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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE

FORTALEZA- UNIFOR CURSO DE PSICOLOGIA


PROFESSORA: LARISSA DE BRITO FEITOSA
ALUNA: AMANDA BRENA COELHO DOS SANTOS (1614146/1)

RESUMO CRÍTICO DO TEXTO “O CAMPO SOCIAL DAS POLÍTICAS


PÚBLICAS E SUA DIMENSÃO SUBJETIVA”

O texto se inicia com a afirmação de que falar das políticas sociais é discorrer
sobre a relação existente entre o Estado, a sociedade e o capitalismo enquanto
economia, sendo estas então, á luz das relações de classe em uma sociedade.
A história da construção do capitalismo possui uma dinâmica estrutural baseada
em uma contradição fundamental, onde acumula o capital e permite uma movimentação
da sociedade, tendo como resultado a observação do Estado como organizador social e
político, e a manutenção ideológica desse sistema. Este tem como princípio básico o
liberalismo. Assim, as políticas sociais no contexto capitalista, realizam a relação entre
o indivíduo e a sociedade, que se dão através da relação entre o Estado e o bem-estar
dos indivíduos, de onde surge essa contradição.
O sistema capitalista concorrencial teve como tentativa a máxima da ideologia
liberal, que propõe um livre mercado, livre concorrência, livre consumo, etc. Existia
uma valorização do trabalho, onde a falta de um emprego era condenada, e o indivíduo
não tinha a liberdade de estar fora desse mercado de venda livre de força de trabalho e
livre consumo. Aqui, a teoria do bem-estar econômico é pautada em aspectos
subjetivos, pois é o indivíduo que faz sua própria avaliação, e esta estaria relacionada a
felicidade traga pelo consumo dos bens que satisfazem os desejos pessoais. Nesse
contexto, se um indivíduo tiver o bem-estar maior que o dos outros, sem que o deles
diminua, o bem-estar da sociedade cresceu.
Essa teoria se mostrou falha com a crescente do monopólio e pelo fato de que
nem todos os trabalhadores tem emprego ou são bem-sucedidos. Assim, os direitos
sociais surgiram com a necessidade de garantir condições mínimas de vida aos
trabalhadores, visando um aumento da força de trabalho e a manutenção dos níveis de
consumo. Então, os sujeitos dos direitos sociais são os trabalhadores empregados e
desempregados. Aqui, o bem-estar individual, com a conquista dos direitos, é
representado pelos interesses do trabalho, que não focam apenas na satisfação dos
desejos individuais, mas também na satisfação de necessidades básicas que são de
direito a todos os trabalhadores.
No século XVIII, com a organização dos movimentos operários, houve uma
ampliação das noções de direitos. No capitalismo ascendente, as condições desumanas
de trabalho começaram a ser questionadas e denunciadas pelos trabalhadores, que
passaram a organizar ações coletivas, como a criação de síndicatos e greves, e a luta por
reformas políticas relacionadas tanto aos direitos sociais, quanto aos direitos humanos.
Esse processo se alongou durante os anos incluindo a questão dos direitos dos cidadãos
na relação existente entre a sociedade e o Estado.
Apesar dos avanços relacionados aos direitos cívis e políticos, as condições de
trabalho ainda eram bastante precárias. Com a Revolução Francesa os direitos sociais
passaram a ser cada vez mais almejados. Este período traz avanços e recuos em relação
a conquista dos direitos. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, apesar de
trazer os princípios básicos da igualdade entre os homens, é pautada dentro do
liberalismo. Dessa forma, foca mais na individualidade do que na igualdade. Mesmo
assim, consegue representar um avanço, pois demarca os limites da individualidade no
caratér público.
A Constituição de 1791 possibilita assistência pública para as crianças
abandonadas e doentes; garantia de trabalho para aqueles que não conseguem sozinhos;
instrução pública para todos os indivíduos. A partir dessas pautas, se tornou notável que
a subexistência é direito de todos os cidadãos, e ela deveria ser garantida pelo Estado
para aqueles que não a tinham. Já para os que podiam trabalhar, o Estado forneceria as
condições para o livre mercado. Nessa época a conquista dos direitos ainda era muito
pequena.
Com a Constituição de 1793 se ampliam os direitos políticos e sociais, e as
concepções de que o indivíduo que não trabalha é culpado por isso, são excluidas, tendo
o Estado responsabilidade total pela subexistência de todos, sem exceções. Essa
Constituição durou por pouco tempo, mas influenciou os séculos seguintes. Já na
Inglaterra, Robert Owen, com a Revolução Industrial, procurou juntar o crescimento do
capitalismo com a ampliação da democracia e do acesso aos bens produzidos para os
trabalhadores. Acreditava na justiça social e a educação como um meio de tornar todos
os indivíduos capazes para o trabalho, além da melhoria de condições de vida e
trabalho, colaborando na criação das primeiras Leis Fabris.
Os avanços sindicais também se mostram presentes com as conquistas de leis
