreve no T do

Te Igitur, encimado das personif icagão do Sol e da Lua .


Cristo,
nesta vivo, glorioso com nimbo
como é comum época , aparece

vestido apenas com o perizonium, tendo sobre os


cruciforme, e

626
enim truncus ligneus adoratur
C Non sed
PL 142,1306 : ,

per illam visibilem imaginem


mens interior hominis excitatur,
in
in qua Christi passio et mors pro nobis suscepta tanquam
membrana cordis inscribitur, ut in se unusquisque recognascat
quanta suo Redemptori debeat )..."

'-"'
J. Yarza Luaces ,
La Crucifixion en la Miniatura
XI XTI in Archivo Espahol de Arte XLVII,
Espahola.Siglos e ,

1974. p.13.

"-'"
Destinado a completo, o manuscrito
ser un. Sacrament ar i o

ficou incompleto e contem apenas resumido, o Prefácio um Ordo


e as Oragôes e o Canon. in P^intur^ Carolingienne Paris:Chéne,

1977, p.27

3 16
Rodeado de luxuriante vegetagão de acantos
pés uma serpente.
dourados e uma barra púrpura recebe as letras gue terminara o

Te Igitur (Fig.193) .

Proximo da iconografia do nosso saltério está a crucif ixão

de um documento da Câmara de Computos de Pamplona629


.410 Tal a iraagera de Sta Cruz, tarabérn este contéra
( Fig ) . como

Cristo morto na Cruz ,


a Virgem e João chorando, o Sol e a Lua

humana e distintivos de chamas. Esta imagem,


com cabega
é mais tardia: oscila entre 1221 ou 1231.
contudo,
Apesar de todas as diferengas estéticas que marcam as duas

termos iconográf icos não estão muito afastadas.


Lmagens, em

0 Missal Votivo Sta Cruz 40, possui no fôlio que antecede

o Te Igitur, fl.30, uma representagão simplificada contendo

apenas o crucificado. 0 desenho está rauito prôxirao do Saltério

27, sô o iluminador revela menor qualidade como se pode


verificar no desenho do corpo .

Outra modificagão estã na posigâo das pernas, que aqui não

cruzados, estando ausentes tarabém o supedáneo e a


aparecem

imagem da serpente.
As cores são diferentes, mantendo-se a tendéncia deste

contornos
mosteiro para serem apenas delineados os e pequenas

0 nimbo ter sido repintado sendo ainda


superfícies. parece ,

visível o trago inicial do cabelo.


0 Missal Sta Cruz 62 fl.l77v poderá ter coino modelo o

Sta Cruz 27, ou copiar um modelo mais antigo, como nos sugerem

do Sol da Lua são indicio de


os rostos personificados e , gue

uma tradigão que remonta â época paleocristã, seguida na época


mundo românico. 0 desenho
carolíngia, tendo-se generalizado no

é mais ingénuo que os dois exemplos anteriores; a utilizagão


confere-lhe ura aspecto arcaizante.
do verraelho e sépia
assinalar do livro que
Iconograf icamente temos a a presenga

acorapanha as figuras de Maria e João.

Descrito e reproduzido em J. Yarza Luaces ,

crucificaxiôn en la Miniatura Espahola. .


.fig 15 e p.37

3 17
A ausência desta temática na escultura ou qualquer outra
da mesma época em Portuqal, não nos permite
arte plástica
avaliar da suas repercussoes nem da sua qenealogia. Os exeraplos
são igualmente inconclusivos para determinar com
peninsulares
precisão os raodelos.

Ressurreigão

Imagens de Cristo ressuscitado aparecem


no Homiliário, Sta

Sta Cruz 70.


Cruz 4 e no Evangeliário
A Ressurreigáo surge no fl. 123 do Homiliário num ciclo,
é bastante vulgar na época. Esta cena de
cuja iconografia
carácter narrativo-simbôlico , que antecede imediatamente as

dia de Páscoa encontra-se mutilada; o fôlio foi


homílias do ,

deixando três cenas interrompidas( Fig. 304-


cortado ao meio,
307 ) .

homília sobre o Evangelho de S. Marcos,


Apesar de ser uma

encerra a descricão dos episôdios desenhados


o texto que
S. João 20, 1.
remete-nos para o Evangelho segundo ,

Da primeira, temos apenas a representagão do anjo que pela

diz a Madalena: "Mulher por que choras", ao que


gestualidade,
levaram o meu Senhor e não sei onde O
esta responde "porque

puserara". A cena cortada seria a que corresponde â interpelagão


de Cristo. No canto esquerdo ,
ainda é visível, meio cortada,

a figura de Cristo que dá passagera ã narragão seguinte.


faz das descrigôes de
Contudo, o anjo anunciador parte

Mateus e Marcos e não consta em João. Neste manuscrito, a pedra

tumular e o anjo que indica o sepulcro vazio, aparecem

arquitectura que deverá simbolizar a capela


enquadrados por ,

tumular de Cristo em Jerusalém.

318
cena narra a aparigão de Cristo a Maria
A segunda ,

Cristo dizer-lhe: "Não me detenhas


Madalena. Nela, parece ,

ainda não subi para Meu Pai ,


Meu Deus e vosso Deus""°.
porgue

Depois da descida ao Limbo, seguir-se-ia esta aparigão, logo


de nova interrupgão, onde possivelmente o
seguida uma

iluminador teria representado a aparigão aos Apôstolos.


Finalmente, sobre arcada de volta inteira, surge

incredulidade de Tomé. Cristo com o


brago
representada a

levantado mostra as chagas a Tomé que , ajoelhado, coloca o dedo

sobre o seu corpo de acordo com as palavras: "Chega aqui o teu

dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mâo e mete-a no meu

"
crente ( S. João, 20).
peito; e não sejas incrédulo, raas .

historiado é praticamente único no contexto


Este conjunto
do românico português. A representagão humana é cuidada, o

desenho razoável, e os personagens são muito expressivos pela


(as mãos do Anjo, da Virgem e de Cristo
sua gestualidade
deixando-nos adivinhar a frase que vâo pronunciar) .

São figuras cheias de dignidade e de humanidade que dâo

vida ao acto da Ressurreigão . 0 artista, como nas histôrias de

faz-nos seguir a sucessão de episodios que


banda desenhada,

sô são interrompidos pelas divisôes horizontais. As cenas

desenrolam-se, em interiores emoldurados por arcos


quer

em cenas ao ar livre, como nos mostra a


lobulados, quer
de cachos Maria Madalena de
árvore, carregada que separa

Cristo.

lobulados encerram a priraeira banda, assira


Os arcos que

como as torres que os encimam, figuragôes da Jerusalém Celeste,

ibéricos do séc. XII. 0 ms 1


estão presentes era raanuscritos .

do Arquivo da Coroa de Aragão, Liber Feudorum Maior , enquadra


do livro um arco do estrutura
a cena da dedicagão por

também versáo do Evanqelho do


ilustrar a
"10Esta cena pode
"em Cristo afasta Maria Madalena "Não me
Marcos, 16, 9 nuo

meus discipuios e diz-lhes que subo pa


: a
mas os
toques, procura
meu Pai. ."Eí.tu é uma das i nterpretacôes mai.. .mtigas
do. Madalena e Crir.to nest u
justifica plenamente os gestos
i luminura .

319
semelhante ao manuscrito conimbricense. Também a cena da

das Três Marias na Bíblia de Ávila631,


aparigão surqe

uraa arquitectura seraelhante. Estes arcos


enquadrada por

lobulados embora ausentes do Românico europeu, são frequentes


na arquitectura árabe e arménia, provavelraente circulariam era

fundos arquitectônicos de pegas da arte môvel e podiam mesmo

ser observados por alguns dos iluminadores, monges que através

da pereqrinagâo tinham acesso a culturas longinguas gue a ida

a Jerusalém pressupunha.
0 último episôdio narrado -

A dúvida de Tomé— -, tem,


ao nível da coraposigão, semelhangas claras com a escultura do

mesmo tema do Claustro de Sto Domingo de Silos, não sendo

conhecida nenhuma fonte iconográf icaf Fig 411) . .


Meyer
Schapiro633, atribui em relagão ao baixo relevo do pilar norte

ocidental , persistências mogárabes na impessoalidade e

disposigão dos Apostolos, que se ordenam era fila nura único

plano. Ora ,
o artista do manuscrito de Coimbra, baseia-se

exactamente nesta cena ; introduziu-lhe uma dinâraica já


românica. Contudo, o elemento de inovagão iconográfica referido

pelo mesrao autor -


homens gue tocam cornos e mulheres que

tangem instrumentos musicais, com características profanas-,


não está presente no Sta Cruz 4. Nas três cenas, o artista tem

uma preocupagão de acrescentar linhas oblíquas, para dar

vivacidade ãs cenas e imprimir-lhe moviraento e expressividade .

manuscrito de origem italiana foi terminado em


"31
Este
Biblioteca Nacional de Madrid a cota
Tem Ms Vitreo
Espanha. na ,

foi executado sécs XI e XII, com 435 fls.mede 579x388


15-1, nos

além de outras as da vida


e 58 linhas, recebeu en Espanha cenas

de Cr isto.Cf. Martin de la Torre e Pedro Longâs Catalogo de


i:orfices Latinos:Biblicos T.I, Madrid, Biblioteca Nacional, ,

1935, pp. 31-39.

"'-'
remonta séc. V e tem
A representacão deste episôdio ao

outra como
duas versôes: uma que aparece como ostentagão e

da É somente no fim da Idade Média que esta


palpacão chaga .

'
de 1 Art
ũltima se general iza . In Louis Réau Iconographie
Chrot ii>n. T. I I , p. 568-60'.

Moyor Sciapiro, Esturfios sobre el románico , Madrid,


A L i a r= v a 1 'or ma ,
19 8 4 .
pp . 3 7-119.

320
Veja-se a posigão da pedra tumular, no primeiro quadro, a

da Maria Madalena, e especialmente o cair da


posigão manga

e a posigão entre Cristo e S. Tomás.

Pouco comum também é a forma da cruz (cruz da Aquitânia)


que segura Cristo.

0 raesmo tipo físico, horaem moreno e barbudo, aparece

também na Bíblia de Ávila( Fig . 412 ) e em outros bíblicos

assim em biblias românicas da zona do


hispânicos, como

Mosa"3".

No Evangeliário Sta Cruz 76, surge no fl.l05v uma

personagem de cabelos longos aureolada, vestindo túnica e

manto (Fig .413 ) .


Segura numa mão um livro, enguanto na outra,

mostra um plausível sinal das chagas. Imagem estranha, de

desenho ingénuo, sera vestígios de pintura corao acontece com

muitos outros do mesmo manuscrito. Parece tratar-se de Cristo

da Ressurreigão.
A festa que interpreta é o Dia de Páscoa (In Die sanctam

Pasche) . Este título, ao contrário da imagem, é polícromo.


0 rubricador utilizou o vermelho, o amarelo e overde . 0

rosto comprido e os olhos de grande abertura , sugerem-nos uma

copia de manuscrito mais antigo.


A escrita reporta-se a finais do séc. XII, inícios do

XIII.

Cristo Juiz

0 Homiliário, Sta Cruz 4, inclui uraa outra teoria de

imagens que ocupa o último fôlio, que nos surpreende pela

originalidade no contexto da arte românica portuguesa.


tâo cena
A ligagão ao texto não está prôxima como na

última festa do calen.lario litũrqico deste


anterior, ja quo a

manuscrito diz respeito â dedicacão da Iqreja. Contudo, se

sequnda Biblia de Loon apresenta um tipo I isico do


"3*
A
Cristo muito semelhanto /,C(>n, C-.rfegiata oV Sant<< isirforo,
cod 1 ,tal conio a Bíblia do SainL -Marie du Parc, Londros
.
Br it. ,

Libr., Add. 1-1788 e o bíblico Sta Cruz 1.

321
tivermos em conta que o momento imediatamente anterior é o do

25* e último Domingo depois de Pentecostes, onde termina o

ciclo litúrgico (o ano eclesiástico e com ele a histôria do

mundo), iniciando-se a passagem â Jerusalém Celeste, estas

representagôes ganham significado, ligando-se ao tema da

Ressurreigão que acorapanhava a festa da Páscoa .

As imagens são um tanto enigmáticas devido ã identif icagão


dos que ocupam as duas ordens das arcadas.
personagens
Nas duas primeiras bandas doze figuras vestidas de longas
túnicas e mantos gue lhes cobrera a cabega estão dispostas sobre

arcadas, seguram objectos que se assemelham a caixas relicários

guardar perfumes ou ôleos.


ou recipientes para

Na última banda Cristo em majestade mostra o livro rodeado

de seis personagens aladas sumptuosamente vestidas gue sugerem

o vestuário bizantino imperial.


Os arcos ultrapassados gue enquadram as doze personagens

cônicos lembram-nos a época mogárabe. 0


e os capitéis
carácter sumptuoso dos anjos e o tipo da coroa com pendentes

remetem para a corte bizantina e monarcas visigodos63S. 0

iluminador construiu uma imagem em três bandas horizontais,


embora saliente mais o carácter simbôlico que o narrativo.

No lado verso do mesmo folio são representados seis aves

fila serafim que ocupa sensivelmente o meio


em horizontal, e um

do fálio (Fig. 309-312) .

as
Dificuldades de interpretagão levam-nos a apresentar
várias posibilidades de leitura iconográf ica .

A primeira proposta por C.A. Ferreira de Almeida,

considera "Merece revelar-se a iluminura extensa


que:

(f 1.3 29), onde se representa, em três faixas, a maiestas Domini

e a Jerusalém celeste. Temos aí a reprodugão de uma visão

","-
iguais pendentes mostram os
Carácter majestático e

do séc. XI),
anios do fresco do absidíolo direito (último tergo
perto do
da i-areja de Sant'Angelo in Formis . Neste templo,
as influências bizantinas sáo claras. In Andre Grabar
Capua,
o Karl Nordenfalk, La Peinture Romane , Paris/Geneve , 1958, p.
'J 5 .

322
extremamente plana, mostrando nos dois registos
mental,
doze portas da cidade Apocalíptica, de arcadas
superiores as

ultrapassadas, com a figuragão das tribos de Israel, uma delas

em cada entrada. Na parte de baixo vemos Cristo de pé, rodeado


seis nobremente vestidos, o honram e servem"b3,0
de anjos, que

Esta leitura adapta-se âs iraagens representadas e não poe era

causa o número das personagens.


doze é de
A segunda hipôtese, para as personagens, a que

se se tratam das virgens Loucas e Virgens Sábias.

0 bíblico, no qual esta cena se insere comega com :


passo

"0 Reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando

saíram encontro do esposo." Segundo S.


as suas lâmpadas, ao

Mateus (25, 1-12), dez jovens esperam o esposo. Logo que ele

tém lanternas guarnecidas de oleo alumiadas;


chega, cinco as e

as outras cinco não se muniram a tempo de ôleo e as suas

lanternas permaneceram apagadasrsão as virgens insensatas ou

"loucas". 0 relato acaba com as palavras "Vigiai, pois, porque


não não sabeis nem o dia nera a hora." (S. Mateus, 25, 13).

Pressupôe-se o dia e a hora do juízo final, e a esta cena

seguir-se ia: "Quando o Filho do Homem vier na sua glôria,


todos os Seus anjos, sentar-se-â então no seu
acompanhado por

trono de glôria" (Mateus , 25,31). No fôlio verso temos as

visôes de Ezeguiel.
Os anjos convergera para Cristo numa atitude de adoragão,

de quem se dispôe a erguê-lo para o Além. Esta representagão


dos palabras de André Grabar "Os bizantinos
anjos evoca-nos as

da Idade Média não representavam já os anjos volantes que levam

o céu o retrato de ura vencedor raas imaginara-nos de pé ,


para ,

com os pés em terra , flangueando o retrato do soberano divino,

ao qual servem por meio da contemplagão permanente""*7.

"'"
In C. Ferreira de Almeida, O Românico in Historia da
A.
Arte em Portuqal T. III, Lisboa, Alfa, 1986, pp. 171-172
,

"'
André GrabarLas vias de la creacion en la iconografia
cristiana. .p. 149 . .

323
Ficariam por explicar as doze personagens em vez das dez,
erabora a primeira figura coroada pudesse ser identificada com

a Virgem, que também surqe associada a esta temática638. A

outra personagem podia ter sido colocada para assegurar a

simetria .

Os objectos gue as personagens segurara poderiam ser as

candeias, embora não seja evidente as que estão acesas ou

apagadas .

A gestualidade das mãos que se traduz em aceitagão, tanto

podiam ser prôprios das Virgens Sábias, como dos Apôstolos.


Ambos aparecem representados em idêntica posigão639, assim

como as mãos são colocadas da mesma forma.

Em S. Margal de Limoges, teatralizava-se desde inícios

do século XII, a parábola das Virgens Loucas e Virgens Sábias.

Este drama teria estimulado os artistas ã sua representagão em

esraaltes. Neste século, a iraagera era já famosa no Sudoeste da

Franga, exactamente a zona de que este manuscrito sofre

influência na ornamentagão. Como no drama nesta região, as

figuras seguram candeias, e não as tochas de influência

oriental.É nas provincias vizinhas do Limousin e do Poitou, que

está temática mais se generalizou acabando por penetrar na

Franga do Norte640.

A terceira hipotese interpretativa, parte dos objectos


e identif ica-os como recipientes para conter ôleos e

638
Gaston Duchet-Suchaux ,
Michel Pastoreau La Bible et

les Saints ...


pp. 309-311 .

*3C*
Esta atitude pode observar-se no Apostolado da Igreja
de S. João Baptista .Museu Diocesano de Jaca .
reproduzida em

Sureda La románica Espaha Madrid Alian/a


Joan pintura en , ,

Editorial, 1989. p. 185.

b4°
Emile Måle, L'Art Religieuse du Xlle Siecle en

France. . .
, pp. 148/14 9.

324
perfumes, já que são muito semelhantes aos que ostentam as

Três Marias do fresco da ermida de S. Baudúlio de Berlanga.641


Estaríamos perante uma remota representagâo das Santas

Mulheres e da Virgem.
Num capitel de Mozat642 a visita das Santas Mulheres ao

tûmulo é associada ã Ascensão e â Ressurreigão"43, o que está

de acordo com a cena representada . 0 facto de serera, segundo


os evangelistas, três mulheres (Maria, Maria Madalena e Maria

mãe de Santiago)644 ,
não obsta a que possa ter sido

representado, por necessidade de composigão, um outro número

neste caso simbolico.

Nos numerosos exemplos, apresentados por Émile Mále, na

escultura figuram invariavelmente três.645.

Numa sequência lôgica com a cena anterior, surge Cristo

com os Apôstolos. Estaremos perante um tema da ascensão, no

gual Cristo é levado pelos anjos para o céu, corao está descrito

no Acto dos Apôstolos?


Nesta hipôtese, as imagens sobre arcadas seriam as dos

Apôstolos, apesar de não ser a habitual cena do Pentecostes com

a presenga do Espírito Santo. Assim, a figura que surge coroada

seria a da Virgem gue acompanha os onze apôstolos, já que Judas

estaria ausente apôs o episôdio da traigão.

641
Esta imagem actualmente no Museu de Boston aparece
reproduzida em Joan Sureda La pintura románica en Espaha,
Madrid, Alianza Editorial, 1989, p.85

"*'"
0 igreja do Languedoc vera reproduzido e
capitel desta
estudado Focillon,
em Art d'Occident
Henri Vol. II,
Paris:Armind Colin,1938. p.289, figs 230,232.

""'
Gaston Duchet- Sucheaux, Michel Pastoureaux La Bible et
les Saints . .
.pp. 145-146.

do Mateus Maros ( Mt 28, 1-


Segundo os Evangelhos e .

10, Mc. 16, 1-8)

"""'Emile Mâle L'Art Religieuse du Xllemo siecle on Franc^


. .

.pp. 125-139.

3 25
A guarta hipôtese é formulada por Aires Augusto do

Nascimento, com base numa imagem de um evangeliário irlandês,


conservado em S. Gall646 (Fig.414). Tratar-se-ia de uma

representagão da vinda de Cristo no fim dos tempos para julgar


o mundo. Nestes codices, as cenas estão invertidas.No
manuscrito de Saint Gall, numa primeira banda, Cristo em

majestade, em meio corpo, está ladeado de dois anjos; em baixo

os doze apôstolos gue seguram o livro e olham na sua direcgão.


0 único problema desta interpretagão continua a ser o

objecto que os apôstolos seguram. No manuscrito de S. Gall, a

sua forma indica claramente um livro; no homiliário de Santa

Cruz é com dificuldade gue o identif icamos como um saco onde

este estaria contido.

Apesar das diferengas estilísticas e em particular das

imagens dos dois manuscritos ,64 a iconografia está muito

prôxima .

No lado verso do homiliário Sta Cruz4, fl. 329v uma

imagem simbôlica: Um serafim ocupa sensivelmente metade do

fôlio9, seis aves aureoladas encimam-no, corao que reforgando


o etéreo e a simbologia das asas.

Estamos face a interpretagåo da primeira visão de

Ezequiel- "No meio dela distinguia-se a imagem de quatro seres

que se asseraelhavara a seres huraanos . Cada um tinha quatro faces

e cada um tinha quatro asas.As suas pernas, perf eitamente


direitas, tinham cascos como os dos bois e cintilavam como o

cobre polido. Por debaixo das suas asas saiam mãos humanas.

Cada dos quatro lados tinha as duas faces e suas asas. As asas

tocavam uma na outra ( . . .


) .

°1,"StiBiSG, Cod. Sang. 51, Fl 267 reproduzido em L'AM>aye .

rfe .Rayonnement spirituel et culturel dir. Werner


Saint-Gall
Vogler, Lausanne, Editions Payot 1992. p. 131. ,

0 iluminador Evangeliario utiliza o processo de


de
simpli ( i cagáo do imagom tipicamente irlandôs. F'ĸjuras ostáticas
o linoares. Rostos de grandes o I hos o membros reduzidos .

Sistemas de linhas criam ritmos expressivos.

3 26
"Quanto ao aspecto das faces, os quatro tinham ã frente,
face de leão, ã direita,
uma face de homem, todos os quatro uma

todos uma face de touro, â esquerda e todos quatro uma


quatro
Tais eram as suas faces.As asas estavam
face de águia.
alto; cada um tinha duas das suas asas
estendidas para o

â outra e duas a cobrir-lhe o corpo (...) Ora,


juntas uma

contemplava estes seres, vi na terra, ao lado de


enquanto eu

cada um dos quatro, uma roda (Ezequiel, 1, 5-15).

As aves aureoladas significam provavelmente os estados

superiores do ser"48. 0 serafim, segundo Dionísio, o

querubins, o cume da hierarquia


Aeropagita, ocupa tal como os

celeste. Há assim, uma relagão de sentido entre a Ressurreigão,


o Juízo Final, e um estado espiritual superior.
Nesta imagem, o monge, num único olhar, podia estabelecer

múltiplas, elevar o espírito do mundo material ao


relagôes
mundo imaterial649.

Ao contrário da cena da ressurreigão ,


na qual o carácter

narrativo é acentudo pela gestualidade e movimentos adequados

âs nesta, tudo se passa ã maneira bizantina: 0


personagens,
ideia
hieratismo e simetria quase absolutos transmitem-nos uma

de transcendência e de sagrado. Os rostos são inexpressivos


e os gestos reduzidos ao mínimo. Paradigmática desta intengão
é a figura de Cristo em majestade.
So as arcadas e as asas dos anjos imprimem ritmo â

cena.Não é apenas a atitude gue nos lembra Bizâncio, mas o

sugere as
prôprio vestuário utilizado pelas personagens gue

648
Deuses são sustentados por seres
"Na raedida em gue os

da Bíblia), as aves são de certa


voadores ( como nos anjos
símbolos vivos da liberdade divina, libertada das
forma os
.T
contingências terrestres" in Dict ionnaire rfes Symboles . . .

III, p. 308-309

Aeropagita, como já ref erênciamos dcfende


M"
Dionísio
vai
esta funcão da imagem, também um seu oontinuador Suqer
terizar sobre esta questão em Lihor de rebus in administratione
Abbot Suger On the
sua gest.is, XXXIV, ed por E.Parofsky, . ,

Denis and its Treasures ,Princeton, 1946,


Abbey Church of St .

p. 72.

3 27
vestes da corte iraperial: as túnicas de homens e
mulheres,
assim como os motivos trabalhados. Na cabega, o stemma, que

possui uma forma "evasée", os pingentes e correntes, segundo


uma moda oriental.

A gargantilha, nas personagens do homilário está reduzida

ao mínimo, como as que eram usadas pelos súbditos de

Justiniano6"0.
Estas cenas do homiliário, corao as do Apocalipse do Lorvão

reflectem a tendência ao linearismo da iluminura românica em

Portugal6*'1. Esta tendência, faz-se sentir claramente no

de Santa Cruz de Coimbra. Em todas as obras de


scriptorium
melhor qualidade, nunca os artistas recorreram a valores

onde volumetria imperasse. Pelo contrário, foram


plásticos a

extremamente sensíveis âs virtualidades da linha, no cuidado

posto no desenho que subordina a pintura.


geral, fundos. As imagens
A policromia limita-se, em aos

ornamentos são delineados ou pintados com leves


e os apenas

aguadas .

A ausência de pintura mural, neste período em Portugal,


estabelecer comparagôes com outras
nâo nos permite
representagôes locais.
Talvez nunca venhamos a saber qual foi o ambiente cultural

repercussôes tiveram nas


que suscitou estas imagens, nem que

artes plásticas românicas . Considerando mesrao que as

crucifixôes se harmonizavam quer com os livros litúrgicos, quer

mosteiro, certo é gue


com a propria dedicagão da igreja e o

estas imagens são ambíguas na sua signif icagão.

Occident
Frangois Boucher Histoire du Costume
"6°. Cf. en

de l'Antiquite a nos Jours Paris: Flammarion, 1965 ,


.
pp. 149-152 .

"51
do Lorvão, este côdice é ura
"Como o Apocalipse
de estilo linoar e um ponto chave para
monumento da miniatura
do linearismo a mancha pincel
a na arte
o conhecimento para
livro em Santa Cruz e em Portugal" in C.A.
de decorar o

O Românico in Histôria rfa Arte em


Ferreira de Alraeida,
Portugal . . .
p. 172 .

3 28
Não encontramos modelos similares noutros manuscritos, ou

era outras expressôes artísticas, o que dificulta qualquer


tentativa de estudo iconolôgico.

3 29
Cristo em Majestade

0 Alc. 238 e o Sta Cruz 34, ambos exeraplares do De Avibus

de de Folieto, contêm uma representagão de Cristo em


Hugo
6B2
majestade (Fig.123 e 132).
No Sta Cruz 34 fl. 34v, Cristo em majestade faz o gesto
de bengão com a mão direita, enquanto com a esquerda segura o

cruciforme. Apesar de ter a posigão de sentado, está


ceptro
ausente o cadeiral.

No Alc. 238 fl. a posigão de Cristo é semelhante. Estas

duas imagens inscrevem-se num esquema que segundo o texto que

as rodeia representará o cedro. Das imagens que nos foi dado

observar653, as dos nossos mosteiros seguem o mesmo tipo de

do cedro de Bruges proveniente de Les Dunes


representagâo
(Seminario Maior,Ms 89/54 fl.45)654.
Contudo, em Alcobaga, apenas seis aves se dispôem em seu

redor criando uma situagão de assimetria, enquanto em Sta Cruz

são sete as aves representadas .

0 Cristo em majestade do mosteiro do Lorvão, (A.N.T.T.

Casa Forte 90 fl.21) apesar de apresentar semelhangas

signif icativas com estes dois manuscritos, mostra uma imagem


de Cristo muito prôxima da do Apocalipse do Lorváo. Cristo

imberbe, abengoando com a mão direita, mas segurando o


surge
147 ) De resto quanto â imagem do
livro com a esguerda (Fig. .

cedro e das aves segue o manuscrito de Sta Cruz .

652
Esta imagera baseia-se nuraa passsagera biblica
16,17) "As árvores do Senhor estão cheias de
(Salmos, 103,
seiva ,

Assim como os cedros do Líbano que Ele plantou. Ali as aves

fazem os seus ninhos".

6"
Reproduzidas era Willene B. Clark, The Illustrated
tho Gesta, 21
Medieval Aviary and Lay-Brotherhood ,

( 1982) .pp.73 .

"-"•WilleneB.Clark The Illustrated Medieval Aviary anrf


Gosta 21 (1982) Nest.e a copa
tho. T.ay-Brotherhood in p.69.
da í'orma iio mandorla, estando o
da árvore aproxima-se uma

prôprio Cristo dentro de outra.

330
Em relagão â técnica do desenho e da pintura as

são evidentes. o Sta Cruz 34 é produto de ura


diferengas
iluminador de melhor qualidade que alia o domínio do desenho

da Em Alcobaga a imagem é ingénua e está muito


ao pintura.
do manuscrito claravalense já referido em
capítulo
prôxima ,

anterior .

No manuscrito alcobacense, Cristo surge imberbe tal como

Lorvâo e é desenhado de forma muito esquemática.


acontece no

No manuscrito de Santa Cruz de Coimbra, pelo contrário a

imagem de Cristo é de grande dignidade, aproximando-se pela


do artista do Sta Cruz 1.
qualidade
Contudo, há uma aproximagão curiosa quanto â pintura que

nos faz repensar a questão dos raodelos.Já colocaraos em destaque


entre Santa Cruz e Alcobaga quanto â iconografia
as semelhangas
de Cristo. Idênticas conclusoes se podem retirar do confronto

das cores e os espagos pintados.


Em ambos os manuscritos as cores utilizadas såo o verde,

a estrutura da árvore, o vermelho para o fundo e o verde


para

para o manto de Cristo.

de todas as semelhangas entre o manuscrito de Santa


Apesar
Cruz e o do Lorvão, a figura de Cristo distingue claramente a

iluminura nos dois mosteiros.

Lorvão temos um Cristo adolescente, cujo tipo é


No

claramente o do Apocalipse, feito pela mesma mão ou por alguém

da mesma escola. Além disso sô os fundos são pintados, o que

constitui mais um elemento de aproximagão ao Apocalipse, caso

desta imagem não estar inacabada.

outras representagôes de Cristo


0 facto de não possuirmos
em majestade em manuscritos desta época em Portugal ,
se

exceptuarmos o Apocalipse do Lorváo, não nos permite ampliar


tivemos também acesso a um
outros estudos comparativos . Não

número de imagens de De Avibus.


amplo

331
é, contudo comum aos Cristos em
Esta iconografia ,

representagôes da pintura catalã românica e


Majestade nas

tem antecedentes nas representagoes bizantinas e carolíngeas.

Virgem

dos a Virgem é objecto de uma


No imaginário monges ,

entre cistercienses lhe


profunda devogão nomeadamente os que

dedicara as suas raais importantes igrejas era Portugal ( Sta Maria

de Salzedas, Sta Maria do Bouro ou Sta Maria de Alcobaga).


No entanto, este culto não se reflecte com suficiente

da época A iconografia da Virgem so


vigor nas representagôes .

nos aparece no séc. XIV, num Missal Cisterciense( Alc. 26), que
desenvolve toda uma teoria de imagens. Neste codice a Virgem
várias entre elas aquela a que está mais
protagoniza cenas,

de dimensão quotidiana -a Virgem do Leite


prôxima uma .

A cena não resulta de uma amamentagão comum, mas de uma

não explicitagâo do texto


metáfora, interpretagão e

bíblico656. No Sta Cruz 11, f 1.112 interpretamos esta

como a Virgem devido ã posigão das mãos e


personagem
carácter de ícone que ela encerra. Uma imagem semelhante

ainda Museu da Sé de Urgel, proveniente da


conserva hoje o

ábside da igreja pirenaica de Valencia d'Aneu a qual é,

contudo, datada do século XIII (Fig. 415) .

Mas outras santas são representadas em idêntica posigão,


como é o caso de Santa Basilisa, datada do séc. XII. Este

6SS de San Clemente de Tahull,


por exemplo Cristo
Cf .

Museu de Arte da Catalunha. Cristo justiceiro de tradigão


bizantina, ,
mostrndo tracos ,
anatômicos semelhantes, a

única diferenga signif icati va é a existência cio ! ivro que


substitui a cruz.

