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PRÓ-TEMÁTICO INTEGRADO CAMPO MOURÃO

PROF. MARCO ANTONIO MENDONÇA

Estudos identificam sintomas neurológicos e psiquiátricos em pacientes pós-Covid (Gislene Pereira, em colaboração para a
CNN - 20/04/2021)
 A aposentada Conceição Moreno, 60, só descobriu que teve Covid-19 por causa de uma dor de cabeça persistente. Ela conta
que, a partir de outubro de 2020, as dores se prolongaram por 50 dias seguidos. Por isso, procurou um médico, que suspeitou de
Covid longa. 
A condição, que também vem sendo chamada de Covid persistente, Síndrome Pós-Covid ou Covid pós-aguda, é caracterizada
por sintomas e complicações em longo prazo que se manifestam para além de quatro semanas desde o início dos sinais da
infecção pelo coronavírus – e podem se arrastar por meses.
No caso de Conceição, os sintomas da Covid-19 propriamente ditos nem foram notados. Após a suspeita do médico, ela fez
um exame de sorologia, que detectou a presença de anticorpos produzidos contra o vírus. A suspeita foi confirmada não só
pelas dores de cabeça, mas também pelos sintomas que se seguiram e permanecem até hoje. 
A aposentada se queixa de frequentes lapsos de memória. “Se antes eu organizava o pagamento das contas de casa de
cabeça, hoje preciso anotar tudo na agenda do celular”, afirma. Conceição também precisou tratar uma depressão severa.
“Comecei a sentir uma angústia profunda. Não queria sair do quarto, chorava a todo momento, tinha insônia frequentemente.
Nem me alimentar conseguia mais, tanto que perdi 5 kg em poucos dias.”
Sequelas neurológicas e psiquiátricas têm figurado no ranking de queixas comuns entre pacientes afetados pela Covid-19,
segundo publicações científicas recentes. O médico psiquiatra Rodolfo Damiano, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, cita um trabalho com sobreviventes de Covid-19 um mês após a alta hospitalar, que
relatou altas taxas de problemas ligados à saúde mental, como depressão, transtorno de ansiedade, transtorno do estresse pós-
traumático, insônia e sintomas obsessivo-compulsivos diretamente relacionados à infecção pelo vírus.
As doenças neurológicas são aquelas que afetam o cérebro, a medula espinhal ou os nervos, levando a sintomas que podem
abranger parte do sistema nervoso ou sua totalidade. Entram na lista todas as formas de dor (como cefaleia e dor nas costas),
fraqueza nos músculos, perturbação nos sentidos (visão, paladar, olfato e audição), falta de coordenação, dormência e até
acidente vascular cerebral (AVC).
Já os transtornos psiquiátricos envolvem uma grande variedade de condições que afetam o humor, o raciocínio e o
comportamento. Dentre os distúrbios mais conhecidos estão a depressão, o transtorno de ansiedade, o estresse pós-traumático
e o transtorno bipolar.
Os transtornos psiquiátricos podem tanto agravar quanto desencadear os transtornos neurológicos — e vice-versa. Apesar
disso, os dois problemas não necessariamente estão conectados.
Memória e dor
A perda de memória relatada por Conceição também é uma reclamação frequente de pacientes que tiveram Covid-19, de
acordo com o neurologista Diogo Haddad, coordenador do Núcleo da Memória do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e chefe do
Serviço de Neurologia Comportamental da Santa Casa de São Paulo.  
“A procura por atendimento neurológico cresceu entre pacientes que tiveram Covid-19, que comumente chegam com
quadros de dor de cabeça, dificuldade para organizar o pensamento, tontura, vertigem e outros sintomas”, diz.
De acordo com um amplo estudo realizado a partir da análise do prontuário eletrônico de mais de 230 mil pessoas
diagnosticadas com Covid-19 nos EUA, 1 em cada 3 pacientes recuperados pela doença apresenta alguma sequela neurológica
ou psiquiátrica. 
