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CAPÍTULO 4

PERDAS DE TENSÃO NA ARMADURA DE PRÉ-ESFORÇO

4.1 - INTRODUÇÃO

As forças instaladas nas armaduras de pré-esforço variam ao longo das armaduras e


variam também com o tempo.

A força de pré-esforço inicial para uma secção à distância x da extremidade, P0 ( x ) ,


imediatamente após a transferência do pré-esforço para a estrutura, é obtida a partir do pré-
esforço aplicado na origem, P0' ( x ) (máxima força exercida no cabo pelo dispositivo da
aplicação do pré-esforço), deduzindo-lhe as perdas instantâneas devidas:

- ao atrito entre as armaduras e as bainhas;

- à deformação elástica instantânea do betão, e

- aos escorregamentos dos dispositivos de amarração (reentrada dos cabos).

P0 ( x ) = P0' ( x ) − ∆ P0 ( x ) (1)

ou em termos das correspondentes tensões

σ p0 ( x ) = σ 'p 0 − ∑ ∆σ p 0 ,i ( x) (2)
i
designando por ∆ P0 ( x ) o somatório das perdas instantâneas do pré-esforço e ∑ ∆σ p 0,i ( x) o
i

somatório das correspondentes perdas de tensão.

O valor máximo de pré-esforço na origem é limitado como já vimos pelos limites


regulamentares impostos à correspondente tensão:

σ 'p0 ≤ 0. 75 f puk
(3)
σ 'p0 ≤ 0.85 f p0.1k

A força de pré-esforço ao fim do tempo, t obtém-se do pré-esforço inicial, P0 ( x ) ,


deduzindo-lhe as perdas diferidas que se processam no tempo, t:

- retracção do betão,

- fluência do betão, e

- relaxação do aço de pré-esforço

Pt ( x ) = P0 ( x ) − ∆ Pt ( x ) (4)

ou em termos de tensões,

σ pt ( x) = σ p0 ( x) − ∆σ pt , s + c + r ( x) (5)

A força e a tensão na armadura de pré-esforço, na secção x, para t = t∞ será então:

P∞ ( x ) = P0 ( x ) − ∆ P∞ ( x )
(6)
σ p∞ ( x) = σ p0 ( x) − ∆σ p∞ , s + c + r ( x)

4.1.1 - Identificação das perdas

.1 PERDAS QUE OCORREM ANTES DA APLICAÇÃO DO PRÉ-ESFORÇO AO BETÃO


NOS SISTEMAS DE PRÉ-TENSÃO

a) - perdas devido ao atrito nas zonas de mudança de direcção de cabos curvos;

- perdas devido ao escorregamento dos orgãos de ancoragem nas mesas de pré-


esforço;

4.2
b) perdas devidas à relaxação a curto prazo da armadura pré-tensionada durante o
período que medeia entre o tensionamento da armadura e a transferência do pré-
esforço para o betão.

c) perdas devidas à retracção do betão já processada quando se efectua a libertação da


armadura.

.2 PERDAS INSTANTÂNEAS

a) Perdas devidas à deformação instantânea do betão:

- no caso da pré-tensão, como resultado da sua reacção quando os cabos são soltos
das ancoragens e a força de pré-esforço é aplicada ao betão;

- no caso da pós-tensão, como resultado da ordem pela qual os cabos são pré-
esforçados;

b) Perdas devido ao atrito entre as armaduras e as baínhas no sistema de pós-tensão;

c) Perdas por escorregamento dos dispositivos de amarração (sistema de pós-tensão).

.3 PERDAS DIFERIDAS

No sistema de pré-tensão e pós-tensão, perdas que se processam ao longo do tempo


devido:

- à retracção do betão

- à fluência do betão, e

- à relaxação da armadura

Na Fig. 4.1 ilustram-se as perdas de tensão para uma dada secção no sistema de pré-
tensão.

