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RELATO DE CASO CLÍNICO: REDUÇÃO DE FRATURA DE TÍBIA EM ÉGUA

Este é um relato de caso clínico acompanhado em aula prática nos dias 03 e 07 de


Março de 2023 pelos alunos do 7º semestre de Medicina Veterinária da Unicesumar
na disciplina Clínica Cirúrgica de Grandes Animais conduzida pelo professor Rodrigo
Rolim Duarte.

Trata-se de uma égua de aproximadamente 3 meses de idade, a qual deu entrada


no Equine hospital da Unicesumar. Foi relatado que a mesma habitava em ambiente
de pastoreio, os tutores informaram não ter ciência da natureza da fratura. Após o
exame físico e clínico foi possível observar uma fratura em membro pélvico
esquerdo, foi realizado raio-x com a finalidade de investigar mais a fundo qual fratura
se tratava, assim observou-se que era uma fratura tibial proximal do membro
pélvico.

Na primeira aula dia 07/03 a qual acompanhamos o caso, a égua estava com gesso
no membro pélvico esquerdo, o qual auxiliamos na retirada do mesmo,
posteriormente no dia 07/03 auxiliamos nos curativos e limpeza da ferida sob
orientação dos médicos veterinários residentes do Equine Hospital Veterinário.

Segundo Thomassian (2005) fratura é toda e qualquer solução de continuidade


sofrida pelos ossos, seja por ação direta ou indireta. As fraturas diretas atingem os
ossos produzindo grandes lacerações de tecidos moles, advindas de ação
perpendicular de forças de sentido oposto ao osso. As fraturas indiretas são
ocasionadas por mecanismos de torção, flexão, pressão e tração, sempre que estas
ultrapassarem a capacidade de resistência e elasticidade dos ossos, gerando
destruição óssea. As fraturas indiretas são as mais comuns e imprimem formas e
linhas de fratura que caracterizam cada mecanismo determinante por ação isolada
ou conjunta.

Independente dos mecanismos de ação e consequências, as fraturas em equinos


sempre são consideradas graves, devendo-se avaliar minuciosamente as
possibilidades de redução e consolidação do foco. Por isso, ao suspeitar de fratura
em equinos deve-se evitar manipular bruscamente o animal e principalmente a
região fraturada, a qual deve ser protegida. Neste intuito, pode-se usar talas de
madeira ou calha de cano plástico cortado ao meio e acolchoado com algodão,
prendendo-o firmemente com esparadrapo, fita adesiva ou atadura de crepe.
Recomenda-se ainda não usar analgésicos, pois, ao cessar a dor o cavalo pode se
locomover normalmente e agravar a fratura. (THOMASSIAN, 2005, pag. 118)

As fraturas na tíbia podem ser completas ou apenas fissurar, na primeira


compromete toda a estrutura óssea e na segunda apenas trinca, ou ainda pode
ocorrer por arranchamento da tuberosidade da tíbia, principalmente em animais
jovens. (THOMASSIAN, 2005)

Ainda segundo Thomassian (2005), as fraturas completas são graves e quase


sempre expostas, principalmente em região proximal ou distal e podem se estender
até articulações. As fissuras extensas podem se transformar em fraturas completas
quando há movimentos bruscos ao deitar e levantar. Estas são difíceis de serem
diagnosticadas, pois não há um quadro característico de claudicação, os meios de
diagnóstico são dor à palpação profunda e radiografia. Já as fraturas completas com
ou sem exposição são facilmente visualizadas pela afuncionalidade do membro e
desvio do eixo ósseo. Em ambos os casos é primordial a realização de exames de
imagem em pelo menos duas posições para avaliar a gravidade da fratura e definir
se é simples ou cominutiva.