Virgem representa aqui a sabedoria com


656 u
0 ieite da
outros foram qrati t icados mas tamne.u
a qual S. Bernardo e ,

alvo de Cristo, alin.eno.ado por leito


o pao eucarístico, corpo
com
imaculado de Maria. 0 Santo reza e a virqem eorrosponde
um gesto maternal" (Horácio Peixei ro , 1991 , p . 214

332
exemplar encontra-se em Cerdana na igreja paroguial de

Estavar657. Mais uma vez estaraos perante um desenho a vermelho

como acontece noutros exemplos deste mosteiro, em que o

linearismo constituiu uma marca do scriptorium.

Santos Inocentes

No Alc. 412, fl.97, surge uma inicial historiada com tema

bíblico sobre o Novo Testamento. Trata-se de uma


interpretagão
do Apocalipse ( 6, 9-11), incluida nura E que abre a Festa dos

Santos Inocentes, já ref eridafFig. 283-284 ) . 0 iluminador

sintetizou esta passagem de forma simbôlica numa pequena

inicial, reduzindo as imagens aos santos inocentes. Uma

sobre altar, tendo lado


personagem precipita-se o ao seu

simbolicamente o animal sacrificial.

0 artista revela dificuldades de coraposigão na colocagão


da quando esta se langa sobre o altar. Todas as
personagem
demais estão em harmonia no interior da letra.

Evangelistas

Tetramorfo

dos temas do imaginário bíblico medieval é a


Ura grandes
visão de Ezequiel e do
cena conjunta dos evangelistas, segundo
Apocalipse 4, 6-8: "Diante do trono havia ainda como que um mar

semelhante cristal; no meio e em redor do trono,


de vidro, ao e

de olhos diante detrás 0


quatro viventes cheios
e por
por
.

semelhante a um leáo; o segundo a um touro; o


primeiro era

de quarto era
terceiro ti nha um rosto como que homem, e o

pleno Cada um dos quatro


semelhante a uma águia em voo.

viventes tinha seis asas, cobertas de olhos por dentro e por

"
fora. . .

"'"'
in Walter W. S.Coo k e José Gudiol Ricart, P.intura
Romanica in Ars p.55
_■•
imageria Hi^^aniae
0 texto do Apocalipse foi dos que mais inspirou e

estimulou a criatividade dos artistas roraânicos. Cristo em

majestade, com os simbolos dos quatro evangelistas , animou

os tímpanos de portais e ábsides de abadias e de catedrais.

Ornamentou os textos dos manuscritos, as pegas de ourivesaria,


marfim e esmalte.

deste tema deveu-se também â interpretagão dos


A expansão
comentadores medievais, como S. Jerônimo -

o homem simbolizava

a incarnagão; o touro ,
a paixão; o leâo, a ressurreigão; a

águia, a ascensâo658.

Se fascinou o homem românico, o texto não deixou de ter

muito diversas. Os Comentários ao Apocalipse


interpretagôes
forara um dos veículos fundamentais da sua divulgagão. Foi na

Península que se fixou uma iconografia que anuncia o

milenarismo presente em numerosas obras do Romãnico.

No Beatus da Academia Real de Histôria, (Cod. 33, fl.92.)

da Visão do Cordeiro é ilustrada com uma


o tema apocaliptico
imagem circular; o Cordeiro ocupa o lugar central, dispondo-se

era seu redor ,


os sírabolos dos evangelistas
-

o anjo, o touro,

leâo (Fig. 4 16 )
a águia e o .

No Apocalipse do Lorvão aparece uma iconografia


semelhante, embora seguindo um modelo bem diferente, num

circular raantém-se
processo de ordenagão já românico. A imagera .

0 cordeiro no centro e os quatro evanqelistas em circulos: os

anjos suportam o con juntofFig. 417) .

manuscrito do séc. Valladolid, Biblioteca da


Noutro X,
fl. 145), o tetramorfo com carácter
Universidad, (Ms. 433,
ilustra visão do Cordeiro sobre o Monte Sião
antropomôrf ico, a

"Os seres viventes que partilham com os anciãos a


: quatro ,

zona celeste, parecem cavalgar sobre discos com paletas em

contrastam com a versáo dos mesmos


forma de hélice, que

observar no beato da Academia do


símbolos que se podo
Histôr ia"(Fig. 4 18 ) .

Gse
Chevalier o Alain Ghoorbrant Dictionnaire des
Jean

Symboles ...289,290.

334
Uma das representagôes que mais se aproxiraa da descrigão
"dos seres viventes" é a do Comentário do Beato de Liébana ao

Livro do Apocalipse; pertencente ao Cabido da Catedral de Burgo

de Osma, escrito por Petrus Clericus ,


e iluminado por Martinus ,

datado de 1086.

Nesta iluminura, Cristo em majestade na mandorla, ocupa

tendo seus pés o cordeiro. Em cada um dos


um lugar central, a

cantos, para além de várias personagens com instrumentos

é o tetramorfo. Cada um dos


musicais, representado
tal corao consta no texto, possui seis asas
evangelistas,
cobertas de olhos, o corpo é humano e a cabega do animal

correspondente659 .

Bíblia de Léon de 960 utiliza o raesrao


Também a primeira
tetramorfo, com características antropomôrf icasf Fig 419) . .

No territário que havia de ser Portugal ,


a sepultura de

S. Martinho de Dume tem uma tampa com um evangelista que

apresenta corpo humano e cabega de ave(Fig. 420) .

Esta tradigâo hispánica do séc. X-XI é interrompida


durante os inicios do séc. XII, quando o teraa é eleito para os

Ai
tímpanos das grandes abadias dos caminhos
de peregrinagáo.

predomina a sirabologia gue utiliza o animal ou o anjo que

o livro, colocado-o em redor de Cristo triunfante.


segura
disso Cristo em majestade é rodeado
Moissac é o exemplo:
por um tetramorfo deste tipo.
Evangelhos do Alc. 399, e que
Os evangelistas que abrem os

ocupam as suas Tábuas de Concordância de Alcobaga assim como

embora
as do Sta Cruz 1, pertencem a duas tradigôes diferentes,
o deste último utilize uma solugão mista( Fig .54-59 ) .

Mais das tradigôes peninsulares a Biblia de Santa


prc-ximo ,

Cruz apresenta ao longo de 7 fôlios, os evangelistas a

encimarera os arcos ultrapassados , enquadrando cada divisão do

canon de concordâncias .

Las
"'"Estc raanuscrito está descrito e reproduzido om
do
Edades del Hombre: Libros y Documentos en la Iglesia
Castilla y Leon , Burqos, 1990. pp. 62-64.

33 5
As arquitecturas e os frisos ornamentais destas tábuas

são de grande gualidade artistica, constituindo, mesmo , dos

mais belos exemplos da nossa iluminura românica. Os

Evangelistas ocupam sempre o interior das arcadas, cora arcos

bem idênticos aos dos beatus mais antigos,


ultrapassados
embora raais robustos e revelando ura outro conceito de

plasticidade.
Nos fls. 363v, 364, e 364v, são as figuras antropomorf icas

que dominam, de rostos expressivos e dialogantes, segurando o

livro ou as tabuinhas que excepcionalmente substituem o livro

no (fl.364v). De facto, mais uma vez, o mestre deste

manuscrito nos transmite sinais de grande respeito pela

tradigão, ao colocar as tabuinhas de cera nas mãos de Mateus,

Marcos e João, empunhando o primeiro o estilete de metal que

executava as incisôes660. Apesar das tabuinhas apresentarera no

nosso manuscrito a forma das tábuas da lei, é a existência do

estilete que chama a atengão para este suporte alternativo da

escrita medieval . Em todos os outros fôlios o que aparece

é codex ou em situagôes excepcionais o rolo.


representado o

antropomôrf icas apresenta


Imagens igualmente dialogantes e

a Bíblia românica de Leôn de 1162 ( Fig.420A). Contudo ,


o

desenho é ingénuo se o compararmos com o nosso manuscrito.

Neste codice as tábuas ocupam onze os fôlios ( fl .682-692) ,


as

são simples arcos de volta inteira e colunas


arquitecturas
ornadas com motivos geométricos.
0 iluminador desenhou também aqui o anjo, o touro, a águia
alados livro ou o rolo, ( como é o caso
e o leão segurando o

fl. 362v) Nestes fôlios, temos assim numa


do anjo no .

sequência, três tipos de suporte da escrita que o iluminador,

porventura bem conhecia.

,J,J°
Albert d'Haenens, La Tablette de Clre Interface
in Estudos rfe Arte
Support de Revélation
e
Graphique et
Historia: Homenagem a Artur Nobre de Gusmão ,

Lisboa 1 996 pp 1 14- 1 27 Nesta obras o autor dá-nos


: Vega ,
. .
.

informagôes sobre este prooesso c.i oro de escrita o reproduz


um conjunto de manuscritos com a sua representucuo.

3 36
No fl. 362, o primeiro anjo parece apontar com o

indicador e o olhar as visoes apocalípticas que se desenrolam

alguns homens procuram fugir ao


na faixa superior, em que

comportamento feroz dos dragôes e serpentes, que se enroscam

em torno dos seus corpos. Curiosa é a iconografia do f 1.362,

escolhida simbolizar S. João e S. Lucas. 0 autor


para

anjo que ostenta nos bragos o animal que


representa um

simboliza o respectivo evangelista.


desenho e pintura são especialmente cuidados
Composigâo,
este artista para lá de ura rico imaginário, um grande
possuindo
sentido de harmonia.

No Alc. 399 os evangelistas para além de terem lugar no

abrem o respectivo evangelho em imagens bem mais


canon,

convencionaisfFig. 76-83) .

fl. S. Mateus, inserido em mandorla é simbolizado


No 101,

pelo anjo, segurando o livro. Pela posigão que ocupa e pelo seu

estatismo lembra uma estátua coluna.

Muito curiosa é a forma que o iluminador construiu para

o L inicial do Liber Generationes que inclui a árvore de Jessé.

Um dragão na horizontal e a figura do evangelista, na vertical,

criam um espago, no qual os caules enrolados e as palmetas se

orqanizam em forma de árvore; as personagens que habitualmente

ocupam medalhôes sâo substituidas pela vegetagão661.


o cimo de uma coluna, sob
No fl. 122v é Marcos gue ocupa

a forma de um leão alado, segurando o livro.

S. Lucas como touro alado igualmente com o livro,


aparece

numa bela inicial, rodeado de caules enrolados, palmetas e

caso era gue a prápria inicial


dragão alado. Estaraos perante ura

se desestrutura para dar lugar ã ornamentagão.

661
inicial de Mateus na Biblia dos
Veja-se a ,

Capuchinhos (Paris, B.N. Ms lat. 16746, fl.7v). Também nesta


constitui haste honzontal do
inicial a figura deitada a
, _

I. embora neste caso seia


,
o prôprio Jessé. Da árvore saiem
envoltos enrolados
caules e constituídos por
medalhôes em

David. O evangelista
de neste caso
personagens da linhagem
esta
encontra-se sentado segurando filactera. A iluminura
em Walter Cahn La Bible Romane. p. 215 ..

reproduzida ,

337
Finalmente, S. João surge como águia no cimo de coluna,
mostrando o livro e sem qualquer outra particularidade.
Ao longo de guatro tábuas de concordância evangélica
surgem os quatro evangelistas. Na primeira que descreveremos

noutro local, os símbolos são idênticos aos do comego dos

dispondo-se, como é habitual, entre os arcos


Evangelhos, que

dividem as correspondências entre estes. Na segunda , fl. 95v,

ocupam também sob forma humana, dentro de uma barca, o cimo de

cada arcada. Tratar-se -â provavelmente de uma alusâo ã sua

acgão evangelizadora, já que a barca na iconografia cristã,


está ligada â prôpria Igreja. Assim, se as arcadas simbolizam

a construgão do proprio templo, a barca sirabolizará o local

simbôlico em que os crentes devem embarcar para vencer as

tempestades/paixôes deste mundo.662

Também, com figura huraana, era meio corpo, ocupam as

arcadas do fl.96v, S. Mateus ,


S. Marcos e S. João.

Os Evangelistas estão ainda presentes no Evangeliário Sta

B.P.M.P. 861 -No primeiro, é


Cruz 72, e Epistolario
fl.7, S. João A figura é aureolada, segura o
representado no .

livro entre as mãos tapadas com manto( Fig .233 ) . 0 fundo da

letra inscreve Initium sancti evangelium secundun


na gual se

iohanem é azul. A imagem é muito elegante e cuidada com manto

verde e túnica ocre araarela, o cabelo é verde e o livro que

segura, vermelho. No Epistolário é S. Lucas que é representado


também com auréola, túnica e manto, mantendo as mesmas cores

e estiloCFig.242; . 0 nome está inscrito na prôpria túnica. Não

existe livro e o evangelista parece convidar-nos â leitura da

epístola .

Mais uma vez estamos perante representagoes que aliam

importagão de modelos a uma tradigão local hispãnica, presente


iraagens antroporaôrf i cas dos
no Sta Cruz 1 que opta por

evanqelistas .

662
Jean Chevalier e Alain Gheerbrant , Dictionnaire des
Symboles . . .
p. 179.

3 38
de raanuscristos bíblicos e evangeliários
0 conjunto
existentes nos dois fundos pressupunha a existência de um

número mais signif icativo de imagens de evangelistas, mas mais

uma vez os iluminadores escolheram iniciais ornadas para estes

côdices.

Santos

No fundo alcobacense, S. Bento é representado a entregar


um A cena ocorre no Alc. 231, fl.90,
a Regra a monge.

Incipit prologus regule sancti benedicti...


acompanhando o

Dois enormes dragôes alados de pescogos entrelagados inscrevem-

se num estranho quadro, delimitando o espago no qual dois arcos

de volta inteira e uma construgão copulada serve de fundo a

este episodiofFig.421,) .

é A que inicia a palavra ausculta


A letra representada o

descobre, devido ã exuberância do desenho.


que dificilmente se

cora o dedo o ouvido, a reforgar esta


0 Santo aponta
0 monge veste escapulário, hábito
expressão que inicia a regra .

S.
e a côgula e recebe de pé a regra num gesto de aceitagão.
está aureoloado e tem apenas o hábito. Ambos se
Bento sentado,
inscrevem em arcadas. Os dragôes que rodeiam a cena poderão
demônio faz parte de um dos
estar relacionados com o que

da lenda663. Todo o conjunto é


episôdios mais famosos sua

pintado em tons de azul, vermelho e laranja.


Sto Agostinho também aparece um tanto inesperadamente
Alc. 440, fl.2v, o Incipit liber
numa inicial a acompanhar ,
no

O santo surge de forma


epistolarum aurelii augustini episcipi.
de uraa inicial
quase despercebida na terrainagão vegetalizante
barbudo com auréola ou mitra, e com filactera e estilete,
D,
tem escrito o seu nome e o
no acto da escrita. A filactera

demonio corta a corda pela qual era transportado


""!.0
santo nessa altura isolado
o cesto que continha a comida do ,

Gaston Duchet-Sucheaux
numa gruta perto do lago de Subíaco.In

e Michel Pastoreau, La Bible et les Saints... p.60.

339
elemento no qual se apoia sugere uns grandes lábios, logo a

importância da palavra na leitura da epístola664 (Fig .422 ) .

Poucas são as representagôes de Santos existentes nestas

bibliotecas, em que a hagiografia teve um papel tâo importante,


tanto na sua utilizagão litúrgica como nas narrativas de vidas

com carácter edificante. As poucas existentes, recusam o

caracter narrativo e limitam-se a assinalar através da sua

presenga o texto da autoria do Santo, ou a ele dedicado66S.

Estão assim completaraente ausentes as "ilustragôes" das Vitae

tão divulgadas na iluminra românica.

Opgão dos nossos iluminadores e imposigáo de raodelos

claravalenses, já que mesmo os manuscritos cistercienses de

outras abadias forneceram numerosos exemplos de ciclos

iconográf icos relativos ã vida de Santos666.

4.4. Imagens do Humano

Optáraos por criar um conjunto de imagens que designámos


do humano" não se contraponham âs imagens
por "imagens , porque

coraega por ser representado sem nirabo nem


664
Este santo
atributos. A partir do séc. VIII é-lhe atribuido o hábito
episcopal, corn raitra cruz e outros atributos, aparecendo
igualmente como monge agostinho.Neste caso é difícil ver que
vestuário lhe destinaram. Cf Gaston Duchet-Suchaux e Michel .

Pastoureau La Bible et les Saints ...


pp. 50 e 51

^
S. Bernardo é representado no fundo cie Arouca ,
no

Antifonario D, interior
fl. de um P que inicia uma
68v . No

antífona em sua honra o iluminador desenhou-o de forma


,

ingénua mas expressiva, a indicar com o dedo num gesto bem


afirmativo o texto Veste hábito escuro está tonsurado
.
,

mas não aparece a aureola.

"""
0 legendário de Cister Di jon, B.M. ras 641 , apresenta
de santos acompanhar us suas vidas puixôes.Cf.
ou
imagens a

Jean Auverger L'Unanimitc C i sterci enne Primitive :Mytho ou


Realite? . . .
pp. 4 63 .

34 0
foi nelas que os artistas foram Rai-s
sagradas, mas por que

sensíveis a aspectos de quotidiano.


Nas raras imaqens do humano, a figura feminina é menos

surgindo sempre com um sentido sagrado.


representada, guase

No Sta Cruz 1, aparece con juntamente com o homem no acto

biblico da criagão.
É, contudo uma excepgão e podemos afirmar que a cultura

dos séculos XII e XIII667, é marcada por uma


portuquesa
sociedade camponesa e guerreira que ignora a mulher e a arte

não lhe dedica nenhum lugar ou quase6bS.

Homem e Mulher

introduz-nos exactaraente na análise das


Esta afirmagão
do corpo do homem e da mulher. Corpos
primeiras representagôes
ligados dos temas raais ricos do românico:
enquanto tais, a ura

as etapas da criagão descritas pela Bíblia.


da criagão, é descrito era apenas trés
0 episôdio
medalhôes. A narragão comega em Santa Cruz ,
com Adâo e Eva já
criados Deus lhes dá conta do risco que correm se
quando
comerem frutos da árvore da "ciência" (Fig. 423 ) . A descrigão

continua medalhão com o episôdio da serpente


no segundo
duas personagens se dispôem em torno desta
tentadora em que as

árvore fFig. 424 ) .

Curioso é o 3 s momento da Criagão, onde o artista efectua

literal da Bíblia: a expulsão de Adão e Eva


uma interpretagão

Adolescense de la
Age.
'•"

Georges Duby, Le Aíoyen


refere esta mesma
Chretienté Occidental .980-1140 ...
p. 81 ,

situagão para o séc. Xi francês.

",,H
Adolescense de la
Georges Duby Le Moyen Age.
Chretienté Occidentale. 980-1140. p. 81 "Hierática . . . ,

mostra-se vezes no seio da


longinqua, a mãe de por Deus
rosto
narragâo evangélica, simples comparsa Entretanto
o . seu

mantém-se em segundo plano como nas assembleias ,


de homens

de o da esposa e do senhor Lasciva Nao e ela o . . . .

querra,
moralistas da igreja, Eva
gerrae da corrupgão gue denunciam
os

tentadora, pela queda cJo homem e de todos os


responsavel
pecados do raundo?

341
do Paraíso, em que um querubim os afasta com uma grande espada

tendo â saída, a raão de Deus que os espera cora uraa túnica para

se vestirem. Há aqui uma verdadeira simbiose entre cenas

ocupando Deus uma posigão central em toda


sagradas e prof anas ,

a cenaf Fig. 425 ) .

Apesar de não podermos estabelecer qualquer genealogia com

a arte portuguesa, esta é uma teoria de imagens habitual na

iluminura românica.

É a partir da segunda metade do séc . XI que se generaliza


tal tipo de inicial com medalhôes, nos quais se insere a

narrativa da criagão. Exemplo disso é a Bíblia de Lobbes ,

escrita e iluminada em 1084 (Mosa) fFig . 426 ) ,


na qual o artista

cria sete medalhôes669 para narrar o texto da criagâo670.


Neste côdice surge um elemento de inovagão- os sete medalhôes.

Em Santa Cruz temos apenas três. É uma estrutura semelhante,

iconografia raais complexa que apresenta a Bíblia


apesar de uma

Bibl Mun. 1, fl-7), datada da


de Marchiennes (Douai, . ms

terceira do séc XII. No interior de ura I de forma


quartel .

Cristo com Adão e


presentes quatro cenas
-

idêntica estão

Eva a árvore da Ciéncia, ura raedalhão cora ura serafira munido de


,

simbolizar o castigo, Abel e Caim e Caim matando Abel.


espada a

Um desta narrativa que nos pode dar pistas sobre


aspecto
encontra-se no terceiro medalhão. Joaquin Yarza
a sua filiagão,
Cahn relagâo â Bíblia de Burgos afirmam
Luaces671 e Walter em

*"9
Tournai Bibl . du Serainaire, ms 1, fl.6.
,

"'"
Contudo Principio surge oa partir do
I do In
Walter Cahn em La
" Bible Romane... p.42, afirma-nos
séc.IX,
inicial da génese da Bíblia de Vivien,
gue" Por exemplo a

datada de meados do séc.IX, incorpora um medalhâo


único com
o busto do Criador e, noutos casos, estes medalhoes podem ser
da letra e
três, repartidos por cada uma das extermidades
no séu
meio." Ora é exctaraente esta a situagão que teraos
em

acentuar a cápia deste


Santa Cruz o que mais uma vez vem
manuscrito por um modelo mais antigo.

""■
Yarza Luaces Lus M i niaturas de la Biblia de
Joaquin ,

autor
Burgos, Archivo Espahol de Arto (19f--9), p.l97.Este
do srript.nrium de S. Pedro
considera a Bíblia proveniente
do eontacto com as alemãs e
de Cardeha, apresentando pontos
'4 2
da imagem de Deus a vestir
o carácter excepcional o

homem (Fig. 427 j . Este último autor refere ainda esta cena

como resultado de uma tradigâo local. Encontramos esta

relicário da Colegiada de Sto Isidoro


iconografia igualmente no

de Léon, doada por Fernando I â sua esposa673( Fig .


428) .

todos este exemplos.


A tradigão ibérica emerge em

Esta inicial trinta e um espagos no texto e a


ocupa

de uma das três colunas, contudo nota-se da parte de


largura
quem escolheu o modelo iconográf ico, um gosto particular por

reduzir narragão a três


uma representagão sintética ao a apenas

A Bíblia de S. Bernardo tem quatrof fig. 429 ) a de


cenas. ,

Mannerius dezassete, chegando a atingir noutros côdices setenta

da iconografia do nosso manuscrito


e oito674. Mais prôximo
está o I da Bíblia de Lyon em que a narragão está dididida nas

do homem e da mulher, árvore da ciência


mesmas cenas : criagão
e expulsão do paraíso675ff ig . 430 ) .

embora
personagens é muito prôximo,
num
0 tipo físico das

desenho diferente. As imagens em torno da árvore e a posigão


tambéra são idênticas .Contudo, na expulsáo do
da serpente
paraiso está ausente a mão de Deus e as personagens já se

encontram vestidas.

Podíamos multiplicar os exemplos da interpretagão


livro bíblico, sem dúvida um dos mais
imagética deste

mais claramente com as inglesas.

672
Walter Cahn La Bible Romane ..
.p .17 5 .

673
Cf. Maria de Jesus Astorga Redondo El Arca de S.
Esta
Isidoro. Historia de un Relicario, Leon, 1990 .pp. 96-97 .

sua
autora afirma a presengas de hispânicos
elementos na

renana e
ornamentacão, assim como influências estrangeiras ,

inclusao de
francesa,'na disposigão das personagens e na

letras em linhas peroladas.


Médiévalo, U_
'■"*
Frangois Garnier, L' Image Biblique
la Bible. 403-407.
Moyen Aqe et .pp.
.

Catherino Brisac T.es Grandes Bibler


'■"'Reproduzida por
dans la France du Sud in Los Dossiers
Romanes
d' Archéologie , n5 14 . . .
p. 101 .

34 3
imaginários676, mas não ficaria mais
explorados pelos
esclarecido o problema da filiagão desta inicial.

É o iluminador de Santa Cruz


original o processo que

criou medalhôes que parecem emergir da


para juntar os

envolve. Esta forma está proxima do I da


vegetagão que os

bíblia de S. Bernardo, (Troyes, Bibl. Mun. ms 458 I, fl.6) mas

possui um desenho muito mais livre e um profundo sentido do

ornamental. 0 dragão que se contorce, espreitando entre os

caules simbolizará o pecado que espreita, tal como a serpente


tentadora .

As cores têm aqui uma fungão importante. Apenas o anjo,


Deus e os fundos são pintados, tudo o resto é puro linearismo.

As cores são o vermelho azul e verde sem qualquer


empregues ,

simbologia aparente. É o trago do desenho que mais chama a

pela capacidade de transmitir moviraento e


atengão sua

0 desenho é contornado a castanho, recebendo


expressividade .

os corpos nús, tragos mais claros que realgam a sua anatomia.

A composigåo no interior dos medalhôes revela um artista com

de harmonia. No terceiro medalhâo, a posigão


um apurado sentido
de Adão e Eva introduz uma dinâmica em torno da árvore,

simetria da cena vezes impôe. A


quebrando a rigidez gue a por

árvore, uma espécie de videira é bastante mais ornamental que

as de copa mais utilizadas nesta cena .

Na arte portuguesa a temática da criagâo, surge também no

último fálio do Livro das Aves de Hugo de Folieto , ( A.N.T.T.


do Mosteiro do Lorvão. Uma
Casa Forte n9 90 )(Fig.431) ,

inteira representa a criagão de Eva a


ilustragão de página
da costela de Adão, enquanto este dorme. Ainda no
partir
ambos o com a mão anunciando o futuro
Paraíso, tapam sexo, ,

f 61 io é uma
pecado. A cena que ocupa todo o enquadrada por

habitual nas representagôes da Jerusalém Celeste.


arquitectura
O arco é de volta inteira, os capitéis com motivos vegetais e

as torres do coberturas cônicas parecem a ladear o conjunto.

""

Francois Garnier
Ct .
L' Imagerie Biblique Medievale ,

in Le moyen Age et la Bible ..p.404


.

3 -1 4
físico humano é mais uma vez, o de seres de cabelos
0 tipo
escuros e corpos de estatura raédia. As personagens apenas

desenhadas e a figura de Deus surge com nimbo crucif orme.Como

no manuscrito de Santa Cruz, a figura divina irapoe-se pela


dimensôes e pintura em torno do qual o artista faz
posigão, ,

girar Adão e Eva .

Em ambas o vestuário divino e verde, amarelado, e o nimbo

ausência de fundo cria uma certo ambiente etéreo,


laranja. A

fazendo o carácter narrativo do tema .

esquecer
0 artista de Santa Cruz tem maior preocupagão pelo
do no Lorvão irapera o puro
porraenor, e a observagão corpo:

linearismo677.

A Condenagão

No Sta Cruz 1 f 1.362, num friso das tábuas de concordância

encontramos o homem e a mulher numa cena que simboliza ocastigo


Divino (Fig .54-54A) . Estão a ser engolidos por um dragâo que

recuado das profundezas. A ondulagão das


num plano emerqe

assim corao do dragão e da vegetagão que os


personagens,
uma alusão ao elemento água, assim como
entrelaga poderá ser

evocam o Leviatão: o monstro que se deve evitar


os dragoes
despertar, e que é capaz de enqolir momentaneamente o prôprio
sol678.
é toda espécie humana que está em causa
Nesta imagem a

face ao pecado.

677
Ferreira de Almeida considera que esta
C. A.
cena

do
é da mesma autoria do artista que executou o Apocalise
de
Lorvão e as modificagoes introduzidas se devera a côpia
Cf. O Românico Histôria da Arte III... p.
modelo diferente. , ,

170. 0 desenho dos olhos das personagens, assim como o

linaerismo por este autor também referido, colocam-nos de


facto face ao mesmo iluminador ou discipulo muito proximo.

"7e
Alain Gheerbrant Dict ionnaire des
Jean Chevalier,
Symboles.IlI . .
.pp. 119-120.

34 5
É signif icativo que o homem esteja desnudo679, e seja
mulher é pelos cabelos
devorado pelas pernas, enquanto a o nura

facto de estar de cabega destapada


sinal de humilhagão680. 0

e os cabelos caírem pelos ombros ,


assim como parte do corpo

desnudo pelas garras do dragão são sinais de desonestidade . 0

mostra há um sentido de condenagâo do pecado. A sua


que que

é de desespero681 procurando sequrar as mandíbulas


expressão ,

do dragão num gesto de resistência.

0 olhar do anjo, num plano inferior, fixa-se nestas

indica-as mesmo cora o dedo, numa atitude clara de


personagens,

reprovagão.
De assinalar a representagão do nu masculino que traduz

certa de "realismo"; a figura está bem desenhada


uma procura

artista raarcar os detalhes anatôraicos do corpo


e o procura

humano .

A expressividade e a violência do conflito são reforgados

tons escuros dos dragôes que se contorcem ferozmente para


pelas
abocanhar as vitiraas. 0 ilurainador soube transmitir não sô uma

simbologia mística, mas também apelar ãs forgas primitivas do

instinto e do inconsciente.

Não mais o homem e a mulher aparecem associados nos

manuscritos dos dois mosteiros.

sociais representados de forma


Os grupos surgem

sequências de carácter
individualizada, em geral incluidos em

sagrado .

'j79
nu nas representagôes do
0 homera apresentava-se
Leviatão

"'",
Yarza Luaces Formas Artisticas de lo
Cf. Joaquin
1987 pp. 232-236 Este autor
Imaginario, Barcelona, Anthropos, . .

refere que Eva ,


numa heranga do Judaísmo vai ser o sujeito
utilizado descarreqar todas as culpas da humanidade.
para

'■"--
Cf. Émile Mále, L'Art Religieuse du Xlle Siecle en

autor rofere numerosos casos em que a


France. .
.pp. 375-376.0
tema se
serpente esta ligada å punicâo da luxúria, que
ÍV Visáo de S. Paulo.
divulga a partir do séc . com a

346
Camponês

0 caraponês, a base da sociedade e da economia medieval

está, no entanto, quase ausente nas representagôes de Santa

Cruz e Alcobaga. De facto este grupo social parece ter deixado

indiferente o iluminador . No entanto, no Românico, surge com

grande freguência ligado aos trabalhos e aos dias, corao é o

caso da pintura do Panteão de Léon68*7 (Fig .434) , ou ainda

associado âs actividade de Abel nos raanuscritos iluminados

bíblicos, como é o caso da Bíblia de Burgos683 (Fig. 427) .

Nos capitéis é comum a sua representagão como por exemplo


em Sta Maria de Vezelay.
Na iconografia da época ,
estas actividades, executadas no

contexto da vida monástica são prôprias dos monges. Os

cistercienses, por exemplo, de Cister, fazem-se representar em

tarefas agricolas nos seus manuscritos.

do Lorvão Sta Cruz 1, são imagens de


No Apocalipse e no

com os seus instrumentos de trabalho que o


camponeses,

iluminador representa.684

Antonio Vihayo Gonzalez Pintura


682reproduzido em

Românica: Panteon Real de San Isidoro-Leon Leon, Isidoriana ,

Editorial, 1979, pp. 50-54.

'"'•3
J. Yarza Luaces Las Miniaturas de
Reproduzida em

la Biblia de .Lam. III, Figs. 19 e 20.


Burgos . .

684
de fazer parte do fundo do Lorvão não
Apesar ,

paradigmático da
podemos deixar de referir este caso como

entre o sagrado profano. Trata-se da


perfeita união e o

representagão da vindima no fl. do Apocalipse do Lorvão


e que

corresponde â narragão bíblica:


"vi uma nuvem branca sobre a qual reinava como um

filho de horaem, a cabega com uma coroa de ouro, a


mão com uma foice afiada. Um outro anjo sai do
grita com voz forte ao que reina sobre a
teraplo e

nuvem. Mandai a vossa foioe e ceifai, pois o

é seara terrestre está


momento chegado e a

madura..." "... Ide com a vossa foice afiada e

vindimai os cachos da vinha terrestre, pois as

uvas estâo maduras 0 anjo .


langou a foice ã terra
vindimou as uvas da vinha e langou-as no grande
lagar da ira de Dous."

