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3.1.2.

Transtornos da fase tardia

a) Transtornos psicóticos esquizofreniformes

Os transtornos psicóticos esquizofreniformes são caracterizados por um conjunto


de sinais e sintomas que mimetizam a esquizofrenia. Aclínica indicará a infecção por
HIV/SIDA como causa da síndrome. Estarão presentes as alterações nas áreas da
sensopercepção, pensamento, afectividade e conduta. Em caso de comorbilidade
esquizofrenia e HIV/SIDA, a desorganização vai interferir com o tratamento do HIV e a
capacidade de gestão de riscos e na modificação de comportamentos de risco. Estes
pacientes encontram-se predispostos a condições caóticas, situações de vida instáveis e
sendo vulneráveis ao abuso sexual, abuso de substâncias e relacionamentos
disfuncionais1.

b) Transtornos neurocognitivos relacionados ao HIV/SIDA

Desde o começo da epidemia de HIV, as manifestações neurocognitivas da


infecção foram largamente reconhecidas. Ainfecção de HIV associa-se com sintomas
cognitivos e comportamentais que se tornam mais frequentes e graves a medida que o
sistema imunológico declina e surgem os sintomas da doença e do SIDA. De forma
resumida, pode se dizer que as manifestações se verificam na área da atenção,
concentração, velocidadede processamento psicomotor com lentificação psicomotora,
velocidade de processamento de informação, função executiva e memória verbal (na
evocação da informação armazenada), perturbações mnésicas, letargia, reducão da
líbido, anorexia, perda da capacidade de resolução de problemas, de leitura e de escrita,
apatia, espontaneidade reduzida e isolamento social2.
O diagnóstico de demência pelo HIV, é feito por exclusão de outras causas mais
frequentes mas o seu aparecimento em idades inferiores a 50 anos é um factor de
suspeita. O aparecimento desta patologia está associado a um mau prognóstico e 50 a
75% destes doentes acaba por falecer num intervalo de 6meses3.
O diagnóstico diferencial é muito fundamental na avaliação dos sintomas
neurocognitivos no HIV/SIDA porque muitos pacientes com HIV/SIDA têm história de

1
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 149.
2
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 149.
3
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 149.
uma ou duas doenças psiquiátricas prévias à infecção pelo vírus de HIV. Doentes com
Perturbação Depressiva, Perturbação Bipolar, Esquizofrenia e Abuso de Substâncias,
Intoxicação Por Substâncias/Síndrome de Abstinência podem apresentar-se com
disfunção cognitiva4.
As infecções oportunistas do SNC e cancros podem também apresentar-se com
disfunções neurocognitivas e neuropsiquiátricas, na sua maioria, do tipo de lírium. A
boa adesão ao tratamento antiretroviral, tratamento das infecções oportunistas, estilo de
vida adequado, privação no consumo de substâncias tóxicas, constituem factores
importantes na prevenção das perturbações neurocognitivas relacionadas ao
HIV/SIDA5.

3.2. Outras perturbações mentais relacionadas ao HIV

O consumo de substâncias psicoactivas, constitui a causa de outras perturbações


mentais relacionadas ao HIV. Contudo, muitas vezes o consumo de substâncias
psicoactivas serve para tentar lidar com a doença. Constitui um problema não só para os
consumidores regulares de substâncias psicoactivas mas, também, para outros pacientes
com HIVque tiveram consumos esporádicos, e os que nunca consumiram, numa
tentativa de atenuar a ansiedade e depressão. Para terminar, referir que, o
reconhecimento e manejo adequado das perturbações mentais relacionadas ao
HIV/SIDA, melhora a qualidade de vida dos pacientes, melhora a adesão ao tratamento
antiretroviral, melhora o estado imunológico e reduz a carga viral. Por outro lado, reduz
a probabilidade de comportamento de risco (sexo desprotegido) ou abuso de substâncias
(álcool, suruma,cocaína,etc)6.

4. Conduta do Técnico de Medicina Geral

Perante os casos antes mencionados, a conduta do Técnico de Medicina Geral


deve incluir7:
a) Tratamento psicológico;
b) Tratamento farmacológico; e
4
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 149.
5
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 149.
6
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 149.
7
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 150.
c) Encaminhamentos (transferência ou seguimento).

a) Tratamento psicológico

O tratamento psicológico corresponde8:


 Tranquilizar o doente;
 Disponibilizar informação sobre a perturbação mental em causa, sua relação
com a infecção pelo HIV e sobre o seu tratamento;
 Disponibilizar informação sobre as opções de tratamento e sobre o seguimento
psicológico e psiquiátrico;
 Disponibilizar informação sobre as sessões de aconselhamento e sobre a
importância de aderir ao tratamento psicoterápico e do HIV; e
 Disponibilizar informação sobre a importância de não consumir drogas pois
agravam a evolução da doença e impedindo que o tratamento para o HIV/SIDA
seja eficaz.
Por outro lado, verifiquem-se as mensagens a serem transmitidas ao utente e
familiares/acompanhantes. Que correpondem a deixar o conhecimento de que9:
 O SIDA é uma doença crónica, sem cura, porém com tratamento por via de anti-
retrovirais;
 É importante que o doente continue com as actividades normais que sejam
interessantes e que proporcionem prazer;
 Praticar exercício físico regular;
 É importante cumprir a medicação; e
 É importante cumprir uma dieta regrada e ter hábitos de vida saudáveis.

b) Tratamento farmacológico

O Tratamento farmacológico corresponde10:


 De acordo com as normas do SNS, medicar para tratamento das doenças
oportunistas;

8
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 150.
9
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ. Semestre:
Saúde Mental, p. 150.
10
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ.
Semestre: Saúde Mental, p. 150.
 Verificar a situação do TARV e de acordo com as normas do SNS decidir sobre
a conduta a seguir;
 De acordo com os princípios de psicofarmacologia para tratamento de
perturbações mentais descompensadas (descritos anteriormente), tratar todos os
casos de urgência e que necessitem de estabilização urgente.

c) Encaminhamentos (transferência ou seguimento)

Os encaminhamentos (transferência ou seguimento), consistem em11:


 Para seguimento das perturbações mentais, transferir para seguimento
psiquiátrico (técnico de psiquiatria ou médico de clínica geral) e de psicológico
(se disponível).

11
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Direcção de Recursos Humanos, Departamento de Formação, 3ᵒ.
Semestre: Saúde Mental, p. 150.

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