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Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 5037064-15.2021.8.13.0024


em 21/03/2023 11:54:13 por VERDIVALDO OLIVEIRA COELHO
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- VERDIVALDO OLIVEIRA COELHO

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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

CARTÓRIO DA 5' CÂMARA CRIMINAL - AFONSO PENA 1

CERTIDÃO

CERTIFICO que, embora devidamente notificados, apenas o

magistrado 1a
da Unidade Jurisdicional Criminal se manifestou

acerca dos Embargos de Declaração. 0 referido é verdade e dou fé.

Belo Horizonte, 04 de novembro de 2022. Eu, Sandra Regina Silva

Carvalho, T006823-9, Escrivã do Cartório da 5' Câmara Criminal -

Afonso Pena 1500, a subscrevi,


f
i

CONCLUSÃO

E os faço conclusos ao Excelentiss'


(fri Senhor Desembargador
Relator. 0(A) servidor(a),

Conclusos em 04/1 1/2022.

Documento emitido pelo SIAP :


111,11011121)1)1111811214112,111111111,11181111

!I
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça
niksP
N° 1 0000 21 205131-2/001

111111111111111111111111111111111111111111111111
iii
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO-CR 5° CÂMARA CRIMINAL
N° 1 0000 21 205131-2/001 BELO HORIZONTE
EMBARGANTE(S) MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS
EMBARGADO(A)(S) JUIZ DE DIREITO DE 1' UJ CRIME - 400 JD DE
BELO HORIZONTE
EMBARGADO(A)(S) JUIZ DE DIREITO DA 5' VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE BELO HORIZONTE
S INTERESSADO(A)S
INTERESSADO(A)S
NIKOLAS FERREIRA DE OLIVEIRA
DUDA SALABERT ROSA

O DESPACHO

Considerando o fim da designação desta Juiza na presente


data, devolvo os autos ã Secretaria.
Cumpra-se.
Belo Horizonte, 11 de novembro de 2022.

JD. CONVOCADA LUZIENE BARBOSA LIMA


Relatora

• Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001.


Signatário: LUZIENE MEDEIROS DO NASCIMENTO BARBOSA, Certificado: 60082003135478CB,

e Belo Horizonte, 11 de novembro de 2022 as 14:08.18.


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Fl. 1/1

Número Verificador: 1000021205131200120222887788


•••+•••••

Tribunal de Justiça do Estado de Minas


CONCLUSÃO
E es face conclusas ao Erno.(a) Sr.(a)
Desembargador(a) Relator(a)

Aos / 11
0(A) servidor(a) "{-(64-Zo.. 10Vfet1.


Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1.0000.21.205131-2/001


5' CÂMARA CRIMINAL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO-CR: N° 1.0000.21.205131-2/001 BELO HORIZONTE 5 CAMARA CRIMINAL -


EMBARGANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - EMBARGADO(A)(S): JUIZ DE
DIREITO DE 1' UJ CRIME - 400 JD DE BELO HORIZONTE, JUIZ DE DIREITO DA 5' VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE BELO HORIZONTE - INTERESSADO(A)S: NIKOLAS FERREIRA DE OLIVEIRA, DUDA
SALABERT ROSA

RELATÓRIO
Trata-se de Embargos de Declaração opostos pelo Ministério
Público de Minas Gerais contra o acórdão proferido nos autos do
Conflito de Jurisdição n° 1.0000.21.205131-2/000, que declarou a
competência do Juiz de Direito da 1a Unidade Jurisdicional Criminal
da Comarca de Belo Horizonte/MG (suscitante).
Em suas razões recursais, sustentou a parte embargante que
o Acórdão incorreu em obscuridade e omissão, uma vez que não
restringiu o alcance de precedente exarado em controle concentrado
de constitucionalidade — ADO 26 — e não observou que o crime de
injúria racial é espécie de racismo, nos termos do HC 154.248,
julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 28/10/2021.
Ressaltou que condutas homofóbicas/transfábicas também
são criminalizadas como crimes raciais, cometidos em função de
etnia/identidade da vitima, que, quando praticadas em contexto de
ofensa a honra subjetiva, são crimes de injúria qualificada racial.
Asseverou que o crime de injúria racial engloba crimes de
injúria cometidos em situações de racismo social e, portanto, abarca
também injúrias homofábicas/transfóbicas.
Aduziu que os vícios apontados são capazes de alterar a
competência do processo, dado que, em se tratando de injúria racial,
a conduta do acusado seria punível com uma pena maxima de
03(três) anos de reclusão e, nos termos do artigo 61 da Lei 9.099/95,
a competência não seria dos Juizados Especiais Criminais, mas sim
da Justiça comum.