. 0 7
No Sta Cruz 1, dois lenhadores ou desbravadores surgem
no início dos livros bíblicos. No fl. Ov, contéra o excelente

Incipit em que a letra N insere no seu interior, um

desbravador, que segurando a podoa corta as hastes da vegetagão


que o envolve (Fig.6). No início do Beatus Vir, fl.226v um

homem liga as duas hastes do B, empunhando o machado (Fig. 435) .

Estas duas cenas constituem uma alusão âs arroteias do homem

românico, numa época que as tarefas do povoamento constituem


uma das prioridades da Reconquista. 0 perigo que o
ameaga está

simbolizado na harpia, animal de rosto humano e corpo de ave

simbolizando o génio mau que atormenta as alnias°9b.

Pastor

0 constitui outra das belas representagôes da


pastor,
humana Santa Cruz de Coimbra.No Evangeliário Sta
figura em ,

Cruz 72, fl.6 (Fig.232, 436), surgem dois pastores junto ã

festa de Santa Anastásia, a anunciar o nascimento de Cristo.

de inteiro, segura o cajado, do segundo sô se


0 priraeiro corpo

vé o tronco. Esta cena do Novo Testamento, o iluminador

depurou-a de qualquer signo de carácter religioso já que os

isolados. Vestem fato curto e


pastores estão representados

(Apoc. XIV, 20).


Embora o texto do Apocalipse seja eminentemente simbôlico,
o iluminador, é particularmente sensível âs actividade

agrícolas, tendo o cuidado de as representar:


num registo
separado, camponeses vestidos de camisa e brial, ,
com as

podoas cortam os cachos para cestos de vime que ainda hoje


nos são familiares.
No lagar a cena continua com o homem que pisa as uvas , e
com que pôe
o em funcionamento a prensa Esta é a mesma .

por Plínio como sendo


utilizada na bacia
prensa descrita
mediterránica .

Para além da vindima, a ceifa é também representada ,

chapéu de
havendo o cuidado de representar o camponés com

qrandes abas, munido de enorme foice.

""'•
Esto animal fantástico ropresenta ainda os vicios
Jean Chevalier Dictionnaire des Symboles T. III. *
*P*
segundo
12 .

318
calgôes (bragas), tapam a cabega com um capuz independente que

lhes cai pelos ombros (camalha). As mãos parecem indicar uma

atitude de medo 686, que o texto evangélico exprime da

forma:"Na região, encontravam-se uns pastores


seguinte mesma ,

que pernoitavam nos carapos , guardando os seus rebanhos, durante


a noite. 0 anjo do Senhor apareceu-lhes ,
e a glôria do Senhor

refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo" (S. Lucas , 2,

8 e 9) .

Contrariamente ao é habitual, esta imagem dos


que

caracteriza-se pela preocupagão em atingir valores


pastores,
A voluraetria é conseguida através de "nuances" da
plásticos.
mesma de realces a branco que contrastam com o leve
cor,

0 artista mostra todo o seu talento não sô


contorno a sépia.
das mâos mas sobretudo na delicadeza com
no desenho e pintura ,

trata os rostos Todo o conjunto está inscrito na


que .

do I, apresenta o fundo pintado de


superfície rectangular que

verde escuro contornado a branco e vermelho.

Sta Cruz 91, fl.71 contém um outro pastor,


0 Epistolario
associado ã festa do Pentecostes , que surge apenas desenhado,

ombros um carneiro, numa alusão simbôlica ao Bom


segurando aos

PastorfFig.252,1 .
Apesar de se encontrar sem qualquer atributo
é evidente referência a Cristo e aos Apôstolos na
divino, a

entrada da Lectio actuum apostolorum.

Pescador

livro bíblico
0 pescador abre de forma inexplicável o

41 Não conhecemos outro


Samuel II (Sta Cruz 1, f1 . HOv) ( Fig .
) .

profeta, nem consta na


exemplo, desta imagem a acompanhar o

leitura do texto, pelo menos numa abordagem literal.

Habitualmente os livros de Samuel sâo acompanhados pela


do acto da consagragão do templo de Silo,
imagem profeta no

"""
mão aberta
A para o interior significa, seqanc.o
Garnier Le Lingage de l'image au Moyen Âgt .
.p. 175
Frangois
rocusa ou abandono; contudo, nest.e caso, face ao
, negacão

texto parece sor mais uma atitude de temor.

34 9
aos filisteus e reenvio da Arca da Alianga, ou
pela captura
morte de ou Saúl e da necromante de Endor
pela Agag .

ainda como atributos de Samuel o cordeiro


Aparecem ,

oferecido em sacrifício e o corno contendo os ôleos da

A atitude de pescar e claramente um símbolo de


ungão68'.
o peixe a prender é o homem
apostolado e de pregagão em que

a converter. 0 pescador seria neste caso o prôprio Samuel .

de Samuel ao povo de Israel para que


Lembremos as exortagôes
este se afastasse dos falsos deuses e adorasse o Senhor (Samuel

I, 7,3).
É uraa imagem com um bom e minucioso desenho, quer do

manto sobre corpo desnudo, quer dos


pescador que apresenta um

são uma cana que ainda hoje nos é


peixes que pescados com

f amiliar .

Cruz fl.24v, surge outro pescador de forma


No Sta 11,

estranha, assinalando no intercolúneo o terceiro caderno. Mais

fios cujos tragos saiera das


parece uraa raarioneta, ligada por
.437
letras que formam a palavra tercius (Fig ) .

duvidoso, esta personagem


Numa posicao de equilibrio
espreitar a rede
sobre peixes parecem
.

inclina-se os que

de razoável, mas para a qual não


A imagem é linear, trago

descobrimos qualquer modelo iconográf ico.

Artíf ices

Alc. fl.94v, numa simbiose entre o simbôlico e o


No 399,

quotidiano, em actividade construtiva, surqem pedreiros e

0 artista do manuscrito biblico de grandes


serventes (Fig 76).

dimensôes, desenha entre a estrutura arquitectônica que

Michel Pastoreau, /
<-"-*"*•
In Gaston Duchet-Suchaux o

Biblo et lor Sai nts ...


p. 284 .

350
enquadra as tábuas de concordância evangélica, um tetramorfo

muito convencional ao lado desta dinâmica actividade688.

0 iluminador, dá com pormenor e rigor todos as momentos

de construgão de uma abadia -

a produgão da argamassa, o

trabalho dos canteiros e dos serventes ,


o transporte de

materiais, o sistema de guindastes e o mestre de obras que

superintende os trabalhos que se desenrolam entre as colunas

e arcadas. 0 mestre de obras ,


sentado com a vara apresenta
vestuário diverso: a camisa, e ura raanto por ciraa desta, â

maneira do anjo que simboliza S. Mateus .

Bailadeira

Tal como o iluminador, tarabéra o nosso escultor roraânico

foi pouco seduzido pela representagão do trabalho. Escolheu

associar ao clero e â nobreza, aqueles que a sociedade


para
medieval olhava como marginais, mas necessários -

os jograis
e bailadeiras. Estes povoam os capitéis e as aduelas dos arcos

de portais.
olhados são eles que
Apesar da desconfianga com que eram ,

quebram a monotonia do quotidiano e ocupam alegremente os

tempos de lazer

688
partir do séc. V
A generaliza-se este tipo de ,

dividem o texto evangélico.


arquitecturas que suportam e

bíblias e raais tarde


Fazem parte integrante das carolíngeas
das românicas. A construgão é associada simbolicamente ã

Jerusalém Celeste. 0 texto bíblico é expressivo:


imagem da
"Os muros de pedra e argamassa são as comunidades
fortes nas obras unidas por um
religiosas, ,

vínculo caridade, apoiando


de os fracos com as

de pedras
suas oragôes, com as quais como se

teus
preciosas' tratasse,
se
"
estão construidos os

muros ,
Jerusalém
(Tobias, 13,17).
Sicardo de Cremona ,
autor de finais do séc. XII-XIIT, em

Mitrale tambéra afirmava:


areia com ambas
"A argamassa consta de cal , água e
se mistura areia, aquelas, como forcas
trazera ajuda ao que é torrono e sem
espirituais,
elas não podíamos viver neste mundo" .

351
0 jogral, a tanger a viola aparece no capitel do arco

triunfal da Igreja de S. Salvador de Rio Mau, no capitel do

coro de S.Pedro de Ferreira e também nas aduelas do arco do

portal de Vilar de Frades .

No Sta Cruz 11, f 1.117, aparece uma bailadeira, na única

posicão acrobática da nossa iluminura românica. Realizada por


artista notável esta bailadeira enquadra-se de forma
,
magistral
no fôlio(Fig .438 ) .

0 apresenta-se
corpo em grande torgão. Um brago parece

apoiar o corpo em desiquilíbrio, enquanto o outro acompanha


o movimento de corpo. 0 rosto olha o texto e o cabelo surge
envolto numa rede. 0 vestido cintado comprido e com uma

abertura rendada , que se estende a todo o comprimento. Era Vilar

de Frades também bailadeira é


a
representada junto da sereia,
possivelmente para nos advertir dos perigos do canto e da

danga , condenados nos sinodos. De mãos na anca e saias rodadas

parece iniciar raovimentos acorapanhando a raúsica tocada pelo


jogral .

0 Negro

No Sta Cruz 11, fl. 88v, surge ainda uma curiosa cena de

um negro. Numa posigão de caga, segura uma escudo redondo e

erapunha uma langa, tendo â sua frente um leãof Fig. 439 ) . Esta

Lmagem, sem relagâo aparente com o texto, surpreende-nos pelo


seu realismo. A sua importância é ôbvia, dado que atesta de

forma inequívoca na arte a


presenga de negros até aí apenas
referenciada em documentos coevos.

E também notável o insolito da imagem, do mesmo

manuscrito, fl.91v, onde surge outro negro com uma longa langa
o cio escudo triangular, isôlito perna de pau(
com uma Fig . 439 ) .

A I orma que o artista encontrou para transmitir a ideia de

neqritude, foi a de pintar o corpo de azul escuro. Os cabelos

sao encaracolados e o
corpo desnudo, tendo apenas uma saia

po 1 o joelho.

352
"

Tanto Verlingen689 como, raais recenteraente , Jacques Heers


691
e José Mattoso salientam a iraportância da presenga de

escravos mugulmanos, incluindo negros ,


no Portugal da

Reconquista .

No período dos Reinos de Taifas, para além de serem

assinaladas numerosas presengas de escravos , assinalam-se

tarabém guerreiros negros nos exércitos dos senhores de origera


berbere ,
como o rei de Badajoz. Conhecemos mesmo o exercício

de fungôes governativas por um negro em Lisboab92.

Insiste-se, é certo, na literatura e na arte referentes

a temáticas carolíngeas na pejorativa associagâo entre o negro

e os mugulmanos peninsulares .

No séc. XIII, em documentos como as Actas das Inquirigôes


Gerais, as alcunhas de negro ou tigão, identificam colonos de

origem mourisca693.
Tudo parece confirmar que estes desenhos de pé de página,
são da mesma época do manuscrito. As tintas utilizadas na

numeragão dos cadernos têm os mesmos tons das imagens


pintadas;na cena da Entrada de Cristo em Jerusalém o desenho

é claramente roraânico corao demonstramos em estudo comparativo.


Não descobrimos modelos para estas representagôes . A

originalidade do artista está patente na capacidade que

demonstra em ultrapassar o texto, e criar uma espécie de

repositário de imagens aproveitando as margens do manuscrito.

689
Charles Verlingen L'Esclavage dans l'Europe
Mediévale , Bruges: Rij Ksuniversiteit te Gent, 1955

600
Escravos e Servidão doméstica na Idade Média no Mundo

Mediterrânico , Lisboa: D. Quixote, 1983, pp. 24-29, 75-76 e 93-


94.

691
A Identificagão de u Pais ... 251-252 .

692
Henri Pêres Esplendor de Al-Andaluz , Madrid:
Hipérion, 1983. p.268.

""Antonio Losa Os Mouros de Entre Douro e Minho no sec .

XIII in Bracara Augusta 1964. pp. 39-40,224-238 ,


e José
Mattoso, Luis Kruz, Amélia Andrade O Castelo e a Feira,
Lisboa:Estampa, 1989,pp. 74-75.

353
No entanto, face a esta situagão tão excepcional fica-nos
sempre a dúvida se as imagens são de facto desta época ou

produzidas por outro artista mais tardio, que tenha feito uma

imitagão utilizando as tintas, formas e imagens da época.

0 Nobre

0 nobre aparece raras vezes no nosso Românico, em cenas

de caga ou na guerra, seja nos capitéis, na escultura tumular

ou na iluminura.

0 cavaleiro é a imagera de nobre por excelência. A guerra

e a defesa das outras ordens é o papel que lhe cabe, mas a sua

imagem rareia entre nôs.

0 nobre surge com atributos guerreiros plenos de acgão


no Alc. 399, fl.95 (Fig.77).
Era torno da arguitectura da catedral, e a enquadrar os

cânones evangélicos, lutam guerreiros em cota de malha, elmo

e espada, contracenando com archeiros nura episôdio rico em

informagôes sobre as artes da guerra. Num capitel sobressai o

guerreiro com cota de malha, no alto empunhando o estandarte.

Um arauto ocupa o arco central entre duas ameias que simulam

um castelo. A representagão de cenas de guerra na iluminura,


e nomeadamente em torno do castelo tinha antecedentes entre os

cistercienses . Na Bíblia denominada de Étienne Harding


Dijon,B.M. 14 (n92), fl.l3v um épisôdio idêntico surge a

encimar a figura de David era raajestade. Guerreiros rauitos

semelhantes digladiam-se entre aas ameias de um castelo

(Fig .439B) . Tal como na Bíblia alcobacense utilizam o mesmo

tipo de escudo , de arcos e estandarte.

0 cavaleiro medieval foi ainda representado ,


a executar

os designios divinos, no tão conhecido Apocalipse do Lorvâo.

Neste caso associado, entre outros ,


ao texto de abertura dos

7 selos, ( Apoc. VI, 1-8; Beatus II, 2). Os cavaleiros envergam

túnicas curtas, grandes espadas e os arreios dos cavalos são

desenhados com minúcia.

354
A Nobre

A mulher nobre está quase ausente da nossa arte românica.

A qrande excepgão é o jazente de D. Urraca, no caso de

aceitarmos que o sarcofago pertence de facto â rainha e não ã

Infanta D. Beatriz. 0 linearismo das figuras e a simplif icagão


que apresentam, lembram as formas da iluminura, dadas as

semelhangas que se encontram entre as personagens do Alc. 426

f 1.251 (Fig.174) e os Apôstolos que ladeiara a figura do

Pantocrator, num dos topos deste túmulo.

Imagem muito sintética, com ausência de atributos, para

além da coroa. As infantas surgem na cena da lamentagão de

forma idêntica, como escreve Manuel Real''94.

No Sta Cruz 1, f 1.338, no livro Macabeus II, surge uma

mulher, com atributos particularmente femininos: rocas para

preparagão do linhofFig. 47) . Pelo vestuário tratar-se-â de uma

nobre , aqui associada â que com resiqnagão aceitou a morte dos

seus sete filhos695. A actividade da tecelagem aparece noutros

manuscritos bíblicos, como atributo de Eva ,


ou da Virgem,
símbolo da mulher honesta e trabalhadora.

Entre as raras representagôes similares, destacamos a

figura de Eva a fiar com os raesraos atributos, na Bíblia de

Burgos696. No entanto esta Eva está sentada, segurando um

filho numa das mãos e a roca na outra. A cena possui assim

elementos de quotidiano mais explicitos, sendo notôrio o

hieratismo com que segura os objectos, erguendo a roca como um

ceptro.

"°4
"A estátua jazente retrata a Rainha coroada e com véu

soqueixado, com cabega repousando sobre almofada. Veste


túnica comprida coberta por manto e cruza as maos sobre o

peito." (Manuel Real ,


1986 p. )

Referimos esta imagem no capítulo dos manuscritos


bíblicos onde indicámos o texto que ilustra.

"""'
Página do Génesis, Biblia de Burgos (Burgos, Bib.1 .

Provincial, ms 846, fl.!2v)

355
Diferente da anterior, a Virgem da nave central de San

Pedro de Sorpe (Museu de Barcelona) surge numa singular


Anunciagão: a virgem aparece a fiar perante o anjo, enquanto
uma serva assoma por detrás de um cortinado697 (Fig .440 ) .

Do ponto de vista da execugão, a iluminura de Santa Cruz

é incontestavelmente de melhor qualidade que a da Biblia de

Burgos (Fig .427 ) . 0 desenho é de grande delicadeza, o artista

conjuga de forma excelente a composigão com a expressão,


quebrando a simetria com o ondulado dos pane jaraentos e a leve

inclinagão do rosto da mulher. Apesar da linearidade técnica,


as imagens ganham valores plásticos e tornam-se prôximas.
Neste caso, os dois dragôes que sâo utilizados para a

composigão do M, a abocanhar o corpo da figura feminina,


rendidos aos seus encantos ou ås suas virtudes.

0 artista mostra uraa enorme capacidade de comunicar.

Num primeiro olhar apercebermo-nos que se trata de uma

alegoria moral em torno da luta ente vícios e virtudes. Cora

gestos muito firmes a mulher segura os fusos e o ar tímido dos

dragôes deixa-nos adivinhar quem sai vencedor .

Rei

0 topo da pirâmide social é representada pelo rei , que na

Península, tem poderes reforgados devido ao processo da

Reconquista que lidera raas imagens reais, â semelhanga das

demais, também não são abundantes.

Na iluminura, a figura real surge associada a personagens

bíblicas e imperatoriais. Comum é a sua ligagão ao Rei David.É

no contexto da abertura do Livro dos Salmos que elas se

generalizam.

'

""
Esta imaqem está reproduzida em Walter W.S.Cooker e

José Gudiol Ricart Puntura e Imageria Románicas in Ars

Hispaniae Madrid, Editorial


,
Plus-Ultra 1980 p.46.Estes , ,

autores consideram a imagem como uma das composigôes mais


atractivas da pintura românica pirenaica, p.45.

356
Mais uma vez recorremos ao Sta Cruz 1, para referirmos o

fl. 306, onde figura ma jestaticamente Salomão, erapunhando era

vez do ceptro, o lírio, flôr que lhe é associada (Fig . 441 ) . A

personagem de longos cabelos e coroada, senta-se era cadeiral ,

e tem atrás de si os cortinados que solenizam as fiquras reais

em Bizâncio, generalizados na Europa Cristã através da

representagão imperatorial carolingea. Na Biblia românica de

Trento, Ms Tridentino ( cod. 2546 fl.13), Salomão aparece com

a mesma iconografia. Também numa representagâo (Fig.442),


semelhante Salomão figura ã maneira italo-bizantina em Charters

num manuscrito de meados do século XII ( Charters B.N.Lat.116) .

No Alc. 422, fl. 140 ( Fig .369 ) outra representagão real:

Constanti.no o Maxêncio figuram nao como dois imperadores


romanos ,
mas como dois monarcas medievais, coroados e

empunhando enormes espadas. Se o texto nos refere de facto os

dois imperadores ,
a espada é um atributo dos monarcas

medievais, muito comum, aliás nos monarcas portugueses.


A representagão real mais proxima, pelos seus atributos,
é sem dúvida a escultura que se conserva no museu do Carmo,
e que José Mattoso (1933, II Vol p. 65) tâo bem caracteriza:
"
Trata-se da mais antiga figuragão iconográfica do

nosso primeiro rei ,


outrora conservada na Igreja de

Santa Maria da Alcágova, em Santarém (...). A

coroa ,
o manto real e o ceptro em forma de cruz

acentuam bem a sua dignidade soberana. Mas o trago


mais saliente provém da grande espada gue o rei

levanta ao alto, como para marcar bem o valor

guerreiro (strenuitas) , pelo qual mereceu o título

de rei."698

Nas Etimologias ,de Sto Isidoro de Sevilha, Alc.446 fl.96v,

podemos ainda considerar como uma representagão real ,


a imaqem
que sustenta a linhagera de Cristof Fig . 182 ) .
Representagão

'jC,s
José Mattoso .4 Monarquia Feudal( 1096- 7 480 ) , Historia
de Portugal ...
p. 64 .

357
majestática e frontal do rei David coroado e com manto, não

possui ,
no entanto, qualquer outro atributo.

É curioso que esta mesma forma de enquadrar o diagraraa


esteja já presente em manuscritos mogárabes, embora sem a

imagem coroada.

Em Pontigny, o fragraento do Decreto de Graciano, Auxerre,


B.M. Ms 269, datável entre 1170 e 1190 699, possui igualmente
uma árvore de consaguinidade enquadrada por figura
real(Fig.l86 ) .

Cada Ordem esconde em si diferengas que evidenciam os

vários estratos sociais. A diferenga que vai do monge ao abade

ou bispo é certamente semelhante â que separa o vilão do

senhor. Contudo ,
a
justificagão ideologica que esta sociedade

faz de si é raotivo para os juntarraos.

Monge

0 que caracteriza, neste mundo dividido era ordens, a

representagão do monge é a sua atitude de humildade.

Representado com certa frequência na ilurainura, raras vezes

está associado a cenas de carácter narrativo e aparece


sobretudo nas margens dos textos ou no interior da letra

encoberto pelos ornamentos de carácter vegetal; nestes casos,

o monge sucumbe a tentagão de perpetuar a sua imagem nos

manuscritos que executa.

O Alc.231, f1 .
90, raanuscrito do priraeiro quarto do séc.

XIII, tem entre outros, o texto da Regra de S. Bento. O

iluminador escolheu uma cena, no interior de um monumental A

ricamente ornado e, entre os corpos entrelagados de dois

dragôes, uma arquitectura monástica, prefiguragão da Jesusaléra

Celeste; entre duas arcadas românicas, S. Bento dá ao monge o

manuscrito ( Fig .421 ) . 0 monge, de pé , aceita o livro que lhe

é dado pelo santo que se apresenta sentado em cadeira sobre

'

Walter Cahn .4 Twelf th-Century Decretum Fragment from


Pontigny . . .
p. 51 .

358
estrado. Esta cena reflecte provavelmente a relagão quotidiana
do raonqe face ao abade, e expressa bem a iraportância
fundamental da leitura diária deste texto. 0 desenho é ingénuo
e reflecte um artista que não tem grande perícia a executar

personagens , apesar da ornamentagão que o rodeia ser de uma

pujanga extraordinária . Esta cena é vulgar na ilustragão da

Regra.

Escriba

Finalmente, o copista, a personagem que protagoniza o acto

da escrita, está intimamente ligada ao imaginário veiculado nos

côdices.

0 copista faz-se representar, através de outras

personagens apenas, em três manuscritos de Santa Cruz .

No manuscrito Biblico Sta Cruz 1, fl. 334, aparece como

S. Jerônimo escrevendo o Prôlogo ao livro de Tobias que comega

por Chromatio et Heliodoro . . .


( Fig .46 ) . Neste texto Jerc-nimo

está representado no acto da escrita não como um


simples
copista, mas com a dignidade de alta personagem bizantina ou

carolíngea envergando manto. Sentado sobre cochim, numa


posigão
que seria muito incômoda para a escrita, segura o calamus e

escreve sobre rolo. 0 suporte do tinteiro está perto e

reposteiros dignificam a figura. A imagem é rodeada pela letra


C constituida por corpo de dragão,que por sua vez se inscreve
em quadro sobre fundo pintado e perspectivado . É uma iraagera que
denota não uma preocupagão de relatar o escriba na sua fungão,
mas sim de mostrar os atributos de quem escreve ,
daí os tragos
de arcaismo, como a utilizagão do rolo. A não está
personagem
aureolada e mostra tonsura.

0 Sta Cruz 69, f . 51v representa um outro escriba, sentado

em cadeiral, tendo ã sua frente o coJice aberto, sogurando na

mão direita o calamus , na esquerda a f acaf Fig . 108 ) . Pelo texto

em que se insere-Comentario as Epistolas de S. Paulo de Haymo


-

359
trata-se da prôpria representagão do Santo que recebe

inspiragão divina através da ave que lhe sopra ao ouvido.

Erabora não tenha auréola, o facto de se apresentar descalgo é

já um sinal da sua santidade. Como é descrito na iconografia


da época, é desenhado calvo, com barbas ,
e escrevendo as suas

epístolas'00. Também este escriba se inscreve ern C, cora que se

inicia a palavra Commendo . . . formada por corpo de draqão


bicéf alo .

0 Sta Cruz 20, fl.l73v, representa um escriba mais hurailde


-

veste apenas uma túnica, concentrado sobre a escrita e

sentado em cadeiral, apoia-se numa espécie de escrivaninha

(Fig .340-341) . Os tinteiros são em forma de corno. Dos três

manuscritos, este é o que suscita maiores garantias de ter

sido iluminado no mosteiro. É possível que os objectos


representados tenham sido os suportes da escrita em Santa Cruz

de Coimbra. Curiosa é também a mancha amarela clara que

acompanha a mesa, através da qual o iluminador nos quiz sugerir


a passagem de luz para iluminagão do trabalho do copista. O

texto refere a celebragão da transladagão de S. Bento e Santa

Escolástica, o que nos leva a pensar que é o prôprio santo ou

um monge beneditino que ocupa o interior desta letra C,


escrevendo a Regra .

Nestes três exemplos, é dificil estabelecer se algum deles


poderia ter servido de modelo. As atitudes sâo diferentes,
embora tenham alguns aspectos comuns : inscrevem-se na letra C,

e representam personagens sagradas sem auréola. Apesar de

desenho e estilos serem distintos, o desenho é mais liberto e

a composigão é mais dinâmica nos dois primeiros exemplos; a

técnica da pintura segue os mesraos princípios: fundos pintados


e recorte das imagens a sépia, processo muito corrente no

scriptorium.
Estas iraagens dos copistas corao personagens sagradas,
sobretudo evangeli stas , no interior de iniciais ornadas e em

'

Cf. Gaston DuDuchet-Suchaux e Michel Pastoureau T,a


Bible et les Saints ...
p. 254 .

360
iluminuras de página, é corrente durante toda a Alta Idade

Média.

Uma das primeiras representagôes surge no Codex de

Amiantinus701 em inicios do século VIII; Esdras a trabalhar na

nova versâo da bíblia. Ainda com tragos clássicos visiveis o

Santo no acto da escrita, sentado num banco com almofada, tendo

aos pés outro banco para apoio; ao lado uma mesa com as

tintas, codices, penas e estiletes gue se espalhavam pelo


chão. Ao fundo aparece o armarium onde se encontram guardados
os livros. A partir desta época f requentemente o copista e o

iluminador fazem-se representar nos manuscritos que executam.

4.5. Bestiário

Este termo terá aparecido soraente nos inícios do séc. XII,


para designar as obras em prosa ou em verso que utilizam

descrigô-es simbôlicas de certos animais reais ou imaginários.


As descrigôes consistem no enunciado de um pequeno número
de "naturezas" animais, sendo cada uraa delas explicada de forraa

resumida, mas incidindo sobre aspectos mais míticos que reais.

Passava-se depois a uma interpretagão moralizante de

acordo com os grandes temas do cristianismo702.

0 silêncio e recolhimento de monges e cônegos regrantes


se eram propicios a uma atitude de serena
contemplagão,
estimularam igualmente uraa sedugão por formas do inconsciente,
como as que se manifestam nestas imagens plenas de maravilhoso

e fantástico.

Os animais têra lugar privilegiado na arte medieval . Com

frequência transcendem a simples fungão ornamental, para


assurairem um conteúdo saqrado ou moralizante.

01
Florenga, Biblioteca Laurenciana, Amiatinus I, F1.5A

Cf . Bestiaires du Moyen Age , apres. por Gabriel


Bianciotto, Paris. Stock. 1980

361
Um animal pode simbolizar várias virtudes, cada uma

destas, pode tarabéra ser encarnada por vários aniraais.

As representagôes de animais fantásticos, alternam no

mesmo côdice, com outros de rigor naturalista, em especial as

aves.

A época romana tardia criou uma das obras que mais foi

usada pelos autores monásticos na representagão do mundo animal

-o Physiologus'70* . Obra escrita entre o séc. II e o IV d. C,


em Alexandria, compila tudo o que se sabia na época sobre

animais, plantas e pedras sem a preocupagâo de ser verdadeiro

ou fantasiado. Atribui aos animais um carácter alegôrico, o que


se enquadra perf eitamente na mundividência medieval .Rapidamente
se extrai do Fisiôlogo, um bestiário, consagrado somente aos

animais. Foi um dos manuscritos mais difundidos até ao séc.

XII.

Esta atitude, estava conforme â filosofia patristica. S.

Basílio explicando aos auditores a obra dos seus dias, mostrou-

lhes como Deus deixou nos animais a marca das verdades da fé.

Nas pedras, nas plantas e nos animais está escrita a histôria


do raundo presente e futura.

Mais tarde, no séc. VII, Santo Isidoro de Sevilha nas

Etimologias'04 , irá dedicar um capítulo aos animais e retoma

igualmente as descrigôes contidas nos bestiários?oíi. Apesar


desta última procurar um carácter mais realista, continua a

OJSegundo Gabriel Bianciotto em Bestiaires du Moyen


Age...p.8, este termo designa o nome de um autor anônimo o
"Naturalista".

"'Este texto faz parte das bibliotecas cistercienses


medievais. Alcobaga possui um exemplar, Alc.446,
provavelmente de origem peninsular.

(,,,San Isidoro de Sevilha Etimologias Madrid. BAC, 1983, ,

II Vol.No Livro XII, Santo Isidoro faz uma distingão entre


os animais "domésticos" e as "bestas" animais selvagens Abre .

tambem eapitulos especiais para animais pequenos nos quais


inclui, por exemplo, a formiga e o rato, para as serpentes
onde inclui o dragao o a hidra, para os vermes, os peixes e

os voadores.

362
prolongar uma tradigão escrita, de cariz erudito, mas sem

recorrer ã observagão directa.


0 seu aspecto simbôlico ou" moralizagão" reduz-se a alguns
grandes temas constantemente repetidos ilustrando as virtudes
cristãs fundamentais, e como explicagão dos mistérios maiores

da Encarnagão e da Redengão. Descreve mundo


um maniqueísta,
dilacerado entre as forgas antagônicas do Bem e do Mal, entre

Jesus e o Demonio706.
Se excluirmos os bestiários, porventura de circulagão mais

restrita, todos estes manuscritos circularam nas bibliotecas

monásticas, juntando-se ao bestiário oriental difundido através

dos tecidos gue envolviam as reliquias, e das descrigôes


fabulosas dos peregrinos.
Criava-se, assim, progressivamente um terreno propicio
ã divulgagão deste universo zoomôrfico que invade as iniciais
dos manuscritos românicos.

Os raonges iluminadores de Alcobaga e Santa Cruz , oscilarara


entre a austeridade, manifesta em manuscritos utilizam
que
exclusivamente ura
ornamentagão vegetal, e, um iraaginário,
seduzido por um bestiário fantástico. Apesar da imagem assumir
neles considerável autonomia, restringe-se serapre â inicial,
adaptando-se ã sua forma, ou por vezes, ultrapassando os seus

limites e espalhando-se pelas margens .

Exceptuando o caso do Livro das Aves707 e o carácter

moralizante dos bestiários, as cenas com animais não têm como

fungão interpretar os textos ,


mas sim constituir um discurso

paralelo contribuindo para a sua ornamentagão .

"''-■"
Gabriel Bianciotto, Bestiaires au Moyen Âges , Paris,
Stock, 1980.

"referimo-nos ao De Avibus de Hugo de Foĩieto,


existente nos fundos dos dois mosteiros.

363
Dragão

As representagôes zoomorficas, as mais interessantes , são

todavia incompreensíveis sem a ligacão orgânica que mantêm com

uma vegetagão exuberante e também fantástica. Entre elas,


sobressai desde logo, o dragão pela sua frequência e variedade

de f ormas .

Definido por Santo Isidoro como a maior de todas as

serpentes e todos os animais que habitam a terra, e que devido

âs suas características voadoras causa os ciclones. A sua forga


radica na cauda. Habita na Etiápia e na India, vivendo no calor

dos incêndios que ele provoca nas montanhas. Deste raodo, o

doutor ibérico dá ao dragão um estatuto entre os outros

animais, isto é, naturaliza-o; descreve-lhe as dimensôes e

'
hábitos peculiares.7C Esta descrigão das Etimologias despoja o

dragão de aspectos míticos. Situagão diferente é a está


gue

presente nos bestiários da priraeira metade do séc. XIII. Em

Pierre de Beauvais,7' este termo tem já uma enorme carga

simbôlica, associado a explicagôes moralizantes.710


Tarabéra a visão milenarista do mundo, está presente na

memária peninsular dos Beatos.