4.3
Fig. 4.1 - Perdas numa dada secção (sistema de pré-tensão).

No caso do sistema de pré-tensão, o pré-esforço máximo aplicado às armaduras antes


da colocação do betão pode atingir limites ligeiramente superiores aos indicados
anteriormente:

σ p0,máx = 0.80 f puk


(7)
σ p0,máx = 0. 90 f p0.1k

Na Fig. 4.2 ilustra-se de forma idêntica a sequência de perdas no sistema de pós-tensão


para uma secção à distância x da extremidade.

4.4
Fig. 4.2 - Perdas numa dada secção (sistema de pós-tensão).

4.2 - QUANTIFICAÇÃO DAS PERDAS INSTANTÂNEAS

4.2.1 - Perdas por atrito ao longo das armaduras

Já vimos anteriormente que quando o cabo é posto em tensão, desloca-se no interior da


baínha que tendo traçado curvo gera forças de atrito entre o cabo e a baínha.

Fig. 4.3 - Desenvolvimento de forças de atrito.

4.5
Estabelecendo a equação de equilíbrio na direcção tangente, t, e integrando obteve-se
a força de pré-esforço na secção, x, em função da força de pré-esforço na origem

P ( x ) = P0 e − µ ⋅β ( x ) (8)

sendo:

µ - coeficiente de atrito entre as duas superfícies em contacto, e

β  x  - é o ângulo de desvio da secção x em relação à secção de aplicação do pré-


esforço. Obtém-se β (x) somando todas as variações do ângulo de ponto de
inflexão a ponto de inflexão (ver Figura 4.4.a) e b)).

Fig. 4.4 - Definição do ângulo de desvio.

A perda de pré-esforço devido ao atrito será então:

(
∆ Pfr = P0 − P( x ) = P0 1 − e − µ ⋅β x ) (9)

4.6
ATRITO EM LINHA RECTA

As ondulações parasitas do cabo devido a imperfeições no seu posicionamento, são em


geral representadas por um ângulo equivalente por unidade de comprimento, designado por
desvio angular parasita, k (ver Fig. 4.5).

Fig. 4.5 - Desvio angular parasita.

Acrescentando ao valor de β (x) da expressão (9) o desvio angular parasita


correspondente à distância x obtém-se para perda da força de pré-esforço por atrito:

(
∆ Pfr = P0 1 − e µ ( β + k ⋅x ) ) (10)

Numa secção à distância x da secção de aplicação do pré-esforço (onde a tensão é


máxima, σ 'p0 ), a tensão na armadura tomando em conta as perdas por atrito, é:

σ p0 ( x ) = σ 'p 0 ( x = 0)[exp− µ ( β + k ⋅ x )] (11)

e as perdas de tensão correspondentes:

∆σ p 0 , fr ( x ) = σ 'p 0 [1 − exp( − µ ( β + k ⋅ x ))] (12)

No caso de µ ( β + k ⋅ x ) ≤ 0.2 as expressões (11) e (12) podem ser simplificadas


resultando:

σ p0 ( x ) = σ 'p 0 ( x = 0)[1 − µ ( β + k ⋅ x )] (13)

∆σ p 0 , fr ( x ) = σ 'p 0 [µ ( β + k ⋅ x )] (14)

Os valores de µ dependem basicamente das características das superfícies em contacto


e das condições de lubrificação em que se encontram. No caso de não ter disponíveis valores

4.7
mais rigorosos pode aceitar-se como representativos os seguintes valores para superfícies não
lubrificadas e com raios de curvatura superiores a 6 metros (REBAP):

i) µ =0.5 - armaduras colocads em condutas de betão (sem revestimento)

µ =0.30 - para cabos em feixe, constituídos por fios ou por cordões, em baínhas metálicas.

µ =0.25 - para cordões ou fios isolados (0.20 CEB), em baínhas metálicas.

Estes valores podem ser multiplicados por 0.9 se existe alguma lubrificação (po óleo).

ii) O desvio angular parasita por unidade de comprimento varia entre 0.005 e 0.01, podendo a
menos de informação mais precisa ser em geral tomado igual a:

K = 0. 01m− 1

dependendo essencialmente do rigor com que o traçado teórico é executado na prática


atingindo-se maior precisão:
- com baínhas rígidas;
- com traçados simples dos cabos.