Dentre as queixas neurológicas mais comuns, apareceram lapsos de memória, fadiga e dor de cabeça. O levantamento foi
realizado a partir de um artigo publicado recentemente pela revista científica Annals of Clinical and Translational Neurology, que
avaliou sintomas neurológicos persistentes e disfunção cognitiva em pacientes não-hospitalizados acometidos pela Covid-19. 
Mais ansiosos e depressivos
Em um estudo realizado em Wuman, na China, sobre as consequências de longo prazo da Covid-19 aguda, foi identificado que
a maioria dos pacientes (76%) relatou pelo menos um sintoma, de diferentes naturezas. A fadiga foi uma das queixas mais
comumente registradas (63%), seguida por dificuldades para dormir (26%) e ansiedade/depressão (23%). 
A investigação chinesa também sugere que mulheres são mais propensas do que os homens a sentir fadiga e sintomas de
ansiedade e depressão em seis meses de acompanhamento
“Milhões de brasileiros foram infectados até agora, muitos dos quais desenvolveram ou vão desenvolver sintomas
psiquiátricos. É possível que o Brasil enfrente uma onda de doenças psiquiátricas nos próximos meses e anos com impacto ainda
desconhecido”, afirma Rodolfo Damiano, que é também coautor de uma pesquisa recente do departamento de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo em parceria com a Universidade de Harvard, dos EUA, sobre intervenções de
saúde mental após Covid-19 e outras infecções por coronavírus. 
De acordo com o levantamento, taxas mais altas de depressão, ansiedade, comportamento suicida e transtorno de estresse
pós-traumático foram associadas a pandemias virais anteriores, incluindo SARS e MERS, sugerindo que padrões semelhantes
podem surgir com a Covid-19.
“O número de indivíduos diagnosticados com doenças psiquiátricas tende a ser ainda maior se considerarmos que parte da
população, mesmo não infectada, vai desenvolver sintomas de estresse e outros males devido ao isolamento social, à carga
econômica e ao desemprego após a pandemia”, afirma Damiano.
Pelo o que se sabe até agora, as sequelas
neuropsiquiátricas associadas à Covid-19
surgem devido ao acometimento do cérebro
pelo vírus, que tem o sistema nervoso entre
suas predileções. “O SARS-CoV-19 leva a
lesões indiretas ligadas à inflamação da região,
ao aumento de coagulabilidade (podendo
levar à trombose microvascular) e à
tempestade de citocinas, que é uma resposta
imunológica excessiva”, acrescenta Damiano. 
“Recuperados” da Covid-19
Os especialistas consultados pela CNN foram
unânimes em afirmar que a Covid longa requer
cuidados multidisciplinares, por um período
ainda indeterminado. O estudo
americano citado anteriormente estima que
87% dos pacientes hospitalizados com Covid-
19 continuam a ter sintomas 60 dias após o
início da doença. 
“A doença de longa duração é frustrante e
debilitante para as pessoas afetadas, com
potencial de impactar significativamente a
sociedade em geral”, afirma a médica
ginecologista e obstetra Melania Amorim,
professora da Universidade Federal de
Campina Grande (PB). 
Ela criou um grupo de apoio para pacientes
com persistência dos sintomas pós-Covid-19,
o @sindromeposcovid  após descobrir que
estava convivendo com a Covid longa. “Muita
gente sai do hospital com a plaquinha ‘venci a
Covid-19’, mas, na verdade, boa parte dessas
pessoas está longe de ser considerada
recuperada”, afirma. Para piorar, os infectados recebem pouca ou nenhuma orientação sobre o que fazer após a fase aguda da
doença – e são raros os municípios e hospitais que oferecem qualquer acompanhamento para esses pacientes. 
A comunicadora Cacá Filippini, 42 anos, sentiu na pele a falta de orientação por parte dos médicos durante e após sua
contaminação. No começo de janeiro deste ano, quando os primeiros sinais de infecção apareceram, ela foi diagnosticada
erroneamente como um caso simples de inflamação das vias nasais. 
