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Codificação/Decodificação
Mas é também possível (e útil) pensar esse processo em termos de uma estrutura-Produzida e
sustenta da através da articulação de momentos distintos, mas interligados — produção,
circulação, distribuição/consumo, reprodução. Isto seria pensar o processo como uma "complexa
estrutura em dominância", sustentada através da articulação de práticas conectadas, em que cada
qual, no entanto, mantém sua distinção e tem sua modalidade específica, suas próprias formas e
condições de existência. (HALL, 2003, p. 391)
O "objeto" de tais práticas é composto por significados e mensagens sob a forma de signos-
veículo de um tipo específico, organizados, como qualquer forma de comunicação ou
linguagem, pela operação de códigos dentro da corrente —sintagmática de um discurso.
(HALL, 2003, p. 391)
Mas é sob a forma discursiva que a circulação do produto se realiza, bem como sua
distribuição para diferentes audiências. Uma vez concluído, d' discurso deve então ser
traduzido — transformado de novo — em práticas sociais, para que o circuito ao mesmo
tempo se complete e produza efeitos. (HALL, 2003, p. 392)
(...) devemos reconhecer que a forma discursiva da mensagem tem uma posição,
privilegiada na troca comunicativa (do ponto de vista da circulação) e que os momentos de
"codificação" c "decodificação", embora apenas "relativamente, autônomos" em relação ao
processo comunicativo como um todo, são momentos determinador. (HALL, 2003, p. 392)
Um evento histórico "bruto" não pode, nessa forma, ser transmitido, digamos, por um
telejornal. Os acontecimentos só podem ser significados [be signified] dentro das formas
visuais e auditivas do discurso televisivo. No momento em que um evento histórico é posto
sob o signo do discurso, ele é sujeito a toda a complexidade das "regras" formais pelas
quais a linguagem significa. (HALL, 2003, p. 392)
For isso, paradoxalmente, o acontecimento deve se tornar uma "narrativa" antes que possa
se tomar um evento comunicativo. Naquele momento, as sub-regras formais do discurso
estão "em dominância", sem, é claro, subordinarem até seu apagamento o evento histórico
que está sendo significado, as relações sociais nas quais as regras são postas em
funcionamento ou as consequências políticas e sociais do evento terem sido significadas
dessa maneira. (HALL, 2003, p. 392)
O signo televisivo, é um signo complexo. Ele é constituído pela combinação de dois tipos
de discurso, o visual e o auditivo. Além do mais é um signo icônico, na terminologia de
Peirce, porque "possui algumas das propriedades da coisa representada"/. Este é um ponto
que tem levado a grandes confusões e tem sido o terreno de uma intensa controvérsia no
estudo da linguagem visual. Uma vez que o discurso visual traduz um mundo
tridimensional em planos bidimensionais, ele não pode, é claro, ser o referente ou o
conceito que significa. (HALL, 2003, p. 396)
O cão, no filme, pode latir, mas não consegue morder!! g*A realidade existe fora da
linguagem, mas é constantemente mediada pela linguagem ou através dela: e o que nós
podemos saber e dizer tem de ser produzido no discurso e através dele. (HALL, 2003, p.
396)
Certos códigos podem, é claro, ser tão amplamente distribuídos em uma cultura ou
comunidade de linguagem especifica, e serem aprendidos tão cedo, que aparentam não-
terem sido construídos — o efeito de uma articulação entre signo e referente — mas serem
dados "naturalmente". (HALL, 2003, p. 396)
Mas não devemos deixar que as aparências nos enganem. Na verdade, o que os códigos
naturalizados demonstram é o grau de familiaridade que se produz quando há um
alinhamento fundamental e uma reciprocidade — a consecução de uma equivalência —
entre os lados codificador e decodificador de uma troca de significados. (HALL, 2003, p.
397)
Dessa maneira, Eco argumenta que os signos icônicos "parecem com objetos do mundo real
porque reproduzem as condições perceptivas (ou seja, os códigos) de quem os vê".
Contudo, essas "condições de percepção" são o resultado de um conjunto de operações
altamente codificadas, ainda que virtualmente inconscientes — são decodificações. Isto é
verdade para as imagens fotográficas ou televisivas, assim como para qualquer outro
signo. (HALL, 2003, p. 398)
Signos icônicos são, entretanto, particularmente vulneráveis a serem "lidos" como naturais,
porque os códigos de percepção visual são amplamente distribuídos e porque esse tipo de
signo é menos arbitrário do que um signo linguístico. O signo linguístico "vaca" não possui
nenhuma das propriedades da coisa representada, ao passo que o signo visual parece
possuir algumas dessas propriedades. (HALL, 2003, p. 398)
Esses códigos são os meios pelos quais o poder e a ideologia são levados a significar em
discursos específicos. Eles remetem os signos aos “mapas de sentido” dentro dos quais
qualquer cultura é classificada; e esses “mapas da realidade social” contêm “inscritos” toda
uma série de significados sociais, práticas e usos, poder e interesse. (HALL, 2003, p. 398)
Segundo Barthes, os níveis conotativos dos significantes "têm uma estreita relação com a cultura, o
conhecimento, a história e é através deles, por assim dizer, que o meio ambiente invade o sistema
linguístico e semântico. Eles são, de alguma forma, os fragmentos da ideologia. (HALL, 2003, p. 400)
O chamado nível denotativo do signo televisivo é fixado por certos códigos (restritos ou
"fechados") bastante complexos. Mas o nível conotativo, apesar de também ser limitado, é mais
aberto, sendo objeto de transformações mais ativas, que exploram seus valores polissêmicos.
(HALL, 2003, p. 400)
Um dos momentos políticos mais significativos (eles também coincidem com os momentos
de crise dentro das próprias empresas de televisão, por razões óbvias) é aquele em que os
acontecimentos que são normalmente significados e decodificados de maneira negociada
começam a ter uma leitura contestatária. Aqui se trava a "política da significação" — a luta
no discurso. (HALL, 2003, p. 405)