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FORTALEZA-CEARÁ
2023
RESUMO
O presente trabalho apresenta como tema: O Ensino Religioso como uma ferramenta na
promoção de uma cultura de paz nas escolas. O Ensino Religioso, a partir da homologação da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), passa a ser uma área de conhecimento, com
objetivos, habilidades e competências a serem consolidadas durante o processo de formação
dos alunos e das alunas. Os objetivos propostos pela Base Nacional Comum Curricular
tendem para uma educação pautada na paz, fundamentando-se na valorização dos Direitos
Humanos, no diálogo e na diversidade. Porém, faz-se necessário, além desses objetivos,
competências e habilidades, proposições pedagógicas para que sejam implementados os
pressupostos de uma cultura da paz e para a paz. A partir desse contexto, o presente trabalho
tem como objetivo verificar como o Ensino Religioso pode ajudar na promoção da paz nas
escolas públicas municipais de Fortaleza. Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica nas
bases Scielo e Google Scholar. Este trabalho fundamenta-se na Base Nacional Comum
Curricular, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB) e em trabalhos científicos
de diversos autores que abordam o tema. Portanto, o presente está dividido em três capítulos,
sendo o primeiro intitulado O Ensino Religioso nas Escolas Públicas Brasileiras, que trata da
trajetória do ensino religioso nas escolas brasileiras, que teve início com a vinda dos jesuítas,
na época da colonização do Brasil; o segundo capítulo intitulado O papel do Ensino
Religioso na construção de uma cultura de paz, que trata da importância da
transdisciplinaridade, a definição de um currículo contextualizado para o Ensino Religioso e,
por último, aborda sobre a utilização de metodologias ativas para o Ensino Religioso. O
terceiro capítulo aborda sobre os possíveis caminhos para o Ensino Religioso como uma
ferramenta para a construção de uma cultura de paz, enfatizando a importância da inserção de
toda a comunidade escolar no projeto de Ensino Religioso e da importância da relação
família-escola. Por fim, são apresentadas as Conclusões do presente trabalho.
INTRODUÇÃO 3
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
O mundo no qual vivemos está cada vez mais violento e para constatar essa afirmação
basta ligar a televisão em qualquer noticiário jornalístico. Estamos vivendo em uma sociedade
que produz os mais diversos tipos de violência: física, verbal, doméstica, injúrias,
preconceitos de qualquer espécie, assassinatos, dentre outros.
As escolas têm o dever de formar cidadãos. Quanto a isso, o Rute Virgens2 diz:
A escola atualmente está voltada para fazer face às necessidades da sociedade, desta
forma ela tem que preparar os indivíduos para atuar em sociedade, ou seja, formar
um cidadão.
A partir da citação acima, pode-se dizer que é compreensível que o blog cite a
capacitação dos profissionais da escola, pois são os professores que lidam diretamente com os
alunos e são os primeiros a serem chamados para mediar os conflitos tanto na sua sala de aula
1 GIARDINI, Patrícia M. Pereira. O Ensino Religioso como Possibilidade Pedagógica à Promoção de Ações
Pela Cultura de Paz no Campo Educacional. 2021, p. 15. 177 f.Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais
Aplicadas) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Aplicadas. Área de Concentração: Cidadania e Políticas Públicas. Linha de pesquisa: Estado Direito e Políticas
Públicas, Ponta Grossa, 2021.
2
VIRGENS, Rute Almeida. A educação ambiental no ambiente escolar, 2011, p. 1. Trabalho de Conclusão
(Licenciatura em Biologia à Distância) - Universidade de Brasília - UNB, Luziânia, 2010.
4
como na escola. Sendo assim, é importante que os professores tenham uma capacitação
adequada para que possam gerir os conflitos que possam vir a surgir tanto em suas salas de
aulas como no ambiente escolar como um todo.
Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases Scielo e Google Scholar.
O presente fundamenta-se na Base Nacional Comum Curricular, na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Básica (LDB) e em trabalhos científicos de diversos autores que abordam o
tema.