NOTAS:

a) Em certos casos (vigas contínuas) o atrito pode introduzir perdas consideráveis (15
a 20%). Torna-se assim vantajoso dispor de ancoragens activas nas duas
extremidades (apesar de serem mais caras que as ancoragens passivas) para poder
aplicar o pré-esforço em ambas as extremidades (Fig. 4.6).

Fig. 4.6 - Perdas por atrito no caso de 1 ou 2 ancoragens passivas.

4.8
Note-se que a distância x nas expressões anteriores deve ser referida à extremidade
que determina o maior valor de pré-esforço na secção (no caso do pré-esforço ser
aplicado em ambas as extremidades).

b) No caso do cabo apresentar desvios angulares α em planta e θ em alçado, o desvio


total β é a soma de ambos:

β =α +θ

c) Nos elementos de betão pré-tensionados não há, em geral, que considerar perdas
por atrito. Excetua-se os casos em que o traçado da armadura é forçado a mudanças
de direcção.

d) Valores de µ e k para quantificação das perdas por atrito no caso de armadura e


cabos não aderentes.

- para monocordões (simples ou agrupados) em lajes e reservatórios

µ = 0. 05 ÷ 0. 07
K = 0.006 ÷ 0.01 / m

- para cordões lubrificados com massa lubrificante

µ = 0.13 ÷ 0.15
K = 0.004 ÷ 0.008 / m

- para cordões ou cabos não lubrificados - idênticos aos anteriores para cabos
aderentes.

4.2.2 - Perdas instantâneas devidas à deformação do betão

.1 - NO CASO DE ELEMENTOS PRÉ-TENSIONADOS

No caso do sistema de pré-tensão, as perdas devidas ao encurtamento elástico


instantâneo do betão são dadas por:

Ep
∆σ p 0 ,e ( x) = − σ c, p ( x ) (15)
Ec, j

4.9
sendo:

E p - o módulo de elasticidade da armadura de pré-esforço;

Ec , j - módulo de elasticidade do betão à idade de aplicação das acções (pré-esforço


e outras acções permanentes);

σ c ( x ) - tensão de compressão (sinal negativo) no betão, na secção x, calculada ao


nível do centro de gravidade da armadura de pré-esforço, e resultante do pré-
esforço e de outras acções permanentes aplicadas.

P0 Pe Mg
σ c, p = − − 0 ⋅e + ⋅e
A I I

Fig. 4.7 - Definição da tensão σ c,p .

.2 - NO CASO DE ELEMENTOS DE BETÃO PÓS-TENSIONADOS

Neste caso haverá que considerar este tipo de perdas para atender aos efeitos da
aplicação do pré-esforço em cada cabo, sobre os pré-esforços das armaduras vizinhas já
tensionadas.

Numa viga com vários cabos, o pré-esforço é aplicado cabo a cabo. A tracção do
segundo cabo vai gerar o encurtamento da viga e do primeiro cabo já pré-esforçado e assim
sucessivamente.

2 Cabos

Para uma viga com dois cabos, cada cabo tomando um esforço P/2, a deformação do
betão com a tracção de cada cabo vale:

4.10
∆L σ P PL P
=− c = → ∆L = ; εc = (16)
L Ec , j 2 AEc , j 2 AEc , j 2 AEc , j

Com a tracção do segundo cabo, a peça encurta aproximadamente a mesma quantidade


e a perda de tensão no primeiro cabo com a tracção imposta ao segundo cabo vale:

1 σ
∆σp = − E p c,p (17)
2 Ec , j

Como o segundo cabo não é influenciado, a perda média nos dois cabos vale:

1 E pσ c , p
∆σp = − (18)
4 Ec , j

3 Cabos

Para 3 cabos, com tensionamento do segundo cabo de P/3 obtém-se um encurtamento

P
εc = −
3 AEc , j

Pondo em carga o terceiro cabo, o encurtamento dos dois primeiros é de:

P
εc = −
3 AEc , j

Obtendo-se um encurtamento médio de

× ( P / 3 + P / 3 + P / 3) = −
1 1 1 P

AE c , j 3 3 AE c , j
↓ ↓ ↓
1º cabo 2 º cabo 3 º cabo

tracção do: 2 º cabo 3 º cabo

e uma perda média de:

4.11
1  1 2  σ c, p 1 σ c, p
∆σ p = −  + E p = − Ep (19)
33 3 Ec, j 3 Ec, j

4 Cabos

1  1 2 3  σ c, p 3 σ c, p
∆σ p = −  + + E p = − Ep (20)
44 4 4 Ec, j 8 Ec, j

Obtém-se assim uma expressão simplificada para o caso de n armaduras iguais e


situando-se próximas umas das outras, que fornece a perda média devido à deformação
instantânea do betão.