Como muitos dos símbolos medievais, também o dragão tem

um carácter polissémico aparece tanto como expressão de forgas


maléficas como benéficas.

7°8San Isidoro, Etimologias . .. 22 .Livro XII, 4, p.81.

(,9Este bestiário é escrito antes de 1217 e é ura dos mais


prôximos da fonte comum, o Phisiologus latino de que é uma
tradugão bastante exacta. Pierre de Beauvais teria executado
uma obra de vulqarizagão de que existem duas redacgôes: uma
curta de 38 capítulos e uma versão longa gue junta â primeira
várias compilagôes. Gabriel Bianciotto em Les Bestiaires . . .

pp. 19-20.

"'Neste
autor náo aparece qualquer caracteristica do
animai,mas apenas a sua simbologia demoníaca. O dragão é o
grande opositor da pomba simbolo dos fiéis. Gabriel ,

Bianciotto, Les Bestiaires .p.58 . .

364
No Apocalipse, é a visão caôtica e satânica que o anima:

"Em seguida vi um anjo descer do céu, tendo na mâo a chave do

abismo, bem como uma enorme corrente.Dominou o dragão, a


antiga
serpente -é o Diabo, Satanás -e acorrentou-o por mil anos .
"

Mas já no Salmo CXLVIII, nos aparece com um sentido

diferente: "Louvai o Senhor, dragôes da terra...". No discurso


da ortodoxia cristã, o dragão e a simbologia que ele encerra

situam-se nas franjas dos limites do Cristianismo: como os

outros monstros, o Dragão habita cada vez mais o Oriente, mas

no Ocidente, no espago onde doraina a fé, ele surge cada vez

mais como um sinal, uma referência a um mundo caôtico que

progressivamente adquire uma ordem.

É a partir dos princípios do séc. IX, que a imagem do

dragão comega a generalizar-se na Arte Ocidental. Se

exceptuarmos alguns casos ambíguos existentes na Iluminura


Irlando- Saxônica, sô a partir do séc .
X, no Sul da Inglaterra,
é que encontramos o dragâo a constituir o corpo da letra.

No séc. XI, ligado aos scriptoria da Normandia e da

Catalunha surgem-nos vários exemplos. No séc. XII, o dragão


como constituinte da prôpria letra, difunde-se por toda a

iluminura .

Em Alcobaga e Santa Cruz, os dragôes surgera adaptando-se


å prôpria letra e não estão longe de um sentido manifesto

ornamental. Constituindo a letra, são incluídos num todo, dir-


se-ia uma integragão por naturalizagão do fantástico, na ordem

do real.

É, nos livros litúrgicos, e nomeadaraente nos bíblicos, que


este motivo é utilizado maior número de vezes, em especial no

último livro bíblico -

o Apocalipse. Este é o espago

privilegiado para o aparecimento do dragão.


No Alc. 431, fl. 66, surgem dragôes entrelagados ,

exprimindo essa integragão de forgas adversasf Fig. 443 ) . No Alc.

399, fl.71v, o dragão acompanha igualmente o Incipit


Apocalipsis Sancti Iohanis Apostoli , expelindo elementos

vegetais, como é comura nas iniciais roraânicasf Fig 75) . . Neste

manuscrito, o dragão surge ainda ligado ãs figuras dos

365
evangelistas. No F do fl.138, encima a imagem simbôlica de S.

Lucas, onde a presenga siraultânea do galo está certamente

associado â sua genealogia.


Voltando ao primeiro manuscrito bíblico Alc. 429 fl.2, a

acompanhar o Incipit Liber Job surge um duplo leáo alado que


dá corpo a letra( Fig . 445 ) .

0 Sta Cruz 1 fl.l, surpreende-nos com raaqníficas


representagôes do dragão, como ser ameagador e
apocaliptico,
era toda a sua pujanga e agressividade; este é tarabém de
dragão
um extremo sentido ornamental (Fig. 48 ) . Detenhamo-nos em

imagens, como o D que inicia o Desiderii Mei Desideratas , dois


enormes dragôes de possantes garras e olhar maléfico abocanham

um homem que calmamente lhes agarra os maxilares. Para além do

sentido global de uma luta entre o Bem e o Mal, estão

igualmente os temores do mundo rural face â floresta

dominadora, onde o homem, muitas vezes se sentiria impotente


face aos animais. Um dragâo de formas semelhantes, é incluido
nos frisos que encimam as tábuas de concordância evangélica,
em luta violenta com horaens e outros animais ( fls 362 e

362v) (Fig. 54 e 55). A cor escolhida para lhe acentuar o

carácter maléfico é o esverdeado711. Tal facto não impede o

iluminador de construir iniciais em que o dragão tem um aspecto


terno e submisso.

No início do primeiro Livro dos Reis, fl.98 (Fig.52),


encontramos um outro dragão expelindo um outro dragåo pela
boca ao mesmo tempo que aprisiona um cordeiro. Constitui uma

composigáo genial.
No Alc. 367 surge-nos como figura labiríntica e

metamôrfica, enquanto no Alc. 246, 18v, como dragáo anular que


mordendo a prôpria cauda completa um circulo formando assim a

letra .

"Michel Pastoureau refere que determinadas criaturas


satânicas na Idade Média passam por incoloros. Um dos
processos de as ropresentar está na utilizagâo do esverdeado
já que o vordc ora a menos colorida das cores para o olhar
dos medievais. Couleurs , Images, Symbo 1 es ...
p. 96

3 6C*.
A presenga destes animais é particularmente siqnif icativa
nos Missais Alcs 249, 252, 253, 257. A inicial que raaior

impacto tem nos fôlios é o T, que inicia o Te igitur ( Figs .209-


212). A sua fungão parece ser a de guardião, permanecendo
sempre nas margens, impedindo que qualquer coisa de maléfico

penetre no supremo sacrifício que em breve se vai consuraar


-

a Consaqragão.
Erabora aparega corao araeagador não deixa tarabém de assumir

um aspecto gracioso e inofensivo, como no Alc. 426 onde pousa


com delicadeza, num trago feito para o receber.

Neste manuscrito surge ainda a serpente alada que com um

estranho bico apresenta um aspecto inofensivo. Apesar de tudo


abocanhar, caules, seres humanos e animais, a sua expressão é

terna. Estamos perante a outra face do dragâo, o dragáo


domesticado.

Seres labirinticos vindos dum universo longínguo, ou

fantasmas que povoam o nosso inconsciente colectivo?. Se a

questâo fica em aberto, permanece o fascínio desses seres que


habitam as iniciais dos côdices, em toda a sua
712

intemporalidade .

Centauro

0 Sta Cruz 1, fl.l tem um excelente exemplar de centauro,


incluido na classif icagão de Santo Isidoro entre os monstros

ou portentos ( Fig .50 ) . Assim designados, porgue anunciam

12
A iconograf ia do dragão foi já por nôs tratada na tese
do mestrado em relagão ao fundo alcobacense. Maria Adeleide
Miranda, A Inicial Ornada dos Manuscritos Alcobacenses ,

Lisboa, F.C.S.H., 1984, pp. 128-133. Retomamos o tema


enriquecendo-o com outros
dados^
(portendere) ,
mostram (monstrare) e predizem ( praedicare) algo
futuro.713

Representagão híbrida entre quadrúpede e horaera é

considerado como um ser maligno, simbolizando a concupiscência


carnal, que torna os homens semelhantes aos animais.

É imagem da dupla natureza do homem -

uma bestial, outra

divina.714

Não nos parece que este centauro tenha qualquer conotagão


maléfica. Ele substitui , na cena ,
o arqueiro que combate, esse

sim, o animal selvagem, ou se quisermos, numa linguagem


alegôrica, o que exprime a vontade divina, impedindo que os

inimigos imponham a sua forga715. Estamos de acordo com Émile

Mâle, quando afirma que a imaqem do centauro que se expandiu


através das miniaturas dos Bestiários perdeu a sua simbologia
primitiva.
0 centauro surge tarabém esculpido nos capitéis da região
de Coimbra. Podemos observá-lo num capitel da Sé de Coimbra716

e igualmente num capitel da Colegiada de S. Cristovão de

713San Isidoro Etimologias .p. 47 Na mesma obra pp.53 . . .

e 55 diz-se â cerca do Centauro. "0 aspecto que oferece o


Centauro está indicado no seu prôprio nome: é uma mistura de
Homem e Cavalo. Segundo alguns, tratava-se dos soldados de
cavalaria dos
tessálios, que eram tão velozes na guerra que
davam a impressão de que o jinete e montada formavam um sô
"
corpo. . . .

714
Jean Chevalier, Dictionnaire des Symboles ,

1-V.p. 2 99.

71'"Jean Chevalier, Alain Gheerbrant Dictionnaire des


Symbol es ,
1° . V . . . .
p . 1 1 7

1"
Manuel Luís
Real, La Sculpture Figurative dans L'Art
Roman du
Portugal Portugal Roman. fig. 13 in
Este capitel
, .. .

localiza-se na torre lanterna do transepto, parte alta do


brago Sul visto da tribuna Norto. Aqui os animais apresentam-
se afrontados e a forma é contudo bom diferente da do
manuscrito crúzio.

3 68
'"
Coimbra. Este capitel,718 para além dos dois centauros

lutadores, contém ainda pequenas cabegas de animal que são

familiares ao Sta Cruz 1.

A cronologia atribuida situa-o entre o terceiro e último

quartel do séc. XII, o que está prôximo da datagão do


MO
manuscrito.

Seria pois um animal , divulgado na iconografia da região,


embora desconhegamos quais as razôes da sua escolha pelos
artistas locais, dado que não são comuns as suas iraagens, entre

nôs, nesta época.

Leáo

0 Sta Cruz 1 contéra tarabéra o leão de pelagera tratada â

maneira oriental, segundo um modelo que remonta ao séc. XI.

Símbolo da ressurreigão ,
animal funerário, é o guardião
de sepulturas e tem lugar assente nos nossos manuscritos.

São numerosas as iniciais onde identif icamos uma cabega


de leão, servindo de ligagão entre várias partes da letra ou

do seu suporte ,
ou afrontados no interior das letras Sta Cruz

1, fl.261 (Fig.446).

Outros Animais

Não encontramos a presenga signif icativa de qualquer outro

ser de carácter zoomôrfico no conjunto dos seus manuscritos.

Contudo não deixa de aparecer o cão no Alc. 242, fl. 61., o

coelho ou do peixe Alc. 450, fl. 3v.

17
Este capitel foi reproduzido por Manuel Real era A

Colegiada de S. Cristovão de Coimbra e os seus Capiteis ,

Estudos de Arte e Histôria. Horaenagera a Artur Nobre de


Gusmão. .
.pp. 207-224.

718Recebeu o n-.6 era Manuel Real ,


. A Colegiada de S.
Cristováo de Coimbra e os seus Capi téis ..
.p. 214 .

"^Manuel Luis Real, A Colegiada de S. Cristovão e seus

Capiteis . . .
pp. 209-210.

369
Também os manuscritos de Santa Cruz de Coimbra possuem um

conjunto de animais que se concentram num numero restrito de

codices os Sta Cruz 1, 4 ,20 e 21. 0 primeiro constitui um

repositorio de seres hibridos, apocalípticos domésticos e

selvagens. distribuem-se nos frisos ornamentais que fazem

parte das tábuas de concordáncia evangélica e no interior das


iniciais .

No Sta Cruz 1, f 1.363, surge junto ao dragão, um cervo

(Fig . 447 ) . Santo Isidoro7'0 descreve-o deste modo -

"0 nome de

cervos (cervi) deriva de Kerata , quer dizer, de chifres pois


em grego chifres diz-se Kérata. São iniraigos das serpentes,
e quando se sentem afectados por uma doenga tiram-nas dos seus

esconderijos com o resoplido do seu nariz e melhoram devorando-

as como alimento, já que o seu veneno faz desaparecer a

doenga." Para o Fisiôlogo grego, o cervo nera sequer está

enfermo mas odeia por natureza o dragão."'"'1


Para além do veado também o cão, o coelho e o boi

(Fig .448-449A) povoam os frisos das tábuas de concordância já


antes referidas.

Ainda no Sta Cruz 1, fl.208v, bodes formando a letra V

aparecem em formas hibridas, repetindo-se o modelo no Sta Cruz

2, fl.193 (Fig. 450-451) .

Lobos afrontados forraara a inicial C do Sta Cruz 1,


fl.216v (Fig.451-A) .

No Sta Cruz 20 fl.l23v e fl.l56v iniciais coma letra I

são preenchidas com animais que se entrelagam, mordendo as

caudas, sugerindo a forma de uma colunafFig. 346 e 347). Estas

imagens lembram as colunas esculpidas com animais que se

encontrara nos qrandes raosteiros do Sul da Franga, nomeadaraente

a de Souillac, datada do 2 .
quarto do séc.XII (Fig .452 ) . Ainda

no manuscrito Sta Cruz 21, fl.83 o iluminador introduziu uma

7*"
Etimologias. . .
, XII, l,p,18

"Ignacio Malaxecheverría Fauna Fantastica de la


Peninsula Ibérica, San Sebastian. Kriselu, 1991 ...
p. 149 .

370
cena de caga cheia de realismo -

um cão prepara-se para apanhar


uma lebrefFig. 355) .

0 peixe, associado ao dragão constitui também a estrutura

de algumas iniciais, como no Sta Cruz 1, fl. 311v ( Fig . 453 ) ou

no Sta Cruz 20, fl.78 (Fig.350).


A representagão dos animais nestes côdices é feita, em

geral, nura desenho realista de excelente qualidade. Se

excepturamos o Sta Cruz 1, é flagrante o constrate com as

representagôes humanas onde o esquematismo ou mesmo a

inqenuidade está bem patente. Dir-se-ía que os nossos

iluminadores ,
como os escultores , foram mais atentos (e
livres?) a captar as formas do bestiário que souberam conjugar
com o mundo vegetal, do que em reproduzir as figuras humanas.

Aves

Este bestiário não f oi , todavia, o ûnico na mundividência


dos monges . A partir de finais do séc. XII ou ínicios do XIII,

o "De Avibus", de Hugo de Folieto, assinala uma outra relagão


com o universo zoomôrfico.

Nestes manuscritos , o texto inicia-se com dois prologos


em que o autor apresenta a obra .
Dirigindo-se a Rainier, um

converso, numa linguagem moralizante e alegárica e que procura


excluir qualquer pensamento abstracto. Seguem-se ainda numa

primeira parte, dois diagraraas -

a Palmeira e a Árvore da vida .

Uma segunda parte consiste nas imagens de uma enorme variedade

de aves com a correspondente moralizagão.


A imagem não constitui aqui , apenas um discurso paralelo
ao prôprio texto, mas ilustra-o.

Já nos referimos em capítulos anteriores aos três

manuscritos e ãs relagôes existentes entre eles.

Para além do aspecto moralizante que o texto contém,é um

verdadeiro inventário de aves .

371
No Sta Cruz 34 do fl.89 ao 109v desfilam 23 aves722: a

pomba (columba xristi est ecclesia) ,


o pelicano ( pellicano) ,

a garga nocturna ou goraz ( nicticorace) ,


o corvo (corvo) , o

galo (gallo) , o avestruz (strucione ) ,


o abutre ( vulture) , o

grou ( grue), o milhafre (milvus ) ,


a andorinha (yrundine) ,
a

cegonha (ciconia) ,
o melro (merula ) ,
o mocho(jbujbone) ,
o gaio
(gragulo) ,
o ganso {ansere ) ,
a garga (ardea), o borrelho

(caladrio) ,
a perdiz (perdice) , codorniz (coturnice ) ,
a popa

(huppupa) ,
o cisne (cigno) ,
o pavão (pavonej, a águia (aquila ) .

A representagâo das aves em Santa Cruz é mais naturalista

que em Alcobaga, cujo desenho, por ser mais ingénuo não nos

perraite uraa observagão detalhada das características de cada

ave. 0 iluminador de Santa Cruz como o do Lorvâo, revela um

sentido decorativo muito evidente no tratamento das penas das

asas de algumas aves723.


Apesar do bom desenho que apresenta, nestes manuscritos,
o tipo de aves é estereotipado não mostrando grande liberdade

de trago. 0 artista consegue, todavia, quebrar a monotonia,


jogando com os limites das cercaduras e a forma das aves. Ora

estas se circunscrevem aos contornos ,


ora os ultrapassam.
A paleta é pouco variada, não recebendo cada ave mais de

duas cores . Em Alcobaga sâo monocroraáticas ou bicolores e

poucas vezes deve ter sido utilizado o pincel. É através de

tragos feitos com o calamus que se enchem as superf ícies724.


0 diagrama da pomba gue suraariza as ligôes dos capítulos,
nâo está presente em Santa Cruz .

'"Transcrevemos o nome das aves em latim, conforrae está


no texto.

7~3
Alguns desenhos de aves são particularmente bem
conseguidos, como é o caso do galo (fl.98) ou da águia
(fl.l09v) .

:"t
Cf . Maria Isabel Rebelo Gongalves, "Sub:~ idios para
o estudo iconográf ico animal rfor. codices me.di evai s
alcobacenses in Actas .Congresso Internaciona l para a

Investigacão e Defesa do Patrimonio. Alcobaga: 1978.

37
0 De Avibus , obra de um cônego regrante seria

provavelmente um dos manuscritos bem aceites por S. Bernardo,

já que nele não há "seres monstruosos" e cada animal, mais não

é que ura pretexto para dar aos monges e aos iletrados exemplos
de virtude. A espiritualidade bernardina, assim como o seu

espírito reformador, ter-se-iam reflectido directaraente em Hugo


de Folieto725. Interroga-se Ivan Gobry se os dois abades se

teriam mesmo conhecido. Refere a propôsito que o "De Claustro

Anime" faz alusão a S. Bernardo. Nesta obra escrita entre 1135-

53 ecoam as palavras de S. Bernardo -

"Os bispos mandam

construir palácios cuja grandeza ultrapassa a das igrejas.


Colocam as suas delícias nas salas cobertas de pinturas.
Simultaneamente o pobre caminha sem roupa e bate â porta com

o ventre vazio." (1,1). É também signif icativo o facto de

conegos de Saint Denis (Reims) elegeram por abade Hugo a

conselho de Guerric dUgny, amigo intímo de S .Bernardo726.

Willene B. Clark surpreende-se que seja entre os austeros

cistercienses que os livros das aves e os bestiários tenham

sido mais divulgados. 0 seu uso como fonte de metáforas e

alegorias para sermôes e escritos morais justificaria em parte


esta situagão.727
Para além da representagão no De Avibus, muitas outras

aves, mais dificeis de identificar, povoam estes côdices.

Afrontadas, ou debicando folhagens, ou ainda, simplesmente


constituindo a estruturas de letras.

7?5

726
Hugues de Fouilloy in Dictionnaire de Spiritualite ,

Paris, Beauchesne, 1969 .

727
Willene B. Clarck The Tllustrated Medieval Aviary and
the Lay-Brotherhood The llustrated Medieval Aviary and the
Lay-Brotherhood in Gesta 21 (1982).

373
4.6. No Reino do Ornamento

0 ornamento doraina face â imagera nos nossos manuscritos.

 imagem está reservado um pequeno espago, mas é o ornamento

que quebra a austeridade dos fôlios e invade as iniciais.

E necessário definir o que aqui se entende por ornamento,

sobretudo face a um outro termo constante neste trabalho, a

imagem.
Para os autores medievais o termo ornamento é empregue com

um sentido bem diferente do que lhe conferimos. Ele designa a

saída do caos no momento da criagão, e a organizagåo da matéria

em elementos determinados 779.

Na Alta Idade Média, Santo Isidoro dá a etimologia deste

termo, uma acepgão que o aproxima de uma estrutura ordenada .

No XIII capítulo Acerca do mundo e das suas partes , diz-nos:

"Os gregos , pela sua parte, impuseram ao mundo um nome fazendo-

o derivar da sua beleza, devida å diversidade dos seus

elementos e formusura das estrelas. E denominaram-no Kosmos ,

que significa "ornato". E é porque não há nada aos olhos

humanos mais formoso que o mundo"730.

0 ornato adquire assim uma acepgão englobante, a partir


dos atributos do cosmos (beleza, harmonia, proporgão dos

elementos). Utiliza tambéra, por oposigão ao conceito grego de

caos , correlatos do termo em relagão aos adornos do corpo:


"Denominam-se adornos (ornamenta) porgue com eles se embelezara

os rostos ( ora ) e o aspecto externo das pessoas.Os primeiros

7""*M.M. Davy Initiation a la symbolique Romane ,


Paris:
Flammarion, 1977. p. 211.

Graeci vero nomen mundo de ornamento ad


commodaverunt , propter diversitatem elementorum et

pulchritudinem siderum. Appellatur enim apud eos Kosmos, quod


signif icat ornamentum. Nihil enim mundo pulchrius oculis
carnis aspicimus .In Santo Tsidoro de Sevilha Etimologias , ,

Madrid:B.A.C. ,
198 3 .XIII, 1, p . 1 2 1 .

374
adornos foram as coroas, sinal da vitôria ou manifestagão de

honra real."731

Esta nogâo abrangente predomina em toda a Idade Média,


havendo ainda dela ressonâncias na historiograf ia de arte e

estéticas contemporâneas .

Para Marie Madeleine Davy, o termo designa também

qualquer elemento que embeleza uma estrutura, nomeadamente os

temas iconográf icos . É neste sentido que Focillon o entende,


quando chama Le Décor Roman ,
ao último capítulo de Art

d'Occident221. Capítulo que abarca a escultura, a iluminura,


a ourivesaria e a pintura mural e que pressupôe que todas são

artes ornamentais da arquitectura ou de qualquer outro suporte.


Contudo, o autor, em Vie des Formes precisa mais este termo,
dando-lhe uma perspectiva dinâraica de ornamento que raarcou de

forma profunda a
historiograf ia de arte medieval. 0 ornamento

tem vida autonoma para além do suporte que delimita a

superfície e do estilo que orienta a forma733.

Gombrich é, no contexto actual , o que de forraa mais

profunda teorizou sobre o ornamento, a partir da perspectiva

711
Ornamenta dicta eo quod eorum cultu ora vultusque
decorentur .Prima ornamenta corona insigne victoriae, sive
regii honoris signum; in Santo Isidoro, Etimologias ,XIX,
30, p. 480-481.

732
In Henri Focillon, Art d'Occident: Le Moyen Âge Roman
I, Paris, Armind Colin, 1938. pp. 224-337.
'33
Henri Focillon,A Vida das Formas , Lisboa, Edigôes 70,
1988, "Há, contudo,
p.34. um tipo de arte capaz de se
incorporar sem alteragão, submetendo-se a qualquer técnica:
trata-se da arte ornamental, que é talvez o primeiro alfabeto
do pensamento huraano, na sua tentativa para entender o

espago. Esse tipo de arte não deixa de ser dotado de uma vida
particular e é, por vezes, raesrao modificado na sua esssência,
conforme se trate de pedra, madeira, bronze ou tinta.No
cômputo geral, permanece como um vasto campo especulativo e
de observagão, de onde é possivel extrair alguns aspectos
elementares e qerais da vida das f orraas ,
no seu tipo de
espago
"
especí f ico .

375
da psicologia da arte. Em 0 Sentido da Ordem,73* dedica-lhe

toda uraa priraeira parte e, dentro dela, um capítulo que

intitula signif icativamente 0 ornamento como Arte. É

interessante assinalar o modo como enaltece o séc. XIX, pela


recuperagão que fez do ornamento, ao atribuir-lhe o estatuto

de arte 3S.

734
E.H. Gombrich, El Sentido de Orden.Estudio sobre la
Psicologia de las Artes Decorativas , Barcelona : Gustavo Gili,
1980. Primeira Edigão de 1979, editada em Oxford pela
Phaidon.

73S
. No séc. aplicada em dois sentidos:
XIX esta nogão é
o ornamentovegetal objecto da histôria da arte (a
como

perspectiva de Riegl), e o ornaraento, e raais precisaraente


a iluminura, como uma matriz de padrôes susceptíveis de serem

utilizados por outras expressôes artísticas. A recuperagão


das chamadas artes decorativas, consideradas como menores ,

caminha paralelamente ã recuperagão da arte medieval. Alois


Riegl foi um dos homens que no séc. XIX maior projecgão deu
ao seu estudo. Conservador do Museu de Artes Decorativas de
Viena particularmente sensível
foi ã importância da

compreensão deste tipo de arte, escrevendo uma histôria da

ornamentagão. Procurando uma genealogia para o ornamento


vegetal Riegl, estuda através dos tempos e das culturas as
,

alteragôes que sofre este ornamento, alicergando a teoria de


que tinha uma vida autônoraa .

A obra Problemas de estilo: Fundamentos para uma

Histôria da Ornamentacão ,
foi escrita em 1893. Inclui o

estudo da decoragão floral das culturas egipcia e árabe. Com


esta evolugão, Riegl guer mostrar como elementos mínirnos raas ,

essenciais da decoragão, podem colocar problemas fundamentais


da concepgão e produgão artísticas.
Ainda no séc. XIX, alguns autores valorizaram a histôria
da ornamentagão e interessarara-se especialmente pela côpia
e publicagão de manuscritos iluminados. Entre eles, Henry
Noel Humphreys, que publicou, em 1844, The Illuminated Books
of the Middle Ages As suas preferências dirigiram-se para
.

as épocas em que o ornamento domina, os sécs VIII a X. Época .

excelência irlandesa e anglo-irlandesa. Considera o


por
estilo do séc. XII como o que se expande por toda a Europa
Ocidental e assinala o apogeu da iluminura no séc. XIII.

Comega o livro referindo que o objecto do seu estudo

pretende contribuir para o progresso da arte da iluminura,


não como um assunto arqueolôgico ,
mas artistioo, sem

referências â histôria do livro. Henry Noel Humphreys, Owen

Jones, The Illuminated Manu:;rr i pts , London , Bracken Books,


1955, p. 9.

376
A utilizagão do termo prnamento na iluminura tem,

necessariamente, que ser restringida.


Na iluminura entendemos por ornamentagão toda a decoragão
não contém um carácter narrativo ou ilustrativo,mas onde
que

há uma vontade expressa de representar73".


Reconhecemos todavia que, tendo era conta tudo o que

dissemos acerca do carácter simbôlico da imagem, é difícil

afirmar com seguranga que no ornamento não existe uma

representagão simbôlica737.
Corre-se pois o risco de ter uma atitude redutora, acerca

do ornamento. É também o caso da arte céltica, essencialraente


ornamental ,
e que contém aspectos de essencialidade para o povo

que a criou738.

Uma outra distingão entre decoragão e ornaraentagão, deve

ainda ser feita. A decoragão, termo que raramente empregamos,

está apenas ligada ãs virtuosidades da linha e ao embelezamento

das superfícies. 0 termo ornar representa mais do que isso,


assurae que a arte não figurativa tarabéra pode veicular

sentido739.

736
Denis Muzerelle, no seu Vocabulaire Codicologique ,

Paris: CEMI , 1985, pp. 147-148 apresenta esta mesma mesma

distingão entre ornaraento e iconografia.

7,7
Gombrich utiliza a feliz expressão "potencial
simbôlico" para chamar a atengão que mesmo qualquer forma

desprovida aparentemente ter de carácter simbôlico o pode já


exemplo, o disco
tido, voltando depois a adquiri-lo.Dá como

alado do Eqipto, o olho, a estrela de David, a árvore da


vida- motivos que persistem e se repetem formalmente mas cujo
significado mais profundo se pode encontrar nas culturas
primitivas que os criaram. El Sentido de Orden. .p. 307-311. .

738
Sources de l'Art
In Régine et Madeleine Pernoud,
Paris, Berg International 1980, p. 48. Estas autoras
Roman, ,

referem que a arte ornamental entre os Celtas


ao contrário
do acontece entre os Greqos é essencial e domina mesmo
que ,

quando este povo cria representagôes figurativas.


"s"
Madeleine Pernoud, Sources de l'Art
Régine e

Roman . .
.p. 49 .

377
não jogar com esta divisão e evitar
Contudo, preferimos
neste período, bastante
o último termo, já que nos parece,

de sentido, dado ser difícil saber onde termina o


desprovido
símbolo e comega a mera preocupagão estética.

Inicial Ornada

Na iluminura românica o ornamento centra-se, sobretudo,

nas iniciais. As suas vias de criagáo são muito dif erenciadas ,

explicitámos A Inicial Iluminada nos Manuscritos


como já em

Románicos Alcobacenses .

A inicial ornada é uma letra que recebeu um formato, uma

coloragão e uma decoragão particulares, destinada a distingui-


la das outras letras, para que preencha aos olhos do leitor uma

de sinal 74°. É o ornamento que caracteriza as


fungão
hierarquizagão se reporta ãs
iniciais e as distingue numa que

diversas divisoes do texto. Finalmente, é o ornamento que,

através de estudos comparativos ,


nos permite estabelecer

filiagôes entre elas.

Correndo o risco de nos repetirmos, não podemos deixar de

fazer um percurso através das iniciais ornadas e da definigão


das suas formas e motivos. A inicial é uma criagão formal que

tem a sua razão de ser especifica na iluminura741 . Acabou por

se impôr como uma "criagão autônoma" marcada pela diversidade


assumiu a estrutura da letra, a combinagão dos ornamentos
que

finalmente fôlio. Foi no séc. V, periodo que se


e a fungão no

iniciais, ela se
convencionou para datar as primeiras que

destacou da escrita.

0 vocabulário ornamental utilizado era Itália e na Gália,

é zoomôrfico recorrendo f undamentalmente a aves e peixes, cuja

""'
C.F. Héléne Toubert, La lettre Orne in Mise en Page
et Mist.~ en Texte du Livre Manuscri t p 379 ... . .

Miniatura Medieval p. 46
~41
Otto Pacht, La . . .

378
como
simbologia é bem conhecida no mundo paleocristão. Surge

anticlássica ornamentar a letra corre-se


criagão , já que ao

o risco de pôr em causa a sua lisibilidade742. Embora por

de forma aditiva, outros


vezes os elementos se conjuguem
metamorfoseiam-se de forma orgânica.
É saxonico irlandês que melhor
o monaquismo anglo- e

de relagão entre o texto e a


interpreta esta nova concepgão
é substituido por um
imagem. 0 espago clássico compartimentado
outro a duas dimensôes. As prôprias letras comegam a

entrelagar-se constituindo raonogramas em espagos

ilusionistas'4'. Os motivos são abstractos . 0 entrelago


combinando-se círculos, espirais, painéis de
domina, com

desenhos georaétricos e elementos zoomôrficos muito estilizados.

Mas o que mais distingue o ornamento irlandês é a impressão


de raoviraento ininterrupto alguns autores relacionara
geral gue

com a música744.

No Continente, os Merovíngios utilizaram os mesmos

motivos, mas o ritmo e o movimento dos motivos espiralados,


acabam por dar lugar a iniciais estáticas. As intercepgôes
entre fundos e os elementos decorativos sublinham, a via

puramente abstracta da ornamentagão.


Um manuscrito paradigmático desta cultura e dos livros

litúrgicos é o Sacramentário de Gellone. Aqui surgem os

primeiros exemplos de personagens que se substituem ãs letras.

743
In Otto Pacht La Miniatura Medieval . .
.p. 51 .

7,3
In J.J. Alexander La Lettre Ornee. . .
p. 11

44
Carl Nordenfolk, Les Manuscrits irlandais et anglo-
saxons, Paris:Chêne, 1977. pp. 16-17. 0 autor relaciona o tipo
de ornamento cora os instrumentos de orquestra.Da mesraa
maneira que há numa orquestra três grandes categorias de
instrumentos-as cordas, os instrumentos de sopro e os de
também há três tipos de ornamentos -os
precursâo
entrelagados ,
os curvilíneos e os rectílineos.