Número Verificador: 1000021205131200120223061715


I

.
I

Ink
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1.0000.21.205131-2/001


5' CÂMARA CRIMINAL

Requereu o acolhimento dos embargos para que fossem


sanadas a obscuridade e a omissão apontadas.
Devidamente intimada, a parte embargada apresentou
manifestação às fls. 69/71 e pugnou pelo provimento dos embargos
de declaração.

Em mesa.
Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2022.

DES. RINALDO KENNEDY SILVA


RELATOR
Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001.
Signatário: Desembargador RINALDO KENNEDY SILVA, Certificado:
18DEA32A144D8DC7D0C31634BD54FAAE. Belo Horizonte, 15 de dezembro de 2022 as 15:46:31.
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1000021205131200120223061715

Se

F1.2/2
Número Verificador: 1000021205131200120223061715
CERTIDÃO Eletrônico" disponibilizado
em
do Judiciário deste
ordem do "Diário intimadas da designa(ao
Certifico que, por foram as partes
27/01/2023 e publicado em
30/01/2023, o 118 do RITJMG.
07/02/2023, nos termos do arti
virtual em Minas Gerais, na
processo para julgamento Defensoria Pública do Estado de
da entregue, via e- all, e da
CERTIFICO, ainda, a intimac50 de mandado
representante legal, por meio virtual. 0 referido é ver
,054o fé.
pessoa de seu julgamento
designados para Silva, t006823-9
relac5o dos processos Sandra Regina Carvalho da
26/01/2023. Eu,
Belo Horizonte,
Escriva, a subscrevi.


IP
2j —/Axy,4 Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

5' CAMARA CRIMINAL

Sessão de 07 de fevereiro de 2023

N° do Processo na Pauta: 161


Embargos de Declaração-Cr n° 1.0000.21.205131-2/001
Comarca de Belo Horizonte -

Partes:
Embargante(s) MINISTÉRIO PUBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Embargado(a)(s) JUIZ DE DIREITO DE 1a UJ CRIME - 400 JD DE BELO HORIZONTE
Embargado(a)(s) JUIZ DE DIREITO DA 53 VARA CRIMINAL DA COMARCA DE BELO
HORIZONTE
Interessado(a)s NIKOLAS FERREIRA DE OLIVEIRA
Interessado(a)s DUDA SALABERT ROSA

Composição:
Relator Des. Rinaldo Kennedy
Silva
Vogal Des. Julio César Lorens
Vogal Des. Marcos Padula

Decisão:
"ACOLHERAM OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, COM EFEITOS
INFRINGENTES"

Des. Julio Cesar Lorens


Presidente

Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001.


Signatário: SANDRA REGINA SILVA CARVALHO, Certificado:
6B1AC257408A3784E86945D3BD0AF31B, Belo Horizonte, 07 de fevereiro de 2023 ás 12:10:43.
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100002120513120012023152716

Número Verificador: 1000021205131 20012023152716


0,1sv,?,
A
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
,4Y+ Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1.0000.21.205131-2/001