1 n − 1 Ep
∆σ p 0 ,e ( x) = − σ c, p ( x ) (21)
2 n Ec, j

σ c, p ( x ) - tensão de compressão no betão devida à actuação do pré-esforço total [P0 ( x )] e às


acções permanentes mobilizáveis, ao nível do centro de gravidade da armadura de
pré-esforço.

4.2.3 - Perdas instantâneas nos dispositivos de amarração

Estas perdas correspondem a um escorregamento dos cordões ou fios nas cunhas e das
cunhas nas placas de ancoragem, quando a força instalada no macaco hidráulico é transmitida
para o orgão de ancoragem. Este escorregamento, que é fornecido nos documentos técnicos do
sistema de pré-esforço, toma valores de 1 a 12mm dependendo do tipo de ancoragem e do
processo de pré-esforço utilizado.

O movimento de reentrada da ancoragem que tem lugar em sentido inverso àquele que
gerou a tracção do cabo, provoca um atrito de sinal oposto ao precedente.

Num diagrama tensão/abcissa x, a recta representativa da tensão apresenta na zona


extrema uma inclinação oposta àquela que representa as perdas por atrito (Fig. 4.8).

4.12
Fig. 4.8 - Perdas de tensão devidas ao escorregamento na ancoragem.

Sendo a equação da recta dada por

σ ( x ) = σ 0 (1 − µ β − µ kx ) (22)

o escorregamento da ancoragem (∆ s em metros) repercute-se até à abcissa a de tensão σ 3.

Devido à simetria das inclinações (Fig. 4.8):

σ 0 − σ 2 = 2(σ 0 − σ 3 ) = 2 ⋅ p ⋅ a ⋅σ 0 (23)

sendo p = µ β 1 + µ k = µ ( β 1 + k ) .

β 1 - variação de ângulo β por unidade de comprimento.

A variação de tensão à abcissa x (Fig. 4.8) é dada por:

a− x a− x
∆ σ = (σ 0 − σ 2 ) = 2σ 0 pa ⋅ = 2σ 0 p ( a − x ) (24)
a a

valor que corresponde à perda de tensão na secção de abcissa x, devido ao escorregamento do


cabo na ancoragem.

Um elemento de cabo de comprimento dx sofre um encurtamento devido à variação


de tensão ∆ σ de: dx.∆ σ /Ep e o escorregamento por reentrada da ancoragem, ∆ s, será o integral
destes encurtamentos:

∆σ 2σ 0 σ pa 2
p ( a − x )dx = 0
a a
∆s = − ∫
0 Ep
⋅ dx = − ∫0 Ep Ep
(25)

4.13
obtendo-se o comprimento de influência do escorregamento:

∆ sE p
a= (26)
σ0p

com:

β
p= µ + µk
a

∆ sE p - representa a área do triângulo, σ 0σ 2σ 3 (Fig. 4.8)

σ 0 p - representa a inclinação da recta, σ 0σ 3 (Fig. 4.8)

APLICAÇÃO NUMÉRICA

Seja um cabo composto por (Fig. 4.9):

- uma parte curva AB de 8.50m de comprimento e de 24o de variação de ângulo;

- uma parte recta BN de 23m;

- uma parte recta NC de 12.5m;

- uma parte curva CD de 7.5m e de variação de ângulo 21o30'.

Fig. 4.9 - Esquema do cabo do exemplo de aplicação.

O cabo é traccionado pelas duas extremidades, pretendendo-se determinar a tensão do


cabo no ponto crítico da estrutura N após as perdas de atrito e deslizamento da ancoragem.