Em cavalos jovens e adultos o tratamento de fraturas completas pode ser realizado


através de colocação de placas ou pinos, juntamente com repouso prolongado e
aparelho de suspensão. As fraturas expostas, até mesmo em potros,
frequentemente terminam com eutanásia, pois, há tendência à infecção bacteriana
no foco da fratura e desenvolvimento de osteomielite. Já os arrancamentos da
tuberosidade da tíbia possuem bom prognóstico e podem ser tratados com
parafusos ou pregos ortopédicos. (THOMASSIAN, 2005, pág. 125)

A fixação da fratura deve maximizar o potencial de consolidação de forma que a


biologia e a mecânica multipliquem forças e influenciam o processo de consolidação
óssea de uma fratura. A osteossíntese tem de ser direcionada a produzir um
ambiente mecanicamente propício para a consolidação da fratura.O cuidadoso
manuseio do tecido mole é importante para preservar o suporte sanguíneo do osso
lesionado. (TONG, 2008)

Isquemia é a suspensão da circulação local do sangue. De acordo com Smith (1993)


“a isquemia tem profundos efeitos funcionais e morfológicos sobre o músculo” (pag.
1328). As fibras musculares afetadas perdem a capacidade de contração após a
isquemia e na sequencia ocorrem diversas alterações nos componentes
intracelulares. Tais alterações dependem do tempo de duração e da extensão da
isquemia. Isquemia de breve duração (minutos a horas) apresentam alterações
degenerativas menos graves, tendo melhor capacidade de regeneração do que os
músculos afetados por muitas horas.

Algumas síndromes podem estar associadas a mionecrose isquêmica, como a


síndrome do compartimento, síndrome do animal caído, síndrome do esmagamento
muscular e síndrome oclusiva vascular. (SMITH, 1993)

Smith (1993) relata que a síndrome do compartimento é rara em cavalos e ocorre


quando o músculo é perfundido e circundado por tecidos densos passam por
repetidas contrações, que estimulam o aumento do fluxo sanguíneo para o músculo,
no entanto, os tecidos adjacentes não permitem que o tecido muscular aumente
suficientemente para acomodar o volume de sangue, resultando em pressão
intramuscular. O fluxo de sangue no músculo se reduz gerando alterações
isquêmicas.

A síndrome do animal caído, Smith (1993) afirma ser frequente em animais de


grande porte, pois, o peso do animal em decúbito sobre tecidos musculares aumenta
a pressão intramuscular, podendo resultar em mionecrose isquêmica.

A síndrome do esmagamento muscular geralmente é causada por traumatismo


acidental agudo. Segundo Smith (1993) há inicialmente uma laceração no músculo,
que leva a edema e inflamação, contribuindo para o aumento das alterações
degenerativas do tecido. O intumescimento da área pode gerar alterações similares
às da síndrome do compartimento.

A síndrome oclusiva vascular é exemplificada através da trombose ilíaca do cavalo,


na qual o grau de lesão está diretamente relacionada com as dimensões do trombo
e tempo de oclusão. Em processo oclusivo lentamente progressivo as circulações
colaterais reduzem o grau de lesão isquêmica. (SMITH, 1993)

DISCUSSÃO

A égua de aproximadamente 3 meses de idade deu entrada no Equine hospital da


Unicesumar. Após o exame físico e clínico e raio-x foi possível identificar fratura em
membro pélvico esquerdo na região proximal da tíbia. No Raio-X observou-se
descontinuidade na placa epifisária proximal da tíbia, revelando fratura cominutiva,
compatível com intervenção cirúrgica para redução da fratura.

Segundo revisão bibliográfica Thomassian (2005) informa que em cavalos jovens e


adultos o tratamento de fraturas completas pode ser realizado através de colocação
de placas ou pinos, juntamente com repouso prolongado. Para Tong (2008) a
fixação da fratura deve maximizar o potencial de consolidação de forma que a
biologia e a mecânica multipliquem forças e influenciam o processo de consolidação
óssea de uma fratura. Milori et all (2013) afirmam que as placas metálicas são
utilizadas em reparos de ossos longos, devido a estabilidade e rigidez que a placa
favorece . Assim, como técnica cirúrgica optou-se por implantação de placa externa
para redução da fratura na tíbia, seguida de imobilização com gesso do membro
pélvico esquerdo.

Os medicamentos pós cirúrgicos foram: Cefalosporina bid IM e Firocoxibe cid SC,


ambos por 15 dias. O antibiótico Cefalosporina foi usado preventivamente para
combater infecções, segundo Thomassian (2005) há tendência à infecção bacteriana
no foco da fratura e desenvolvimento de osteomielite. O Firocoxibe é um anti-
inflamatório não esteroidal seletivo de COX-2, com propriedades antinflamatórias,
analgésicas e antipiréticas.

