Transtorno psicótico pós COVID:
um relato de caso
PEREIRA, G. R. G¹; PIZANI, I. A.¹; SOARES, G. S.¹; GIRUNDI, I. S.¹ RODRIGUES, J.. F.¹ ATTONI, L.²
¹Acadêmicos do 5°ano do curso de Medicina da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG - Brasil / ² Médico Psiquiatra pelo Instituto Raul Soares e professor da
disciplina de Saúde Mental na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Relato de Caso
M.M.M., 68 anos, sem história psiquiátrica prévia, comparece ao
serviço psiquiátrico queixando-se de “cupins” e espinhos em
queixo e colo com necessidade incontrolável de retirá-los,
provocando múltiplas lesões locais. O quadro iniciou-se há dois
anos após infecção por COVID-19, paciente previamente
vacinada. No seguimento ambulatorial foram introduzidos
Risperidona, Valproato de sódio, Venlafaxina e Trazodona.
Paciente já havia realizado ampla propedêutica com exames
laboratoriais e de imagem, sem alterações. Paciente retorna com
atenuação do quadro psicótico, porém mantendo autolesões.
Objetivo e Metodologia
Demonstrar, a partir de um relato de caso, possível relação entre
transtorno psicótico e manifestações pós infecção por COVID-19.
Revisão de literatura dos principais sumários de evidências e
artigos no PubMed entre 2019 a 2023. Publicação autorizada
pela paciente via termo de consentimento.
Discussão
O delírio de parasitose, conhecido por Síndrome de Ekbom, é um
transtorno psiquiátrico caracterizado por percepção psicótica de
infestação parasitária. É identificada, em sua maioria, em
pacientes do sexo feminino, em fase senil/pré-senil, com
isolamento social pré-mórbido. A infecção pelo vírus SARS-Cov,
além de levar a sintomas respiratórios, tem sido associada a
múltiplos problemas psiquiátricos, como declínio cognitivo,
transtornos do humor e psicótico, a exemplo do delírio de
parasitose, ocorrendo mais comumente na fase pós infecciosa.
Embora a fisiopatologia da doença ainda seja incerta, sabe-se que
advém do estado neuroinflamatório causado pela infecção que
eleva níveis de dopamina devido à desregulação da via das
catecolaminas, dano estrutural secundário ou estresse oxidativo
que cursam com desregulação de neurotransmissores, levando ao
quadro de psicose.
Nesse caso, torna-se fundamental o acompanhamento de um
profissional especializado para realização de anamnese detalhada
e descarte de demências e demais transtornos psiquiátricos. Após
investigação, recomenda-se abordagem medicamentosa
antipsicótica.
Conclusão
Os sintomas neuropsiquiátricos, em detrimento dos sintomas
respiratórios, foram pouco explorados no cenário pós covid. Apesar
disso, as psicoses associadas à infecção por COVID-19 configuram
importante diagnóstico diferencial. Nesse sentido, o profissional deve
ater-se aos sintomas e estar alerta diante da possibilidade de
episódio psicótico breve, agravamento de transtorno psicótico e
efeitos colaterais de medicamentos utilizados para tratar o
COVID-19, durante a avaliação do bem-estar mental geral do
paciente.
Referências
ALVES, Cinthia Janine Meira et al. Síndrome de Ekbom secundária a transtorno orgânico:
relato de três casos. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 85, p. 541-544, 2010. Acesso
em 30/04/23.
Disponívelem<https://www.scielo.br/j/abd/a/8H9sGqmTq4bVy99rTXVQg5N/?lang=pt>
CARLINI, Sara V.; GREENSTEIN, Samuel P.; JIMENEZ, Xavier. Delusional Parasitosis
Following COVID-19: A Case Report. Journal of the Academy of Consultation-Liaison
Psychiatry, v. 63, n. 5, p. 511-512, 2022.Aesso em: 30/04/23. Disponível em
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S266729602200266X?via%3Dihub>