4.14
DADOS:

σ 'A = 1384 MPa ∆ sescor . da ancor . = 5mm

σ 'D = 1340 MPa

µ = 0. 20

k = 0.009 E p( cordão ) = 190GPa

PERDAS POR ATRITO

Partindo de A

σ B = σ A (1 − µ β − µ kx ) β AB ≅ 0.42rad
= 1384(1 − 0.20 × 0.42 − 0.20 × 0.009 × 8.50) =
= 1384 × 0.9 = 1247 MPa

σ N = σ A (1 − 0.20 × 0.42 − 0.20 × 0.009 × (8.5 + 23.0 ))


= 1384 × 0.86 = 1189 MPa

Partindo de D

σ E = σ D (1 − 0.2 × 0.375 − 0.2 × 0.009 × 7.5) β DC ≅ 0.375rad


= 1340 × 0.91 = 1221MPa

σ N = σ D (1 − 0.2 × 0.375 − 0.2 × 0.009 × ( 7.5 + 12.5))


= 1340 × 0.889 = 1191MPa

Perdas por deslizamento na ancoragem

Partindo de D

Comprimento de influência do escorregamento

DaC

4.15
∆ sE p
a= ∆ s = 0.005m
σ0p
E p = 190000 MPa
0. 005 × 190000
= = 60 = σ 0 = σ D = 1340
1340 × 0. 0118
0.375
= 7 .75m p = 0. 20 × + 0.20 × 0.009
7.5
= 0.0118

 1587 
7.75 − 7.5 = 0.25 ∴ 0.25 × 2.48 = 1.6m 
 

Resulta maior que a distância de D a C donde a influência da reentrada dos cabos faz-
se sentir para além de C.

Fig. 4.10 - Perdas por reentrada das cunhas - exemplo de aplicação.

Igualando ∆ s. E p à área do diagrama (ver Fig. 4.11) corresponde às perdas por


reentrada das cunhas teremos:

4.16
Fig. 4.11 - Pormenor de cálculo da distância de influência por reentrada das cunhas.

A1 = (1340 − 1221)× 7.5 = 892.5

A2 = 2. 48 y × 2 × 7.5 = 37 .2 y

A3 = 2 . 48 y × y = 2 . 48 y 2

∆ sE p = ∑ Ai

0. 005 × 190000 = 892 .5 + 37 . 2 y + 2 . 48 y 2

y 2 + 15 y − 23.19 = 0 y = − 7 .5 m8. 9 = 1. 4 m

As perdas por reentrada do cabo fazem-se sentir até uma distância da extremidade D
de 7.5+1.4=8.9m pelo que não afectam a tensão em N.

Tensão em C 1221-2× 1.4× 2.48=1214MPa

Tensão em D σ D=1340-7.5× 15.87× 2-1.4× 2.48× 2=1095MPa

NOTAS:

A - Se a reentrada do cabo se estende a todo o comprimento, (a>L), obtém-se uma


perda de tensão dada pelo diagrama da Figura 4.12.

4.17
Fig. 4.12 - Perda de tensão por escorregamento na ancoragem no caso de cabos de pequeno comprimento.

B - Se a<L/2 é vantajoso traccionar o cabo pelas suas duas extremidades para obter
tensões superiores às correspondentes ao caso do cabo traccionado numa só extremidade (Fig.
4.13).

Fig. 4.13 - Caso de a<L/2,

C - Se a>L/2 é suficiente traccionar o cabo numa só das extremidades para se obter


tensões mais elevadas (Fig. 4.14).

Fig. 4.14 - Caso de a>L/2.

4.18
D - O controlo do elongamento do cabo é fundamental pois constitui uma forma
simples, nos casos correntes, de verificar em obra o nível de perdas instantâneas ocorridas, e
de controlar na prática o valor do pré-esforço.

σ Pm ,i

L
∆L = ∫ dx = ⋅ Li
p
0 Ep i E p ⋅ Ap

Fig. 4.15 - Para controlo do elongamento do cabo.

