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Pecado

Toda a vida e concepção de mundo do Homem medieval gira em torno da presença do


pecado. O pecado era representado pelo Homem medieval em todos os âmbitos de sua vida,
seja coletivo ou individual. Todos os tempos históricos são pontuados a partir do pecado, o
antes e depois de Cristo, o juízo final, Adão e Eva, a vida e a encarnação. O pecado separava
as pessoas entre que encontrariam o estado perfeito de uma vida após a morte e as que
viveriam o sofrimento eterno dos pecadores. São criados espaços na terra em que não há
lugar para o pecado, um lugar protegido, que são os mosteiros. O pecado domina toda a rede
de relações que o Homem medieval poderia ter, e as suas formas de redimir eram diversas.
Poderia ser o Batismo, o jejum, a confissão, a função, a oração e a peregrinação.
As imagens de Deus e Diabo eram bem definidas. Deus era o ser misericordioso,
pronto para te perdoar pelos seus pecados, um ser de redenção e amor. O diabo era o ser que
te induz ao pecado, que te tentava e provava, e pertencente à comunidade dos pecadores. Os
principais pecados estavam induzidos em todas as relações da sociedade, seja na luxúria, na
ambição, vaidade, avareza, subordinação e inveja. O pecado era representado pelas palavras
dos pregadores, nas imagens, das esculturas, era símbolo de doença e de morte, de gestos
maldosos e castigo.

Pecado Original

O pecado original era o pecado cometido por Adão e Eva, e também se trata do ponto
de partida necessário para que todos nós possamos existir, as relações sexuais. O Homem
contrai o pecado original ao nascer, cresce e adquire capacidade de lutar contra esse e os
outros numerosos pecados, termina a sua vida na terra e será julgado se viverá uma
eternidade no paraíso ou não. O vínculo das pessoas com o pecado de Adão faz com que toda
a humanidade participe do Pecado Original, partilhem igualmente da pena e da culpa. Para se
livrar do pecado original era preciso seguir aos dogmas da igreja, ser batizado criança, fazer o
sacramento. O único ser que é livre do pecado original é Jesus Cristo, pois ele nasceu da
Virgem Maria.
Quem traz essa ideia é Agostinho, que na Idade Média escreve sobre isso, mas
também, tem a noção da necessidade de gerações futuras. Agostinho entende como o
“Processo de propagação progressiva do pecado”, no momento do nascimento o indivíduo
recebe o pecado de deus pais, esse pecado é transmitido e contaminado pelo corpo, gerando
os desejos e as vontades carnais incontroláveis, que no final irá gerar outro indivíduo. Essa
ideia agostiniana é adotada por diversos teólogos com o decorrer dos séculos. O pecado
original era uma privação, uma vontade voltada para o bem e contra os prazeres da carne. “O
pecado se produzia no momento em que parte superior do homem, a razão e a vontade, não
governava a parte inferior do modo como Deus tinha determinado no primeiro homem e
como o primeiro homem não quis mais que fosse.”
A natureza do pecado