1111111111111111111111111111111111111111111111111
EMENTA:EMBARGOS DE DECLARAÇÃO — CONFLITO DE JURISDIÇÃO —
QUEIXA-CRIME — CONDUTA TRANSF6BICA - RACISMO - INJÚRIA
QUALIFICADA RACIAL — PENA MAXIMA 3 ANOS DE RECLUSÃO —
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM — EMBARGOS ACOLHIDOS COM
EFEITOS INFRINGENTES.
- As condutas homof6bicas e transf6bicas, reais ou supostas, que
envolvam aversão odiosa *A orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este
em sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante
adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na
Lei n° 7.716, de 08/01/1989 (ADO 26, Relator Celso De Mello, Tribunal
Pleno,julgado em 13/06/2019).
-0 crime de injúria racial reúne todos os elementos necessários à sua
caracterização como uma das espécies de racismo (STF, HC 154248,
Tribunal Pleno, Relator Min. Edson Fachin,julgado em 28/10/2021).
- A propagação de ofensas à honra pessoal de alguém,em desrespeito a
sua identidade de gênero, propagada em meios de comunicação em
massa, acessiveis ao público, amolda-se à figura típica descrita no art.
140,§30 c/c art. 141, III, do CP,delito cuja pena máxima é de 3(três)anos
de reclusão e, nos termos do artigo 61 da Lei 9.099/95, atrai a
competência da Justiça Comum.
-Embargos de declaração acolhidos.
EMBARGOS DE DECLARAÇAO-CR N° 1.0000.21.205131-2/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE -
EMBARGANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - EMBARGADO(A)(S):JUIZ DE DIREITO
DE V UJ CRIME - 40° JD DE BELO HORIZONTE,JUIZ DE DIREITO DA 5 VARA CRIMINAL DA COMARCA DE BELO
HORIZONTE - INTERESSADO(A)S: NIKOLAS FERREIRA DE OLIVEIRA, DUDA SALABERT ROSA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5a CÂMARA CRIMINAL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em ACOLHER OS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, COM EFEITOS INFRINGENTES.

DES. RINALDO KENNEDY SILVA


RELATOR

Fl. 1/8
ni_ts\c,„ Poder do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1.0000.21.205131-2/001

DES. RINALDO KENNEDY SILVA(RELATOR)

VOTO

Trata-se de Embargos de Declaração opostos pelo Ministério


Público de Minas Gerais contra o acórdão proferido nos autos do
Conflito de Jurisdição n° 1.0000.21.205131-2/000, que declarou a
competência do Juiz de Direito da ia Unidade Jurisdicional Criminal da
Comarca de Belo Horizonte/MG (suscitante).
Em suas razões recursais, sustentou a parte embargante que o
Acórdão incorreu em obscuridade e omissão, uma vez que não
restringiu o alcance de precedente exarado em controle concentrado
de constitucionalidade — ADO 26 — e não observou que o crime de
injúria racial é espécie de racismo, nos termos do HC 154.248,julgado
pelo Supremo Tribunal Federal em 28/10/2021.
Ressaltou que condutas homofábicas/transkibicas também são
criminalizadas como crimes raciais, cometidos em função de
etnia/identidade da vitima, que, quando praticadas em contexto de
ofensa á honra subjetiva, são crimes de injúria qualificada racial.
Asseverou que o crime de injúria racial engloba crimes de injúria
cometidos em situações de racismo social e, portanto, abarca também
injúrias homofóbicas/transfóbicas.
Aduziu que os vícios apontados são capazes de alterar a
competência do processo, dado que,em se tratando de injúria racial, a
conduta do acusado seria punível com uma pena máxima de 03(três)
anos de reclusão e, nos termos do artigo 61 da Lei 9.099/95, a
competência não seria dos Juizados Especiais Criminais, mas sim da
Justiça comum.
Requereu o acolhimento dos embargos para que fossem
sanadas a obscuridade e a omissão apontadas.

Fl. 2/8
ItI*4:"4, Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1 0000 21 205131-2/001

Devidamente intimada, a parte embargada apresentou


manifestação às fls. 69/71 e pugnou pelo provimento dos embargos de
declaração.
É o relatório. Decido.
Conheço dos embargos, pois presentes os seus pressupostos
de admissibilidade.
Nos termos do artigo 619, do Código de Processo Penal, cabem
embargos de declaração quando houver ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão em ponto sobre o qual devia ter se
pronunciado o Juiz ou Tribunal. Vejamos:

"Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de


Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos
embargos de declaração, no prazo de dois dias
contados da sua publicação, quando houver na
sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou
omissão".