Ela só descobriu que estava com Covid-19 uma semana mais tarde, ao fazer um RT-PCR por conta própria, já sem os sintomas
da doença. A paulistana procurou um hospital de referência decidida a fazer alguns exames para checar seu estado de saúde
geral. Para sua surpresa, ela precisou ficar internada na UTI devido à descoberta de uma trombose na perna direita,
possivelmente ligada ao espessamento do sangue em decorrência da Covid-19.
“Se não tivesse tomado a iniciativa, correria o risco de sofrer uma embolia pulmonar ou até mesmo um acidente vascular
cerebral”, diz. Ao voltar para casa após alguns dias, Cacá passou a apresentar sintomas neurológicos: esquecimento, tontura,
confusão mental, lentidão de raciocínio, além de dores de cabeça incapacitantes. 
“Qualquer barulho me incomodava, até minha própria voz ou o som da mastigação”, conta. Ela precisou ir ao hospital diversas
vezes para ser medicada durante as crises e passou a incluir 13 comprimidos à sua rotina. “Minha vida parou: cheguei a me
culpar por não conseguir trabalhar, por não estar sendo uma boa mãe, filha, esposa… Fiquei refém das dores, que passaram
para várias outras partes do corpo.” 
A comunicadora conta que só conseguiu aliviar os sintomas recentemente, após mais uma internação. O motivo dessa vez: a
realização de um procedimento de bloqueio de dor que interrompe impulsos sensoriais das regiões do corpo afetadas. “Meu
incômodo não desapareceu, mas hoje conseguimos conviver juntos.” 
FONTE: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudos-identificam-sintomas-neurologicos-e-psiquiatricos-em-pacientes-pos-
covid/
Covid-19 causa aumento de transtornos psiquiátricos, mostra estudo da USP (O Globo - 09/02/2022)
SÃO PAULO — Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que pessoas que
tiveram covid-19 moderada ou grave apresentam alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos psiquiátricos. Uma das
hipóteses para explicar a associação é que alterações tardias relacionadas à infecção pelo SARS-CoV-2 (como processos
inflamatórios associados a alterações imunológicas, danos vasculares associados a coagulopatias ou a própria presença do vírus
no cérebro) teriam papel na origem dos transtornos, de acordo com informações da Agência Fapesp.
Na pesquisa, publicada na revista científica
General Hospital Psychiatry, 425 pacientes foram
submetidos a entrevista psiquiátrica estruturada,
testes psicométricos e bateria cognitiva.adultos,
depois de seis a nove meses da alta hospitalar.
Todos os participantes ficaram internados no
Hospital das Clínicas da USP por pelo menos 24
horas, entre março e setembro de 2020. Os
casos considerados graves foram aqueles que
precisaram de terapia intensiva. Os demais,
foram classificados como moderados.
Os resultados mostraram que a prevalência
de transtorno mental comum, caracteriziada por
sintomas depressivos, estados de ansiedade,
irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de
memória e concentração, no grupo estudado foi
de 32,2%. Na população brasileira em geral, essa
taxa é de 26,8%.
Nesses pacientes, a prevalência de transtorno de ansiedade generalizada foi de 14,1%. Também consideravelmente maior do
que a média dos brasileiros, que é de 9,9%. A depressão foi identificada em 8% doa pacientes recuperados. O número também é
superior ao estimado para a população geral do país, que fica entre 4% e 5%.
De acordo com os pesquisadores, o agravamento de sintomas psiquiátricos é esperado após infecções agudas. Mas com
nenhuma outra doença viral se observou tanta diferença e perdas cognitivas tão significativas como com a Covid-19
As alterações cognitivas e psiquiátricas observadas no grupo não se correlaciona com a gravidade do quadro, com o
tratamento adotado no período de hospitalização ou com fatores socioeconômicos, como perda de familiares ou prejuízos
financeiros durante a pandemia de Covid-1. Por isso, os pesquisadores acreditam que esses compromentimentos estejam
associados a alterações tardias relacionadas causada pela infecção pelo SARS-CoV-2.
Rodolfo Damiano, médico residente do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM-USP) e primeiro autor do
artigo, indica que pacientes recuperados que apresentam problemas psiquiátricos se vacinem e façam acompanhamento
médico.