379
0 modelo generalizou-se a partir do séc. VIII'4'', embora a

miniatura merovingia permanega estranha ã representagão


humana746.
Nesta iluminura não se excutam as grandes iniciais que

todo o fôlio, como é comum entre os irlandeses. As


ocupam
iniciais são integradas no texto ou formam titulos

decorados'47
da inicial ornada faz-se no sentido da expansão
A evolugão
pela utilizagão de
do ornamento de tipo anglo-irlandês e

elementos de carácter antropomorf ico e zoomôrfico. É

interrompida durante o império carolíngio, quando os

manuscritos iluminados atingiram um riqueza e expansão

incomparáveis. Os arquétipos clãssicos então seguidos inspiram-


ter contornos bem
se nas capitais caligráf icas . A letra passa a

def inidos.

Na corte imperatorial os modelos retomaram sobretudo a

tardia, isto apesar, da circulagâo de manuscritos


época romana

no Irapério e das influências do mundo raonástico.

de centralizar, uniformizar e ostentar poder


A intengáo
descendentes a fazerem ricas
levaram o imperador e os seus

encomendas de côdices; os seus fundos de púrpura ,


a folha de

ornamento de acanto, são os


ouro e o regresso â figuragão e ao

elementos marcantes deste período.


Era finais do séc .
IX, os artistas de Saint-Gall
-

mosteiro

fundado por monges irlandeses a partir do séc. VIII -

é um dos

centros culturais da produgão e inovagão da letra ornada.

"4r>
Embora jã existisse no contexto da
a figura huraana
letra, assumir-se e autonomizar-se
ela irá Veja-se a figura .

da Virgem que substitui o I do fl.l deste manuscrito,


Carl Nordenfalk, La Lettre Ornée. f ig 4
reproduzido por . . .

74"
Carl Nordenfalk, L'Enluminure Moyen Age
au Genêve: ,

Skira,1988, p.44.Segundo este autor sacramentário


o de

Gellona, situa-se jã no período final da época raerovínqea.

4
Tn Carl Nordenf alk ,
L' Enluminure. au Moyen Age ,
Genêvo:

Skira,1988.p.44

380
maneira de conceber as iniciais consiste em
A nova

combinar o caule enrolado de folhagem e a letra, adquirindo o

abstracta. A primeira etapa é a de


conjunto uma expressão
tornar menos volumétrico, o caule enrolado de tal maneira que

clássica.
perde a maior parte da sua qualidade orgânica e

do séc. X conhecem um
As letras anglo-saxônicas
desenvolvimento bem diferente. Num saltério realizado em

é evidente as iniciais ornadas construídas


Winchester, que

derivados das letras secundárias de


opôem entrelagos
manuscritos do Sul da Inglaterra.
caule enrolado de folhagem a três
Aparece entretanto o

dimensoes, orgânico e enrolado combinado com a palrneta.


assim da forma rígida da letra ao
Opôe-se a solugão
dinamismo da ornaraentagão.

deste momento, decisivo para a evolugão da letra


A partir
humanas
ornada românica, introduzem-se progressivamente figuras
0 motivo principal da
e aniraais era formas e ritmos múltiplos.
ornamentagão continua a ser o caule enrolado com folhagens em

movimentos espiralados. Estes motivos ganham volumetria, as

formas são polposas, as folhas recurvam-se e ganham nervuras.

É na ilurainura do Norte da Franga e da Normandia que se

faz em primeiro lugar, esta nova síntese.

à medida no Românico, as folhas centrais


que avangamos

tornam-se cada vez maiores e polposas, ganhando tentáculos que

caules748. Vamos encontrar este tipo de


enlagam os

nomeadamente nos manuscritos


ornamentagão em Alcobaga

litúrgicos.
A inicial zoomorfica assume novas formas, reaparecendo
dos e peixes dos manuscritos
agora em vez pássaros
o dragão. Estas iniciaids terão
merovingeos, os quadrúpedes e

surgido pela primeira vez no Sul da Franga749.

Carl Nordenfalk, L'Enlumi nure. .


.p. 176 .

Carl NordenfalK, L'Enluminure . .


.p. 176

381
Em Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaga

diversas influências, sendo por vezes difícil


cruzam-se

estabelecer com rigor o que é prôprio de uma produgão local,


do exterior. Esta dificuldade deve-se ao
ou o que é oriundo

facto não possuirmos manuscritos datados do séc. XI, periodo


de formas anteriores â grande fase de
que assistiu â génese
internacionalizagão que foi o Românico.

iniciais ornadas o ornamento se instala.


É nas que

âs suas formas, mais tarde


Primeiro subjugando-se
desestrurando-as e irradiando pelas margens.

â iconografia tratamos os dois scriptoría em


Em relagâo
conjunto. No caso do ornamento as diferengas de genealogia,
assim como a variedade existente em Alcobaga, levou-nos a optar

tratar separadamente as iniciais dos dois mosteiros.


por
anterior estudámos já as referências
Em capitulo
dos manuscritos tipo. Iremos agora isolar os
codicologicas
motivos ornamentais e as suas técnicas a fim de configurar as

carateristicas de cada scriptorium.

Iniciais em Santa Cruz de Coimbra

Atendendo ao reduzido número de manuscritos (cerca de 30)

os séculos XII-XIII, â variedade de ornamentagão que


para
austeridade de alguns, as dificuldades foram
contêm, aliada â

acrescidas era relagão a Alcobaga quando procuráraos estabelecer


de iniciais. Nas iniciais principais deste mosteiro
tipologias
executadas ã base de entrelagados que forraara a
predominam as ,

das letras. A ornamentagão vegetal é constituída por


estrutura

enrolados. As estruturadas com base em


palmetas e caules

também em número
elementos zoomôrficos estão presentes

considerável de manuscritos.

382
Iniciais Caligráficas

As iniciais caligráficas apresentam neste mosteiro

ornamentagão vegetal muito simples. São em geral monocromáticas


(verde, vermelho e cor de areia) , podendo eventualmente

conjugar duas cores.

Não conhecemos modelo onde possamos filiá-las. Foi

possivelmente um dos iluminadores do Sta Cruz 4 que divulgou


a sua utilizagâo no scritporium.

Sta Cruz 4

Sta Cruz 51

383

Sta Cruz 30
Sta Cruz 17
Iniciais Ornadas

entrelagado faz
Iniciais de tipo f ranco-saxonico em que o

parte do corpo da letra.

manuscritos o entrelagado é
Não são muitos os em que

variedade no Sta Cruz 4


elemento ornamental . A grande surge

embora um número reduzido da mesraa época possua pequenas

iniciais deste tipo750.


construiu este tipo de
0 fundo Peninsular mogárabe751
também presente no mundo anglo-
ornamento, embora esteja
irlandês do séc. VIII e IX752, no merovingio75 e

22. 30, 43, 58.


Sta Cruz 0 Sta Cruz 76, f 1 1 possui uma ,
.

inicial formada exclusivamente por entrelagados. Em relagão


de
a este manuscrito já referimos o possível modelo mogárabe
iluminura que lhe está na origem.

751
0 denorainado Côdice Emiliense, produzido era San

de utiliza também iniciais formadas por


Millán cerca 976,
entrelagados, quer em barras no interior, quer nas

Escobar.Fi libro enla Espaha Mozarabe


extermidades Hipôlito .

in Los Manuscritos Espaholes. .


.pp. 82-84 .

752
entrelagado no raundo
0 lugar dorainante que ocupa o

é bem conhecido nos Livros de Kells, Durrow


anglo-irlandês
seja necessário referi-lo em
ou Lindisfarne, para que
particular .

763. No para além das


séc. VIII iniciais anglo-
são
irlandesas, os manuscritos do Norte da Franga que apresentam
entrelagados quer em barras no interior
predominantemente ,

do corpo das letras, quer nas terminagôes Exemplo desta .

o de Santo Agostinho
situagão é o Sacramentário de Gellone e
in Tal como no nosso manuscrito,
Quaestiones Heptateuchon .

conjugara cora eleraentos


também aqui os entrelagados se

zoomôrficos e a utilizagão de cores reduz-se aos amarelos,


J.J.
verdes, laranja e vermelho. Iniciais reproduzidas em

AlexanderLa Lettre Ornee... pp. 44-47.

384
os
carolíngio754 e fundos de Moissac e Limoges com os quais

manuscritos portugueses tem enormes afinidades.

Sta Cruz 58

Sta Cruz 4

Sta Cruz

Cruz 30

754
A segunda Biblia de Carlos
o Calvo, produzida entre
franco-
840-877, é um excelente exemplo da escola carolingia
sintetiza as tendencias
saxonica de Saint-Amand, que
Aliando o
classicizantes com a influência anglo-irlandesa
.

pequenas cabegas de animais, que vao ser


entrelagado a
românico. As miciais da
mundo mocárabe e
suprimidas no Pemture
Biblia Carlos
de o Calvo são reproduzidas em

1977 .pp. 126-127 Um outro


Carolingienne, Paris: Chêne, .

manuscrito da mesma proveniência surge em Cnstopher de


H.immei The Illuminatod Manusrri pi .; . .
p. 46
.
, e um evanqel lario
iniciais mostram a raesraa conf íquragao.
do mesmo período e as

385
e
elementos vegetais de folhas largas
Iniciais com

vezes com elementos zoomárficos.


recortadas con jugando-se por
manuscritos de Moissac do
Têm a sua fonte de irradiagáo nos

séc. XI. Este tipo de inicial é muito raro aparecendo apenas

no Sta Cruz 4.

Sta Cruz 4

Sta Cruz 4

387
e caules enrolados e outras
iniciais ornada de palmetas
A
vezes, a tender, para o filigranado.
folhagens por
elementos vegetais muito
ornamentagão interior possui
contornos a cor e leves
simplificados, apresentando apenas

fundos. No corpo das letras aparecem


aguadas laranja nos

filaraentos não pintadas ou barras cora motivos georaétricos.


As cores utilizadas
Raramente se inscrevem em fundos pintados.
são exclusivamente o vermelho, o azul e as aguadas laranja755.

Sta Cruz 5

Sta Cruz 8

de ornamentagáo e de inicial
7"
Encontramos este tipo
Sta 5, 8, 33, 40.
nos Cruz,

388
caules enrolados e palmetas. A
Iniciais ornadas de

letras de desenho simples. São


ornamentagão inscreve-se em

verde vermelho, azul


polícromas de contornos e ornamentagão a ,

iniciais nos Sta Cruz


e araarelos priraários. Estas que surgera

11 13 igualmente em Santa Maria de Alcobaga.


e aparecem

Sta Cruz 13

Sta Cruz 11

Sta Cruz 13
Sta Cruz 11

389
de e caules enrolados não
Iniciais ornadas palmetas
Estão neste caso as iniciais ornadas dos raanuscritos
pintados.
20 21, e tambem no saltério
bíblicos conimbricenses Sta Cruz e

raramente os elementos
Sta Cruz 27. Nestes manuscritos,
vegetais, recebem cor.
ornamentais, quer sejam zoomôrficos ou

Sâo apenas desenhados, recebendo apenas tragos que lhe acentuam

as formas756.

Sta Cruz 1 Sta Cruz 3

Sta Cruz 1, 2, 3.

3 9n
Iniciais ornadas de caules enrolados e palmetas cuja

ornamentagão é apenas pintada a sépia, mas que revestem formas

compôsitas e "barrocas" . A semelhanga com as iniciais do Alc.

418-422 é muito clara.

Sta Cruz 21

391
Iniciais ornadas com caules enrolados e palmetas pintados
toda a sua superfície. Constituem um
compactamente em

abarca entre outros os Saltérios Sta Cruz 25, 26


conjunto que

e 18.

Estão noutras iniciais e apresentara formas


presentes
bastante do ponto de vista formal.
heterogéneas

Sta Cruz 25 Sta Cruz 26

392
As iniciais zoomôrficas são das melhores construidas do

nosso românico.

Dentro das iniciais zoomôrf icas podemos considerar aquelas


em os animais fazem parte do conjunto do ornamento e
que

animais constituem o corpo da letra. Estas


aquelas em os

últimas têm origem remota e como vimos são utilizadas desde os

primeiros séculos do raonaquismo.


São ricos em iniciais deste tipo os Sta
especialmente
Cruz 1 e 4

Sta Cruz 1 Sta Cruz 1

393
Sta Cruz 20

394
Iniciais Santa Maria de Alcobaga

iconografia é pobre a variedade das


Em Alcobaga se a

estabelecer tipologias bem


iniciais ornadas é enorme, e permite
diferenciadas757. Tal como em Santa Cruz destinguireraos entre

ornadas e dentro das ornadas os


iniciais caligráficas e ,

conjuntos mais signif icativos

Iniciais Caligráficas

Estas iniciais são as rnais austeras no contexto da

ornamental do scriptorium. Dominam um conjunto


produgão
numeroso de manuscritos7"8 com as seguintes caracteristicas:
Letras de configuragão simples, cujo interior recebe

por vezes um pequeno filamento não pintado.


No interior a decoragão distribui-se em dois polos
simétricos. Á volta de um círculo saiem duas
perfeitamente
folhas trilobadas, cuja forma é acentuada pela sua silhueta.

A maior parte destas iniciais são monocromáticas ou

bicolores, em geral a azul e a vermelho.

Predominam largamente os elementos vegetais muito

tender formas abstractas embora nalguns


simplif icados a para ,

manuscritos seja de salientar a existência de pequenos

elementos zooraôrficos como no Alc. 350, f 1.154, ou, ainda,


formas mais exuberantes, Alc. 454,
algumas iniciais de como no

fl.l, era que caules enrolados estilizados se corabinara com

trilôbulos ondulantes em movimentos espiralados.

7C>"
Dada deste tema o facto de já o termos
a riqueza e

tratado em A Inicial Iluminada nos Manuscritos Românicos


Alcobacenses leva-nos a utilizar outros manuscritos para
. . .
,

além dos que estáo descritos no capitulo A Iluminura no


Côdice: Relagão texto-imagem.

7S8
150, 152, 169, 170, 243, 332, 334, 335, 343,
Alcs.
454.
344, 345, 346, 350, 351, 363, 364, 367, 369, 405, 423,
São essencialmente textos de partristica e hagiograf ias .

396
Do de vista da genealogia das formas, este tipo de
ponto
iniciais filia-se nos manuscritos claravalenses . Dos

manuscritos da Biblioteca Municipal de Troyes, seleccionámos

11 com claras analogias com este grupo759.

Sta Cruz 3 32
Alc. 152

Troyes, B. M. ,
Mss. 4, 35, 40, 76, 107, 134, 177,
180, 292, 423 e 566. Troyes ,
B. M. mss.. Maria Adelaide
Miranda A Iluminura em Alcobaca e Claraval. Aproximagôes
Estetirnr ,
in Estudos de Artee Historia Homenaqe.m a Artur
.

Nobre de Gusmâo , Lisboa, Vega, 1995, pp. 141-144.

396
Alc. 454

397
Inicial Ornada

Morfologicamente o ornamento, em Alcobaga, apresenta como

forma dominante o caule enrolado e a palmeta, quer sob formas

rígidas e simples, quer em formas compôsitas e tentaculares

cheias de criatividade, desdobrando-se em movimentos

espiralados .

Os motivos zoomôrficos ocupara ura nurnero considerável de

manuscritos e muitas vezes constituem o corpo da letra. .

Elementos geométricos conjugam-se no interior das letras

em barras decorativas.

Inicial ornada com entrelagados . Esta ornamentagão está


praticamente ausente do fundo alcobacenses . Podemos encontrá-la

sistematicamente apenas no Alc. 246, manuscrito gue não

apresenta quaisquer semelhangas com os restantes do fundo.

Esta ornamentagão é bera diferente do entrelagado Pré-

Românico peninsular, e também do que aparece em Santa Cruz de

Coimbra .

Alc. 246

398
Iniciais ornadas com palmetas e caules enrolados. Folhas

carnudas e polposas, de cores compactas . Grande sentido da

plasticidade760. Terminagoes contidas, ordenando-se cora

regularidade e afastando-se pouco da forma da letra.

Estes motivos aparecera não raramente associados ao dragão


alado.

Motivos ornamentais que se inserem em iniciais inscritas

em fundos pintados e os corpos das letras são muitas vezes

estruturados de forma articulada em torno de anéis.

Muito característico deste tipo de ornamentagão são as

cores compactas ,
muitas vezes em matizes usando o processo

arcaico de barras do mesmo tom, do mais escuro até ao não

pintado. As cores são muito vivas ou escuras, predorainando o

azul escuro, o cinzento ,


o grenã, o verde bandeira, o laranja
vivo, o vermelho e o castanho. Recortam-se um tanto

agressivamente e a falta de harmonia por vezes atraigoa a

qualidade do desenho.

A técnica é a "clássica" no mundo românico, todo o desenho

é contornado a preto, e o iluminador aplica-lhe realges a

branco luminoso.

Este tipo de ornamento é muito característico do

scriptorium sobretudo em manuscritos de grandes dimensôes e

especialmente cuidados corao é o caso do Alc. 427-431.

É um tipo de ornamento com uma técnica muito prôpria do

mosteiro.

'■'""
Alcs. 151, 177, 231, 239, 333, 336, 341, 342, 347,
358, 427, 431.

399
Alc. 427

Alc. 427

400
Alc.336
Iniciais ornadas de caules enrolados e palmetas de formas

variadas. A ornamentagão inscreve-se era iniciais forraadas por

barras com elementos folheados ou geométricos, por vezes com

anéis de motivos ovôides e vegetais; as terminagôes são

bastante sôbrias.

0 aspecto raais específico é a tendência geral para a

monocromia, utilizando também a técnica do matiz -

vários tons

da raesma cor ou cores aproxiraadas


-

caso do azul e verde, do

vermelho e laranja.
Podemos encontrar semelhangas acentuadas, e por vezes

mesmos casos de identidade entre os manuscritos de Claraval ,

anteriormente citados, cora os Troyes, B.M. Mss 35, 134, 107 e

é particularmente visível no Montpellier, Bib.


4. Esta situagão
Int.Fac. Med. Ms escrito Claraval cerca de 1170/75 Faz
1, em .

parte de uma colecgão de Vita Sanctorum que Claraval divulgou


entre as filiais da ordem no periodo de maior expansão. É em

relagão ao Ms 432-434 que podemos encontrar uma perfeita


identidade . Também neste manuscrito a estrutura da letra é

ornada de bandas decorativas com motivos geométricos, folheados

ou perolados, no interior a palmeta e os caules enrolados"761.

Mais uma vez estamos face â utilizagão do ornamento vindo

através de Claraval da zona da Borgonha.

761
Este semelhanga já foi posta era destague no capítulo
dedicado â texto imagem e retoma os dados
relagão
referenciados em Iluminura
A em Alcobaca e Claraval
Estéticas in Estudos de Arte e Historia.
Aproximagôes
Artur Nobre de Gusmâo p 14 3
homenagem a . . . . .

401
Alc. 434
Alc. 433

Alc 434

AlC- 432

402
Iniciais ornadas de caules enrolados e palmeta e

ornamentagão apenas desenhada a sépia. Os motivos vegetais são

de grande qualidade, riqueza de movimento e variedade do tipo


de palmetas compôsitas e folhagens. 0 corpo da letra é

estruturado. Inscrevem-se em iniciais sobre fundos pintados de

cores vivas, quadros que na generalidade se escalonam de acordo

com as formas que a letra toma. Este tipo de inicial aparece

particularmente nos Alcs. 418, 419 e 421 sendo uma excepgâo na

produgão do mosteiro.Tipo de ornamentagão vegetal que é uma das

mais ricos do scriptorium.

403
de caules enrolados. A
Iniciais ornadas palmetas e

interior das iniciais assurae formas


vegetagão no

"barrocas" e agitadas. A folhagem contorce-se


particularmente
era movimentos sucessivos. As iniciais que recebem estes motivos

estão colocadas em fundos pintados, utilizando a técnica mais

com contorno a preto e vivos a


clássica das cores compactas ,

fortes e escuras levam-nos a aproximá-las do


branco. AS cores ,

Contudo, ura pontilhado que as individualiza .

Grupo A. possuem

Sô o Alc. 410 possui este tipo de ornamento, mas pelo

facto de ser ura manuscrito datado de 1219, cora copista

conhecido (presbitero de Leiria) e de apresentar um grande


número de iniciais, achamos iraportante referi-lo aqui .
Iniciais ornadas com decoragão marginal. Os folios dos

manuscritos que recebem estas iniciais são exuberantes em cor.

iniciais decoragão apresenta contornos a


São polícromas, a

manchas a cores vivas no interior, verdes, amarelas


vermelho,
e azuis.

Destaca-se Alc. 149, possui alguns pontos de


o que

caracteriza a que é prôpria dos


contacto com a decoragão que

manuscritos litúrgicos762.

'■'"•'
Muito semelhante ao Alc. 149, podemos mesmo pensar
temos o
que poderá ter sido excutado pelo mesmo iluminador,
têm a mesma forma e cor.
Alc. 403, em que muitas iniciais
Também o Alc. 173, 339 e 340 apresentam ornamentagao
marginal semelhante

405
Alc. 149

406
Iniciais ornadas com palmetas, caules enrolados sugerindo
de contacto com o Channel
uma ornamentagão que apresenta pontos
iniciais inscrevem-se em fundos pintados, são
Style. Estas

estruturadas, e têm no interior caules espiralados e palmetas


sobre dois
compôsitas763. A ornamentagão recai essencialmente
B do Beatus Vir dos saltérios e o T do
tipos de Letras -

além da palmeta e dos caules


Te Igitur. Nestas iniciais,
enrolados que se organizam em espirais e entrelagadas em teias,

pequenas cabegas de dragão.

"'
de ornamentagão é prôpria dos manuscritos
Este tipo
litúrgicos Alcs. 11, 166, 167, 138, 188, 249, 251, 252, 253,
258, 259, 260, 361, 411, 412-414.
255, 256, 257,

407
Iniciais ornadas com elementos vegetais trilobados. Um

de ornamentagão muito cornura neste mosteiro e que


tipo pouco

como cores dominantes o verde e o vermelho muito


emprega
escuros. 0 ornamentagão esta que se apresenta croraáticaraente

mais rica no Alc. 396-399, do que no manuscrito Alc. 408-409,

encontramos qualquer modelo


onde é igualmente dominante. Não

lhe ter servido de inspiragão, embora ela prôpria


que pudesse
manuscritos portugueses desta época
não seja habitual nos .

408
V. ILUMINURA ROMÂNICA EM PORTUGAL: UMA HIPÔTESE DE PERÍODIZAgÃO

5.1. Priraeiro período: de 1139 a raeados do século XII

5.2. Segundo Período: de meados a finais do Século XII

5.3. Terceiro Período:o primeiro quartel do século XIII

Apôs uma análise ã especif icidade da iluminura dos armaria

de Santa Cruz e Alcobaga ireraos estabelecer


procurar a partir
destes scriptoria , etapas da evolugão da iluminura românica em

Portugal .

0 critério seguido para a criagão de períodos, baseia-se,


como dissemos, em dados cronolôgicos dos manuscritos datados,
mas também na cronologia da construgão dos mosteiros e sua

evolucâo histôrica.

Comegamos pela iluminura conimbricense devido â

anterioridade de fundagão do mosteiro e â consequente


constituigão do fundo de manuscritos.

Iremos nos dois mosteiros distinguir três periodos, com

base nos critérios acima mencionados:

l9 Período.

Este período compreende os anos que decorrem entre o

primeiro manuscrito datado 1139, até â morte de S. Teotônio em

1162. Inclui apenas côdices produzidos em Santa Cruz, já que


o
scriptorium de Alcobaga, ainda nâo existia.

2" Período.

Época de qrande riqueza da iluminura conimbricense ,


no

final do qual se comegam já a produzir manuscritos em Alcobaga.


3" Período.

Abarca o primeiro quartei do séc.XIII, podendo estender-se até

1237, data dc> último manuscrito que serviu de marco

cronôlogico.

409
Nesta período, Alcobaga executa a maior parte dos seus

manuscritos, enquanto em Santa Cruz a iluminura românica perde

qualidade e repete modelos anteriores.

5.1. Primeiro Período: De 1139 a raeados do século XII

Para Santa Cruz de Coimbra foi uma fase criativa, propria


caracterizada ura cruzamento de
das épocas de fundagão, por

influências locais e do sudoeste francês.

A importância da construgão românica do mosteiro já foi

posta em relevo por A. Nogueira Gongalves764, que mostrou o

introdugão do Românico na região de


seu papel pioneiro na

Coimbra.

Tambéra para C. A. Ferreira de Almeida o mosteiro "símbolo

de Coimbra, fruto da influência provinda de S.


arquitectônico
Rufo de Avinhâo e obra do dinamismo e vanguardismo do arcediago
Telo e de outros eclesiásticos ligados ã Sé de Coimbra, (...)

é desde a melhor expressão das aberturas


bem, o coraego,
";"5
europeizantes experimentadas em Portugal .

A protecgão régia, as doacgôes de particulares e a acgão


de homens cultos como Teotônio, prior nesta primeira fase, e

Telo que inclusivamente tomou a seu cargo as obras do mosteiro,

terão criagão do scriptorium e da sua produgão


proporcionado a

artística .

Até 1139 o conhecimento da iluminura no territôrio que se

tornará Portugal é muito nebuloso, conhecendo-se apenas

fragraentos descontextualizados .

7t'4. Antônio Nogueira Gongalves, Novas hipoteses acerca

da Românica de Coimbra, Coimbra, Gráfica de


Arquitectura
Coimbra, 1938.

'■'"''
Carlos Alberto Ferreira de Al.meida, O Românico in
Historia da Arte em Portugal Vol.3 , Lisboa, Alfa, 1986,
p.113.

410
Já referimos a importância cultural da comunidade mogárabe
coimbrã, na época de fundagão de Sta Cruz de Coimbra, e como

os prôprios conegos tomaram a defesa desse grupo face ao rei

e ao clero da Sé .

Contudo , pouco sabemos da actividade dos scriptoria


anteriores. Dos manuscritos iluminados apenas possuímos alguns
fragraentos. Avelino Jesus da Costa era Fragmentos Preciosos de
'""
Côdices Medievais dá-nos notícia de manuscritos existentes

em arquivos portugueses, classif icados no séc. X, como o texto

do Concílio Ecuménico de Calcedônia de 541, no Arquivo


Distrital de Viseu, ou o texto do Concílio XIII de Toledo,
realizado no ano 683 e depositado no Arquivo Distrital de

Braganga. No Arquivo Distrital de Braga há sete fragmentos em

escrita visigotica do séc.X-XI, pertencentes a seis côdices

diferentes com textos do Levítico, Zacarias, Salmos e S.

Marcos. Como fragmentos litúrgicos, existem "duas preciosas


raridades do séc. X" "'.

0 primeiro, uma folha de antifonário mogárabe , usado na

Sé de Coimbra até â adopgâo do rito romano, o segundo, duas

folhas de pergaminho de um codice também do séc.X,

pertencentes â Casa Episcopal de Lamego, cuja notagão musical

e os respectivos textos correspondem aos do Antifonário de

la Catedral de Leon.

Temos igualmente conhecimento de uma lista de livros

oferecidos por Mumadona ao mosteiro de Guimarães por ocasiâo

da dedicagão da igreja (954), conjunto certamente importante


de obras de cultura letrada, mas das quais desconhecemos tudo

sobre a arte que as ornamentava768.

Estudos de Cronologia. Diplomática Paleografia e .

Histôrico-1 inguisticos Porto, Sociedade Portuguesa


,
de
Estudos Medievais, 1992 p.p. 55-109.

Avelino J. da Costa Estudos de


Cronologia ,

Diplomática Paleografia e Historico-1 inguisticos p. 87. . . .

""Conrinha esta biblioteca uma Bíblia e outros livror,


liturgicos ( anti f onarios saltérios, um liber comicus , um
,

"manual", um passionario e um oracional), para aléra de obras

411
De todo este patrimonio anterior ao séc .
XII, que seria

sem dúvida extenso, pouco chegou até nôs ,


como aliás aconteceu

nas restantes manif estagôes artísticas.769 Mesmo os célebres

Beatus que marcaram a Península no periodo do repovoamento ,


em

Portugal não deixaram vestígios anteriores ao séc. XII."

A influência da arte do Sul sobre a iluminura do Norte

espanhol é complexa. Sabe-se que Afonso III, favoreceu a

imigragão de monges do Sul ,


o que terá provocado uma circulagão
de modelos árabes para Norte ,
mas não se sabe exactamente quais
as vias deste percurso. 0 certo é que, de uraa arte tão

brilhante como esta, nada restou no nosso territôrio . Se

mosteiros como o do Lorvão, ou Santo Tirso, tiveram uma intensa

actividade neste periodo, nada sabemos da sua iluminura, apesar

de carácter monástico, exegético, histôrico e

teolôgico.Estas, sobretudo a Bíblia e os livros litúrgicos,


dão-nos alguraas pistas para o estudo da ilurainura pré-
românica em Portugal Se bem que existam alguns fragmentos
.

no Arquivo de Guimarães, estes não são suficientes para


podermos tirar qualquer conclusão.
76*
Da período, por exemplo, ficaram
escultura deste
também apenas vestígios pobres,nos quais dificilmente
muito
logramos encontrar uma identidade.Apenas vislumbramos
persistências de elementos de grande ingenuidade e o retorno
a um vocabulário e técnicas proto-histôricas e visigôticas.
Os elementos de origem árabe são escassos e pouco
expressivos .

770
Estes raanuscritos, pela teraática, pela forga
expressiva das representagôes, marcaram profundamente a
Histôria da Arte Ocidental. A expressão Beatus passou a
atribuir-se a um conjunto de cerca de 25 manuscritos escritos
e iluminados entre os séculos VIII e X, e cujo modelo teria
sido executado por Beatus , monge de Liébana. Tratava-se de
um comentário ao Apocalipse, texto que foi particularmente
lido comentado nos mosteiros peninsulares
e nas proximidade ,

do Mil. As ilustragôes, revelando ura iraaginário pleno de


Ano
fantástico, traduzem o ambiente de isolamento das pequenas
comunidades monásticas e a grande capacidade criativa que as
envolvia -correspondem ã divisão do texto era histôrias
(secgôes) e
ocupam o lugar entre o texto bíblico e o

comentár io. Funcionam como um método de leitura espiritual,


imaginando-se a partir do que se vé e mostram qrande
expressividade e uma maqnífica aplicagão da cor .

412
de um dos textos mais antigos do Comentário ao Apocalipse ser

atribuído a Apringio de Beja.


Neste fundo não existe nenhum manuscrito datado, anterior
a 1139, o que seria tambéra pouco natural dado que as

dependências monásticas não estavam ainda acabadas.

Consideramos como obras representativas deste período, os

Sta Cruz 4, 30, 51 e 58, obras com elementos arcaicos e que

revelam uma forte persisténcia das liqagôes ao mundo mogárabe,


a que se associaram também as influências cluniacenses. Entre

estes raanuscritos existera rnuitas semelhangas codicolôgicas e

artisticas.

Por se tratar de um dos mais ricos e importantes côdices

desta época"771, destaca-se o Homiliário ,


Sta Cruz 4.

0 seu copista utiliza ainda uma letra visigôtica de

transigão772, prôpria de influências peninsulares ,


e como já
referimos, é muito possivel que tenha sido executado por

cônegos de Santa Cruz . Não é de excluir, no entanto, a hipotese


da côpia ter sido realizada noutro mosteiro.

Era relagâo ao local da sua produgão são várias as

possibilidades ,
dado que não encontramos o protôtipo textual

771
A sua importância já foi posta em relevo por Antônio
Cruz em ,
Santa Coimbra na Cultura Portuguesa da
Cruz de
Idade Média. . .
p. 123 onde afirma
,

"Importa dizer aqui, a partir da data que exibe e


de outras das suas particularidades , o que ele

representa como documento fundamental para o

estudo do labor do scriptorium de Santa Cruz."


Este autor situa a produgâo da côpia no scriptorium
conventual .

772
Maria José Azevedo Santos ,
Da Visigotica a Carolina:A
E s c r i t a e m Portugalde 8 8 2 a 117 2.
Lisboa:F.C.G./J.N.I .C.T. ,
1994 pp 236-237, refere que desde
,
.

a década de 1130-1139 até 1150-1159 encontram-se apenas 26


cartas em visigotica transigão, entre as 138 existentes;
de
o seu número é pois pouco expressivo, o mesmo se poderia
dizer sobre os codices com este tipo de letra. Santa Cruz de
Coimbra está entre os mosteiros que mais rapidamente
introduziram oserita carolina de forma sistematica nos seus
a

documontos. O uso da visigôtica neste mosteiro manteve-se


durante 23 anos enquanto
,
em Pendorada foi de 98.