que aprovaram as associações e as greves, permitindo aos trabalhadores lutarem contra
a exploração. Porém, apesar da crescente organização dos trabalhadores, aumenta
também as restrições aos direitos. Com o século XIX, surge o socialismo como forma
de alternativa ao capitalismo, estando ligada a organização dos trabalhadores. Se amplia
a luta pelos direitos ao trabalho, juntamente com o sufrágio universal, e, no contexto das
crises econômicas, continua o debate frente ás condições de trabalho. É ai que o direito
ao trabalho se impõe e o Estado vai sendo responsabilizado pela garantia das leis que
garantem os direitos sociais. Essa luta vai se instaurando como oposição aos interesses
capitalistas.
Na Alemanha, através de Bismarck, surge o primeiro modelo de políticas
sociais, onde eram feitas regalias aos trabalhadores, com garantias em casos de
acidentes, enfermidade, velhice, etc., ao mesmo tempo em que os movimentos operários
eram oprimidos. Na Grã-Bretanha são conquistados os direitos a diminuição do
trabalho, a proteção de crianças e idosos e a inserção de salário minímo para alguns
cargos. É nesse contexto em que as políticas sociais são entendidas como a dinâmica
das lutas de classe e o papel que o Estado tem nesse processo.
A instauração de leis de proteção do Trabalho, relacionadas a garantia de
emprego e a legalização atravavés da legisção trabalhista, nos EUA e em outros lugares,
veio com a depressão de 1930. O Estado foi adiquirindo funções mais complexas,
garantindo o equilíbrio social que prevê a acumulação do capital e a reprodução da força
do trabalho, mantendo ideologicamente a organização social e os mecanismos de
regulação.
Avançando um pouco na história, na concepção econômica fundada por John M.
Keynes, passa a prevalecer a ideia de que o desemprego leva a diminuição da demanda,
o que gera uma crise na produção e a manutenção do desemprego. Assim, a solução
para essa questão seria que os indivíduos tivessem emprego e esse deveria ser garantido
pelo Estado. Seria um equílibrio entre a orferta e a demanda de emprego, trazendo uma
facilidade de encontrá-lo para os trabalhadores. Nesse momento o Estado do bem-estar
carateriza a execução da garantia universal aos direitos sociais através dos fundos
públicos, independentes do mercado ou da meritocracria. Para isso, existia uma lei
baseada nos critérios das contribuições e das necessidades.
O Estado liberal vai trazendo a garantia de alguns direitos, como: salário
mínimo; acessibilidade; individualismo; universalidade, livre escolha, etc. Porém,
apesar de permanecer em um viés subjetivo, o Estado do bem-estar e das políticas
sociais apresentava uma discordância entre a afirmação dos critérios individuais de
avaliação do bem-estar e a experiência da ampliação do reconhecimento dos direitos
sociais, pois essas garantias ainda estavam relacionadas a submissão ao mercado.
No final da Segunda Guerra Mundial, com a existência da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e os ideais de Estado-providência, surge um
movimento criado na Inglaterra por William Beveridge, que era constituído por três
principios: universalidade, unicidade e uniformidade. Nele o Estado deveria oferecer as
garantias não só aos trabalhadores, mas a todos o cidadãos, centralizando as políticas
sociais em um sistema único de administração, e distribuir os benefícios de forma
igualitária, sem que a renda influenciasse nessa ação. Um fundo público, formado de
impostos, estabeleceram um modelo redistributivo, onde o custo do bem-estar é
finaciado pelos contribuintes. Esse modelo permitiu o fortalecimento do Estado como
provedor do bem-estar social, articulando os direitos sociais com os diretos humanos.
Em 1944, a conferência da OIT redigiu a Declaração da Filadélfia, que
reafirmava o direito que todos os cidadãos têm de terem acesso de forma igualitária as
condições dignas de vida, introduzindo os conceitos de segurança econômica, que
legitimam a função do Estado de fornecer políticas de pleno emprego e um sistema de
seguridade social baseado nos três princípios. Além disso, o trabalho deixa de ser visto
como uma mercadoria feito outra qualquer.
Nos “anos de ouro”, considerado o último período do Estado do bem-estar
social, houve a ampliação da garantia do emprego, da seguridade social e da noção dos
direitos assistenciais á saúde e educação. Também se desenvolveram os direitos
direcionados aos seguros sociais e a legislação trabalhista, como a organização dos
trabalhadores e a greve. Esse período retrata o que mais chegou próximo ao ideal
liberal, que seria a igualdade social, ligada ao capitalismo. Em contrapartida, as
limitações desse modelo surgem devido os ideais serem fundados através do captalismo,
que mantém a desigualdade insupéravel dentro das suas relações.
O Estado-árbrito não é neutro, então com a crise do capitalismo que aconteceu
na década de 70, a classe dominante passou a destituir o Estado e coube aos