Desse modo, o referido recurso constitui medida judicial que


tem, essencialmente, a finalidade de esclarecer o decisum, buscando
completar o pronunciamento judicial omisso, ou aclará-lo, afastando os
indesejáveis vícios, propiciando verdadeira atividade de
complementação da sentença ou do acórdão proferido. Sobre esse
recurso, vejamos a lição de Júlio Fabbrini Mirabete:

"Ambiguidade existe quando a decisão, em qualquer


ponto, permite duas ou mais interpretações. Há
obscuridade quando não há clareza na redação, de
modo que não é possível saber com certeza qual o
pensamento exposto no acórdão. Pode também haver
contradição, em que afirmações da decisão colidem.
se opõem. Podem elas existir, por exemplo, entre a
motivação e a conclusão. Há omissão quando não se
escreveu no acórdão tudo que era indispensável
dizer." (in. Processo Penal; 16 edição; Editora Atlas:
2004: p. 724)"

Fl. 3/8
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1 0000.21.205131-2/001

Na hipótese, observa-se que, de fato, o Acórdão embargado


incorreu em obscuridade, ao dispor que os fatos narrados na queixa-
crime não se amoldam ao crime de injúria qualificada, sob o
fundamento de que a ADO 26/STF, ao estender o sentido empregado
ao termo "raça" para abranger discriminações de cunho
homotransfóbicos, fez menção expressa aos crimes tipificados na Lei
n° 7.716/89, não havendo qualquer menção da sua aplicabilidade ao
crime tipificado no artigo 140, §3° do Código Penal.
Ora, extrai-se da ADO 26, que o Supremo Tribunal Federal, ao
dispor sobre a Lei n° 7.716/89, consignou que a esta se ajustam "as
condutas homotóbicas e transtobicas, reais ou supostas, que envolvam
aversão odiosa à orientação sexual ou i§ identidade de gênero de
alguém", fato que, pela via reflexa, permite que se conclua que outras
tipificações penais, atinente a questões de raga/gênero, estejam por
ela abarcadas. Vejamos:

"(...) Até que sobrevenha lei emanada do Congresso


Nacional destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art.
5° da Constituição da República, as condutas
homotobicas e transfóbicas, reais ou supostas,
que envolvem aversão odiosa à orientação sexual
ou à identidade de gênero de alguém, por
traduzirem expressões de racismo, compreendido
este em sua dimensão social, ajustam-se, por
identidade de razão e mediante adequação típica,
aos preceitos primários de incriminação definidos
na Lei n° 7.716, de 08/01/1989, constituindo,
também, na hipótese de homicídio doloso,
circunstância que o qualifica, por configurar motivo
torpe (Código Penal, art. 121,§ 2°, I, "in fine")".(ADO
26, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
julgado em 13/06/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-243 DIVULG 05-10-2020 PUBLIC 06-10-
2020)(g.n.)

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=76
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W' Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1 0000.21 205131-2/001

Além disso, o Acórdão também foi omisso, ao desconsiderar o


recente julgado do Supremo Tribunal Federal que, na apreciação do
HC 154248/DF, de relatoria do Ministro Edson Fachin, consolidou o
entendimento que o delito de injuria racial, previsto no artigo 140, §3°,
do Código Penal, é uma das espécies do gênero racismo. Vejamos:

Ementa: HABEAS CORPUS. MATÉRIA CRIMINAL.


INJÚRIA RACIAL (ART. 140, § 3°, DO CÓDIGO
PENAL). ESPÉCIE DO GÊNERO RACISMO.
IMPRESCRITIBILIDADE. DENEGAÇÃO DA ORDEM.
1. Depreende-se das normas do texto constitucional,
de compromissos internacionais e de julgados do
Supremo Tribunal Federal o reconhecimento objetivo
do racismo estrutural como dado da realidade
brasileira ainda a ser superado por meio da soma de
esforços do Poder Público e de todo o conjunto da
sociedade. 2.0 crime de injúria racial reúne todos
os elementos necessários à sua caracterização
como uma das espécies de racismo, seja diante da
definição constante do voto condutor do julgamento
do HC 82.424/RS, seja diante do conceito de
discriminação racial previsto na Convenção
Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Racial. 3. A simples distinção
topológica entre os crimes previstos na Lei
7.716/1989 e o art. 140,§ 30, do Código Penal não
tem o condão de fazer deste uma conduta
delituosa diversa do racismo, até porque o rol
previsto na legislação extravagante não é
exaustivo.4. Por ser espécie do gênero racismo,o
crime de injúria racial é imprescritível. Ordem de
habeas corpus denegada. (STF — HC 154248 —
Tribunal Pleno — Relator(a): Min. EDSON FACHIN —
Julgamento: 28/10/2021 — Publicação:
23/02/2022).(g.n.)