4 13
lhe terá servido de modelo. 0 copista, como Antônio
que
Cruz
"3
refere, pode ter pertencido â Sé de Coimbra. A

ausência de manuscritos iluminados da catedral, mais uma vez,

impede-nos de fazer qualquer ligagão com base sôlida.

0 Homiliario Sta Cruz 4 revela influências estilistícas

da zona de Moissac-Limoges . As dependências litúrgicas cora S.

Rufo de Avinhão, já foram referenciadas, assim como as suas

afinidades artísticas com os dois grandes mosteiros dos

caminhos de peregrinagão.
Algumas das suas iniciais ornadas e sobretudo os elementos

zoomôrf icos são claramente moissagenses. Se compararmos este

côdice com a Biblia conservada na Biblioteca Nacional de Paris,

A Biblia
Ms. Lat. 7 as semelhangas são espantosasfFig. 454-457) .

que pode ser atribuida a Moissac não é referida por Dufour

quando estudou o scriptorium. Yolanta Zalouska que situa este

manuscrito em finais do terceiro quarto do séc. XI, quando as

Biblias Carolíngias comegaram a ressentir-se dos efeitos de uma

utilizagão duas vezes centenária. 0 mundo cristâo experimentava


a necessidade de refazer as suas reservas de codices

biblicos.775
A semelhanga o Homiliário e o B.N.P. Lat.7 faz-se sentir

sobretudo ao nível das iniciais caligráficas e ornadas ,


nos

entrelagados, eleraentos folheados e zoomôrficos.

As relagôes são mais ténues com os manuscritos de Limoges


nomeadaraente a segunda Biblia de Limoges (B.N.P. Lat. 8) ;

773Antônio Cruz,5anta Cruz de Coimbra na Cultura

Portuguesa da Idade Media ...


p. 122-125 .

"'4in Jean Dufour La Bibliothêque et le Scriptorium de

Moissac, Paris Geneve , Droz ,


1972.

775
No artigo La Bible Limousine de la Bibliotheque
Mazarine a Paris ,
102Sociétés
5
Congrês National des
Savantes,Limoges, 1977. p. 69 A autora ainda que é acrescenta
a zona da Aquitânia e de Limoqes que se produziram a maior
parte destes manuscritos. Refere-nos ainda que é Frangois
Avril atribui o manuscrito biblico B.N.P. Lat.7 a
que
Moissac .

414
iniciada no último tergo do séc. XI, sob o abaciado de

foi meados do séc. XII. D.


Ademar776, já completada em

Gaborit Chopin refere que Ademar, primeiro abade cluniacense

simbolizou uma resistência â politica borgonhesa, mantendo um

programa aquitânio na tradigão das iniciais franco insulares.

0 iluminador simplificou os nôs de entrelagos e as trangas

que enchem os rectângulos, mas conservou as cabegas de animais


nas extermidades das iniciais.

No Homiliario de Santa Cruz, há uma situagão idêntica em

relagão aos entrelagados mas algumas iniciais zoomorficas

mantêm-se, delineando-se as letras em quadros de fundos

polícroraos, roxo, verde e verraelho, tal como acontece no

Limousin.

Para além desta Bíblia, outras com origem no mesmo local

apresentam solugôes semelhantes como a Mazarina (Ms Lat. 1 e

2) e a bíblia de Saint-Yrieux.

Mas este tipo de iniciais não se esgota no SO da Franga,


há um fundo comum que se estende ã Catalunha e Navarra.

A Biblia de S. Juan de la Peha (B.N.M Ms.2), em Huesca,

que o catálogo atribui também ao séc XI773, possui iniciais

zoomorf icas e outras â base de entrelagados com fundos pintados


e escalonados, estará mais prôxima da segunda bíblia de Limoges

776D. Gaborit Chopin, La Décoration des Manuscrits a Saint


-Martial de Limoges et en Limousin du IXe au XII Siêcle,
GenéveParis ,1969. p.179

Mais relagôes se podiam estabelecer com outros

manuscritos, nomeadamente
quanto construgão dos ã
entrelagados. Por exeraplo, o Sacramentário de Figeac Fl.l9v, ,

segundo J.J. Alexander terá sido executado para S. Salvador


de Figeac (diocese de Cahors ) e um pouco mais tarde levado
para Moissac. J.J. AlexanderLa Lettre Ornée, Paris ,

Chêne ,1979

178
Também Seledad de Silva Verástegui era Iconografia
y
del Siglo X en el Reino de Pamplona-Nájera Pamplona, P. de ,

la Instituiciôn Principe de Viana,1984, p.495 classifica


também este manuscrito no séc . XI.

4 1 5
779
Saliente-se que o priraeiro raanuscrito78
( (Figs. 457-458) .

foi executado para a igreja de Vilabertrán de Gerona, que tinha

adoptado os costuraes dos cônegos de Sto Agostinho.


As numerosas iniciais do Homiliario de Santa Cruz ,

traduzem uraa interpretagão de raodelos dos grandes raanuscritos


bíblicos e litúrgicos de finais do séc. XI, cuja principal
zona de influência segue o percurso dos caminhos de

Huesca Navarra.
paregrinagão
-

Moissac, Limoges, Catalunha, e

de formas remonta ãs
Aqui se elabora uma genealogia que

iniciais f ranco-saxônicas e mogárabes dos séculos IX e X.

Os elementos zoomorficos que povoam e constituera a

estrutura de muitas destas iniciais, poderão ter como centro

Moissac, tanto na iluminura como na escultura.


de irradiagão em

Os artistas deste mosteiro, encontraram no Oriente prôximo e

longinquo, estes leôes de pelagem cuidada e membros vigorosos


da Pérsia Sassânida, da Mesopotâmia e mesmo da
que a partir

Ocidente, em tecidos e relicários


China, emigraram para
.

782
Emile Mâle relevo a importância da
pôe raesmo em

miniatura na criagão da iconografia do Midi francês (Moissac

e La Daurade-Toulouse) .
Segundo ele, seriara cenas de um

Comentário existente outrora no Mosteiro que


ao Apocalipse
estariam na origem do tímpano de Moissac.

0 Sta Cruz 30 possui o texto da Histôria Eclesiastica ,


de

Eusébio de Cesareia e Contra Hebreos de Sto Isidoro de

40 fôlios letra visigôtica de


Sevilha. Apresenta nos primeiros

77<,inYolanta Zalouska e Frangois Avril Manuscrits de la


Peninsule Iberique, Paris ,Bibliothêque National, 1982

3 30-3 3 3
Leroquais, Sacramentaires
'?*°
p.

France au Xlle
7ĸ,Emile Mále, L'Art Religieux en

cobriarn as caixas
Siecle. p. 346.refere que os tecidos que
. .

das relíquias forara iraportantes veículos de iconografia,


assim como os sumptuosos panejamentos que cobriam as iqrejas.
p.341 Faz referência igualmemte â influência do Oriente sobre
o escultor de Moissac.

,ĸ-'F.mile Mâle L'Art Religieux du XII eme siecle, Paris,


Armind Colin,1947 p.p,l-43.

416
do Livro V da obra de
transigão- até ao capítulo 17,
datada de 1191. Esta
Eusébio783. No fl.l consta uma subscrigão

corresponderã a um outro copista e outra data , já que o mesmo

de transigão até meados do


Diaz y Diaz, situa a visigôtica
séc.XII.

Sendo um manuscrito de ornamentagáo extremamente pobre,


fl.l uma inicial que podemos relacionar com o Sta
apresenta no

A abertura deste texto com titulo rubricado


Cruz 4 Fig. 459).
vermelho como é costume em numerosos manuscritos
a e preto,
inscrito fundo polícromo
-

mogárabes, faz-se através de um P em

neste fundo de Santa Cruz


ocre e roxo. 0 roxo é excepcional
sô era côdices desta época, corao é o caso
e aparece
do Sta Cruz 4. As restantes iniciais ocupam um
paradiqmático
a dois espagos e são pintadas a verraelho e preto .
( Fig 460 )
.

0 Sta Cruz 51
784
é outro dos manuscritos, escrito era

texto inclui Tratado sobre o


visigôtica de transigão, cujo o

Salmo 118 de Sto Agostinho e o Resumo da Regra de Ticônio.

Teria sido escrito várias mãos ocupando a escrita em


por ,

de transigão os fls. 96 ao 136. As iniciais


visigôtica
secundárias também afinidades com as iniciais
apresentam
caligráficas do Sta Cruz 4 (Fig.93).
0 Sta Cruz 58 que inclui textos de patristica, segundo
foi dos manuscritos trazidos de S. Rufo de
alguns autores, um

textos o compoêm coincidem com os


Avinhão, já que os que

mencionados por mestre Álvaro da Mota B!i.

Codices Visigoticos en la
7*3Manuel Diaz y Diaz,
Leonesa, Léon C.S.I.C.
Monarquia ,

R4
M. Diaz y Diaz, Côdices Visigoticos en la Monarquia
leonesa, Leon ,
C. S . I .C. ,
1981 p.p. 436-438.

78<J
Sancti Augustini libri numero
Fl.1-69 Incipiunt
XII. De opere sex dierum. F1.69-80v Aurelii Augustini
in Matei numero XVII; f 1.81-122
questiones Evangelio
Ambrosius Exameron; fl 122-1 33v De penitentia; fl. 133v-136
.

Liber Past.oral i s ; 136-272 Episttrfam adhortatoriam Accae


tuae
Episcopi ad Bedam Presbiterum quae incipit Saepe quidem
Sanctitat i

417
Madahíl, em Os Côdices de Santa Cruz de Coimbra ,

transcreve esta referência: o "meestre alvaro da mota da ordem

dos pregadores que na era de ihesu christo de mil e IIII.c LV3

anos tornou do latim em lingoagem o texto latino

"...E tornando ho arcebispo Johanne com todos seus

parceiros, e todos seus feitos mui bem

encaminhados, quedou o dicto pedro sacerdote em sam

Ruffo, e esteve hy huura anno.e esraaginava e cuidava

de cada dia que era necessario bem viver, e em regra

de rezar, e era boos custuraes, em na doutrina

eclesiastica.E ele seendo perfecto na ordenanga

eclesyastica trouxinos o capitoleiro emteiro e o

custume do antifanario E emviaromnos santo agostinho


sobre Joham evangelista, e sobre o genesy , que se

chama adliteronm, questom sobre sam mateu e sam

lucas ,
e o examerom de santo ambrosio ,
o pastoral de

santo anbrosyo, beda sobre sam lucas , polas quaaes


coussas somos muito obrigados ao comvento de sam

muito bem a deus


Ruffo, ca nos ajudou senpre gragas
"'""
pera sermpre amen .

A questão central é a de saber se seria este o codice que

foi trazido de S. Rufo de Avinhão, ou se pelo contrário seria


uma côpia mais tardia787.

786
A.G.da Rocha Madahil, Côdices de Santa Cruz
Os de

Coimbra, in Boletim da Biblioteca da Universidade de

Coimbra ,

Coimbra, da Universidade, 1933 .p.p. 378-419


Vol. X, imprensa .

A.A.do Nascimento data este manuscrito de 1138


787 e

atribui a sua côpia a Pedro Salomão, que o teria escrito na

sua estadia em S. Rufo.A.A Nascimento Concentracão, Dispersâo

e Dependências na Circulagão de Manuscritos em Portugal,


nos

séculos XII e XIII ,Actas do Colôquio sobre Circulation de


.

Codices y Escritos entre Europa y la Peninsula en los Siglos


VIII-XIII Universidad de Santiago de Compostela, 1988, p.82.
,

Também Agostinho Frias coloca a sua origem no mesmo mosteiro,


mas atribui-lho uma datacão de meados do século. In Santo
Antonio em Santa Cruz Codices do Mosteiro de Santa Cruz de
.

Coimbra no Tempo de Santo Antônio. Rot. de exposigão .Porto ,

4 1 0
A letra é minúscula, situagão pouco habitual em Santa

Cruz ,
mas as iniciais são comuns a este grupo de manuscritos.

A inicial ornada que abre o texto de Santo Agostinho, está

inscrita em fundo pintado a roxo, vermelho e verde. A

ornamentagão organiza-se em entrelagos como se de uma rede se

tratasse, terminando num círculo central pintado a ouro. 0

título é manchetado e levemente ornado (Fig 461-461A). . Esta

inicial serviu mais tarde de matriz a outros manuscritos como

foi o caso da Segunda Bíblia de Santa Cruz Ms 2, fl.207v .

Iniciais caligráficas de dois tipos sáo pintadas a

vermelho, situagão corrente nos outros raanuscritos,


nomeadamente no Santa Cruz n"4.

Encontramos tambéra no f 1.140 (Fig .462) ,


duas iniciais corao

as que descrevemos para o Homiliário ,


estruturadas ã base de

entrelagos, conjuqadas com corpos de animais, pintadas a

amarelo e vermelho.

No arquivo do Institut des Textes ( C.N.R.S.), nas

análises comparativas que ai fizemos, encontramos alqumas


referências a manuscritos de Santa Cruz que teriam vindo de S.

Rufo de Avinhão ou feitos sobre modelo de S. Rufo. Estâo no

priraeiro caso os Sta Cruz 31, colecgão de homilias de Sto

Ambrôsio, S. Jeronimo e Sto Agostinho e o B.P.M.P. 74, em

relagão ao qual não conseguimos descobrir ligagão com o fundo

de Santa Cruz .
Contudo, o Sta Cruz 31 não contém qualquer tipo
de iluminura e o B.P.M.P. 74, não tem correspondência neste

fundo. Em relagão ao Sta Cruz 77, um ritual que teria sido

feito sob modelo de S. Rufo, possui apenas pequenas iniciais

bicolores semelhantes a outras secundárias do fundo, mas não

têm ligagão aparente com os raanuscritos de Avinhão que

observámos no Arquivo Capitular de Tortosa .

B.P.M.P. ,
1995.

4 19
De facto os manuscritos que pudemos observar, atribuidos
ao fundo primitivo de S. Rufo, não apresentam qualquer
788

semelhanga com este qrupo .

Contudo, nada nos impede de considerar, que Pedro Salomão

tivesse escolhido em S. Rufo a iluminura de um manuscrito que

seguisse uma tradigão diferente. Neste caso tratar-se-ia do

volume trazido de S. Rufo.

De assinalar que Pedro Salomão789 não utilizou em 1138-

39, a visigotica de transigão, tal como os copistas dos côdices

que classif icámos nesta época .

Situamos também neste período, o Sta Cruz 17, as

Etimologias de Santo Isidoro de Sevilha, escrito já em gôtica,


cuja côpia segue claramente um manuscrito dito mogárabe'9
(Figs .167-171) ( fig . 463-464 ) . Os títulos manchetados a vermelho

e preto e as
pequenas iniciais assim nos fazem pensar. Também

o diagrama da árvore do género humano, fl. 92v, que inclui na

parte central os rostos de homem e mulher, apresenta

788
De todos os manuscritos observados em Tortosa ,

Bibli. Capitular, 11 sacramentário; 51 £altério;123


Comentário ao Evangelho de S. João de Rábano Mauro; 23 3
Miscelânea Patristica, nenhum apresenta relagôes directas com
os manuscritos de Santa Cruz Apenas o Sacramentário .

ll,poderá ter servido de modelo ao Sacramentário Sta Cruz


55.Contudo este manuscrito é já de inícios do séc. XIII.

Cf.A.A. Nascimento, Concentragâo ,Dispersâo e

Dependência Circulagao de Manuscritos em Portugal nos Secs


na

XII e XIII, Colôquio sobre Circulation de Codices y Escritos


entre Europa y la Peninsula en los Siglos VIII-XIII p. 82 . ..

"'"Hipolito Escobar em Los Manuscritos , Madrid, F.G. S.


"
Ruipérez, 1993. p.93 designa por raogárabe que o livro
permanece como forma ũnica em Espanha até finais do séc.
XI

e que inclusivamente se prolonga no XII, caracteriza-se por


estar escrito em letra visigôtica, em geral cuidada, como e

sempre a caligrafia livresca realizada sem pressas e com a


pretensão de clareza.

420
semelhangas com os manuscritos do séc. X hispânicos791. Os

rostos representados são do mesmo tipo dos que aparecem no

Libro de los Testamentos encomendado pelo bispo D. Pelágio e

produzido nos primeiros anos do séc XII792 ( Fig .465 ) .

A copia das Etimologías , provavelmente escrita em S. Pedro

de Cardeha, no séc. X ""3, que tiveraos oportunidade de

observar na Academia Real de Histôria em Madrid, apesar de

apresentar diferengas ao nível da mise en page e da escrita,


utiliza uma paleta cromática comum
-

preto, vermelho, laranja


e amarelo.

As pequenas iniciais caligráf icas que iniciam os livros

têm afinidades com o conjunto de manuscritos atrás referidos,


o que nos leva a datá-los do mesmo período ""'*.
É pois muito natural que o raanuscrito copiasse um anterior

escrito em visigôtico, porventura da Sé ou de um mosteiro das

proximidades .

A iluminura destes côdices integra-se no inicio da

segunda fase de influência cultural francesa que José Mattoso

791
Cf.Soledad de Silva y Vérastegui Iconograf ia del
Siglo X en el Peino de Pamplona -Nájera, Pamplona, Instituto
de Estudios Riojanos, 1984 pp. 451-468 Esta autora refere os .

três côdices riojanos que representam imagens da árvore


genealôgica do género humano as Etimologias da Academia Real
de Histôria, e os côdices Albeldense e Emilianense do
Escorial.Diz-nos anada que a partir de meados do séc. X esta

representagão se divulga com as mesmas características na


região e em Castela.

in El libro alto-medieval en los reinos


cristianos ,
Los Manuscritos , dir. Hipolito Escolar, Madrid,
F. German Sanchez Ruipérez, 1993, p.p. 86-90 apresenta a
reprudugão do Libro de los Testamentos , onde se pode
observar o rosto comprido e anguloso que é comum a estes dois
manuscritos .

793Hoje conservada na real Academia da Historia de Madrid


com o n 76.

794
Hipôlito Escobar chama ainda a atengâo para o facto
de Sto Isidoro ser o autor ma i s 1 ido durunte a Alta Idade
Média espanhola.Dele conservam-se 27 obras (codices e

fraqmentos) entre elas 10 exemplares das Et i mo 1 ogi as .

421
coloca entre 1130-1180. Caracterizada por uma "adaptagão
ideal dos Conegos Regrantes tal como
portuguesa do religioso ,

foi vivido em S.Rufo de Avinhão. Ao contrário do movimento

este não tera protagonistas estrangeiros : são


anterior,
tentam imitar aqui o que admiraram em Franga,
portugueses que

mas associam o seu ideal de vida a Jerusalém, o que


que

acentua a sua orientagão mediterrânea" 795.


0 período ainda está prôximo da influência cluniacense,

nomeadamente a vinda de Moissac e Limoges e sentida no grande


Homiliario de Santa Cruz .

Podemos pois, concluir que nestes manuscritos iluminados

existem alguns pontos em comum que nos permitem inseri-los no

fundo priraitivo de Santa Cruz de Coimbra no tempo era que o

prior era S. Teotônio. Ele marca pela sua prôpria cultura, um

compromisso entre o passado da cultura mogarábe que aqui


persiste até meados do séc. XII, e as influências europeizantes
vindas de S. Rufo e do Sudoeste f rancês .

Para outras ilagôes mais esclarecedoras , seria contudo

necessário ter raais precisas, não dispomos de


informagôes que

momento, sobre a circulagão de manuscritos entre Moissac, Braga


e as suas possíveís ligagôes a Santa Cruz .

A de Geraldo( 1096-1108 ) monge de Moissac, e de


presenga ,

Burdino de S. Margal de Limoges, na Sé


Mauricio antigo monge

de Braga, nos finais do séc . XI e inícios do XII, teve

repercussôes muito claras, do ponto de vista litúrgico""'


É natural tenha existido circulagão de
nesta região. que

manuscritos entre estas duas casas e influências litúrgicas ou

outras. o papel de João Peculiar na formagão de Santa


Evoquemos
ascensão arcebispado de Braga.
Cruz e a sua posterior ao

Monges e Clérigos Portadores da


"°'i
in Mattoso, José
Cult.ura Francesa Portugal (séculos XI e XII), Paris,
em

Fondation Calouste Gulbenkian ,1983.

""•

Braganga L' Influence de la


Joaquim O. liturgie
Pontifical Rituel )
Languedocienne au Portugal ( Missel , , ,

Cahiers de Fanjeaux 17 (1982) pp. 173-184.

422
5.2. Segundo Período: De meados a finais do século XII

Nesta fase domina ainda Santa Cruz ,


mas assiste-se também

ao nascimento da iluminura alcobacense e â execugão de alguns


côdices onde a influência de Claraval é muito nítida.

0 facto das obras mais signif icativas em Santa Cruz terem

terminado e de o mosteiro atravessar até finais do século ura

período de prosperidade, provocou o aparecimento de grandes


criagôes artísticas que revelam a maturidade atingida pelo
scriptorium nesta fase '9V.

0 início deste novo período era Coirabra, pode ser marcado

simbolicamente pela morte de S. Teotônio (1162) e pela execugão


do Sta Cruz 43 gue assinala uma outra orientagão do

scriptorium .

Coimbra teria então, ambiente para receber excelentes

artistas. Estavam terminadas as grandes construgôes da Sé e do

proprio raosteiro, onde se localizavam os principais centros

culturais e de ensino798.

7
Era relagão âs restantes raanif estagôes artísticas este
período, embora não coincida cronologicamente, identif ica-se,
era termos características , cora
de o que Manuel Luís Real ( A
Arte Românica de Coimbra (Novos dados -Novas Hipôteses) ,
dissertagão de Licenciatura,Porto, Faculdade de Letras , 1974
p. 42), define para o Românico Bl "Arte revolucionária que
nasceu do concurso de arquitectos estrangeiros e de
artifices mogárabes. Sobressai pelo alto nivel técnico, pelo
equilíbrio e por influências exoticas na arquitectura e na
decoragão" Elabora-se entâo uma síntese com características
.

locais de um movimento que terá partido de Santa Cruz de


Coimbra .

0 acto consagratôrio devia ter-se real izado já


depois de 1150. consagragão do altar-mor será o culminar
A
emarcará o fim dos trabalhos náo r.ô da iqrcja mas também do
mosteiro. In A. Nogueira Gongalves, Novas Hipoteses acerca
da Arquitectura Românica de Coimbra ...p.78.

4 0 0
0 priorado de Pedro Alfarde revela o protagonismo de

cultura. Este prior foi autor


homens igualmente empenhados na o

do Livro Santo799.
0 raosteiro apresenta tarabém uma boa situagão economica

reforgada por doacgôes régias e particulares, adquirindo a

maior dignidade como panteão real de Afonso Henriques.As


Collationes e os Institutis Cenobiorum de João Cassiano( Sta

Cruz 43) foram copiadas por Pelágio Garcia, diácono e conego

de Santa Cruz de Coimbra em 1165.

0 volume apresenta iniciais ornadas de certo impacto nos

fôlios, o desenho e a pintura são rígidos e transmitem a

de artistas copiam modelos sem autonomia.


impressão que

Se bem que a primeira inicial ainda apresente vestígios


da anterior, entrelagados da base do P (fl.l) os
época os ,

caules enrolados e os elementos vegetais não ganharam


movimento, a disposigão das cores mostra ainda grandes
dificuldades técnicas. Estes eleraentos vegetais estão ligados
ã influência do SO francês nomeadamente de Limoges80
118-120 No fôlio D, tera no interior caules e
(Figs. ) . mesmo o

folhas finas, que lembram a iluminura feita no Limousin nos

inícios do séc. XII.

0 manuscrito contéra ainda outras iniciais que são

sintomáticas das hesitagôes artisticas do scriptorium.


0 coraego do prefácio dos Institutis cenobiorum f 1.141

vermelho preto, assim como um título manchetado


possui uma a e

evoca as iniciais hispânicas. Mas as que comegam os livros


que

799im Manuel. M. R. FerreiraO Mosteiro de Santa Cruz de


Coimbra no Sec . XII ,
Coimbr a 1 9 6 2 dissertagão
,
de ,

licenciatura.

Limoges, Paris Lat.


n"°
Cf . a Vida de S. Margal de ,
B.N.

5576 fl.l em que a letra P estruturada entrelagos â base de


recebe vegetagão semelhante. Também o Lat. 5296 A igualmente
uma Vida de S. Margal é referido por Gaborit-Chopin em La
Decoration des Manuscrits a Saint Martial de Limoges et en
T.imousin. . . como tendo um mau pintor apesar do desenho ser

de melhor qualidade. Algumas destos iniciais estao prôximas


destes dois manuscritos

424
dos Institutis anunciara já as letras articuladas era torno de

um espago nâo pintado que serão comuns nos manuscritos de Santa

Cruz .

0 obra que marca a segunda metade séc. XII é o Sta Cruz

1, o Testamentum Veteris .

Com alguma hesitagão podemos datar Sta Cruz 1 da segunda


metade do século. Autores como Walter Cahn dataram-no do

segundo quarto do séc. XII801, pouco depois da fundagão.


Contudo, este autor, reproduz um dos folios junto de uma outra

bíblia cuja ornamentagáo apresenta tragos semelhantes e que é

datada da segunda metade do séc. XII. A Bíblia de Burgos, com

a qual tem certas aproximagôes iconográf icas está também

classificada da mesma época.


Será pois de uma data mais tardia, se tivermos em conta

alguns aspectos arcaicos, como sejam a divisâo em três colunas

e os arcos ultrapassados das Tábuas de Concordância .

A ornamentagão e o imaginário deste manuscrito impar na

nossa iluminura, situam-se no cruzarnento entre a iluminura

setentrional francesa e a tradigão das biblias peninsulares ,

com destaque para os seus ciclos iconográf icosfFigs 40-59) . .

O Sta Cruz 1 tem ainda pontos de contacto com a

iconografia e a ornamentagão das artes plásticas coimbrãs.

Podemos referir a imagem do Agnus Dei rodeado de vegetagão,


exposta no Museu Machado de Castro802. 0 cordeiro possui
pelagem e perfil que sugere , por exeraplo, o que varaos encontrar

no fl. 98 na abertura ao livro de Samuel onde se faz alusão ao

sacríficio que comemora o seu nascimento (Fig .465A) . Se a

imagem escultôrica datar de inicios do séc. XIII, este

manuscrito bíblico poder-lhe-ia ter servido de modelo. A

propôsito deste côdice já assinalámos outras semelhangas com

RO'Walter Cahn ,
La Bible Romane ,
Par i s ,Vilo,1982 p. 293.

"°''
Cí . C. A. Ferroira de Almeida O F.omãnico ...
p. 163 . 0

autor refere justamente que a veqetacuo envoLvente sugere a

iluminura feita em Alcobaga e Santa Cruz.

4 20
a escultura da época, tal corao os draqôes da Sé de Coimbra80

afrontados dos capitéis na charola da Igreja dos


ou os galos
Templários em Tomar (Fig ,465B)6°\
Quanto aos livros litúrgicos, incluimos também um saltério

que revela a qualidade artistica das obras existentes neste

mosteiro- o Sta Cruz 27 datado de 1179. Fernando foi o copista


o executou. 0 iluminador embora tenha feito escola, não
que
deixou uraa mão facilraente reconhecível noutros raanuscritos.

As iniciais ornadas que comegam cada momento do ano

litúrgico ou o Calvário mostram um artista com grande dominio


do desenho, das técnica de pintura, conhecedor da iconografia
da época e seguro na sua aplicagão.
0 Sta Cruz 27 dá inicio a uma nova fase de produgão de

manuscritos litúrgios, nomeadamente de saltérios ( Figs .256-

262). No seu santoral indicam-se nâo so os santos da liturgia


seguiam S. Rufo de
francesa do SO , particularmente os que

Avinhão, mas também santos locais e, caso excepcional, o pai


de Paio Guterres8135, conego do raosteiro, que o ofereceu e o

mandou executar. A data de II das Kalendas de Agosto é marcada

assinalada pela era de M.C.C.X.V.


pela sua morte, aqui
0 iluminador seria exterior ao mosteiro, talvez paqo pela
iluminura não corresponde â produgão
encomenda já que a

Se este saltério fosse executado


corrente neste scriptorium.
era Santa Cruz, seria iraprovável a sua oferta e a inclusão de

um leigo no calendário.

803
Manuel Real, A Arte Românica de Coimbra . .
.p. 3 36 .

°"-'
com idêntica representagão do galo no Sta
Compare-se
Cruz 1, fl.209v (Fig.53)
B°5
de testemunha publicada por Ruy de
Numa inquirigáo
Azevedo (Do. Fals. 73 e seqs) fala-se da capela de S.
paq.
João qual teria estado Paio Gueterres Pelagius Goterriz
na

adiuratus dixit quod XXXIII. annos uixit frater in Sancta


.

Cruce et invenit. ibi capellam Sancti Iohannis sicuti modo est


ot cetera que modo hahet domus Sancte Crucis. Citado em A.
da Arqui tectura
Nogueira Goncalves ,
Novas Hipoteses acerca

Románica de Coimbra . .
.p.86 .

0 2 c
0 tipo de iniciais, nomeadamente a que inicia o Saltério,
o B do Beatus Vir, insere-se na linha de continuidade da

iluminura f ranco-saxônica ,
com letra estruturada å base de

entrelagos, caules enrolados cora movimento soltos e

espiralados. É um dos bons exemplares desta arte que teve

larga aceitagão entre os iluminadores románicos portugueses.


Em Santa Cruz e Alcobaga, os caules enrolados e as palmetas sâo
o motivo preferido dos iluminadores . Estas palmetas compôsitas
são contudo pouco utilizadas no scriptorium. As restantes

iniciais que comegam os salmos seguem o mesmo tipo de letra

inscrita em fundo pintado escalonada e servem de modelo aos

saltérios Sta Cruz 25 e 26.

0 que distingue verdadeiramente este saltério é a

crucif ixagâo, obra digna de um grande mestre da arte românica

e impar na arte portuguesa. Não conheceraos nenhura modelo que

se Ihe aproxime. A figura de Cristo mostra uma delicadeza e

expressionismo que sô se encontra era Calvários posteriores. As

delicadas lembram vagamente do Apocalipse


figuras esguias e as

do Lorvão, produzido neste mosteiro, 20 anos depois. Contudo,


neste último manuscrito há uma maior simplif icagão de formas,

o cair dos panejamentos é mais rígido e os rostos menos

cuidados. O processo de pintura segue o mesmo esquema- fundos

polícromos e silhuetas que se recortara a sépia. As pernas

cruzadas de Cristo, a cabega inclinada sobre o ombro e os

longos cabelos que enquadram o rosto ajudam a suavizar a

atitude. Os estendidos longo da cruz abrigam S.


bragos ao

Pedro e a Virgem. Este Calvãrio serviu provavelmente de modelo

a outros livros litúrgicos, como o Sta Cruz 40( Fig .205 ) .

Outros manuscritos conibricenses de grande qualidade, mas

levanta reservas marcam o


cuja oriqem no scriptorium algumas ,

último do séc. XII. Trata-se do conjunto formado pelo


quartel
Evangeliario, Sta Cruz 72 ( Figs . 231-240 ) e o Epistolário,
B.P.M.P. Geral n"861 ( Figs 241-246 )
.
,
um dos mais belos

manuscritos iluminados quer do ponto de vista da ornamentagão,

quer na representagão da figura humana . A dolicadeza posta no

desenho e na pintura dos rostos ,


assim como no leve cair dos

427
panejamentos coloca-nos perante outro grande mestre da

iluminura românica. 0 desenho da ornamentagão afasta-se todavia

do estilo característico da nossa iluminura, trata-se talvez

de uma obra adquirida, tal corao Sta Cruz 27.

Em finais deste período cria-se em Santa Cruz, um tipo de

inicial ornada que fará escola no scriptorium, presente em

manuscritos como o Sta Cruz 40. São as letras articuladas em

torno de espagos não pintados, que utilizara corao cores o

vermelho, azul e mais raramente aguadas laranja nos fundos da

ornamentagão. Encontramo-las nos livros litúrgicos e nos livros

de leitura espiritual, datados desta época .