trabalhadores, de forma contraditória, defenderem este como local de promoção de
políticas sociais que representavam os avanços da luta pela justiça social. Assim, as
políticas sociais devem ser compreendidas em um contexto capitalista e no movimento
de mudança dessa estrutura, concebendo a relação entre Estado e a acumulação do
capital na contradição capital-trabalho.
O neoliberalismo veio como uma versão mais cruel do liberalismo, pois aceita as
leis de mercado e a desigualdade, visando o lucro a qualquer custo. O monetarismo
passa a entrar em foco, fazendo aumentar o desemprego e, com a expansão do livre
comércio para outros países, as leis que protegem o trabalhador são minadas. Os gastos
do Estado passam a ser reduzidos e este se deresponsabiliza da garantia dos direitos
sociais. Com a máxima menos Estado e mais mercado, o trabalhador é novamente
responsabilizado pelo seu desemprego. A privatização traz mecanismos que estreitam o
funcionamento do Estado, aumentando a taxa de pessoas sem emprego e este passando
cada vez mais a perder seu papel na esfera da proteção social, servindo apenas para a
regulamentação do mercado e a manutenção da ordem.
Dentro desse contexto capitalista que ainda vigora em sociedade é importante
reconhecer os direitos sociais como uma conquista dos trabalhadores. É a recuperação
da noção de cidadania como resistência ao processo que anula os direitos dos
indivíduos, que se torna a discussão atual das políticas socias. Os diversos problemas
como o desemprego, a desigualdade social, a exclusão, devem ser questionados e o
Estado incluido nessa discussão.
A inserção social se torna a palavra-chave das políticas sociais, visando uma
alternativa do bem-estar social, que se estruturou em um sistema democrático-
capitalista-cidadão. Porém, ao mesmo tempo em que no neoliberalismo essa inserção se
apresenta como uma possibilidade, invibializa também as políticas que reconheciam os
direitos sociais, pois a empregabilidade contrapõe o pleno emprego, ou seja, o direito ao
trabalho. Assim, a focalização, o workfare e a empregabilidade se apresentam como
possibilidades dentro desse cenário de crise econômica e social, entretanto, acabam
exercendo suas funções contradizendo os fundamentos das políticas dos direitos socias.
Contradições que tiveram novas aquisições e estão em foco no momento atual,
demonstrando o desafio de fornecer direitos socais implementandos por políticas
públicas que garantam sua existência, dentro de Estados autoritários.
Ao pensar na atuação da Psicologia com o direcionamento para a transformação
da sociedade, baseada na promoção e na garantia dos direitos sociais, se colocam alguns
resursos possíveis. Considerar as demandas da realidade social a partir de uma noção
histórica, desnaturalizando os fenômenos naturais, como a exclusão, a precariedade da
vida, etc., é uma delas. Para isso, é importante defender o papel do Estado como
responsável por essas políticas, em resistência ao neoliberalismo. Resistir ao movimento
que anula a crença de que cada individuo pode ser seu sujeito histórico é lutar pelas
políticas públicas. Além disso, deve-se intervir na dinâmica subjetiva que existe entre
Estado, sociedade e políticas, ampliando sua compreensão e criando intervenções que
levem em conta essa subjetividade e a evidenciando através dos fenômenos sociais que
existem no campo das políticas públicas sociais.
Em síntese, ao pensar na sociedade capitalista atual, deve-se exercer a proteção
dos direitos sociais como direitos humanos. Apesar de ser considerado um
posicionamento velho, se faz novo com a necessidade de ser ajustado nesse sistema
neoliberal, fortalecendo a noção dos direitos quando os direitos fundamentais se juntam
aos direitos sociais. O indivíduo na contemporaniedade vive uma ambiguidade, onde
por um lado as transformações o colocam no risco de perder sua posição no processo
social e, ao mesmo tempo, o histórico da conquista a cidadania traz a exigência da luta
pelo direito de ter direitos.
A dimensão subjetiva tem como uma de suas caracteríticas o encobrimento dos
objetivos e a dissimulação, que antigamente não permitia compreender os fenômenos
sociais que estavam sempre ligados a essa ótica subjetiva. Atualmente, a construção
histórica do sujeito e da subjetividade permitiu que esta ganhasse uma valorização pelas
áreas das ciências humanas. A Psicologia Social, por exemplo, tem voltado seus estudos
dos fenômenos naturais, para o debate sobre a desigualdade social, exclusão, etc.,
considerando a dimensão subjetiva em suas diversas manifestações.
Portanto, é importante defender o trabalho do campo social das políticas
públicas através da produção de experiências subjetivas que transformem a realidade
social. A Psicologia pode contribuir criando políticas que exemplifiquem o que constituí
a dimensão subjetiva em uma determinada sociedade, criando a possibilidade para que
os individuos sejam sujeitos das suas própias histórias.

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