O presente capítulo trata da trajetória do Ensino Religioso nas escolas brasileiras que
teve início com a vinda dos jesuítas, na época da colonização do Brasil. Desse período aos
dias de hoje o ensino religioso vem sofrendo muitas modificações. Em toda sua trajetória,
passando pelo período colonial, imperial e republicano foram muitas alterações sofridas em
toda sua estrutura de conteúdo, seus objetivos e seus modelos catequético, teológico e de
caráter científico.
É essencial que em um estudo sobre o Ensino Religioso principalmente onde se fala
em educar para a promoção de uma cultura pela paz se conheça um pouco da sua trajetória e
como ajudou a compor o cenário em que se vivencia hoje. O Brasil de 520 anos que se
conhece não é o mesmo de seu descobrimento e com o Ensino Religioso não poderia ser
diferente, pois tudo está sempre em transformação: a cultura, a sociedade, os indivíduos, pois
se está sempre em movimento e o passado é o que permite chegar no presente e a sua
compreensão é o que nos torna melhores.
3
JUNQUEIRA, Sergio Rogerio Azevedo. Educação e história do Ensino Religioso. Pensar a Educação em
Revista, Curitiba/Belo Horizonte, v. 1, n. 2, Jul. -Set/2015. p. 5,
4
JUNQUEIRA. Sergio Azevedo. WAGNER, Raul. O ensino religioso no Brasil. 2 ed. rev. e ampl. – Curitiba:
Champagnat, 2011. Coleção Educação: religião 5.
7
5
VASCONCELOS, J. A. Fundamentos epistemológicos da história. Curitiba: IBPEX, 2009,p.15.
6
CURY, C. R. J. Ensino religioso e escola pública: o curso histórico de uma polêmica entre a igreja e o estado no
Brasil. Educação em Revista, n°17, jun., pp. 20 – 37. Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG, 993,
P.20.
7
JUNQUEIRA, 2011, p. 07.
9
Desde a sua homologação em 2017, muito tem se falado da Base Nacional Comum
Curricular, que é um documento de caráter normativo que se autodefine como:
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
14
LEÃO, Francisco Daniel Pereira; PERES, Cesar. Cultura de Paz e Ensino Religioso: Desafios, Perspectivas e
15
Contribuições. Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org.). Cultura de paz, ética e espiritualidade IV.
Fortaleza: Edições UFC, 2014.
10
O nosso país possui uma grande diversidade religiosa, mas sendo o Estado laico a
educação também deve ser, portanto, segundo Leão; Peres, “o ensino de religião na escola
pública é uma violência, pois nega a diversidade religiosa e contraria o princípio
constitucional do Estado Laico.15
13
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Ministério da Educação,2017, p. 7.
11
O Ensino Religioso na BNCC deixa de ser apenas uma mera disciplina (componente
curricular) e passa a ser apontado como uma área do conhecimento, assim como as outras
áreas que já são consagradas no sistema educacional brasileiro (BRASIL, 2017, p. 27), tendo
assim seu espaço reconhecido na versão homologada da Base Nacional Comum Curricular.
O Ensino Religioso (ER), como disciplina no currículo escolar, passou nas últimas
três décadas por processos de ressignificação e reestruturação pedagógica. Uma
complexa rede de relações políticas e interesses de grupos configurou o campo do
ER no sistema de ensino. 16
Esse formato de colaboração, todavia, ainda convive no seio do aparelho estatal, com
disputas pela hegemonia de suas crenças e conquistas de legitimidade e poder (SILVA, 2018,
p. 61).
A própria BNCC faz uma contextualização histórica sobre o Ensino Religioso, que é
descrito com caráter confessional e catequético que perdurou por muito tempo no campo
educacional.
A Base Nacional Comum Curricular estabelece 10 competências gerais que
devem ser desenvolvidas pelos estudantes ao longo de toda a Educação Básica. Segundo o
documento, entende-se por competência:
FERREIRA, Renan da Costa; BRANDENBURG, Laude Erandi. O Ensino Religioso e a BNCC: possibilidades
16
que nos levam a pensar que visam a formação integral do aluno ao longo de todo o processo
de ensino na Educação Básica.