Após 15 dias de cirurgia o gesso foi retirado e observou-se necrose tecidual por
isquemia de metatarso até falange, com consequente desprendimento do casco. De
acordo com Smith (1993) “a isquemia tem profundos efeitos funcionais e
morfológicos sobre o músculo” (pag. 1328). As fibras musculares afetadas perdem a
capacidade de contração após a isquemia e na sequencia ocorrem diversas
alterações nos componentes intracelulares. Tais alterações dependem do tempo de
duração e da extensão da isquemia. Isquemia de breve duração (minutos a horas)
apresentam alterações degenerativas menos graves, tendo melhor capacidade de
regeneração do que os músculos afetados por muitas horas.

A mionecrose observada pode ser explicada pelo que Smith (1993) intitula de
síndrome do esmagamento muscular, que geralmente é causada por traumatismo
acidental agudo, onde há inicialmente uma laceração no músculo, que leva a edema
e inflamação, contribuindo para o aumento das alterações degenerativas do tecido.
Por 4 dias foi realizada limpeza com Clorexidina como método de antissepsia e
debridamento da ferida a fim de retirar tecidos necrosados. Em seguida fez-se uso
de óleo de girassol ozonizado, por sua propriedade germicida e por auxiliar no
processo de regeneração e cicatrização. Por fim, antes do curativo, foi passado
açúcar do tipo cristal, que auxilia o tecido de granulação local, desaparecimento da
secreção purulenta e formação de tecido cicatricial, além de ser antimicrobiano e
inibidor do crescimento de bactérias gram positivas e gram negativas. (Haddad M.C.
e Colaboradoras, 1983)

Após a retirada do gesso, no 4º observou-se que havia apenas uma fina camada de
pele que ligava as falanges ao metatarso. Este tecido foi seccionado, realizando
amputação das falanges e para que a égua pudesse apoiar o membro no chão ao se
locomover, após o curativo foi colocada uma prótese confeccionada de calha de
cano plástico cortado ao meio e acolchoado com algodão, como recomenda
Thomassian (2005).

Após a colocação da prótese os curativos passaram a ser feitos com intervalos de 2


a 3 dias, pois após a retirada de tecidos necróticos e tratamento com óleo de
girassol ozonizado, açúcar, antibiótico e antinflamatório os tecidos envolvidos
apresentaram boa cicatrização. Após 15 dias da amputação os curativos passaram a
ser feitos apenas na região de metatarso distal, pois, a ferida da cirurgia de redução
de fratura apresentava boa cicatrização e os tecidos na região distal de metatarso
ainda estavam em processo de cicatrização.

CONCLUSÃO

O animal citado acima foi submetido a cirurgia de reconstrução óssea, onde obteve
sucesso na cirurgia, porém obteve complicações no seu pós cirúrgico, onde foi
observado a necrose tecidual por isquemia na região metacarpiana e falange. Sendo
assim foi realizado curativos para tratamento da ferida, somado a antibioticoterapia
com Cefalosporina e anti-inflamatório com Firocoxibe. Porém não tivemos uma
conclusão concreta do caso devido o animal ainda estar em tratamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HADDAD M.C. e Colaboradoras. Uso do Açúcar nas Feridas Infectadas. Disponível
em:https://www.scielo.br/j/reben/a/HrMTLwQxCxjDYhdhYdZ96Nr/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 de Março de 2023.

MILORI, F.P et al. Placas ósseas confeccionadas a partir de diáfise cortical equina
na osteossíntese femoral em coelhos. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pvb/a/Ldms6XHd9J6PVNxbN3MQ3pd/?lang=pt#. Acesso em:
23 de Março de 2023.

SMITH, Bradford P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais: moléstias de


equinos, bovinos, avinos e caprinos. Vol. 2. São Paulo: ed. Manole, 1993.

THOMASSIAN, Armen. Enfermidades dos Cavalos. 4ª ed. São Paulo: Livraria


Varela, 2005.

TONG, G On. Manual de tratamento de fraturas da AO: osteossintese com placa


minimamente invasiva (MIPO). Porto Alegre: Atmed, 2008.

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