Assim, e ao contrário do disposto no Acórdão embargado, foi


firmado o entendimento no sentido de que o rol previsto na Lei
7.716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou
de cor (Lei do Racismo), não é taxativo, motivo pelo qual condutas
homofóbicas/transfóbicas, por se enquadrarem como crimes raciais,

Fl 5/8
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Embargos de Declaração-Cr N°1 0000 21 205131-2/001

caracterizam-se como crime de injúria qualificada racial, nos termos do


artigo 140, §3° do Código Penal, quando praticados em ofensa' honra
subjetiva de um indivíduo especifico.
Nesse sentido, no caso sub judice, entendo que a conduta
descrita na queixa-crime anexada aos autos, que imputa ao querelado
a propagação de ofensas à honra pessoal da querelante, em
desrespeito a sua identidade de gênero, propagada em meios de
comunicação em massa, acessíveis ao público, amolda-se á figura
típica descrita no artigo 140, §3° c/c artigo 141, inciso Ill, ambos do
Código Penal, crime cuja pena máxima é de 3(três) anos de reclusão.
Dessa maneira, nos termos do artigo 61 da Lei 9.099/95, a
competência para o processamento da mencionada queixa-crime não
seria dos Juizados Especiais Criminas, mas sim da Justiça Comum,
motivo pelo qual o acolhimento dos presentes embargos de
declaração, com a consequente fixação da competência como do Juiz
suscitado, da 5a Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, é
medida que se impõe.
Nesse sentido, imperioso esclarecer que não se desconhece da
diplomação do querelado como Deputado Federal, ocorrida no dia
01/02/2023, fato que poderia atrair a discussão acerca do foro por
prerrogativa de função. Contudo, destaco que, por maioria, o Plenário
do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da questão de ordem na
Ação Penal (AP) 937, decidiu que o foro por prerrogativa de função
conferido aos Deputados Federais e Senadores se aplica apenas a
crimes cometidos no exercício do cargo e em razão das funções a ele
relacionadas, motivo pelo qual esse foro não se aplica ao presente
caso. Vejamos:

Ementa: Direito Constitucional e Processual Penal.


Questão de Ordem em Ação Penal. Limitação do foro
por prerrogativa de função aos crimes praticados no

Fl 6/8
Oki ii;\:
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
44i 40 Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1 0000 21 205131-2/001

cargo e em razão dele. Estabelecimento de marco


temporal de fixação de competência. I. Quanta ao
sentido e alcance do foro por prerrogativa 1. 0 foro
por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na
interpretação até aqui adotada pelo Supremo Tribunal
Federal, alcança todos os crimes de que são
acusados os agentes públicos previstos no art. 102, I,
b e c da Constituição. inclusive os praticados antes da
investidura no cargo e os que não guardam qualquer
relação com o seu exercício. 2. Impõe-se, todavia, a
alteração desta linha de entendimento, para restringir
o foro privilegiado aos crimes praticados no cargo e
em razão do cargo. É que a pratica atual não realiza
adequadamente principios constitucionais
estruturantes, como igualdade e república, por
impedir, em grande número de casos, a
responsabilização de agentes públicos por crimes de
naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade
minima do sistema penal, nesses casos, frustra
valores constitucionais importantes, como a probidade
e a moralidade administrativa. 3. Para assegurar que
a prerrogativa de foro sirva ao seu papel
constitucional de garantir o livre exercício das funções
— e não ao fim ilegítimo de assegurar impunidade — é
indispensável que haja relação de causalidade entre o
crime imputado e o exercício do cargo. A experiência
e as estatísticas revelam a manifesta
disfuncionalidade do sistema, causando indignação
sociedade e trazendo desprestigio para o Supremo. 4.
A orientação aqui preconizada encontra-se em
harmonia com diversos precedentes do STF. De fato,
o Tribunal adotou idêntica lógica ao condicionar a
imunidade parlamentar material — i.e., a que os
protege por 2 suas opiniões, palavras e votos —
exigência de que a manifestação tivesse relação com
o exercício do mandato. Ademais, em inúmeros
casos. o STF realizou interpretação restritiva de suas
competências constitucionais, para adequá-las as
suas finalidades. Precedentes. II. Quanto ao momento
da fixação definitiva da competência do STF 5. A
partir do final da instrução processual, com a
publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência
para processar e julgar ações penais — do STF ou de
qualquer outro órgão — não sera mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou
deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o
motivo. A jurisprudência desta Corte admite a
possibilidade de prorrogação de competências
constitucionais quando necessária para preservar a