No tocante ao Ensino Religioso, a Base recomenda a pesquisa e o diálogo como
meios de se consolidar o que é estabelecido como competências próprias para o Ensino
Religioso no ensino fundamental. As competências específicas para o Ensino religioso são:
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8ª ed. Rio de Janeiro:
24
23
SILVA, Cícero Lopes. Contribuições da metodologia transdisciplinar para a fundamentação do ensino
religioso no contexto da escola laica. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Pontifícia Universidade
Católica de Pernambuco, Recife, 2013.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8ª ed. Rio de Janeiro:
24
Morin24, se opõe ao estudo monodisciplinar, pois para ele há uma grande perda de
conhecimento nesse modelo de ensino, pois é preciso saber tudo para entender as partes e é
preciso conhecer as partes para entender o todo. O que se deseja, portanto, é um tipo de
conhecimento da realidade que seja móvel, circular, não confinado a nenhuma verdade
absoluta ou visão totalitária.
Morin24 define e distingue os conceitos de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade
e transdisciplinaridade da seguinte forma: [...] interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e
transdisciplinaridade, o que é difícil de definir, por ser polissêmico e vago. [...] o divisionismo
pode significar, pura e simplesmente, que diferentes setores se coloquem ao lado da mesma
mesa, como diferentes nações se colocam na ONU, sem fazer mais do que afirmar, cada um,
seus direitos nacionais e sua soberania em relação à entrada de vizinhos.
22
BRASIL, 2017, p.10.
19
27
BICALHO, M. Cultura de Paz: Convivência e cultura de paz. 2013.
28
BRASIL, 2017.
20
Este capítulo trata sobre como o Ensino Religioso pode contribuir para a construção de
uma cultura de paz, discorrendo sobre a educação para a paz como sendo um dos desafios da
escola, o papel do Ensino Religioso na mediação de conflitos e sobre o Ensino Religioso e sua
relação com a cultura de paz.
cooperação e ética que estão a ser postos de lado, pondo em risco as relações humanas e tendo
da compreensão.
A questão importante que o tocou foi: Quais são os limites e progressos nas
perspectivas de educação para a paz através da implementação de um currículo escolar para
uma cultura de paz em cooperação com a educação religiosa.
A construção de uma cultura de paz é uma parte essencial de qualquer sociedade e, nos
seus contextos mais diversos, envolve os princípios e o respeito de toda a sociedade pela
liberdade, tolerância, justiça, democracia, igualdade, direitos humanos e solidariedade. Uma
cultura de paz pode ser uma resposta a uma variedade de conflitos e devem ser procuradas
soluções dentro da própria comunidade.
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu a cultura de paz na Declaração e
Programa de Ação sobre a Cultura de Paz, de 13 de setembro de 1999:
Uma cultura de paz é um conjunto de valores, atitudes, práticas, comportamentos e
modos de vida baseados em: respeito pela vida, fim da violência e promoção e prática da não-
violência através da educação, diálogo e cooperação; pleno respeito e promoção de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais; empenho na resolução pacífica de conflitos;
esforços para satisfazer as necessidades de desenvolvimento e proteção ambiental das
27
BICALHO, M. Cultura de Paz: Convivência e cultura de paz. 2013.
28
BRASIL, 2017.
22
O primeiro passo nessa direção é a gestão de conflitos. Neste caso, trata-se de prevenir
conflitos e restabelecer a paz e a confiança entre as pessoas envolvidas na situação. Outro
aborda o tema da saúde mental, dadas as necessidades atuais diante de uma pandemia global.
Esta missão estende-se a escolas, instituições e outros locais de trabalho em todo o mundo,
23
começando com uma base saudável. É nossa esperança que, se essas habilidades relacionais e
empoderadoras forem desenvolvidas, a sabedoria interior emergirá nos jovens e nos adultos
ao seu redor.30
Para moldar uma pessoa, você deve primeiro saber que tipo de pessoa deseja moldar.