O pecado original fez com que surgissem dúvidas e questionamentos sobre a natureza
dos outros pecados. A patrística encontra nesse discurso a resposta para os problemas da
moral cotidiana, o homem que é corrompido por natureza, carrega em si essa corrosão e
continua inevitavelmente reproduzindo esse padrão do primeiro pecado. O texto fala que por
volta do século XII os monges e mestres começam a se interrogar fortemente sobre a natureza
do pecado. O tema é confrontado pela primeira vez na obra Ética de Abelardo, que define a
natureza do pecado em duas vertentes, a do vício e da ação pecaminosa. O vício seria
consequência do pecado original, que gerou a corrupção da alma. Já o ato pecaminoso
consiste no assentimento da vontade humana às tendências viciosas, e por isso, nem sempre
implica a vontade do ser humano, não podem ser imputados à responsabilidade humana, já
que se trata da tendência pecaminosa. “Assim, o pecado nasce, sempre e de todo mundo, de
um ato livre da vontade humana e já aparece completo em sua culpabilidade, antes mesmo de
se traduzir em ação exterior.”
Para os monges, o pecado coincide com o vício, pois corrompe o corpo e a alma do
indivíduo, gerando a tendência de fazer o mal. Para Abelardo o papel da consciência no
pecado é essencial, pois a consciência reconhece as tendências viciosas e éticas do pecado,
ficando a livre escolha do indivíduo. O pecado consiste nas intenções maldosas, que após a
consciência do pecado, nenhuma boa intenção pode voltar atrás. A natureza do pecado como
ato de vontade do ser humano aparece nas definições a partir de Pedro Lombardo, de maneira
particular na escola franciscana. Agostinho define pecado como uma ação, palavra ou um
desejo contrário à lei divina. São Tomás de Aquino e Agostinho dividem opiniões muito
parecidas sobre o pecado, para Tomás, o pecado consiste em um ato desordenado que vai
contra à lei divina, e confrontar a lei divina significa ir contra a racionalidade universal, que é
a marca de Deus no mundo. Tomás diz que o pecado é constituído por dois elementos,
primeiro o ato humano, que se trata do pecado em si, o pensamento a palavra ou a ação, e o
elemento formal, que consiste na transgressão da lei eterna, contra a lei divina regente do
universo. O pecado consiste na infração do que Deus estabeleceu como mandamento ou
interdição. A vontade de Deus é inquestionável e inexplicável, não precisa ser racional ou ter
vínculo com qualquer ordem.

A classificação dos pecados

Classificar os pecados significa conhecê-los e determinar a natureza, era algo que


vinha como consequência dos saberes das origens do pecado, era necessário estabelecer um
critério de gravidade. Os teólogos da época acreditavam que classificar os pecados era um
importante instrumento de análise da matéria moral, na prática da confissão e do sermão. O
maior e mais influente esquema organizado para as classificações dos pecados foram os
pecados capitais. Os pecados capitais foram aperfeiçoados no século V por Cassiano e
readaptado por Gregório Magno, classificados em oito pecados que conduzem a pecados
secundários. Criou-se algumas modalidades de pecado e de defini-los, as mais comuns são os
sete pecados capitais, as três tentações, pecados de pensamentos, palavras, obras, pecados
contra os preceitos do decálogo etc. Os pecados foram divididos em pecados mortais e
veniais, os mortais são aqueles que implicam na condenação eterna, os veniais são os que
condenam a uma pena de expiação. Pecados veniais são os pecados leves e do cotidiano, que
não condenam a sua relação com Deus, pecados mortais torna passível a pena infernal.
Pecado mortal é contra a lei divina e pecado venial são fora da lei divina, não implica em
infração direta da ordem divina, mas em um momento em que as leis foram deixadas de lado.
O conceito de pecado venial é criado como uma maneira de conseguir o sacramento e o
perdão e também implica no nascimento do purgatório.

O pecado e os pecados

O caráter remissível dos pecados que a Igreja exerce na cultura medieval mostra que o
poder de perdoar os pecados e prescrever punições era cabível somente à Deus e a Igreja, isso
gera o costume de confessar privadamente e receber um perdão. O momento central da
penitência é em 1215, ano em que o Concílio de Latrão impõe a todos os fiéis a obrigação da
penitência anual. Até nos dias de hoje é posta a obrigação de confissão oral dos erros ao dizer
o pecado para o padre, o penitente deve ser convencido da utilidade da confissão e
anunciação dos pecados, habituado a ouvir os sermões. Para o padre, exige-se a capacidade
de escutar os penitentes, mesmo os mais ignorantes, escutar a confissão total dos pecados.
Para isso, o padre possui manuais de confessores, súmulas penitenciais, ensinamentos sobre
os vícios e as virtudes, etc. O costume de confessar faz com que isso se torne algo da vida
cotidiana, as pessoas pecavam e buscavam perdão, permaneciam no mesmo ciclo de sempre.

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