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7
Tribunal de Justiça

Embargos de Declaração-Cr N° 1 0000 21.205131-2/001

efetividade e a racionalidade da prestação


jurisdicional. Precedentes. Ill. Conclusão 6. Resolução
da questão de ordem com a fixação das seguintes
teses: "(i)0foro por prerrogativa de função aplica-
se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados As funções
desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução
processual, com a publicação do despacho de
intimação para apresentação de alegações finais, a
competência para processar e julgar ações penais
não sera mais afetada em razão de o agente público
vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo". 7. Aplicação da nova
linha interpretativa aos processos em curso. Ressalva
de todos os atos praticados e decisões proferidas
pelo STF e demais juizos com base na jurisprudência
anterior. 8. Como resultado, determinação de baixa da
ação penal ao Juizo da 256a Zona Eleitoral do Rio de
Janeiro, em razão de o réu ter renunciado ao cargo de
Deputado Federal e tendo em vista que a instrução
processual já havia sido finalizada perante a 1a
instancia. (AP 937 QO, Relator(a): ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018,
ACORDA0 ELETRÔNICO DJe-265 DIVULG 10-12-
2018 PUBLIC 11-12-2018)

Diante do exposto, ACOLHO OS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO,e declaro a competência do Juiz de Direito da 5'Vara
Criminal da comarca de Belo Horizonte para o julgamento da queixa-
crime anexada aos autos.
Sem custas.

DES. JÚLIO CÉSAR LORENS - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. MARCOS PADULA - De acordo corn o(a) Relator(a).

SÚMULA: "ACOLHERAM OS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO, COM EFEITOS INFRINGENTES"

Fl. 8/8
L4\'4, Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

CARTÓRIO DA 5' CÂMARA CRIMINAL - UAP

CERTIDÃO

CERTIFICO e dou fé que a súmula do dispositivo do acórdão


retro foi disponibilizada do Diário do Judiciário Eletrônico em
14/02/2023 e publicada em 15/02/2023. 0 referido é verdade e
dou fé. Belo Horizonte, 13 de fevereiro de 2023. Eu, Sandra
Regina Silva Carvalho, T0068239, Escrivã, assino
eletronicamente.

Documento assinado eletronicamente. Medida Provisória n°2.200-2/2001 de 24/08/2001.


Signatário: SANDRA REGINA SILVA CARVALHO, Certificado:
6B1AC257408A3784EB6945D3BD0AF31B, Belo Horizonte, 31 de janeiro de 2023 as 13:4544.
Verificação da autenticidade deste documento disponivel em http://www.tjmg.jus.br - n° verificador:
000000000000000002021356325

Número Verificador: 000000000000000002021356325


S

11
07e
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
40-41/4 Tribunal de Justiça

5a CÂMARA CRIMINAL

Oficio n°10303/2023
Belo Horizonte, 07 de fevereiro de 2023
Processo: Embargos de Declaração-Cr n° 1.0000.21.205131-2/001
Relator: Des. Rinaldo Kennedy Silva
Processo do 1° Grau: 50370641520218130024
Partes:
Embargante(s) MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS
Embargado(a)(s) JUIZ DE DIREITO DE la UJ
CRIME - 400 JD DE BELO
HORIZONTE
Embargado(a)(s) JUIZ DE DIREITO DA 5a VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE
BELO HORIZONTE
Interessado(a)s NIKOLAS FERREIRA DE
OLIVEIRA
Interessado(a)s DUDA SALABERT ROSA

Senhor(a) Juiz(a):

Para conhecimento de Vossa Excelência e para os fins


previstos no artigo 461 do Regimento Interno deste Tribunal, envio-lhe cópia
do v. acórdão proferido nos autos do Embargos de Declaração-Cr n°
1.0000.21.205131-2/001, processo de origem n° 50370641520218130024.