Também sabe a que tipo de sociedade você está servindo: cooperativa ou coercitiva,
permissiva ou tolerante, democrática ou autoritária. Segundo Bicalho 31 , quando se fala em
cultura de paz deve-se lembrar que Segundo Bicalho (2013), quando se fala em cultura de
paz, deve-se lembrar que esse trabalho enfatiza o respeito à vida e à diversidade, rejeitando a
violência, ouvindo o outro para entendê-lo, protegendo o planeta, redescobrindo a
solidariedade, buscando o equilíbrio de gênero e Relações, Fortalecendo a Democracia e
direitos humanos. Tudo isso faz parte de uma cultura de paz e convivência. Quando se trata de
27
BICALHO, M. Cultura de Paz: Convivência e cultura de paz. 2013.
28
BRASIL, 2017.
24
cultura de paz, não significa ausência de conflitos, mas busca resolvê-los por meio do diálogo,
compreensão e respeito às diferenças.
Nesse sentido, o processo circular é uma prática restaurativa desenvolvida pelo Prof.
Pranis32. Baseia-se na resolução de conflitos e nos processos de tomada de decisão inspirados
pelas comunidades aborígines da América do Norte e do Canadá. Os círculos de construção
da paz permitem que as pessoas se envolvam diretamente no diálogo de maneira qualificada.
O objetivo é construir coletivamente soluções para problemas, compartilhando pensamentos e
sentimentos em um ambiente seguro. Os métodos utilizados visam não só a resolução de
conflitos, mas também a sua prevenção e o fortalecimento dos laços entre as pessoas.33
Segundo Pranis34, os ajuntamentos são a essência, os princípios e os valores da Cultura
de Paz e Justiça Restaurativa. O principal objetivo é “conseguir fortalecer as relações
públicas”, renovando e promovendo a chamada democracia ativa. Assim, a Justiça
Restaurativa pretende apresentar-se como uma resposta humanizada à resolução de conflitos,
ou seja, as reuniões de construção da paz são uma das técnicas utilizadas como metodologia
da Justiça Restaurativa. Nelas, os envolvidos discutem seus sentimentos, expressam seus
conflitos e buscam, dessa forma, diminuir suas diferenças.
Nesse sentido, para entender a importância e a praticidade desse processo, a cultura de
paz começou a ser fortalecida a partir do ano 2000, quando foi declarado o Ano Internacional
da Cultura de Paz.
No Brasil, a Lei n. 13.663/201835 inclui a promoção da conscientização, prevenção e
formas de combate a todas as formas de violência e a promoção da cultura. No texto geral
utilizado na educação escolar, definido na Lei de Diretrizes e Fundamentos da Educação
Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e norteado pelos princípios que visam a formação do
homem unido e a criação de uma sociedade justa .
Assim, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define as competências gerais do
Ensino Religioso para o ensino fundamental:
• Proporcionar o estudo dos saberes religiosos, culturais e estéticos, com o reflexo da
religião vista na realidade dos alunos;
• Prestar informação sobre o direito à liberdade de consciência e crença, com o
propósito continuado de promover os direitos humanos;
• Desenvolver competências e habilidades que contribuam para o diálogo entre ideias
religiosas e de vida laica, respeitando a liberdade de pensamento e a pluralidade de ideias, de
acordo com a Constituição do Estado;
• Contribuir para que os alunos criem suas próprias definições de vida baseadas em
valores, ética e cidadania.36
28
NUNES, Antônio Osório. Como restaurar a paz nas escolas: um guia para educadores. São Paulo: Contexto,
2011.
26
A educação para a paz deve ser vivencial e realizada por meio da experiência, ou seja,
na interação dinâmica. Portanto, neste documento, entende-se que é necessário o método de
vivência relacionado a considerar a cultura de paz no ensino religioso.38
violência e a guerra, é fortalecida, é importante pensar em uma educação que dê conta de tais
desafios. Por isso, neste momento, muitos intelectuais da área educacional querem difundir a
alunos. Partindo da ideia de que a violência continua com uma nova face, afirma-se que a
Martins39 menciona que foi também declarado que a educação deveria promover o
desenvolvimento humano e reforçar o respeito pelos direitos humanos e liberdades
fundamentais. A educação em todas as políticas deve, portanto, procurar promover a
compreensão, a tolerância e a amizade, a fim de reduzir os conflitos religiosos e étnicos.