Outro exemplo deste processo de ilurainura é o Leccionário

Sta Cruz 5, feito provavelmente pelo mesmo copista e iluminador

do Sta Cruz 40. 0 T (fig.235) que acorapanha o Jn exaltatione

sancte crucis é igual ao T do Te igitur deste côdice.

Encontraraos tarabéra estas iniciais, no Sta Cruz 8 que

contém entre outros ,


o texto do Vocabulario de Papias.
Constituem o ex-libris do mosteiro numa fase de maturidade.

0 De Avibus de Hugo de Folieto, Sta Cruz 34, embora não

esteja datado, insere-se neste período, até porque tera relagôes


estreitas com o texto homônimo do mosteiro do Lorvão, datado

de 1183. Antônio Cruz já charaou a atengão para este facto, em

1986, em artigo intitulado O "Livro das Aves" Um codice

ignorado idêntico ao do Lorvão —.

obra do ínicio do
Apesar de Willene Clark considerar esta

séc. XIII, baseada sobretudo nos motivos estilísticos de um

românico tardio, no entanto, o facto do Cristo em Majestade


do fl.94v (Fig .123 ) nâo estar longe da qualidade artística do

iluminador do Sta Cruz 1, leva-nos a colocá-lo no mesmo

Aliás autora, levanta também a hipotese do


período. a

manuscrito de Lorvão poder ter sido copiado pelo de Santa Cruz ,

reforgando assim esta cronologia.

ĸ°"
Es^oe artigo foi publicado na Revista de Ciências
Hístoricas ,
Universidade Portucalense ,
Vol .
I, 1986. pp. 161-
218

428
Estamos assim, perante ura período era que os cônegos terão

produzido e encomendado manuscritos de grande qualidade


artística que marcarão profundamente a iluminura posterior
807

Embora fundada em 1153, a construgão da abadia de Alcobaga


sô se terá iniciado a partir de 1178. A existência de um

funcionar regularidade é provável sô


scriptorium a com que

ocorra nos finais do século. Esta hipôtese não exclui a copia


anterior de raanuscritos era condigôes raais precárias.
Este fundo coloca-nos grandes dificuldades em estabelecer

uma cronologia, já que o mesmo se constitui tardiamente com

base em côpias de côdices claravalenses do séc . XII.

Se bem que a maior parte dos manuscritos seja copiada no

primeiro quartel do séc. XIII, há um conjunto signif icativo que

pode ser atribuído a finais do séc. XII.

Um deles é o Alc. 152 (Figs.466 ) ,


obra de S. Bernardo em

que o Incipiunt tractatus sci Bernardi abbatis mostra que a

sci foi colocada depois, sendo visível a emenda É pois


palavra .

certamente um dos codices mais antigos. A rasura no texto

revela que terá sido escrito antes de 1174, ano da canonizagão


de S. Bernardo.

Muitos outros têm uma cronologia aproximada já que se

inserem na tipologia que classif icamos como caligráf ica808.


Trata-se de um grupo de manuscritos -

cuja temática é

fundaraentalmente a patrística809 . Do ponto de vista artístico

são de grande simplicidade e estão mais prôximos das restrigôes

807
D. João Teotônio, morto
época em que foi prior
Na
em 1181, a situagão do mosteiro era prôspera como revela D.
"
Nicolao de Sta Maria (Chr. 2S Parte, p. 206, 1 c.) Crecia
o Mosteiro de S. Cruz em tempo do Prior D. João Theotonio,
não sô ern virtudes, e santos exemplos, mas tarabéra era rendas
e edificios novos "citado em A. Nogueira Gongalves Novas
. . .

da Arquitectura Românica em Coimbra .p. 88


Hipôteses acerca ..

8"»
Maria Adelaide Miranda,A Inicial Iluminada Románica
nos Manuscritos Alcobacenses ...
pp. 66-69 .

"""
Eståo neste caso os Alc. 152, 170, 332, 346, 350,
363, 364, 369 e 423.

429
do Interdito bernardino. Destinavam-se ã leitura individual e

claustral ,
tem pequenas dimensôes e iniciais caligráficas
situadas exclusivamente no início do volume e nas
quase

divisôes principais do texto.

Estas iniciais não fazem recurso a formas sofisticadas de

pintura, são apenas raonocromáticas , seguindo uraa decoragáo em

silhueta. 0 modelo é claramente claravalense ,


neste mosteiro

há contudo um maior domínio da técnica, uma abstracgão e

ornamentagão e as letras são rigorosamente


geometrizagâo na

monocromáticas. Estão neste caso os manuscritos da Bibl . Mun.

40,76, 107,134, 177,180, 292,423 e 566.


de Troyes n9os 4, 35,

Estas obras são tal como os alcobacenses textos de S. Jerônimo,

Cassiano, S. Bernardo S. João Crisôstomo e S.


S. Gregôrio,
Agostinho810.
Os Alcs. 231, 333, 336 e 358 e os dois volumes do

manuscrito biblico Alc. 427 (Figs. 85-88) e 431 (Figs. 91-92)


também inserir-se neste período. As suas iniciais ornadas
podem
tardia da inicial românica, cujos motivos
sâo uma interpretagão
da Borgonha através de Claraval. Com
terão sido uma importagão
estes manuscritos terá surgido o primeiro estilo alcobacense.

estruturada, quebrada ou formada pelo


0 tipo de inicial,
contorcido de dragão, recebe no seu interior palmetas,
corpo
enrolados extermidades elementos vegetais. As
caules e nas

formas são simples e por vezes repetitivas.


dos volumes bíblicos Alc. 427-
No entanto, na ornamentagão
formas mais dinâmicas
431, os mesmos motivos multiplicam-se em

alado ora se entrelaga, ora se contorce


e complexas. O dragão
construir as iniciais, e as palmetas e caules enrolados
para
anunciar o estilo 1200. Movimento
ganham formas espiraladas a

artístico com o raesmo norae , gue se fará sentir era alguns destes

manuscritos, mas de forma mais evidente no periodo seguinte.

-"'Maria Adelaide Miranda A Iluminura em Alcobaga e

Estéticas in Estudos de Arte e


Claraval.Aproximagôes
Histôria, Lisboa:Vega, 1955 pp. 141-146.

430
A técnica da pintura nestes volumes é bastante semelhante

aos anteriores, assim como as cores empregues. As iniciais

delineiam-se sobre quadros pintados, muitas vezes em matizes

usando um arcaico, de barras do mesmo tom, do mais


processo

escuro até ao não pintado. As cores utilizadas são ou muito

vivas ou escuras, predominando o azul escuro, o cinzento, o

vivo, vermelho, castanho e o verde


grená, o laranja o o

bandeira. Os verdes bandeira degradam-se frequentemente,


local, manchas descoloradas devido â sua
aparecendo no seu

composigão verde gris e malaquite811.


tanto agressivamente e a falta
Estas cores espalhara-se ura

de harmonia vezes atraigoa a qualidade do desenho. Todo o


por

é contornado a preto e recebe realges


conjunto qeralmente
brancos luminosos.

Não se conservou o núcleo primitivo de manuscritos

de Alcobaga. Todavia, o Alc. 11, saltério que se


litúrgicos
mais também incluido neste
conta entre os antigos, pode ser

período.
Um dos poucos codices que cuja subscrigâo nos permite
datar de finais do século XII é o Alc. 365 (fig. 20)que inclui

a colecgão de decretos dos concílios e papas, por Burcardo,

bispo de Worms. Terá sido copiado antes de 1191, já que o

copista o coloca no tempo de Martinus , provavelmente Martinus


I abade deste mosteiro que morreu em 1191812.

Horácio Peixeiro A Iluminura em Alcobaga nos seculos


48
XIV e XV in IX Centenário do Nascimento de S. Bernardo
Actas

dos Encontros de Alcobaga e Simpôsio de Lisboa. Braqa :

U.C.P., 1991, p. 184.Este autor dá-nos a composicão do


â base de cobre e vinagre. 0 facto de o pigmento
verdegris
ser deficientemente aglutinado, deve-se a um grau elevado de
acidez que provoca o despreendimento de tinta, o seu
Este
enegrecimento e f requentemente a corrosão do suporte. ,

barato. 0 verde
é resultado da
o utilizagão de ura pigraento
é destinado a trabalhos mais
obtido å base de malaquite
nobros .

Maria Adelaide Miranda A Inicial


11 ** Iluminada Românica
nos Manuscritos Alcobacenses .p 81. . . .

4 3 .1
O desenho das suas iniciais e o ornamento está prôximo dos

restantes manuscritos, mas o facto destas não terem sido

pintadas torna menos rigorosa a comparagão.


Também de finais do século são provavelmente os

leccionários para ofício divino Alcs. 412-14 ( Figs .283-288 ) ,

441-444 ( Figs 301-303 ) se tivermos


432-434 (Figs. 289-295) e .
,

em conta a datagâo dos livros similares f ranceses813. As suas

iniciais além da sua diversidade, revelam a


imponentes para

influência borgonhesa em que predominam as iniciais

estruturadas aneladas com terminagôes vegetais.


técnicas: monocrática
Apresentam-se três tipos de a que

utiliza o matiz entre duas cores ,


muitas vezes o azul e verde;

os fundos pintados e ornamentagâo a sépia; as policromas


utilizando a técnica clássica. Estamos em pleno Románico em que

as iniciais se inscrevem em espagos delimitados e o desenho e

denotam grande seguranga. Nestes côdices está bera


a pintura uraa

influência das casas cistercienses francesas.


patente a

0 Alc. 424-426 (figs .161-164 ) é outro manuscrito que se

classificar último quartel do século século. As


poderá no

letras ornadas apresentam-se no mesmo grupo das anteriores,

embora com ura trataraento que acusa ser produto de uma evolugão
local814.

Foi neste período que terá sido adquirida a Biblia Alc.

396-399 (Figs. 66-83 ) ,


como já referimos.
Periodo áureo da iluminura românica em Portugal foram nele

também executados os manuscritos mais representativos do Lorvão

o Comentario ao Apocalipse e o Livro das Aves- , cujos

813
capítulo dos livros litúrgicos
No referimnos, para
assinalar as aproximagôes codicolôgicas, Troyes, B.M.36 o

de Claraval e tambéra um leccionário de


proveniente
ofício.Este manuscrito está datado entre 1180-1190, já que
a presenga do Ofício de S. Bernardo no santoral, e as

filigranas nas iniciais secundárias impedem uma cronologia


anterior a 1175. In P. Stirnemann Saint Bernard et le Monde

Cistercien. p. 2 44 . . .

8,4
Cf. A.A. do Nascimento e A.D.Diogo, Encadernacão
Medieval 60-61 e 85.
Portuguesa .
Alcobaqa . . .
pp

43 2
iluminadores espelham igualmente um compromisso entre as

tradigôes ibéricas e a representagão de influência francesa.

0 Comentário ao Apocalipse datado de 1189, reflecte a

côpia de um exemplar bastante mais antigo. 0 facto de utilizar

uma coloragão muito ténue, um estilo linear, e um grande


sentido de abstracgão exibe uma iconografia que se baseia em

modelos prôximos do manuscrito de Beatus original. 0 desenho

sem ser excepcional, possui figuras esbeltas, embora nem sempre

expressivas. As roupagens caiem um tanto rigidamente. No

contexto do nosso Românico, as composigôes mostram que o

iluminador estava sobretudo preocupado em transmitir uma carga

simbolica ás imagens, mais do que a narrar a Storia. Na

representagâo dos animais, o iluminador foi particularmente


exímio, corao se pode observar nas iraagens do cavalo, cordeiro

ou outros quadrúpedes.
Razôes histôricas ligadas ao avango Almôada na Península

explicam, este novo surto de comentários historiados ao

Apocalipse no séc. XII815. Esta nova situagão prenunciava


tempos terríveis para os cristãos, fazendo renascer o espírito
apocalíptico.
Ora, o raosteiro do Lorvão situava-se nuraa zona de

fronteira (o Mondego) , depositário de uma rica cultura

mogárabe. Conjugando todas estas influências, terá reproduzido


esta obra a partir de um modelo mogárabe , mas tendo em conta

já ãs exigências do novo estilo.

Santa Cruz foi buscar os seus modelos iniciais ã Franga


do Sul (Languedoc e Aquitânia) , Alcobaga ligou-se a raodelos

setentrionais, numa altura em que se fazia sentir aí, através

de Claraval e dos raosteiros da Borgonha , a síntese entre as

influéncias anglo-saxônias e normandas.

3,,>
Em 1190 ocorre primeira expedigão
a de Yagub al-
mansur quo leva ã conquista de Torres Novas e ao cerco de

Toraar, era 1192 início da qrande forae que dura até 1210. In

Portugal Formagão a de um País. Catál oqo.Comissariado para


a Exposigão Universal de Sevilha . 1992 .
pp. 165-168.

433
Esta época áurea da ilurainura roraânica que se raanifesta

na riqueza iconoqráfica de Santa Cruz e na excelência do

ornamento em Alcobaga foi favorecida também pela conjuntura


político-econômica em resultado dos avangos da Reconquista. A

partir de 1147 as conquistas de Lisboa e Santarém, deram

igualmente um novo ímpeto ãs construgôes românicas, primeiro


nos grandes centros e logo a seguir nos mosteiros mais

importantes816. No fim do séc. XII (1190-1191), o califa

almôada Almangor tinha invadido Portugal. Nesta época os

monges de Alcobaga foram massacrados, situando-se a data em

1184 ou 1190-1191. 81\

Este massacre é miniraizado pela historiograf ia actual devido

sobretudo å falta de provas documentais.

As invasoes terão levado ao abrandamento , quer das obras

de construgâo, quer de outras actividades artisticas. No

entanto, no último quartel do séc . XII estaria já constituído

o núcleo fundamental de obras que seriam necessárias ao normal

f uncionaraento destas coraunidades raonásticas.

É indiscutível que para fins do séc. XII, a vitalidade do

"roraânico beneditino" surge enf raquecida ,


corao é evidente nas

obras das catedrais mais importantes, devido ás dificuldades

econômicas e sociais.

5.3. Terceiro Período: O Primeiro Quartel do Século XI 11

Durante a primeira metade do séc. XIII, entrou-se numa

fase era que se terminaram construgôes langadas no decurso do

século anterior, como São Cláudio de Nogueira e S. Romão de

8.6
^^

817
in Maur Cocheril Notes sur 1' Architecture et le décor
dans les Abbayes cisterciennes du Portugal Paris:
F.C.Gulb. /C.C. Portugués, 1972 .
pp. 50-51 .

434
Arôes, que testemunham já a falta de inspiragão que sofriam os

artistas .818. Apesar de tudo um novo espírito comega a impôr-


se liqado å procura de novas formas que vâo despertar no

gôtico.
Nos primeiros anos do séc. XIII, mais precisamente até

1210/1220, a situagâo caracterizou-se por uma contracgão


econôraica e profunda crise política. A partir de então, as

condigôes são de prosperidade ,


sobretudo em Alcobaga.
Santa Cruz de Coimbra entra num novo ciclo marcado pela
perca da hegemonia que possuia junto da rei. Afonso II que

inicia o reinado em 1211 e morre em 1223, faz-se tumular em

Alcobaga, ao contrário dos seus antecessores que preferiram o

mosteiro dos conegos regrantes .

0 facto revela uma clara alteragão das preferências


régias, pelos cistercienses em detrimento dos cônegos, o que

se traduzirá em privilégios e doacgôes819. Fundada em meados

do século, esta abadia sô durante o primeiro guartel do

séc.XIII, constituirá, em grande parte ,


o seu armarium debaixo

da dependência de Claraval.

Alcobaga torna-se então em Portugal, o centro fundamental

na circulagão de manuscritos, veiculando as novas propostas


estéticas que marcarâo tarabéra a sua produgão em Santa Cruz .

Apresenta alguns pontos de contacto com um novo estilo que

aparece a partir dos anos 70-80, e que desabrocha depois de

1200. Este estilo -

denominado 1200 -, manifesta-se sobretudo

ao nível da letra ornada .

No último quartel do século estrutura-se na Franga do

Norte, Normandia e Sul da Inglaterra um nova forma de tratar

a ilurainura roraânica que nalguns casos prenuncia já o gôtico.

818
Gerhard Graft l'Art Roman au Portugal in , Portugal
Roman, dir. Gerhard N. Graft,Yonne: Zodiaque 1986 ,
.
pp.31.

K1"
Afonso II náo sô se fez tumular em Alcobaga como

pretendeu reformá-la
segundo cisterciense Cí". Saúl a ordem .

Antônio Gomes Relacôes entre Santa Cruz de Coimbra e Santa


Mâiia de Alcobaca , IX Centenario do Nascimento de S. Bernardo ,
Braga,U.C.P/ C.M.A. ,
1991. p. 264.

435
A conquista da Inglaterra, em 1066 nâo provocou rupturas
na evolugão da arte insular anglo- saxonica que conhecera o seu

apogeu â volta do ano mil82°. Mas as consequências fizeram-se


sentir na evolugão da letra ornada ,
o único aspecto da

ornamentagão em que os artistas normandos tinham

verdadeiramente inovado. Esta exibe folhaqens tentaculares e

fusiforraes ou fitoraôrficas formando uma denso entrelagado


(fitas cruzadas) do qual saiem pequenos animais brancos, meios
leôes e meios cães. Nem o desenho como um todo ,
nem elementos

individuais são particularmente novos. 0 que é novo é o

estreitamento dos motivos ornamentais e a sua transf ormagão

num fundo aparentemente imperceptível de pequenas escamas e

muitas vezes sinais gráficos de teor ironico821.

As opiniôes dividem-se quanto â precedência francesa ou

inglesa na formagão do Channel Style, dando maior ou menor peso

å arte insular ou â arte continental na segunda metade do séc.

XII822.

Conhecemos a expansão deste estilo na Alemanha, nos outros

locais, não foram encontradas irradiagôes signif icativas.


Era Portugal, Alcobaga raanifesta nalguns raanuscritos,
nomeadamente nos litúrgicos certas semelhangas com os ingleses
desta época. Podemos tambéra atribuir a este estilo, os

820
Frangois Avril Les Arts de la Couleur , in Xavier
Barral i Altet, Frangois Avril e Danielle Gaborit-Chopin Les
Royaumes d'Occcident ,
Paris :Gallimard , 1983, p. 205.

a:"
Walter Cahn St . Albans and the Channel Style in
in The Year York 1975. 196-
England 1200 A Symposium ,New , p
197.

Dodwell, The Canterbury Scool of Illumination


822
C.R. ,

Cambridge, University Press, 1954. Para este autor um dos


deste estilo são livros da
conjuntos mais representativos os

Biblioteca de Thomas Beckett dos quais uma parte teria sido


produzida em Pontiqny. de 1164 a 1170.

436
Antifonarios A e B de Arouca que pensamos ter provado a sua

produgáo no scriptorium de Alcobaga823.


Na nossa tese de mestrado , já tinhamos comparado
manuscritos Alcobacenses com o saltério (Royal Ms 2 A XXIII,

fl.15) da abadia de Westminster. A forma de entrelagar dos

caules enrolados e as palmetas tentaculares são semelhantes ao

conjunto de manuscritos litúrgicos, em gue se destacam as

grandes iniciais dos Missais824 : o A do Advento e o T do Te

Igitur. Também o leccionário 411 (Fig.467) e as As Confissôes

de Santo Agostinho, Alc. 237 tem ornamentagão similar, assim

como o dicionário Alc.410 (Fig .468 ) ,


datado de 1219. A

subscrigão, deste côdice825, refere que ele terá sido feito

por Gil, presbitero de Leiria, mas não nos esclarece se o mesrao

teria também executado a iluminura.

0 Alc 410 permite-nos fazer uma datagão aproximada destes

manuscritos, no primeiro quartel do séc. XIII, colocando as

influências do Channel Style ,


entre nôs, numa época mais

tardia*2". De facto a ornaraentagão deste dicionário não está

longe do grupo dos manuscritos litúrgicos, embora a técnica da

pintura seja diferente. Utiliza tintas mais compactas, tons

muito carregados e apresenta um certo barroquismo que se

expressa por folhagens bem mais recurvadas .


Contudo, estão

ausentes, entre nôs, os pequenos animais característicos deste

estilo e os caules enrolados são mais espessos. 0 único

823
Maria Adelaide Miranda Do Esplendor do Ornamento å
Simplicidade da Imagem.A Iluminura Românica dos Manuscritos
do Mosteiro de S. Pedro de Arouca , O Mosteiro de Arouca ,

Arouca, Real Irmandade da Rainha Santa Maf alda ,


1955 .

824
Trata-se dos Alcs.249, 251,252,253, 256,257,258, 259

e 361 que já analisámos em capitulo anterior

legeritis ut Egidii peccatoris


*-"'
Obsecro vos qui hunc
Finito libro sit laus gloria Christo
memineritis sub^ era
MCCLVIII mense marcii Egidius presbiter de Leiria scripsit
hunc librum f 1 .

ft;'"
Devido provavelmente dificuldades econômicas e
as

torno de 1200 dificultavam a côpia de obras


politicas em que
mais dispendiosas .

437
elemento zoomôrfico que marca a sua presenga é o draqão, embora
reduzido quase exclusivamente a um pequeno focinho que termina

o corpo da letra. Também um conjunto de manuscritos ingleses


e franceses, integrados neste estilo por Walter Cahn,
apresentam apenas elementos vegetais, estando igualmente
ausentes os característicos animais82'. A estrutura destas

iniciais de Alcobaga possuem certas particularidades inscritas


em fundos pintados, são aneladas com elementos vegetalizantes
e as palraetas forraadas por folhas tentaculares que as

aproximam do Channel Style.


Podemos pois colocar a hipotese de haver neste fundo um

número restrito de manuscritos com ligagôes a Inglaterra desde

os primeiros tempos da monarquia. É conhecida a presenga de

ingleses notáveis que participaram nas cruzadas -

o primeiro
bispo de Lisboa, Gilberto era inglês, como o é igualmente
Osberno, destinatário da narrativa da conquista desta cidade.

É pois natural que tenham chegado a Portugal raanuscritos


de outros mosteiros que utilizassem a nova gramática ornamental

nas suas iluminuras.

Todos estes elementos poderão ser tarabéra produto de uma

evolugão dos vocabulários de Cister e local ,


como as folhas de

forraa mais fusiforrae.

As ligagôes artísticas a Claraval e Cister permanecem

ainda vivas, destacando-se neste período a côpia do Legendãrio


Alc. 418-422 (Figs. 357-370 ) . Podemos atribui-la a inícios do

século e relacionar certos aspectos da sua ornamentagáo com os

missais alcobacenses, onde é mais contida no interior das

iniciais. 0 Alc. 422, verdadeiro ex-libris da abadia


82S
portuguesa ,
a subscrigão dá-nos a garantia da sua

proveniência .

827
Muitos destes manuscritos são glosados, Epístolas de
S. Paulo e saltérios. As iniciais encontram-se reproduzidas
em St . Albans and the Channel Style in England ...
fig. 32-
36.

828
Trata-se do Alc. 422, fl 251 , onde figura a

sbscrigâo : "Liber S. Marie de Alcubacia

4 38
Obras de autores mais tardios são copiadas82 neste

período, revelando ligagoes aos meios universitários franceses.

São exemplo, as obras de Pedro Lombardo, como o Alc. 362 Quatro


Livros de Sentengas e os Alcs 354 e 355 Comentário sobre os

Salmos. Muito cuidadas do ponto de vista da execugão da escrita

e da ornamentagão, estão ainda muito prôximas de uma estética

românica, embora os seus textos anunciem já as transf ormagôes

culturais inerentes a este século.

Os iluminadores deste mosteiro demonstram ter abertura

suficiente para captar as novas propostas estéticas, numa

altura em que a iluminura caminhava já para o gático,


ultrapassando o espago das iniciais invadia as margens. No

entanto, mantiveram-se fiéis â concepgâo românica da

ornamentagão. São exemplos destas novas situagôes, os Alcs.

339-340 Historia Escolástica de Pedro Comestor ( Figs .462 ,468-


470), Alc.173 Coleccão Canônica (Fig.471) e o Alc. 149

Mariale— ( Figs . 472-47 3 ) de autores como Hugo Farsito,


Bernardo de Morlas ( ou de Cluny), Adáo de S. Victor. Este

último manuscrito com uma ornamentagão luxuriante e rica em cor

poderá classif icar-se já no séc. XIII831, tal como os

restantes. Possui iniciais familiares ao mosteiro, sobretudo

ãs dos livros litúrgicos.


A ornamentagão autonomiza-se , adquire grande liberdade,
e afasta-se dos cistercienses franceses, tornando-se mais

perraeável âs influências artísticas locais. Ura dos sarcofagos


de Infante da "Sala dos Túmulos" de Alcobaga reproduz um tipo

*-*"'
Aigumas destas obras são provavelmene adquiridas,
caso do Alc. 235 0ua_.ro Livros das Sentengas .A ornamentagão
é estranha ao fundo de Alcobaga assim como as imagens inicial
historiada do fl. 2.

830
A. A. do Nacimento Um Mariale Alconbacense ,

Didaskalia X (1979) pp. 345-355 dá-nos uma descrigâo


pormenorizada do seu conteúdo.

f,il
A. A.do Nasei mont.o Um Mariale Alcobacense .p. 344-345 , . .

considera-o entre o séc. XTT-XĨII sobretudo tendo em conta


o tipo de letra, o qôtico redondo.

439
de caule enrolado, sugere a de uma execugão em
palmeta e que

pergaminho, por exemplo, a do Alc.149, consagrando assira, os

motivos ornamentais da iluminura alcobacense832.

Obras monumentais foram também adquiridas ou copiadas o

é revelador da dinâmica da comunidade monástica, como é o


que

caso do Alc. 446, Etimologias de Santo Isidoro de

Sevilha(Figs . 172-173 ) . Embora pobre em termos de iniciais

ornadas, como aliás acontece com o Sta Cruz 17, os diagramas


e esquemas que a ilustram mostram que houve a preocupagão de

dignificar este texto.

As ligagôes ao scriptorium de Santa Cruz revelam a outra

faceta Alcobaga então adquiriu polo irradiador dos novos


-

que

modelos-, o que provavelmente seria extensivel a outros

scriptoria portugueses cujos fundos foram destruídos.

Destes contactos ,
o Legendario Alc. 418-422 é

paradigmático, pelos reflexos que tem nos Sta Cruz 20 e 21,

como já demonstramos . Nestes côdices trabalharam vários mãos

de iluminadores que correspondem a estilos pessoais de artistas

que souberara conjugar a fantasia e o realisrao, cora um excelente

domínio do desenho e das técnicas da pintura.


Em Santa Cruz, neste período, para aléra da influência de

Alcobaga, e através dela dos cistercienses franceses, é nítida

tarabém a assirailagão local da cor e de modelos iconográf icos .

A representagão zoomôrfica diversif icada surge sob forma

fantástica, ou num realismo pouco usual, como é o caso da

cenas de cagada ,
incluída na inicial I (Sta Cruz 21, fl.83).
Incluimos neste período os Sta Cruz 2 e 3. Esta

multiplicagão de Bíblias deveria obviamente de corresponder


ãs necessidades geradas pelo prôprio aumento da comunidade

monástica. A dependência iconográfica em relagão ao Sta Cruz

1 é clara: as iniciais são côpia de manuscritos anteriores,


noraeadaraente do primeiro período.

8,2
M.Adelaide Miranda, Escultura Monumental Alcobacense .

O pensamento de S. Bernardo na sua Genese ,


Actas do IX
Centenario do Nascimento de S. Bernardo , Braga,
U.C.P./C.M.A. ,1991, p.173.

440
0 Sta Cruz 13 (Sermôes de Santo Agostinho) e Sta Cruz 18

(Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo) ,


datados

respectivamente de 1223 e 1237833 inserem-se, como é obvio,


neste período. 0 primeiro côdice denota influências do atelier

de Alcobaga no desenho das iniciais, a policromia utilizada é

no entanto a marca dos cônegos.


Integram-se também um conjunto de côdices com um tipo de

inicial comum a Santa Cruz e Alcobaga -Sta Cruz 6, 11 e 18. Tem

uma mesma concepgão de inicial de contornos coloridos, aguadas


nos fundos e palmetas e caules enrolados, familiar ã inicial

do cabido da Sé de Coimbra83'1 datada de inicios do século.

Este facto, revela que haveria um fundo comura â inicial ornada

românica .

0 Sta Cruz 18, mostra uma evolugão bera interessante dentro

do Scriptorium, dado que a iluminura seque o modelo de um

manuscrito anterior, o Evangeliário Sta Cruz 72 (fl.l). 0 I

(fl.3v) do Sta Cruz 18 é uma interpretagão tardia sem o

elegância do trago e do desenho do priraeiro. Os caules e as

palmetas tornam-se rígidos, as cores deixam de se espalhar em

tons suaves ,
e o desenho é uraa siraples côpia. Este raanuscrito

representa uraa viragem da iluminura românica portuguesa a

partir desta época, surge uraa evidente opgão pelas iniciais

f iligranadas .

Como caracteristica deste período, em Santa Cruz , podemos


referir a perca de criatividade, a repetigão de modelos

anteriores. As iniciais ornadas tendem a simplif icar-se, os

programas iconogrãf icos quase desaparecem ou reproduzem


modelos anteriores.

833
Este último manuscrito têm uma datagão que ultrapassa
o 1 quartel ,
mas pensamos ser irrelevante para já que
entretanto nãop há qualquer raarco signif icativo .

,!4
0 documento que contém a inicial foi araavelmente
cedido por Antônio Guerra.Está conservado no A.N.T.T,.
pertence ao Ms 8 tem o n"25. Foi escrito por Dominicus
Subdiaconus cerca de 1200.

■.41
Santa Cruz deixa de ter o domínio na produgão da iluminura

face ao poder cisterciense e ao dinamisrao da vida artística

desta abadia em inícios dos duzentos. Os contactos com

Alcobaga sâo muito f requentes ,


como demonstramos com base num

número considerável de manuscritos destes scriptoria.

442
VI . CONCLUSAO

Da análise feita âs bibliotecas dos dois mosteiros, ficou

provada a existência dos dois scriptoria a funcionarem do ponto


de vista da escrita e da iluminura.

Contudo, alguns aspectos ficam por esclarecer, tais como:

quais de
onde funcionavam estes scriptoria ,
os processos

trabalho, e, por último, guais as relagôes que existiriam entre

os iluminadores, os copistas e os responsáveis pelo


Se contribuigoes as duas
scriptorium. apresentamos para

últimas questôes, no entanto , sô um trabalho interdisciplinar


da análise dos côdices, e eventualmente da
que parta
documentagão avulsa poderá trazer novos esclarecimentos .

Ura estudo sistemático de todos os fragraentos de antigos


mosteiros ou igrejas anteriores ao séc. XII, permitirá, talvez,
construir uma ideia mais precisa sobre a génese da iluminura

românica em Portugal. Por ser um trabalho muito moroso ,


dado

que os fragmentos estão espalhados por várias bibliotecas e

arquivos, e nem sempre sabemos exactamente a sua oriqem, nâo

encetamos essa investigagão .

Se ficam demonstrados aspectos de identidade entre

côdices, o nos permitiu formular algumas conclusôes sobre


que

a sua circulagão, no entanto muitas situagôes ficarara por

identificar sobretudo as relacionadas com os percursos dos

iluminadores na Península Ibérica.

Os manuscritos datados e de origem conhecida, não


poucos
estabelecer rede de genealogias no contexto
nos permitiram uma

A carência de estudos sobre a iluminura nos vários


peninsular.
reinos ibéricos dificultou de forma inultrapassável este

ob jectivo.
As principais relagôes estabelecidas inserem-se, pois,
das filiagôes Além-Pirinéus destas duas casas
no quadro
monásticas .

4 4 3
Definiram-se sobretudo as relagôes a partir dos

manuscritos, mas há que esperar que um estudo mais detalhado

destes f undos , possa permitir conclusôes precisas sobre os

processos de côpia entre abadias no interior de uma mesma

ordem. A publicagão do Catáloqo de Claraval, que se espera

possibilitará relagão a Cister, resolver


esteja para breve, ,
em

em parte esta questão.


Mais difícil será relacionar Santa Cruz e S. Rufo, já que

o fundo deste mosteiro se encontra muito disperso e sâo

conhecidos poucos manuscritos do séc. XII e XIII que se Ihe

possam atribuir com sequranga . Um conjunto bastante restrito

encontra-se na biblioteca capitular da catedral de Tortosa, no

entanto o catálogo atribui pouca importância ã iluminura.