— Há evidências de que exercícios físicos ajudam a reverter alterações cognitivas associadas a doenças graves e também há
treinos de reabilitação cognitiva que podem ser feitos com acompanhamento de um neuropsicólogo habilitado. Além disso,
acredito que a prática de meditação pode ser benéfica — diz o pesquisador em entrevista à Agência Fapesp.
Os próximos passos da pesquisa consistem em avaliar amostras de sangue coletadas enquanto os voluntários estavam
internados para descobrir se há correlação entre o grau de inflamação durante a fase aguda da doença e o desenvolvimento de
sintomas neuropsiquiátricos.
— Caso exista alguma correlação, o passo seguinte será investigar se drogas inibidoras de interleucinas [um dos tipos de
citocina] podem ser usadas para prevenir o aparecimento ou o agravamento de sintomas psiquiátricos — conta Damiano.
FONTE: https://oglobo.globo.com/saude/medicina/covid-19-causa-aumento-de-transtornos-psiquiatricos-mostra-estudo-da-
usp-25386845

SP tem ‘explosão’ de internações psiquiátricas involuntárias (11 de março de 2022)


Estudo científico inédito, produzido pela psiquiatra Christina Fornazari, da Unifesp, e Martha Canfield, da King’s
College de Londres, com supervisão do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, presidente da SPDM, teve como base quase 65
mil casos e apontou a falta de leitos na capital paulista para internações de pacientes com quadros psiquiátricos
mais graves
O estudo científico recém-publicado pelo Brazilian Journal of Psychiatry mostra que a capital paulista viveu, no
período de 2003 a 2019, uma “explosão” nas internações psiquiátricas involuntárias – feitas sem o consentimento do
paciente, a pedido de um familiar ou responsável.
O artigo apontou que houve em 2019 um índice de 25,5 internações involuntárias de saúde mental por 100 mil
habitantes na capital paulista, 340% a mais do que as 5,8 por 100 mil habitantes registradas em 2003.
O estudo, o primeiro em larga escala desta natureza já feito no Brasil, também indica falta de leitos psiquiátricos
suficientes para receber a demanda. Apesar da taxa crescente de internações involuntárias, a maioria dos pacientes
não fica mais do que uma semana na unidade, e apenas 13% dos pacientes são readmitidos.
A maioria dos pacientes psiquiátricos internados voluntariamente eram solteiros e com idades entre 18 e 39 anos,
as razões mais comuns para as hospitalizações foram distúrbios psicóticos e esquizofrenia.
Foram encontrados falta ou incompletude de dados de admissão e alta em aproximadamente metade do total de
registros de internação psiquiátrica avaliados. “A falta de informações consistentes entregues ao MPSP (Ministério
Público de São Paulo) sobre os motivos de IPIs (internações psiquiátricas involuntárias) é preocupante. São
necessárias mais pesquisas para entender os motivos dessas baixas taxas de reporte. Semelhante a relatos de outros
países, a progressiva redução de leitos psiquiátricos no Brasil nos últimos 20 anos pode ter contribuído para o
aumento das taxas de IPI observado em nosso estudo”, apontam os autores do artigo.
O estudo também cita que, enquanto no período entre 2005 e 2016 a população do país cresceu 11%, o número
de brasileiros em risco de internação psiquiátrica por transtorno de saúde mental grave teve aumento de 12%
enquanto o total de leitos psiquiátricos disponíveis em hospitais gerais registrou a diminuição de 39%.

Sobre a UNIAD
A Unidade de Pesquisa em álcool e Drogas (UNIAD) foi fundada em 1994 pelo Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira e John Dunn,
recém-chegados da Inglaterra. A criação contou, na época, com o apoio do Departamento de Psiquiatria da
UNIFESP. Inicialmente (1994-1996) funcionou dentro do Complexo Hospital São Paulo, com o objetivo de atender funcionários
dependentes.
FONTE: https://www.scielo.br/j/rbp/a/nNjjRWrLJHHDfZfNtrrXfDQ/?lang=en

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