Neste sentido, a educação deveria capacitar os estudantes para compreenderem o seu próprio
desenvolvimento, de modo a que cada indivíduo possa assumir o controle do seu próprio
destino e participar no desenvolvimento da sociedade com base numa participação
responsável pessoal e comunitária no desenvolvimento.
Para Martins40, aprender a viver em conjunto é um desafio. A educação, baseada na
diversidade, é, portanto, uma forma importante de construir uma cultura de paz - caracterizada
pela procura da resolução de conflitos, pela rejeição de comportamentos, identificando os
infratores e impondo castigos. Segundo Marchetto (2009) 41, Uma cultura de paz é construída
sobre valores, atitudes, práticas e comportamentos que se baseiam no respeito pela vida e
visam travar a violência através da educação, do diálogo, da cooperação e do respeito.
Segundo Amaral e Ramos (2018)42, as escolas precisam investir na construção de
relações de diálogo com os estudantes e a sua verdade, a fim de proporcionar importantes
espaços de aprendizagem e conhecimento. Isto porque, além das dificuldades de acesso e
27
Pinto (2009, p. 227), esta é uma forma negativa de reparação que compara o dano causado
com o dano infligido e tem pouco impacto no sistema de valores sociais. Isto porque o modelo
retributivo inclui todos os tipos de transgressões, públicas e privadas, e parte da premissa de
que cada transgressão inclui violência contra o Estado, e é, portanto, uma compensação pelos
danos causados pela punição e restrição da liberdade, com o objetivo de infligir sofrimento ao
indivíduo que transgride.
Segundo Pinto (2009), a justiça reparadora propõe um modelo jurídico para o
comportamento dos infratores que procura a unidade harmoniosa das pessoas em conflito.
Este modelo representa uma abordagem alternativa ao tratamento, em oposição ao modelo
restaurativo. Esta distinção baseia-se na forma obtida através da punição, protegida pela
justiça restaurativa, e acredita-se que desta forma a pessoa não cometerá um novo crime. Na
justiça restaurativa, procura-se reduzir o círculo vicioso da violência, que é alcançado através
do diálogo e estimula a reconciliação emocional, para além de se tentar compreender as
causas da infracção. A necessidade de mudar o paradigma relativamente aos conflitos
escolares foi vista, principalmente em termos da dificuldade de ultrapassar a ideia de punição.
Para Andreucci e Felício (2019), a justiça restaurativa coloca a necessidade de usar o
conflito como uma oportunidade para aprender e permitir o trauma para curar. A justiça
restaurativa baseia-se no conceito de responsabilidade coletiva e, para além de responsabilizar
os perpetradores de um conflito, procura também responsabilizar outras partes envolvidas.
Isto implica a sensibilização de todas as partes envolvidas no conflito, a fim de evitar a sua
recorrência.
Andreucci e Felício (2019) notam que no Brasil, os professores passam em média um
quinto do seu tempo na sala de aula a tentar manter um bom comportamento.
Em Assumpção (2015 ), Isto não garante que saberão ensinar, uma vez que o sistema
escolar é um conjunto de hábitos, relações e situações que incluem eventos comuns, o que
leva à inclusão de alguns estudantes.
29
a) formas mais graves de violência; b) a idade cada vez mais jovem dos alunos
envolvidos; c) as ações de agentes fora da escola; e d) a acumulação de
situações de conflito não resolvidas. A última delas merece particular atenção
porque cria um clima de ameaça constante nas escolas que mina as principais
funções dos alunos em termos de relações intelectuais, emocionais e mútuas.
portanto, valores que são importantes para uma cultura democrática, tais como participação,
diálogo, igualdade, justiça social, respeito pela diversidade e direitos humanos.
independência pessoal estão cada vez mais presentes, mesmo quando muitas ideias querem
reforçar os princípios da democracia, da inclusão e da paz. Isto repete-se nas escolas, que
diferentes pessoas num contexto de pluralismo; não esquecendo a sua responsabilidade moral
para com as pessoas em situações de extrema urgência; ganhar percepção e compreensão do
mundo em torno dos seus estudos, distinguindo entre o certo e o errado com base em
princípios religiosos e humanitários; as causas da participação e da guerra, envolvendo lidar
com todas as formas de opressão, exploração, exclusão, dominação e discriminação
(FERNANDES, 2000 ).