4.3 - QUANTIFICAÇÃO DAS PERDAS DIFERIDAS

4.3.1 - Perdas de tensão devidas à retracção

A retracção é um fenómeno de encurtamento do betão ao longo do tempo,


representada por ε cs ( t , t 0 ) , ver Anexo I do REBAP.

Designando por ε cs ( t , t 0 ) o encurtamento do betão devido à retracção livre, do tempo


t = t0 até t = t , ao nível do centro de gravidade da armadura de pré-esforço, a perda de tensão
correspondente nos cabos será:

∆σ pt , s = − E p ⋅ε cs ( t , t 0 )

Na Figura 4.16 ilustra-se o gráfico do Anexo I do REBAP com evolução da retracção


no tempo para 2 valores de humidade relativa e várias espessuras fictícias das peças.

4.19
No Quadro 1 especificam-se valores de retracção a tempo infinito, ε cs ( t , ∞ ) , que
podem ser usados no cálculo de perdas diferidas.

Fig. 4.16 - Variação da extensão de retracção para casos correntes.

4.3.2 - Perdas de tensão devidas à fluência

Ao nível dos cabos de pré-esforço o betão está sujeito à compressão para as


combinações de acções quase-permanentes. Por efeito da fluência (ver Anexo I REBAP) gera-
se um aumento da deformação dado por:

ϕ c (t , t 0 )
ε cc ( t , t 0 ) = σ c ,t 0
E c , 28

sendo, σ c ,t 0 , admitido constante, a tensão ao nível da armadura de pré-esforço e devida à


acção do pré-esforço e das acções aplicadas com carácter de permanência.

A variação de deformação do betão (encurtamento) devido à fluência produz uma


perda de tensão na armadura de pré-esforço dada por:

σ c ,t 0
∆σ pt ,c = − ⋅ϕ c ( t , t 0 ) × E p = − α ϕ c ( t , t 0 )σ c ,t 0
Ec

4.20
Na Figura 4.17 ilustra-se o gráfico do Anexo I do REBAP que fornece os valores dos
coeficientes de fluência a tempo infinito, ϕ c ( t ∞ ,t 0 ), para diferentes valores da humidade
ambiente e de espessuras fictíceas.

Fig. 4.17 - Valores correntes do coeficiente de fluência, ϕ c .-

No Quadro 1 estão ainda especificados valores de ϕ c ( t ∞ ,t 0 ) que podem ser utilizados


para quantifficar as perdas por fluência, de acordo com o REBAP (Art. 42º).

Quadro 1 - Valores da retracção e do coeficiente de fluência a tempo infinito para o pré-esforço aplicado à idade,
t0.

ε cs ( t ∞ ,t 0 ) ϕ c ( t ∞ ,t 0 )
x(10-6)
Idade, t0 (dias) 7 14 28 7 14 28
Ambiente
Húmido -220 -210 -200 2.9 2.6 2.3
(hum. rel. 75%)
Seco -350 -330 -310 3.8 3.4 3.0
(hum. rel. 55%)

4.21
As perdas a tempo infinito devidas à retracção e à fluência, podem de forma
aproximada ser calculadas pela seguinte expressão:

∆σ p∞ , s + c ( x) = − ε cs ( t ∞ , t 0 )E p − α ϕ c ( t ∞ , t 0 ) ⋅σ c ( x )

com σ c ( x ) - a tensão na secção à distância x, ao nível da armadura de pré-esforço, produzida


no betão, pela acção do pré-esforço e das acções aplicadas com carácter de permanência.

σ c ( x ) = σ c,g ( x ) + σ c, p ( x )

4.3.3 - Perdas de tensão por relaxação da armadura

Relaxação do aço é a perda de tensão, ∆ σ pt ,r , que se verifica na armadura traccionada


sob elongamento constante.

Admitindo σ p0 ≅ 0. 7 σ puk

Aços de relaxação normal - ∆ σ p∞ ,r ≅ 15% σ p0

Aços de baixa relaxação - ∆ σ p∞ ,r ≅ 6% σ p0

Aços de muito baixa relaxação - ∆ σ p∞ ,r ≅ 3% σ p0

A perda de tensão por relaxação varia linearmente com o valor da tensão inicial tendo
por base o valor para uma tensão inicial igual a 0. 7 ⋅σ puk e considerando nula a relaxação para
uma tensão inicial de 0.5 ⋅σ puk (ver Fig. 4.18).

