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corresponder, em seus aspectos gerais, ao trabalho do pro-
fessor, e também é suficiente para atender às necessidades
do nosso campo de pesquisa sobre os saberes dos professo—
res. Ele permite, sobretudo, evitar que caiamos nos excessos
do “psicologismo” que marcam há muito tempo a pesquisa
sobre o ensino. Em relação à pesquisa, esse modelo do ator
leva-nos a interessar-nos não pelas representações ”mentais
do professor”, mas por seus juízos tais como podem ser ex-
pressos em proposições, num discurso, etc..
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supostamente dotada de saber (2) está regular-
mente em contato (3) com um grupo (4) de pes-
soas (crianças) que se supõe estarem aprendendo
(5), e cuja presença é obrigatória (6), para ensi-
nar-lhes (7) um conteúdo socialmente determina—
do (8) por meio de uma série de decisões tomadas
em situação de urgência.
Ora, para realizar esse trabalho e solucionar as numero-
sas dificuldades por ele ocasionadas através das múltiplas
interações entre esses oito elementos fundamentais, o pro-
fessor deve ser capaz de assimilar uma tradição pedagógica
transformada em hábitos, rotinas e truques do ofício; deve
possuir uma competência cultural proveniente da cultura
comum e dos saberes cotidianos que partilha com seus alu-
nos; deve ser capaz de discutir com eles e de fazer valer o
seu ponto de vista; deve ser capaz de se expressar com uma
certa autenticidade diante de seus alunos; deve ser capaz de
gerir uma classe de maneira estratégica a fim de atingir ob-
jetivos de aprendizagem, ao mesmo tempo em que negocia
o seu papel; deve ser capaz de identificar certos comporta-
mentos e de modifica-los numa certa medida, etc. Em suma,
o “saber ensinar”, do ponto de vista de seus fundamentos
na ação, remete a uma pluralidade de saberes. Essa plurali-
dade de saberes forma, de um certo modo, um “reservató-
rio" onde o professor vai buscar suas certezas, modelos sim-
plificados de realidade, razões, argumentos, motivos, para
validar seus próprios julgamentos em função de sua ação. É
claro que, dentro da própria ação, esses julgamentos podem
ser instantâneos ou parecer originados de uma intuição e
não de um raciocínio; mas o que chamamos de deliberação
não é necessariamente um processo longo e consciente; por
outro lado, o que chamamos de intuição intelectual nos pa-
rece ser o resultado de processos de raciocínio que se toma-
ram rotineiros e implícitos de tanto se repetirem.
Assim, ao agir, o professor é forçado a tomar decisões, a
fazer escolhas, etc., resultantes de julgamentos profissionais
que não se limitam a fatos, isto é, a um saber empírico. Na
realidade, o professor se baseia em Vários tip os de juízo para
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estruturar e orientar sua atividade profissional. Por exem-
plo, ele se baseia com frequência em'valores morais ou em
normas sociais para tomar uma decisão. Aliás, uma grande
parte das práticas disciplinares do professor colocam em
jogo juízos normativos sobre as diferenças entre o que é per-
mitido e o que é proibido. Para alcançar fins pedagógicos, o
professor também se baseia em juízos ligados a tradições es-
colares, pedagógicas e profissionais que ele mesmo assimi-
lou e interiorizou. Finalmente, ele se baseia em sua ”expe-
riência vivida” como fonte viva de sentido a partir da qual o
passado lhe permite esclarecer o presente e antecipar o futu-
ro. Valores, normas, tradições, experiência vivida são elemen-
tos e critérios a partir dos quais o professor faz julgamentos
profissionais. Ora, como se pode constatar, esses diferentes
tipos de juízo não se reduzem ao conhecimento empírico ou
a uma teoria informacional do ensino, e nem por isso são ir-
racionais. De fato, seguir uma norma, respeitar uma tradição,
adotar um valor, agir em função da experiência vivida não
são comportamentos irracionais ou a-racionais, na medida
em que o ator e' capaz de dizer por que adota tais comporta-
mentos.
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ber docente e, de maneira mais ampla, da profissão docente.
Ela também representa um elemento capital para toda teo-
ria da educação, pois levanta o problema clássico, que se
tornou uma verdadeira aporia, das relações entre os ”deter-
minismos sociais” e a ”liberdade” dos atores.
Para ilustrar esse problema, basta citar o fracasso esco—
lar, que todos os estudos mostram depender principalmen-
te da origem socioeconômica e cultural dos alunos. Ora,
uma grande parte dos professores defende valores de igual-
dade e de justiça em relação aos alunos, recusando-se a sele-
ciona-los e avalia-los a partir de sua origem socioeconômi-
ca. No entanto, por serem os principais agentes da escola, e
a menos que sua ação seja considerada nula e sem efeito, é
preciso reconhecer, como diria Bourdieu, que os professo—
res “realizam objetivamente uma tal seleção”, levando as-
sim uma multidão de alunos ao fracasso escolar.
Observa-se portanto um corte importante entre as inten-
ções profissionais dos professores e os resultados objetivos
de suas ações. Os exemplos desse tipo poderiam ser multi-
plicados, mas o princípio é o mesmo: a menos que os profes-
sores sejam transformados em seres oniscientes, é preciso
admitir que existe, às vezes, um abismo entre suas boas in-
tenções e o que fazem realmente. Toda ação encerra, poten-
cialmente, consequências não intencionais que escapam à
consciência dos atores e ao seu conhecimento a respeito do
que vai acontecer.
Nessa perspectiva, podemos dizer, baseados em Haber-
mas (1987), que toda atividade social comporta sempre dois
aspectos indissociáveis: um aspecto intencional, que pode
ser estudado levando-se em conta os motivos do ator, seu
discurso, seus objetivos, os significados que atribui à sua
atividade, etc., e um aspecto não intencional, que pode ser
estudado levando-se em conta as regularidades resultantes
dessa ação, através, por exemplo, de estudos descritivos ou
estatísticos, quando se trata da ação de um grupo como o
dos professores. Ora, o que acaba de ser dito em relação à
ação vale também em relação ao conhecimento: o que um
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