A este respeito, Nascimento (2016) diz que o Ensino Religioso está inserida numa
perspectiva emergente contra o uso da razão crítica e a perspectiva dominante das disciplinas
intelectuais. Ao mesmo tempo que se tornou evidente o aumento do número de pluralismo
religioso, o crescimento da radicalização contra a posição de mercado dos crentes foi
percebido, o que forçou as religiões a abordar inconsistências a fim de se legitimarem a si
próprias.
Salles e Gentilini (2018), a tolerância religiosa nas escolas tornou-se um dos grandes
desafios para o sector educacional brasileiro. Estes são estudantes com diferentes credos que
partilham o mesmo espaço. São estudantes que são maltratados das mais diversas formas -
relacionadas com a sua fé - por professores que são ultrapassados pela humanidade de vários
grupos ou princípios religiosos no contexto escolar.
Segundo Ribeiro, Klebis e Boscoli (2015), A educação não pode ser desenvolvida de
uma forma holística sem um contexto religioso, porque para muitas pessoas a religião não é
apenas um aspecto da sua cultura, mas o núcleo motor da sua visão do mundo. É por isso que,
atualmente no Brasil, a educação religiosa, como parte da educação básica, satisfaz as mais
profundas aspirações humanas e oferece novas oportunidades para o desenvolvimento dos
estudantes, respeitando ao mesmo tempo as várias crenças religiosas.
Cunha e Barbosa (2011) salientam que a Constituição Federal, também conhecida
como Constituição Civil, promulgada em 1988, garante a liberdade de religião e proíbe
abusos de poder. Através de recomendações implementadas no sistema educativo e nas
políticas públicas, as escolas visam acolher a diversidade de cada indivíduo e eliminar a ideia
de que deve haver apenas uma semana de aulas de Ensino Religioso.
No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) surge com uma proposta para
nortear a educação, incrementando o processo de padronização dos cursos da educação
básica. No entendimento de Ferreira e Brandenburg (2019), essa configuração tem a forma de
uma coalizão, que inclui instituições públicas de ensino - públicas e privadas -, em termos de
diferentes aprendizagens que devem ser integradas em diferentes níveis da Educação Básica.
32
Para Barros e Jalali (2015), conceitos devem ser reelaborados e novos paradigmas
criados, baseados em valores importantes, como o respeito aos direitos humanos e o
pluralismo religioso. Segundo Ribeiro, Klebis e Boscoli (2015), no cotidiano escolar,
pequenas atitudes fazem a diferença no processo de ensino do Ensino Religioso. Mas deve ser
uma educação que enriqueça os valores e atitudes mais profundas.
Ribeiro, Klebis e Boscoli (2015) também assinalam que a educação religiosa que quer
ensinar a paz se baseia na existência de tolerância e respeito por outras religiões ou pessoas
com pontos de vista diferentes. Isto porque a tolerância é uma palavra-chave nas relações
interpessoais, dado que as pessoas têm crenças diferentes. Portanto, para promover uma
cultura de paz, é necessário saber como viver com esta situação. Uma das principais
ferramentas neste contexto é o diálogo.
A educação religiosa destinada a promover a paz deve ser empírica, ou seja: baseada
na experiência, na comunicação dinâmica e criativa. Neste sentido, só é possível ensinar a paz
quando o coração desses ensinamentos é também livre, quando discutem sinceramente,
quando se aproximam de forma fraterna e suave, rejeitando a injustiça (RIBEIRO, KLEBIS E
BOSCOLI, 2015).
33
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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