Respeitosamente.

Sandra Regina Silva Carvalho


Escrivã do Cartório da Quinta Camara Criminal

1
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais
Tribunal de Justiça

A(o) Excelentíssimo(a) Senhor(a)


DD. Juiz(a) de Direito de(a)
a Unidade Jurisdicional Criminal - Belo Horizonte — bheljcrime@tjmg.jus.br
5a Vara Criminal - Belo Horizonte — vcrime5@tjmg.jus.br
Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

DO CARTÓRIO DA 5' CÂMARA CRIMINAL


UNIDADE AFONSO PENA

VISTA

E os faço com vista ao Exmo. Sr. Procurador-


Geral de Justiça, para ciência do acórdão. 0(a)

servidor(a), ,Yet.-neZ/ t0050450.

Vista em 17/02/2023.

CientAi Wi f. Cieosuni
fillo haven& inlaresse em mower,*co,
OS presentes autos.
Belo Horizonte, data supra

10
Grogório Assagra de AJmeida
Procurador de Justiça
lit,Procuradoria de Justiça com
ação nos Tribunais
(Coordenador)SuPedores

s'AP: 1111,L11111111111111111111111111
104050655014555010280003511316
CERTIDÃO
Certifico que os(as) acórdãos/decisões retro transitara m julgado em 01/03/2023.
0 referido é verdade e dou fé. Belo Horizonte, 01 de 4 ofl2023.
Eu, Sandra Regina Carvalho da Silva/t006823-9,,a escrivã, a subscrevi.
REMESSA
Nesta data remeto os autos ao(6) Excelentíssimo(a) Sr(a). Juiz(a) de Direito da
comarca de origem. O servidor, Walter Alves/t004321-6.
Remetidos em 02/03/2023.

Poder Judiciario do Estado de Minas Gerais


RFCEB!MENTO
de_202/3

recebi estes constv,lavrei este.

0(A) Escrivão(a)
Comarca de Belo Horizonte - MG
5' Vara Criminal
Av. Augusto de Lima, 1549, sala OP 231, 2° andar, Barro Preto, Belo Horionte-MG,
CEP 30.190-002 Tel. (031) 3330-2872.

1:. 0
1 ,
'`.%..e\. ,-.
CERTIDik0 N°: 1003/2023 -,,
PROCESSO PJeN° : 5037064-15.2021.8.13.0024
QUERELADO: NIKOLAS FERREIRA DE OLIVEIRA
QUERELANTE: DUDA ROSA SALABERT

CERTIFICO que, os autos inseridos no PJe em epígrafe, se


encontram suspensos/sobrestados por decisão judicial na
condição de "aguardando decisão de conflito de
jurisdição", na la Unidade Jurisdicional Criminal - 40°
JD desta Capital. Acrescento que já houve decisão pelo
egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sob o
número processual 1.0000.21.205131-2/001 - acolhendo os
embargos de declaração com efeitos infringentes
(07.02.2023), declarando a competência do Juiz de
Direito da 5a Vara Criminal para julgamento desta
queixa-crime. Nada mais.
0 referido é verdade. Dou fé.
Belo Horizonte, 10 de março de 2023.

Sara Barbosa de Abreu


Oficial Judiciário

* Certidão emitida, qualquer emenda e rasura gera sua invalidado.


* Certidão so vdlida no original, ou devidamente autenticada por oficial público.

C6d. 10.25.097-2
S

Cód. 10.25.097-2
CONCLUSÃO
Pelo Presente, faço conclusos os presentes
autos a MM.' Juiza de Direito da 5.a Vara Criminal.
Do que, para constar, lavrei este.
Belo Horizonte, 1() /03/2023.
A Escrivã:

Proc.: 024.21.205.131-2

Remetam-se os autos ao Juizado Especial


Criminal - 1.a UJ Crime, para que sejam juntadas cópias no
Pje e redistribuidos os autos a este Juizo.

Belo Horizonte, 10 de março de 2023.

Kenea Márcia Dato de Moura Gomes


Juiza de Direito

RECEBIMENTO
Certifico e dou fé que recebi estes autos nesta data.
Belo Horizonte, LO / 032023.

O A Escrivã: el

0
j
a

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