Fig. 4.18 - Variação do valor da relaxação com a tensão instalada.

4.22
Para ter em conta a variação no tempo da tensão instalada na armadura (devido à
retracção, fluência e relaxação) o REBAP indica que no cálculo da perda por relaxação se
considere uma tensão na armadura dada por:

σ p ( x ) = σ p 0+ g ( x ) − 0.3∆ σ pt , s + c + r ( x)

em que:

σ p 0+ g ( x) - representa a tensão na armadura de pré-esforço na secção x devida ao pré-


esforço inicial e às acções permanentes;

∆σ pt , s + c + r ( x) - representa o valor total das perdas diferidas (aproximação).

Para resolver o problema entra-se inicialmente com um valor aproximado das perdas
diferidas (seja 10 ÷ 15% da tensão inicial) e resolve-se em seguida por iterações sucessivas.

Uma expressão aproximada para obter as perdas diferidas a tempo infinito é dada pela
expressão empírica:

 ∆σ 
∆σ ( x) = ∆σ ( x) + ∆σ ( x )1 − 2 
p∞ , s + c

σ p 0 ( x ) 
p∞ p∞ , s + c p∞ , r

em que:

∆σ p∞ , s + c ( x) - já foi apresentada como sendo as perdas devidas à retracção e à fluência;

∆σ p∞ , r ( x) - representa as perdas devidas à relaxação da armadura para uma tensão


igual à tensão inicial, σ p0 ( x ) .

O inconveniente desta expressão é que não fornece uma distinção clara entre os efeitos
dos vários fenómenos em jogo.

4.3.4 - Expressão do REBAP para quantificação das perdas diferidas

Para quantificar as perdas de tensão nas armaduras de pré-esforço devidas à retracção,


à fluência e à relaxação da armadura o REBAP apresenta uma expressão que procura ter em
conta a interdependência destes fenómenos no tempo e é aplicável quando as armaduras de
pré-esforço estão suficientemente próximas podendo ser tratadas como um único cabo
resultante.

4.23
Perdas devidas à retracção e à fluência apenas.

∆σ ( x) = −
[
ε cs ( t , t 0 )E p + α ϕ c ( t , t 0 ) ⋅ σ c , g ( x ) + σ c , p 0 ( x ) ]
pt , s + c
σ c , p 0 ( x )  ϕ c ( t , t 0 )
1− α 1+
σ p 0 ( x )  2 

com α = E p / Ec

σ c, g ( x ) - tensão no betão ao nível da armadura de pré-esforço devido às acções


permanentes (com exclusão do pré-esforço);

σ c , p 0 ( x ) - tensão inicial no betão ao nível da armadura devido apenas ao pré-esforço;

σ p0 ( x) - tensão inicial na armadura do pré-esforço.

O numerador representa a soma dos efeitos de retracção e fluência sem ter em conta a
interdependência dos dois fenómenos.

A redução devido àquela interdependência é representada pelo denominador que é


positivo e sempre maior que a unidade.

As perdas diferidas totais (retracção + fluência + relaxação) são dadas pela expressão:

∆σ ( x) = −
[
ε cs ( t , t 0 )E p + α ϕ c ( t , t 0 ) ⋅ σ c , g ( x ) + σ c , p 0 ( x ) − ∆ σ] pt , r ( x)
pt , s + c + r
σ c , p 0 ( x )  ϕ c ( t , t 0 )
1− α 1+
σ p 0 ( x )  2 

em que:

∆σ pt, r ( x) - é a perda de tensão devida à relaxação entre t0 e t calculada como vimos


para uma tensão inicial dada por:

σ p ( x ) = σ p 0+ g ( x ) − 0.3∆ σ pt , s + c + r ( x)
σ p 0+ g ( x) - é a tensão no betão ao nível da armadura devida ao pré-esforço inicial e às
acções permanentes.

4.24

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