Contudo, deixámos clara a circulagáo de modelos do

Sudoeste francês, nomeadamente de Moissac-Limoges para Santa

Cruz nos manuscritos de datagão mais recuada.

Do ponto de vista da relagâo texto imagem, os manuscritos

de Santa Cruz e Alcobaga raostrara tarabém as ligagôes


internacionais que já referimos.

Alcobaga filiada em Claraval , pertence a uma ordem

fortemente centralizadora que deixou bem expressas nos seus

textos as marcas desta dependência, como na quase ausência de

imagens no seu scriptorium. 0 estudo da relagão texto imagem


mostra-nos ainda gue a cada tipo de livro litúrgico corresponde
um tipo específico de empaginagão e organizagão do volume.

É nos livros litúrgicos e bíblicos que surgem as iraagens


de página e as iniciais historiadas mais ricas destes dois

f undos . É neles que se pode melhor observar a hierarquizagão


das iniciais e a sua fungão de clarificagão dos diversos

momentos do texto .

Os livros ligados ã lectio apresentara-se como os mais

austeros. É no fundo alcobacense que a iluminura se reduz ao

essencial, na abertura do texto e nas suas divisôes mais

signif icativas .

Os livros qlosados que constituem um modelo importante e

especialmente rico em Alcobaga, apresentam-se como dos mais

444
originais na empaginagão, em que a iluminura seque a hierarquia
que se estabelece entre o texto e a qlosa.
Esta relagão texto imaqera revelou que não existem normas

para a utilizagão de modelos iconográf icos ou ornamentais para

os mesmos tipos de livros. As imagens são utilizadas

indistintamente ,
e não são seleccionadas em fungåo do texto

a que pertencera, embora algumas se mantenhara, como a

Crucificagão era saltérios e missais.

0 esclarecimento destas ligagôes está tambéra dependente


de uma análise textual dos fundos gue permita esclarecer a

origem das copias. Neste aspecto, por exemplo, o conhecimento

rigoroso dos calendários litúrgicos, permitirá trazer novas

achegas para a origem, datagáo e circulagão dos côdices.

Se bem que haja numerosos estudos sobre bíblias românicas,


tarabéra do ponto de vista textual não tiveraos acesso a listas

exaustivas de prôlogos e sucessão de livros o que dificulta a

sua análise comparativa.


Devido â ausência de estudos rigorosos sobre a genealogia
destes tipos de livros, vimo-nos limitados apenas a uma análise

iconográfica baseada na comparagão de imagens, sem determinar

com rigor as origens dos manuscritos.

Podemos concluir também que os iluminadores românicos

destes mosteiros optaram de forma inequívoca por um vocabulário


ornamental rico e variado,e sô raramente executaram cenas

f igurativas.
Como na escultura, os artistas do livro trataram de forma

exímia o bestiário, quer quando revestia formas fantásticas,


quer quando era representado como aniraais doraésticos ou em

cenas de caga. Trataram com mestria e criatividade os motivos


ornamentais que utilizaram nas iniciais ornadas, mas muitas

vezes executaram de forma ingénua as imagens historiadas.


As relagôes iconográf icas com a escultura foram por nôs

abordadas pontualmente . Ensaiámos alqumas aproximagôes que se

revelaram estimulantes . Em Alcobaga, os motivos ornamentais da

tumulãria revelaram semcl hangas com a ornamentagão dos

manuscritos. Em Santa Cruz o bestiário e as imagens dos codices

445
mostram modelos com pontos de contacto com os capitéis da Sé

ou da charola dos Templários em Tomar. Um estudo sistemático

desta temática revela-se pois promissor.


Elaboráraos uma evolugão histôrica da ilurainura nos dois

mosteiros, com base nos manuscritos datados, e noutros que

mostraram com eles afinidades, o que nos permitiu revelar os

momentos decisivos da iluminura românica em Portugal. A

existência de outros fundos, não estudados neste trabalho,

especialmente o de Lorvão ,
deixa lacunas que devem ser

preenchidas em trabalhos posteriores.


0 fundo de Sta Cruz, apesar de possuir menor número de

côdices, mostrou-se mais rico do que o de Alcobaga para o

estudo da evolugão da ilurainura românica em Portugal . Os

manuscritos datados e com ex-libris do mosteiro, para além de

serem em maior número, cobrem um período mais amplo , onde são

mais visiveis as mudangas artísticas. Foi principalmente com

base neste núcleo que pudemos esbogar a evolugão da iluminura.

A abertura a influências externas de Santa Cruz, não é

comparável em Alcobaga, onde as encomendas fora do mosteiro

eram fortemente liraitadas.

0 estudo da ilurainura destes f undos ,


tem permitido
rectificar algumas datagôes que constam nos respectivos
catálogos ou integrar num mesmo volume, partes dispersas de uma

mesma obra .

Ura vasto trabalho fica todavia era aberto. Se antes do

século XI, nada sabemos da iluminura que neste espago se

criava, pela ausência de manuscritos, para o período seguinte,


o Gôtico, não existem ainda estudos sistemáticos gue nos

perraitara estabelecer a evolugão das tendências que


identif icáraos .

A análise das relagôes texto imagem gue percorrem o

trabalho, mostrou que a iluminura românica é indissociável do

côdice, mas que este foi também, veículo de cultura e arte.

Suporte da memôria e forma do homem expressar a sua relacão com

o mundo e aquilo que ele tinha do mais ossencial, o sagrado.

446
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480
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Arouca, Museu de Arte Sacra

Arouca A: 281,284 a)
fl.lv: 282

fl.19: 282

fl.115: 282

Arouca B: 281,283
-

Arouca C: 281

f 1.19:285

Arouca D:281

fl.68v:340

Auxerre, Biblioteca Municipal

Ms. 269:190, 358

Barcelona, Arquivo da Coroa de Aragão

-Ms 1:319

Burgos, Biblioteca Provincial

Ms.846

fl .12v:355

Nota: a) A numeragão que so soguc dois pontos corresponde


aos

ao número da página em que o manuscrito é citado.

481
Cambridge,Museu Fitzwilliam

Ms.83 1972:130

Chartres, Biblioteca Municipal

-
Lat.116: 357

Dijon, Biblioteca Municipal

Ms 12:85

Ms 13(nQ .1):85
fl.l50v:85

fl.l3v:356,
-
Ms 14 (n9 2)
F1.13V:354.
-

Ms.114: 120,204,217,220,270
-

Ms.135-.116

-
Ms. 141:279

Ms 159:280

Ms 168:85,171
-

Ms 169:85,171

Aîsl70;85,171
-

Ms 173: 171

Ms 243: 272,279
-

Ms 641: 270,277,340
-

Ms 642:272 ,277
-
Ms 643: 270, 277

Douai, Biblioteca Municipal

Ms 1

f 1 . 7 : 34 2

482
Heiligenkreuz

Ms 226: 183

Leôn, Colegiada de Sant° . Isidoro

Ms.108: 336

Biblia Mogarabe
fl.91V:78,163

fl. 165:194

Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Torabo

Particulares, Mago 1, Doc . 38:88

Particulares , Mago 2 (n. 39): 131

Particulares Mago 8 (n1 .


25):441
-

Gradual 102:284, 286

Casa Forte 90: 344

fl.21: 330

Casa Forte 160

fl. 120:312

Lisboa, Biblioteca Nacional

-Ilum. 102:286

ĩlum. 115:283

-Ilum.N'' .218: 217

Alc. 10:262 ,
263

Alc.ll: 131,258,259,407,431
-

Alc. 26:332

483
-

Alc. 30:262

-
Alc. 65:262

Alc. 138:69,258,407

fl. 1:258

fl .130v:69,
f 1. 179:78,

Alc. 141:258, 259

Alc. 146:121 ,

Alc. 149:127,251, 405, 439, 440

Alc. 150:92, 169, 395

f 1. 151:95,

Alc. 151:95, 399

Alc. 152:395,429

Alc.l56;101,
-

Alc. 157:78 ,268


-

Alc. 158:192, 193,195 fl. 142:192

Alc. 159:69, 91,


f 1. 164:69

Alc.162: 104,
-

Alc. 165:262,263

fl. 1:264
-

Alc. 166:131, 265, 407

fl.7V:265

fl.l2v:266

fl.l24v:266
-

Alc. 167:250,251 ,407


fl. 119:250

Alc. 169:100, 395

Alc.170: 395,429
-

Alc.173: 108,127,405,439
f 1 .32:127

Alc. 177:399

-Alc. 185: 105

Alc. 187: 10 5
-

Alc . 188: 1 32 , 2.62, 263,407


f 1. 59v: 132

484
-

Alc. 194:96
-

Alc. 208:292

Alc. 231:105, 341,399,430


fl. 90:339, 358

Aic.238.-99, 182, 184, 330


fl.202v:182

fl.207v: 182,183

fl. 210:182

f 1.227:182

Alc. 242:98, 178

fl.lv:178,371
fl .61:179,369

Alc. 243:395

Alc. 244: 98

Alc. 246:97, 398

f 1.18v:366

Alc. 247:96, 121


-

Alc. 248:93

Alc. 249: 226, 227, 230, 250, 367, 407, 4 37


-

Alc.251: 70,226,227,230, 355,407,4 37


Fl .247:70,69,228
-

Alc. 2 52: 226, 227, 25 0,367, 407, 4 37

Alc. 253:228, 250, 267, 407, 437

fl.276v:70

fl .102V.282

fl. 276:70

Alc. 255:226, 227,250, 407


-

Alc. 256:221 , 230, 407, 437

fl. 176:70
-

Alc. 257: 2 26, 2 28, 250, 3 67, 4 07, 4 3 7

Alc. 258 ;226,227, 23 0,2 50, 407, 4 3 2

Fl .205:70

Alc. 259: 226, 229, 231 ,

11.181: 131,432
-

Alc. 260: 208, 2 19, 2 20 ,2.65, 267, 407

f 1.1:267

4 85
fl.7v:267

fl.21v:219

fl.52v:219

fl.67v:219

fl. 75:219

Alc. 263:100, 121

-
Alc. 331:121

Alc. 332:395, 429

Alc. 333:91 , 173, 265, 399, 430


fl .6V:174,

f 1.159:70

fl. 159:70

Alc. 334:91 106, 265, 395


-

Alc.335;93, 265, 395

Alc. 336:94, 265, 399 ,400 ,430

Alc. 337 :94, 121 ,

Alc. 338:94. ,121 ,

Alc. 339:101 ,127 ,405,439

f 1. 117: 127,
-

Alc. 340:107, 121, 405

Alc. 341:268, 399

Fl .146v:70

Alc.,342:399

Alc. ,343:93, 395,

Alc. ,344:93,395
-

Alc. ,345:93,395
-

Alc. ,346:93 ,429

Alc. 347:399
,

Alc. ,348:93 ,121

Alc, .34 9:95,171 ,

Alc, 350:94
.
,
171 ,

Alc. .351:95,171,

Alc, 353: 307


.

Alc .
354:102,194
fl . 3v:194

Alc .355: 102 , 121 ,194


-

Alc. 357:97 ,221 , 230,


-

Alc. 358:399, 430

-
Alc. 360:91, 119 ,128

fl .55v:128,

fl .113v:128,

Fl .242:70,91,
-

Alc. 361:226, 227, 250, 437


-

Alc. 363:99,180,395,429
-

Alc. 364:99 ,180 ,


424

Alc. 365:95, 108,129,431

fl.l6v:128,
-

Alc. 366:153,

Alc .
367:106, 366, 395
-
Alc. 368:153

Alc. 369:95, 121, 429

Alc. 372:95,

AJc.37 3;

Fl. 195:70, 78,

-
Alc. 375:96, 107, 121,

-
Alc. 380:106, 180,

Alc. 3 96: 95, 12 5, 138, 140 ,153, 16 5, 408, 43 2

fl. 9:125, 155

f 1.2: 158,

fl.47v:158,

fl.71v:158,

fl.94v:158,
f 1 .188v:159,

f 1 .9:124 ,

Alc. 3 97: 125, 138, 140, 153, 156, 16 5, 408

fl.l83v: 156,

Alc. 398:125, 138,153, 157,165,408


f 1.225: 154

Alc. 3 99: 125, 13 8, 140, 157, 16 5, 3 3 5, 4 08, 4 27

f 1 .71v:365

f 1 .94:155

fl.94v:15 6,158,350

487
f 1.95:155,158,354
fl.95v:338

f 1.96:155

fl.96v:338

f 1.97:155,158
fl. 98:154

fl. 99:154

fl. 101:157, 337

fl.l22v:158,337
fl .138:158

f 1.138v:

Alc. 400:95, 121 ,

-
Alc. 401:102, 195
-

Alc. 402:92 ,110

Alc. 405:395

Alc. 406:98, 121,

Alc .408:98 ,116


fl. 1:176 ,177
fl.56v:178

fl.58v:177

fl. 126:177
-

Alc. 409:98, 176

fl.58v:177

fl. 126:176

Alc. 410:106, 404, 437


-

Alc. 412:18, 266, 267, 407, 432

fl.l0v:267

fl. 97:126, 267, 333

fl .220:70,78
-

Alc. 413:18, 266, 269, 407

f 1. 14:267

Fl. 216:70

Aĩr.414: 78,266,267,407
Fl.24 5:70,

-
Alc. 41 5:107, 270

Alc.416:97,

488
-

Alc. 418: 106, 109, 121, 268, 275, 276, 391, 403, 4 38, 440

Alc. 4 19: 106, 109, 121, 268, 275, 403, 4 40

fl.lv. :124,
-

Alc. 420: 106, 109, 121, 268, 275, 278, 44 0

fl. 140:106,109,

fl. 251:132,

Alc. 4 21: 106, 109, 12 1,268, 275, 27 8, 403

fl. 83:440

Alc. 422: 106, 109, 121, 270, 268, 275, 4 38

fl. 140:271, 357

fl. 251:438

Alc. 423:96, 395, 429

Alc. 424:184, 427

Alc. 425:121, 184

Alc. 426: 106, 109 ,121, 184, 186, 3 67, 3 98, 4 27

fl. 251:132, 357

f 1.258v:185,

Alc. 4 27: 106, 109 140, 151, ,161,164,399,400,430


-

Alc. 428: 106, 109, 139, 140 ,151, 162, 3 99


-

Alc. 429:18, 138, 140, 162, 268, 430

fl. 2:366

Fl. 198:70

Alc. 4 30: 138, 14 0,15 1,162, 399, 4 30


-

Alc. 431: 138, 140, 151, 162, 399, 430

fl. 66:365

fl. 138:367

Alc. 432: 162, 266, 268, 269, 401, 402, 43 2

Alc. 433:162, 266, 268, 401, 402


-

Alc. 434:162, 266, 268,401, 402


-

Alc. 435:96 ,91

Alc.440

fl.2v:241,339
-

Alc.441 :266,269,432
-

Alc. 442:266, 432

f 1 .1 :270

Alc.443: 266 , 269,432

489
-

Alc. 444:266, 269, 432

Alc. 445:266, 269

Alc. 446:189, 440

fl. 1:189

f 1. 3:189

fl .96v:357

f 1.204v:189

Alc.450

fl.3v:369
-

Alc.454: 395,397

Londres,Abadia Westminster

Royal Ms.2A XXIII

fl. 15:437

Londres, Biblioteca Britânica

Ms 2 A XXIII:432

fl. 15:432

Add.Ms. 14788: 323

fl. 6:155

Add.Ms. 22859:191,

Madrid, Biblioteca Nacional

Ms 2:3 9,140,415
-

Ms 8831:145

Ms Vitreo 15-1:272, 320

f 1 . 32*1v:272
Madrid, Real Academia de Historia

-Ms.76

fl .73v:189,421

Côd.3 3

fl. 92:334

Montpellier, Biblioteca da Faculdade de Medicina

Hl:269,277, 401

Paris, Biblioteca Mazarina

Ms.36

f 1.6:155

Lat. 1:415

Lat. 2:415

Paris, Biblioteca Nacional

Lat.7:414

-
Lat. 8: 414

Lat.1141

fl.6v: 316

Lat. 1877: 61

Lat. 4792:149

Lat. 5296 A:424

-
Lat.5576

fl. 1:424

Lat. 7193:210
-

Lat. 12048: 213,214,


-

Lat. 15177:157,161
-
Lat. 7622 A:186

491
-

Lat. 16746

fl.7v:337

Nouv. Acq. 1203: 243 ,

Porto, Biblioteca Pública Municipal

Sta Cruz 1: 114,125-126,138-139,140-150,152, 165,249, 308,

335, 338, 341, 347, 369-371, 390, 393, 426


331,
Anterrosto: 124

f 1.0v:348

f 1.1:146,153,366,367
fl. 2:126,

f 1.98:147,425

fl.H0v:126,

fl. 110v:143,349
fl. 146:130,

fl. 160:126, 143, 308

f 1.205V: 131,147,152
fl.208V:370

fl. 209:147

fl.209v:426

fl.216v:370

fl. 219:147

fl.226v:146,248

fl .260:144,308

f 1.260v: 126,

fl. 261:369

f 1 .295:147

f 1 .301 :145

f1 . 306: 126, 14 4 ,

f 1 .311v:371

f 1 .332:36 8

f 1 .332v:368

f 1.333: 144,359

A 9 2
fl. 334:126, 144, 359

fl. 338:144, 157

f 1.352: 145

fl. 362:337, 366

f 1.362v:336,345,
f 1.363:370

fl.363v:336

fl. 364:336

f 1.364v:336

Sta Cruz 2: 138,149, 150,394,440

fl.l75v:131,152

fl.l81v:131,152,310
fl.187: 152

fl .193.370

fl.207v:152,419
-

Sta Cruz 3:138,150,390,440


fl.3v:152,
321, 370, 383-
-

Sta Cruz 4: 69,93, 95,96,146,169,271-172,318,


3 85,3 87,393,413-414,417,
fl. 4:272

fl.l2 3V:272,318

fl.l24V:273

fl. 191:273

fl. 281:168

f 1.321v:272

fl .328:272

f 1.329:272

fl.329V:272,326,
-

Sta Cruz 5:271,273,388,428


f 1 .239:274

f 1.117v:274

Sta Cruz 6:94,96,97,441


-

Sta Cruz 8:106,109,185,187,388,423


f 1.200:132,

-
St.a Cruz 11:91, 127,173,174,312,389,44 1

f 1 .6v:282

493
fl.l8v:128,311
fl .24v:350

fl. 45:132

f 1 .88v:352

f 1.91v:352

fl .112:332

fl. 117:352

Sta Cruz 12: 94,


-
Sta Cruz 13:68,170,174,441
fl. 1:170,

fl. 158:133,

-
Sta Cruz 14:91

Sta Cruz 17:187,383,420


fl. 1:188,

f 1. 3:124

fl.30v:188

fl.31v:188

f 1.32:189,

f 1 .91v:187

fl.92v:188,420
fl. 93:188

fl. 129:188

Sta Cruz 18:68 ,107 ,190 ,197 ,392 ,A


fl.3V:190

-
Sta Cruz 20: 109 ,227 ,275 ,370 ,
390 ,

f 1.46v:275

fl.49v:128,
f 1 .78:371

fl.l01v:133,

fl.l23v:370

f 1 .139:126,276

f 1 . 156v: 370

f1 . 173V. 369

Sta Cruz 21: 109,275, 370,390,4 35

f 1 .83: 370, 4 36

f 1.108:131

4 94
-

Sta Cruz 25:255,257,392,427


-

Sta Cruz 26:255,257,392,427


-

Sta Cruz 27: 68,102,255,257,313,320,390,426


fl. 1:255

fl.XV:224,255,259,313,
fl. 1:256

f 1. 101:131

fl.218v:68

Sta Cruz 30: 68,96,1077,124,197,383, 384,385,413

fl.l36v:168

Sta Cruz 31:419

Sta Cruz 32: 101

Sta Cruz 33: 97

Sta Cruz 34:99,108,181,330,331,428


fl.34v:330

f 1.89:182,372

fl.91v:182

fl. 93:181

fl.94v:181,423
fl. 98:372

fl.l09v:372

fl.H0v:181

fl.H7v:108
-

Sta Cruz 35:178

fl. 1:178,

fl.58v:178,
-

Sta Cruz 40: 101,107,224,313,319,388,427,428


f 1. 30:224, 317

f 1.31:224

Sta Cruz 43:67,99,179,180,384,386,423


fl .29:128

f 1.141:179

fl.235V:67

Sta Cruz 47: 94,


-

Sta Cruz 48:99

Sta Cruz 51:93,169,383,413,417

495
fl. 1:168,

fl.lv:168,
-

Sta Cruz 54:93,94, 104,105,


-

Sta Cruz 55:208,215,218,224,415


f1 . 15 : 2 1 6

fl. 16:217

fl.44v:216

fl.75v:216

f 1.118:216

Sta Cruz 58: 93,96,98,169,384,385,413


fl.l:93

fl .51v:126

f 1. 53:126

fl. 69:93, 126

fl.71v:127

fl. 72:93

f 1.81:93,169,

fl. 122:93, 169

fl.l33V:169,
-

Sta Cruz 59:103 ,

Sta Cruz 62:224,225,261,313


fl. 1:261

fl. 72:262

fl. 177:225

fl.l77v:317

fl. 178:225

Sta Cruz 66:248,251


fl. 1:248

f1 . 180:24 9

Sta Cruz 69:98,170,177

fl.51v:127,177,3 59
fl. 53:127, 175

fl.69: 127

f 1 .71V: 128
-

Sta Crux 70:318

f 1 .70V: 131

4 96
fl. 123:320

Sta Cruz 72:245,251,252,427,441


fl. 1:441

fl.2v:246

fl.3v:441

fl. 6:126, 246, 348

fl. 7:126, 246, 338

fl.39v:247

f 1.79v:246

fl. 82:246, 247

fl.82v:248

Sta Cruz 73:95,


Sta Cruz 74:104,

fl.70v:130,

Sta Cruz 76:244,323

f 1 .1:244,384

f 1.26v:245

fl. 66:245

fl. 75:128

fl.88v:245

fl.l05v:245,321
fl. 173:245

fl. 175:245

fl. 177:245

fl. 210:245

Sta Cruz 77:103,419


Sta Cruz 81: 67,105,
Sta Cruz 83: 10 3,
Sta Cruz 89: 103,
Sta Cruz 91:150,249
f 1.62:249

fl .71:126,249,351

B.P.M.P.N:.74: 419

B.P.M.P.N'- .861: 245,248,338, 427

11.1:248

497
fl.28v:126,248

Reales Sítios, Mosteiro de Las Huelgas

-
Antifonário

Roma,Biblioteca Vaticana

Reg.Lat.316: 210

Tarragona, Biblioteca Provincial

Ms. 59:232

fl. 103:233

Ms. 70:232

f1 . 82 : 23 3

Tortosa, Biblioteca Capitular

-
Ms 11: 216,415
fl.16: 218,

fl.l6v:218

fl. 17:218,

Ms 51:415

Ms 123:415

Ms 233:415

Tournai, Biblioteca do Seminário

Ms. 1

f 1 .6: 342

Ms. 89/54
f 1.45:330

4 98
Troyes, Biblioteca Municipal

Ms 4: 396,401,430
-

Ms 27: 279

Ms 35:396,401,430
-

Ms 36: 269, 432

Ms 40: 396, 340

Tomo IV e V:171

Ms. 43:111

Ms 76: 171,396,430
-

Ms 107:396,425
-

Ms 134: 396,401,430
-

Ms 177:183,184,396,430
f 1. 135:182,

Ms 180:396,425
-

Ms 292: 171

Ms 292:392,420,
-

Ms 423:396,430
-

Ms..458 Tomo 1:1

fl. 6: 344

fl. 232: 311

Ms, .511:194,

Ms .512:193

Ms 566:396,430
-

Ms .1023bis:193
-

MS .2391:159,161
fl.l88v:159

Trento, Museu

CÔd.2546

fl. 13:357
Valladolid, Biblioteca da Universidade

Ms433

fl. 145:334

Verona, Biblioteca

-
Ms.85: 209

;00
Madrid, Real Academia de Histôria

-Ms.76

fl .73v:189,421

Côd.3 3

fl. 92:334

Montpellier, Biblioteca da Faculdade de Medicina

Hl:269,277, 401

Paris, Biblioteca Mazarina

Ms.36

fl .6:155

Lat. 1:415
-

Lat. 2:415

Paris, Biblioteca Nacional

Lat. 7:414

Lat. 8: 414

Lat.1141

fl.6v: 316

Lat. 1877: 61

Lat. 4792:149

Lat. 5296 A:424

Lat.5576

f1 . 1 : 4 2 4

Lat. 7193: 210

Lat. 1204 8: 213,214,


Lat. 16177:157,161
-

Lat . 7f>2 2 A: 186

491
-

Lat. 16746

fl.7v:337

Nouv. Acq. 1203:243,


-

Porto, Biblioteca Pública Municipal

Sta Cruz 1: 114,125-126,138-139,140-150,152, 165,249, 308,

338, 341, 347, 369-371, 390, 393, 426


331, 335,
Anterrosto: 124

fl.0v:348

fl. 1:146, 153, 366, 367

fl. 2:126,

fl.98: 147,425
f 1 .110v:126,

fl. 110v:143,349
fl. 146:130,

fl. 160:126, 143, 308

fl.205v:131,147,152
f 1 .208V:370

fl. 209:147

fl.209v:426

fl.216v:370

fl. 219:147

f 1.226v:146,248

fl. 260:144, 308

fl .260v:126,

fl .261:369

fl. 295:147

f 1 .301 : 145

fl. 306:126, 144,

f 1 .311v:371

f 1.3 32:368

f 1 . 3 3 2v: 363

f 1 . 333 : 1 4 4 ,
359

400
fl. 334:126, 144, 359

fl. 338:144, 157

fl. 352:145

fl. 362:337, 366

fl.362v:336,345,
fl. 363:370

fl.363v:336

fl. 364:336

f 1. 364v:336

Sta Cruz 2: 138,149, 150,394,440


f 1.175v:131,152

fl.l81v:131,152,310

fl.187: 152

fl. 193. 370

fl.207v:152,419
-

Sta Cruz 3:138,150,390,440


fl.3v:152,
321, 370, 383-
-

Sta Cruz 4: 69,93, 95,96,146,169,271-172,318,


3 85,387,393,413-414,417,
fl. 4:272

fl.l23V:272,318
fl.l24V:273

fl. 191:273

fl. 281:168

fl.321v:272

fl. 328:272

f 1.329:272

fl.329V:272,326,
-

Sta Cruz 5:271,273,388,428


f 1. 239:274

fl.H7v:274
-

Sta Cruz 6:94,96,97,441


-

Sta Cruz 8:106,109,185,187,388,423


f 1. 200:132,

Sta Cruz 11:91, 127,173,174,312,339,441


fl.6v:282

493
fl.l8v:128,311
fl.24v:350

fl. 45:132

fl .88v:352

fl.91v:352

fl. 112:332

fl. 117:352

Sta Cruz 12: 94,


-
Sta Cruz 13:68,170,174,441
fl. 1:170,

f 1.158:133,

Sta Cruz 14:91

Sta Cruz 17:187,383,420


fl. 1:188,

f 1.3:124

fl.30v:188

fl.31v:188

fl. 32:189,

fl.91v:187

f 1 .92v:188,420

f 1.93:188

fl. 129:188

Sta Cruz 18:68,107,190,197,392,441


fl.3V:190

Sta Cruz 20:109,227,275,370,390,394,435


f 1.46v:275

fl.49v:128,

f 1.78:371

fl.l01v:133,

fl.l23v:370

fl .139:126,276

f1 . 156v:370

fl.173V.369
-
Sta Cruz 21:109,275,370,390,4 35

f 1 .33:370,436

f 1.108:131

494
-

Sta Cruz 25:255,257,392,427


-

Sta Cruz 26:255,257,392,427


-

Sta Cruz 27: 68,102,255,257,313,320,390,426


f 1.1:255

f l.XV:224,255,259,313,
f 1. 1:256

f 1.101:131

fl .218v:68

Sta Cruz 30: 68,96,1077,124,197,383, 384,385,413

fl.l36v:168

Sta Cruz 31:419

Sta Cruz 32: 101

Sta Cruz 33: 97

-
Sta Cruz 34:99,108,181,330,331,428
fl.34v:330

f 1.89:182,372

fl.91v:182

fl. 93:181

fl.94v:181,423
fl. 98:372

fl.l09v:372

fl.H0v:181

fl.H7v:108

-
Sta Cruz 35:118

fl. 1:178,

fl.58v:178,
-

Sta Cruz 40: 101,107,224,313,319,388,427,428


fl. 30:224, 317

f 1.31:224

Sta Cruz 43:67,99,179,180,384,386,423


fl .29:128

f 1.141:179

f 1 .235V:67

Sta Cruz 47: 94,


-

Sta Cruz 48:99

-
Sta Cruz 51:93,169,383,413,417

495
fl. 1:168,

fl.lv:168,
-

Sta Cruz 54:93,94, 104,105,


-

Sta Cruz 55:208,215,218,224,415


fl. 15:216

f 1. 16:217

fl.44v:216

fl.75v:216

fl. 118:216

Sta Cruz 58: 93,96,98,169,384,385,413


fl.l:93

fl .51v:126

fl. 53:126

f1 .69:93,126
f 1 .71v:127

fl. 72:93

f 1. 81:93, 169,
f 1.122:93,169

f 1.133V:169,

Sta Cruz 59:103,


-

Sta Cruz 62:224,225,261,313


fl. 1:261

f 1. 72:262

fl .177:225

f 1. 177v: 317

f 1.178:225

-
Sta Cruz 66:248,251
f 1 .1:248

f 1.180:249

Sta Cruz 69:98,170,177


f 1 .51v: 127, 177, 359

f 1.53:127,175

11 .69:127

f 1 .71V: 128

Sta Cruz 70:318

f 1 .70V:131

4 96
fl. 123:320

Sta Cruz 72:245,251,252,427,441


fl. 1:441

fl.2v:246

fl.3v:441

f 1 .6:126,246,348
fl. 7:126, 246, 338

fl.39v:247

fl.79v:246

fl. 82:246, 247

fl.82v:248

Sta Cruz 73:95,


Sta Cruz 74:104,

fl.70v:130,
Sta Cruz 76:244,323
fl. 1:244, 384

f 1.26v:245

fl. 66:245

fl. 75:128

fl.88v:245

fl.l05v:245,321
fl. 173:245

fl. 175:245

fl. 177:245

fl. 210:245

Sta Cruz 77:103,419


Sta Cruz 81: 67,105,
Sta Cruz 83: 103,
Sta Cruz 89: 103,

Sta Cruz 91:150,249


f 1.62:249

fl.71 :126,249,351

B.P.M.P.N .74: 419

B.P.M.P.N'.861: 245,248,338, 427

f 1.1:248

497
f 1.28v:126,248

Reales Sítios, Mosteiro de Las Huelgas

Antifonário

Roma,Biblioteca Vaticana

Reg.Lat.316: 210

Tarragona, Biblioteca Provincial

Ms. 59:232

fl. 103:233

Ms. 70:232

fl. 82:233

Tortosa, Biblioteca Capitular

Ms 11: 216,415
fl.16: 213,

fl.l6v:218

fl. 17:218,

Ms 51:415

Ms 123:415

Ms 233:415

Tournai ,
Biblioteca do Serainário

Ms.l

f 1 . 6 : 3 4 2

Ms. 89/54
fl. 45:330

4 98
Troyes, Biblioteca Municipal

Ms 4: 396,401,430
-

Ms 27: 279

Ms 35:396,401,430
-

Ms 36: 269, 432

Ms 40: 396,340
Tomo IV e V:171

Ms. 43:111

Ms 76: 171,396,430
-

Ms 107:396,425
-

Ms 134: 396,401,430
-

Ms 177:183,184,396,430
fl. 135:182,

Ms 292: 171

Ms 292:392,420,
-

Ms 423:396,430
-

Ms..458 Tomo 1:1

fl. 6: 344

fl. 232: 311

Ms .511:194,
-

Ms .512:193

Ms 566: 396,430
-

Ms . 1023bis:193
-

Ms .2391:159,161
fl .188v:159

Trento, Museu

Côd.2 546

f 1.13:357
Valladolid, Biblioteca da Universidade

Ms433

fl. 145:334

Verona, Biblioteca

Ms.85: 209

er

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